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C A P Í T U L O 8

QUEBRA DE DORMÊNCIA
EM SEMENTES
Lilian B.P. Zaidan
Claudio J. Barbedo

A dormência de sementes tem fundamental que sempre houvesse a possibilidade de produ-


importância para a perpetuação e o estabeleci- zir uma nova planta tão logo as condições do
mento de muitas espécies vegetais nos mais va- meio fossem favoráveis.
riados ambientes. Embora ocorra mais freqüen- A grande maioria das plantas cultivadas
temente em sementes tolerantes à dessecação, atualmente com fins agrícolas é formada de va-
as chamadas ortodoxas, há registros de sua riedades, cultivares ou híbridos geneticamente
ocorrência também em sementes que precisam melhorados, que passaram por processos de se-
manter elevado teor de água, ou seja, as recalci- leção nos quais a dormência das sementes foi
trantes (Capítulo 3). Contudo, os processos se- progressivamente sendo eliminada. Isso porque
letivos impostos às espécies vegetais com se- o modelo agrícola ainda predominante é fa-
mentes dormentes que resistiram até a atuali- vorecido quando a germinação das sementes e
dade provavelmente tiveram como base a exis- as demais fases da produção ocorrem de forma
tência de mecanismos capazes de atravessar pe- rápida e uniforme, sobretudo nas culturas de
ríodos adversos ao crescimento vegetativo. ciclo anual. Contudo, ainda hoje há muitas es-
No que se refere à existência ou não de dor- pécies, cultivadas ou não, que têm sementes
mência nas sementes, independentemente da dormentes, algumas das quais se valem dessa
tolerância à dessecação, a exigência de que as dormência para sobreviver.
sementes produzidas pela planta-mãe germi- Diversas plantas invasoras de campos agrí-
nassem paulatinamente ao longo do tempo foi colas apresentam sementes que têm sua dor-
provavelmente fundamental para que, em vá- mência quebrada de forma progressiva. Assim,
rias regiões, as espécies pudessem passar por freqüentemente se verificam novas plântulas
períodos com condições desfavoráveis ao seu emergindo durante o desenvolvimento da cul-
estabelecimento, tais como temperatura muito tura agrícola, dificultando seu manejo e, por
baixa ou seca prolongada. A germinação rápida vezes, trazendo prejuízos econômicos. Essa ca-
e uniforme de todas as sementes produzidas racterística, porém, tem evitado a erradicação
em um determinado momento poderia resultar da espécie. Por outro lado, várias plantas culti-
na morte subseqüente de todas as plântulas vadas apresentam sementes dormentes por não
imediatamente após sua emergência. Dessa for- terem sido submetidas a intenso melhoramento
ma, a seleção natural das espécies deve ter ocor- genético com essa finalidade.
rido no sentido de favorecer aquelas que produ- O uso de espécies nativas arbóreas para pro-
ziram sementes com diferentes graus de dor- gramas de reflorestamento em manejo susten-
mência, ou seja, que tiveram sua dormência tado ou, ainda, para a arborização urbana vem
quebrada em diferentes momentos, garantindo se intensificando nos últimos anos. Dentre es-

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sas espécies, muitas apresentam mecanismos ciclo curto. O atraso na germinação pode, ainda,
de dormência, dificultando o planejamento dos diminuir o número de ciclos econômicos por ano.
viveiristas para a obtenção de mudas. Algumas espécies são utilizadas como fonte
de adubação verde para culturas agrícolas. Elas
são semeadas para que desenvolvam grande
NECESSIDADE DE QUEBRA DA massa vegetal, que será incorporada ao solo
DORMÊNCIA EM SEMENTES antes do plantio da espécie principal. Isso re-
Se, por um lado, a dormência das sementes se sulta em enriquecimento nutricional do solo,
apresenta vantajosa para a perpetuação das es- principalmente com nitrogênio. Contudo, al-
pécies, ampliando a possibilidade de estabeleci- gumas espécies que têm alto valor nutricional
mento de novos indivíduos ou colonização de como adubo verde apresentam sementes com
áreas por distribuir a germinação no espaço e diferentes graus de dormência. Isso acarreta
no tempo (Kigel e Galili, 1995; Carvalho e Na- dois problemas para os agricultores: primeiro,
kagawa, 2000), por outro, pode trazer desvanta- a necessidade de grande número de sementes,
gens, principalmente considerando a explora- pois nem todas germinarão na época de produ-
ção vegetal. A agricultura tradicional atual é ção de massa verde; segundo, muitas sementes
facilitada quando as práticas culturais podem germinarão durante o desenvolvimento da cul-
ser aplicadas de forma contínua e uniforme. tura agrícola e, assim, serão consideradas plan-
Para isso, há necessidade de uniformidade de tas invasoras e entrarão em competição por luz,
desenvolvimento entre as plantas da mesma água e nutrientes com as plantas da cultura
cultura, o que se inicia na germinação das se- principal.
mentes e na emergência das plântulas. Portan- Finalmente, até mesmo a correta avaliação
to, um determinado lote com sementes dor- da qualidade fisiológica de lotes de sementes
mentes poderá resultar em campos de produção pode ser dificultada pela existência de dormên-
irregulares, com plantas em diferentes estádios cia. Testes de germinação realizados com espé-
de desenvolvimento. Nesse caso, a dormência cies que têm sementes dormentes podem pro-
é desvantajosa, tanto mais quanto menor o ciclo duzir resultados insuficientes para a correta
da cultura. Além disso, quanto maior o tempo previsão do comportamento das mesmas após
de permanência das sementes no solo sem ger- sua semeadura. Isso porque são registradas, nos
minar, maiores as chances de perdê-las, seja por boletins de análise, a porcentagem de sementes
deterioração ou predação. que germinaram e a de sementes dormentes
O atraso na germinação, algumas vezes, po- (ISTA, 1985). Estas últimas, após a semeadura,
de resultar em falhas na produção agrícola. Al- podem germinar no campo em períodos prati-
gumas plantas podem não estar suficientemen- camente imprevisíveis. Assim, tornam-se ne-
te desenvolvidas na época em que devem rece- cessários tratamentos para quebra da dormên-
ber estímulos ambientais para, por exemplo, cia após sua constatação nos testes de germina-
florescer ou acumular reservas em órgãos ve- ção. Contudo, dependendo da espécie, nem
getativos. Além disso, quando esses estímulos sempre há suficiente informação quanto ao mé-
são recebidos, o atraso na germinação pode pro- todo mais adequado ou eficiente para a quebra
duzir atraso na colheita, acarretando desvalo- da dormência das sementes.
rização do produto no mercado. Isso porque Deve-se salientar, porém, que, mesmo
muitos produtos agrícolas apresentam oscila- quando se pensa em utilização das sementes
ções de preço, regulados aos períodos de safra pelo homem, a dormência pode representar
e entressafra. A colocação de um produto agrí- vantagens. Em muitas sementes, a impermea-
cola no mercado antes da entrada da safra prin- bilidade do tegumento à água, por exemplo, é
cipal muitas vezes significa obtenção de preço o principal mecanismo de manutenção de bai-
mais elevado do produto. Esse fato é impor- xos teores de água no interior da semente, o
tante, por exemplo, para algumas hortaliças de que evita o metabolismo mais intenso, reduz a

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respiração e, assim, diminui o consumo de re- sensibilidade das sementes aos processos de su-
servas, fundamentais para a germinação e o peração de dormência (Egley, 1995), o que pode
crescimento inicial da plântula. O mesmo po- provocar maior ou menor sucesso da aplicação
deria ser dito quanto à impermeabilidade a dos métodos. Para cada tipo de dormência e
gases, evitando a entrada de O2 e a saída de para cada condição na qual as sementes estão
CO2. Além disso, mantendo-se baixo o teor de inseridas haverá um ou mais métodos mais
água nas sementes, dificulta-se o desenvolvi- adequados e eficientes.
mento de microrganismos causadores de dete- Quando a dormência é causada pela im-
rioração, bem como o ataque mais intenso de permeabilidade do tegumento à água (Capítulo
insetos e roedores. Em sementes de Hymenaea 7), os métodos a serem empregados deverão
courbaryl (jatobá) e de Lathyrus nervosus (espé- promover aberturas neste, permitindo a embe-
cie forrageira nativa do Brasil), por exemplo, a bição, como ocorre com as escarificações ou cor-
escarificação do tegumento, impermeável à tes do tegumento. Nesse caso, é importante
água, pode resultar em deterioração mais rápi- identificar as vias e os mecanismos de entrada
da (Franke e Baseggio, 1998; Guimarães et al., da água na semente, pois o tipo e a posição da
1995), conforme ilustrado na Figura 8.1. Por- abertura podem causar maior ou menor eficiên-
tanto, a dormência das sementes muitas vezes cia do método, algumas vezes chegando a pre-
contribui para sua melhor conservação e arma- judicar a germinação. Por exemplo, o desponte
zenamento (Capítulo 17). (corte na extremidade) da semente de Attalea
funifera (piaçaveira) pode dificultar a entrada
de água por remover, parcialmente, o feixe de
ESCOLHA DO MÉTODO DE fibras que funciona como eficiente captador de
QUEBRA DE DORMÊNCIA água (Melo, 2001). Por outro lado, em sementes
A dormência das sementes pode ter diversas de jatobá, quando a escarificação é feita na late-
causas (Capítulo 5). Assim, antes da tomada ral da semente, a embebição é mais rápida do
de decisão quanto ao método a ser adotado para que quando feita na região do hilo, o que prova-
a quebra da dormência, deve-se identificar, tan- velmente está relacionado à maior superfície
to quanto possível, suas causas. Além disso, é de contato com a água e à abertura de novas
necessário considerar a existência de ciclos de vias de entrada para esta. (Santos, 2002).

Germinação Sementes mortas

75 75

50 50
(%)

(%)

25 25

0 0
Testemunha Escarificação Escarificação Testemunha Escarificação Escarificação
mecânica química mecânica química

! Figura 8.1
Germinação e deterioração de sementes de Hymenaea courbaryl (coluna preta) e Lathyrus nervosus (coluna
cinza) submetidas ao processo de escarificação mecânica ou química. Fontes: Franke e Baseggio (1998),
Guimarães et al. (1995).

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Quando a dormência é ocasionada por um ciente apenas um planejamento de utilização


balanço desfavorável entre promotores e inibi- do lote de sementes. Por exemplo, em semen-
dores de germinação (Capítulo 6), métodos que tes de Styzolobium aterrimum (mucuna-preta),
aumentem a concentração de estimuladores da uma leguminosa bastante empregada como
germinação ou que atuem impedindo a ação adubo verde, a separação das sementes em cate-
dos inibidores deverão ser empregados, como gorias de tamanho pode ser um procedimento
é o caso da estratificação, da aplicação direta útil para controlar a dormência (Barbedo,
de substâncias como giberelinas e citocininas Nakagawa e Machado, 1988). As sementes
e, ainda, da lixiviação. maiores dessa espécie perdem a dormência
Nos casos em que há impedimento à entra- mais rapidamente que as menores (Figura 8.2).
da de oxigênio para o embrião, causado por Portanto, seria possível adquirir sementes su-
substâncias presentes na superfície das semen- ficientes para dois ciclos, guardando-se as se-
tes, uma simples lavagem permitirá a quebra mentes pequenas para um segundo plantio.
da dormência. Em outros casos, há necessidade A eficiência na quebra de dormência é, sem
de se fornecer maiores quantidades de O2. Para dúvida, uma das principais características a
algumas sementes, a dormência é resultante considerar na escolha do método. Na literatura,
do impedimento físico de estruturas mais exter- encontram-se diversos trabalhos nos quais mais
nas, que impedem a expansão dos tecidos do de um método resulta em grande porcentagem
embrião. Nesses casos, muitas vezes há necessi- de sementes que têm sua dormência quebra-
dade de remoção completa das estruturas que da. Contudo, muitas vezes há diferenças na
conferem a resistência mecânica à germinação, eficiência dos métodos. Além das variações que
como em Ocotea corymbosa, popularmente co- podem existir na sensibilidade das sementes
nhecida por canela-preta ou canela-fedida (Bi- de uma mesma espécie, conforme citado ante-
lia, Barbedo e Maluf, 1998). riormente (Egley, 1995), é preciso considerar
Uma vez identificadas as causas da dor- as diferentes condições nas quais esses méto-
mência, outros fatores devem ser considerados dos são aplicados, tais como as condições cli-
antes de se escolher o método de quebra da dor- máticas, a habilidade do executor e o equipa-
mência. Em função de sua causa pode ser sufi- mento e o material disponíveis. Em sementes

Germinação Sementes duras

100 60

75
40
(%)

(%)

50
20
25

0 0
3 meses 11 meses 24 meses 3 meses 11 meses 24 meses

! Figura 8.2
Germinação e dormência (impermeabilidade do tegumento à água) de sementes de Styzolobium aterrimum
(mucuna preta) de diferentes tamanhos, após 3, 11 e 24 meses de armazenamento. Coluna preta, sementes
sem separação de tamanho; coluna cinza, sementes grandes; coluna branca, sementes pequenas. Até o
terceiro mês de armazenamento, o grupo das sementes pequenas apresentou maior proporção de sementes
duras (que não embeberam). No decorrer do tempo de armazenamento, a proporção de sementes duras
diminuiu em todos os grupos, e a germinação passou a ser uniforme e elevada. Fonte: Barbedo, Nakagawa e
Machado. (1988).

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de Senna macranthera (manduirana), árvore 100


nativa de grande potencial ornamental, e em
Mimosa caesalpiniaefolia (sansão-do-campo, sa- 75

biá), as escarificações química e mecânica, em


diferentes experimentos (Martins, Carvalho e 50

Oliveira, 1992; Santarém e Aquila, 1995;


25
Eschiapati-Ferreira e Perez, 1997; Nascimento
e Oliveira, 1999), apresentaram respostas di-
0
ferentes quanto à eficiência dos métodos (Fi-
S1 S2 M1 M2
gura 8.3). Assim, antes de se optar por um mé-
todo de quebra de dormência, deve-se ter em ! Figura 8.3
mente o grau de eficiência desejado para atingir Germinação de sementes de Senna macranthera (S1
e S2) e de Mimosa caesalpiniaefolia (M1 e M2) sub-
um objetivo, com elevado grau de reprodutibi-
metidas às escarificações química e mecânica, em
lidade. dois experimentos: S. macranthera, S1 = Santarém
Nem sempre o método eficiente é o mais e Aquila, 1995; S2 = Eschiapati-Ferreira e Perez, 1997;
adequado à situação. Um fator importante na M. caesalpiniaefolia, M1 = Nascimento e Oliveira,
escolha é a viabilidade do uso. Muitas vezes, 1999; M2 = Martins, Carvalho e Oliveira. 1992. Colu-
na preta: testemunha; coluna branca: ácido sulfúri-
um método eficiente exige condições ou recur-
co por 10 min; coluna cinza: escarificação mecânica.
sos de execução que não estão à disposição do
usuário, tais como equipamento adequado,
mão-de-obra suficientemente qualificada e,
ainda, custo acessível de reguladores de cresci- bra de dormência nos casos de impermeabili-
mento. dade do tegumento à água. Contudo, para es-
Como exemplo, pode-se citar o caso do sa- carificar grandes quantidades de sementes, há
biá (Martins, Carvalho e Oliveira, 1992; Nasci- necessidade de equipamentos específicos, pois
mento e Oliveira, 1999), cujas sementes, quan- a escarificação manual demandaria quantidade
do colocadas em água a 80oC por 5 minutos, tão grande de tempo e de mão-de-obra que in-
têm sua germinação aumentada; contudo, a viabilizaria o processo. Muitas vezes, porém,
elevação dessa temperatura para 100oC, mes- tais equipamentos não existem ou são de difícil
mo que por apenas 3 minutos, resulta em mor- aquisição, quer por sua pequena disponibilida-
te de todas as sementes (Tabela 8.1). de no mercado, quer por seu custo elevado.
Um outro exemplo é a escarificação mecâ- Um outro fator a ser considerado na escolha
nica das sementes, que tem se apresentado co- do método de quebra de dormência é o seu grau
mo um dos mais eficientes métodos para que- de periculosidade. Escarificações ácidas, por

Tabela 8.1 Germinação e morte de sementes de Mimosa caesalpiniaefolia. submetidas ao


pré-tratamento com água a 80 ou 100oC

Tratamento Tipo de semente Germinação (%) Fonte

Testemunha 1 com casca 31,5 1


sem casca 38,0 1
Testemunha 2 com casca 14,5 2
sem casca 17,0 2
Água a 80oC por 5 minutos com casca 38,0 1
sem casca 73,0 1
Água a 100oC por 3 minutos com casca 0 2
sem casca 0 2

Fontes: 1. Nascimento e Oliveira, 1999; 2. Martins, Carvalho e Oliveira. 1992.

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exemplo, são bastante eficientes para muitas dades de dispersão) por meio dos tipos de agen-
sementes. Contudo, a manipulação do produto, tes que atuam nesse processo. Serão abordados
principalmente quando é necessário o uso de a seguir alguns métodos de superação da dor-
ácidos concentrados, exige mão-de-obra alta- mência, agrupados segundo sua principal for-
mente qualificada para que se evitem riscos à ma de atuação na semente.
saúde dos usuários. Ainda assim, os riscos de
acidentes tornam tais métodos pouco recomen- Agentes mecânicos
dáveis em escala comercial. Não é difícil imaginar que uma semente
Há estudos sobre quebra de dormência de com tegumento rígido, impermeável à água, só
sementes de várias espécies. Em alguns casos, poderá germinar se for aplicado algum tipo de
já se tem tecnologia adequada e difundida, com tratamento que possibilite a remoção total ou
técnicas e procedimentos bem-estabelecidos e parcial da casca, facilitando a entrada de água
de amplo domínio público (ISTA, 1985), como na semente, de modo a permitir sua embebição,
as estratificações feitas em sementes de frutei- etapa inicial da germinação. A casca da semente
ras de clima temperado ou as escarificações me- também pode agir como barreira às trocas gaso-
cânicas em várias leguminosas arbóreas tropi- sas ou à entrada de luz, como impedimento à
cais. Em outras situações, porém, os estudos saída de inibidores endógenos ou, ainda, forne-
não são ainda conclusivos ou, mesmo, não há cendo inibidores para o embrião, impedindo
estudos. Nesses casos, além dos cuidados des- assim a germinação.
critos anteriormente, também pode ser de gran- A ocorrência de tegumentos rígidos, resis-
de ajuda analisar as características do ambiente tentes, provocando uma resistência mecânica,
no qual a espécie ocorre naturalmente, sua re- é muito comum nas Leguminosae, principal-
gião de origem, formas de dispersão, etc. Tais mente nas Faboideae. Em sementes de determi-
observações podem fornecer informações im- nadas espécies, a entrada de água e oxigênio é
portantes para a escolha do método de quebra impedida por uma tampa de suberina, seme-
de dormência, tais como período de baixas tem- lhante a uma rolha (estrofíolo), localizada em
peraturas após a dispersão natural das semen- uma pequena abertura na casca (Salisbury e
tes, passagem das sementes pelo trato digestivo Ross, 1992). A agitação vigorosa das sementes
de animais, entre outras. pode deslocá-la e permitir a entrada de água,
levando à germinação. Esse tratamento é co-
nhecido como quebra de dormência por impac-
MÉTODOS PARA QUEBRA DE tação e é aplicado em sementes de Melilotus alba
DORMÊNCIA EM SEMENTES (trevo-doce, trevo-doce-branco) e Crotallaria
A dormência das sementes consiste na incapa- aegyptica (crotalária), espécies utilizadas como
cidade de germinação do embrião devido a al- adubo verde. A remoção total ou parcial da cas-
gum problema inerente à semente. Quando ca da semente por tratamentos diversos é de-
todas as condições necessárias à germinação nominada escarificação.
são oferecidas e mesmo assim a semente não A escarificação mecânica é feita com mate-
germina, existe uma forte possibilidade de ela riais cortantes, como facas, canivetes, estiletes,
apresentar algum tipo de bloqueio que deve ser alicates, ou com materiais abrasivos, como li-
removido ou superado para que o processo da mas, lixas, areia, etc. Na maioria das vezes, não
germinação ocorra. Para que se perca a dormên- é necessário retirar todo o tegumento da se-
cia, a semente deve sofrer a ação de algum fator mente, basta uma leve escarificação, suficiente
ambiental e/ou metabólico. Desse modo, a que- para permitir a entrada de água a fim de que a
bra da dormência está relacionada a fatores ex- germinação venha a ocorrer. Exemplos de se-
ternos e internos à semente. mentes que necessitam desse tipo de tratamen-
Para fins didáticos, costuma-se estudar a to: as plantas arbóreas do bioma Cerrado, como
quebra da dormência de sementes (ou de uni- jatobá, Dipteryx alata (baru) e Stryphnodendron

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GERMINAÇÃO 141

barbadetimam (barbatimão); Rumex obtusifolius que a germinação em canteiro sob temperatura


(língua-de-vaca, espécie invasora), Xanthium ambiente (ao redor de 25oC) foi de 40% após 7
strumarium (espécie muito utilizada em estu- a 10 meses; em embriões isolados, entre 35 e
dos de floração), várias leguminosas, como Cae- 39oC, a germinação ocorreu após oito dias, atin-
salpinia ferrea (pau-ferro), Bauhinia forficata (pa- gindo 90% (Felippe e Silva, 1984). Em algumas
ta-de-vaca) e Schizolobium parahyba (guapuru- plantas de Cerrado, temperaturas relativamen-
vu), conforme Felippe e Silva (1984), Lorenzi te altas (cerca de 35oC) podem acelerar a germi-
(1992) e Guimarães e colaboradores (1995). A nação. Esse efeito da temperatura não deve ser
semente de Eugenia dysenterica (cagaita), espécie confundido com o efeito de água quente na
do Cerrado, apresenta uma testa coriácea, gros- quebra de dormência em algumas sementes.
sa, permeável à água, mas que se torna pouco Nessas, como em guapuruvu, para que ocorra
permeável ao oxigênio quando fica saturada de a germinação, é preciso ferver as sementes por
água; nesse caso, é necessário perfurar ou reti- alguns minutos. A fervura vai apenas retirar
rar a testa da semente para acelerar a germi- as ceras presentes no tegumento da semente,
nação (Rizzini, 1970). A escarificação mecânica diminuindo sua impermeabilidade e permitin-
também pode ser feita por agentes químicos do a entrada de água e as trocas gasosas.
fortes, como o ácido sulfúrico concentrado. A exposição a um calor intenso, como nas
queimadas, pode provocar a ruptura da testa
Temperatura de algumas sementes. Esse efeito é descrito em
As sementes de várias espécies não-tropi- Acacia melanoxylon, uma espécie das savanas
cais podem ter sua dormência quebrada quando africanas, e em Calluna vulgaris (urze européia),
hidratadas ou expostas a baixas temperaturas. não sendo confirmado em sementes de plantas
Esse efeito também é conhecido como estrati- do Cerrado. Sementes de Albizzia lophanta, uma
ficação. Esta é uma prática comum em horti- leguminosa de pequeno tamanho que ocorre
cultura e silvicultura, e o nome advém da forma na Austrália, germinam quando expostas à pas-
como as sementes são colocadas, em camadas, sagem do fogo e, quando isso não ocorre, ape-
no substrato umedecido, para receber o trata- nas 5% das sementes germinam (Salisbury e
mento de baixa temperatura. É fácil imaginar Ross, 1992).
como a estratificação se dá em condições natu- Finalmente, é importante mencionar os
rais, durante o inverno, quando as sementes efeitos de temperatura alternada na quebra de
são expostas por vários dias a temperaturas dormência de sementes, como ocorre em algu-
entre 1 e 10oC e têm sua dormência quebrada, mas espécies de Rumex (Metivier, 1979). Em
vindo a germinar no início da primavera. Al- Bidens gardneri (picão-do-cerrado), uma herbá-
guns pinheiros (Pinus spp.), espécies do gênero cea ocorrente em áreas abertas e marginais de
Pyrus (macieira e pereira), cereais como Avena Cerrado, temperaturas alternantes de 20 a 30oC
sativa (aveia), Rosa spp. (rosa) e Vitis vinifera (vi- durante o armazenamento de aquênios com
deira) são exemplos de plantas cultivadas cujas teor alto de água aumentam a germinação no
sementes requerem frio para germinar (Meti- escuro e, portanto, alteram a resposta fotoblás-
vier, 1979; Bewley e Black, 1994). tica (Rondon et al., 2001). Esse efeito explicaria
Mais raramente, outras espécies requerem a germinação dos aquênios presentes em solo
temperaturas altas para que ocorra a quebra de Cerrado, onde oscilações diárias de tempera-
de dormência. Porophyllum lanceolatum, uma As- tura nessa faixa podem ocorrer. O efeito da al-
teraceae que ocorre no Cerrado, apresenta ternância de temperatura é uma resposta difícil
aquênios que germinam bem a 25oC, em pre- de ser quantificada, pois pode ser extremamen-
sença de luz; aquênios mantidos no escuro e te variável em termos de tempo de exposição,
que receberam choques de temperatura entre magnitude da variação entre a temperatura alta
34 e 42oC germinaram na total ausência de luz. e a baixa, número de ciclos de exposição, etc.
Em Andira humilis (mata-barata), observou-se Em algumas espécies, a alternância de tempe-

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ratura pode substituir o efeito da luz na germi- Os reguladores de crescimento exercem um


nação. papel primordial na eliminação da dormência.
As giberelinas (geralmente o ácido giberélico,
Lixiviação GA3, mas também GA4 e GA7) as citocininas
O efeito físico da água na quebra de dor- (principalmente a cinetina e a benziladenina)
mência pode ser entendido quando ela exerce e o etileno são os compostos mais relacionados
o papel de agente de lixiviação (lavagem) de à quebra da dormência. Em geral, as sementes
inibidores de crescimento presentes na semen- que necessitam de estratificação, luz ou um pe-
te. Em condições naturais, tal efeito pode ser ríodo de pós-maturação respondem bem a apli-
obtido quando ocorre uma chuva torrencial ou cações de hormônios que, freqüentemente, ace-
mesmo chuvas freqüentes. Em laboratório, cos- leram a germinação de sementes não-dormen-
tuma-se deixar as sementes que necessitam tes. Entre os efeitos de reguladores de cres-
desse tipo de tratamento por um certo período cimento, estaria o de aumentar o nível endó-
de tempo sob água corrente, antes de colocá- geno desses compostos ou antagonizar o efeito
las para germinar. Lembramos aqui que semen- de inibidores no metabolismo embrionário. Em
tes presentes no solo ou na serapilheira estão língua-de-vaca, as sementes necessitam de luz
sujeitas à ação de inúmeros tipos de inibidores constante para germinar, a qual pode ser subs-
presentes em outras sementes, em folhas e mi- tituída por um choque de luz durante uma hora
crorganismos. Nesses casos, a ocorrência de ou um choque de temperatura a 40°C pelo mes-
chuvas pode atuar na lixiviação de inibidores, mo período (Tabela 8.2). Foi observada a exis-
propiciando a germinação (Capítulo 16). tência de inibidores endógenos cuja concentra-
ção diminui após os choques de luz e de tem-
peratura, que, concomitantemente, provoca-
Agentes químicos e reguladores do
crescimento
ram aumento significativo do teor de gibereli-
Dentre estes, destacam-se os ácidos fortes, nas das sementes. Em outras situações, uma
como o ácido sulfúrico, que, quando em contato embebição prévia no escuro por um período va-
com os tegumentos duros de uma semente, po- riável pode quebrar a dormência. Aquênios de
de levar à ruptura da testa, como anteriormente Acanthospermum hispidum (carrapicho-de-car-
mencionado. O tempo que as sementes ficam neiro) necessitam de um período de pós-ma-
expostas ao efeito corrosivo do ácido varia de turação para a interrupção da dormência, o que
acordo com a espécie. As sementes de legumi- é obtido quando são embebidos no escuro por
nosas arbóreas, como sabiá, Cassia spp., Mimosa 10 a 20 dias (Garcia e Sharif, 1995).
bimucronata (maricá) e Dimorphandra mollis (fal- As giberelinas constituem o grupo de regu-
so-barbatimão, farinheiro), são exemplos de se- ladores de crescimento que tem o mais amplo
mentes cuja dormência pode ser quebrada por espectro de ação em relação à quebra de dor-
ácido sulfúrico (Lorenzi, 1992; Martins, Car- mência em sementes. O efeito na germinação
valho e Oliveira, 1992; Jeller e Perez, 1999). de alface é um dos mais conhecidos, tendo tam-
Imersão em hipoclorito de sódio (NaClO3),
ácido nítrico (HNO 3), nitrato de potássio
(KNO3), etanol (para remoção de ceras do te- Tabela 8.2 Efeito do choque de luz e de
gumento) ou água oxigenada (H2O2) é prática temperatura na germinação de Rumex obtusifolius L
comum, usada para superar a dormência. Es- Tratamento Germinação (%)
ses agentes químicos podem atuar em vários
Escuro 25oC 15,3
processos do metabolismo das sementes, como
Escuro 25oC (1h a 40oC) 75,3
nos processos oxidativos, no ciclo das pentoses Escuro 25oC (1h de luz) 88,0
e na respiração. Luz constante 25oC 89,3

Fonte: Felippe et al., 1970.

Germinação_08ok.p65 142 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 143

bém sido observado em língua-de-vaca (Tabela dia do último comprimento de onda fornecido
8.3). (Tabela 8.4). Por meio desse e de outros estu-
As citocininas parecem ser menos eficientes dos se estabeleceu que a luz é absorvida por
e podem induzir uma germinação anormal, por um pigmento, denominado fitocromo, que se
exemplo, com a emissão dos cotilédones antes converte em duas formas, ativa e inativa.
da protrusão da radícula. Em geral, as aplica- As duas formas do fitocromo podem ser
ções exógenas de reguladores de crescimento simbolizadas por Fv e Fve. A primeira, inativa,
são mais eficazes quando fornecidas juntamen- absorve luz vermelha, com pico de absorção má-
te com outro fator, como a luz, ou com outro xima em 660 nm. Quando o Fv é ativado pela
regulador de crescimento, combinados entre si luz vermelha, converte-se na segunda forma,
em termos de concentração. Assim, em Cheno- o Fve (pico de absorção máxima em 730 nm),
podium album (ançarinha-branca), a aplicação que é a forma ativa e, para a maior parte das
de etileno estimula a germinação com maior sementes fotoblásticas, promove a germinação.
eficácia na presença de luz e de giberelina O esquema clássico que explica essa conversão
(Bewley e Black, 1994). mútua está apresentado a seguir (Bewley e
Black, 1994):
Luz
luz vermelha
Em 1954, Borthwick e colaboradores (apud, Fv Fve
Quebra da
dormência
Bewley e Black, 1994), estudando os efeitos de luz vermelho-extremo
diferentes comprimentos de onda na germina-
escuro
ção, estabeleceram o espectro de ação para a
germinação de sementes de alface (Lactuca sa-
tiva), cultivar Grand Rapids (Bewley e Black, Sob efeito do tratamento luminoso, tanto
1994). A maior germinação foi encontrada na a passagem de Fv para Fve como o inverso ocor-
faixa de 660 nm, e a inibição desta foi encontra- rem rapidamente. A conversão de Fve para Fv
da em 730 nm. Esses comprimentos de onda pode ocorrer também no escuro, porém essa
referem-se, respectivamente, à luz vermelha e reação é mais lenta. Além disso, sob luz branca,
à luz vermelho-longo ou vermelho-extremo. há maior conversão de Fv para Fve (pois a luz
Esta última situa-se entre o vermelho e o infra branca apresenta maior proporção de vermelho
vermelho. Por volta dessa mesma época, ob- que o vermelho-extremo), o que explica o su-
servou-se também que os efeitos desses com-
primentos de onda antagonizavam-se mutua-
Tabela 8.4 Fotorreversibilidade do fitocromo na
mente, ou seja, a resposta à exposição
quebra de dormência de sementes de Lactuca
seqüencial de sementes de alface a irradiações sativa (alface) Grand Rapids. As sementes foram
de luz vermelha e de vermelho-extremo depen- embebidas no escuro e expostas à luz vermelha (V)
por 1,5 min e à luz vermelho-extremo (VE) por 4
min, na seqüência mostrada. As sementes foram
colocadas no escuro por 24 h, sendo avaliada a
Tabela 8.3 Efeito de diferentes concentrações de germinação
GA3 na germinação de sementes de Rumex
obtusifolius no escuro Irradiação Germinação (%)

Tratamento Germinação (%) Escuro 4


V 98
Controle (água) 9 VE 3
GA3 1 mg mL-1 36 V, VE 2
GA3 2,5 mg mL-1 20 V, VE, V 97
GA3 5 mg mL-1 14 V, VE, V, VE 0
GA3 10 mg mL-1 4 V, VE, V, VE, V 95

Fonte: Felippe et al.,1970. Fonte: Bewley e Black, 1994.

Germinação_08ok.p65 143 17/05/2004, 17:43


144 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

cesso de vários autores em utilizar luz branca de rochas, também podem sofrer uma escarifi-
para a quebra da dormência de sementes, como cação mecânica ou lixiviação.
em sementes de pereira (Maeda et al., 1997) e Como apresentado anteriormente, trata-
de espécies florestais (Borges e Rena, 1993). mentos térmicos utilizados experimentalmente
As Regras para análise de sementes (Brasil, 1992) na quebra da dormência ocorrem de forma na-
e o Manual técnico de sementes florestais (Figliolia tural no ambiente onde a semente se encontra.
e Piña-Rodrigues, 1995) também sugerem o uso Temperaturas alternantes, altas temperaturas
da luz na condução de testes de germinação de ou mesmo o próprio fogo são comuns em am-
algumas espécies. bientes abertos, formações savânicas, e, para
A luz pode ser considerada um fator impor- uma dada semente, podem servir como um in-
tante na quebra de dormência em sementes. A dicativo do tipo de ambiente ou da época do
ação de diferentes comprimentos de onda sobre ano em que a mesma se encontra.
o fitocromo constitui um dos fatores mais rele- De maneira similar, a luz pode servir como
vantes para a germinação de sementes. Sendo um excelente indicativo da localização da se-
o fitocromo um cromóforo ligado a uma proteí- mente no ambiente. Sabe-se que a composição
na (Capítulo 6), os efeitos da luz na quebra de do espectro luminoso varia em função de diver-
dormência podem ser dependentes da tempera- sos fatores, como o horário do dia, o grau de
tura. Algumas sementes, como certos cultivares cobertura vegetal e a profundidade do solo. A
de alface, são indiferentes à luz a 20°C, mas luz solar, em ambiente aberto, apresenta maior
em temperaturas mais elevadas (em torno de quantidade de vermelho que vermelho-extre-
35°C) tornam-se fotoblásticas. Sementes de pi- mo na maior parte do dia. Entretanto, a passa-
cão-do-cerrado e de Porophyllum lanceolatum, gem da luz solar através da copa das árvores
ambas herbáceas de Cerrado, necessitam de luz inverte essa relação, visto que boa parte do ver-
para germinar; no entanto, quando armazena- melho é absorvido pelas clorofilas, resultando
das, vão perdendo gradativamente essa caracte- no fato de que a luz que atinge o sub-bosque
rística, vindo a germinar também na ausência apresenta maior proporção de vermelho-extre-
de luz (Felippe e Silva, 1984). A escarificação mo. Uma semente enterrada a poucos centíme-
de sementes, além de ser necessária para permi- tros de profundidade recebe mais vermelho-
tir a entrada de água ou as trocas gasosas, tam- extremo que vermelho, pois este comprimento
bém pode servir como uma quebra de barreira de onda tem maior poder de penetração entre
à entrada de luz. as partículas do solo. Todas essas variações po-
dem ser percebidas por meio do pigmento fito-
cromo, identificando a posição e o tipo de am-
CONSIDERAÇÕES FINAIS biente em que a semente se encontra, encon-
Grande parte dos mecanismos de quebra de trando assim respostas fisiológicas distintas
dormência descritos ocorre na natureza. A que- (germinação ou dormência) em função das
bra de tegumentos rígidos por diversos agen- condições ambientais predominantes.
tes acontece em condições naturais, talvez mais As sementes possuem características mor-
lentamente. Além da degradação por micror- fológicas e fisiológicas que devem ser considera-
ganismos, a passagem pelo trato digestivo de das quando se estudam os bancos de sementes
animais durante a dispersão, especialmente de do solo (Capítulo 14). São essas características
aves que possuem moela rígida para a trituração que aumentarão suas chances de permanência
de alimentos, pode ser caracterizada como uma no banco, facilitando ou não a germinação
forma de escarificação mecânica. Em diversos quando houver condições ambientais para isso.
animais, a escarificação química pode ocorrer Antes de serem consideradas empecilhos,
no trato digestivo. Sementes levadas por uma as barreiras à germinação presentes nas semen-
corredeira, onde a água percorre áreas cobertas tes devem ser encaradas como mecanismos de-

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GERMINAÇÃO 145

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