Este documento discute a importância da mortificação da imaginação para a vida espiritual. Afirma que a imaginação deve ser governada pela razão e fé para ser útil, evitando distrações e juízos temerários. Também deve ser usada para meditar nos mistérios da fé, como a Paixão de Cristo. A mortificação purifica a alma e aproxima da presença de Deus.
Descrição original:
Uma meditação sobre a Imaginação da obra Falar com Deus de Francisco Fernández-Carvajal
Este documento discute a importância da mortificação da imaginação para a vida espiritual. Afirma que a imaginação deve ser governada pela razão e fé para ser útil, evitando distrações e juízos temerários. Também deve ser usada para meditar nos mistérios da fé, como a Paixão de Cristo. A mortificação purifica a alma e aproxima da presença de Deus.
Este documento discute a importância da mortificação da imaginação para a vida espiritual. Afirma que a imaginação deve ser governada pela razão e fé para ser útil, evitando distrações e juízos temerários. Também deve ser usada para meditar nos mistérios da fé, como a Paixão de Cristo. A mortificação purifica a alma e aproxima da presença de Deus.
comovente diálogo entre Jesus e Nicodemos na calada da noite. Este homem sente-se impressionado pela pregação e pelos milagres do Mestre e experimenta a necessidade de saber mais. Mostra uma grande delicadeza para com Jesus: Rabbi, meu Mestre, é como o chama.
Nicodemos interroga o Senhor sobre a sua
missão, talvez ainda sem saber ao certo se está diante de mais um profeta ou do próprio Messias: Sabemos – diz ele – que és um mestre vindo da parte de Deus, pois ninguém pode fazer os prodígios que fazes se Deus não estiver com ele. E o Senhor responde-lhe de uma maneira inesperada; Nicodemos pergunta-lhe pela sua missão e Jesus revela-lhe uma verdade assombrosa: É preciso nascer de novo. Trata-se de um nascimento espiritual pela água e pelo Espírito Santo: é um mundo inteiramente novo que se abre ante os olhos de Nicodemos.
As palavras do Senhor constituem também um
horizonte sem limites para o progresso espiritual de qualquer cristão que se deixe conduzir docilmente pelas inspirações e moções do Espírito Santo. Porque a vida interior não consiste somente em adquirir uma série de virtudes naturais ou em praticar determinados atos de piedade. O que o Senhor nos pede é uma transformação radical: Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho [2], anunciava São Paulo aos fiéis de Éfeso.
Esta transformação interior é acima de tudo
obra da graça na alma, mas requer também a nossa colaboração, através de uma séria mortificação da inteligência e das recordações – da imaginação –, que terá como fruto a purificação das nossas potências, necessária para que a vida de Cristo se desenvolva plenamente em nós. Muitos cristãos não avançam no seu relacionamento com Deus, na oração, por descurarem esta mortificação interior, sem a qual a mortificação externa perde o seu ponto de apoio.
A imaginação é, sem dúvida, uma faculdade
muito útil, porque a alma, que está unida ao corpo, não pode pensar sem imagens. O Senhor falava às pessoas por meio de parábolas, servindo-se de imagens para transmitir-lhes as verdades mais profundas; acabamos de ver que foi esse o caminho que seguiu na conversa com Nicodemos. Neste sentido, a imaginação pode ser de grande utilidade para a vida interior, pois ajuda a contemplar a vida do Senhor, os mistérios do Rosário... “Mas, para que seja proveitosa e útil, deve ser governada pela reta razão esclarecida pela fé. Caso contrário, pode converter-se, como já foi chamada, na louca da casa; afasta-nos da consideração das coisas divinas e arrasta-nos para as coisas vãs, insubstanciais, fantásticas e mesmo proibidas. No melhor dos casos, leva-nos para o mundo dos sonhos, de onde brota o sentimentalismo tão oposto à verdadeira piedade” [3].
Dada a nossa condição depois do pecado
original, a submissão da imaginação à razão só pode ser alcançada habitualmente pela mortificação, que fará com que “deixe de ser a louca da casa e se concentre no seu fim próprio, que é servir a inteligência iluminada pela fé” [4].
II. DEIXAR A IMAGINAÇÃO à solta significa em
primeiro lugar perder o tempo, que é um dom de Deus e parte do patrimônio que o Senhor nos confiou. “Afasta de ti esses pensamentos inúteis que, pelo menos, te fazem perder o tempo”, aconselha-nos o autor de Caminho [5]. Além disso, a imaginação perdida em sonhos fantásticos e estéreis é um campo bem adubado para que nele apareça um bom número de tentações voluntárias, que convertem os pensamentos inúteis em verdadeira ocasião de pecado [6].
Quando não há essa mortificação interior, os
sonhos da imaginação giram freqüentemente em torno dos nossos talentos, de uma determinada atuação em que nos saímos bem, da admiração – talvez também irreal – que provocamos em certas pessoas ou no nosso ambiente... E assim, aquilo que principiou por ser um pensamento inútil começa a correr à deriva, até chegar a comprometer a retidão de intenção que se tinha mantido até aquele momento; e a soberba, sempre à espreita, vai ganhando corpo à custa daquilo que inicialmente parecia inocente. Depois, se não a detemos, essa soberba tende a destruir as coisas boas que encontra à sua passagem. De modo especial, destrói uma boa parte da atenção que os outros merecem, impedindo de ver as suas necessidades e de praticar a caridade. “O horizonte do orgulhoso é terrivelmente limitado: esgota-se em si mesmo. O orgulhoso não consegue olhar para além da sua pessoa, das suas qualidades, das suas virtudes, do seu talento. O seu horizonte é um horizonte sem Deus. E neste panorama tão mesquinho, nunca aparecem os outros, não há lugar para eles” [7].
Em outros casos, quando se entretém a julgar o
modo de agir dos outros, é fácil que a imaginação comece a emitir juízos negativos e pouco objetivos, porque, quando não se olha para os outros com compreensão, com desejo de ajudá-los, passa-se a ter deles uma visão injustamente parcial, julga-se a sua conduta com frieza, sem perceber que podem ter tido motivos para agir como agiram, ou atribuem-se gratuitamente a essas pessoas intenções retorcidas ou menos boas. Somente Deus penetra nas coisas ocultas, só Ele lê a verdade dos corações e dá o verdadeiro valor a todas as circunstâncias. Por leviandade culposa, esses pensamentos inúteis conduzem ao juízo temerário, que nasce de um coração pouco reto. A mortificação interior teria evitado esse tipo de faltas contra a caridade, que afasta de Deus e dos outros. “A causa de que haja tantos juízos temerários é que se consideram como coisa de pouca importância; e, não obstante, se se trata de matéria grave, pode-se chegar ao pecado grave” [8].
Freqüentemente, se não nos vigiarmos de modo
a cortar esses pensamentos inúteis e a oferecer ao Senhor essa mortificação, a imaginação girará em torno de nós mesmos e criará situações fictícias, pouco ou nada compatíveis com a vocação cristã de um filho de Deus, que deve ter o coração posto nEle. Esses pensamentos esfriam a alma, afastam de Deus e depois tornam mais difícil o clima de diálogo com o Senhor no meio das ocupações diárias.
Examinemos hoje na nossa oração como
vivemos essa mortificação interior que tanto nos ajuda a conservar-nos sempre na presença do Senhor, e que evita tantos inconvenientes, tentações e pecados. Vale a pena meditar nisto seriamente, com profundidade e com desejos de chegar a propósitos eficazes.
III. A MORTIFICAÇÃO da imaginação traz
inúmeros bens à alma; não é tarefa puramente negativa, não está na fronteira do pecado, mas no terreno do Amor.
Em primeiro lugar, purifica-nos a alma e
inclina-nos a viver melhor na presença de Deus, leva-nos a aproveitar bem o tempo dedicado à oração, e a evitar as distrações quando mais atentos devemos estar, como por exemplo na Santa Missa, na Comunhão... Permite-nos ainda aproveitar melhor o tempo no trabalho, executá-lo conscienciosamente, santificá-lo; no terreno da caridade, ajuda-nos a pensar nos outros, em vez de ficar ensimesmados, submersos num clima de sonhos e fantasias. Por outro lado, a imaginação deve ocupar um lugar importante na vida interior, no trato com Deus: ajuda-nos a meditar as cenas do Evangelho, a acompanhar Jesus nos seus anos de Nazaré, junto de José e Maria, na sua vida pública, seguido pelos Apóstolos. De modo especial, ajuda-nos a contemplar freqüentemente a Paixão do Senhor.
“Misturai-vos com freqüência entre as
personagens do Novo Testamento. Saboreai aquelas cenas comoventes em que o Mestre atua com gestos divinos e humanos, ou relata com modos de dizer humanos e divinos a história sublime do perdão, do Amor ininterrupto que tem pelos seus filhos. Esses translados do Céu renovam-se agora também, na perenidade atual do Evangelho” [9].
“Se alguma vez não nos sentirmos com forças
para seguir as pegadas de Jesus Cristo, troquemos palavras amigas com aqueles que o conheceram de perto, enquanto permaneceu nesta nossa terra. Com Maria, em primeiro lugar, que foi quem o trouxe até nós. Com os Apóstolos. Alguns gentios chegaram-se a Filipe, que era natural de Betsaida da Galiléia, e fizeram-lhe este pedido: Desejamos ver Jesus. Filipe foi e disse-o a André; e André e Filipe disseram-no a Jesus (Ioh XII, 20-22). Não é verdade que isto nos anima? Aqueles estrangeiros não se atrevem a apresentar-se ao Mestre, e procuram um bom intercessor [...].
“Meu conselho é que, na oração, cada um
intervenha nas passagens do Evangelho, como mais um personagem. Primeiro, imaginamos a cena ou o mistério, que servirá para nos recolhermos e meditar. Depois, empregamos o entendimento para considerar este ou aquele traço da vida do Mestre: o seu Coração enternecido, a sua humildade, a sua pureza, o seu cumprimento da Vontade do Pai. Depois, contamos-lhe o que nos costuma ocorrer nessas matérias, o que sentimos, o que nos está acontecendo. É preciso permanecermos atentos, porque talvez Ele nos queira indicar alguma coisa: e surgirão essas moções interiores, o cair em si, essas reconvenções” [10].
Assim imitaremos a Santíssima Virgem, que
conservava todas estas coisas – os acontecimentos da vida do Senhor – e as meditava no seu coração [11].
(1) Jo 3, 1-8; (2) Ef 5, 22; (3) R. Garrigou-Lagrange,
Las tres edades de la vida interior, Palabra, Madrid, 1975, vol. I, pág. 398; (4) ib., pág. 399; (5) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 13; (6) cfr. Josemaría Escrivá, Sulco, n. 135; (7) S. Canals, Reflexões Espirituais, pág. 65; (8) Cura d’Ars, Sermão sobre o juízo temerário; (9) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 216; (10) ib., n. 252-253; (11) Lc 2, 19.