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Barra do Garças – MT
Abril - 2021
UNICATHEDRAL
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATHEDRAL
CURSO DE DIREITO
Barra do Garças- MT
UNICATHEDRAL
Abril - 2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATHEDRAL
CURSO DE DIREITO
elaborado por:
RAYAN LEMES DOS SANTOS
BANCA AVALIADORA:
RESUMO: o artigo que virá a seguir trata-se de uma análise sob a ótica do Direito entre
dois contextos: o ambiente da obra do “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo para com as favelas
brasileiras, buscando apontar alguns direitos negligenciados nas duas situações. Essa análise
tem como objetivo geral a exposição da ineficácia da aplicação prática da teoria do Direito. A
metodologia utilizada é baseada nos seguintes métodos: natureza pratica, pesquisa qualitativa,
pesquisa descritiva, pesquisa explicativa, pesquisa exploratória, observando o método
indutivo, além do método monográfico. Os autores fundamentais são: Alex Ferreira
Guimarães, o escritor Aluísio de Azevedo, a escritora Raquel Santana, além de ser uma
pesquisa que se utiliza como base jurídica fundamental a Constituição Federal de 1988. No
final, a exposição da ineficácia estatal nas periferias. Assim, pode-se obter os principais
resultados do artigo: a exposição da ineficácia do Direito nas periferias, a desigualdade social,
a exposição da relação de pessoas reais com personagens fictícios, além da exposição de que
forma o Direito é aplicado nos contextos apresentados.
1
Acadêmico do 9º semestre do Curso de Direito do Unicathedral – Centro Universitário.
² Mestre em Letras e Linguísticas (UFG). Graduada em Letras (UFMT). Professora do Curso de Direito e
membra da Comissão Técnica de Assessoria ao programa de Iniciação Cientifica do Unicathedral – Centro
Universitário Cathedral.
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1 INTRODUÇÃO
A obra “O Cortiço” de Aluísio Azevedo é tida como uma das principais obras do
naturalismo brasileiro. Essa obra é classificada como um romance que propõe expor
determinados acontecimentos dos moradores de um cortiço, a vila de João Romão, afim de
retratar as mazelas sociais do Brasil no século XIX. Essa construção vem como um
contraponto literário de uma realidade existente, já que naquela época era bastante comum a
existência desse modelo de moradia.
Dessa forma, assim foi construído o conceito do tema e as possibilidades que ele
produz, em especial, os conflitos que tais realidades trazem de encontro ao Direito. A
ineficácia, a inaplicabilidade das normas e o desconhecimento da desordem e da pobreza por
parte do Estado em relação a favela é trabalhada nesse sentido, como também era nos
cortiços. E, claro, se levarmos em consideração que realmente existiram os modelos de
moradia de cortiço, torna o objeto deste trabalho ainda mais intrigante. Assim, o tema é
polêmico e traz diversas situações, explicações e citações desses ferimentos ao Direito.
O fato é que as duas zonas construídas são realidade. Existiram-se cortiços e existem
favelas. Assim, a aproximação entre os dois objetos não é tão difícil e nem mesmo a
proximidade do leitor para com o objeto não é distante. O artigo tentará se alçar como uma
ponte apresentando a visão jurídica acerca do objeto. Isto é, o trabalho será um diálogo entre a
obra do cortiço e a realidade das favelas traçando um diálogo jurídico entre o ambiente do
livro e o ambiente das favelas.
Após algum tempo, Aluísio retornou a sua terra natal, sendo o momento em que
começa a se dedicar a carreira literária. Dessa forma, em 1880, publicou seu primeiro livro,
“Uma lagrima de mulher”. Em seguida, em 1881, publicou a obra que o instaurou como
escritor naturalista que é o romance “O mulato”. A partir daí, retornou ao Rio de Janeiro e se
consolidou como um grande escritor. Em 1913, o autor veio a falecer. Em seu histórico,
deixou grandes livros publicados, em especial: “O mulato” (1881), “Casa de pensão” (1884) e
“O cortiço (1890).
A obra do Cortiço foi escrita pelo autor e publicada em 1890. É, sem dúvidas, umas
das principais obras de Azevedo é um grande marco da literatura naturalista, sendo
responsável pela ambientação e exposição da degradação social do Brasil no século XIX.
Em suma, a obra discorre sobre a vida de um vendeiro conhecido como João Romão
e sua amente e ajudante de domingo a domingo, chamada de Bertoleza. João traça uma
jornada que visa o lucro a qualquer custo, mesmo os imorais e ilícitos, se tornando o dono do
cortiço, da taverna e da pedreira onde se narra os fatos do conto.
A sede por poder de Romão é a sua rivalidade com Miranda. Ao perceber que
Miranda é dotado de uma condição social mais elevada que si, o vendeiro se vê ainda mais
com sede de enriquecer, despertando uma grande inveja de seu “rival”. E essa inveja lhe faz
perceber que não só o dinheiro, como também o status (roupa, ambiente que frequenta etc.) é
fundamental na construção do nome da pessoa. Assim, o desejo de João Romão é se tornar
um novo “burguês”.
O eixo central da narrativa se encaixa no cortiço em que João construi a ponto de
influenciar outros personagens, como Rita Baiana, Firmo, Piedade etc. Um exemplo dessa
influência é o caso do português Jerônimo que tem uma vida considerada “digna” até se ver
apaixonado pela mulata Rita Baiana. Um exemplo de como o ambiente influencia o homem
nessa narrativa.
Após algum tempo, João e Miranda se veem mais próximos principalmente apor o
comerciante receber o título de barão, tornando-o superior ao seu rival. A partir dai o cortiço
passa a se transformar, ou na linguagem moderna, começou a se “elitizar”, passando a se
chamar “Vila João Romão”.
A partir da aproximação entre os dois rivais, João se vê pedindo a mão da filha de
Miranda em casamento. Isso cria um reboliço por parte de Bertoleza que passa e exigir a
possibilidade de usufruir de seus bens. Ao se ver ameaçado pela amante, o comerciante
denuncia a mulata para seus donos (ela era uma escrava fugida) e, no ato de desespero, prestes
a ser pega, ela comete suicídio.
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3 CORTIÇO X FAVELAS
Os cortiços, assim como as favelas são vistas atualmente, são tidos como ambiente
insalubres, de pouco espaço, mau construídos, com precariedade em diversas questões que
para outros ambientes são tidos como “normais”, como por exemplo: direito a saúde.
Entretanto, esse modelo de moradia foi de suma importância no primeiro passo para o alcanço
de várias famílias a sua própria moradia.
Na época em que foi ambientada a obra (século XIX), o Brasil havia, finalmente,
alcançado sua independência, porém, a pobreza e a desigualdade ainda eram alarmantes nesse
novo período, por tal os cortiços eram tidos como “boas” opções para que as pessoas tivessem
sua primeira moradia, tornando-se “refém” desse modelo habitacional. Assim como define o
urbanista Nabil Bonduki, conforme trecho citado: “[...] surgem, assim, inúmeras soluções
habitacionais, a maior parte buscando economizar terrenos e materiais através da geminação e
da inexistência de recuos laterais ou frontais, cada qual destinado a uma capacidade de
pagamento de aluguel.” (NABIL, 1994, p. 713).
A partir daí temos a síntese da instauração dos cortiços. Atualmente, a visão, apesar
de ter evoluído, ainda persiste no rol taxativo da sociedade em respeito as favelas. Além do
mais, o surgimento das favelas se dá de forma muito parecida com as dos cortiços, com o
mesmo objetivo que é uma construção e primeira opção de moradia “barata”. Apesar disso, os
dois modelos habitacionais têm características difusas.
O Brasil, mesmo com o passar de mais de 500 (quinhentos) anos, tem passado por
uma gigantesca transformação, atravessando por diferentes períodos, desde quando era
colonizado, quando se tornou uma monarquia até se formar como uma república. Além desses
períodos, foi um dos países em que a escravidão perdurou por mais anos em toda a história,
fora que durante mais de vinte anos foi comandado e governado pelo regime militar. E, graças
a isso, o Direito evoluiu, passou por turbulências até se formar ao que é hoje.
A título de curiosidade, desde sua independência, nosso país teve 7 (sete) diferentes
constituições, sendo uma promulgada durante o período do regime militar que teve a
durabilidade e a permanência até o fim da ditadura.
Diante disso é notável a clareza em que o Brasil demorou pra engrenar no que diz
respeito a justiça, direito e na relação cidadão x Estado. Por tal questão, a ineficácia do Direito
continua a persistir ainda no século XXI. Tomando de exemplo do tema deste trabalho, no
período em que foi contextualizado a obra de Aluísio, a escravidão ainda tomava força, tanto
é que a mulata Bertoleza lutava dias e dias para o levantamento do valor financeiro para obter
sua carta de alforria, ou seja, sua liberdade.
Entretanto, daquele período até a atualidade, o país ainda sofre de problemas
parecidos com a época passada. Mesmo a discriminação não sendo algo institucionalizado e
aceitável como era naquele tempo, há ainda pessoas que sofrem com a mesma visão que
depreciou os povos passados. Hoje, infelizmente, por serem pobres, por morarem em regiões
menos favorecidas, algumas pessoas ainda sofrem a desigualdade e com a falta de acesso ao
que é dele por direito. Isso ocorre nas favelas quando há falta de água potável, como também
ocorre na narração do cortiço quando há falta de moradia estruturalmente preparada.
Vale-se ressaltar que houve uma gigantesca evolução da definição do que é o Direito
e como ele deve ser tratado, especialmente com a instauração da CF/88, porém, as favelas de
hoje apontam que o Estado ainda é muito omisso em se responsabilizar e aplicar o Direito. E
essa ineficácia do Direito muito é fruto de um longo processo do qual o Brasil ainda perpassa.
O Fato é que a demora em evoluir contribuiu para que ainda hoje haja ferimentos do
ferimento do Estado Democrático de Direito. E é de alguns ferimentos que veremos a seguir.
5 DIREITO À MORADIA
Dentro da visão jurídica, a partir daqui começa-se a adentrar nos principais pontos a
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Um primeiro exemplo que para tomar causa, a partir da obra de Azevedo, é o mais
notório de todos: a moradia. Considerado pela Constituição Federal de 1988 um direito
fundamental, este é descrito claramente, naturalmente e detalhadamente para apontar a
ineficiência do Direito na visão do escritor na narração da obra. Se pegarmos o principal
ambiente onde se passa a história (que é o cortiço de João Romão e Bertoleza), ele é tido
como ambiente desagradável e promiscuo. Essa análise é clara no momento em que o autor
descreve a construção das casas.
A partir daí, temos uma primeira ponte jurídica em relação as Favelas e o ambiente
da obra “O cortiço”. As favelas, como já foi citado, são bastante conhecidas por sua
singularidade na forma em que suas residências são construídas. Se for observado em fotos ou
em relatos de qualquer pessoa, mesmo do senso comum, observa-se casas construídas em
terrenos irregulares (morros), algumas com materiais nada resistentes, além de não ter as
qualidades necessárias para um confortável tido como normal. Essas zonas periféricas não são
conhecidas atoa como “morro”. “Morro do Alemão”, “Morro do Dendê” são alguns exemplos
clássicos de favelas que são conhecidas como morros, muito em razão sobre a construção e
localização de suas casas.
De forma leiga, tem-se a pensar que o direito à moradia está sendo estabelecido em
ambos os ambientes, porém, não é bem assim. A ONU, organização no qual o Brasil obedece
determinados tratados internacionais, tem uma definição muito ampla do que é a moradia,
fugindo do básico de “quatro paredes e um teto”, conforme o estabelecido no Comitê dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU em 1991.
Assim, a fim de se observar o princípio da dignidade da pessoa humana, a moradia
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dos cidadãos deve ter não só a estrutura material, como também o básico para uma existência
digna. Assim, como o Brasil, no ano 1992 passou a pactuar do tratado outorgado no comitê
referido anteriormente, além de dar força constitucional a estes tratados convencionados com
a ONU, diante do estabelecido na CF/88, passa tornar a situação ainda mais complicada.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
§ 1º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais (BRASIL, 1988)
Então, de que forma a ONU define como o básico de uma residência? O básico de
uma moradia, segundo a instituição, são casas que respeitam os ditames da salubridade, com
condições mínimas à sobrevivência. Hoje, caso comparado com a descrição da forma em que
foi concebida as casas do cortiço ou as casas das favelas, temos que há um grave ferimento no
tocante da dignidade da pessoa humana.
Assim, eis a primeira parte dessa construção sob ótica jurídica. A moradia, direito
fundamental estabelecido por nossa constituição, apesar de ter em parte e aparentemente ser
estabelecido pelos dois objetos, em ambos, não consta com plena eficácia esse direito, pois,
mesmo que haja residência para os moradores da favela ou do cortiço, essas moradias não
abrangem o ápice a ponto de atingir o mínimo do princípio da dignidade da pessoa humana.
(Observação: princípio da dignidade da pessoa humana é definido como as “condições
mínimas” para um ser humano tenha uma vida digna, saudável e respeitável).
buscava a todo tempo juntar economias para obter a então carta alforria. Assim, em razão de
sua confiança e sociedade com o vendeiro Romão, deixava essas economias nas mãos do
socio para ser repassado a aquisição da carta.
Apesar disso, diferente do que Bertoleza pensava, o vendeiro não direcionava os
valores a tal intuito e, numa forma de dar um golpe na sócia, no final da história, aciona seu
antigo “dono” para que o mesmo vá atrás da ex-escrava. Foi diante dessa situação que
Bertoleza decidiu se matar. Preferiu a morte do que a vida que iria seguir. Ela queria viver e
não apenas estar viva.
Paralelo a essa ideia, a vida que muitas pessoas tomam em favelas é bastante
semelhante. Crianças (sim, crianças), adultos e principalmente os jovens que adentram ao
universo tráfico nas favelas é muito rotineiro. Isso se deve a situação extrema de miséria
forçando-os a se integrarem a marginalidade buscando melhores condições de vida. E é nesse
ligamento com o tráfico que muita dessas pessoas perdem suas vidas em troca de tiros com a
polícia, ou mesmo são presos, além de outras coisas (sofrem tortura, sofrem graves lesões).
Assim, os destinos dessas pessoas reais vão de forma semelhante concluir ao mesmo destino
da personagem Bertoleza: ou perdem a vida, ou perdem a liberdade de viver.
A olho nu, são problemas que deviriam afastar essas pessoas desse mundo, porém
não assim que funciona, pois, a falta de perspetiva de futuro seja na vida dificultosa dos
moradores das favelas ou da vida de escrava de Bertoleza, culminam numa decisão mortal.
É nesse sentido que vem a discussão jurídica. Essas pessoas preferem tomar decisões
questionáveis afim de “viverem” melhor. Bertoleza prefere a morte do que a dor da miséria,
da surra, da exploração. Os seres que adentram o tráfico preferem a insegurança da possível
perca de liberdade ou da vida, do que viver na miséria.
As doenças que se destacam nas favelas, de fato, se analisadas, tem alguma relação
com uma transmissão coletiva, ou seja, vai de pessoa para pessoa (por exemplo, gripe), além
de outras doenças que são desenvolvidas graças a algumas condições precárias como a falta
de água potável (exemplo: diarreia). Esse alastramento de doenças nessa realidade ganha
ainda mais força em tempos da pandemia do coronavírus, graças ao fato de que este se
desenvolve e se transmite como extrema facilidade.
8 DIREITO À SEGURANÇA
O direito a segurança é, com certeza, o assunto mais ligado as favelas que, por
muitas vezes, são classificadas como zonas com alto nível de violência nos mais variados
estilos, o que torna esse modelo de moradia ainda mais “afastada” das zonas mais ricas.
Conforme exposto na CF/88: “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
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Ele tinha uma “paixão” por Rita, e ela, apesar de volúvel como toda mestiça
não podia esquecê-lo por uma vez; metia-se com outros, é certo, de quando
em quando, e o Firmo então pintava o caneco, dava por paus e por pedras
enchia-a de bofetadas, mas, afinal, ia procura-la, ou ela a ele, e ferravam-se
de novo, cada vez mais ardentes, como se aquelas turras constantes
reforçassem o combustível de seus amores. (AZEVEDO, 2019, p. 57-58).
Dessa forma, a violência psicológica e física escancara tanto nas favelas quanto no
cortiço escancara um ambiente hostil e propenso ao controle, como na forma em que João
Romão controla seu sobrado, como na forma em que as quadrilhas fazem o controle e ditam o
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ritmo das favelas. De todas as formas, a segurança e consequentemente da liberdade dos seus
moradores são agressivamente feridos.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
10 REFERÊNCIAS
DE MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 13ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.