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Sangue, Luta & Sacrifício

Em vésperas da Revolução Francesa, esta que está entre as maiores revoluções da


história da humanidade, sentia-me injustiçada, farta de viver numa sociedade onde só se dava
importância às classes sociais mais elevadas… Enquanto eu, que represento a Burguesia,
juntamente com o povo suportamos os luxos, as extravagâncias e as ordens dos nossos
superiores.
Os ideais iluministas que tanto se ouviam falar na rua, criaram em nós uma esperança.
Sentíamos que era possível alcançar a liberdade, víamos o fim do Absolutismo e da sociedade
de retrógrada. Protestávamos, claramente, contra tudo o que as classes “inimigas” apoiavam.
Estávamos a passar por uma crise social e a origem disso eram as ideias conservadoras e
tradicionais, de quem nos governava. A fração mais pequena da sociedade, ocupada pelo Clero
e pela Nobreza, usufruía de inúmeros privilégios, não contribuíam em nada para a riqueza do
país, ao contrário, o terceiro estado, que ocupado por mim e pela grande maioria da população
trabalhávamos e não víamos privilégios, tínhamos apenas de cumprir obrigações.
As classes privilegiadas, não pagavam os impostos, ocupavam os melhores cargos da
sociedade tanto políticos como diplomáticos, cobravam as rendas, os impostos e os direitos
feudais das suas terras. O clero ainda contava com o valor da dízima.
O terceiro estado, era uma classe muito diferenciada, tanto havia quem tivesse mais
condições como quem vivesse na miséria. Os camponeses viviam, por vezes, uma grande
escassez de alimentos e, ainda, pagavam os elevados impostos a que estavam sujeitos bem como
os direitos senhoriais.
Eu pertencia à classe mais alta da burguesia e ansiava um estatuto semelhante aos dos
privilegiados, dado que contribuía e muito para a economia do país ao contrário de muitos
tantos.
Como se não vastassem todas estas as dificuldades sociais, ultrapassávamos, também,
uma crise económico-financeira. Inflacionavam-se os preços e a fome voltava a atacar devido às
más colheitas provocadas por geadas e tempestades.
Também, devido à quebra do comércio colonial, resultante da Guerra dos Sete Anos
onde a França perdeu territórios. Uma parte da burguesia protestava os tratados de comércio,
que incentivavam a uma balança comercial negativa. A outra parte da burguesia deparava-se
com a falência industrial que reduziu a produção e atrasou as indústrias do nosso país devido ao
Tratado de Eden.
Exigíamos uma resposta rápida do rei ao colapso que nos afetava, exigíamos direitos
mais amplos e uma maior representação dentro da nossa política francesa.
Mesmo contrariado, depois de ver todos os nossos protestos, o rei convocou os Estados
Gerais, onde todos os membros da sociedade estavam representados. Discutimos assuntos
relacionados com situação política do nosso país. No desfecho desta reunião realçaram-se, mais
uma vez, os conflitos de interesses entre todos nós, dado que cada um defendia coisas
diferentes.
Como não responderam aos nossos pedidos e a situação se estava a tornar insuportável
eu, juntamente com o resto da burguesia, transformamo-nos numa Assembleia Nacional,
jurando só nos separar após a votação de uma constituição para a França.
Como protesto lembro- me perfeitamente da tomada da bastilha, foi dia 14 de julho de 1789.
Este é um marco importante para a degradação do Antigo Regime e, aqui, vimos uma
possibilidade de se tornar real o desejo que tínhamos pela igualdade e pela paz que andava
escondida.
Mais tarde a Assembleia Nacional Constituinte lançou vários decretos que aboliam os
privilégios e os direitos feudais, apresentou-se a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, nasceu a Constituição Civil do Clero e houve, ainda, uma reorganização administrativa
e económica, de modo a descentralizar o poder e assim meter fim ao Antigo Regime, fazendo
crescer a Monarquia Constitucional que em 1791 ficou consagrada na França.
Finalmente os nossos direitos estavam salvaguardados, as diferenças haviam sido postas
de lado e havia espaço para promover a paz, achávamos nós….
Como rei absolutista, Luís XVI, nunca colaborou connosco, tentou fugir do país, mas o fim dele
foi outro.
Passado uns dias, houve em praça pública uma concentração de gente, eu estive lá e
assisti ao terrível fim do rei e da sua esposa… Talvez merecido… sofremos muito nas mãos
deste homem... Durante anos vimo-lo a sobrepor os seus interesses aos nossos, a assegurar os
seus luxos enquanto nós trabalhávamos. Acabaram mortos, em praça pública! Na guilhotina,
tudo porque apoiavam uma espécie de contrarrevolução com apoio de outras monarquias.
Com a sua morte, estávamos convencidos que era o fim da revolução, que finalmente
iriamos ter a estabilidade e a paz que precisávamos, contudo, o cenário foi outro e passamos,
penso que, pela pior fase das nossas vidas...
A convenção que proclamou a república dividia-se em dois grupos antagónicos, o mais
radical da Revolução, os jacobinos que se opunham aos girondinos, grupo que eu defendia pelas
iniciativas pois eram mais moderadas e racionais.
Os jacobinos defendiam a radicalização. Estes nunca se iriam submeter às decisões da
alta burguesia, que colaboravam com a nobreza e o monarca.
Tínhamos medo, andávamos assustados e estes sentimentos dominavam a sociedade por
causa de um senhor chamado Robespierre, um nome que nunca esqueci e espero, que no
mundo, ninguém se torne ou se deixem tornar numa personalidade tão má como a dele.
Este maldito senhor radicalizou e levou a França ao seu pior extremo… A cada dia
morriam inúmeros opositores na guilhotina. Lembro me de ouvir na rua as pessoas a comentar
que a França estava conhecida como o país do terror, e na realidade era mesmo isso que estava a
acontecer. Ironicamente acabou morto como milhares de pessoas... Mas a guilhotina era pouco
para alguém tão cruel como ele.
Éramos perseguidos pelos jacobinos, não eramos aceites naquela sociedade, não
tínhamos liberdade, éramos dominados terror, pelo pânico, pela ansia e apreensão… Era um
sentimento de impotência, parecia que estávamos de mãos e pés atados, não podíamos fazer
nada. É assim que vos descrevo a fase do Terror.
Assim, a fração mais moderada da burguesia conseguiu recuperar o poder dando-se
início a mais uma face da revolução… Que parecia não ter fim, contudo desta vez estava mais
despreocupada, confiava em quem nos governava, mesmo tendo sido temporariamente.
Iniciamos a face do diretório, que foi sinónimo de paz civil, penso que era composto por
cinco membros, dos quais me lembro de um senhor pelo qual tinha muita estima que me ia
metendo a par do que se passava… Mesmo passando por uma crise social a França,
gradualmente, ia evoluindo e pouco a pouco exigíamos um contorno político mais eficaz que
banisse o retorno da radicalização jacobina.
Para acalmar e estabilizar a sociedade, Napoleão Bonaparte que já se tinha destacado no
nosso exército, era quem esperávamos para dar rumo ao país. Exaustos do caus que passávamos
e que nunca mais víamos fim, a burguesia francesa acabou por dar apoio á figura que desde
cedo assumiu o papel de herói da república, para evitar golpes de estado, passamos a defender a
implantação de uma ditadura no país sob o governo de uma figura forte, autoritária. Dessa
forma, Napoleão tomou o poder da França, reorganizou o governo.
Foram tempos penosos, dias difíceis e com muita emoção… Muito medo, e até temer
pela vida… A Revolução Francesa, de 10 anos que durou, descreve-se em 3 páginas… É difícil
transmitir-vos hoje o que foram 10 anos da minha vida, 10 anos das minhas emoções e de todos
aqueles que viveram isto também. Perdemos muito, muitas pessoas boas e trabalhadoras, muitos
valores e algumas tradições e, por isso hoje, tentei-vos transmitir o pesadelo que foi esta longa
revolução.

Testemunho de Amélie Laurence.

Foi um trabalho que gostei de realizar, achei interessante esta maneira de deixar um testemunho
ainda que seja de 2021, penso que de uma maneira positiva consegui passar a mensagem da
Amélie, bem como os seus medos e desejos.
Regressando à Marta, apesar do trabalho ter ficado extenso não foi chato nem secante realizá-lo.
Tornou-se útil para reavivar a matéria.
Desta forma, avalio positivamente o meu desempenho e empenho.

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