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Situações de
Emergência
Psicologia das Emergências: Do Preparo Técnico
à Compreensão do Comportamento Humano
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Cássia Souza
Psicologia das Emergências: Do
Preparo Técnico à Compreensão do
Comportamento Humano
• Introdução;
• Saúde Mental Frente ao Contexto das Emergências;
• O Atendimento Psicológico em
Emergências e os Vários Tipos de Settings;
• O Comportamento Humano e Resposta ao Estresse.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Abordar questões importantes sobre o papel do profissional da saúde mental, especifica-
mente do psicólogo, frente ao contexto das emergências, bem como o preparo técnico;
• Contextualização do setting terapêutico (clínico x emergencial), além de compreender o
comportamento humano frente a situações de desastres.
UNIDADE Psicologia das Emergências: Do Preparo
Técnico à Compreensão do Comportamento Humano
Introdução
Iremos apresentar a você quais as possibilidades de atuação do profissional de
saúde mental frente ao contexto de situações de emergência. Para isso, é importante
iniciar alguns conceitos básicos sobre o que é saúde mental e como se pode preser-
vá-la diante de situações com elevado nível de estresse e sofrimento. Posteriormente,
serão apresentadas as habilidades técnicas do profissional de saúde mental, bem
como o atendimento psicológico e o setting terapêutico.
No entanto, situações como essas podem nos levar a uma sensação de perigo
iminente ou que ameaça a nossa integridade física, social, econômica e emocional,
podendo gerar muito medo, ansiedade, tristeza, depressão, ou qualquer outro desa-
juste ou desequilíbrio emocional.
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Entretanto, mesmo sabendo da importância indispensável da atenção psicosso-
cial em situações de emergência, apenas nos últimos anos é que se começou a
prestar atenção a este tipo de intervenção, englobando ações não só para enfrentar
o quadro físico, mas também as questões psíquicas e emocionais nesses contextos.
(SÁ; WERLANG; PARANHOS et al., 2008)
Diante desse cenário, nota-se que tal conceito ainda se faz complexo na literatura
psiquiátrica e das ciências psicológicas.
• Assim, qual seria a melhor forma de trazer esse conceito, para que a partir dele pudéssemos
estabelecer práticas eficientes que corroborassem para a real promoção da saúde mental
no contexto das emergências e desastres?
• As situações de emergências e desastres por si só já são carregadas de profundo sofrimento
e dor, dessa forma, por que estamos falando de saúde mental nesse contexto?
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vida. Os autores Gama, Torres e Ferres (2014) trazem uma discussão muito pertinente,
que nos permite refletir principalmente nos cenários de desastres e emergências:
A existência de uma pessoa inclui os erros, os fracassos, as privações, as
opções de vida, os desejos, as angústias existenciais, os desafios e as con-
tradições. Quando criamos um conceito de saúde que impede uma conexão
com a vida cotidiana, que exclui as oscilações, as possíveis aventuras e as es-
colhas singulares, relacionando qualquer afastamento da regra a uma espé-
cie de crime e merecedor de um determinado castigo, estamos, ao contrário
de produzir saúde, normatizando o comportamento. (FERRES, 2014, p. 72)
Dessa forma, segundo esses autores, a definição de saúde mental estaria atri-
buindo, ou incluindo, os paradoxos e sofrimentos encontrados em nosso dia-a-dia.
Assim, análise poderia ficar mais centrada na capacidade de enfrentamento dos
problemas. No entanto, parece pertinente falar que saúde mental é a busca pelo
bem-estar emocional e psíquico, incluindo a capacidade em lidar com as emoções
positivas ou negativas.
Saúde mental pode ser considerada também a forma como reagimos e o signifi-
cado que damos às situações, mudanças, exigências e aos desafios da vida, podendo
até mesmo ser tida como a habilidade em manejar de forma positiva ou realista as
adversidades e conflitos, reconhecendo e respeitando os limites e deficiências. É bus-
car sempre respeitar os próprios limites, sensações e reações.
Dessa forma, ao sujeito não foi permitido ou ensinado lidar com as emoções
negativas, ou com os seus medos, tristezas, angustias, ansiedade, raiva, e, automati-
camente, nos julgamos e tentamos a todo custo buscar sair desses sentimentos, sem
compreendê-los, sem dar a real atenção a eles ou sem acolhê-los. Muitas vezes tais
sentimentos são negados, negligenciados, o que pode vir a gerar uma enorme dor
emocional, muitas vezes irreparável.
Existem várias abordagens psicológicas que buscam olhar para o sofrimento e para a
dor, não como um problema, mas como uma resposta para nossas percepções e cren-
ças disfuncionais. A terapia cognitiva comportamental (TCC) é uma delas, e segundo
essa abordagem, não é a situação em si que gera sofrimento ou dor, mas a maneira
como o sujeito atribui significados e percebe tais situações. Falaremos mais profunda-
mente dessa abordagem e de outras da terceira geração da TCC (terapia da Aceitação
e compromisso, terapia comportamental dialética e outras abordagens contextuais).
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Saúde Mental x Contexto das Emergências
Entende-se que diante de uma situação de catástrofes e desastres, o trauma é um
sintoma ou uma consequência psíquica importante que merece a atenção dos profis-
sionais de saúde mental.
Segundo Shapiro (1997) apud Weintraub et al. (2015), existem duas correntes de
pensamento e intervenção que atribuem ao trauma o resultado principal do desastre,
fazendo com que a intervenção muitas vezes ocorra apenas a nível individual ou em
grupo, excluindo, por consequência, a intervenção nos fatores mais sociais e comu-
nitários. Por outro lado, segundo os autores, existem outras correntes que buscam
valorizar justamente estes dois fatores (social e comunitário) reservando a noção de
“trauma” para situações mais específicas, por sua menor incidência, embora não
sejam menos importantes.
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Segundo Cesar et al. (2015), a saúde mental dos atingidos pelos desastres costuma
apresentar-se de forma estigmatizada, gerando preconceito e exercendo assim um
poder patologizante sobre as vítimas, sendo essas muitas vezes consideradas incapa-
zes de reconstruírem suas vidas a partir dos eventos traumáticos. Para isso, segundo
o autor, é de fundamental importância que haja um processo de psicoeducação dos
agentes e autoridades envolvidas nas tomadas de decisões que envolvem as ações e
intervenções nos contextos emergentes.
Figura 1
Fonte: Getty Images
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a circunstância (a própria emergência atendida), o curso temporal (antes, durante e
depois do evento) e os sujeitos implicados (as vítimas, os intervencionistas e as orga-
nizações que se inserem).
Antes de seguirmos nesse assunto, pense em quais habilidades e preparo técnico o pro-
fissional psicólogo precisa apresentar para atuar no contexto de emergências e desastres.
Vamos lá?
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Figura 2
Fonte: Getty Images
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É possível perceber que a presença do psicólogo nas várias fases de um processo
de desastre envolve habilidades distintas e técnicas específicas. Segundo Greenstone
(2008) apud César et al. (2015), existem outras habilidades fundamentais que devem
ser executadas pelos profissionais de saúde mental, sendo necessário muito treina-
mento e atualização. Portanto, cabe ao psicólogo das emergências:
• Treinamento para intervenção em crises geradas pelos desastres;
• Psicoeducar sobre repostas a desastres para membros da equipe;
• Triagem e entrevista psicossocial;
• Interrogar a equipe;
• Treinamento em primeiros socorros (ressuscitação cardiopulmonar).
Figura 3
Fonte: Getty Images
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Os autores destacam ainda que, muitas vezes, o atendimento em grupo é mais uti-
lizado do que o atendimento individual, pois permite o uso mais eficiente dos recur-
sos daquela comunidade, bem como melhora a relação com os serviços prestados,
reduzindo também o estigma associado à saúde mental e assistência psicossocial.
Magliavacca (2008, p. 222) denomina o setting como uma moldura, sendo essa
“suficientemente clara, firme, consistente, rigorosa e flexível ao mesmo tempo, den-
tro da qual os conteúdos psíquicos possam encontrar a possibilidade de se manifes-
tarem com suficiente liberdade para serem examinados”.
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grupais ou individuais podem ser efetuados, desde que se tenha clareza do
que mantém o grupo e do que se coloca como individual.
Psicólogos atuando com os familiares das vítimas da boate Kiss em Santa Maria.
Disponível em: https://bit.ly/2GgbkqZ
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O Comportamento Humano
e Resposta ao Estresse
Abordamos até o momento aspectos que norteiam a prática do psicólogo em
situações de emergências e desastres, bem como a construção de uma práxis que
se estrutura no seu próprio fazer contínuo e diário. As mudanças nas intervenções
realizadas por psicólogos nessas situações decorrem do cenário e demanda em que
o desastre ocorre. No entanto, outro elemento se faz importante para a construção
dessa prática, que é a compreensão do comportamento humano e como esse se dá
em situações de emergências.
O fato de não ter controle sobre o que irá acontecer faz o cérebro se sentir em
perigo, dessa forma, ele manda respostas para o corpo como se algo estivesse
acontecendo de ruim, tais como, disparo do coração, sudorese, tremores, respiração
ofegante, entre outras, que são reações que o corpo manda para que possamos fugir
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da ameaça que criamos. Segundo Brunoni (2008), os sintomas de ansiedade podem
ter características tanto a nível cognitivo ( percepções de ameaça, perigo), bem
como características físicas/somáticas (como taquicardia, falta de ar, sudorese fria,
dor abdominal, entre outros).
Mas, muitas vezes, certo de nível de ansiedade é fundamental para que possamos
nos preparar para a situação, motiva-nos a caminhar, bem como nos prepara para
reagir a determinada situação para nos proteger, dessa forma ela funciona como
uma alerta sobre a possibilidade da ocorrência de danos físicos e ameaça a nossa
integridade (BRANDÃO, 2004).
O medo é um sentimento primário que todos nós temos quando estamos diante
de uma situação real de ameaça, enquanto que na ansiedade, muitas vezes anteci-
pamos essa ameaça, e isso é o suficiente para o cérebro reconhecer que existe um
perigo, mesmo ele não sendo real. Daí ele funciona como se algo ruim estivesse
acontecendo, mas não está, formando um medo recorrente em situações cotidianas.
A pessoa fica sempre em estado de alerta, como se o pior fosse acontecer a qualquer
momento. O medo nos ajuda a criar estratégias de lutar e fugir, o medo pode ser
protetor, pois isso faz com que tomemos decisões que irão preservar nossa vida. Mas
o que realmente acontece?
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Reação do estresse
Ativação do eixo HPA
Hipotálamo
Ativação do sistema nervoso simpático
Figura 4
Fonte: Adaptada de MARK, 2017
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Bases Neurobiológicas da Ansiedade – por Ariadne Belavenutti Magrinelli – extraído do
livro “Tópicos em Neurociência Clínica” – Elisabete Castelon Konkiewitz – editora UFGD-2009.
Disponível em https://bit.ly/3jgltSK
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Atuação dos psicólogos nas emergências e desastres – a experiência de Santa Maria
https://youtu.be/2qKMAZFq8gQ
Leitura
A psicologia das emergências: um estudo sobre angústia pública e o dramático cotidiano do trauma
BRUCK, N. R. V. et al. A psicologia das emergências: um estudo sobre angústia
pública e o dramático cotidiano do trauma. 2007.
Psicologia: Ciência e Profissão
PARANHOS, M. E.; WERLANG, B. S. G. Psicologia nas emergências: uma nova
prática a ser discutida. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 35, n. 2, p. 557-571, 2015.
A Intervenção psicológica em emergências: fundamentos para a prática
TORLAI, V. C. et al. A Intervenção psicológica em emergências: fundamentos
para a prática. Summus Editorial, 2015.
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Referências
ALVES, R. B.; LACERDA, M. A. de C.; LEGAL, E. J. A atuação do psicólogo diante dos
desastres naturais: uma revisão. Psicologia em estudo, v. 17, n. 2, p. 307-315, 2012.
BRUNONI AR. Transtornos mentais comuns na prática clínica. Rev Med (São Paulo).
out.-dez.;87(4):251-63, 2008.
CESAR et. al. A psicologia diante das emergências e desastres. In: TORLAI, Viviane
Cristina et al. A Intervenção psicológica em emergências: fundamentos para a
prática. Summus Editorial, 2015.
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