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Unidade: Tecidos e órgãos

inflamação aguda
Unidade I:

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Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

As células do sistema imune estão organizadas em tecidos ou órgãos


linfóides. Essas estruturas são denominadas linfóides, porque as células que
predominam são os linfócitos, mas é importante salientar que outras células do
sistema imune (macrófagos, células dendríticas e leucócitos) e de outros
sistemas (células endoteliais, epiteliais, fibroblastos) também estão presentes.
Os tecidos/órgãos linfóides são classificados em órgãos geradores ou
primários e órgãos periféricos ou secundários. Os órgãos geradores ou
primários são os locais onde ocorrem a produção dos linfócitos e as principais
fases de amadurecimento dessas células. O timo e a medula óssea são órgãos
primários, pois na medula é produzido os linfócitos e no timo os linfócitos T
amadurecem.
Os órgãos/tecidos linfóides secundários são os que participam de
maneira efetiva da resposta imune, seja ela humoral ou celular. As células
presentes nos tecidos/órgãos secundários tiveram origem nos órgãos primários
e migraram pela circulação chegando aos diferentes tecidos/órgãos. Estes
tecidos/órgãos secundários são: os nódulos linfáticos difusos, ou encapsulados
como os linfonodos, as placas de Peyer, as tonsilas, o baço e a medula óssea.
É importante ressaltar que medula óssea é um órgão primário e secundário ao
mesmo tempo.

Agora, vamos conhecer esses órgãos?

Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda


ÓRGÃOS LINFÓIDES PRIMÁRIOS

Medula Óssea
Como citado anteriormente a medula óssea é um órgão primário e
secundário. Agora, vamos conhecer a medula óssea como um órgão primário.
A medula óssea é um tecido gelatinoso que ocupa o interior dos ossos.
Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue: as hemácias
(glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas. A
medula óssea é constituída por células reticulares, associadas às fibras
reticulares, que juntos dão o aspecto esponjoso e tem a função sustentadora e

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indispensável ao desenvolvimento das células que participam da
hematopoese. No meio deste tecido reticular encontra-se uma enorme
quantidade de capilares sanguíneos sinusóides, com grandes poros que
permite a saída de células hematopoéticas (células do sangue). Esse tecido é
chamado de tecido hematopoético e gera as hemácias e leucócitos que
seguem para os vasos.
A medula como órgão linfóide primário é capaz de formar pro-linfócitos
que foram geradas das células totipotentes. Os pro-linfócitos que migram para
o timo tornam-se linfócitos T, enquanto que os que persistem na medula óssea
tornam-se linfócitos B.
A hematopoese consiste na formação das células do sangue. Após o
nascimento essas células são geradas somente na medula óssea da tíbia, do
fêmur, das vértebras, do esterno e das costelas. Aos 50 anos a geração das
células hematopoéticas ocorre nas vértebras, no externo e nas costelas.

Timo
O timo é um órgão linfático que se localiza no tórax, próximo ao coração,
atrás da extremidade superior do externo. É dividido em dois lobos, o direito e o
esquerdo, sendo revestido por uma cápsula que penetra pelo parênquima
tímico e forma septos que vai dividindo os lobos em inúmeros lóbulos.
Nos lóbulos tímicos são observadas duas zonas: a medular e a cortical.
A zona cortical, que é a mais periférica, apresenta os linfócitos T em
maturação (pró linfócitos) e a zona medular possui tecido conjuntivo frouxo e
células epiteliais especializadas e hematopoéticas. Após o amadurecimento, os Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
linfócitos T se dirigem para região medular onde penetram nas vênulas
(estas não tem barreira) ou nos vasos eferentes linfáticos saindo deste órgão
em direção aos tecidos linfóides secundários.
O timo atinge seu máximo de desenvolvimento na puberdade chegando
a pesar 70g. A partir da puberdade o timo começa a involuir até chegar a 10g
no idoso. No recém nascido, o timo é grande devido ao desenvolvimento dos
órgãos imune secundários, pois esses possuem áreas timo-dependentes que
tem que ser preenchidas pelos linfócitos T. Na puberdade essas áreas já estão
preenchidas, havendo apenas as substituições de linfócitos que saem desses
órgãos.

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A função do timo é promover a maturação dos linfócitos T. Esses
linfócitos chegam da medula óssea como pro-linfócitos, amadurecem no timo e
migram para os outros tecidos/órgãos linfóides, onde se tornam ativos para a
resposta imune. Outra função importante do timo é a produção de fatores de
desenvolvimento como: a timosina alfa, timopoetina, timulina e o fator tímico
humoral. Estes fatores vão agir no próprio timo (hormônios parácrinos) ou agir
nos órgãos/tecidos secundários (hormônios endócrinos), onde estimulam a
maturação completa dos linfócitos.
Se houver uma timectomia no indivíduo, haverá uma deficiência de
linfócitos T no organismo, e ausência das áreas timo-dependentes nos órgãos
secundários.
Em pessoas que apresentam o defeito congênito chamado de síndrome
de DiGeorge, não ocorre o desenvolvimento do timo e esses indivíduos
apresentam ausência de células T. Essa ausência de linfócitos T levam a uma
falta de imunidade celular e um aumento de doenças infecciosas.

ÓRGÃOS LINFÓIDES SECUNDÁRIOS

Linfonodos e Sistema linfático


O sistema linfático consiste em um conjunto de vasos que se iniciam
como pequenos túbulos de fundo cego nos tecidos e possuem válvulas. Esses
vasos estão presentes por todo o corpo, com exceção de alguns órgãos como
o cérebro, a epiderme e o baço. A função do sistema linfático é drenar o líquido
intersticial que não retornou as vênulas, e coletar restos celulares e Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

microrganismo que estão nos tecidos. Vários desses vasos linfáticos menores
desembocam nos linfonodos de onde parte um vaso de calibre um pouco
maior. Esses vasos se unem e desembocam no sistema vascular sanguíneo,
em grandes veias perto do coração.
Os linfonodos (gânglios linfáticos) são órgãos pequenos em forma de
feijão que aparecem no meio do trajeto de vasos linfáticos. Normalmente
estão nas partes proximais dos membros, como nas axilas, na região inguinal e
no pescoço.
Esse órgão apresenta um importante papel de filtrar a linfa que chega

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até eles, e remover bactérias, vírus, restos celulares, etc. Os linfonodos são
revestidos de uma cápsula de tecidos conjuntivo, que emite ramos internos,
dividindo em lóbulos incompletos. Na região convexa chegam os vasos
linfáticos (aferentes) e na região côncava, que é o hilo chega uma artéria que
nutre esse órgão e sai uma veia e um vaso linfático eferente.
A figura 1 apresenta um esquema da estrutura interna dos linfonodos, e
também as divisões histológicas de cada parte.

Figura 1: Esquema de um linfonodo.


Fonte: http://auladefisiologia.wordpress.com/

Podemos observar que na parte côncava (hilo) entra uma artéria e sai Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
uma veia que drena o sangue dos linfonodo. Há também, um vaso linfático
eferente (saída da linfa). Esse órgão apresenta 3 regiões: cortical, paracortical
e medular. Na cortical aparecem nódulos que pode ser observado em detalhes
à direita. Esses nódulos são ricos em linfócitos B. A região cortical é vazia
nos linfonodos em indivíduos que apresentam deficiência de linfócitos B.
Os linfócitos T são encontrados numa região que fica entre o córtex e a
medular, chamada de zona paracortical. Esta região está ausente quando o
indivíduo é submetido a uma timectomia ou apresenta a síndrome de
DiGeorge.

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A medula possui um aspecto trabecular e se situa no centro do órgão.
Nela encontramos numerosos macrófagos, plasmócitos disseminados e
linfócitos maduros que estão “prontos” para sair do linfonodo e se dirigir ao
local de ação. As células maduras saem pela veia e pelos vasos linfáticos
eferentes e atingem a circulação sanguínea e linfática.
Os vasos linfáticos aferentes (que chegam nos linfonodos) desembocam
no seio subcapsular, onde corre a linfa. Este é o primeiro local de contato do
linfonodo com a linfa. É importante notar que nessa região aparecem células
apresentadoras de antígenos chamadas de células dendríticas. Essas
células, como os macrófagos, fagocitam os antígenos que chegam pela linfa, e
vão apresentar na sua superfície para os linfócitos T. Quando isso ocorre inicia-
se uma resposta imune específica contra esse antígeno.
A resposta imune que se desenvolve nos linfonodos, dependendo do
antígeno, faz com que os linfonodos aumentem de tamanho, devido à grande
proliferação dos linfócitos. Este processo de hipertrofia dos linfonodos é
chamado de adenite, ou linfadenite. Os linfócitos ativados saem do órgão
pelos vasos linfáticos ou pelos vasos sanguíneos indo ao local de ação.
Vale perceber que os linfonodos satélites são linfonodos que recebem a
linfa de uma parte determinada do corpo, situados geralmente nas
extremidades dos membros ou próximo a um órgão. Os linfonodos satélites da
coxa estão na região inguinal. É importante que saibamos a localização
anatômica destes linfonodos, pois se encontrarmos uma linfadenite nos
linfonodos inguinais, provavelmente esta ocorrendo uma infecção no membro
inferior.
Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
Agora que já conhecemos os linfonodos vamos observar na figura 2
essa estrutura juntamente com a circulação sanguínea e o sistema linfático.

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Coração

Pulmão
Coração

Baço

linfonodo

linfonodo

Tecidos e órgãos

Figura 2: Esquema simplificado dos sistemas linfático e sanguíneo. Em


cinza a representação dos vasos linfáticos que iniciam nos tecidos e órgãos,
passam pelos linfonodos e chegam à circulação sanguínea. Em azul, as veias
e, em vermelho, as artérias. Observe que o baço não apresenta vasos linfáticos
e nos tecidos chegam capilares derivados de artérias e saem as vênulas que
formam as veias.
A figura 2 nos mostra que a circulação dos linfócitos se dá através da
corrente sanguínea e linfática. Quando um antígeno (bactéria, vírus etc) esta
presente no meio tissular (entre os tecidos) esse é levado até o linfonodo, via
vasos linfáticos, mais próximo e inicia a resposta imune adquirida com a
proliferação do linfócitos. Entretanto, quando um antígeno chega à circulação
sanguínea, o baço que será responsável pelo desenvolvimento da resposta Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

imune adquirida.

Baço
O baço é um órgão maciço avermelhado, de consistência gelatinosa,
situado no quadrante superior esquerdo do abdômen. É o maior órgão linfático
secundário do nosso corpo e tem como função imunológica, a liberação de
linfócitos B, T, plasmócitos e outras células linfóides maduras capazes de
realizar uma resposta imune.
O baço é envolvido por uma cápsula de tecido conjuntivo, que emite

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septos (trabéculas) para o interior do órgão. Estes septos não delimitam lóbulos
completos no órgão, mas formam o arcabouço (estroma) do órgão. O
parênquima do baço é dividido em duas regiões: a polpa branca e a polpa
vermelha.
A polpa branca se refere aos pontos brancos que encontramos no corte
histológico do baço. Esses pontos são os corpúsculos de Malpighi. Este
corpúsculo é responsável pela função de órgão linfóide do baço. O
corpúsculo recebe no centro uma arteríola, chamada arteríola da polpa branca.
Ao redor dela encontramos a bainha periarterial, que é o local onde estão os
linfócitos T e linfócitos B.
A polpa vermelha é o restante do órgão tendo uma coloração vermelha,
devido à alta concentração de hemácias. O baço é um órgão que armazena
sangue, e lança estas hemácias para circulação no caso de necessidade.
Diferente dos linfonodos, esse órgão não está interposto com a corrente
linfática. O baço é o maior responsável pela remoção de partículas estranhas
(antígenos) do sangue, de hemácias e plaquetas envelhecidas.

Medula óssea
A medula óssea pode ser considerada também como órgão linfóide
secundário por receber linfócitos T que se desenvolveram no timo e migraram
para esse órgão. Também encontramos plasmócitos e linfócitos B maduros na
medula, que estão “prontos” para agir e realizar alguma resposta.

Tonsilas e Placas de Peyer Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

As tonsilas são aglomerados de nódulos linfáticos revestidos por epitélio.


As tonsilas eram conhecidas como amígdalas.
As Placas de Peyer também são aglomerados de nódulos linfáticos
localizados principalmente na mucosa do íleo (intestino). Elas têm a mesma
atividade que as tonsilas.
A função mais característica das tonsilas e das placas de Peyer é a
produção de plasmócitos que secretem imunoglobulinas da classe A (IgA-
secretória) para a mucosa, protegendo a mucosa da agressão de
microrganismos que fazem parte da microbiota normal ou de microrganismos

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patogênicos que possam vir junto com os alimentos. Esta imunoglobulina
depois de produzido pelo plasmócito atravessa o epitélio e é liberado na luz do
órgão. Essa imunoglobulina fica na luz do órgão e neutraliza a ação de
microrganismos que poderiam penetrar na mucosa.
A amigdalite ou tonsilite é a inflamação das tonsilas e resulta numa
hipertrofia do órgão. Quando as tonsilas são atacadas por vírus ou bactérias
ocorre uma resposta inflamatória que pode levar a uma produção intensa de
linfócitos. Os folículos aumentam de tamanho e a tonsila fica vermelha e muito
dolorida. Os linfócitos B se tornam ativados e se diferenciam em plasmócitos.
Os plasmócitos produzem anticorpos (imunoglobulinas) que atacam os
agressores. O pus que se forma é o resultado dessa resposta inflamatória e
resultante da morte de leucócitos e de muco.

Tecido Linfóide associado à mucosa

A maior parte da superfície corporal é revestida por epitélio e logo abaixo


há uma lâmina própria que é uma rede tridimensional de fibroblastos, fibras
reticulares glicosaminas e onde podemos encontrar vasos sanguíneos,
linfáticos e nervosos.
A lâmina própria apresenta várias células do sistema imune:
mastócitos, monócitos, eosinófilos, plasmócitos e linfócitos. Os linfócitos
se encontram agrupados em regiões desse tecido e constituem o chamado
tecido linfóide associado a mucosa (MALT – do inglês, Mucosal-associated
lymphoid tissue). O MALT, de acordo com a sua localização, pode ser Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
denominado:
GALT (do inglês, gut-associated lymphoid tissue), nos tecidos
associados aos intestinos;
BALT (do inglês, bronchus-associated lymphoid tissue), nos tecidos
associados aos brônquios;
NALT (do inglês, nasal-associated lymphoid tissue), nos tecidos nasais e
faringeanos;
SALT (do inglês, skin-associated lymphoid tissue), na pele;
DALT (do inglês, gut-associated lymphoid tissue), nos ductos
glandulares;

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Esse tecido pode estar difuso, sendo que os linfócitos T e B não estão
em áreas distintas. Pode ocorrer também desses linfócitos estarem
compartimentalizados e formarem folículos linfóides. Os folículos podem estar
presentes nos mesmos locais dos tecidos linfóides difuso, sendo mais
abundante nas mucosas dos sistemas gastrintestinal, respiratória e genital. A
função desses tecidos linfóides é semelhante ao da tonsila e da placa de
Peyer.

Então, vamos dar continuidade aprofundando o conhecimento sobre a


inflamação, entendendo a ponte entre a resposta imune natural e adquirida,
para depois conhecer as características da resposta imune adquirida.

INFLAMAÇÃO

INFLAMAÇÃO AGUDA

Considerando-se as seguintes situações:


- Um dedo ferido por um bisturi contaminado por uma determinada
bactéria,
- Uma perna lesionada após uma queda,
- A face de um pugilista após levar um soco.
O que as situações citadas anteriormente possuem em comum? TODAS
elas levarão ao desenvolvimento de um processo inflamatório agudo.
Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
O processo inflamatório agudo, ou simplesmente inflamação aguda, é
uma resposta de nosso sistema imunológico frente a qualquer tipo de injúria
tecidual, independente da externalização sanguínea e do desenvolvimento de
um processo infeccioso.
É uma resposta rápida – aguda –, pois todas as células envolvidas já se
encontram prontas na circulação, preparadas para entrar em ação quando
solicitadas.
O objetivo desta resposta natural é o rápido restabelecimento do local
injuriado, além de possibilitar a ativação da resposta imune adquirida, caso
exista a presença de um agente infectante – Assunto que será abordado em

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outro módulo deste curso.
Assim, deve-se interferir no desenvolvimento da resposta inflamatória
quando o processo estiver causando um grande desconforto – como por
exemplo dor intensa – ou quando deixa de proteger o organismo e começa a
causar lesões no indivíduo - como observado nas alergias e no
desenvolvimento de edema em grandes áreas corporais.

AS CÉLULAS ENDOTELIAIS E OS EVENTOS VASCULARES

No momento em que ocorre a injúria tecidual, as células endoteliais


próximas à área lesionada são estimuladas por compostos químicos liberados
das células destruídas, mastócitos e macrófagos residentes próximos a área
em questão. Esta estimulação induz ao desenvolvimento de dois eventos
vasculares considerados imprescindíveis para o desenvolvimento do processo
inflamatório agudo:
 Vasodilatação
 Aumento da permeabilidade vascular
A vasodilatação é caracterizada pelo aumento do calibre dos vasos
sanguíneos próximos ao tecido lesionado. A importância deste evento é que
permite a chegada de um maior volume sanguíneo nos vasos próximos ao local
injuriado (hiperemia local), que servirá como fonte de células e moléculas
necessárias para o desenvolvimento da resposta imune local.
Não adiantaria a chegada de uma maior quantidade de sangue neste
local se não houvesse como os componentes presentes no plasma saírem do Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

espaço intravascular e atingirem o local ferido, sendo esta a importância do


evento denominado aumento da permeabilidade vascular.
Neste processo, observa-se uma maior separação entre as células
endoteliais, permitindo que células inflamatórias vindas do sangue consigam
passar por estas fendas por processo denominado diapedese.
O aumento da permeabilidade vascular também permite o escape de
líquido da circulação sanguíneo para o tecido, levando ao desenvolvimento do
edema local.
Devido aos eventos vasculares, são desenvolvidos os cinco sinais

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cardinais da inflamação aguda:
 Dor
 Calor
 Rubor
 Tumor
 Perda da função
O calor (elevação da temperatura local) e o rubor (hiperemia) são
justificados pela vasodilatação local e consequente chegada de maior fluxo
sanguíneo na área; já o tumor (edema) deve-se ao aumento da
permeabilidade vascular, sendo este o causador do estímulo da dor devido a
compressão de terminações nervosas e pela chegada de mediadores
químicos, como por exemplo, a bradicinina, que estimula receptores
algésicos.
Este conjunto de eventos causam o mau funcionamento da área afetada,
justificando a perda da função do local.

CÉLULAS INFLAMATÓRIAS

Pelo fato da resposta inflamatória ser uma reação imune natural, as


células envolvidas neste processo desempenham funções inespecíficas, isto
é, tentam eliminar qualquer tipo de corpo estranho, independente de sua
origem: Sejam restos celulares ou microrganismos que invadiram o tecido.
As principais células envolvidas neste processo são: Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

 Macrófago
 Neutrófilo
 Mastócito

MACRÓFAGO
É um fagócito, ou seja, uma célula capaz de internalizar corpos
estranhos ao emitir prolongamentos de sua membrana citoplasmática,
originando uma estrutura denominada pseudópodos (falsos pés).
São originados na medula óssea. Quando encontrados no sangue são

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classificados como monócitos, recebendo o nome de macrófagos quando
migram para os tecidos. Estão presentes no tecido conjuntivo, baço, linfonodos,
fígado, vias aéreas, encéfalo, ossos, cavidade peritoneal e pleural.
Após a fagocitose, ocorre a liberação de compostos químicos, tais como
peróxido de hidrogênio (H2O2) e óxido nítrico (NO), capazes de digerir o
material internalizado, como, por exemplo, bactérias e fungos.
Este tipo celular migra para o foco inflamatório em poucas horas após o
início do processo. Caso trate-se de uma lesão estéril, ou seja, isenta de
microrganismos, o principal papel desta célula será limpar a área, retirando os
restos de células que morreram devido a algum trauma. Caso tenha ocorrido a
penetração de algum microrganismo, sua função será a eliminação deste
invasor.
O macrófago não morre ao eliminar agentes invasores,
desempenhando outra função importantíssima no processo de imunização, que
é levar fragmentos dos microrganismos aos órgãos linfóides e apresentá-los a
grupos celulares responsáveis pela resposta imune adaptativa, sendo os
macrófagos classificados como célula apresentadora de antígeno (CAA).

NEUTRÓFILO
Neutrófilos são fagócitos originados na medula óssea e encontrados em
elevado número na circulação sanguínea. São produzidos diariamente,
apresentando uma vida curta - durando poucas horas na circulação após sua
liberação.
Assim como os macrófagos, este fagócito possui elevado poder em Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
eliminar microrganismos, desempenhando importante papel em processos
infecciosos bacterianos.
É o primeiro grupo celular a migrar para o foco inflamatório e
infeccioso, fagocitando e liberando compostos tóxicos ao agente invasor.
Diferente do macrófago, os neutrófilos morrem no combate a bactérias
devido à incapacidade de se proteger contra seus próprios produtos tóxicos,
sofrendo autodigestão.
Sua morte é responsável pela produção de um composto denso, opaco
de cor amarelada conhecido como pus.
O pus é composto basicamente por:

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 Restos de neutrófilos,
 Restos bacterianos,
 Restos do tecido lesionado;
 Proteínas plasmáticas.
Os neutrófilos, embora apresentem elevado poder de eliminação
bacteriana (maior que a capacidade dos macrófagos), não são CAAs, pois o
fato de serem eliminados no processo, inviabiliza a apresentação de partes do
microrganismo aos linfócitos, células responsáveis pela resposta imune
adaptativa – abordada em outro momento do curso.

MASTÓCITOS
Os mastócitos são células produzidas pela medula óssea; possuem
grânulos em seu interior preenchidos por compostos químicos - dentre eles
destaca-se a histamina.
Devido à presença destes grânulos, são classificadas como
granulócitos, sendo encontradas no tecido conjuntivo ao redor dos vasos
sanguíneos.
A estimulação dos mastócitos ocorre pela liberação de mediadores
químicos inflamatórios – pelas células lesionadas e células endoteliais
próximas ao local injuriado – causando sua desgranulação e consequente
liberação de histamina.

MEDIADORES INFLAMATÓRIOS DE FASE AGUDA


Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

Além de células, faz-se necessária a atuação de vários compostos


químicos para que ocorra o desenvolvimento do processo inflamatório agudo,
assim como toda reação imunológica.
Observa-se a ação de mediadores químicos pré-formados - como a
histamina, presente nos grânulos de determinadas células - e os neoformados
– como a bradicinina e prostaglandinas, produzidos apenas após o
desencadeamento do estímulo inflamatório.
As principais características destes mediadores são:

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Histamina
Encontra-se pré-formada nos grânulos presentes em mastócitos,
basófilos e eosinófilos, sendo liberada quando estes grupos celulares são
estimulados.
Desempenha um importante papel nos processos inflamatórios,
alérgicos e nas infecções causadas por helmintos, com capacidade de causar
vasodilatação e bronco constrição.

Bradicinina
Este composto químico é gerado após a ativação de sistemas
plasmáticos no desenvolvimento do processo inflamatório.
É um potente vasodilatador, além de causar elevação da permeabilidade
vascular. Está associado ao desenvolvimento da dor, pois estimulam os
receptores algésicos.

Prostaglandinas
É um composto de fase aguda, sendo gerado pela ativação de
fosfolipases que clivam os fosfolipídeos constituintes da membrana celular.
Além de causar vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular,
promovendo a formação do edema, está associado ao desenvolvimento da
febre e da dor, uma vez que é capaz de diminuir o limiar de excitabilidade das
fibras nervosas (hiperalgesia).

Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda


Leucotrienos
São compostos plasmáticos com capacidade de promover aumento da
permeabilidade vascular, além de ativar células ligadas a imunidade natural:
neutrófilos, eosinófilos, macrófagos e células NK.

MIGRAÇÃO CELULAR PARA O FOCO INFLAMATÓRIO

Como discutido anteriormente, além da chegada de maior suprimento de


sangue próximo à área lesionada, é necessário que células e moléculas
existentes no plasma migrem para o foco inflamatório. O desenvolvimento

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deste evento implica em interações entre as células endoteliais, moléculas de
adesão e diversos mediadores químicos.
Os leucócitos – células brancas do sangue – apresentam uma molécula
de adesão denominada L-selectina na superfície de sua membrana, capaz de
ligar-se a proteoglicanos presentes nas células endoteliais; já as P-selectinas
e E-selectinas são encontradas na membrana das células endoteliais após as
mesmas sofrerem estímulo de substâncias presentes no foco inflamatório;
como por exemplo a histamina.
Logo após a injúria tecidual, as células inflamatórias – neutrófilos e
macrófagos – são atraídas para o foco da lesão – processo denominado
quimiotaxia; para isto, ocorre a marginalização leucocitária, quando as
células brancas do sangue começam a se aproximar da margem dos vasos
sanguíneos enquanto as hemácias fluem mais ao centro.
Quando as moléculas de adesão dos leucócitos – L-selectina - e as
presentes nas células endoteliais – P-selectinas e E-selectinas – entram em
contato, ocorre o rolamento destes fagócitos sobre o endotélio – rolling -,
ocasionando a diminuição da velocidade dos mesmos. Este evento, além de
desacelerar a velocidade destes grupos celulares na corrente sanguínea -
facilitando a passagem das células do sistema imune para o foco inflamatório -,
eleva a ativação dos mesmos.
O próximo passo consiste na passagem dos fagócitos pelo espaço
originados na junção entre as células endoteliais - processo denominado
diapedese. Este processo ocorre após a emissão de prolongamentos
citoplasmáticos (pseudópodos – falsos pés) pelas células em questão,
Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
desenvolvendo uma forma de movimento amebóide.

A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA RESPOSTA


INFLAMATÓRIA AGUDA

Após agentes infectantes terem vencido as barreiras naturais de defesa


de nosso organismo, a resposta imune natural – inflamação aguda – é a
primeira reação imune que visa a defender o hospedeiro contra agressores.
Caso a mesma seja bem sucedida, o processo infeccioso será eliminado

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rapidamente, sem que ocorra o desenvolvimento de sequelas.
Esta resposta imune também está associada ao processo de
regeneração tecidual, uma vez que induz a migração e proliferação de
fibroblastos; angiogenese (produção de novos vasos sanguíneos) e síntese de
fibronectina, colágeno e proteoglicanos, entre outros.
Além destas ações, é responsável também pela apresentação de partes
de microrganismos aos linfócitos, desencadeando assim o desenvolvimento da
resposta imune adaptativa, responsável pelo desenvolvimento de mecanismos
imunológicos específicos contra patógenos.

Agora, você já sabe sobre a inflamação aguda. Sabe também


sobre os órgãos linfóides primários (medula óssea e timo) e órgãos linfóides
secundários (baço, linfonodos, tecido linfoíde associado a mucosa, etc).
Chegamos ao ponto da disciplina em que foi descrito os conceitos básicos da
resposta imune natural.

Mas, e a resposta imune adquirida? Quando ela atua?


Como ela é ativada?
Quem faz parte dessa imunidade?
Você se lembra da unidade 1?

Existem os linfócitos T e B, quem são o cerne da resposta imune


adquirida. Eles após reconhecer um antígeno, produzem células de memória.
Então, você vai entender o processamento e a apresentação do antígeno para
Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
o linfócito. Esse processo é importante para o linfócito T.
Leia com atenção a diferença entre como ocorre o reconhecimento do
antígeno pelo linfócito B e pelo linfócito T.
Observe a diferença entre o reconhecimento do antígeno pelo linfócito T
CD4 e T CD8.

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PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS PELO
COMPLEXO PRINCIPAL DE HISTOCOMPATIBILIDADE

Para iniciar uma resposta imune adquirida, os linfócitos precisam


reconhecer os antígenos ou fragmentos dos antígenos chamados de
determinantes antigênicos. Vamos lembrar que os antígenos são substâncias
particuladas ou solúveis que apresentam imunogenicidade e antigenicidade.
A imunogenicidade é a capacidade da molécula de ativar linfócitos T/ B,
enquanto a antigenicidade é a capacidade da molécula de reagir com produtos
produzidos pelos linfócitos T ou B. No texto em questão iremos chamar os
determinantes antigênicos simplesmente de antígenos.
Os linfócitos B reconhecem antígenos nativos (isto é, as proteínas
presentes na superfície do patógeno não-processado), já os linfócitos T
reconhecem antígenos processados (isto é, peptídeos processados e
apresentados juntamente com o complexo principal de histocompatibilidade).
O Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC) refere-se a uma
região no genoma que são herdadas de pai e mãe de forma co-dominante e
fornece a identidade dos indivíduos (somente gêmeos monozigóticos possuem
MHC idêntico). Os genes do MHC humano estão presentes no cromossomo 6.
Em humanos, o MHC chama-se HLA (human leukocyte antigen).
O MHC é formado por vários genes, polimórficos que originam proteínas
expressas nas membranas das células. Essas proteínas ganharam este nome
devido a sua importante função nas respostas imunes contra tecidos
transplantados. Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

O MHC é encontrado na superfície de certas células nucleadas em


diferentes concentrações, sendo que a maior parte da molécula se apresenta
para fora da célula. Em uma parte da molécula do MHC há uma estrutura em
forma de fenda. Nesta fenda, ocorre a ligação com o antígeno que será
apresentado para o linfócito T.
Existem duas classes principais de MHC que são expressas nas
superfícies celulares: MHC classe I e MHC classe II.
O MHC classe I é expresso em diferentes tipos de células nucleadas e
apresenta os antígenos processados para os linfócitos TCD8 (citotóxico).

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O MHC classe II, diferentemente do MHC classe I, é encontrado na
superfície das células apresentadoras de antígeno clássicas (CAA). As células
apresentadoras de antígenos são células especializadas em apresentar
antígenos para os Linfócitos TCD4. Essas células são:
- as células dendríticas,
- os macrófagos e
- os linfócitos B.
Para que ocorra a apresentação do antígeno por essas células, este (o
antígeno) precisa ser processado dentro da célula, logo, as células devem
apresentar antígenos processados junto com o MHC para os linfócitos T.
Existem diferentes tipos de antígenos tais como vírus, células tumorais e
bactérias, protozoários, helmintos, toxinas, etc.
Quando a apresentação do antígeno ocorre via Célula Apresentadora de
Antígenos (CAA) com MHC classe II o seu reconhecimento será feito pelo
linfócito T CD4, também conhecida por linfócito T auxiliar.
Quando a apresentação do antígeno ocorre por diversos tipos celulares,
nas fendas das moléculas de MHC classe I (presente em diversas células) o
seu reconhecimento será realizado pelo linfócito TCD8 ou linfócito T citotóxico.
Uma regra simples para guardar isso é que o resultado da multiplicação
do tipo de linfócito T com a classe de MHC tem como resultado, sempre, o
valor é igual a 8, assim sendo:
TCD 4 X MHC 2 = 8
TCD 8 X MHC 1 = 8
Enfatizando os pontos principais do reconhecimento do antígeno pelos
Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda
linfócitos:
 Linfócitos B reconhecem Antígenos nativos (isto é, as proteínas presentes
na superfície do patógeno não-processado),
 Linfócitos T reconhecem Antígenos processados (isto é, peptídeos
processados e apresentados juntamente com o complexo principal de
histocompatibilidade).
o Linfócitos T CD4 reconhecem antígenos apresentados
pelas células apresentadoras de antígenos via MHC classe
II

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o Linfócitos T CD8 reconhecem antígenos apresentados por
diferentes tipos de células nucleadas via MHC classe I

As células apresentadoras de antígenos são:


- Macrófagos
- Linfócitos B
- Células dendríticas.

Logo, durante um processo inflamatório, o macrófago pode fagocitar,


processar e apresentar o antígeno junto com o MHC para os linfócitos. Essa
apresentação do antígeno ao linfócito dá o início da reposta imune adquirida.

Na próxima unidade você irá estudar essa resposta imune adquirida.


Agora, releia o texto e verifique com calma, o que você não entendeu.
Faça um resumo, observe o “Esquema” e vá para “fórum de dúvidas”.

Unidade: Tecidos e órgãos inflamação aguda

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Referências

BALESTIERI, F. M. P. Imunologia. Barueri, Sp: Manole, 2006


CALICH, V.; VAZ, C. Imunologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2008.

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