Você está na página 1de 4

TARIFAS

 BANCÁRIAS  
 
 AFINAL,  O  QUE  PODE  SER  COBRADO?  
 
 
 
Quando  a  gente  faz  um  financiamento  bancário,  seja  para  adquirir  um  carro,  seja  
para  outra  finalidade,  sempre  ficam  dúvidas  sobre  as  taxas  que  o  banco  cobra.  
 
Afinal,  tudo  que  o  banco  cobra  da  gente  está  correto?  Existe  alguma  coisa  que  é  
cobrada  de  forma  irregular?  
 
Bom,  o  que  o  banco  cobra  da  gente  pode  ser  classificado  em  3  grandes  grupos:  
 
 
TAXAS  DE  JUROS  
 
MULTAS  E  ENCARGOS  POR  ATRASO  
 
TARIFAS  
 
O  objetivo  deste  texto  é  esclarecer  sobre  quais  as  TARIFAS  o  banco  pode  cobrar  e  
quais  o  banco  não  pode.  
 
Para  facilitar  o  seu  entendimento,  lá  vai:  
 
 
Legal – o que o banco pode cobrar?
Tarifa de cadastro
Tarifa de avaliação de bem
Ressarcimento de registro de gravame

Ilegal – o que o banco NÃO PODE cobrar?


Tarifa de abertura de crédito (TAC)
Tarifa de emissão de boleto/carnê (TEC)
Tarifa de renovação de cadastro
Ressarcimento de serviços de terceiros
 
O  que  é  cada  uma  destas  tarifas?  
 
Tarifa  de  cadastro:  
 
É   a   tarifa   cobrada   quando   se   faz   a   primeira   operação   com   o   banco.   É   o   que   o  
Banco  Central  denomina  “Confecção  de  cadastro  para  início  de  relacionamento.”  
 
Segundo   a   Circular   do   Banco   Central   de   nr.   3.371/07,   esta   tarifa   serve   para  
remunerar  as  seguintes  atividades:  
 
“Exclusivamente, realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados e
informações cadastrais, e tratamento de dados e informações necessários ao início de
relacionamento de conta-corrente de depósitos, conta de depósitos de poupança e operações de
crédito e de arrendamento mercantil.”
 
Portanto,   o   banco   está   legalmente   autorizado   a   cobrar   esta   tarifa,   uma   única   vez.  
E  os  valores  não  são  tabelados,  ou  seja,  o  banco  pode  cobrar,  ao  menos  em  tese,    
o  valor  que  quiser.  Claro,  o  que  regula  isso  é  o  mercado.  
 
Sobre   valores   de   mercado,   o   Banco   Central   informa   o   seguinte   (valores   em  
agosto  de  2017):  
 
Nos   bancos   privados,   o   valor   médio   desta   tarifa   era   de   R$   448,33,   sendo   que   o  
valor  máximo  cobrado  era  de  R$  3.000,00  (três  mil  reais).  
 
Nos  bancos  públicos  e  na  Caixa  Econômica  Federal,  o  valor  médio  desta  tarifa  era  
de  R$  29,06,  sendo  que  o  valor  máximo  cobrado  era  de  R$  54,00.  
 
Incrível  a  diferença,  né?  
 
 
Tarifa  de  avaliação  de  bem  
   
 Esta  tarifa  também  está  legalmente  prevista,  na  Resolução  CMN  3.518/07:  
 
Art. 5º Admite-se a cobrança de remuneração pela prestação de serviços diferenciados a
pessoas físicas, desde que explicitadas ao cliente ou usuário as condições de utilização e de
pagamento, assim considerados aqueles relativos a:
(...)
V - avaliação, reavaliação e substituição de bens recebidos em garantia;
   
Como   se   vê   do   texto   legal,   para   esta   tarifa   ser   cobrada,   é   essencial   que   esteja  
expressamente   prevista   no   contrato.   Caso   contrário   ela   se   torna   ilegal   e   deve   ser  
devolvida  pelo  banco.  
 
Quanto   a   esta   tarifa,   o   Banco   Central   não   faz   um   acompanhamento   do   valor  
médio   de   cobrança,   nem   do   valor   máximo.   Em   cada   caso   concreto,   é   possível  
discutir   se   o   valor   cobrado   foi   muito   elevado,   e   em   alguns   casos   o   juiz   pode  
readequar  o  valor,  para  ser  cobrado  um  valor  um  pouco  menor.  
 
Apesar   de   legalmente   prevista,   há   muitos   juízes   que   dão   decisões   pela   sua  
ilegalidade.   Veja   por   exemplo   esta   decisão   do   Tribunal   de   Justiça   também   de  
Brasília:  
 
Portanto, o serviço de avaliação de bem dado em garantia, usado ou não, é de interesse único e
exclusivo da instituição bancária, uma vez que se destina a indicar o valor do bem, com fito a
resguardar as instituições financeiras dos riscos da inadimplência do mutuário. Não subsiste
qualquer interesse por parte do tomador ou contraprestação ao consumidor, deste modo,
denota-se tão-somente, um serviço de interesse privativo das instituições financeiras.
 
Há   portanto   ainda   alguma   controvérsia.   Se   me   permite   uma   opinião,   há   uma  
chance   bastante   pequena   de   você   ganhar   o   direito   de   esta   tarifa   lhe   ser  
devolvida.   A   menos   que   o   banco   não   apresente   o   seu   contrato   em   juízo,   o   que  
acontece   com   bastante   frequência.   Mas   enfim,   é   assim   que   funciona   o   nosso  
sistema  jurídico!  
 
 
Ressarcimento  de  registro  de  gravame  
 
Você  sabe  o  que  é  isso?  
 
Quando  você  financia  um  carro,  é  preciso  registrar  no  sistema  do  Detran  que  o  
seu  carro  é  financiado.  O  mesmo  vale  se  você  fizer  um  leasing,  ou  arrendamento  
mercantil,  que  é  sinônimo.  
 
O   que   se   registra   é   um   GRAVAME,   uma   anotação   de   que   aquele   veículo   está  
vinculado  a  um  contrato  com  o  banco,  e  que  portanto  não  pode  ser  transferido  
livremente.  Este  gravame  fica  também  impresso  no  documento  do  veículo.  
 
Pois  bem,  para  registrar  o  gravame,  que  também  é  conhecido  como  “restrição”,  o  
Detran   cobra   uma   taxa.   E   esta   taxa   deve   ser   paga   por   você.   Isso   é   legal?   Sim,   isso  
é  legal.    
 
Não   está   expressamente   escrito   nas   resoluções   do   Banco   Central,   mas   a   Justiça  
entende,   em   sua   esmagadadora   maioria,   que   os   bancos   podem   se   ressarcir  
especificamente  desta  espécie  de  serviço  prestado  por  terceiros.  
 
Para   isso,   há   apenas   uma   única   condição:   que   esta   obrigação   de   ressarcimento  
esteja   expressa   no   contrato.   Caso   contrário,   a   cobrança   deste   ressarcimento   é  
indevida.  
 
 
TARIFAS  INDEVIDAS  
 
A   Tarifa   de   Abertura   de   Crédito   (TAC),   a   Tarifa   de   Emissão   de   Carnê   (TEC),   a  
Tarifa   de   Renovação   de   Cadastro,   e   o   ressarcimento   de   serviços   de   terceiros,   à  
exceção  do  registro  do  gravame,  são  todas  ilegais.  Uns  anos  atrás,  até  podiam  ser  
cobradas.  Agora  não  mais.  
 
Portanto,   se   você   está   sendo   cobrado   destes   valores,   tem   o   direito   a   receber   este  
dinheiro  de  volta!  
 
ATENÇÃO!  
 
Apesar   de   proibidas,   estas   cobranças   ainda   seguem   sendo   muito   comuns!   Em  
muitos   casos,   os   bancos   modificam   o   nome   destas   tarifas,   para   poder   seguir  
cobrando.  Como  exemplo,  esta  taxa  pode  ser  chamada  de  “taxa  de  efetivação  de  
cadastro”.  
 
É   muito   provável,   se   você   tem   um   financiamento   bancário,   que   já   tenha   pago  
alguma  tarifa  irregular.  Em  alguns  casos,  este  valor  somado  pode  chegar  a  mais  
de  R$  5.000,  00  (cinco  mil  reais).  Isso  mesmo!  
 
E  você  tem  o  direito  à  devolução!  Em  dobro,  e  com  correção  monetária!  E  além  
disso,  você  também  tem  direito  a  danos  morais.  
 
 
CONCLUSÃO  
 
Portanto,  somente  podem  ser  cobradas  duas  espécies  de  tarifas:  
 
A  tarifa  de  cadastro;  e    
 
A  tarifa  de  avaliação  do  bem.  
 
E  também  pode  ser  cobrado  o  ressarcimento  do  registro  do  gravame.  
 
Sobre  estas  duas  tarifas,  veja,  por  curiosidade,  o  que  o  STJ  –  Superior  Tribunal  de  
Justiça,  em  Brasília  -­‐    decidiu,  em  Recurso  Repetitivo  (que  deve  obrigatoriamente  
ser  seguido  pelos  demais  juízes  no  Brasil):    
 
Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN
2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de
carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de
abusividade em cada caso concreto.

Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços


bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas
em norma padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem
respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de
Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa
de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária,
a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a
instituição financeira.

REsp 1255573 / RS, julgado em 24/10/2013

Eu  espero  que  este  material  te  ajude  a  entender  quais  tarifas  estão  lhe  cobrando,  
e  que  você  se  sinta  mais  seguro  e  bem  informado  com  relação  a  este  assunto.  
 
E   lembre-­‐se,   mesmo   que   haja   uma   previsão   legal   de   que   estas   tarifas   sejam  
cobradas,   ainda   assim   há   casos   em   que   na   Justiça   é   possível   obter   a   devolução  
destes  valores.  Para  isso,  procure  aconselhar-­‐se  com  um  advogado  experiente,  e  
que  domine  este  assunto.  
 
Abraço,  e  boa  sorte!  
 
Márcio  dos  Santos  Vieira  
Advogado  
Professor  de  Direito  

Você também pode gostar