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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ


PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO – PROGRAD
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

JEFFERSON ROGÉRIO SILVEIRA CARDOSO

PATRÍCIA DE ARAÚJO DOS SANTOS

GÊNERO E EDUCAÇÃO: IGUALDADE DE GÊNERO NA ESCOLA

Macapá-AP,

2021
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JEFFERSON ROGÉRIO SILVEIRA CARDOSO

PATRÍCIA DE ARAÚJO DOS SANTOS

GÊNERO E EDUCAÇÃO: IGUALDADE DE GÊNERO NA ESCOLA

Trabalho desenvolvido como atividade avaliativa,


apresentado ao Curso de Licenciatura em
Pedagogia, da Universidade do Estado do Amapá,
referente à disciplina Educação, Diversidade e
Interculturalidade, sob a orientação da Professora
Dra. Kátia Paulino dos Santos.

Macapá-AP,

2021
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1 INTRODUÇÃO
Quando o assunto é identidade de gênero, adentramos num universo de
questionamento,talvez pela singularidade de cada ser. Muitos desejos e
sentimentos ainda não revelados, escondido a sete chaves na intimidade de cada
um, porém podemos diagnosticar certas situações inerentes no ambiente escolar e
fora dele também ligadas às questões de gênero.
Na maioria das oportunidades que o professor aborda o tema sexualidade, o faz
enfocando a anatomia e fisiologia do sistema reprodutor feminino e masculino,
prevenção das DSTs/HIV/AIDS e métodos contraceptivos. No ambiente escolar
ocorrem desigualdades de gênero, camufladas ou omissas pela sociedade,
inclusive pelos próprios educadores. Reconhece-se que, apesar de grandes
conquistas, ainda ocorrem situações que colocam os indivíduos em posição de
desigualdade no contexto contemporâneo. O ambiente escolar é rico em
diversidade cultural e social, onde crianças e adolescentes encontram-se em
construção de aprendizado, de culturas e valores. A escola possui, portanto, o
compromisso de formar cidadãos críticos e conscientes de seus direitos e deveres.
Egypto (2005), descreve sobre as consequências da falta de informação para os
alunos. Percebe-se que esta ausência pode alimentar preconceitos e conceitos
morais equivocados, produzindo discriminação e atitudes incorretas. Desta forma,
há necessidade de investir no planejamento de atividades escolares que possam
minimizar as desigualdades de gênero, objetivando que, para um futuro próximo,
tenhamos uma sociedade igualitária na questão do respeito às diversidades
sexuais, nas questões de gênero e nas relações sociais humanas. Este trabalho
tem como enfoque principal tratar da importância de se associar o trabalho
informativo e educativo ligada a temática de gênero dentro das escolas, não como
um “favor”, mas sim como um direito garantido por lei para atender e incluir a todos,
independentemente de suas pluralidades.
2 O QUE É IDENTIDADE DE GÊNERO?

Atualmente vive-se em um tempo marcado pela pluralidade e diversidade cultural.


Sendo assim, não é possível compreender a construção das identidades e fazer
uma leitura crítica das relações de poder estabelecidas entre as pessoas se não as
contextualizarmos histórica e culturalmente. O pensamento pós-estruturalista
compreende a identidade cultural como síntese de categorias diversas, entre elas,
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as identidades étnicas, sociais, econômicas, sexuais, de geração, nacionalidade,


religiosidade, gênero etc. (SOUZA, 2005; MEYER, 2003).
A identidade de gênero pode ser compreendida como a autopercepção de cada
pessoa em relação às categorias sociais que dizem respeito ao masculino e ao
feminino, à parte de uma representação biológica que se constrói pelos fatores
sociais e culturais que são predominantes na formação. É um dos elementos
constituintes da identidade, mas não a definidora desta. Seu desenvolvimento
ocorre desde o nascimento, numa interação constante entre o indivíduo e os
outros, não se constituindo nem se apresentando de maneira fixa (LOURO, 2003;
RIBEIRO, 2002).
Louro (2000, 2003) e Souza (2005) apontam que a análise da identidade de gênero
isolada de outras experiências pessoais é insuficiente para a compreensão das
representações de poder ligadas intrinsecamente às construções das identidades;
elas se constroem durante a vida do indivíduo desde seu nascimento, nas relações
que são estabelecidas entre a criança e as pessoas com quem convive, sejam elas
outras crianças, adolescentes ou adultos, e também entre a criança e os diversos
objetos culturais aos quais tem acesso.
Perceber as sutis relações de poder, estabelecidas numa sociedade altamente
hierarquizada como a nossa, que em alguns casos impõe modelos a serem
seguidos por todos, não constitui um trabalho simples. A naturalização de alguns
hábitos, concepções e valores que mantemos pode indicar a existência de
procedimentos de repressão sexual muito arraigados presentes na civilização.
Vários pesquisadores que se dedicam a essas questões apontam que as crianças
têm sido oferecidos modelos de mulheres e homens com bases sexistas, racistas e
classistas.
2.2 GÊNERO E EDUCAÇÃO - O QUE DIZEM AS LEIS E A CONSTITUIÇÃO?

Segundo a Constituição Federal, em seu Art. 3º define, entre os objetivos


fundamentais da República Federativa do Brasil, a promoção "do bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação". Já o Art. 5º traz a conhecida afirmação de que "todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza" e afirma expressamente a
igualdade entre homens e mulheres como preceito constitucional.
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O Art. 205 da Constituição afirma que a “educação é direito de todos e dever do


Estado e da família” e que será “promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Em seu Art. 206, a Carta
dispõe que o ensino será ministrado, dentre outros, com base nos princípios da
igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, da liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar e do pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação reproduz e amplia, em seu Art 3°, os
princípios que devem basear o ensino:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III
- pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;V - coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em
estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII
- gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da
experiência extra-escolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
práticas sociais. XII - consideração com a diversidade étnico-racial; IV - respeito à
liberdade e apreço à tolerância;
O Estatuto da Criança e do Adolescente se soma a este conjunto ao afirmar o
direito de toda criança e adolescente à liberdade, incluída aí a liberdade de opinião,
expressão e de crença. O Plano Nacional de Educação define entre suas diretrizes
a "superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da
cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação" e a "promoção
dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental." Nas metas que propõem a universalização do ensino fundamental
para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e do atendimento escolar
para toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, encontram-se, dentre
as estratégias, a necessidade de fortalecer o acompanhamento e o monitoramento
do acesso, da permanência e do aproveitamento escolar em situações de
discriminação, preconceitos e violências na escola e o desenvolvimento de políticas
de prevenção à evasão motivada por preconceito ou quaisquer formas de
discriminação, criando rede de proteção contra formas associadas de exclusão.
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2.3 QUAL A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR ESSA TEMÁTICA NAS


ESCOLAS?

A escola é um espaço no qual a criança descobre mais sobre si mesma, a partir


das diversas experiências e aprendizados que adquire e das relações que
estabelece com seus colegas e professores.Por isso, a identidade de gênero que
ela constrói, a partir de suas vivências tanto no ambiente familiar como no escolar,
ou em outros grupos sociais dos quais participe, precisa ser compreendida e
aceita, pois o ideal é que seja sempre expressa durante as aulas.
Mas sabemos que as crianças transgêneros podem ter dificuldades para
expressarem suas vontades, pois descobrem rapidamente que se assim o fizerem
serão excluídas e podem, inclusive, serem alvos de violência física ou psicológica.
Portanto, é papel da escola mostrar e reforçar para os alunos que as diferenças
existem, mesmo no âmbito da sexualidade e do gênero, e precisam ser
valorizadas. Só assim cada aluno poderá agir de acordo com seus sentimentos,
identificações e, consequentemente, desenvolver-se adequadamente em todas as
esferas: psicológica, biológica, cognitiva e social.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) defendeu o ensino de questões de gênero e sexualidade nas escolas,
como um importante espaço de formação de cidadãos para o respeito aos direitos
humanos, sem preconceitos e discriminações.
“Aprofundar o debate sobre sexualidade e gênero contribui para uma
educação mais inclusiva, equitativa e de qualidade. A UNESCO ressalta em
todos os seus documentos oficiais que estratégias de educação em
sexualidade e o ensino de gênero nas escolas é fundamental para que
homens e mulheres, meninos e meninas tenham os mesmos direitos, para
prevenir e erradicar toda e qualquer forma de violência, em especial a
violência de gênero” (UNESCO, 2016)

A UNESCO, ressaltou em todos os seus documentos oficiais que estratégias de


educação em sexualidade e o ensino de gênero nas escolas é fundamental para
que homens e mulheres, meninos e meninas tenham os mesmos direitos, para
prevenir e erradicar toda e qualquer forma de violência, em especial a violência de
gênero.
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As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior e


para a formação continuada definem como um dos princípios da Formação de
Profissionais do Magistério da Educação Básica "a formação dos profissionais do
magistério (formadores e estudantes) como compromisso com projeto social,
político e ético que contribua para a consolidação de uma nação soberana,
democrática, justa, inclusiva e que promova a emancipação dos indivíduos e
grupos sociais, atenta ao reconhecimento e à valorização da diversidade e,
portanto, contrária a toda forma de discriminação". Ou seja, a sociedade brasileira
espera, ou melhor, demanda de seus profissionais de educação uma atuação
enfática na superação de toda forma de discriminação, incluindo-se aí as
relacionadas a gênero e orientação sexual.
Oliveira (2009), concluiu que o conhecimento sobre e para o indivíduo necessita
ser construído num ambiente que privilegie o diálogo com oportunidades de
questionar e analisar situações. No ensino, há um aceno para que se realizem
atividades motivadoras que envolvam os estudantes, nas quais estes possam
discutir, resgatar e expor as suas concepções, revendo idéias de senso comum e
construindo conhecimento embasado no conhecimento científico, empatia e
respeito às diversidades.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação nas escolas, focada nas relações de gênero, propicia condições de


informar, esclarecer e sensibilizar os educandos. Esta sensibilização deve servir
como base para auxiliar os educandos na vivência de uma convivência igualitária
nas relações de gênero.
Crianças e adolescentes passam boa parte de suas vidas na escola, é nesse
ambiente que devem ser viabilizados estudos, discussões que levem os educandos
a reflexões de seus verdadeiros valores, como sujeitos de suas próprias histórias.
Os valores devem ser respeitados pelo que somos, produzimos e construímos, e
não pelo que os outros julgam ser o "normal".
Uma forma de amenizar esta situação seria através da na capacitação continuada,
promovendo discussões e amplas reflexões a fim de vencer certos paradigmas
relacionados à sexualidade e principalmente nas questões de gênero. Mudanças
nesta estrutura de desigualdade podem ser possíveis, a importância da intervenção
da escola no rompimento desta situação. Cabe aqui ressaltar que o processo de
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socialização na infância e na adolescência é fundamental para a construção da


identidade de gênero, e a escola tem grande responsabilidade no processo de
formação de futuros cidadãos e cidadãs, ao desconstruir as diferenças de gênero,
questionando as desigualdades daí decorrentes.

REFERÊNCIAS

Constituição Federativa do Brasil -


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm
acessado em 25 de julho de 2021.
EGYPTO, Antonio Carlos. Sexo, prazeres e riscos. São Paulo: Saraiva, 2005.
Lei de Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 -
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L9394.htm acessado em 25 de julho de
2021.
Lei de Nº 8.069 de 13 de julho de 1990 -
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm acessado em 25 de julho de
2021.
Lei de Nº 13.005 de 25 de junho de 2014 -
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm acessado
em 25 de julho de 2021.
Louro, G. L. (2000). "Sexualidade: lições da escola". In: Meyer, D. E. E. (org.).
Saúde e sexualidade na escola. 2. ed. Porto Alegre, Mediação, pp. 85-96.
(Cadernos Educação Básica, 4)

Meyer, D. G. (2003). "Escola, currículo e diferença: implicações para a docência".


In: Barbosa, R. L. L. Formação de educadores: desafios e perspectivas. São Paulo,
UNESP, pp. 257-265

OLIVEIRA, Vera Lucia Bahl de. Sexualidade no contexto contemporâneo: um


desafio aos educadores. In: FIGUEIRÒ, Mary Neide Damico (Org.). Educação
sexual: múltiplos temas, compromisso comum. Londrina:UEL, 2009.

Resolução Nº 1 de 15 de junho de 2002 - Estabelece as Diretrizes de Bases para


Educação e Direitos Humanos -
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=108
89-rcp001-12&category_slug=maio-2012-pdf&Itemid=30192 acessado em 25 de
julho de 2021.

Ribeiro, P. R. C. (2002). Inscrevendo a sexualidade: discursos e práticas de


professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental. Tese (Doutorado no
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Instituto de Ciências Básicas da Saúde). Universidade Federal do Rio Grande do


Sul, Porto Alegre.

Souza, J. F. (2005). Gênero e sexualidade nas pedagogias culturais: implicações


para a educação infantil. acessado dia 24 de julho de 2021 em
http://www.ced.ufsc.br/~nee0a6/SOUZA.pdf.

UNESCO -
https://brasil.un.org/pt-br/73283-unesco-defende-educacao-sexual-e-de-genero-nas
-escolas-para-prevenir-violencia-contra acessado em 25 de julho de 2021.

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