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INTRODUÇÃO
Compreender o significado matemático envolve perceber que a Matemática
tem linguagem própria, é como se aprendêssemos a falar, a ler e a nos comunicar em
outra língua. Comparar a matemática com o falar é fundamental. D’Ambrosio (1986),
coloca:
[...] o fato de a matemática ser uma linguagem (mais fina e
precisa que a linguagem natural) que permite ao homem
comunicar-se sobre fenômenos naturais, conseqüentemente, ela
se desenvolve no curso da história da humanidade desde os
“sons” mais elementares, e, portanto intimamente ligada ao
contexto sociocultural em que se desenvolve – por isso falamos
em matemática grega, matemática hindu, matemática pré-
colombiana (p.35).
A Matemática no Ensino Médio, entendido como etapa final da escolaridade
básica, deve se organizar de tal modo que proporcione ao aluno a aquisição de uma
parcela importante do conhecimento, para que ele possa ler e interpretar a realidade e
desenvolver capacidades necessárias para atuação efetiva na sociedade e na vida
profissional. Assim, nesta etapa da escolaridade, a Matemática vai além de seu caráter
instrumental, colocando-se como ciência com linguagem própria e métodos específicos
de investigação, e com um papel integrador junto às demais Ciências.
O enfrentamento de situações que todo jovem tem pela frente na escola, no
prosseguimento dos estudos, no trabalho e no exercício da cidadania, requer mais do
que informações, exigindo a mobilização de conhecimentos e habilidades.
Aprender Matemática de uma forma contextualizada, integrada e
relacionada a outros conhecimentos traz em si o
desenvolvimento de competências e habilidades que são
essencialmente formadoras, à medida que instrumentalizam e
estruturam o pensamento do aluno, capacitando-o para
compreender e interpretar situações, se apropriar de linguagens
específicas, argumentar, analisar e avaliar, tirar conclusões
próprias, tomar decisões, generalizar e para muitas outras ações
necessárias à sua formação. (PCN+, 2002, p. 111).
ensina Matemática nas escolas? Talvez, pois na maior parte das vezes, o ensino é
pautado no trabalho mecânico e descontextualizado, em técnicas operatórias e na
memorização de fórmulas e propriedades.
Os dados do INAF (Indicador Nacional de Alfabetismo
Funcional) vêm sendo largamente divulgados pela imprensa,
chamando a atenção do grande público para as conseqüências
dos déficits de escolarização da população brasileira,
fomentando o debate sobre o significado das aprendizagens
escolares e para as possibilidades de se continuar aprendendo ao
longo da vida, numa sociedade que exige dos trabalhadores e
dos cidadãos a capacidade de se reciclar e atualizar
continuamente (FONSECA, 2004, p. 9).
Estar matematicamente alfabetizado significa que o sujeito entende o que lê e o
que escreve bem como percebe o significado do ato de ler e escrever no contexto da
Matemática.
3. O RIGOR NA LINGUAGEM
A comunicação pode ser feita nas mais diversas formas, sendo algumas
naturais (linguagem materna) e outras construídas (linguagem matemática). Os sujeitos
possuem diferentes habilidades e preferências e todos podem desenvolver e utilizar
diferentes linguagens para interpretar, explicar e analisar o mundo. Em especial, a
Matemática, como linguagem, tem o caráter de universalidade, assim como a música, a
arte e outras manifestações culturais. Essa universalidade da linguagem matemática
mostra a sua utilidade na comunicação. Existem verdades não contestáveis na
Matemática. D’Ambrósio (2001, p. 74) coloca que: “não se discute que ‘2 + 2 = 4’, mas
sim sua contextualização na forma de uma construção simbólica que é ancorada em toda
uma história cultural”.
A Matemática quando caracterizada pelo rigor de linguagem é isolada num
mundo à parte. Porém, este rigor é parte da linguagem, o que não quer dizer que ele seja
o mesmo que dificuldade. É preciso compreender o vocabulário dessa linguagem, os
símbolos, que são elementos de comunicação, ou, de acordo, com Imenes e Lellis
(1998), sinais gráficos que representam uma idéia matemática.
Ler e escrever na língua materna não é a única forma de interpretar, explicar e
analisar o mundo. A Matemática é outra dessas formas que tem seus códigos e
linguagem própria e um sistema de comunicação e de representação da realidade
construído ao longo de sua história. A linguagem matemática desempenha um papel
significativo dentro da Matemática e da cultura, mas não sobrevive isolada, pois
prescinde do apoio da linguagem materna para a realização da comunicação.
A introdução da linguagem simbólica na resolução de problemas é recente,
quando considerado o desenvolvimento da própria Matemática. Ela é fruto de inúmeros
colaboradores e não surgiu de um dia para o outro, portanto é preciso certo empenho
para a sua plena compreensão. Dessa forma, é ponto prioritário desenvolver capacidades
e habilidades para lidar com a linguagem dessa disciplina.
Tanto a linguagem materna quanto a matemática utilizadas em aula nas formas
oral e escrita, quando não colocadas e apresentadas de forma clara e objetiva trazem
prejuízo para o aluno. A clareza e a objetividade são requisitos para a boa comunicação
e com isso evitar as interpretações e conclusões errôneas. Um exemplo da falta de
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clareza é apresentado por Kline (1976), quando coloca: “Mary pagou doze centavos por
dois lápis”, perguntando em seguida: “Quanto ela gastou com cada lápis?” A maioria
das pessoas responderia seis centavos porque admitiria, na falta de outras informações,
que os dois lápis custam o mesmo. No entanto, não há nenhuma declaração explícita de
que os lápis sejam idênticos e tenham, portanto o mesmo preço. É uma questão simples,
mas que pode, facilmente, ser interpretada erroneamente pela falta de cuidado com a
linguagem. A escrita, sendo clara, auxilia na elaboração de um pensamento também
claro e isso implica em interpretações e resoluções corretas. Discutir as questões de
linguagem com o aluno contribui para que ele desenvolva o hábito de atentar para o real
significado de cada palavra em uma situação ou problema e se torne independente na
análise da situação ou na resolução do problema.
Em uma das categorias do estudo a questão apresentada foi similar ao exemplo
acima colocado:
“Eu e você temos juntos seis reais. Quanto dinheiro eu tenho?” (SILVA, 2006,
p. 164).
O objetivo de tal questão é verificar se o aluno é atento, se é fiel aos dados que
o problema apresenta. A tendência dos respondentes foi fazer a divisão em partes iguais
afirmando que cada um tem três reais. Apenas alguns alunos perceberam que o
problema poderia ter mais de uma solução. Isso é geralmente o que não acontece, pois
quase todo o problema apresentado na escola e nos textos didáticos vem idealizado,
apresentando uma única solução. Isso elimina o questionamento, a dúvida e fantasia a
realidade, pois não oferece opções de discussão e, portanto análise e interpretação.
Quantas vezes o aluno não resolve um problema por não entender o que está
sendo perguntado. Então, onde reside a dificuldade? Na língua materna, na linguagem
matemática ou na própria Matemática?
Existe a necessidade de se analisar a relação entre a língua materna e
linguagem matemática, pois o não entendimento de um problema pode estar ligado ao
não entendimento da própria língua ou ao desconhecimento do vocabulário utilizado.
A comparação que fazemos entre a linguagem natural e a
linguagem da Matemática, em que apontamos similitudes,
apresentam, como é fácil de adivinhar, diferenças marcantes.
Desde logo, porque a linguagem matemática não se aprende a
falar em casa, desde tenra idade – aprende–se, isso sim, a
utilizar na escola. A aprendizagem da matemática apresenta,
também, diferenças quando comparada com a aprendizagem de
uma segunda língua natural – que habitualmente também ocorre
numa escola – pois não encontramos, no dia-a-dia, um grupo de
falantes que a utilize, em exclusividade, para comunicar. A
linguagem da matemática carece, pois do complemento de uma
linguagem natural (MENEZES, 2004, p. 3).
A linguagem matemática não é natural como a língua materna. A criança
aprende a falar e se comunica com os outros por meio da língua materna. A criança
aprende a contar imitando o adulto, mas para entender a seqüência dos números
naturais, por exemplo, ela precisa estabelecer alguns conceitos e estruturas que não são
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e formaliza o caminho aonde quer chegar, para depois fazer o registro em notação
musical e documentar o que imaginou.
Na terceira categoria foi apresentada a seguinte questão:
O número 0,2 pode ser escrito ainda como:
a) b) –2 c) 2% d) e) f) 20% g) h) i) j) 0,02
Esta questão pretende verificar se o aluno percebe esses sinônimos, ou ainda se
consegue expressar ou identificar uma idéia numérica de diferentes maneiras. Nesse
caso apenas 15,3% dos alunos identificaram as cinco maneiras de representar o número
=
=
Esta questão envolvia operações básicas que são ou devem ser desenvolvidas
no Ensino Fundamental e são requeridas e utilizadas em diversos conteúdos do Ensino
Médio. Os erros, mais comuns, cometidos pelos alunos investigados estão ligados à
hierarquia das operações, a generalização de propriedades e a falta de significado do
expoente negativo.
Brito (2001, p.79) mostra a importância na aquisição do significado dos
conceitos:
A aquisição de conceitos e dos significados dos conceitos é
fundamental para a aprendizagem escolar uma vez que a maioria
das atividades em sala de aula está baseada na aquisição de
conceitos que serão, posteriormente, utilizados para a
aprendizagem de princípios e na solução de problemas. Na
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