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curriculo-na-alfabetizacao

Publicado em NOVA ESCOLA 20 de Outubro | 2021

Aprendizagem

Como realizar a priorização do


currículo na alfabetização?
A seleção de habilidades essenciais envolve um esforço das redes e
secretarias, e bastante trabalho por parte dos professores. Confira algumas
dicas para consolidar esse processo, sempre visando a garantia de
aprendizagem dos seus alunos
Mara Mansani

Crédito: Getty Images

O ano letivo de 2021 está quase se encerrando e ainda estamos vivenciando a pandemia da covid-19,
com redes de ensino voltando gradualmente às aulas presenciais, enquanto outras permanecem no
ensino remoto. Nesse contexto, ainda há dúvidas sobre quais habilidades priorizar e que são
essenciais para o desenvolvimento do processo de aprendizagem dos nossos estudantes.

Na etapa da alfabetização, a priorização do currículo também é um dos nossos desafios quando


pensamos em planejamento e aprendizagem. Isso se faz necessário porque, por diversos fatores que
transcorreram no período pandêmico, nós não tivemos as condições necessárias para desenvolver o
currículo como um todo e fazer a alfabetização acontecer para todos – por isso é tão importante,
nesse momento, definirmos e selecionarmos as habilidades e conteúdos que são essenciais para a
garantia da aprendizagem.

Feita essa ponderação inicial, a pergunta que fica é: “quais seriam, então, esses tópicos
imprescindíveis para a alfabetização das crianças?”. Em linhas gerais, essa seleção das habilidades
essenciais é tarefa das secretarias e redes de Educação, que devem orientar escolas e seus
profissionais nesse sentido, sempre se pautando em estudos e evidências, mas também ouvindo
quem faz a alfabetização acontecer, que são justamente os professores alfabetizadores que estão em
sala de aula.

A próxima etapa desse processo de priorização passa justamente pelas mãos dos professores, e na
coluna de hoje, vou compartilhar um pouco das minhas experiências e reflexões relacionadas a essa
ação que é muito importante, mas que ainda suscita algumas dúvidas na hora de começar a ser
realizada.

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Priorização do currículo na prática

Nas redes públicas em que trabalho, depois dessa seleção inicial realizada pelas secretarias, os
professores puderam debater e estudar coletivamente o currículo, para entender como foi feita essa
escolha de habilidades essenciais e para consolidar a compreensão da importância delas para a
alfabetização.

No meu grupo de estudos, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Sílvia Haddad, em
Salto de Pirapora (SP), eu e as demais colegas alfabetizadoras, sempre estamos debatendo,
estudando e planejando juntas. Nesse processo, nós analisamos as necessidades de aprendizagem
das nossas turmas levantadas nas sondagens diagnósticas, e em seguida escolhemos, entre as
habilidades essenciais já selecionadas pela rede, aquelas que precisam ser desenvolvidas com os
nossos estudantes.

É importante ressaltar aqui que definimos coletivamente o planejamento para todas as turmas, mas
cada professora, posteriormente, personaliza de acordo com a sua realidade em sala de aula – ou
seja, olhando para sua realidade particular, cada educadora define as habilidades que precisam ser
ainda desenvolvidas, as que precisam ser retomadas, as que precisam ser consolidadas, as que dizem
respeito a determinado grupo de alunos, as que podem ser ampliadas para atender alunos que já
avançaram, e assim por diante.

Na minha turma por exemplo, tenho três grupos definidos de acordo com o processo de
aprendizagem que foi desenvolvido até aqui no formato remoto, que são os seguintes:

• Alunos que não avançaram ou que avançaram pouco na aprendizagem (pré-silábicos, silábicos
sem valor sonoro);
• Alunos que avançaram, mas que apresentam defasagem na aprendizagem (silábicos com valor
sonoro);
• Alunos que avançaram na aprendizagem (silábicos alfabéticos e alfabéticos)

Sendo três grupos que se encontram em diferentes fases, não é adequado pensar que as habilidades
essenciais priorizadas no currículo sejam desenvolvidas da mesma forma – afinal, uma mesma
habilidade pode ser inicial para um grupo, mas para o outro, pode ser preciso retomá-la para a
consolidação, ou mesmo ampliá-la em complexidade.

Com isso, é importante ter em mente que esse processo de priorização traz a necessidade de
flexibilidade e de entendimento de uso de diferentes metodologias, estratégias e intervenções, para
atender grupos com necessidades específicas no processo de alfabetização.

A escola após a pandemia: como conduzir o retorno às aulas


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Foco naquilo “que não pode faltar”

Outro ponto importante nessa seleção e priorização das habilidades essenciais é termos em mente
que esse processo não deve ser realizado levando o fator tempo em consideração – ou seja, nós não
devemos nortear esse trabalho pensando “o que dá tempo de fazer esse ano?”.

É claro que o ano letivo deve ser levado em consideração; no entanto, o ponto principal, depois de
descobrirmos as lacunas e defasagens dos alunos no contexto remoto, deve ser: “o que não pode
faltar de maneira nenhuma na alfabetização dos alunos para garantir essa aprendizagem?”. Esse é o
verdadeiro raciocínio que deve guiar o trabalho desenvolvido nesse período.

Nessa perspectiva, um ótimo material que pode apoiar redes de ensino e professores nessa
priorização do currículo, auxiliando na compreensão do que são as habilidades essenciais, são os
mapas de foco produzidos pelo Instituto Reúna. Acesse esse link aqui, baixe o PDF e estude esse
material que está tão bem explicado – se necessário, compartilhe com sua rede caso ainda não tenha
recebido orientações nesse sentido.

Não se esqueça do contexto remoto

Por fim, um último ponto a ser levado em consideração é pensarmos sobre o que é possível ser
realizado no contexto remoto, já que muitas redes continuam atuando desse modo, mesmo que de
maneira parcial.

Sabemos que nem tudo pode ser repassado às famílias, já que é necessário conhecimento
pedagógico profissional, mas muitas práticas para desenvolver as habilidades selecionadas podem
ser adaptadas para serem praticadas em casa. Nesse sentido, utilizar tutorias e orientações que
possam ser minimamente entendidas por pais e responsáveis pode ajudar preparar um terreno fértil
para a aprendizagem na retomada das aulas presenciais.

Um exemplo disso são as rodas de leitura, em que a proposta seja desenvolver o comportamento
leitor e escritor das crianças, entreter, ampliar o repertório cultural e etc. Quando adaptadas para a
realização remota, é possível fazer a proposta da leitura de um livro em família, com o adulto lendo
para a criança, algo que pode contribuir no desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, ainda
que não tenham, é claro, a mesma eficácia dos momentos de roda realizados na sala de aula
presencial, onde há grandes trocas e interações e o próprio trabalho do professor orientando e
mediando tudo isso.

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Dessa forma, vemos que são muitos os fatores a se considerar na priorização do currículo e na
seleção das habilidades essenciais, mas um dos pontos fundamentais é ter claro o retrato da
aprendizagem da sua turma, para que, assim, o seu planejamento realmente contribua no avanço do
processo de alfabetização de seus alunos.

Mas e por aí, querido professor e querida professora, como está sendo feita a seleção das habilidades
essenciais na rede em que você atua? Ela está acontecendo? Conte aqui nos comentários a sua
experiência!

Um abraço e até a próxima!


Mara Mansani

Mara Mansani é professora há 34 anos, lecionou em vários segmentos, da Educação Infantil ao 5º ano
do Ensino Fundamental, passando também pela Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2006, teve
dois projetos de Educação Ambiental para o Ensino Básico publicados pela ONG WWF, no livro “Muda
o Mundo, Raimundo”. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, na
área de Alfabetização, com o projeto Escrevendo com Lengalenga

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