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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
DISCIPLINA: ARQUITETURA E PROJETO DO LUGAR
DISCENTES: Carolina Rezende Felipe de Bem
Caroline Assunção de Lima
Manoela Ferraz Moyses
Maria Beatriz Rebello
Priscila Monteiro Vasconcelos
Thomaz José da Silva Damasceno
DOCENTES: Ethel Pinheiro
Cristiane Duarte

EIXO 7: IDENTIDADE, ESPAÇO E LUGAR / ESPAÇO PESSOAL

FICHAMENTO

AUGÉ, Marc. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. 9ª Edição.


Campinas: Papirus, 2012.

1. Sobre o autor
Marc Augé é Antropólogo e Etnólogo nascido em Poitiers na França em 1935. Estudou
literatura clássica na École Normale Supérieure tendo concluído doutorado em ciências
humanas e sociais. De 1985 a 1995 foi presidente da École des Hautes Études en Sciences
Sociales (EHESS). Tendo realizado pesquisas de destaque na Costa do Marfim e Togo.
Por volta de 1980 diversificou seus campos de pesquisa por países como Venezuela, Bolívia,
Argentina e Chile focando nas realidades dos mundos contemporâneos como a França e outros
países do continente europeu.

Em 1992 foi co-fundador do Centro de Antropologia dos Mundos Contemporâneos em Paris


onde desenvolveu pesquisas voltadas para a realidade do mundo contemporâneo e seus
contextos e diversidades.
Atualmente Marc Augé realiza conferências no exterior principalmente na América e Europa.

Escreveu vários livros, dentre eles suas principais obras traduzidas para português são:
- AUGÉ, Marc. Não Lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade.
Campinas: Papirus, 2012.
- AUGÉ, Marc. Para onde foi o futuro. Campinas: Papirus, 2012.
- AUGÉ, Marc. Antropólogo e o mundo global. Petrópolis: Vozes, 2013.

2. Temática abordada
O autor apresenta reflexões sobre as metodologias de abordagem tradicionais utilizadas pela
antropologia para analisar a complexidade da sociedade pós-moderna (Supermodernidade) e
as novas dinâmicas das relações criadas com o espaço destacando-se alguns termos criados
pelo autor como “supermodernidade”, “lugar antropológico” e “não lugar”, que seriam
consequência dessa nova conjuntura e propõe novos arcabouços metodológicos ao mesmo
tempo que se dedica a compreender e analisar as estruturas antropológicas buscando novos
termos e interpretações das entre o comportamento humano e o espaço.

3. Principais assuntos/abordagens
3.1. Ideia central
Ao final do século XX o autor se vê diante do mundo pós moderno que no livro é chamado de
Supermodernidade que resultou em significativas transformações da sociedade nas dinâmicas
das relações do ser humano com o espaço, tempo e com seus semelhantes. A partir desse
contexto o autor compara as metodologias da antropologia e etnologia tradicional
questionando o nível de compreensão das civilizações complexas e trazendo à tona a
necessidade de adaptação das ferramentas de abordagem para melhor análise dessas relações
que apresentam novos desafios ao abordar do método para o objeto. Durante o texto o autor
conceitua termos que foram criados a fim de interpretar algumas situações decorrentes da
interação do ser humano com o espaço a partir dos termos “lugares antropológicos” e “não
lugares” que são antagônicos entre si e insere o termo “Supermodernidade” para se referir à
configuração das transformações decorrentes da pós modernidade sempre relacionando e
interpretando o modo de compreender e abordar de forma eficaz o objeto de estudo.

3.2. Ideias parciais


Conceito de “Supermodernidade” foi criado pelo autor para se referir a era pós-moderna
representada de modo geral por excessos de espaço, de tempo, migrações populacionais, além
de mudanças nas escalas de distância, afirma que ocorreria a partir de três mudanças: de
tempo, espaço e indivíduo. Defende ainda que a Supermodernidade produz “não lugares.”

Conceito de “Lugar antropológico” é definido como construção concreta e simbólica do


espaço, de escala variável que não se limita em si mesma para abranger as mudanças e
contradições da vida social, considerado como princípio de sentido para os que habitam e
princípio de clareza para os que observam. Apresentam 3 características comuns: identidade,
relacional e histórica. Possui caráter de passado.
- Identidade: considerando o local de nascimento, origem (identidade individual);
- Relacional: refere-se às relações de coexistência de elementos diferentes entre si outro;
- Histórico: trata de reconhecer acontecimentos decorridos da história pessoal individual e
coletiva gerando uma estabilidade mínima.
“O habitante do lugar antropológico não faz história, vive na história.” (Augé, p. 53).

Conceito de “Não lugar” remete espaços que não se classificam como identitários, relacionais
ou históricos, espaços multifuncionais voltados para a ação de passagem ou consumo de
caráter transitório (vias expressas, aeroportos, centros comerciais, etc) que apresentam
configurações físicas que permitem ao ser humano fazer mais coisas em menos tempo,
promovendo a virtualização do espaço (que permite estar presente virtualmente em outras
realidades), com caráter de permanência temporária e a transformação de nós mesmos em
outros criando situações de individualidade solitária não gerando identidade, outra
característica do “não lugar” é a de provável futuro.
Existe uma atratividade para os não lugares quando se pensa na busca pelo anonimato e fuga
da rotina (estadia em hotel por exemplo) que traz a sensação de plenitude ao se voltar para
casa (lugar antropológico), dessa forma, o não lugar complementaria o lugar.
Além disso, um espaço pode ser considerado lugar para uma pessoa e não lugar para outra, por
exemplo: um centro comercial pode ser um não lugar para os visitantes e consumidores, mas
pode ser considerado um lugar para as pessoas que lá trabalham.

3.3. Trechos que melhor ilustram as ideias do autor


“Da supermodernidade, poder-se-ia dizer que é o lado “cara” de uma moeda da qual a pós-
modernidade só nos apresenta o lado “coroa” – positivo de um negativo”. (p. 32).

“[...] pois é da nossa exigência de compreender todo o presente que decorre nossa dificuldade
de dar um sentido ao passado próximo.” (p. 33).

“Os não lugares são tanto as instalações necessárias a circulação acelerada de pessoas e bens
(vias expressas, trevos rodoviários, aeroportos) quanto os próprios meios de transporte ou os
grandes centros comerciais, ou ainda os campos de trânsito prolongado onde são alojados os
refugiados do planeta.” (p. 36).

“O mundo da supermodernidade não tem as dimensões exatas daquele no qual pensamos


viver, pois vivemos num mundo que ainda não aprendemos a olhar. temos que reaprender a
pensar o espaço.” (p. 37).

“Estranhamente, uma série de rupturas e descontinuidades no espaço é que representa a


continuidade do tempo.” (p.58).
“[...] o termo “lugar antropológico” àquela construção concreta e simbólica do espaço que não
poderia dar conta, somente por ela, das vicissitudes e contradições da vida social, mas à qual
se referem todos aqueles a quem ela designa um lugar por mais humilde e modesto que seja.”
(p. 51).

4. Relação com a pesquisa individual/exemplos de pesquisa que focam o tema


A temática abordada pelo livro Não lugares de maneira geral enriquece o conhecimento aos
profissionais ligados às áreas da subjetividade como arquitetos, designers, psicólogos,
antropólogos e áreas afins acrescentando percepções que podem auxiliar na abordagem eficaz
dos espaços considerando o comportamento que será estimulado ou observado nos usuários
inseridos aprimorando o olhar crítico e apurado do profissional que será capaz de oferecer
espaços que possam despertar significado ou conforme demanda espaços que estimulem as
atividade requeridas de forma consciente.

TOSI, Lamia. Resenha: Augé, Marc. Não Lugares: Introdução a uma Antropologia da
Supermodernidade. Marília: Revista Aurora v. 8, n. 01 (2014).

PEIXOTO, Elane; GOLOBOVANTE, Maria da Conceição. Entrevista inédita com o


antropólogo Marc Augé: conceitos e apresentação audiovisual. Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/ nacionais/2007/resumos/R1560-2.pdf>. Acesso em: 20
nov. 2019.

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