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Herança cultural da diáspora negra

O Brasil tem sua história marcada por diversos acontecimentos dos


quais agregaram comportamentos e hábitos que estão presentes até hoje. Um
desses casos foi a escravidão negra. Capturados e trazidos à força para o
Brasil, os negros chegavam em condições subumanas através de navios
abarrotados, muitos até não sobreviviam à viagem. Ao chegar, a situação
apenas piorava, sendo obrigados a trabalharem por horas e com um péssimo
tratamento de seus senhores. Além de todo trabalho diário, ainda sofriam
castigos severos.
O auge da escravidão se deu entre o século XVIII e o começo do século
XIX, até alguns anos depois ser decretada a Lei Eusébio de Queirós, acabando
permanentemente com o trágico negreiro.
Com a diáspora negra, foi apresentado uma nova cultura totalmente
diferente do que estavam acostumados. Mattos (2007 apud SILVEIRA, 2015)
explica que os africanos chegando ao Brasil “passavam a conviver com os
diversos grupos sociais”, até mesmo africanos de outras regiões da África.
Com isso, para questão de sobrevivência, criavam vínculos com seus
companheiros, “integrando as irmandades católicas, praticaram o islamismo e o
candomblé e reuniram-se em batuques e capoeiras”. Assim, influenciando toda
uma sociedade brasileira, deixando uma rica herança cultural.
A respeito dessas práticas pode-se mencionar o candomblé como sendo
a “prática de oferendas aos ancestrais” e o “processo de iniciação dos
participantes no ritual de possessão” (MATTOS, 2012 apud SERRA, 2016, p.
12), que é o meio usado para se comunicar com as divindades africanas
(orixás e voduns). É válido destacar também que os negros africanos para
continuar cultuando seus deuses, mesclaram os mesmos com santos do
catolicismo, baseando-se em “detalhes das estampas religiosas que poderiam
lembrar certas características dos deuses africanos” (VERGER, 1997 apud
ROMÃO, 2018).
Através das danças, os escravos podiam manter sua cultura viva com a
Capoeira e o Batuque. Soares (2002 apud SANTOS 2006) explica que a
Capoeira servia também como um lazer, utilizando tambores e por vezes
apenas um ritmo criado com as palmas das mãos. Mas não só como um jogo,
a Capoeira era a luta contra a sociedade escravista, uma forma de resistência.
O Batuque sendo o que originou o samba, do qual os “negros dançavam com
movimentos de pés, braços e cabeça sempre contraindo as costas e nádegas”
(KARASCH, 2000, apud SILVA, 2014)
Outra característica importante a se destacar são os cabelos (e
penteados), principalmente das mulheres negras, que de acordo com Gomes
(2003, p, 82) “funcionava como um condutor de mensagens”. A partir de
penteados feitos com tranças, as mensagens eram escondidas. A autora ainda
afirma que o “significado social do cabelo era uma riqueza para o africano”.
Nos dias atuais, é possível observar que esses costumes não foram
perdidos, alguns até reinventados, mas sempre voltando a cultura antiga de
seus antepassados. O Batuque, como já foi dito, é o samba, com instrumentos
de percussão e unindo pessoas numa roda. A Capoeira se tornou um esporte
com cada vez mais adeptos, dando continuidade a seu significado inicial, uma
manifestação social e cultural. E por último, os cabelos que resgatam a
essência de uma raça importantíssima para nossa cultura. Cada vez mais
mulheres e homens usam seus cabelos para enaltecer e relembrar sua história,
seja com “black powers” ou as “tranças nagô”.

Referências bibliográficas:

GOMES, Nilma Lino. Cultura negra e educação. Revista Brasileira de


Educação, v. 23, p. 75-85, 2003.
SILVEIRA, Lueci da Silva. Tecendo falas e problematizando olhares no
cotidiano escolar: a compreensão dos alunos do ensino médio no estudo das
religiões afro-brasileiras. AEDOS, v. 7, n. 16, p. 310-329, 2015.
ROMÃO, Tito Lívio Cruz. Sincretismo religioso como estratégia de
sobrevivência transnacional e translacional: divindades africanas e santos
católicos em tradução. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 57, n. 1, p. 353-
381, 2018.
SANTOS, Ynaê Lopes dos. Além da senzala: arranjos escravos de
moradia no Rio de Janeiro (1808-1850). 2006. 171p. Dissertação (Mestrado em
História)– Programa de Pós-Graduação em História Social, Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2006.
SERRA, Nayane de Jesus Araujo. O ensino da história africana e afro-
brasileira no centro de ensino prof. Rubem Almeida: conquistas e desafios.
2016
SILVA, Patrícia Morais da. A construção da identidade do povo afro-
brasileiro. In: II Encontro nacional da ABET. Salvador: UFBA. 2014.

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