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AVALIAÇÃO DE

IMPACTOS
AMBIENTAIS

Karine Scherer
Degradação ambiental
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir degradação ambiental.


 Identificar possíveis causas da degradação ambiental.
 Caracterizar recuperação ambiental e relacioná-la ao processo de
licenciamento.

Introdução
A frequência e os tipos de degradação ambiental que o planeta vem
sofrendo têm aumentado e diversificado muito no decorrer da história,
pois desde o surgimento do homem na Terra, este vem modificando a
natureza conforme as suas necessidades biológicas, culturais, econômicas
e sociais. A degradação ambiental, causada pela liberação de dejetos e
gases industriais, pelo aumento nos níveis de nitrogênio no ambiente e
pelos vazamentos de óleo, em conjunto com o crescimento da população
humana e de suas atividades associadas à agricultura, industrialização e
comércio, tem contribuído para a depredação da biodiversidade, amea-
çando a qualidade de vida e a sustentabilidade dos ecossistemas.
Portanto, neste capítulo, você vai ver o conceito de degradação am-
biental, suas causas e que efeitos ela pode ter sobre a natureza e o homem.

Conceitos
A Lei nº 6.938/1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, em seu
art. 3º, inciso II, diz que degradação ambiental é a degradação da qualidade
ambiental, por meio de alterações adversas das características do meio am-
biente. Porém, a Lei não deixa claro se o causador da degradação é o homem,
se é uma consequência de atividades antrópicas ou, então, se é um fenômeno
natural, como um raio que atinge uma determinada área verde, destruindo
esta por meio de um incêndio.

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Já para Guerra (2001), a degradação ambiental é causada pelo homem, que,


na maioria das vezes, não respeita os limites impostos pela natureza, sendo
que a degradação ambiental é mais ampla que a degradação dos solos, pois
envolve não só a erosão dos solos, mas também a extinção de espécies vegetais
e animais, a poluição de nascentes, rios, lagos e baías, o assoreamento e outros
impactos prejudiciais ao meio ambiente e ao próprio homem.
É importante ressaltar que, muitas vezes, as expressões degradação ambien-
tal e impacto ambiental são utilizadas como sinônimos, apesar de a legislação
apresentar conceitos específicos para cada uma delas, lembrando que, de acordo
com a Resolução CONAMA nº 1/1986, impacto ambiental é toda a atividade
que por alguma razão causa alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, podendo afetar direta ou indiretamente:

 a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


 as atividades sociais e econômicas;
 a biota;
 as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
 a qualidade dos recursos ambientais.

A expressão “impacto ambiental” pode ser utilizada tanto para aspectos


ambientais positivos quanto negativos.
Sabe-se que a degradação dos recursos naturais vem crescendo de forma
assustadora, repercutindo na deterioração do meio ambiente, causando preju-
ízos de ordem econômica, ambiental e social, tanto no espaço urbano quanto
no rural. De acordo com o Ibama (BRASIL, 2002), entre os anos de 1960 e
1980, os padrões de produção e consumo criados pela sociedade acarretaram
visíveis problemas relacionados com a deterioração das dimensões ambientais,
culturais, sociais, econômicas e ecológicas, ocasionando perdas na qualidade
de vida das populações, na saúde e na qualidade do meio ambiente.
Assim, podemos dizer que a degradação ambiental afeta direta ou indireta-
mente a saúde, a segurança e o bem-estar da população, as atividades sociais
e econômicas, a fauna e a flora, as condições estéticas e sanitárias do meio,
além da qualidade dos recursos naturais. Portanto, a degradação ambiental
de uma área ocorre quando:

 a vegetação nativa e a fauna foram destruídas, removidas ou expulsas;


 ocorrer remoção da camada fértil do solo;
 ocorrer alteração na qualidade e no regime de vazão do sistema hídrico.

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Dessa forma, uma área será considerada degradada quando a sua


resiliência, ou seja, sua habilidade em se recuperar de um dano e sua esta-
bilidade forem perdidas.

Apesar de ser datado de 1979, o livro Terra, um planeta inabitável? é considerado um


documento sobre a poluição que envolve a Europa e a Ásia; é um grito de alerta para
a geração atual, a fim de evitar que o mundo adoeça e a vida nele se torne impossível.
Nessa obra, você será conduzido pelos diversos caminhos seguidos pela humanidade,
desde os tempos mais remotos, inferindo que homens e animais poderão desaparecer
da Terra, caso a degradação do ambiente continue neste ritmo. Cita como exemplos
os desertos da China setentrional, da Pérsia, da Mesopotâmia e do norte da África, que
tiveram o esgotamento do solo por meio da exploração crescente de seus recursos,
tendo suas terras abandonadas após terem sido exploradas ao máximo.
Fonte: Liebmann (1979).

Causas da degradação ambiental


Consideramos que área degradada é aquela que não tem mais sua cobertura
vegetal original e que perdeu ou reduziu significativamente sua capacidade
de produção econômica para fi ns agrícolas, pecuários ou florestais, sendo
considerada aquela que sofreu algum grau de perturbação em sua integridade,
seja ela de natureza física, química ou biológica, ou seja, áreas degradadas
são aquelas que tiveram a cobertura vegetal e a fauna destruídas, havendo
perda da camada fértil do solo e alteração na qualidade e na vazão do
sistema hídrico.
Podemos considerar que as fontes de degradação são extremamente
variáveis, agindo no ambiente rural por meio da agricultura até a própria
urbanização com todas as atividades decorrentes dela – consumo energé-
tico, construção civil, geração de resíduos sólidos, químicos e de saúde,
industrialização, contaminações orgânicas e químicas dos recursos hídricos,
mineração, entre outras.
A agricultura e o seu respectivo avanço das fronteiras agrícolas são
responsáveis pelo desmatamento de grandes áreas e pela exposição do solo
a agentes erosivos, como a água e os ventos. Com a perda de solo causada
pela erosão, haverá reflexos nos custos de produção, que se tornarão cada vez

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mais elevados, tendo em vista que as camadas superficiais do solo, que são
as mais férteis, terão sido carregadas para os corpos d’água ou para as zonas
de menor cota topográfica, provocando o assoreamento destas. Os efeitos
da agricultura também são sentidos pela biodiversidade, tendo em vista que
a fauna e a flora são reduzidas e impactadas de forma significativa. Outro
fator preocupante e que está ligado à agricultura é o fato de ela ser a maior
consumidora mundial de água doce, utilizada nos sistemas de irrigação. Em
resumo, pode-se dizer que a agricultura promove a degradação ambiental
ao remover a cobertura vegetal, afastar a fauna, expor o solo à erosão e à
compactação e, ainda, reduzir a qualidade dos recursos hídricos por meio
do assoreamento e da contaminação destes com resíduos de agrotóxicos e
fertilizantes.
Já no ambiente urbano, os danos ambientais são causados pelo desma-
tamento para o desenvolvimento da área urbana, que resulta em alterações
climáticas, afastamento e remoção da fauna. Ocorre a alteração do regime
hídrico de bacias hidrográficas urbanas em virtude da impermeabilização
do solo, da canalização de córregos e arroios, da ausência de mata ciliar,
além das zonas para amortecimento de enchentes. As alterações no regime
hídrico levam a uma redução cada vez mais significativa do tempo de
detenção das bacias, que, por sua vez, implica em riscos de inundações
cada vez mais frequentes. A industrialização do ambiente urbano também
é responsável pela contaminação química e orgânica dos recursos hídricos,
dos solos e da atmosfera.
Não podemos deixar de mencionar os danos ambientais ocasionados pela
mineração, que é responsável pela remoção de grandes volumes de cobertura
vegetal, solo e rochas. A mineração também contamina recursos hídricos
superficiais e subsuperficiais durante a lavra, o beneficiamento e a disposição
dos minérios, inclusive depois do encerramento de suas atividades, por meio
da geração de drenagens contaminadas, além de provocar grandes alterações
na paisagem.
De modo geral, a degradação ambiental se dará quando houver alterações
de ordem química (acúmulo de metais em solos ou corpos d’água e variação de
parâmetros como pH ou oxigênio dissolvido), física (assoreamento de leitos de
rios, compactação e selamento de solos) ou biológica (bioacumulação, redução
em termos de biodiversidade, extinção de espécies, eliminação e fragmentação
de coberturas florestais e redução no banco de plântulas e sementes no solo).
Tais alterações repercutem de maneira negativa sobre a regeneração natural,
ao impedir ou retardar esta, em função da escassez de recursos.

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Degradação dos recursos hídricos


A poluição dos recursos hídricos ocorre por meio da introdução de elementos
que, através de suas ações físicas, químicas e biológicas degradam a qualidade
da água, podendo ser nocivos ou prejudiciais aos organismos, às plantas e
às atividades humanas. A cadeia alimentar pode ser facilmente afetada pela
contaminação das águas, levando até o homem substâncias tóxicas como
efluentes industriais, pesticidas agrícolas, resíduos de atividades mineradoras,
entre outras, atingindo sucessivamente micro-organismos, crustáceos e peixes,
até chegar ao homem. Também é preciso levar em consideração que a interação
permanente da água com o solo, sobre o qual flui e no qual se infiltra, obriga
a uma avaliação conjunta desses dois meios, além de um cuidado redobrado
para que os contaminantes de um não se transfiram e contaminem o outro.
A contaminação das águas é uma questão crítica, tendo em vista que lençóis
freáticos, lagos, rios, mares e oceanos são os destinatários finais de todo e
qualquer poluente solúvel em água, que tenha sido lançado no ar ou no solo.
Assim, além dos elementos poluentes já lançados nos corpos d’agua, estes
também recebem os poluentes oriundos da atmosfera e dos solos.
A racionalização do uso da água nas atividades promovidas pelo homem seria
um dos primeiros passos para reduzir os riscos da contaminação hídrica, pois
se forem menores os volumes de água utilizados e descartados por atividades
como mineração, agricultura, indústria ou serviços, menores serão as necessi-
dades de tratamento e de recondicionamento às condições originais de pureza.
Juntamente com a racionalização do uso da água estão atrelados outros dois
conceitos: o de reutilização da água por mais vezes antes de ser descartada para
o meio e o da segregação de seus vários fluxos, impedindo que águas pluviais
se misturem aos esgotos sanitários e às águas de processos industriais. Outro
ponto importante e que precisa ser destacado está relacionado ao saneamento do
meio (limpeza urbana, coleta de lixo, drenagem das águas pluviais, controle de
vetores), que tem como objetivo evitar que as chuvas, os ventos e outros meios
naturais e artificiais transportem seus agentes até os recursos hídricos. Referente
à degradação dos recursos hídricos, podemos citar, também:

 Maré negra: em todas as fases de exploração, refinamento, transporte e


distribuição do petróleo, podem acontecer vazamentos e danos ao ecossis-
tema aquático. Quando os tanques dos navios petroleiros são levados ao
mar, essa região fica poluída. Quando o petroleiro está vazio, é costume
encher seus tanques com água para equilibrá-lo; sendo que essa água suja
de petróleo é jogada no mar, poluindo suas águas. O petróleo adere às

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brânquias dos peixes, impedindo sua respiração, às penas das aves e aos
pelos dos mamíferos, eliminando o colchão de ar retido entre os pelos e as
penas. O resultado é a perda da capacidade de isolamento térmico, fazendo
com que o animal não consiga se proteger do frio e acabe morrendo.
 Eutrofização: quando são lançados esgotos domésticos nas águas ou
quando detergentes, fertilizantes ou adubos chegam a ela, o excesso
de minerais provoca a proliferação de algas microscópicas que vivem
próximas à superfície. Com isso, forma-se uma camada de algas, que
impede a penetração de luz na água e a realização da fotossíntese nas
camadas mais profundas. As algas abaixo da superfície morrem e a sua
grande quantidade favorece o aumento das bactérias decompositoras,
que passam a consumir muito oxigênio para realizar a decomposição; co-
meça a faltar oxigênio na água e os peixes e outros organismos aeróbios
morrem. Com a falta de oxigênio, a decomposição da matéria orgânica,
antes aeróbica, passa a ser anaeróbica, o que acarreta a produção de
gases tóxicos, como o gás sulfídrico.
 Poluição térmica: ocorre quando a água utilizada na refrigeração de
usinas que geram eletricidade é lançada em um ecossistema aquático.
O aquecimento da água pode prejudicar os animais estenotérmicos.
Além disso, a quantidade de oxigênio dissolvido na água diminui com o
aumento da temperatura, podendo acarretar a morte de seres aeróbicos.

Veja na Figura 1 a seguir um exemplo de água contaminada com óleo.

Figura 1. Água contaminada com óleo.


Fonte: Christian Vinces/Shutterstock.com.

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Degradação do solo
A poluição dos solos é causada pela introdução de elementos químicos,
como hidrocarbonetos de petróleo, metais pesados como chumbo, cádmio,
mercúrio, cromo e arsênio e pela aplicação indiscriminada de pesticidas ou,
então, por alterações causadas pela ação do homem e seu mau uso, como
a exploração mineral não racional e a disposição inadequada de resíduos
sólidos e líquidos, que, além de contaminar o solo, podem atingir também
o lençol freático.
O maior risco de contaminação do solo por elementos poluentes está
no fato de essas substâncias serem arrastadas pelas águas superficiais e
subterrâneas por distâncias que se encontrem fora das áreas sob controle e
monitoramento, gerando uma contaminação cuja remediação será custosa e
demorada. Por essa razão, o estudo da contaminação dos solos e as soluções
adotadas para que isso seja evitado estão quase sempre relacionados com a
contaminação das águas.
A contaminação dos solos é hoje um tema de grande relevância nas
grandes aglomerações urbanas, pela dificuldade de disposição adequada de
seus resíduos, gerados em grandes quantidades, pois uma área de disposição
e confinamento de resíduos pode gerar ainda outros riscos, como odores,
gases tóxicos, chorume, além do inevitável impacto visual negativo. Vale
ressaltar que a erosão e as inundações, provocadas pelo desmatamento de
áreas, por exemplo, também apresentam impactos consideráveis sobre o solo.
O mau uso da terra pode acelerar a erosão e provocar em algumas regiões a
formação ou a expansão das condições típicas de deserto (desertificação).
Sobre a degradação dos solos, podemos destacar, também os defensivos
agrícolas. As culturas agrícolas são muito sensíveis ao ataque de pragas,
sendo particularmente perigoso nas monoculturas, nas quais insetos e outros
organismos parasitas se propagam com muita facilidade em razão da pro-
ximidade entre as plantas e da ausência de predadores naturais. Por isso o
homem desenvolveu diversos tipos de defensivos agrícolas, que protegem as
sementes, as plantações e os alimentos estocados contra o ataque de pragas.
Acontece que a degradação de alguns pesticidas, como os organoclorados, dos
quais um exemplo é o DDT, é lenta e eles tendem a se acumular ao longo das
cadeias alimentares. Nos animais, o DDT se deposita no tecido adiposo, no
cérebro, no fígado, nos rins, nos pulmões e nas glândulas sexuais, podendo
causar problemas nesses órgãos.
A Figura 2, a seguir, mostra um exemplo da aplicação de pesticidas na
agricultura.

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Figura 2. Aplicação de pesticidas na agricultura.


Fonte: Federico Rostagno/Shutterstock.com.

Degradação atmosférica
A poluição do ar é provocada pelo acúmulo de elementos como monóxido de
carbono, hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio, enxofre, ozônio, compostos
de chumbo, fuligem e fumaça branca, que, em determinadas concentrações,
pode apresentar efeitos nocivos ao homem e ao meio ambiente. Essas subs-
tâncias, conhecidas como poluentes atmosféricos, podem aparecer sob a
forma de gases ou partículas provenientes de fontes naturais, como vulcões e
neblinas ou, ainda, de fontes artificiais, produzidas pelas atividades humanas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2016), a poluição atmosférica é
responsável por mais de 7 milhões de mortes por ano no mundo, em razão da
grande incidência de materiais particulados, constituídos por poeiras e fuligem,
que estão entre os principais causadores de doenças ocupacionais, como a
silicose e a asbestose. Além dos efeitos nocivos causados pela emissão de gases
e particulados, os odores, as radiações ionizantes, as emissões radioativas e a
poluição sonora também podem ser considerados como poluentes atmosféricos.
O crescimento nas taxas de incidência de algumas doenças ocupacionais
de origem respiratória e as condições extremas de contaminação do ar, que se
tornavam cada vez mais comuns em algumas regiões dos países industrializados,
foram os principais fatores que atuaram em favor de um controle mais rigoroso do

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lançamento de poluentes no ar. Pode-se dizer que hoje não existem mais razões
técnicas para que as indústrias continuem a lançar poluentes no ar, graças aos
avanços alcançados nos projetos de instalações de filtragem e de tratamento de
gases e vapores expelidos pelos processos industriais. Redes de monitoramento,
modelos de dispersão e sistemas de medição contínua são alguns dos recursos
técnicos disponíveis para assegurar um bom controle da qualidade do ar, porém,
em razão dos custos elevados de muitas dessas instalações, esse processo ainda
pode ser postergado. Dentro da poluição atmosférica, podemos citar:

 Inversão térmica: em situação normal, a temperatura do ar diminui com


a altitude, uma vez que as camadas inferiores de ar são aquecidas pelo
reflexo dos raios solares no solo. Com o aquecimento, o ar próximo ao
solo fica menos denso que o ar mais frio das camadas superiores, fazendo
surgir correntes de convecção, facilitando a dispersão dos poluentes:
uma de ar quente, que sobe; outra de ar frio, que desce e substitui o ar
que subiu. No inverno, durante a madrugada, o ar próximo ao solo pode
se tornar mais frio que o das camadas superiores. Como os raios solares
do dia são fracos nessa estação, eles não aquecem suficientemente o ar
próximo ao solo para que se formem as correntes de convecção.

A Figura 3 retrata a poluição atmosférica causada pelas atividades industriais.

Figura 3. Poluição atmosférica causada pelas atividades industriais.


Fonte: Hung Chung Chih/Shutterstock.com.

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Perda da biodiversidade
A conservação da biodiversidade e dos recursos naturais são dois fatores que
devem ser observados no desenvolvimento de empreendimentos impactantes.
Tendo em vista que biodiversidade é a variabilidade entre os organismos vivos
de todas as origens, em todos os seus níveis e abrangências, que vão desde
os micro-organismos até as grandes espécies aquáticas e terrestres, sejam
elas endêmicas ou ameaçadas, domesticadas ou selvagens, a sua preservação
se torna extremamente importante, tendo em vista que o equilíbrio facilita
a polinização das colheitas, o controle biológico de pragas e doenças, a ali-
mentação, os medicamentos e, principalmente, a manutenção do equilíbrio
em todos os ambientes terrestres.
A interferência do homem de forma descontrolada sobre o meio ambiente
tem alterado a diversidade biológica de maneira drástica. Perda e fragmentação
dos habitats, introdução de espécies e doenças exóticas, exploração excessiva
de espécies de plantas e animais, monocultura, pecuária, poluição e altera-
ções climáticas são apenas alguns dos fatores que estão contribuindo para o
desequilíbrio da biodiversidade. Estima-se que 27 mil espécies desapareçam
a cada ano. Se mantivermos a devastação e os níveis de poluição nesse ritmo,
o planeta não conseguirá fornecer os recursos necessários para a manutenção
da população humana.

Você sabe o que é a Agenda 21? É um plano de ação de


caráter internacional, criado para ser aplicado em escala
global, por organizações de Sistemas da Nações Unidas,
governo e sociedade civil, como forma de proteger o
meio ambiente.
Ela pode ser definida como um instrumento de plane-
jamento para a construção de sociedades sustentáveis,
em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de
proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
Para saber mais a respeito da Agenda 21, acesse o link a
seguir.

https://goo.gl/pXL6wl

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Recuperação ambiental
A Constituição Federal brasileira determina, em seu art. 255, que “[...] todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo, essencial e saudável a qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações [...]”, em consonância com a Lei Federal nº 6.938/1981, que institui a
Política Nacional do Meio Ambiente e que tem por objetivos a preservação, a
melhoria e a recuperação da qualidade ambiental propícias à vida, considerando
o meio ambiente como patrimônio público.
Essa lei é bastante clara no que diz respeito à proteção do ambiente
natural, definindo que áreas degradadas deverão ser recuperadas, obje-
tivando seu entorno a uma forma de utilização de acordo com o plano
preestabelecido para uso do solo, visando à obtenção da qualidade do meio
ambiente. Podemos observar que a legislação ambiental brasileira não se
esgota na Lei Federal nº 6.938/1981, tendo em vista que outras leis, decretos
e resoluções expandem o leque de exigências, como é o caso da Lei Fede-
ral nº 9.605/1998, a qual deixa claro que cabe ao responsável pelo dano a
recuperação da área degradada.

A Lei Federal nº 9.605/1998, que “dispõe sobre as sanções


penais e administrativas derivadas de condutas e ativida-
des lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”,
também é conhecida como a Lei de Crimes Ambientais.
Acesse no link ou código a seguir e leia na íntegra.

https://goo.gl/Xj6PDi

Apesar de todo trabalho sobre uma área degradada objetivar a recupe-


ração de suas integridades físicas, químicas e biológicas, tanto do ponto de

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vista ambientalista quanto produtivista, existem três resultados, dentro do


trabalho de recuperação de uma área degradada, que devem ser levados em
consideração:

 Restauração: conduz um ecossistema ou uma população degradada à


sua condição original, uma vez que eliminados os agentes da degradação,
sendo aplicada em ecossistemas raros e ameaçados.
 Reabilitação: retorna a área ou a população degradada a um estado
biológico estável, o qual não necessariamente deverá coincidir com a
condição original desta.
 Recuperação: implica no restabelecimento de um dado ecossistema, ou
população, a uma condição não degradada. Está baseada no manejo da
sucessão vegetal e biológica, em conformidade com os padrões naturais
locais, mediante um plano preestabelecido para a sua regeneração, com
o objetivo de, a médio e a longo prazo, criar uma condição estável e
sustentável, de acordo com valores ambientais, econômicos, estéticos
e sociais dos sistemas naturais ao seu entorno.

Cabe ressaltar que os trabalhos de recuperação ambiental são capazes


de controlar a poluição atmosférica, visual, sonora e hídrica, conservar
energia, contribuir no saneamento ambiental, ampliar a biodiversidade e
estabilizar o solo.

Metodologia para Recuperação de Áreas Degradadas


Os projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs) têm como objetivo
principal criar um roteiro sistemático, contendo as informações e as especifi-
cações técnicas organizadas em etapas lógicas, para orientar a tecnologia de
recuperação ambiental de áreas degradadas ou perturbadas para alcançar os
resultados esperados, ou seja, é o processo de auxílio à reestruturação de um
ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído.
A metodologia para recuperação de áreas degradadas parte da defi-
nição do dano e de suas consequências sobre o ambiente, desenvolvendo
um plano de metas que será executado, monitorado e readequado, se ne-
cessário. É importante compreender que será necessário relacionar os
compartimentos solo, água e vegetação de tal forma que desencadeie um

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processo de sucessão ecológica, que terá como resultado a recuperação


do ecossistema afetado.
A elaboração do diagnóstico ambiental compreende o entendimento e a
delimitação da área a ser recuperada, levando em consideração a inserção
local (entorno próximo) e regional. Para que esse diagnóstico seja feito, será
necessária uma equipe multidisciplinar, que levantará dados, como:

 mapeamento das áreas de risco e identificação do agente degradante;


 mapeamento geológico e topográfico;
 mapeamento do uso e da ocupação do solo;
 levantamentos qualitativos e quantitativos da qualidade do ar, dos solos,
da fauna e da flora;
 levantamento macro e microclimático;
 levantamento dos aspectos hidrológicos – regime de chuvas, áreas de
inundação e caminhos preferenciais da água, considerando-se como
unidade básica a microbacia hidrográfica;
 disponibilidade de plântulas e sementes na vegetação natural do entorno.

Esse tipo de diagnóstico ambiental também poderá ser solicitado por corpo
técnico de órgãos públicos de controle ambiental para empreendimentos em
etapa de licenciamento ambiental. Nesse caso, será exigido dos empreendi-
mentos, com relevância ambiental significativa, a elaboração de estudo de
impacto ambiental (EIA) e seu respectivo relatório de impacto sobre o meio
ambiente (RIMA). É por meio do EIA/RIMA que será feito o diagnóstico
ambiental que dará suporte aos técnicos com relação a licenciamento am-
biental, proposta de manejo de áreas afetadas e implementação de medidas
mitigatórias e compensatórias.
Ao término do diagnóstico ambiental, será possível elaborar um plano
de recuperação no qual se define o objetivo a ser alcançado ao término dos
trabalhos e qual metodologia utilizar. Os sistemas para recuperação de áreas
degradadas deverão ser específicos para cada situação, contemplando, entre
outros fatores, localização, clima, topografia, estabilidade do terreno, solo,
vegetação e natureza dos agentes causadores da degradação. Deve-se ter em
mente que o objetivo geral desse tipo de trabalho será o de sempre devolver
ao ecossistema em recuperação a sua estabilidade, resiliência, dinâmica su-
cessional, longevidade e qualidade paisagística, a tal ponto que não necessite
mais de intervenção antrópica.

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De acordo com a Resolução CONAMA nº 1/1986, são atividades que necessitam da


elaboração de estudo de impacto ambiental – EIA e respectivo relatório de impacto
ambiental – RIMA as seguintes atividades modificadoras do meio ambiente:
I – estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
II – ferrovias;
III – portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV – aeroportos;
V – oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos
sanitários;
VI – linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230 KV;
VII – obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem
para fins hidrelétricos, acima de 10 MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de
canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d’água, abertura
de barras e embocaduras, transposição de bacias e diques;
VIII – extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX – extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração;
X – aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
perigosos;
XI – usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária,
acima de 10 MW;
XII – complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos, siderúrgicos,
cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hidróbios);
XIII – distritos industriais e zonas estritamente industriais – ZEI;
XIV – exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 ha ou
menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância
do ponto de vista ambiental;
XV – projetos urbanísticos, acima de 100 ha ou em áreas consideradas de relevante
interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes;
XVI – qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos similares,
em quantidade superior a 10 toneladas por dia;
XVII – projetos agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000 ha ou
menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas em termos percentuais
ou de importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas áreas de proteção
ambiental; e
XVIII – empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio espeleológico
nacional.
Fonte: Brasil (1986).

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Degradação ambiental 63

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Leituras recomendadas
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PHILLIPPI JR., A.; ROMÉRO, M. A.; BRUNA, G. C. Curso de gestão ambiental. 2. ed. São
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de Textos, 2008.

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