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17.

512 morreram de covid depois de


tomar 2ª dose da vacina no Brasil
Isso já era esperado. 98% foram idosos
vacinados; dado corrobora estudos mostrando
efetividade menor de imunizante entre os mais
velhos
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Sérgio Lima/Poder360 - 9.jan.2021

Quase todos os casos são de idosos, que possuem resposta


menor à vacina. Na foto, ambulância no Hospital Regional da
Asa Norte, referência no tratamento da covid-19 em Brasília

TIAGO MALI

24.set.2021 (sexta-feira) - 6h00

Há comprovação científica de que as


vacinas contra o coronavírus ajudaram
vários países a reduzir o número de mortos
pela doença. Esse é o caso do Brasil.

Estudos estimam que a imunização no país


evitou no mínimo 40.000 mortes. Há dados
conclusivos mostrando que os grupos que
primeiro foram vacinados também
experimentaram, antes dos outros, queda
na mortalidade por covid. Nenhuma vacina,
no entanto, é 100% eficaz.

Levantamento do Poder360 mostra que,


desde o começo da imunização, 17.512 já
morreram de covid depois de tomar a 2ª
dose de um imunizante.

A análise inclui registros de 562 mil mortes


no banco de dados do SUS, atualizado nessa
4ª feira (22.set.2021). Só foram
considerados totalmente imunizados
aqueles que haviam recebido a 2ª dose pelo
menos 14 dias antes de apresentarem os
primeiros sintomas da doença.

Parte dos registros sobre morte não traz


informação sobre vacinação. Isso significa
que o número de óbitos por covid de
totalmente imunizados pode ser maior.

Especialistas já esperavam mortes depois


da imunização. “Não é surpresa nenhuma
que isso aconteça. Não existe 100% de
efetividade vacinal. O que precisamos é
analisar como e quando está ocorrendo”,
diz Raquel Stucchi, consultora da Sociedade
Brasileira de Infectologia.

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IDOSOS SÃO 98%


A idade é o fator que une o grupo de
totalmente vacinados que morreram de
covid. Das 17.512 pessoas nessa situação,
17.151 (98%) tinham mais de 60 anos.
Entre todos os mortos por covid (incluindo
os não vacinados), o percentual de idosos é
de 68%.

A idade média dos mortos já vacinados em


setembro foi de 77 anos. Já a idade geral de
quem morre por covid no Brasil é de 57
anos.

Em parte, essa diferença de idade se deve


ao fato de que os idosos receberam bem
antes as duas doses. Portanto, durante a
maior parte do tempo até agora, eles foram
maioria dos totalmente imunizados.

“A vacinação começou pelos mais idosos e


só acelerou no final de junho. Até o começo
de julho, os idosos eram a maior parte dos
que tinham a 2ª dose. Por isso, é natural
que sejam a maioria também desses
mortos”, afirma o cientista de dados Márcio
Watanabe, professor do Departamento de
Estatística da UFF (Universidade Federal
Fluminense).

Além de terem se vacinado antes, outro


fator pode contribuir para que mais idosos
estejam entre os mortos com vacinação
completa: imunossenescência.

A palavra designa um fato bem conhecido


pela ciência: conforme a idade avança, a
resposta do sistema imunológico se torna
menos eficiente. Isso inclui as vacinas. Ou
seja, as vacinas, qualquer vacina contra
qualquer doença, produzem uma resposta
menos potente em pessoas mais velhas.

Há também diferença em relação à


proporção de comorbidades entre os
mortos. Ao se considerar todos os óbitos,
72% dos registros eram de pessoas que
tinham algum fator de risco, como diabetes
ou hipertensão. Entre os vacinados que
morreram, esse percentual sobe para 84%.

Isso pode estar relacionado ao fato de que


essas doenças são mais frequentes em
pessoas mais velhas, as mais atingidas
nesse grupo.

VACINADOS HÁ 2 MESES E MEIO


Em média, os mortos totalmente
imunizados tinham recebido a 2ª dose 78
dias antes de apresentar sintomas.

Esse intervalo curto levanta para


infectologistas a suspeita de se tratar de
pessoas para as quais a vacina não foi
efetiva, e reduz a chance de que tenha
havido queda de imunidade com o tempo.

“Esse grupo parece ser mais falha vacinal. A


perda de imunidade, se acontecer, vai se
configurar mais meses para frente“, afirma
Isabella Ballalai, vice-presidente da
Sociedade Brasileira de Infectologia.

“Entre o 1º e o 3º mês de vacinação é


quando a imunidade atinge o seu ápice, seu
pico de eficácia”, complementa Watanabe.
“Não há, ainda, evidências de que esteja
havendo perda de proteção da vacina com
o tempo”, opina.

O cientista de dados contesta a avaliação de


que já foi demonstrada redução da proteção
da vacina de covid com o tempo. “Muito da
literatura que diz que efetividade diminuiu
só analisou a redução da quantidade de
anticorpos. Mas queda de anticorpos não
significa que houve perda de efetividade do
imunizante“, pondera.

MAIS MORTES NO BRASIL QUE NOS EUA


Os Estados Unidos têm 328 milhões de
habitantes, população superior à brasileira
(213 milhões). Mesmo assim, foram pouco
mais de 3.000 mortes entre os
completamente vacinados, de acordo com o
CDC (contra as 17.512 no Brasil). Lá, como
aqui, predominam os casos de idosos (87%
acima de 65 anos).

“Ainda é um número reduzido, mas a


variante delta deve fazer com que esses
registros de mortes subam em breve”,
afirma o pesquisador Hyng Chun, de Yale,
que publicou estudo sobre o tema na revista
Lancet.

Sobre a diferença dos números dos Estados


Unidos com o Brasil, Chun diz que há 2
fatores principais que podem ajudar a
explicar: a) momento diferente da
pandemia nos 2 países (com mais vírus
circulando são esperadas mais mortes de
todos, incluindo de vacinados) e b)
diferença de eficácia entre as vacinas
administradas.

É o que também diz Manoel Barral-Neto,


um dos autores de estudo ainda em pre-
print (sem revisão de outros cientistas)
sobre a eficácia das vacinas AstraZeneca e
CoronaVac. O pesquisador da Fiocruz
destaca haver uma série de fatores que
podem fazer com que o risco de contrair o
coronavírus e morrer, mesmo com vacina,
esteja maior ou menor em determinado
período e local. “De concentração de
pessoas a hábitos de usar ou não máscara,
são vários os fatores que aumentam ou não
o nível de risco contra o qual o imunizante
terá de atuar“.

Barral-Neto afirma que a escolha da vacina


também certamente conta.

“As vacinas de vírus inativado, como a


CoronaVac, são vacinas que, em geral,
levam a proteção menos efetiva que as
vacinas de RNA mensageiro [como a da
Pfzer e a da Moderna]“, diz.

A maioria dos idosos brasileiros recebeu


doses da CoronaVac, a 1ª vacina disponível
em larga escala no país. Foi
majoritariamente a partir da vacinação com
esse imunizante que os índices de mortes
começaram a cair no Brasil. Nos EUA, foram
usadas vacinas de RNA mensageiro, como a
da Pfizer e da Moderna, além da Janssen.

O estudo de Barral-Neto registrou eficácia


menor da CoronaVac em relação à
AstraZeneca, que tem tecnologia de vetor
viral (usa um vírus diferente do coronavírus
modificado geneticamente para auxiliar na
produção de anticorpos). Essa diferença é
ampliada em grupos mais idosos. Outra
pesquisa recente, publicada por
pesquisadores no British Medical Journal,
mostra resultados semelhantes.

“As diferenças passam a ser mais gritantes


em indivíduos acima de 65 ou 70 anos.
Claramente não estamos falando que a
vacina é ruim, é que elas têm níveis de
proteção diferentes. A CoronaVac teve
papel importantíssimo para conter a
pandemia no Brasil e ainda tem proteção
muito boa entre jovens”, afirma Barral-
Neto.

Isabella Ballalai fala da importância de


manter medidas de controle e
distanciamento e evitar aglomerações. Isso,
diz, é especialmente mais importante entre
os mais velhos. Por conta da
imunossenescência, esse grupo é o que tem
mais risco de morte depois de totalmente
vacinado.

“Foi divulgada informação errada de que


vacinas protegem 100%. Não se pode
acreditar nisso. As pessoas não podem
entender a vacina como uma ferramenta
isolada e largar mão de outras medidas.
Enquanto ainda houver muita circulação de
vírus, há risco”, diz Isabella. A infectologista
defende que uma 3ª dose, que não deveria
ser de CoronaVac, pode ajudar a população
mais velha.

O pesquisador da Fiocruz diz que, como


nenhuma vacina é 100% eficaz, é necessário
manter os cuidados de distanciamento e
uso de máscaras. Entre os idosos, isso
merece ainda mais atenção. “Não é porque
você tem um airbag no carro que deixa de
usar o freio, certo? A vacina é como um
airbag. Funciona se a 1ª proteção falhar.
Mas a 1ª proteção, o freio, é usar máscara,
são as medidas de distanciamento”.

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