Você está na página 1de 11

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DA _____ VARA

DO TRABALHO DE GRAVATAÍ - RS

JÉSSICA MORAES, brasileira, casada, desempregada, portadora


do RG nº 1011486307 e CPF nº 05864016089, CTPS nº
0432482/0001-0, residente e domiciliada à Rua dos Prazeres,
número 250, Bairro Vila Ipiranga, CEP 039690354, nesta capital,
por seu procurador infra-assinado (procuração anexa), vem
respeitosamente à presença de Vª EXª., propor:

RECLAMATÓRIA TRABALHISTA, em face de:

COBRANÇAS POR TELEFONE LTDA., pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob o número 66807168/0001-38, com
endereço à Avenida Getúlio Vargas, nº 1200, Bairro Centro, CEP
048780594, Gravataí/RS, o que faz de acordo com os fundamentos
fáticos e jurídicos a seguir expostos:

1. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Preliminarmente requer a Reclamante a JUSTIÇA GRATUITA, por estar


desempregada (conforme CTPS em anexo), ser pobre no sentido legal e não ter
condições de arcar com os custos da presente demanda sem prejuízo de seu
sustento e de sua família, razão pela qual pretende os benefícios da Assistência
Judiciária Gratuita, com base no artigo 98 do CPC c/c §3º do artigo 790 da CLT.
2

2. DOS FATOS

A reclamante foi admitida pela reclamada em 22/03/2016, para exercer


atividade de telemarketing, efetuando ligações para recuperar créditos de
clientes inadimplentes com o Banco Valor Financeiro S/A.

Em 11/11/2019 foi demitida por justa causa, sem aviso prévio, sob a
alegação de que não era profissional engajada nos propósitos da empresa, não
se elencando, portanto, em nenhum dos motivos previstos no artigo 482 da
CLT.

Percebia como último salário a quantia de R$ 2.500,00 por mês.

Até o presente momento, não recebeu nenhuma verba rescisória e nem a


documentação necessária para o seguro desemprego.

Por tais circuntâncias fáticas e pelos acontecimentos que serão


demonstrados alhures (lesão do direito), maiormente motivada pela ilegalidade
na dispensa.

Assim, outra saída não há, senão buscar amparo judicial para garantir
todos os seus direitos.

3. DA CONVERSÃO DA DESPEDIDA POR JUSTA CAUSA EM SEM


JUSTA CAUSA

A reclamada demitiu a Reclamante sob alegação de justa causa.


3

Com base no Poder Empregatício, especialmente o Poder Disciplinar, o


empregador poderá aplicar penalidades aos seus empregados, quais sejam:
advertência, suspensão e despedida por justa causa.

Com efeito, vale ressaltar que a dispensa por justa causa é a penalidade
mais grave prevista no ordenamento justrabalhista vigente.

Dessa forma, para que o empregador pratique essa punição, são


exigidos diversos requisitos cumulativos, de ordem objetiva, subjetiva e
circunstancial, a serem demonstrados pelo empregador, com supedâneo no
principio da continuidade da relação de emprego (Súmula 212 TST).

Objetivos são os requisitos que concernem à caracterização da conduta


obreira que se pretende censurar. São eles: tipicidade da conduta obreira,
natureza da matéria envolvida e gravidade da conduta do trabalhador.

Subjetivos são os requisitos atinentes ao envolvimento (ou não) do


trabalhador na respectiva conduta, tais como a autoria obreira da infração e seu
dolo ou culpa com respeito ao fato ou omissão imputados.

Circunstanciais são os requisitos que dizem respeito à atuação disciplinar


do empregador em face da falta be do obreiro envolvido. São inumeros, a saber:
nexo causal entre a falta e a penalidade; adequação entre a falta e a pena
aplicada; proporcionalidade entre eles; imediaticidade da punição; ausência de
discriminação; caráter pedagógico do exercício do poder disciplinar, com a
correspondente gradação das penalidades.

No caso em tela, a reclamante foi despedida sob a alegação de que não


era profissional engajada nos propósitos da empresa, não sendo portanto
4

motivo de falta grave que se enquadrasse nos requisitos cumulativos retro


aduzidos, restando caracterizado abuso no exercicio do poder disciplinar.

Assim, requer a conversão de despedida por justa causa em despedida


sem justa causa, com a consequente condenação da reclamada ao pagamento
das verbas rescisórias devidas.

4. AVISO PRÉVIO

Como a demissão por justa causa sofrida pelo Reclamante é nula, é


devido o pagamento do aviso prévio e seu cômputo no tempo de trabalho para
todos os fins de direito.

O art. 487, §10 da CLT, art 7º, XXI da Constituição Federal e ainda a lei
12.506/2011, estabelecem o dever do empregador de indenizar o empregado
quando aquele deixa de cumprir o aviso prévio, deve a Reclamada ser
condenada ao pagamento.

5. DA JORNADA DE TRABALHO – HORAS EXTRAS:

Via de regra, a reclamante laborava das 13h às 23 horas, de segunda a


sexta-feira, com 30 minutos de intervalo para refeição e descanso, e aos
sábados das 08h às 14:20 horas, com vinte minutos de intervalo para refeição e
descanso.

O art. 7º. XIII, da CF/1998, determina que a duração do trabalho normal


não poderá exceder a 8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) horas
semanais.
5

Ademais, o mesmo art. 7º, em seu inciso XVI, prevê o adicional de hora
extra de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) sobre a hora normal.

No caso em tela, a Reclamante ultrapassava a duração de trabalho


semanal em 10 (dez) horas extras, sem o respectivo pagamento.

Pelo exposto, requer seja a Reclamada condenada ao pagamento de 10


(dez) horas extras semanais com os devidos reflexos em saldo de salário, aviso-
prévio, 13.º salário, descanso semanal remunerado, férias acrescidas do terço
constitucional e FGTS com a indenização compensatória de 40% (quarenta por
cento).

6. DO ADICIONAL NOTURNO

A reclamante trabalhava de segunda a sexta-feira das 13h às 23h. Aos


sábados, trabalhava das 08h às 14:20h.

De acordo com o artigo 73 e parágrafos da CLT, a jornada de trabalho


desempenhada das 22 horas às 5 horas é considerada trabalho noturno, sendo
a hora computada como de 52 minutos e 30 segundos e devendo ser paga com
acréscimo de no mínimo 20% (vinte por cento).

Assim, a reclamante realizava uma hora de trabalho noturno por dia, de


segunda a sexta-feira.

Entretanto, a reclamada jamais efetuou o pagamento do adicional noturno


devido.
6

Portanto, requer seja a reclamada condenada ao pagamento do adicional


noturno correspondente a 5 horas mensais, além de reflexos sobre férias,
décimo terceiro salário, aviso prévio, DSR e FGTS.

7. DA EQUIPARAÇÃO SALARIAL

Hostilizando o art. 461 da CLT, bem como os preceitos do artigo 5º e 7º


da Constituição Federal de 1988, a reclamada não pagou a reclamante o salário
a que fazia jus, posto que, sempre exerceu as mesmas funções de uma colega
de trabalho, admitida em 16 de abril de 2015, sendo referido paradigma recebia
salário superior ao da reclamante no valor de R$ 2.900,00 por mês, pelo que,
faz jus a autora à equiparação salarial, durante todo o contrato de trabalho,
devendo referidas diferenças incidirem sobre férias mais 1/3 (um terço),
gratificação natalina, horas extras e adicional noturno e, reflexos destas nos
depósitos fundiários do FGTS e verbas rescisórias.

Cabe salientar que a Reclamante exercia função idêntica ao do


paradigma, com o trabalho de igual valor, ou seja, com a mesma produtividade e
perfeição técnica, bem como os seus serviços era prestados na mesma
localidade, dentro das dependências da Reclamada.

Para comprovação cabal do direito da Autora à equiparação salarial,


requer-se que a Reclamada seja compelida a apresentar, em primeira
audiência, cópia da ficha de registro de Reclamante e paradigma, bem como
respectivos recibos de pagamento, requerimento que se faz na forma do artigo
355 do CPC, sob penas do artigo 359 do mesmo diploma legal.

8. DAS VERBAS RESCISÓRIAS - APLICAÇÃO DO ARTIGO 477 DA


CLT
7

O art. 477, §8, da CLT, dispõe que o empregador deve pagar multa
equivalente ao seu salário em caso de atraso no pagamento das verbas
rescisórias.

Conforme esclarecido, o presente caso versa sobre reversão da justa


causa aplicada. Assim, uma vez reconhecida a reversão pelo Poder Judiciário,
deve ser deferida a multa prevista no citado dispositivo legal, haja vista que foi a
conduta ilegal da reclamada que acarretou o não pagamento das verbas
rescisórias no prazo estipulado pelo próprio art. 477, da CLT.
Diante do exposto requer a condenação da reclamada ao pagamento da
multa prevista no art. 477, §8, da CLT.

9. DO DANO MORAL

De acordo com o art. 114, VI, da Carta Magna, a Justiça do Trabalho


também é competente para julgar as ações com pedido de indenização por
dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho.

O dano moral caracteriza-se como a ofensa ou violação dos bens de


ordem de uma pessoa, tais sejam o que se referem a sua liberdade, a sua
honra, a sua saúde (mental ou física) e a sua imagem.

No caso em tela, a reclamante menciona que seu superior hierárquico,


representante da reclamada, Sr João da Silva, cobrava-lhe produtividade nas
cobranças, reivindicando um número de 30 cobranças realizadas no dia, com o
fechamento de pelo menos 10% das ligações com sucesso. Por diversas vezes,
todavia, não conseguiu atingir os parametros exigidos, em função de fatores
alheios a sua vontade e dedicação. Quando tal ocorria, o seu superior gritava
8

com ela no setor, chamando-a de incopetente e preguiçosa, na presença dos


demais colegas.

Como pode ser notado, é possível perceber facilmente a caracterização


do dano moral quando seu empregador proferiu uma série de ofensas na frente
de seus colegas de trabalho, atingindo sua dignidade e honra com palavras de
baixo calão. Diante disto, a reclamante se sentiu extremamente desvalorizada
pelo seu trabalho, na qual sempre buscou exercer seus serviços com a devida
dedicação e honestidade em todo tempo que trabalhou para reclamada.

Nesse sentido, a obreira clama pela condenação da Reclamada ao


pagamento de uma indenização à título de danos morais, com base nos fatos
narrados.

Dessa forma, requer a condenação da Reclamada ao pagamento de uma


indenização a título de danos morais.

10. DEVOLUÇÃO DE DESCONTOS

Se faz necessário nesse tópico reiterar que a Reclamante mesmo não se


encontrando no rol de sindicalizados, ainda assim sofreu diversos descontos a
título de contribuição negocial sindical, ocorrendo então uma enorme lesão,
ficando a empresa obrigada a efetivar a devida devolução dos valores
descontados indevidamente, acrescidos de juros e correção monetaria.

DOS PEDIDOS
9

ANTE O TODO EXPOSTO, respeitosamente a reclamante


requer:

a) A citação da reclamada para, requerendo, comparecer a


audiência e responder à presente, sob pena do decreto de sua
revelia e consequente aplicação dos efeitos da confissão,
presumida, quanto à matéria fática (CLT, art. 844, caput);

b) Requer os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, por ser a


Reclamante pobre no sentido legal, não podendo arcar com as
custas do processo sem prejuízo de seu sustento e de seus
familiares, conforme declaração que faz forma e sob as penas da
lei.

c) Reversão da dispensa por justa causa em dispensa imotivada,


com o pagamento das verbas rescisórias que foram sonegadas,
ou seja, aviso prévio, férias proporcionais +1/3, décimo terceiro
salário proporcional e multa de 40% sobre o saldo do FGTS;

d) A condenação da reclamada ao pagamento da multa do art. 477,


§8, da CLT.

e) Horas extras, acrescidas do adicional legal ou convencional,


quando mais benéfico, com integração e reflexos em férias
acrescidas de 1/3, 13º salário, RSR, aviso prévio, FGTS e multa
de 40%;

f) Adicional noturno de 20% sobre o salário, considerando a


redução da hora noturna, com reflexos no aviso prévio, férias,
13º salário e horas extras;
10

g) pagamento das férias da contratualidade, acrescidas de 1/3, de


forma dobrada, simples e proporcional, com reflexos nos valores
relativos ao FGTS e multa de 40%, conforme item 6 da exordial;

h) Aplicação da multa do art. 477, §8, da CLT, de acordo com o


entendimento do seu cabimento pela jurisprudência;

i) Pagamento de indenização por danos morais, em valor a ser


arbitrado pelo julgador;

j) Que seja devida a obrigação da empresa em cumprir com a


devolução dos descontos a título de contribuição sindical;

k) A condenação da reclamada a indenizar a reclamante a pagar


o Aviso prévio.

l) Seja condenada no pagamento das verbas sucumbenciais e


honorários advocaticios em 20% (vinte por cento) com fulcro no
art. 133 da Carta Magna e art. 20 do CPC, aplicavel de forma
subsidiária ao Processo do Trabalho.

REQUER, finalmente a produção de todas as provas de direito admitidas,


especialmente o depoimento do representante legal da requerida, sob pena de
confesso, ouvidas as testemunhas, juntada de documentos novos bem como
outras provas que se revelarem necessárias no desenvolvimento da
controvérsia.

Dá-se à causa o valor de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

Porto Alegre, 10 de outubro de 2021.

Julia Zaikowksi Leivas


11

OAB/RS

Você também pode gostar