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Capítulo II

Teorias e Técnicas do Jogo


Administre Bem sua Equipe

Não tenha dúvidas, sua equipe precisa apresentar resultados.

Objetivos, metas, competitividade e resultados, são algumas


das palavras mais comuns no nosso dia-a-dia. Alguém tem dúvidas
que estamos em uma busca constante por estes caminhos?
Não há como evitar estes novos modelos de administração, o
esporte é um grande exemplo disso e nossas equipes são uma
grande oportunidade de colocar em prática alguns conceitos.
Muitas empresas têm aprendido muito com o esporte e com
exemplos de atletas, mas acho que está na hora de também
aprendermos com algumas empresas, pois o alto rendimento
também necessita de controle e avaliação, de estratégias bem
definidas e principalmente de planejamento e organização.
Muitos devem estar se perguntando – Estamos falando do
quê? Minha resposta é simples e objetiva, de esporte, equipe e mais
precisamente do Futsal.
De uma equipe que precisa de conceitos baseados na
organização de grandes empresas.
Se analisarmos melhor o que ocorre no nosso dia-a-dia,
vivemos a mesma rotina: compromissos, cobranças, pressões e
principalmente tentando driblar nossos adversários.
E para nos mantermos no topo, faz-se necessário estarmos
muito atentos, principalmente aos nossos problemas, com olhos
voltados para nossa equipe, analisando sempre o que pode ser
melhorado, mas sem nos descuidarmos dos adversários.
Na prática, nem sempre isso ocorre já que muitos perdem
tempo se preocupando em demasia com os adversários,
esquecendo-se que essa preocupação acaba minando as suas
expectativas. O triste comportamento da comparação, desperdiça
seu precioso tempo comparando-se com os outros sem se preocupar
consigo mesmo. Perdem tempo focados nos problemas e esquecem
de buscar as soluções.
O grande desafio é sobreviver às inúmeras mudanças, a nova
realidade, onde existem muitos atletas despreparados para este novo
momento que requer um grande envolvimento na busca de soluções.
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Muitas vezes, resultados anteriores disfarçam problemas,
outras vezes, algumas vitórias ocultam dificuldades, entretanto, a
primeira derrota pode não causar grandes preocupações à equipe,
mas uma série de resultados negativos poderá evidenciar o
problema. E aí, o que fazer?
Se rapidamente resolvidos poderão restaurar a equipe. Porém
se forem protelados, irão ocasionar tensões, e é exatamente neste
momento que as discordâncias provocarão conflitos internos e
externos, com prejuízos a todos os envolvidos.
E então inicia-se o período de busca aos culpados: os atletas
culpam os responsáveis técnicos da equipe, os responsáveis
técnicos culpam os diretores, os diretores culpam ambos e a ordem
se alterna de equipe para equipe, dependendo sempre do grau de
envolvimento e de produtividade de cada setor, normalmente o mais
frágil acaba recebendo todo o “mérito” da falta de resultado. O que
nem sempre é verdadeiro, pois como sabemos, achar culpados
nessa hora é eximir-se de responsabilidades.
E diante dessas turbulências no grupo, reuniões ocorrem com
mais frequência, muitas delas sem necessidade alguma, apenas
para achar o “culpado” e puni-lo. Os atletas não se envolvem mais,
têm receio de colocar seu ponto de vista, e os dirigentes aproveitam
para exercer ainda mais pressão sob suas cabeças. A tentativa de
convivência pacífica há muito tempo foi deixada de lado e dá espaço
ao pânico, o caos está instalado e “quem pode mais, chora menos”.
Segundo (Kohlraush, 1996) “Determinadas reuniões são
tensas, se tornam improdutivas e desnecessárias, ao ponto de deixar
de acontecer e achar que não adianta mais falar”.
Nossa! Quanta dificuldade não é mesmo? O que fazer diante
de tudo isso? Como sair dessa situação incômoda? Como voltar a
produzir resultados? Essas e outras centenas de perguntas são
lançadas ao ar, e o que é pior, muitas delas acabam mesmo sem
respostas. Como é importante conhecer tudo isso, para evitar que as
coisas cheguem a este ponto, pois realmente é sempre muito
complicado reestruturar um momento como este, mas se faz
necessário e temos que encontrar uma solução para que tudo se
resolva, pois muitas vezes este tipo de problema serve como uma
forma de testar o poder de resiliência do grupo.

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Avaliar e reavaliar o grupo, resultados, desempenho, entre
outros fatores, tudo isso é primordial para o bom andamento das
coisas. Buscar o envolvimento de todos, fazer com que todos
participem e tenham liberdade na construção do trabalho, autonomia
de decisão, e principalmente a coragem para assumir
responsabilidades diante de fatos e momentos difíceis como esse.
Uma “crise” não se inicia de um dia para o outro, portanto, não
se resolve da mesma forma, é necessário estar atendo aos
movimentos, e substituir reuniões que visam apenas achar culpados,
por encontros informais que indiquem soluções.
Muitas equipes são formadas da seguinte maneira:

Ÿ Monta-se a estrutura física e o corpo diretivo;


Ÿ Monta-se uma comissão técnica;
Ÿ Contratam-se atletas, oriundos de vários lugares;
Ÿ Estabelecem-se os objetivos e metas, há uma inversão de valor.

Pois bem, poderia listar ainda mais tópicos neste espaço, mas
o objetivo é ir direto ao ponto principal, então, vejamos:
Esta ordem é constantemente alterada, pois muitas vezes o
técnico vem depois dos atletas. Os atletas não atendem o perfil da
equipe e muito menos da filosofia de trabalho do técnico. A estrutura é
precária, pois pensam que os profissionais apenas precisam receber
seus salários em dia.
O grupo formado pelos diretores, se reúne e aparece apenas
no dia da apresentação da equipe, quando muito fazem... E aí então,
estabelecem objetivos de uma forma bem simples e grosseira,
“queremos isso” viram as costas e aparecem apenas pra cobrar
resultados, porém, esqueceram de discutir o principal: “como fazer
para alcançar tudo isso”.
Então chega a minha vez de perguntar, como tudo isso pode
dar certo? Julgo sempre muito complicado buscar objetivos dessa
forma, falar apenas o que quer não é planejamento, planejamento é
estabelecer uma linha de trabalho para saber “como se pode
alcançar”, significa também exercer um monitoramento das ações do
grupo, avaliando e reavaliando constantemente tudo o que ocorre de
bom e também de ruim dentro dele, decidindo no momento certo e de
forma descentralizada.
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A necessidade de confrontar informações e ideias de uma
forma profissional, sem impor o ponto de vista, querendo ser o “dono
da verdade”, poderá inibir a opinião de uma terceira pessoa,
impedindo o processo de construção e formação de opinião.
Segundo (Kohlraush, 1996) “Uma ‘crise’ não se inicia de um
dia para o outro, o vírus se instala e vai contaminando todas as áreas
e rapidamente, toma conta de tudo, e se tardarmos em combatê-lo,
(curá-lo) poderá sim ser tarde demais”. Então é importante estar
atento a tudo, porque embora não seja tão obvio, ele normalmente se
apresenta igual para todos, de uma forma crescente e sob pontos
específicos do trabalho, seguindo um caminho, minando as etapas, e
os setores.
(Kohlraush, 1996) Apresenta também um caminho, que
embora possa não ser exatamente nessa ordem, costuma seguir
estes sintomas:

Ÿ Falta de competitividade e comprometimento;


Ÿ Rotina no trabalho;
Ÿ Falta de comando e insubordinação;
Ÿ Ausência de comunicação entre os envolvidos;
Ÿ Atraso e/ou adiamento nas tomadas de decisões;
Ÿ Surgimento de conflitos (de parceiros a rivais);
Ÿ Perda do foco nos objetivos e metas, sem diretrizes ;
Ÿ Atos frequentes de indisciplina, descompromisso.
Ÿ RESULTADOS NEGATIVOS;
Ÿ Perda da credibilidade e identidade;
Ÿ Caos, momento da salvação individual.

O item em destaque, RESULTADOS NEGATIVOS, aparece


na lista quase na última posição, para demonstrar quantas coisas são
negligenciadas antes dos “resultados negativos”, por isso caros
amigos, quando o resultado negativo aparece, muitas coisas já
caminhavam para isso acontecer, o que houve é que possivelmente
não nos demos conta ou fingimos não vê-los.
Os passos seguintes aos resultados são apenas uma
confirmação de que o vírus se instalou de forma generalizada e só
resta a fazer é instalar o período de reconstrução do trabalho,
cuidando para que o erro não torne a se repetir em outros momentos.
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Olhos atentos, conceitos bem definidos e acima de tudo, muito
trabalho na busca por resultados melhores. Honestidade no trabalho,
envolvimento e comprometimento de todos. Lembrando que não há
empreendimento ou atividade que atinge ou quer atingir resultados
que não se aplique os princípios básicos de administração: Planejar,
Fazer, Controlar e Avaliar - PDCA*.
Será que uma gestão administrativa no esporte é diferente?

Esquematização para Avaliação de Resultados

DIRETRIZ
(Rumo)

META ESTRATÉGICOS VALOR


OBJETIVOS

O QUE
COMO QUANDO
COM QUE QUANTO
COM QUEM

VISÃO
(Foco)

MISSÃO

RESULTADO

Fonte: Pedro Miguel de Andrade


PLANO DE AÇÃO

*PDCA, ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming, é um ciclo de desenvolvimento que tem foco na melhoria contínua.
Introduzido no Japão após a Guerra, idealizado por Shewhart e divulgado por Deming, quem efetivamente o aplicou.
Segundo (CAMPOS, 2004) “O PDCA é aplicado para se atingir resultados dentro de um sistema de gestão e pode ser
utilizado em qualquer empresa independentemente da área de atuação”
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Objetivos e Metas

Entendendo a importância de estabelecer objetivos no planejamento

É muito comum em nossas vidas ouvir pessoas dizendo que


têm objetivos e metas a cumprir. O mais estranho é observar de que
forma estão buscando alcançar esses objetivos e metas, nem
sempre conseguimos compreender onde querem chegar agindo
desta forma, costumamos dizer que estão andando na contramão,
dissociados da realidade e que não há coerência entre teoria e
prática.
Traçar metas é extremamente importante para qualquer
profissional, pois é desta forma que ele poderá avaliar ações,
detectar momentos de sucesso e insucesso.
O problema está na estratégia que utiliza para isso, o tempo
que tem para cumprir o cronograma, e principalmente de que forma
avaliamos as condições que possui.
Vivemos num mundo imediatista, onde resultados são
imprescindíveis para consolidar mudanças e fundamentar teorias.
Não é possível mudar radicalmente conceitos ou transformar
estruturas sem que os resultados os acompanhem, não quero dizer
com isso que já nos primeiros dias, semanas ou meses o resultado ou
a meta já tenha de ser visível, mas que é necessário visualizar
mudanças de comportamento e atitudes. Isso é o principal resultado,
perceber que as coisas estão se modificando. É um grande passo
para continuar crescendo, porém, pior é perceber a rejeição dos
envolvidos no processo.
Podemos dizer que é necessário caminhar para poder
modificar, mas existem várias formas de caminhar, andar ou correr 5
km, e ao final dos mesmos perceber o quanto avançamos do ponto
inicial, isso sem dúvida é uma progressão, por outro lado podemos
andar ou correr os mesmos 5 km em uma esteira, estas que
possuímos em casa ou em academias, e ao final perceber que não
saímos do lugar, não significa que os mesmos 5 km não tenham
trazido benefícios físicos, mas com toda certeza existe sim uma
grande diferença na informação e no cumprimento da tarefa.
Muitas pessoas quando determinam seus objetivos e metas
não o fazem de maneira correta, simplesmente acreditam que a meta
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virá ao seu alcance e permanecerá no mesmo lugar, outros aceleram
demais o passo para alcançar rapidamente seus objetivos e na
metade lhe faltam fôlego para completar o percurso. Outros acham
que não precisam ter pressa e que têm a vida toda para atingir o
objetivo, o problema é que as coisas vão se modificando e sua
estratégia continua sempre a mesma, desta forma dificilmente verá
seu sonho realizado, vai passar a vida inteira se lamentando e
praticamente no mesmo lugar.
Acredito que o segredo está na sensibilidade e na
especificidade de cada objetivo e de cada meta, o que é bom para
alguns, pode ser terrível para outros, adotar regras e receitas prontas
não trazem mais benefícios para ninguém, cada um deve analisar em
que ponto está e de que forma irá chegar ao ponto que deseja.
Embora muito se tenha criado e disponibilizado para que as
pessoas possam melhorar seus desempenhos profissionais, a
melhor resposta para as inúmeras dúvidas e questionamentos que
surgem no nosso dia-a-dia ainda continua sendo “Depende”. Esta
resposta pode solucionar grandes problemas, evitar aborrecimentos
e minimizar erros, tudo irá sempre “depender” da situação de cada
um e da realidade profissional dos envolvidos.
Para quem quer dar um enfoque prático a esta obra, o discurso
parece estar um tanto quanto filosófico, mas acredito que para chegar
ao ponto principal necessito passar por este caminho.
Poderia iniciar este livro falando sobre o histórico do Futsal,
onde, como e quando tudo começou, ou então colocar a atualização
da regra para servir de instrumento de pesquisa aos interessados, um
livro com muitas páginas e coberto por temas comuns em outros
tantos. Optei por iniciar de forma diferente, abordando temas que
embora sejam comuns na vida de todos nós, ainda são confusos.
Gostaria que este livro servisse de ferramenta para auxílio dos
profissionais que atuam ou querem atuar no Futsal, mas principalmente
desses que acreditam que sempre é possível aprender coisas novas,
modificar, quebrar paradigmas e ser crítico em relação aos modelos de
treinamento que são impostos até hoje, não me excluindo também
deste grupo e oferecendo esta obra para que a mesma esteja à
disposição de críticas e sugestões que me auxiliem a melhorar sempre,
com o intuito de poder alcançar meus objetivos e metas.

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Treinamento X Criatividade

Pequenas mudanças, grandes transformações no treinamento


O caminho para a criatividade

Embora seja objetivo no mundo de hoje sermos práticos,


talvez tenhamos por obrigatoriedade passar pela teoria para não
cometer erros, ou termos uma visão distorcida sobre este assunto, ou
seja, a criatividade.
Então me reservo no direito de utilizar exemplos
especificamente dentro de minha experiência e visão profissional.
Dou início a este assunto utilizando uma palavra que resume
meu ponto de vista sobre a utilização de metodologias mais criativas
nas sessões de treinamento: “transformação”. Talvez essa palavra
tenha uma dimensão maior do que imaginamos, pois inevitavelmente
todos os processos em nossas vidas estão em constante
transformação.
No treinamento, este processo ocorre de forma vertiginosa,
pois cada vez que se modifica uma regra ou se quebra algum
paradigma, um outro está se criando, este processo pode ser
denominado como evolução. E é através deste mecanismo que
alcançamos resultados positivos.
Após o conhecimento destes processos e do entendimento de
todo este mecanismo, o passo mais importante passa a ser o de
conscientização dos envolvidos para um melhor aproveitamento das
qualidades.
Não gostaria de criar regras ou atribuir novos conceitos sobre
o tema, apenas estabelecer um momento de reflexão e análise.
Acredito que através de pequenas mudanças nas sessões de
treinamento é possível melhorar a criatividade do atleta.
O Futsal é sem dúvida uma modalidade muito dinâmica e
requer uma atenção especial no que se refere à previsão das ações
coletivas dos nossos adversários. Muito se tem feito e proporcionado
ao atleta: Recursos tecnológicos, metodologias avançadas no
treinamento físico, técnico e tático, mas nada pode substituir a
capacidade criativa do atleta, é ela que faz a diferença no momento
decisivo, e é através dela que podemos diferenciar as habilidades e
capacidades individuais.
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Experiências, estímulos e mudanças são fundamentais para
gerar atitudes inovadoras e proporcionar aos atletas ferramentas
para que os mesmos sejam capazes de enfrentar as dificuldades de
uma partida ou competição.
Viver emoções diferentes durante o treinamento poderá ajudá-
lo a superar dificuldades emocionais e principalmente a rejeição às
mudanças, comuns em atletas inseguros.
O caminho para a criatividade passa pelo hábito de buscar
novas soluções para resolver os problemas, informações diferentes
dos adversários, pois normalmente é dessa forma que se pode
fundamentar o sucesso individual de algum atleta ou de uma equipe.
Todos treinam, todos recebem informações, se preparam
física, técnica e taticamente, mas a diferença pode estar na forma
com que utilizam seu potencial criativo.
É muito comum verificarmos um atleta decidindo uma partida
ou competição num lance totalmente diferente do que costumamos
ver, geralmente o nível de preparação, confiança e informação deste
atleta é muito acima da média geral. Já os atletas “comuns” possuem
dificuldades de resolver problemas de forma criativa, esta dificuldade
vem de sua estrutura cerebral, que tende a resolver seus problemas
de forma simplificada. O problema é que as soluções simples
geralmente são de conhecimento de todos os adversários.
Você já se deparou com aquela situação em que sua equipe
treinou várias vezes uma determinada ação ou uma manobra de
ataque, e que tudo parecia ser imbatível? Pois é, na hora “H” algo saiu
diferente do cenário que você havia preparado, e seu atleta que
apenas mecanizou todo o movimento e limitou-se a reproduzí-lo sem
utilizar seu poder de criatividade e inovação, acabou falhando por lhe
faltar recursos de criatividade e ousadia.
Este pode ser um dos milhares de exemplos que
fundamentam a necessidade de buscar informações fora do nosso
“Banco de Dados”, pois quando temos que resolver esse tipo de
problema, nosso cérebro vai buscar soluções diretas, tornando a
equipe ou o atleta um alvo fácil para o adversário.
Se quisermos ter ideias diferentes, temos que buscar soluções
ousadas, ou então muito provavelmente elas serão parecidas para
todos.
Os modelos de treinamento atuais preconizam a mecanização
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dos movimentos, e por sua vez a limitação da capacidade criativa do
atleta. Talvez essa seja uma boa explicação para o chamado “Leão
de Treino”, pois este atleta quase sempre possui boas qualidades
técnicas, bons fundamentos, mas apresenta dificuldades no seu
potencial criativo, afetando seu rendimento no jogo.
O atleta se habitua com a rotina dos treinamentos de sua
equipe e não desenvolve outras capacidades. Quando no jogo se
depara com situações não vivenciadas nos treinamentos, fica sem
reação para agir, ou pior, acaba ficando inibido diante das
dificuldades, o que é pior, frustra-se.
Acredito que o treinamento também tem a função de estimular
o atleta a pensar em soluções diferentes para a resolução de
problemas e poderá conseguir isso através de treinamentos que o
condicionem a raciocinar sobre o problema imposto. Alguns jogos de
regras e de setores criados nos treinamentos podem auxiliar neste
processo, tais como:
Ÿ JOGO DAS BOLAS NA MÃO - O técnico formará duas equipes.
Além de uma bola do jogo, cada equipe ficará com uma
bola na mão, e o jogo acontece com algumas regras
específicas. O atleta poderá dar apenas três toques na bola do
jogo, mas não poderá fazê-lo com a bola na mão.
Ÿ Sempre que estiver com a bola na mão e receber o
passe, terá que transferir a bola que está em sua mão para outro
companheiro antes de progredir, executar o passe ou uma
finalização com o pé.
Ÿ Não poderá executar marcação ao adversário com a
bola na mão também, por esse motivo terá que estar passando
constantemente a bola que está na sua mão.
Ÿ Outras variações poderão ser adicionadas, como por
exemplo: se deixar a bola da mão cair no chão será executado
um tiro livre.

O objetivo desse jogo é trabalhar membros inferiores e


superiores utilizando os dois hemisférios do nosso cérebro,
desenvolvendo coordenação dos movimentos motores primários e o
raciocínio criativo, pois a equipe terá que desenvolver estratégias
diferentes do jogo tradicional para obter sucesso, caso contrário não
obterá êxito.
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Este é um treinamento totalmente diferente da realidade do
jogo, mas que com certeza irá evidenciar a importância de encontrar
soluções diferentes.
Costumo dizer que quando vamos enfrentar um adversário
prevemos inúmeras ações, mas não podemos esquecer que durante
uma partida outras tantas ocorrem, e se nossos atletas não estiverem
preparados para observá-las e reagir às mudanças, muito
provavelmente o sucesso poderá não ocorrer ou ocorrer de maneira
pouco satisfatória.
O tema apresentado tem o objetivo de servir de informação e
de alerta, acreditando que uma análise e discussão aprofundada
sobre o assunto poderá nos ajudar e consequentemente,
proporcionar aos nossos atletas subsídios para que possam
melhorar seus desempenhos individuais.

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Leitura de Jogo, Previsões e Análises
Contrariando o que prega o senso comum

O que propõe o Adversário:

Talvez uma das tarefas mais difíceis, e que desafia os


profissionais, é ter um bom entendimento e ser capaz de ler, prever
ações e analisar as estratégias adversárias.
Ao contrário do que prega o senso comum, fazer previsões
pode não ser tarefa tão difícil assim; é necessário treinar esta
habilidade que muitas vezes só vem com a experiência profissional,
ou não.
Desmistificar esta teoria é objetivo deste tema, baseando-se
em algumas abordagens que garantem se não na totalidade, pelo
menos parte dela, deixando-a mais clarividente.
Não é tarefa tão difícil descobrir o que o adversário propõe. Se
faz necessário utilizar técnicas de previsão e leitura dos movimentos
da equipe em análise, e isso pode resultar em “tendências” e
características particulares e próprias, levando-se em consideração
algumas análises individuais, tais como: perfil do atleta e
técnico; predominâncias coletivas; características do jogo
(ofensivo/defensivo), entre outras observações que podem
proporcionar segurança na hora de traçar as estratégias.
O sucesso das análises dependem diretamente de um outro
fator importante conhecido como “filtragem colaborativa”, que nada
mais é do que a participação de todos os envolvidos.
Estas análises produzem recomendações importantes e
auxiliam na relação Atleta/Técnico e vice-versa, colaborando assim
para formação do banco de dados e avaliações correlacionadas.
Esses métodos de recomendações produzem modelos de
treinamentos que aproximam a relação de ambos, passando, a
contribuir mais com dados relevantes, além de fornecer subsídios
importantes na construção do relacionamento pessoal.
Cabe lembrar que o grau de dificuldade do atleta dentro de
quadra é o principal feedback que um Técnico pode ter, porém essas
informações precisam ser repassadas muito próximos da realidade,
sem que sejam apenas sintomas de dificuldades individuais e
desempenho.
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A principal análise é em relação ao grau de dificuldade
coletiva, observações à cerca do modelo tático do adversário. As
questões individuais devem ser analisadas num momento posterior,
cabendo ao Técnico a realização de trabalhos de correção de
movimento tático, ou gestos técnicos individuais.
Quando o atleta percebe que suas informações são
valorizadas, ele passa a se interessar mais pela leitura, oferece
opiniões importantes e participa muito mais no processo de solução
da problemática do jogo.
Assim o Técnico passa a contar com “consultores” a sua inteira
disposição, no reconhecimento de problemas, e na ação de buscar
soluções rápidas e eficazes.
Uma boa razão para justificar este valor, são as inúmeras
escolhas para fazer com que as dificuldades não tragam prejuízos às
metas, e o poder de distinguir qual a melhor estratégia a ser seguida,
no momento de se tomar uma decisão inteligente num ambiente
lotado de informações.
Quando a informação é filtrada de maneira transparente, o
envolvimento na estratégia tende a ser muito maior pelo próprio
método de participação.
Se algumas ações podem ser previstas para obtenção do
sucesso, por que não recomendá-las previamente?
Podemos ajustar sempre as informações para obter variações
das teorias e possibilidades de estratégias.
Cada possibilidade de prevenção e estratégia possui margem
de erro e acerto. Elas podem ser classificadas quando apresentam
equilíbrio, dando margem para um redirecionamento rápido que
possibilitem correção.
É o ato de unir sempre senso comum à fundamentação teórica
do jogo preservando individualidades.
Num limite mais elevado estão as tentativas individuais,
assumindo sempre o risco das ações, e tomando decisões isoladas
do grupo, buscando apelos desesperados, o que aumenta o grau de
exposição e risco, porém é necessário muitas vezes, em razão da
exigência do jogo e/ou situação.
A identificação de padrões técnicos não são matemáticos,
mas apresentam normalmente alguns padrões lógicos escondidos
em tendências técnicas.
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Outro ponto de observação de grande relevância é a
característica do técnico adversário que contribui de forma direta ao
modelo técnico da sua equipe, conhecer o seu perfil e estilo.
Prever e analisar requer conhecimento abrangente, pois
somente noção específica não assegura bons resultados.
Para tanto, análise estatística, características regionais,
relação pessoal, gestão de equipe entre outras, contribuem
diretamente nesse perfil.
Para finalizar o assunto, que requer uma abrangência ainda
maior, destaco como fundamental e importante no processo de
leitura, as análises do Pré e Pós-jogo.
O ciclo de análise é interligado, a boa análise pós-jogo permite
a reconstrução para o próximo compromisso.
Profissionais que de imediato buscam culpados pelo fracasso
ou se colocam a frente do êxito, não conseguem construir com
segurança a próxima análise, pois tendem a se eximir da culpa e da
responsabilidade.
Traçou-se uma estratégia no pré-jogo e não funcionou, é tão
culpado ou mais. Se não a fez, é o único culpado, pois deu liberdade
para o “achismo”, então não pode fazer ponderações sensatas a
respeito.
Cabe ao Técnico a função estratégica, seja ela tomada de
forma coletiva ou autoritária. A diferença é o comprometimento e o
auxílio que recebe quando compartilha ideias com os membros da
equipe.
Sem plano de voo é impossível voar com segurança, por isso
várias pessoas são envolvidas nele, não apenas o comandante.
Compartilhe ideias, receba as informações, encoraje seus
atletas, transmita segurança e avalie com bom senso os resultados,
só assim poderá contar com o apoio de todos e poderá formatar uma
boa leitura de jogo, uma previsão segura e uma análise coerente.

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Importância da Estatística Coletiva

Identificação das ações coletivas através da estatística.

Este tema tem como principal objetivo despertar o interesse


para a utilização da Estatística Coletiva, aperfeiçoar os modelos
existentes e principalmente estabelecer parâmetros que possam
auxiliar no trabalho de preparação de uma equipe de Futsal.
A estatística sempre foi uma grande aliada dos profissionais
do esporte em geral, por isso cada modalidade tem suas planilhas
específicas que enfatizam determinado fundamento de acordo com
sua importância para a modalidade em questão.
No Futsal, as planilhas quase sempre valorizam os
fundamentos de passe (certo e errado), finalização (certa e errada),
desarme e fundamentos relacionados às ações do Goleiro.
Cada profissional monta sua planilha de acordo com o
interesse da sua equipe, ou que possa contribuir para o
aprimoramento técnico dos atletas.
Durante nove anos venho desenvolvendo uma planilha com
objetivo de identificar as ações coletivas (positivas e negativas) da
equipe durante uma competição ou até mesmo durante uma partida
específica. Uma coleta de mais de 500 jogos me proporcionou a
confecção de alguns modelos e a identificação de algumas áreas
específicas na qual ocorrem mais ações ofensivas, locais
estratégicos no sistema de marcação, fragilidades nas coberturas e
na postura de marcação, onde o erro é quase sempre fatal.
Toda essa coleta me auxiliou muito com relação ao
posicionamento de minhas equipes em determinadas situações do
jogo ou adversário, levando-se em consideração que toda equipe
quase sempre apresenta uma característica geral de enfrentar as
partidas, e possui ações previsíveis em determinados momentos.
A estatística coletiva tem por função básica servir de
complemento para a estatística individual, com uma grande diferença
que é de potencializar algumas ações conjuntas, tais como:

Ÿ Situação do gol;
Ÿ Local e distância do gol;
Ÿ Tempo de jogo em que ocorreu o gol.
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Estes três simples tópicos têm uma importância muito grande,
tanto no aspecto ofensivo quanto defensivo, pois poderão ser
utilizados para as duas ações.
O primeiro tópico, Situação do Gol tem ações relacionadas à
origem da situação em que a equipe realizou ou sofreu um gol. Elas
podem ser modificadas de acordo com a necessidade da equipe, mas
minha sugestão seria esta:

Situação do Gol
Bola Parada Em Movimento
Canto Lateral Falta Falha Marcação Contra-ataque
x - - - -
- - - x -
* Nesta situação a identificação da ação poderá ser coletada também através do número do
atleta que a realizou.

O segundo tópico, Local e Distância do Gol tem como


objetivo principal identificar setores de fragilidade ou de
potencialidade da equipe, assim distribuídas:
Local e Distância do Gol
Local Distância
Ala Direita Meio Ala Esquerda Até 6m 6m a 10m + 10m
x - - x - -
- x - - x -

O terceiro tópico, Tempo de Jogo em que ocorreu o gol


poderá evidenciar aspectos com relação ao comportamento da
equipe, tanto no aspecto emocional quanto no aspecto físico, pois a
equipe pode apresentar uma grande incidência de gols sofridos no
início das partidas, podendo ser um problema de um aquecimento
inadequado ou até mesmo de uma baixa concentração. Também
poderá apresentar uma grande incidência de gols sofridos nos
minutos finais das partidas, aspectos que podem estar relacionados
ao condicionamento físico ou até mesmo no aspecto emocional de
não estar conseguindo suportar determinada pressão no jogo.

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Tempo de Jogo
Primeiro Tempo Segundo Tempo
Até 5 min. De 5 a 15 min. + 15 min. Até 5 min. De 5 a 15 min. + 15 min.
2 min. 45s - - - - -
- x - - x 17 min. 23s

Estes três tópicos expostos configurariam em uma planilha


agrupada, facilitando a coleta dos resultados, sendo assim, cada
linha apresentaria o histórico geral de cada gol feito ou sofrido pela
equipe.

Mapa de Estatística Coletiva


Estatística Coletiva Gols Feitos e/ou Sofridos
Situação do Gol Local e Distância do Gol Tempo de Jogo
Bola Parada Em Movimento Local Distância 1° Tempo 2° Tempo
Cant Lat Falta F. Marc. Contr. AD Meio AE 6m 6a +10 5 5 a 15 +15 5 5 a 15 +15
10m min. min. min. min. min. min.
x - - - - x - - x - - - 6min. 23s - - - -
- x - - - - x - - x - - - 16min. 24s - - -
- - - x - - x - - x - - - 18min. 34s - - -
- - - - x x - - - x - - - - - 14min. 43s -
*Alteração do Item Falha de Marcação, se for computado gols feitos substituir por
Finalização.

Na planilha acima estão coletados os dados referentes a 4


gols sofridos numa determinada partida. A leitura e interpretação dos
gols ficariam assim estabelecidos:
1) Gol – de bola parada (canto) / na ala direita / dentro do
limite dos 6m / no primeiro tempo aos 6 min. 23s;
2) Gol – de bola parada (lateral) no meio / dentro do limite
de 6 a 10m / no primeiro tempo aos 16 min. 24s;
3) Gol – Uma falha marcação / no meio / dentro do limite
de 6 a 10m / no primeiro tempo aos 18 min. 34s;
4) Gol – Um contra-ataque / na ala direita / dentro do limite
de 6 a 10m / no segundo tempo aos 14 min. 43s.
Com a coleta dos gols sofridos por uma equipe numa fase de
uma competição, poderiam estar bem evidenciadas determinadas
fragilidades desta equipe, como por exemplo:
Ÿ Sofre muitos gols de bolas paradas;
Ÿ Sofre muitos gols pela ala direita;
Ÿ Sofre muitos gols dentro do limite dos 6m (dentro da área por
exemplo);
Ÿ Sofre muitos gols nos finais de cada período de jogo.
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Estas informações poderiam auxiliar na condução das
sessões de treinamentos, corrigindo possíveis deficiências.
Lembro mais uma vez que todas estas informações podem
ocorrer com gols feitos pela equipe em uma partida, sendo assim,
ficariam evidentes também quais os setores e os momentos mais
eficientes da equipe, tais como:
Ÿ Marca muitos gols de contra-ataque;
Ÿ Marca muitos gols pela ala esquerda;
Ÿ Marca muitos gols com finalizações a mais de 10 metros;
Ÿ Marca muitos gols no inicio das partidas.

E assim o Técnico e seus auxiliares poderão ir moldando sua


equipe conforme os diagnósticos que juntos identificarem.
Apresento a seguir uma ilustração que demonstra as divisões
da quadra para planificação das ações, cujas divisões podem ser
modificadas conforme a necessidade de cada equipe e sua
realidade.
Ÿ Quadra de Futsal

Até 6m

Localização do Gol
6 a 10m

AE MEIO AD
+ 10m

Para facilitar ainda mais o entendimento e a visualização dos


resultados por parte dos membros da comissão técnica e atletas, os
dados poderão ser lançados em um gráfico utilizando um programa
de planilhas e gráficos como ferramenta.
66
Conceitos do Jogo
As três fases do jogo – abertura / meio / finalização

Os princípios gerais de uma partida

Um bom conceito do jogo pode definir caminhos mais seguros


dentro de uma partida, por este motivo dividi o jogo em três partes,
que na verdade não se referem ao tempo da partida nem a duração
do jogo, mas sim, ao jogo propriamente dito.
Se definirmos uma ação de ataque, ela terá um início, meio e
uma finalidade, por sua vez, estas três partes precisam estar
organizadas para que a extensão de todo movimento seja bem-
sucedida.
Entretanto é muito importante salientar que, precisamos partir
do princípio de que a dinâmica do Futsal exige organização, onde
devemos pensar em ataque sem nos descuidarmos da defesa.
A mesma ação que nos levará ao ataque exigirá uma
preparação para a recomposição da defesa, sendo assim, devemos
definir as três fases e potencializá-las para um rendimento mais
seguro e eficaz.

A Primeira Fase – Abertura (Saída de Jogo / Pressão)

Conceitos:
Ÿ Posicionamento que proporcione mobilidade para as manobras
de avanço. Para realizar uma boa saída de pressão é
necessário um posicionamento correto com possibilidades de
saída rápida;
Ÿ Rápido desenvolvimento de todos os atletas, criando
dificuldades para o encaixe da marcação;
Ÿ Determinar uma linha de avanço (Ex: linha central) para que
todos tenham a consciência de avançar de forma coordenada e
ao mesmo tempo o limite desejado;
Ÿ Evitar a saída pelo centro da quadra, ao menos que seja feito no
primeiro passe e com extrema segurança;
Ÿ Evitar a perda de tempo, movendo-se apenas 1, 2 ou 3
jogadores, onde todos devem ter movimentos definidos para
quebrar o sistema de marcação;
67
Ÿ Evitar que o posicionamento de um jogador prejudique o avanço
de outro, ou dos demais;
Ÿ Após a bola ter passado o centro da quadra, dando
possibilidade para utilização do goleiro como segurança,
dominar o centro do jogo para manter a posse da bola e elaborar
a ação de ataque.

A Segunda Fase – Meio (Organização do Ataque)

Conceitos:
Ÿ Ocupar as diagonais abertas com buscas e aproximações, linha
de passe e desmarcações;
Ÿ Alongar as saídas sem bola, prolongando as possibilidades de
ataque no fundo de quadra;
Ÿ Mobilidade dos atletas (alas) para tentativas de finalizações de
média e longa distância;
Ÿ Evitar passes para trás, pois representa atraso na construção
do ataque e a necessidade de um novo desgaste para se chegar
onde já se estava;
Ÿ Este setor precisa de criatividade, ousadia, e acima de tudo
objetividade, pois se trata de um local com baixa duração da
posse de bola;
Ÿ Disputar o domínio deste espaço, posicionando-se sempre de
forma avançada;
Ÿ Definir a forma de ataque (Ex: 3x1, 4x0, 2x2 com busca, etc.).
Os posicionamentos
Ala (E) Centro Quadra Ala (D)

Estes posicionamentos permitem que os atletas tenham uma visão


do ataque, bem como, dos demais companheiros.

Correr lateralmente nestas situações dificulta a visibilidade do


ataque e dos companheiros, facilitando a abordagem dos marcadores.

68
Ÿ Para evitar perda no rendimento, ter atenção:
Ø Movimentos atrasados, abandonando o atleta da bola;
Ø Posicionamento isolado, sem ser opção de movimento;
Ø Fora de linha de passe, facilitando a abordagem da marcação;
Ø Manter-se por muito tempo atrás da marcação adversária.

A Terceira Fase – Finalização (Definição do Ataque)

Conceitos:
Ÿ Buscar objetividade nas áreas de conclusão, não atrasar os
ataques. É possível encontrar muitas dificuldades em razão da
concentração da marcação;
Ÿ Não responder apressadamente aos ataques da marcação, a
perda da posse pode gerar contra-ataque;
Ÿ Ler a marcação antes de definir o lance final;
Ÿ Evite trocar uma finalização por mais um toque na bola, a menos
que seja inevitável;
Ÿ Assuma a iniciativa, atacando a marcação quando passiva;
Ÿ Muitos movimentos ofensivos podem limitar ou bloquear os
espaços;
Ÿ Concentre a ação ofensiva em mais de um jogador para não se
tornar previsível, busque opções pelas duas alas da quadra;
Ÿ Procure ter ações ofensivas definidas, para evitar muitas
improvisações;
Ÿ Quando estiver no ataque, não se descuide da marcação, a
dinâmica do jogo exige ações de contenção para evitar os
contra-ataques;
Ÿ Faça análises após o jogo para corrigir os erros ocorridos;
Ÿ Sinta-se desafiado em enfrentar equipes “teoricamente” mais
fortes, pois é uma grande oportunidade de evoluir;
Ÿ E tenha em mente que o sucesso é alcançado após algumas
derrotas.
Os conceitos das fases do jogo são preconizados pela
organização, criatividade e principalmente pelo trabalho de correção
e ajuste após as partidas.
A liberdade para o acréscimo de outros conceitos torna este
tema de uso coletivo, para a evolução do nosso esporte.

69
Treinamento – Habilidades Motoras

Utilização do treinamento para memorização das habilidades motoras

Memorização das habilidades motoras

Muito mais do que mesclar volume e intensidade, o


treinamento propõe outras variáveis importantes, tais como:
mecanização de movimentos, repetição de gestos específicos,
ajustes e substituição de movimentos, aprimoramento técnico, entre
outros.
É necessário entender que o treinamento está intimamente
ligado a repetição desses movimentos, e por sua vez, ao
condicionamento de gestos motores e sensoriais.
Não basta apenas treinar por várias horas, é importante
executar estes movimentos de forma correta, criando assim um
padrão de movimento e gesto eficiente.
Praticar um movimento ou gesto específico por várias vezes
(repetição) poderá torná-lo memorizado, ou seja, criar um padrão de
movimento.
Para (Fox et al, 2001) estes padrões são chamados de
“engramas motores”. Segundo ele “Um engrama é um traço
permanente deixado por um estimulo no protoplasma tecidual”. Diz
também que, “Este movimento ou gesto depois de memorizado ficará
armazenado, e sempre que o indivíduo desejar realizar, essa
determinada habilidade motora particular será ‘reinterpretada’
(replay), reproduzida conforme armazenada”.
Pois bem, com isso a palavra treinamento ganha importância
ainda maior, pois não basta apenas treinar, mas realizar o
treinamento de forma adequada, com a finalidade de se obter
padrões de movimentos corretos.
É comum escutarmos todos os dias atletas e treinadores
justificando resultados com as seguintes palavras: “Estamos
trabalhando muito, mas não estamos conseguindo os resultados”.
Talvez essa seja uma das explicações, pois muito mais importante do
que treinar horas e horas, é treinar de forma eficiente.
Uma finalização a gol, por exemplo, pode ser treinada de
forma desajustada, levando o atleta a ser perfeito em sua
70
imperfeição, quem nunca viu aquele atleta treinar finalizações a gol
sem o mínimo de concentração e preocupação com os movimentos
corretos? É normal vermos todos os dias o atleta muito mais
preocupado com a força em que vai finalizar e com a potência do seu
chute, do que com a direção que a bola irá percorrer. Por esse motivo
acerta sempre o mesmo lugar, mas fora do alvo (gol). Ele adquiriu um
padrão motor (engrama) incorreto e sempre que acionar este padrão
irá realizá-lo incorretamente tal como armazenado em seu cérebro.
Quando isso ocorre, existe a necessidade de um
“realinhamento”, ou seja, uma substituição do padrão anterior, este
realinhamento se transformará em uma memória motora para essa
habilidade especial.
Esse realinhamento (correção) poderá ser acionado com um
estímulo apropriado e utilizado imediatamente sempre que
necessário.
Para ilustrar esta teoria vamos imaginar agora que em nosso
cérebro existissem várias gavetas, como aqueles velhos arquivos
de escritórios, e que em cada um deles existisse uma tarefa
armazenada (fig.01)
xxxxxxxx Passe Recepção Condução
xxxxxxxxxxx xxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx xxxxxxxx
Finalização xxxxxxxxxx Cabeceio xxxxxxxxxxxx
Fig. 01

Sempre que enviamos uma mensagem ao nosso cérebro


solicitando determinada função, ele irá recorrer ao seu arquivo, e lá
encontrará (ou não) a função desejada.
Se este movimento estiver arquivado de forma correta, a
probabilidade de acerto é garantida, já ao contrário será reproduzida
sem êxito.
É importante saber que esse mecanismo funciona da seguinte
forma: “os proprioceptores envolvidos na tarefa enviam uma
mensagem ao SNC (sistema nervoso central). Então o “engrama”
estocado é utilizado como modelo”.
Estes “engramas” uma vez aprendidos e armazenados
poderão ser utilizados sempre que necessários.
71
Segundo (Fox et al, 2001) “Se e quando ocorrem desvios em
relação ao engrama armazenado, uma correção é feita graças à
liberação de sinais motores adicionais pelo córtex motor, de acordo
com o que é lhe comunicado pelo cerebelo”. O que nos remete a
entender que podemos fazer pequenos ajustes nesses padrões, que
garantam a eficiência da tarefa proposta.
E como conclusão final deste tema, é importante analisar o
treinamento como um trabalho constante de correção. Um
movimento ou gesto uma vez aprendido de forma correta poderá
garantir o sucesso de sua equipe em uma partida.
O assunto é interessante e complexo, e pode ser ainda mais
aprofundado com o objetivo de se compreender todo este
mecanismo.

The Physiological Basis of Physical Educattion and Athletics


“Bases Fisiológicas da Educação Física e dos Desportos”
Edward L. Fox, Richard W. Bowers e Merle L. Foss
Editora Guanabara Koogan S. A. / Rio de Janeiro - RJ
72
Jogo Individual

Ações e mecanismos do jogo individual

Desenvolvimento dos processos e ações individuais

Se fosse definir as ações individuais sob meu ponto de vista e


de como compreendo este difícil mecanismo, diria que existem três
processos complexos dentro deste gigantesco sistema, ações
inteiramente integradas e que fazem toda a diferença na qualidade
individual de um atleta.
Dividiria desta forma e nesta ordem:
1) Análise / Recepção
2) Controle / Seleção
3) Decisão / Ação final

Neste entendimento os componentes individuais que formam


as qualidades do atleta passam necessariamente por estes três
processos.
Em alguns atletas podem também ocorrer dissociação dos
processos, tornando-os frágeis e previsíveis em algum ponto.
Estabelecer uma prioridade seria como interromper uma
mecânica muito bem sincronizada e que forma uma ação conjunta de
movimentos, exigindo do atleta fundamentos bem aprimorados,
concentração e equilíbrio emocional.
E para exemplificar melhor, poderia dizer que no momento em
que a bola vem em direção deste atleta, uma espécie de “botão” é
acionado e fará com que este mecanismo seja executado do seu
início ao término, sem interrupções.
Imaginamos então o desastroso final deste processo, ou o
belíssimo desfecho desta ação; tudo estará diretamente ligado à
forma de preparação destes processos.
Por este motivo muitas vezes o atleta tem dificuldades de
executar um perfeito desfecho para esta ação, que na sua grande
maioria não tem correlação com os movimentos motores, mas sim
com a preparação mental, equilíbrio emocional e autocontrole.
Acredito que o bom desenvolvimento de um atleta está
inteiramente ligado à forma com que ele se prepara ou é preparado
73
para executar estas ações.
Há algum tempo, nós treinadores deixamos de usar o
treinamento apenas como forma de condicionar fisicamente e
coordenativamente nossos atletas, estamos no estágio do
aperfeiçoamento mental, capacitando-os para momentos decisivos
de uma partida.
É no campo emocional que verifico os maiores problemas ou
as melhores soluções, pois estar preparado para executar
movimentos complexos sob uma forte pressão psicológica não é
tarefa fácil pra nenhum ser humano.
Por este motivo dividi os processos em três grupos, como já
mencionei anteriormente, e que de forma objetiva resumi para
facilitar o entendimento deste ponto de vista.
Então, o primeiro processo é denominado Análise / Recepção,
momento em que o atleta está sem a posse da bola e que
necessariamente precisa em frações de segundos “analisar”:
1) Espaços;
2) Distâncias;
3) Local;
4) Aproximações e etc.

Esta rápida análise antes de ter a posse da bola, irá contribuir


para o desenvolvimento da ação final.
A Recepção, processo agregado a análise do jogo é o
momento onde o atleta recebe a posse, em boas ou más condições,
dependendo de como ele elaborou seu primeiro processo, e
consequentemente o próximo pode estar comprometido ou não em
função do mesmo.
Lembrando que estou falando do jogo individual, em um
esporte coletivo, pois no momento em que este atleta executa seu
primeiro processo (análise / recepção), o que lhe passou a bola
estará executando seu terceiro processo (decisão / ação final), e isso
tem interferência direta na coletividade, mas é um assunto para uma
próxima oportunidade, senão fugimos do objetivo principal do tema.
Passamos então ao segundo processo: Controle / Seleção,
momento em que o atleta superou seu primeiro processo. É neste
momento em que o atleta irá checar sua primeira análise, verificar as
alterações ocorridas e prosseguir. Neste momento, ele executa um
74
controle da posse de bola sem estar “centrado na mesma”, pois se a
bola passar a ser o foco principal, certamente com a velocidade do
jogo e as mudanças, o atleta perderá a referência, dificultando assim
a seleção do seu passe, interferindo no próximo processo.
Após ter o controle e a seleção das opções disponíveis a ele,
encaminha-se o terceiro processo.
O processo de Decisão / Ação final: neste momento ele deve
estar preparado para fazer sua escolha. Após ter executado os dois
primeiros processos, deverá decidir o futuro desta ação que poderá
ser:
1) Continuidade do movimento;
2) Ação técnica individual (ex: um drible);
3) Reestruturação do jogo (ex: reinício ou envolvimento
do goleiro);
4) Interromper o processo de posse de bola (ex: uma
finalização).

Estes são apenas alguns exemplos, outras ações poderão ser


denominadas nesta lista.
Torna-se fascinante quando recordamos de que tudo isso é
executado em segundos, é um grande mecanismo que faz do Futsal
um jogo extremamente excitante.
Os processos são contínuos e em muitos casos são
interrompidos no seu desenvolvimento (construção e reconstrução).
Os conjuntos de ações individuais formam o sucesso coletivo,
onde a elaboração, o aperfeiçoamento e evolução podem e devem
ser constantemente praticados nas sessões de treinamento, um
trabalho bastante desgastante e prazeroso, um trabalho de correção,
mas necessário.
Sendo assim, é sempre importante criar possibilidades para
que o atleta habitue-se a este conjunto de ações, desenvolvendo sua
capacidade de agir sob pressão, reagir às adversidades e encontrar
soluções criativas para momentos decisivos.

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