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A importância da educação na

formação da percepção dos


direitos e deveres
Natália Cristine Cavalcanti de Oliveira

Introdução
No mundo globalizado em que vivemos, possuir a noção dos nossos direitos e deveres no tocante à educação é
primordial. A aplicação dessa noção no ambiente escolar é de grande importância, trazendo para o ensino a
questão da cidadania, ou seja, como nós cidadãos podemos tratar os outros com base nos direitos e deveres
constituídos pela Constituição Federal. Assim, o espaço educacional não está livre da aplicação da nossa Carta
Maior, devendo haver o respeito aos direitos e deveres de todos ali inseridos.
Imagine, por exemplo, que aconteça o bullying no ambiente escolar. Nesse caso, não haveria uma violação de
direitos que se passa em um ambiente escolar? Não há, também, um dever decorrente como a indenização por
danos materiais e morais, por exemplo? Podemos encontrar as respostas para essas situações no artigo 5º da
Constituição Federal.
Ao final desta aula, você será capaz de:
• Compreender a importância da educação para o exercício da cidadania.

Educação: noção de direitos e deveres


De suma importância é sabermos em que órbita de proteção estão localizados nossos direitos e deveres, primeiro
para ser capaz de procurá-los na Constituição Federal, segundo para dominar uma fundamentação sobre o tema
e, principalmente, para conceber a si e aos outros como sujeitos de direitos.

Direitos fundamentais
A expressão direitos fundamentais surge na França com a Declaração Universal do Homem e do Cidadão em
1789, e faz referência à proteção e à promoção dada à dignidade da pessoa humana abrangendo direitos
relacionados à liberdade e à igualdade. A dignidade da pessoa humana é o conjunto de princípios e valores que
tem a função de garantir que cada cidadão tenha seus direitos respeitados pelo Estado.
É consenso na doutrina brasileira que ambos protegem e promovem os mesmos direitos, mas em planos
diferentes, por exemplo, os direitos humanos preveem a proteção e a promoção da dignidade da pessoa
humana no plano internacional, enquanto os direitos fundamentais fazem a mesma coisa no plano interno, na
constituição e nas leis ordinárias (NOVELINO, 2016).

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FIQUE ATENTO
Os direitos humanos tratam da proteção e da promoção da dignidade da pessoa humana no
plano internacional. Já os direitos fundamentais tratam da proteção e da promoção da
dignidade da pessoa humana no plano interno, nacional.

Esses direitos fundamentais possuem certas características particulares que vão diferenciá-los dos demais
direitos, como por exemplo, a universalidade, a historicidade, a inalienabilidade, imprescritibilidade e
irrenunciabilidade.

Figura 1 - Constituição Federal do Brasil


Fonte: Alexander Mak, Shutterstock, 2019.

A universalidade refere-se a um núcleo mínimo de proteção em qualquer sociedade, ou seja, independentemente


dos aspectos culturais, certos direitos devem ser respeitados. Esses direitos se desenvolvem conforme o
momento histórico, por isso a historicidade. E mesmo sendo direitos e não possuindo conteúdo patrimonial não

são suscetíveis de transmissão, negociação ou disposição, nem mesmo podem ser prescritos. Apesar de haver a

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são suscetíveis de transmissão, negociação ou disposição, nem mesmo podem ser prescritos. Apesar de haver a
possibilidade de uma autolimitação voluntária, o não uso ou uso negativo de um direito não caracteriza
sua renúncia.

Pessoa física
Os direitos fundamentais protegem e promovem a dignidade da pessoa humana. Titularizar direitos e contrair
deveres é uma aptidão genérica garantida a todos que possuem a qualidade de ser pessoa, é o atributo jurídico
de ser pessoa (GOMES apud TARTUCE, 2019). Para se adquirir essa personalidade, de acordo com o Código Civil,
no seu artigo 2º, basta o nascimento com vida, ou seja, o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório,
clinicamente auferível (BRASIL, 2002).

EXEMPLO
Maria, grávida de 39 semanas, entrou em trabalho de parto às 19h. Deu entrada no hospital da
XYZ às 20h30 e às 21h30 nasceu, de parto normal, Luiza, respirando normalmente. Nesse caso,
tem-se que Luiza é sujeito de direito e deveres.

Portanto, respirou, adquiriu personalidade física, é titular de direitos e deveres.

Figura 2 - Requisitos para personalidade


Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Dessa senda, nenhum outro requisito é importante para que a pessoa seja titular de direito e deveres, mas tão
somente o nascimento com vida. Não é requisito a sobrevivência por 24 horas ou o registro civil.

SAIBA MAIS
A lei civil trata do nascituro ao colocar a salvo os seus direitos desde a concepção. Esse é um
tema controverso, pois para muitos os nascituros possuem já alguns direitos e, para outros,
possuem a mera expectativa de direitos. Para aprofundar conhecimento sobre o tema
recomenda-se a leitura do capitulo 2 do livro “Direito civil: lei de introdução e parte geral”
(TARTUCE, 2019).

Agora que já entendemos um pouco sobre dignidade da pessoa humana, como adquirimos direitos e deveres,

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Agora que já entendemos um pouco sobre dignidade da pessoa humana, como adquirimos direitos e deveres,
vamos ver como tudo isso se relaciona à educação.

A educação e os direitos e deveres


A relação entre direito e educação e os direitos fundamentais parece ser evidente e de fato ela é. A Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem escrita em 1948 traz bem essa relação no seu artigo 12: “Toda
pessoa tem direito à educação, que deve inspirar-se nos princípios de liberdade, moralidade e solidariedade
humana.[...] por meio dessa educação, lhe seja proporcionado o preparo para subsistir de uma maneira digna,
para melhorar o seu nível de vida e para poder ser útil à sociedade.” (ONU, 1948).
Percebemos como a relação entre educação e direito é íntima e tem um papel relevante. A educação também está
prevista na Constituição Federal de 1988 no artigo 6º, como um direito social, que também é um direito
fundamental, ou seja, a partir da sua positivação constitucional ele poderá ser exigido judicialmente (BRASIL,
1988).
Os direitos previstos na nossa Carta Maior apresentam-se como finalidades ou objetivos a serem alcançados.
Assim, independentemente de previsão de prazo, a educação é um direito do cidadão e dever do Estado e deve
ser prestado conforme preceitua nossa Constituição.

FIQUE ATENTO
O fato de a educação ser um dever do Estado não exclui a possibilidade do exercício desse
dever por particulares devidamente habilitados e autorizados para tal fim específico. A própria
Constituição Federal traz essa previsão quando trata da prestação de serviços públicos.

Além dessa previsão como direito fundamental, a Constituição expecifica: “Art. 205. A educação, direito de todos
e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
(BRASIL, 1988). Assim, vemos que o objetivo da educação é o desenvolvimento da pessoa, preparo para o
exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.

Pátio escolar: espaço educacional


Para a construção do conhecimento no processo de formação do homem, a escola é elemento fundamental, pois
ela é a instituição por meio da qual é transmitida, de forma intencional, a herança social sendo, ao mesmo tempo,
responsável pelo desenvolvimento de novos conhecimentos e o local de encontro e de convivência entre
educadores e educandos. Assim, a escola é onde grupos se reúnem e trabalham de forma que aconteçam
condições favoráveis ao desenvolvimento humano nas áreas cognitiva, emocional, psicomotora, social e
profissional (TEDESCO, 2001).
O espaço escolar não é apenas para reprodução de conhecimentos e educação de nível acadêmico, mas também a
duplicata de uma ordem social. A educação, como direito social, é de oferta obrigatória e constitui um elemento
de projeto político de coletividade, não só o atendimento de interesses individuais.

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Figura 3 - Crescimento por meio da educação
Fonte: turgaygundogdu, Shutterstock, 2019.

Além disso, não se pode deixar de mencionar a figura do professor. Visto como mediador do conhecimento, é ele
quem proporciona a aprendizagem, acompanha o aluno e intervém quando necessário. Os pais e a
sociedade como um todo, além do professor, têm um papel fundamental no desenvolvimento os estudantes. Para
que isso aconteça é imprescindível que haja o engajamento da sociedade e dos pais, com debates dentro da
escola, como espaço para interação social. É interessante que haja a motivação por parte da escola para que essa
interação e a participação da sociedade ocorram. Essa ideia democrática no âmbito escolar é possível por causa
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996). Dessa forma, a escola é vista como um espaço
de proteção ao indivíduo, no qual deverá atuar a partir da ação equitativa de saberes, culturas, conhecimento,
competências, transformando a desigualdade em meritocracia.

O ensino e a questão da cidadania


Segundo a Constituição Federal (BRASIL, 1988), cidadão é aquele que possui o título de eleitor, ou seja, a
pessoa física que está apta a votar. Mas aqui, é importante ver como o ambiente escolar e a qualidade do
ensino é formam o caráter do cidadão e do sujeito como pessoa, e não apenas como eleitor.

Figura 4 - Escola implementando cidadania


Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Nesse caso, a educação deve ser voltada para os interesses dos indivíduos, sempre associados a valores morais e
éticos. É na escola o local onde o sujeito deverá encontrar meios para idealizar e preparar seus projetos de vida,

condições para formação intelectual e moral. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, são objetivos do

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condições para formação intelectual e moral. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, são objetivos do
ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:
• compreender a cidadania como participação social e política;
• posicionar-se de maneira crítica nas diferentes situações sociais;
• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais;
• conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro;
• perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente;
• desenvolver o conhecimento de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades;
• conhecer o próprio corpo e dele cuidar;
• utilizar as diferentes linguagens como meio para produzir, expressar e comunicar ideias;
• saber utilizar diferentes fontes de informação para adquirir conhecimentos;
• questionar a realidade formulando e resolvendo problemas (BRASIL, 1997).
Assim, vemos pelo próprio ministério da educação como a cidadania faz parte do ambiente escolar e está
intimamente ligada ao ensino.

Fechamento
Neste tema, compreendemos que ao nascer, a pessoa já é um sujeito de direitos fundamentais garantidos pela
Constituições Federal. Também vimos que a escola é um ambiente fundamental para a descoberta dos direitos e
deveres, já que é neste ambiente que ocorre grande parte da construção do caráter do indivíduo.
O ensino não está restrito apenas ao conteúdo das matérias obrigatórias, mas também abrange a construção de
valores morais e éticos. O envolvimento dos pais e da sociedade no ambiente escolar é de suma importância para
que haja o desenvolvimento necessário e esperando dos alunos, como pessoas e cidadãos. Dessa forma, a
educação é requisito essencial para o exercício da cidadania.

Referências
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Casa
Civil / Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03
/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 21 set. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília: Casa Civil / Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1996. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 21 set. 2019.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : introdução aos parâmetros
curriculares nacionais. Brasília : MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf
/livro01.pdf. Acesso em: 21 set. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Casa
Civil / Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002
/L10406.htm. Acesso em: 21 set. 2019.
NOVELINO, M. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Editora Juspodium, 2016.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Bogotá:
ONU, 1948. Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitos-
humanos/declar_dir_dev_homem.pdf. Acesso em: 21 set. 2019.
TARTUCE, F. Direito Civil: lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

TEDESCO, J. C. (Org.). O: novo pacto


educaç educativo
ão, competitividade e cidadania na sociedade moderna.

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TEDESCO, J. C. (Org.). O novo pacto educativo: educação, competitividade e cidadania na sociedade moderna.
São Paulo: Ática, 2001.

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