Você está na página 1de 7

Os contratos de trabalho dos

profissionais da educação
Natália Cristine Cavalcanti de Oliveira

Introdução
Os profissionais da educação possuem contrato de trabalho como qualquer outro empregado, devendo sempre
estar presente as características básicas dessa relação jurídica trabalhista. Apesar de ser um contrato com
peculiaridade em relação à forma de apuração do valor a ser pago a título de salário, a obediência aos princípios
contratuais que regem as relações jurídicas trabalhistas devem ser respeitadas e as decorrências comuns de um
contrato com carteira assinada.
Qual é o atual regramento jurídico para as diferentes categorias de professores? Como fica a questão do
pagamento para o professor horista? Como se faz a cotação para o salário desses trabalhadores? Qual é o regime
jurídico aplicável no caso de professores em tempo integral.
Ao final desta aula, você será capaz de:
• Identificar as espécies de contratos de
trabalho.

Professor horista
O professor horista é aquele que recebe o salário mensalmente, mas o valor será fixado pelo número de aulas
semanais, na conformidade dos horários. Mas, o que é hora-aula? É a medida que serve de parâmetro para que as
instituições de ensino estabeleçam a duração de um aula que pode ser de 40, 50 ou 60 minutos, de acordo com o
critério pedagógico da instituição. Sua previsão na legislação é a partir do art. 318 da Consolidação das Leis do
Trabalho (BRASIL, 1943).

-1-
Figura 1 - Regime horista
Fonte: photosync, Shutterstock, 2019.

Independentemente da forma como é pago o salário, esse professor terá os mesmos direitos e obrigações dos
demais empregados da instituição, com exceção do pagamento do repouso semanal remunerado que será
realizado em separado do valor das horas trabalhadas.

EXEMPLO
Os ganhos dos professores horistas podem ser variáveis de acordo com o mês. Por exemplo, há
diferença entre os meses que tem 30 ou 31 dias. Além disso, o cálculo de férias, 13º salário e
aviso prévio indenizado são feitos com base nas horas trabalhadas.

Aqui temos o salário por unidade de tempo, ou seja, o valor é computado com base na duração do serviço
prestado. Nesse caso, a duração diária, semanal ou mensal do trabalho é mais importante do que o volume de
produção realizado pelo empregado. O tempo colocado à disposição do empregador também é aferível
(MARTINS, 2019).
Com relação ao valor da hora-aula, para os profissionais da educação básica, o MEC estabeleceu valores
referenciais de acordo com a formação do professor. Assim, professores com graduação terão hora-aula num
valor mais baixo que os que possuem pós-graduação lato sensu ou stricto sensu. Para os demais, há uma média
calculada pelos próprios sindicatos que fornecem uma base para o valor.

-2-
FIQUE ATENTO
Não é pelo motivo da apuração do valor do salário ser diferenciada que o professor horista tem
menos direitos ou direitos diferentes do demais empregados da instituição. O contrato
continua sendo regido pela CLT e com base nas disposições legais não há diferenciação nos
direitos e obrigações.

A jornada de trabalho não é diferente dos demais devendo sempre ser observada a jornada máxima de oito horas
diárias e 44 semanais. Por exemplo, um profissional contratado para expediente de quatro horas diárias às
segundas, quartas e sextas, poderá ter essa observação nas anotações gerais em sua carteira de trabalho. Ou
poderá ser uma jornada variável caso não tenha sido estipulado o número de horas diárias e os dias a serem
trabalhados. Para as atividades extras, como festas, reuniões e eventos que não ocorram no seu horário de
trabalho, o professor deverá receber a remuneração como se tivesse trabalhado em horário suplementar
(MARTINS, 2019).

Professor em tempo integral


Segundo a Constituição Federal, não é possível realizar a acumulação de cargos nem empregos públicos de
qualquer ente da administração direta ou indireta, seja qual for o nível da entidade (federal, estadual, municipal
etc.) (BRASIL, 1988, art. 37 IX).
Entretanto, além de outras situações excepcionais, a acumulação de cargos de professor é permitida pela
Constituição.
Pode ocorrer o acúmulo de dois cargos de professor, um de magistério com juiz ou promotor de justiça, e um
cargo de professor com um técnico ou científico – sendo entendimento do Superior Tribunal de Justiça que
cargos técnicos e científicos são aqueles que exigem a formação no ensino superior ou formação técnica
especializada. No caso de acumulação ilícita de mais de dois cargos, o docente poderá sofrer processo
administrativo para determinar a ilicitude e caso comprovada poderá ser condenado a restituir ao erário os
valores percebidos (BRASIL, 1988, art. 37 XVI).

FIQUE ATENTO
A Constituição Federal traz a possibilidade de acumulação de dois cargos professor ou de
professor com cargo técnico ou científico ou de juiz e promotor. Qualquer outra opção dada
está errada segundo o artigo 37, XVI e deve ser evitada pelo profissional.

Apesar da possibilidade da acumulação de cargos para professor, de forma a estimular o profissional a colocar os
seus esforços na formação dos alunos, houve a criação da figura do professor em dedicação exclusiva. Esse

regime, implica o impedimento do exercício de qualquer outra atividade remunerada no ambiente público ou

-3-
regime, implica o impedimento do exercício de qualquer outra atividade remunerada no ambiente público ou
privado Em regra, essa é uma função exclusiva das universidades públicas.
A dedicação exclusiva foi regulamentada pelo Decreto nº 60.091 de 1967, conforme art.1º: “O regime de tempo
integral e dedicação exclusiva poderá, nos termos deste Regulamento, ser aplicado: a) a ocupantes de cargos de
magistério, à vista de provadas necessidades de ensino e da cadeira verificada, previamente, a viabilidade da
medida, em face das instalações disponíveis e outras condições de trabalho do estabelecimento.” (BRASIL, 1967).

Figura 2 - Professor com dedicação exclusiva


Fonte: gualtiero boffi, Shutterstock, 2019.

O artigo 14 do Decreto nº 94.664 de 1987 implementa que o profissional do magistério superior será submetido
a jornada de 40 horas semanais de trabalho divididos em dois turnos diários completos seguido do impedimento
de qualquer outra atividade remunerada no setor público. Essa jornada não foi alterada pelas modificações
propostas posteriormente pela Lei nº 12.772/2012.
A proibição de recebimento de outra remuneração para o professor submetido a esse regime inicia-se no
momento de sua nomeação, no qual se presume o encerramento de todos os vínculos empregatícios e societários
para o ingresso no quadro permanente da instituição.

Salário e remuneração
A contraprestação pecuniária paga ao empregado em razão da sua prestação de serviços pode ser salário ou
remuneração. A remuneração indica o total de ganhos percebidos pelo empregado e o salário é o que é pago pelo
empregador.
O conjunto de verbas percebidas pelo empregado pela prestação do trabalho, tanto o estipulado por contrato,
como outras vantagens recebidas na vigência do contrato é conhecido como remuneração. Abrange não
somente o valor pago pelo empregador, mas também os complementos pagos por terceiros como gorjetas, além
de valores de natureza salarial como abonos, adicionais, comissões e gratificações. Já o salário é a vantagem
paga pelo empregador ao empregado em decorrência da contraprestação e pelo tempo à disposição, conforme
contrato de trabalho (MARTINS, 2019).

-4-
contrato de trabalho (MARTINS, 2019).

Figura 3 - Remuneração
Fonte: Syda Productions, Shutterstock, 2019.

O salário possui algumas características que são determinantes para o reconhecimento da sua natureza. Por ter
caráter alimentar, deverá suprir as precisões pessoais e essenciais do trabalhador e, consequentemente, de sua
família, pois é sua fonte de sustento. O caráter forfetário refere-se à obrigação do empregador que não poderá
deixar de ser cumprida em razão da sorte do empreendimento, assim, mesmo em momentos de dificuldade
financeira, não poderá o empregador se eximir de cumprir a sua parte no contrato. Também é irredutível e
indisponível, não pode ser objeto de renúncia ou transação por parte do empregado e nem reduzido de forma
unilateral, podendo ocorrer apenas mediante acordo ou convenção coletiva (BRASIL, 1988, art. 7º, VI). Possui
natureza sucessiva, ou seja, renasce após cada cumprimento, perdurando enquanto o contrato estiver em
vigência.

-5-
SAIBA MAIS
O pagamento de salário deve ser realizado de forma clara e transparente para que o
empregado saiba o que lhe está recebendo. Assim, qualquer pagamento em que não haja
detalhamento de verbas e descrição não estará em conformidade com ordenamento jurídico.
Para aprofundar o assunto, recomenda-se a leitura do capítulo 12 – Retribuição do trabalho –
do livro “Curso de Direito do Trabalho” (MARTINEZ, 2019).

Além do salário básico, também o integrará as gratificações legais e de função bem como as comissões pagas pelo
empregador. Certos valores, mesmo que pagos com habitualidade, como ajuda de custo (até 50% da
remuneração), auxílio-alimentação, diárias para viagens e prêmios não são considerados como base para
qualquer cálculo seja trabalhista ou previdenciário (BRASIL, 1943, art. 457 §1º) .

Figura 4 - Salário
Fonte: rtbilder, Shutterstock, 2019.

Fora o pagamento em dinheiro, também é considerado salário, para os fins legais, aquelas prestações in natura –
utilidade – que são fornecidas pelo empregador habitualmente decorrendo do contrato ou de costume. Nesse
caso, esses valores integraram base de cálculo dos demais direitos trabalhistas.
Portanto, no tocante ao salário, integram-se o salário base, as comissões, gratificações legais, sendo remuneração
as ajudas custo, diárias de viagens, prêmios ou bônus etc.

-6-
Fechamento
Independentemente do tipo de contrato a ser realizado, no ambiente escolar público ou privado, há decorrências
que devem ser devidamente respeitadas como qualquer outro profissional. O regime de dedicação exclusiva
aplica-se, legalmente, aos servidores públicos para o magistério em nível superior.
Portanto, a profissão docente apresenta um regimento com algumas especificidades, mas que não foge da
realidade atual do sistema jurídico como um todo.

Referências
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 4. 345, de 26 de junho de 1964. Institui novos valores de vencimentos
para os servidores públicos civis ao Poder Executivo e dá outras providências. Brasília: Casa Civil / Subchefia
para Assuntos Jurídicos, 1964. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4345.htm. Acesso
em: 30 set. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 5.539, de 27 de novembro de 1968. Modifica dispositivos da Lei número
4.881-A, de 6 de dezembro de 1965, que dispõe sobre o Estatuto do Magistério Superior, e dá outras
providências. Brasília: Casa Civil / Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1968. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L5539.htm. Acesso em: 30 set. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 94.664, de 23 de julho de 1987. Aprova o Plano Único de
Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos de que trata a Lei n.7.596, de 10 de abril de 1987. Brasília: Casa
Civil / Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1968. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto
/Antigos/D94664.htm. Acesso em: 30 set. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Casa
Civil / Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03
/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 21 set. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília: Casa Civil / Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1996. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 21 set. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 12.772, de 28 de dezembro de 2012. Dispõe sobre a estruturação do
Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal. Brasília: Casa Civil / Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1996.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12772.htm. Acesso em: 21 set.
2019.
CARVALHO, M. Manual de direito administrativo. Salvador: Editora Juspodium, 2016.
MARTINS, S. P. Direito do trabalho. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
MARTINEZ, L. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
NOVELINO, M. Curso de direito constitucional. Salvador: Editora Juspodium, 2016.

-7-

Você também pode gostar