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Revista Eletrônica Pesquiseduca

Revista do Programa de Educação - Universidade Católica de Santos


ISSN: 2177-1626

Filosofia da educação e desenvolvimento da pessoa


humana por meio da construção de conceitos éticos

Philosophy of education and the development of the human person through


the construction of ethical concepts

Filomena Maria Rates1

Maria Judith Sucupira Costa Lins2

Resumo: Esse artigo resgata a formação moral e ética para transformação da pessoa por meio
das virtudes e a prepara para lidar com as emoções. Levantamos a hipótese de que somos
movidos pelas emoções e precisamos investir na formação da pessoa por meio da educação das
virtudes para sermos capazes de construir uma sociedade de pessoas felizes e justas. O objetivo
é levar à reflexão sobre educação, conceito de pessoa e construção dos valores éticos na
formação humana baseados na hermenêutica de Paul Ricoeur (2008) que nos permite entender
os conceitos selecionados. O artigo levanta duas questões: identificar até que ponto a educação
por meio das virtudes transforma a pessoa e porque é necessário compreender o conceito de
pessoa. Fundamenta-se em Aristóteles (a.C. IV, 1999), Maritain (1959) Mounier (1964) e
Sucupira Costa Lins (2014). Esses autores oferecem suporte para nosso objetivo pela
preocupação com a formação da pessoa por meio das virtudes.

Palavras-chave: Educação Filosófica. Conceito de pessoa. Formação humana. Educação Integral.

Abstract: This paper rescues moral and ethical education to change people through virtues and
enable them to deal with their emotions. We have the hypothesis that we are moved by
emotions and that we need to invest in virtue education to be able to build a society of happy
and fair people. Its objective is to reflect on education, the concept of person and the
organization of ethical values in human education based on Ricoeur’s hermeneutics (2008),
which allows us to understand the selected concepts. This paper raises two questions: to
identify to what extent virtue education changes a person and why it is necessary to understand
the concept of person. Its theoretical foundation includes Aristoteles (BC IV, 1999), Maritain
(1959), Mounier (1964) and Sucupira Costa Lins (2014). These authors provide the basis for our
objective because of their concern with one’s virtue education.

Keywords: Philosophical education. Concept of person. Human education. Integral education.

1
Doutora em Educação PPGE/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora da Universidade Iguaçu. E-mail:
filomrates5@msn.com
2
Doutora em Educação PPGE/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Titular da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro da Academia Brasileira de Educação. E-mail:
mariasucupiralins@terra.com.br
Filomena Maria Rates; Maria Judith Sucupira da Costa Lins

Introdução

Este artigo resgata a importância da formação moral e ética para a


transformação da pessoa, por meio da educação para as virtudes. Aristóteles
(EN, Livro II. 1105b – 5-10, 2001) diz que “as manifestações da alma são de três
espécies: emoções, faculdades e disposições – a excelência moral deve ser uma
destas”. Na mesma obra, afirma que emoções devem “significar os desejos, a
cólera, o medo, a temeridade, a inveja, a alegria, a amizade, o ódio, a saudade, o
ciúme, a emulação, a piedade” e de modo geral os sentimentos que causam
sofrimento ou prazer. A “faculdade” significa “porque somos capazes de sentir
emoções” e por “disposições” entendemos “o estado da alma” que define se
estamos “bem ou mal em relação às emoções” (ARISTÓTELES, EN, Livro II.
1105b – 5-10, 2001). A “excelência moral ou deficiência moral “não são
chamadas de emoções porque não nos definem como “bons ou maus”. Não
somos exaltados ou censurados por causa das emoções e, sim, por nossa
excelência ou deficiência moral (ARISTÓTELES, EN, Livro II. 1106a – 19-26,
2001) e já que excelência moral não são emoções nem faculdades, “só lhe resta
ser disposições” (ARISTÓTELES, EN, Livro II. 1106a – 31-32, 2001). A excelência
moral quanto ao seu gênero deve ser definida quanto a sua espécie e
disposição. A excelência moral proporciona “boas condições à coisa que ela dá
excelência, faz com que essa coisa atue bem”. “A excelência moral do homem
também será a disposição que faz um homem bom e o leva a desempenhar bem
a sua função” (ARISTÓTELES, EN, Livro II. 1106a – 6-17, 2001). Precisamos,
portanto, ser preparados para lidar com essas emoções e aprender a agir,
escolhendo entre o bem e mal, tornando-nos desse modo pessoas eticamente
morais e felizes. É por meio da prática das virtudes que nos tornamos felizes e
esta é uma característica da pessoa amável, sem excesso, uma pessoa amiga que
aprendeu a agir e controlar suas emoções (ARISTÓTELES, a. C. IV, 1999).
Daniel Goleman (1995) explica que o controle das emoções é necessário
para que haja o desenvolvimento da inteligência de um indivíduo. O autor diz
que não há uma loteria genética que define se os indivíduos vão se tornar
pessoas vitoriosas ou fracassadas no jogo da vida, pois não há como saber, e
nisso reside o papel da educação. A educação e domínio do conhecimento de
determinada área capacitam a pessoa a realizar suas atividades de trabalho com
desenvoltura e podem determinar seu sucesso ou não na profissão. Para
Goleman (1995, p.49):

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As pessoas com prática emocional bem desenvolvida têm mais


probabilidade de se sentirem satisfeitas e de serem eficientes
em suas vidas, dominando hábitos mentais que fomentam sua
produtividade; as que não conseguem exercer nenhum controle
sobre sua vida emocional travam batalhas internas que sabotam
a capacidade de concentração no trabalho e de lucidez de
pensamento.

Goleman (1995) explica que, embora existam pontos que determinem o


temperamento, muitos dos circuitos cerebrais da mente humana são flexíveis e
podem ser trabalhados a nosso favor. Goleman (1995) diz ainda que uma das
características da inteligência emocional envolve porque o sujeito é capaz de se
motivar, não desistir de seus objetivos e, mesmo com toda dificuldade,
aprender a controlar os impulsos e a esperar, só para ter a satisfação de saber
agir conforme sua vontade. Observemos ainda o comentário do referido autor:
“manter-se em bom estado de espírito e impedir que a ansiedade interfira na
capacidade de raciocinar; de ser empático e autoconfiante” (GOLEMAN, 1995,
p. 27).

Continuando a reflexão a partir desse autor, notamos que é incisivo


quando afirma que a inteligência emocional é tão importante na vida do sujeito
como a cognição. “O fim da jornada é entender o que significa - e como - levar
inteligência à emoção” (GOLEMAN, 1995, p. 27). Goleman (1995, p.26), ao falar
sobre a importância da inteligência emocional, diz que há “crescentes indícios
de que as posturas éticas fundamentais na vida vêm de aptidões emocionais
subjacentes”. O autor explica, ainda, que estamos vivendo em um momento
social no qual a violência é predominante, há uma pobreza de espírito, um
apodrecimento da bondade e da relação com o outro, ou seja, pessoas cada vez
menos éticas que agem por impulso, pela emoção, e são incapazes de manter o
controle e agir conforme sua vontade. Quando uma pessoa aprende a agir com
prudência e a controlar suas emoções, dizemos que ela é emocionalmente
estável, de caráter inabalável e que sabe fazer o que tem que ser feito, no
momento certo. Goleman (1995, p. 26) lembra também que “a raiz do altruísmo
está na empatia, a capacidade de identificar as emoções nos outros; sem a noção
que o outro necessita”. O homem de caráter e ética sabe agir com empatia,
preocupa-se com o outro, identifica imediatamente quando o outro está
emocionalmente abalado e precisa de ajuda.

O autor explica, ainda, que uma pessoa que possui empatia, se envolve
emocionalmente com o outro, visando o bem dessa pessoa. Diante das situações
de extremos riscos, presentes nas sociedades, como crime, suicídio, abuso

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sexual, uso de drogas e violências em geral, tornamo-nos incapazes de lidar


com as situações emocionais, podendo prejudicar nossa tomada de decisões de
forma coerente. Goleman (1995) fala que a falta de controle em situações de
risco é sinal de que a sociedade está doente e sem controle emocional. Saber
tomar a decisão correta nos momentos de riscos é o que prepara a pessoa para
enfrentar as diversidades e obter sucesso na vida.

Gardner (1999) explica que, ao exibir fotos e imagens das situações


vividas e tecer analogias dos pontos apresentados durante o processo de ensino
para os estudantes, é possível fortalecer o aprendizado das ideias centrais do
conteúdo que precisa ser transmitido. Goleman (1995) possui uma forma de
pensar semelhante à de Gardner (1999), e afirma que a Inteligência Emocional
na pessoa pode ser desenvolvida e aprimorada com a construção de hábitos,
novas formas de pensar e se comportar que primem pela vontade de aprender
por meio de escolhas e do esforço. Esses ensinamentos são necessários para que
os indivíduos aprendam a ter comportamentos justos e éticos. Aristóteles (a. C.
IV, 1999) considera a maneira de aprender a agir bem, por meio desses
ensinamentos, a forma de encontrar a felicidade que se adquire com a prática
das virtudes para o bem comum.

Ricoeur (2011, p.4), ao analisar a questão da ética e moral, pergunta:


“Haverá necessidade de distinguir entre ética e moral?”. O questionamento do
filósofo vem ao encontro das questões levantadas neste artigo. Ricoeur (2011,
p.4) usa o termo “ética” para definir uma vida boa, de pessoas acostumadas a
viver por meio das boas ações e serem estimadas como exigência universal.
Esse filósofo contemporâneo mostra que é por meio das ações boas e de
obediência às normas que podemos resolver os conflitos, que são características
obrigatórias da ética e da moral. O autor apresenta três termos básicas para que
isto aconteça: 1) o primado da ética sobre a moral; 2) a necessidade de o
desígnio ético, apesar de tudo, ter de passar pelo crivo da norma; 3) a
legitimidade de um recurso da norma ao desígnio, dado que a norma conduz a
conflitos para os quais não existe outra saída que não a de uma sabedoria
pratica que remete para aquilo que, na vida ética, está mais atento à
singularidade das situações (RICOEUR, 1990, p.4-5)

Ricoeur (1990, p.5) se refere à vida boa e ética como uma norma que
conduz com sabedoria ao primado de uma vida moral na prática. Esta
sabedoria de viver de forma ética deve ser analisada segundo três termos: o
Desígnio é ético, a Norma Moral é a Sabedoria Prática da ética. O primeiro,
Desígnio é ético, é definido da seguinte forma: “desígnio de uma vida boa, com

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e para os outros, em instituições justas”. Vida boa, ou seja, a felicidade, no


pensamento de Aristóteles (a. C. IV, 1999) é alcançada por meio da prática de
virtudes. O segundo, a Norma Moral, surge da vivência de conflitos que
suscitam a solidariedade de acordo com cada momento, levando-nos à moral e
à ética. Neste caso, trata-se de uma ética severa e enriquecida pela norma de
acordo com a situação em que se aplicar (RICOEUR,1990). Para a terceira, a
Sabedoria Prática, Ricoeur (1990, p.17) usa as palavras de Aristóteles (a. C. IV,
1999) para definir o termo “como phronesis (prudência)”.

O objetivo desse trabalho é propor uma reflexão sobre a educação


filosófica calcada no conceito de pessoa e sua importância na construção dos
valores éticos na formação humana.

O exercício da ética no agir diário traz uma sabedoria prática para a vida,
para que conflitos das situações do dia a dia sejam superados, uma vez que
somos seres de inteligência emocional como dizem Ricoeur (1990), Goleman
(1995) e Gardner (1999) e, portanto, movidos pelas emoções, tais como:
“desejos, a saudade, o ciúme, a emulação, a piedade, e de modo bem geral os
sentimentos acompanhados de prazer e sofrimento” (ARISTÓTELES, EN, Livro
II. 1106a – 5-10, 2001). Essas emoções podem ser aprimoradas com a construção
de bons hábitos, por meio do exercício de um agir ético diário. Tomás de
Aquino (2005, p.35) define habitus “como uma disposição, uma capacidade da
natureza humana, a qual se enraíza em sua natureza específica e individual,
finalizada pelo agir”. Entendemos na fala do autor que os hábitos de uma
pessoa ética são: seu comportamento e sua maneira de agir, tanto para o bem,
quanto para ao mal. Segundo esse filósofo, quando há harmonia, existe o bem,
mas quando ocorre a desarmonia o mal predomina. O homem, que age para o
bem, desenvolve capacidades naturais que podem levá-lo a melhorar suas
habilidades.

O problema deste estudo está no papel da formação moral da pessoa por


meio das práticas das virtudes. Compreendemos que somos seres movidos
pelas emoções que nos causam sofrimento ou prazer. Todas as pessoas
precisam ser ensinadas a agir bem, viver em harmonia com o outro, por meio
das virtudes, durante toda a vida, para que se tornem pessoas eticamente
virtuosas e felizes (ARISTÓTELES a. C. IV, 1999). Agir bem e ter um
comportamento ético durante toda a vida, e ser educada para uma vida de
valores, é o que Aristóteles (a. C. IV, 1999) afirma e, posteriormente, Mounier
(1964) define como a forma de suprir nossa deficiência moral na construção do
caráter.

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A Filosofia chama atenção para esta forma de pensar e educar na


sociedade de valores. Sobre a “compreensão do ser da educação”, Sucupira
Costa Lins (2013, p, 33) explica que é “fundamental para que se prossiga
indagando sobre outros aspectos da Educação”, cujo principal objetivo é a
concretude do homem. Cada indivíduo, enquanto humano, é ao mesmo tempo
ente da humanidade e universal. Entendemos, nas explicações da autora, que a
Filosofia da Educação e a Natureza da Educação participam diretamente na
formação da pessoa, porque cada homem é específico com sua individualidade
para pensar, mas ao mesmo tempo pertence à humanidade.

Mounier (1964, p.16) fala da importância da individualidade da pessoa,


em seu estudo, e afirma que o “Personalismo é uma filosofia, e não apenas uma
atitude” porque a pessoa não é um objeto inanimado e que imagens não dão ao
homem a magnitude que merece como ser pensante. O homem não pode ser
simplesmente produzido em série, são pessoas e não objetos. No
individualismo se assume uma postura distinta; o personalismo faz uma
oposição a isso. Enquanto o individualismo mantém o homem centrado sobre si
mesmo, a primeira preocupação do personalismo é descentrá-lo para colocá-lo
nas largas perspectivas abertas pela pessoa. Nós, humanos, somos seres
“indefinidos”, não é qualquer expressão que nos esgota e nada a que somos
condicionados, nos “escraviza” (MOUNIER, 1964, p.19). Compreendemos, nas
explicações do autor, que cada pessoa é capaz de pensar, ter personalidade
própria e isto a torna distinta e única em sua magnitude; ao mesmo tempo que
pertence à humanidade, é capaz de aprender e edificar seus próprios valores.

Portanto, a hipótese levantada neste trabalho é que somos seres movidos


pela paixão e essa emoção nos causa dor ou prazer. Acreditamos que a
formação da pessoa, por meio das virtudes, terá grande impacto na construção
de uma sociedade de pessoas justas. Para Mounier (1964) a formação do caráter
de uma pessoa deve ser uma prática diária. Essa prática torna a pessoa
resiliente, ou seja, um ser humano com capacidade de se adaptar ou evoluir,
apesar das diversidades. Transpondo este conceito para uma pessoa de caráter,
significa manter a retidão de sua personalidade, não importando por quantas
dificuldades e tentações seja submetida.

Mounier (1964) diz que a pessoa enquanto ser humano é um agente


moral, capaz de construir valores morais. É difícil encontrarmos uma definição
exata para Pessoa, por sua variedade histórica e cultural, diferentes
controvérsias e correntes filosóficas. A pessoa é um ser humano dotado de
capacidade de reconhecer, o certo e o errado, por meio das virtudes, na

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construção de valores morais na sua prática, na formação de sua personalidade


e de seu caráter (ARISTÓTELES, a.C. IV, 1999). Concordamos com Aristóteles
(a.C. IV, 1999), Mounier (1964) e Maritain (1959) que reconhecer o valor do
caráter e aprender por meio das virtudes faz parte da capacidade humana. Isso
inclui o nosso modo de agir, a superação dos nossos medos, nossas fúrias,
nossos ciúmes que são características humanas. É necessário agir com
perseverança e compaixão. Entendemos que é possível alcançar a felicidade
pelo hábito de agir bem, por meio de uma constante aprendizagem da educação
ética.

Ao analisar a linha de pensamento dos filósofos Von Hildebrand e


Wojtyla, Merecki (2003, p.106) destacou alguns aspectos em comum e concluiu
que: “o personalismo ético constitui outro ponto de encontro entre suas
opiniões”. Segundo o autor, para Von Hildebrand e Wojtyla, “a pessoa constitui
a mais elevada epifania do ser, e por isso é digno que se afirme para seu próprio
bem” (MERECKI, 2003, p.106). Essa epifania é o ápice de uma sensação
profunda de realização, no sentido da compreensão da essência das coisas. Nas
observações de Merecki (2003) sobre Von Hildebrand e Wojtyla, considera que
trataram de cada virtude de uma pessoa como uma caminhada para uma
posição adequada dos valores em relação à sua moralidade. As pessoas são
superiores a outros bens que encontramos no mundo visível; são racionais e
capazes de construir sua vida na moralidade. A capacidade de entender a
essência das coisas é que torna o ser humano capaz de se firmar e buscar sua
formação ética e moral, o que é fundamental para sua felicidade.

A educação da pessoa humana por meio das virtudes

Para levar a uma reflexão sobre a natureza da educação, as questões


filosóficas são de grande valia. A filosofia nos remete a um entendimento do
que vem a ser educação: capacidade de ensinar e aprender, ou seja, quando a
pessoa constrói sua rede de entendimento e se torna capaz de transmitir tais
conhecimentos ao outro. Dentre esses conhecimentos estão a formação ética e
moral, que trazem uma concretude que nos permite avaliar outras questões na
formação do conhecimento do homem que podem ser transmitidos pela
Filosofia da Educação. A Filosofia da educação é uma atividade que Sucupira
Costa Lins (2013, p. 36) diz ser uma tarefa que “se realiza no plano do
conhecimento e dos valores”, constituindo “o sentido fundamental da Filosofia,
mas que reflete sem se distanciar da realidade concreta dos fatos históricos e
socioculturais”. A autora define educação como uma disciplina que trata do

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fato que é “prática e teórica, é in fieri e in facto” (a se construir, a se formar),


porque é uma atividade do homem para a sociedade e que isto acontece
“mesmo sem que este disso se dê conta” (SUCUPIRA COSTA LINS, 2013, p.
34).

Esta capacidade de se constituir e se formar, para Mounier (1964, p.39) é


porque “o homem é corpo exatamente como é espírito, é integralmente corpo e
é integralmente espírito”; portanto, o autor entende o homem como uma raiz da
história. Em vários contextos existem muitos elementos que comprovam sua
participação e que, em vários momentos, busca superação através de sua
moralidade. Mounier (1964, p. 27) explica que a palavra pessoa tem origem no
latim e significa um ser ou criatura humana, independente de sexo (homem ou
mulher), enquanto ser é constituído de moralidade. A pessoa precisa e é capaz
de superar-se, independente dos obstáculos, e de ir além.

Sobre esta capacidade de superação por meio da moralidade construída


na luta dos obstáculos vencidos, Maritain (1959) corrobora com este conceito
quando parte do pressuposto de que uma pessoa humana é constituída de
moralidade, possui livre arbítrio e é inteiramente responsável por seus atos.
Como ser ontológico e com sua individualidade, a Pessoa é formada pela
construção de sua personalidade e como indivíduo que é, um ser capaz de
edificar seus conhecimentos e ter autoconsciência. Compreendemos, com o
autor, que o ser humano é um ser individualizado e capaz de ser formado por
meio das virtudes. Os homens devem fazer parte da concepção, edificações
desses conhecimentos e de seus valores na construção de sua personalidade e
por se entender como individuo, o ser humano precisa estar no campo social.

Esse humano que precisa viver em sociedade faz parte da sua natureza,
ser uma pessoa edificada por meio de valores e virtudes e não sabe viver no
conformismo. Mounier (1964, p. 21) diz que a pessoa humana também pode
viver no conformismo para não ter que afrontar “factos de homens” e assumir
responsabilidades, deixando de expor suas ideias. A história do homem como
pessoa será sempre paralela à “história do personalismo” que se expressará de
tal forma no “plano da consciência” e sua grandeza para “humanizar a
humanidade” em um esforço constante. Esta capacidade de assumir
responsabilidades permite que não ocorra este conformismo, apontado pelo
autor, e é o que torna o homem capaz de se destacar por suas ideias de justiça.

Sobre a educação do homem, Maritain (1959, p.15) fala que, sem a sua
“experiência coletiva, previamente acumulada e preservada, e sem a

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transmissão de conhecimentos adquiridos” o homem não é capaz de progredir


na sua própria vida, daí a importância da educação ética para o homem como
pessoa. Maritain (1969) diz que a pessoa é dotada de conhecimentos ilimitados
e que, mesmo podendo avançar gradativamente e progredir na sua vida, pode
também não ampliar sua intelectualidade moral, se não for auxiliado por suas
vivências e experiências coletivas transmitidas por seus familiares. A
característica do homem é se manter imerso no mundo de natureza material,
movidos por interesse, preocupações, desejos, afetos, conhecimentos e saberes.
Portanto, este homem está mergulhado em várias situações durante sua
história. Como ser no mundo que é, o homem precisa desenvolver sua essência
e postura para adquirir e ser capaz de constituir-se como pessoa ética.

Ao falar sobre a formação de um indivíduo, Maritain (1959, p.15) explica


que a formação moral “é uma arte” e que educar o homem é uma “ciência ética
e pertence às ciências práticas”. Há uma compreensão clara na fala do autor que
formar uma pessoa para viver e se comportar eticamente implica uma prática
contínua que se transforma em ciência ética. Maritain (1968, p.57), tomando
Aristóteles como seu mestre, afirma que o filósofo fez muito mais do que
ensinar a ética, “fundou para sempre a verdadeira Filosofia”. Maritain (1968, p.
67) define Filosofia como sendo “a sabedoria humana”. Compreendemos com
isto que a Filosofia é um saber da pessoa humana que enquanto constrói sua
sabedoria, com sua humanidade, vai mudando seu comportamento, criando
regras e formas de agir bem, dignas da pessoa virtuosa.

A transformação da pessoa por meio da educação para as virtudes

Para Aristóteles (EN, Livro I. 1095a – 9-10, 1999), a maioria das “pessoas
qualificadas dizem que o bem supremo é a felicidade, e viver bem e ir bem
equivale a ser feliz”, o que confirma o pensamento de Maritain (1968) sobre agir
bem para ser uma pessoa virtuosa. Aristóteles (EN, Livro I. 1102a – 23-25, 1999)
fala que “a excelência humana significa a excelência não do corpo, mas da alma,
e também dizemos que a felicidade é uma atividade da alma”. Entendemos com
estas palavras que, para alcançar a felicidade plena, é preciso agir bem e viver
de acordo com as virtudes. Não nascemos éticos e precisamos aprender as
virtudes, entendendo que esta também é uma função da educação. MacIntyre
(1984) fala sobre a Desordem moral ocasionada pela falta dos conceitos
éticos/morais que assolam a humanidade e Sucupira Costa Lins (2003, p.165) se
mostra preocupada com esta Desordem Moral e levanta questionamentos sobre
“o papel do educador nesta sociedade, a partir da formação ética/moral, e qual

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a responsabilidade da organização de ensino nesta formação”. Educar é função


também do professor. Bruner (1987) explica a importância do professor na
aprendizagem, do currículo, do esforço para desenvolver métodos que levem o
aluno a construir seu conhecimento. Sem esta pessoa educadora, não haveria
sociedade de ensino; portanto, não há como falar da educação ética, sem colocar
em evidência a sua participação ativa na formação do caráter do indivíduo
como pessoa. Ninguém nasce formado eticamente, mas é durante a educação
que a pessoa recebe a formação necessária para se tornar um indivíduo
moralmente correto. O homem como pessoa só pode ser considerado um
indivíduo ético quando consegue reger sua própria vida dentro dos preceitos
morais, com autonomia (PIAGET, 1973). Segundo Piaget (1977), a autonomia
moral ocorre entre 8 e 12 anos; os propósitos e as consequências de obedecer às
regras devem ser consideradas como obrigação baseada na reciprocidade.
Surge o respeito mútuo na pessoa, ela passa a tratar seus semelhantes como
gostaria de ser tratada.

Falando sobre os fins da educação na formação moral, Maritain (1959, p.


27) diz que a finalidade da educação “é guiar o homem no dinamismo crescente
por meio do qual ele se torna uma pessoa humana dotada de conhecimentos, de
capacidade julgadora e virtudes morais”. Perpetuando e transformando esses
conhecimentos, está preservando a transmissão espiritual de sua pátria e da
civilização a qual pertence, por gerações seculares. Em nosso entendimento,
compreendemos que é por meio educação que nossos conhecimentos são
ampliados, aumentando nossa capacidade julgadora, transformando-nos e
capacitando-nos para saber e transmitir os conhecimentos éticos na prática para
as futuras gerações.

Quanto a estas transformações interiores, por meio da educação moral,


Maritain (1959) e Sucupira Costa Lins (2009) apontam que isto só pode ser
possível quando a pessoa é formada por meio das virtudes. A formação por
meio das virtudes é necessária, uma vez que torna o homem dotado de
conhecimentos que o capacitam para ter um julgamento moral e elevada
espiritualidade como pessoa. Maritain (1969) fala que a elevada espiritualidade
aumenta a potencialidade social da pessoa, além de sua liberdade interior. É
sempre sua liberdade interior que o encaminha para viver bem socialmente. O
homem não é feliz sozinho, por isso é natural que busque viver bem com a
natureza e a sociedade. O homem é um animal político na concepção
aristotélica; portanto, precisa se relacionar com o outro para construir sua
própria identidade como pessoa.

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Na concepção aristotélica, o homem precisa do outro para ser feliz.


Arendt (2007) fala que a sociedade é tão importante para a educação do homem
porque todas as suas atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os
“homens vivem juntos, mas a ação é a única que não pode sequer ser imaginada
fora da sociedade dos homens” (ARENDT, 2007, p.31). Entendemos que a
função da educação é a formação de conceitos éticos para que a pessoa se torne
capaz de conviver bem com os outros e ser feliz.

Esta necessidade de viver na prática e em sociedade durante a formação


da pessoa, durante sua vivência na coletividade é o que, na Filosofia Moral ou
ética, chamamos de Filosofia Prática. Existem outras ciências, como a Medicina,
por exemplo, mas “somente a filosofia moral tem por objetivos atos humanos”
que só pode ser aprendida na prática por pessoas (MARITAIN, 1959, p.98).
Esses atos humanos na Filosofia Prática é que indicam se uma pessoa possui a
lógica e objetivo e é dotada de razão para dirigir o seu “espírito para verdade”
(MARITAIN, 1968, p.100). Concluindo, o autor explica que a Filosofia se divide
em três: “A lógica que leva a Filosofia propriamente dita”; a “Filosofia
especulativa”, ou simplesmente a Filosofia, que têm por finalidade o ser das
coisas. E, finalmente, a “Filosofia prática ou moral” que tem por objetivo os atos
humanos da pessoa. Não podemos esquecer que a pessoa tem sua centralidade
na moral e é por meio da educação que a desenvolve. A filosofia moral se
preocupa com a formação ética e moral da pessoa.

Explicando sobre a relação entre “Natureza da Educação e sua relação


com a Filosofia da Educação”, Sucupira Costa Lins (2013, p.34) diz que a
educação é “datada e situada, a importância da historicidade da Educação é
inegável e esta é realçada pela ação das pessoas concernentes à prática social”.
A atividade de educar é “sistemática intencional, ao mesmo tempo em que é
uma relação ético/existencial” (SUCUPIRA COSTA LINS, 2013, p.34).
Entendemos nas palavras de Sucupira Costa Lins (2013) que, por sua própria
dialética, a filosofia da educação vem a ser uma atividade prática e uma
reflexão teórica constante concernente à natureza da pessoa. Sobre essa
transformação da pessoa por meio da educação para as virtudes é que nos
propomos a fazer uma reflexão, a partir de duas questões: 1) Até que ponto a
educação por meio das virtudes pode transformar a pessoa?; 2) Qual a
importância de estudar a educação filosófica calcada no conceito de pessoa?

Até que ponto a educação por meio das virtudes pode transformar
a pessoa?

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Filomena Maria Rates; Maria Judith Sucupira da Costa Lins

Buscando respostas para o primeiro questionamento sobre a


transformação da pessoa por meio da educação filosófica das virtudes,
encontramos em Aristóteles (EN, Livro VI. 10143b – 56-59, 1999) a explicação de
que o discernimento e a sabedoria filosófica se relacionam com as disposições
da alma, sendo que a “excelência é parte diferente da alma”. O filósofo explica
ainda que “faculdade não é discernimento, mas que não existe sem ela” porque
este olho da alma não pode ser eficaz sem obter uma excelência moral que está
relacionada com as práticas (ARISTÓTELES, EN, Livro VI. 10144a – 48-53,
1999). Entendemos, na fala do filósofo, que o discernimento de compreender o
que é certo e o que é errado, contido nos ensinamentos filosóficos das virtudes,
está ligado à alma. As virtudes se relacionam e uma não existe sem a outra, ou
seja, o homem que pratica bons hábitos, com respeito ao seu semelhante é capaz
de alcançar a excelência moral pela vivência de todas as virtudes.

Sucupira Costa Lins (2013, p.36), em suas reflexões, diz que a Filosofia
exige de um ser consciente, reflexões práticas e sua “função é trabalhar os
problemas do homem sobre si mesmo e a realidade à sua volta”. Este trabalho é
feito por meio da educação filosófica porque é uma atividade que traz para o
aprendizado do agir educativo uma prática do dia a dia da pessoa na formação
de seu caráter. É o que Gardner (1999, p. 34) chama de educação recheada de
virtudes, explicando que as disciplinas humanistas aumentam de forma
“significativa a nossa compreensão das variedades de beleza e moralidade,
familiarizam-nos com as múltiplas maneiras como os indivíduos, ao longo do
tempo e do espaço, têm-se concebido a si mesmos e concebido seus mundos,
suas opções e seus destinos”. Essas disciplinas, segundo Gardner (1999), ao
contrário das disciplinas científicas, dedicam-se também ao estudo dos seres
humanos, artes e às humanidades, estudam as peculiaridades da pessoa, suas
obras e suas experiências individuais. Entendemos, com isto, que é
indispensável a educação do homem sobre outras questões, como as artes e
suas humanidades, mas a educação ética filosófica para a pessoa é de vital
importância em sua formação.

A educação sobre as questões éticas filosóficas consideradas de vital


importância para Gardner (1999) é o que Goergen (2007, p. 795) esclarece: “se de
um lado, o postulado do dever ameaça caducar, de outro, reatualiza-se com
notável vigor a preocupação moral em todos os segmentos da sociedade”.
Entendemos que o espaço educacional, além da transmissão de conhecimentos
que permitam o crescimento individual, também deve ir além, ou seja, vincular

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seus valores culturais e das virtudes na formação do caráter em todos os


segmentos da sociedade.

Goergen (2007, p.740), falando dos problemas atuais da educação moral


dos sujeitos em relação às perplexidades da sociedade contemporânea e o
cenário atual, reporta-se à educação das virtudes de Aristóteles (a. C. IV, 1999) e
diz que é a “favor de uma educação moral do sujeito que implique, ao mesmo
tempo, a tematização crítica do ethos que com seus conceitos, tradições e
costumes, representa o espaço que legitima a atuação moral desse
sujeito/cidadão”. Este olhar sobre a educação em Goergen (2007), baseado nas
virtudes, confirma o pensamento de importantes filósofos como Aristóteles (a.
C. IV, 1999); MacIntyre (2001); Maritain (1968); Sucupira Costa Lins (2013) sobre
a importância da educação filosófica e da formação moral e ética da pessoa.

Qual a importância de estudar a educação filosófica calcada no


conceito de pessoa?

Em relação à segunda questão sobre a importância de estudar a educação


filosófica calcada no conceito de pessoa, Aristóteles (EN, Livro I. 1098a – 33-36,
1999) fala que o “bem do homem vem a ser o exercício ativo das faculdades da
alma de conformidade com a excelência”. Este exercício de fazer o bem de
forma contínua deve ser feito pela vida toda, pois “uma andorinha só não faz
verão (nem faz o dia quente); da mesma forma um dia só, ou um curto lapso de
tempo, não faz um homem bem-aventurado e feliz” (ARISTÓTELES, EN, Livro
I. 1098a – 37-40, 1999). Compreendemos que o exercício de educar a pessoa para
praticar o bem, estudar as virtudes e ter a sua formação calcada no respeito ao
outro, é o que transforma o homem em afortunado e com princípios que são
capazes de torná-lo justo e feliz.

A preocupação com a formação filosófica aristotélica, calcada no conceito


do respeito ao outro, por meio das virtudes, pode transformar a pessoa e é
importante na educação escolar. Anísio Teixeira (1967, p.17) mostra-se
preocupado com os conhecimentos adquiridos a partir de experiências,
vivências e observações do mundo da educação. É na educação filosófica da
pessoa que a escola, “acima de tudo”, precisa estar atenta ao “modo moral da
vida do homem moderno, a sua ética social”. É na escola que “criança deve
ganhar o sentido de independência e direção” que precisa para se tornar uma
pessoa tolerante e aprender a viver com os outros sem perder sua
personalidade. Esta forma de educação moral, que preocupa Anísio Teixeira

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(1967), corrobora com o pensamento de Aristóteles (a. C. IV, 1999) que fala do
bem comum ou senso comum, necessário à formação e felicidade do homem.

O caráter moral da formação do homem, neste sentido, determina


disposições sistemáticas de comportamento humano que deve ser uma conduta
com retidão, objetivando uma vida harmoniosa. Neste sentido, Maclntyre
(2001) resgata a importância da educação de valores pelas virtudes para
formação do caráter e educação da pessoa humana. Ao fazer esse resgate da
educação de valores, coloca como fator basilar e primordial, no centro da
atividade humana, a formação moral para que a pessoa aprenda a viver com
retidão e caráter, capaz de trazer a harmonia necessária de que o homem
precisa para ser feliz.

Considerações finais

As discussões sobre o tema proposto quanto à importância de


aprofundamentos teóricos sobre a educação filosófica calcada no conceito de
pessoa e na construção dos conceitos éticos na formação humana, nos permitem
compreender o caráter formador, enquanto profissionais da educação. Esses
estudos referentes à educação ética da pessoa humana devem ser inseridos em
nossa prática diária.

O objetivo proposto de levar a uma reflexão a respeito da educação


filosófica calcada no conceito de pessoa e sua importância na construção dos
conceitos éticos na formação humana torna-se relevante e necessário para a
educação. Com a argumentação realizada neste artigo, apresentamos reflexões
sobre o grande valor da pessoa e sua concepção ética.

Em toda a história da educação, percebe-se que a pessoa enquanto


humano é um ser em constante transformação, mutável e inacabado. A
educação e desenvolvimento ético da pessoa merecem a preocupação das
comunidades atuais e futuras que devem ser colocadas sempre em evidência.
Discutir sobre questões filosóficas que capacitem a pessoa para a construção de
conhecimentos e que a tornem apta para transmitir tais ensinamentos tem um
significado valioso para a educação. Além de animador, é precioso ascender,
colocar a educação ética e a formação de valores morais em posição de
relevância. A ética não deve ser deixada de lado, causando uma Desordem Moral
na sociedade e na educação.

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A nosso ver, trazer à tona a formação de valores por meio da educação


das virtudes é a única saída para evitar a Desordem Moral, um dos maiores
problemas da humanidade. É preciso e urgente dar atenção à fala dos
estudiosos preocupados com educação. Nos dias atuais, a pessoa e a sua
significância, tanto aclamada por vários filósofos e psicólogos é deixada de
lado. Há uma inversão de valores que não podem ser largados à deriva. Cabe à
educação se valer de todos os seus atributos: pesquisar, explorar, ensinar e
divulgar conhecimentos que não deixem a seriedade do ensino de ética e da
valorização da pessoa se diluir como uma solução ou mistura que para
diminuir sua concentração e/ou evaporação, como líquido, torna-se cada vez
mais invisível e insignificante para a sociedade.

Neste sentido, a importância do processo educativo deve privilegiar a


formação ética nas escolas e universidades. Ninguém nasce ético; é preciso
ensinar a preciosidade destes conhecimentos para as futuras gerações. A
pessoa, enquanto ser constituinte da sociedade, está caindo em desuso,
perdendo sua essência e valor. Há um turbilhão de desvalorização da pessoa
enquanto sujeito na sociedade.

Há uma virtude na natureza humana e é preciso que a pessoa descubra


sua disposição para a razão e sua vontade de agir de acordo com os fins
necessários para a felicidade humana. Isto é a busca do bem comum que
precisamos para sermos felizes na comunidade e para a construção de uma
sociedade humanizada e de princípios. O ser humano é pessoa de valor e deve
ser compreendido em toda a sua totalidade de acordo com seu humanismo
integral.

Para finalizar, educar é um ato de cuidar do outro, oferecer novas


expectativas, atentar-se e preparar o futuro da pessoa humana. O ser humano
precisa ser formado para aprender a cooperar com o outro, para agir com
solidariedade, aprender a aceitar o outro, ter noção de limites e edificar sua
noção de dever. Entendemos que é preciso formar um sujeito ético, que saiba
aceitar o outro, que se coadune com a concretude e noção de dever, calcada no
respeito a pessoa humana, em toda a plenitude, durante toda a sua formação e
na construção de sua personalidade. Enfim, para concluir, este trabalho que
em si, não se esgota, exatamente por sua relevância, novos estudos se fazem
necessários para dar conta de um assunto tão importante como a pessoa
humana e sua formação ética e moral.

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Recebido em: fevereiro de 2021


Aceito para publicação em: abril de 2021

Rev. Eletrônica Pesquiseduca. Santos, V.13, N. 30, p.409-425, maio-ago. 2021 425

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