Você está na página 1de 2

Brian V.

Street em seu livro Letramentos Sociais – Abordagens críticas do


letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação coloca em cheque os
modelos de letramentos mais vigentes e busca um entendimento mais amplo das
consequências do letramento na cultura e na sociedade. E para isso ele tenta
construir um modelo de letramento ideológico que se estabelece exatamente como
crítica ao modelo de letramento autônomo, proposta esta que evidentemente criou
falsas afirmações durante o Ano Internacional da Alfabetização (1990) como a de
que só com investimentos financeiros e institucionais em alfabetização faria com que
os analfabetos aprimorassem suas habilidades sociais, letradas e cognitivas. Além
de essa ser uma conclusão discriminatória para com as pessoas que apresentaram
dificuldades em se alfabetizar, também trata de uma visão limitada e ocidental sobre
o que é o letramento. E como se foi apresentado em alguns exemplos na história
esse tipo de olhar sobre a alfabetização tenha sido um dos principais problemas na
questão de se estabelecer um modelo de letramento que atenda de maneira
satisfatória as necessidades de certas comunidades.

Por esse motivo o autor em primeiro momento já argumenta como um modelo


único de letramento já se torna uma complicação na educação, pois o letramento em
certos ambientes requerem debates políticos em que se torna necessário uma
flexibilidade que só um leque de modelos de letramentos diferentes consegue suprir,
onde não é uma decisão que parte apenas de técnicos e especialistas que se
afirmam como neutros, mas estão inseridos em seus meios e que por sua vez pode
carregar seus preconceitos e dogmas. Assim, o primeiro capítulo tenta elencar como
prioridade o ato de “Trazer o letramento para a agenda política”, porque o caráter
ideológico do letramento fica evidente quando se percebe que a questão não está
apenas na transmissão de técnicas de leitura e escrita, mas também na transmissão
de ideias e modelos de visão de mundo passando o que é conhecimento, o que é a
verdade e o como funcionam as formas de poder.

Diversos momentos históricos mostram como as formas de letramento de


certas sociedades tendem a desvalorizar e apagar outros modos de letramentos que
podem também ser usados de maneiras eficazes, isso fica claro principalmente em
situações de colonizações tanto modernos como mais antigas e o fato de esses
estilo de letramento passa ter um objetivo de controle e de dominação perante as
sociedades colonizadas. Por isso que não é certo afirmar que o debate está focado
no repasse de modelos de leitura e escrita, como já dito antes, mas sim em uma
discussão muito mais ampla de influência cultural quando se trata de passar formas
dominantes de letramento e configuração cultural. Deste modo, no segundo capítulo
Street passa a abordar “a importância do contexto social no desenvolvimento de
programas de letramento” mostrando que as pessoas não são máquinas vazias
onde se apenas inserido conhecimento e que geralmente as campanhas de
letramento escondem seus interesses políticos e econômicos por trás de técnicas
neutras que disfarçam por meio de sua linguagem científica seu caráter dominante
das relações de poder estabelecidas.

Para investigar mais sobre o tema o autor se lembra que os programas de


letramento nos anos 80 usavam de um método etnográfico, conceito originado da
antropologia que se valem do convívio no grupo, aprendizagem da língua e coleta
de dados para estudar os padrões sociais e culturais de respectiva comunidade.
Partindo de estudos etnográficos próprios sobre o Irã, o autor passa a defender que
só a etnografia não é suficiente para explorar as capacidades que o letramento pode
produzir.
Para tratar sobre o tema o livro usa como base a obra The Uses of Literacy
de Richard Hoggard e análises das referências culturais na antropologia
desenvolvidas no Reino Unido nos anos 60 e 70. Os recursos didáticos usados para
a educação do Irã no reinado de Reza Pahlevi construía o enunciado do sistema
educacional usando da narrativa tradicional para mudar radicalmente a concepção
de realidade do povo rural. Essa perspectiva surge, segundo o autor, na tentativa de
aplicar modelos autonomos de letramento em que, como no exemplo do “cultoa
carga”, os antropologos vêm os letramentos das culturas locais como algo
ritualizado, irracional e equivocado. Já Street defende o oposto, porque os
letramentos locais na sua visão estavam preenchidos pelos valores sociais do povo
da Malenésia que respondiam a colonização inglesa afirmando a cultura local.

Você também pode gostar