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AVALIAÇÃO DA BIOCORROSÃO E SUA CORRELAÇÃO COM A

CORROSÃO ELETROQUÍMICA DE CUPONS METÁLICOS EM


SOLO.
Marcela França Prado de Souza1; Maria Alice Gomes de Andrade Lima2
1
Estudante do Curso de Engenharia Química – CTG – UFPE; E-mail: marcelafrprado@hotmail.com,
2
Docente/pesquisador do Depto de Engenharia Química – CTG – UFPE. E-mail: magalufpe@yahoo.com.br

Sumário: O aço-carbono é um dos tipos de aço mais utilizados industrialmente, devido à


boa relação entre resistência mecânica e dureza, assim como, tenacidade e ductilidade,
além disso, o aço carbono é menos oneroso que outros tipos de aço. Porém, o aço carbono
não apresenta alta resistência à corrosão, sendo necessário o estudo minucioso do meio,
onde duto e vigas de aço carbono ficarão dispostos, pois, os prejuízos causados pelos danos
de corrosão, do ponto de vista econômico, atingem custos extremamente altos. A corrosão
pode ser induzida, iniciada ou intensificada por vários motivos, no presente estudo foi
analisado o potencial que o solo da região portuária de SUAPE tem de provocar a
biocorrosão ou corrosão microbiologicamente induzida em cupons de aço-carbono imersos
em diferentes profundidades do solo, a fim de quantificar grupos de microrganismos,
determinar a taxa de corrosão nos cupons em diferentes tempos de exposição, assim como
classificar o solo quanto à corrosividade. Foram encontrados no solo microrganismos
responsáveis pelo processo de biocorrosão tais como: bactérias heterotróficas aeróbias e
anaeróbias, bactérias precipitantes de ferro, BRS e bactérias produtoras de ácido aeróbias e
anaeróbias, Pseudomonas sp. e fungos. O solo foi classificado como moderadamente
corrosivo.

Palavras-chave: aço-carbono; microrganismos; biocorrosão; solo

INTRODUÇÃO
O transporte de fluidos por dutos é o principal meio utilizado pelas companhias de
petróleo, gás e saneamento. Os dutos metálicos enterrados estão sujeitos a corrosões
externas, influenciadas por diversos fatores tais como: tipo de material utilizado na
fabricação do duto, características químicas e microbiológicas do solo, do revestimento,
ação de correntes de interferência entre outros.
A corrosão consiste na deterioração de materiais, principalmente metálicos, por ação
química ou eletroquímica do meio ambiente, associada ou não esforços mecânicos
(GENTIL, 2011). Quando a corrosão do material ocorre mediante a participação de
microrganismos, recebe a denominação de biocorrosão ou corrosão microbiologicamente
induzida (VIDELA & HERRERA, 2005). O aço-carbono destaca-se entre os materiais
mais empregados nos segmentos industriais por ser um material relativamente barato,
encontrado comercialmente em uma diversidade de formas e com uma ampla gama de
propriedades como, por exemplo, alta resistência a impactos, ductilidade e facilidade de
soldagem. Porém, o aço carbono apresenta, em geral, baixa resistência à corrosão sendo
comumente associado a sistemas de proteção como forma de controle à corrosão
(PEREIRA, 2013). Neste contexto, estudos que permitam compreender o fenômeno de
corrosão em solo, bem como seus fatores de influência, de forma a atualizar os conceitos já
existentes sobre o tema e possibilitar melhores sugestões de alternativas para esta
problemática, são cada vez mais se faz necessário.

MATERIAIS E MÉTODOS
Corpos de prova (cupons metálicos): Foram
utilizados cupons metálicos retangulares de aço
carbono de dimensões de (25x35x2)mm previamente
jateados para remoção de possíveis produtos de
corrosão e para obtenção de um perfil de rugosidade
adequado
Amostragem do solo: A amostra de solo utilizada no
experimento foi retirada de uma área demarcada no
complexo portuário de SUAPE, próximo à Refinaria
Abreu e Lima.
Construção do biorreator: O biorreator, mostrado na
Figura 1, consistiu de um tambor plástico contendo a
amostra de solo em estudo. Os cupons metálicos, os
quais foram conectados a uma haste a fim de facilitar
a sua posterior remoção, foram distribuídos ao longo
do tambor (superfície e profundidade) de modo a
proporcionar a formação e crescimento do biofilme de
forma regular em todos os cupons.
Avaliação físico-química do solo:Análises físico-químicas do solo (pH, Potencial Redox,
Condutividade, umidade, DBO, Cloretos, Sulfatos e Sulfetos) foram realizadas no
LAMSA(DEQ-UFPE) de acordo com o Manual de Métodos de Análise de Solo.
Avaliação da resistividade do solo com a umidade: A análise da resistividade do solo foi
realizada de acordo com a recomendação técnica (GCOI/SCM/95) usando o método
laboratorial de construção da curva de resistividade em função do teor de umidade. Através
desta análise, foi determinada a umidade a partir da qual o solo se encontra em limite
mínimo de resistividade, ou seja, em valor máximo de corrosividade em relação a
estruturas metálicas enterradas. A partir deste ponto, procurou-se manter a umidade do solo
na faixa determinada, simulando uma condição de máxima agressividade do meio.
Quantificação dos microrganismos no solo e nos cupons: A quantificação
microbiológica do solo foi realizada na etapa inicial do experimento, e após 15, 30, 45 e 60
dias amostras do solo e dos cupons dispostos no biorreator. As suspensões celulares foram
obtidas, segundo técnicas assépticas, inoculadas em meios seletivos e acondicionadas em
temperatura e tempo de incubação adequado para o crescimento de cada grupo microbiano
utilizando as técnicas de número mais provável (NMP) e contagem em unidades
formadoras de colônia (UFC/mL).
Avaliação do potencial eletroquímico: A medição do potencial de circuito aberto foi
realizada utilizando-se um multímetro e um eletrodo de referência de cobre/sulfato de
cobre, permitindo assim avaliar se houve degradação do material; o tempo de estabilização
do processo corrosivo; e se os produtos de corrosão promovem proteção ao material.
Avaliação da taxa de corrosão: Após a retirada do biofilme, os cupons foram submetidos
a uma decapagem ácida. Em seguida, foram imersos em álcool isopropílico por 5
segundos e acetona por mais 5 segundos. Levados à estufa a (70±1)ºC por 30
minutos, e após secagem, foram mantidos em dessecador para garantir a retirada de
toda umidade até o momento da pesagem. Os dados obtidos foram utilizados para a
determinação da taxa de corrosão, em mm/ano, que é calculado conforme equação
abaixo:
m 1
taxa de corrosão (mm / ano)  3650  
t d  A
Onde: m  perda de massa após o período de exposição (g), t  período de exposição
(dias), d  densidade do aço carbono 1020 (cm³), A  área superficial do cupom (cm²).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise físico-química do solo indicou quantidade satisfatória de nutrientes, tanto de
elementos essenciais, como carbono e potássio, como de elementos traços como o ferro.
Com base no estudo da resistividade em função da umidade, decidiu-se que a umidade do
solo seria controlada em 25±5%, pois isso conferiria um estado de menor resistividade.
A Figura 2 mostra a quantificação
dos microrganismos feita após
15, 30, 45 e 60 dias de exposição,
tanto para base quanto para
superfície. Com 15 dias foi
possível observar a formação de
um biofilme maduro constituído
de todas as populações presentes
inicialmente no solo, mas
predominantemente de bactérias
heterotróficas aeróbias totais. Isto
mostra que as condições
ambientais foram suficientes para
garantir o metabolismo dos
microrganismos. As bactérias
aeróbias heterotróficas totais e as
bactérias precipitantes do ferro
apresentaram as maiores
concentrações celulares na
superfície. As bactérias
produtoras de ácido tanto
aeróbias quanto anaeróbias
foram encontradas em maior
quantidade na superfície. Essas
bactérias são extremamente
agressivas pois atuam fortemente
no processo corrosivo, devido a
produção de vários tipos de
ácidos no seu processo
metabólico. Houve maior
concentração de fungos nos
cupons da base que na superfície.
Os fungos se adaptam com maior facilidade em ambientes cujo pH é menor que 5, sabe-se
também que o pH se altera com a profundidade, logo os fungos encontraram na base
condições mais adequadas para seu crescimento. As bactérias redutoras de sulfato foram
encontradas na base e na superfície, porém foi o grupo microbiano que apresentou menor
concentração celular (na ordem de 10¹ e 10³ NC/cm²).
Na Figura 3 é apresentada a taxa de corrosão
em função do tempo de exposição dos
cupons em profundidade e na superfície.
Nota-se que a taxa de corrosão tanto na
superfície quanto em profundidade diminui
com o tempo, pois a ocorre a formação de
uma camada passiva que protege o metal de
corrosão mais severa. O maior valor para a
taxa de corrosão na superfície é justificado
devido a maior aeração que existe na
superfície quando comparada com a aeração
na base, pois, isso intensifica a oxidação dos
cupons superiores.
Segundo a classificação adotada pela NACE RP-07-75-2005, as taxas de corrosão do aço-
carbono na superfície e em profundidade foram classificadas como moderada. Deve-se
considerar que o grande diferencial entre estas regiões é a disponibilidade de oxigênio,
uma vez que este interfere no metabolismo dos micro-organismos presentes além de
participar diretamente das reações de corrosão.

CONCLUSÕES
Foram encontrados no solo microrganismos responsáveis pelo processo de biocorrosão
tais como: bactérias heterotróficas aeróbias e anaeróbias, bactérias precipitantes de ferro,
BRS e bactérias produtoras de ácido aeróbias e anaeróbias, Pseudomonas sp. e fungos. Nos
biofilmes formados, os microrganismos que apresentaram maiores concentrações celulares
foram as bactérias heterotróficas aeróbias totais e as bactérias precipitantes do ferro. No
aço-carbono a taxa de corrosão pelo ensaio de perda de massa foi superior para o solo na
superfície do que em profundidade, justificada pela maior aeração da superfície. Com base
nos valores de resistividade e da taxa de corrosão concluiu-se que o solo da região
portuária de SUAPE é considerado moderadamente corrosivo. Como sugestão para
trabalhos futuros pode ser feita a verificação das melhorias para diminuição da corrosão
vindas através da proteção do aço-carbono ou causadas através da correção do solo.

AGRADECIMENTOS
Ao PIBIC/UFPE/CNPq por fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico do país.
A professora Maria Alice pela orientação, as alunas de mestrado Roseana Pereira e
Edkarlla Sousa e de graduação Karinne Vieira pela parceria.

REFERÊNCIAS
GENTIL, V. Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 6. ed. Rio de
Janeiro: Ltc, 2011. 353 p.
PEREIRA, R. F. C. Efeito da Corrosão Microbiologicamente Induzida (CMI) em
cupons de aço-carbono e aço galvanizado expostos ao solo da região de SUAPE-PE.
Dissertação (Mestrado em Processo Bioquímicos) – Universidade Federal de Pernambuco
– UFPR, 2013.
VIDELA, H. A., HERRERA, L. K. Microbiologically influenced corrosion:
looking to the future. International Microbiology, v.8, p.169-180, 2005.

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