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Austin Chant
Magnus Hirschfeld
Prólogo
—Você...
Ele sorriu.
Um
—E antes disso?
***
Peter nunca tinha visto esse garoto antes. Ele usava uma pele
de lobo em volta da cintura, mas, de outro modo, poderia ser o filho
de um fazendeiro; ele tinha aquele olhar honesto e trabalhador, com
ombros largos e uma mandíbula severa. Ele olhou para Peter com
desconfiança medida. —Quem é você?— ele clamou.
Peter esperava que os Garotos Perdidos o informassem, mas
ou seus pedidos lançaram dúvidas em suas mentes ou eles quiseram
deixar Peter subir ao palco. —Você não me conhece?— Peter disse de
volta. Ele saltou para o final do galho, que não conseguiu mergulhar
sob seu peso. —Eu sou seu capitão. Eu deveria espetar você por sua
insolência.
—Ernest.
—Eu sei. —disse Ernest. —Você é Peter Pan. Mas você está
fora há dez anos e eu sou o líder deles agora.
Ele pulou.
***
Peter sorriu para ele. —Então você vai admitir que eu sou o
líder se eu encontrá-lo primeiro?
Peter supôs que não era uma distração tão ruim de sua
verdadeira missão. Ele pegaria a flor, consertaria Curly, e então os
Garotos Perdidos cairiam atrás dele quando ele retomasse sua
guerra com Hook. Assim como nos velhos tempos.
Peter não teve uma resposta; ele tinha quase certeza de que
fingira ser imortal para impressionar os outros, mas não podia
admitir isso. —Eu decidi que preferia ser mais forte do que ficar um
menino para sempre.— ele mentiu. —Há algumas coisas que um
homem pode fazer que um menino não pode.
—Como ter uma guerra real.— disse ele. —Onde as coisas são
realmente perigosas.
—Nenhum.
Peter franziu o cenho para ela. —Se é magia de fada, por que
você não pode curá-lo?
***
Novo.
—Eu sei o que você quer dizer.— disse Peter sem pensar.
Ele estava prestes a dar uma olhada quando ouviu Ernest dar
um grito de alarme.
Hook jogou a cabeça para trás para olhar para Peter, a luz da
tocha brilhando em seus brincos dourados e sorriso largo. —Bem na
hora. —ele disse. —Desça daí, Pan. Nós tomamos seu homem como
refém.— Ele apontou sua pistola para Ernest, que parou de lutar.
—Ele não vai deixar Ernest ir.— avisou Tink. —Ele vai mantê-
lo como garantia para o caso de você tentar escapar.
Ernest disse algo que poderia ter sido o nome de Peter em sua
mordaça. Peter deu a ele o que ele esperava que fosse um olhar
tranquilizador. —Como eu sei que você vai deixá-lo ir?— ele chamou.
—Eu não sou covarde.— disse Peter. Ele sorriu quando Hook
se aproximou. —Com um segundo pensamento, você tem certeza de
que está bem o suficiente para lutar comigo? Eu odiaria pensar que
eu tinha uma vantagem porque já te feri.
—Eu sou mais do que suficiente para lidar com você.— disse
Hook com um sorriso. —Vamos, pirralho. Tenham em você.
Eles se lançaram um para o outro quase como um. Peter teve
que se desviar de um golpe da lâmina de Hook, girando para o lado
de fora do braço da espada de Hook. Hook se virou para segui-lo,
não oferecendo abertura para Peter explorar, empurrando-o para
trás com uma enxurrada de pequenos golpes.
—Nunca.
—Nunca.
***
—Claro que não.— disse Peter. Ele desejou que os fae não os
tivessem interrompido.
—Dez anos não são tão longos para um humano.— disse Tink.
—Ele desejou por mim, então eu fui.
—Claro que sim.— disse Peter. —Mas eles não vão morder
você. Você está comigo.
Peter fez uma careta para ela e puxou Ernest para o prado.
Era impossível não pisar nas flores; havia um milhão deles sob os
pés.
Sua voz atingiu uma nota que fez seus dentes doerem. —
Lembre-se.
***
Isso era pior do que ser encontrado em seu quarto com todas
as evidências espalhadas ao redor dele, muito covarde para dar o
salto final?
Sem saber como, Peter sabia que o som era o seu nome.
—Claro que sim.— disse ela. Suas asas lançaram uma poeira
cinzenta que se juntou em sua palma. —Você não lembra de mim?
Ele recuou para dentro. Ele ouviu seu pai tentar a porta e
encontrá-la trancada. —Wendy!— Um punho pesado bateu contra a
porta, e Peter se encolheu, olhando para Sininho suplicante. —Não
me lembro de como voar.
***
—Eu queria ver por trás desse seu escudo.— disse ela. —Agora
eu entendo porque você continua.
***
—Se você está sendo justo.— disse Peter. —Eu inventei Peter
Pan, então decidi quem o interpreta. E, além disso, a túnica não
combina com você.
***
***
Depois do que ele tinha visto dos Garotos Perdidos, Peter não
ficou surpreso, mas o aqueceu um pouco ao ouvir Hook dizer isso. —
Vou lhe mostrar uma coisa interessante.— ele disse.
—Cala a boca.— disse Peter. —Não foi uma luta justa.— Ele
estava, agora que pensara nisso, ansioso por uma revanche. Apenas
o pensamento de batalha o fez sentir como se seu corpo estivesse
voltando ao alinhamento, afastando o pior de suas memórias e
deixando-o aguçado. Ele poderia provar a si mesmo contra Hook.
Ernest lhe dera uma espada, uma lâmina longa e fina, como
as que os piratas lutavam. Peter tirou-o da capa pesadamente,
mantendo os olhos fixos em Hook ou, mais precisamente, no modo
como Hook o observava. Era estranhamente estimulante ver-se
observado como um inimigo, como uma ameaça.
Ele não podia deixar isso acontecer novamente. Foi a sua vez
de ganhar, a sua vez de fazer Hook suar e lutar e ceder.
Ele gritou e se jogou para frente, deslizando pelas defesas de
Hook e quase conseguindo esfaqueá-lo no estômago. Hook aparou,
mas ele estava recuando, Peter perseguindo-o. Então eles estavam
duelando a sério. Peter perdeu a noção de tudo, menos do som de
suas espadas tocando juntas, entrando em choque tão violento que o
impacto do golpe de Hook percorreu seu corpo como um choque.
Não havia nada além do momento e, no momento seguinte, o brilho
mortal da lâmina de Hook. Os movimentos de Peter estavam quase
fora de seu controle - como se ele estivesse narrando as ações, mas
seu corpo os estava completando por conta própria, sintonizados nos
avanços de Hook e reagindo antes que Peter pudesse pensar.
Até a cadeira em que ele fora colocado era linda. Era feito de
madeira lustrosa de Borgonha, e os braços foram esculpidos nas
caudas das sereias. Não, sereias...homens. Seus corpos se arquearam
nas curvas da cadeira, os braços estendidos impotentes acima de
suas cabeças, olhando para Peter com rostos bonitos e olhos vazios.
—Você é um covarde.
—Faça o seu pior.— disse Peter. Ele nunca quis dizer mais
nada. A sensação das cordas que o prendiam firmemente era quase
melhor do que a sensação de duelar com Hook. Foi uma luta que ele
não sabia como vencer, um perigo que não podia escapar. Isso foi
bom. Sentia-se como uma corda que tinha sido esticada depois de
ter ficado folgada por muito tempo.
—Eu vou te matar quando você ficar sem truques. —disse ele.
—Eu admito.— disse Hook. —Mas você ama uma boa luta,
não é?
***
***
Peter voou para frente, parando logo atrás do pirata. Ele não
fez nenhum som, mas o deslocamento de ar bagunçou o cabelo na
parte de trás do pescoço do guia, e o homem se virou com um
suspiro.
***
—Meu Deus.— disse Tootles. —Eu acho que foi Billy.— Ele
rolou o corpo do guia, e vários Garotos Perdidos pareciam
assustados.
—O que?
Peter teve que rir. Ele nunca se sentira menos mal em sua
vida. —Você pode sair se quiser.— disse ele. —Eu não vou fazer você
lutar.
***
Ernest olhou para ele. —Eu não quero que você lute
sozinho.— disse ele.
—Você não quer brigar comigo também. —replicou Peter. —E
alguém tem que cuidar de Hook. Mas eu não preciso de ajuda se
você não quiser.
J. Hook.
—Ora, meu caro amigo.— disse ele. —Você não parece estar
preparado para a guerra depois de tudo.
—Peter!
*~*~*
Ele ficou parado por um longo tempo, observando a poeira
das fadas deslizar por entre os dedos, tão fina quanto o pó.
Tudo o que ele tinha era sua adaga, mas isso teria que ser o
suficiente. Ele ainda se sentia forte, mas a ferida em seu peito tinha
crescido um vermelho mais profundo, mais furioso que se espalhou
no centro. Os pontos prateados pareciam se esforçar para contê-lo.
*~*~*
—Você está aí, Pan?— Hook gritou, alto o suficiente para que
suas palavras olhassem para fora das paredes e penetrassem fundo
nos túneis sinuosos. —Eu vou sangrá-los! O kraken vai separá-los!
*~*~*
Eles amarraram Peter de mãos e pés como tinham os outros
meninos. Peter não podia falar enquanto eles o amarravam. Ele se
sentia oco, como se alguém tivesse arranhado seu coração e toda a
outra carne do interior de suas costelas.
Ele cortou uma fatia fina na palma de Peter - Peter ouviu Nibs
ofegar - e estendeu a lâmina pela piscina, deixando o sangue de
Peter espalhar-se na água, onde se espalhou como fumaça.
—Você tem algo a dizer para Pan antes que ele morra?—
Hook perguntou.
—Solte!
*~*~*
Ele olhou para cima, viu Peter parado ali com o espigão e
gritou.
Ele não queria matar alguém novamente. Pior, ele não queria
que Hook estivesse morto. Enquanto os momentos passavam, ele
tentou se convencer de que sim, mas a ideia o dominou em ondas de
crescente horror. Ele pensou em Hook indo embora do jeito que
Sininho era, despido do mundo, longe de ser encontrado.
Era como ser atingido por uma prancha; Peter caiu no chão,
atordoado. Foi um momento antes que ele tivesse o bom senso de
responder a ter sido atacado, alcançando o pico. A essa altura, Hook
já havia se afastado, claramente desinteressado em pressionar sua
vantagem. Ele se inclinou e pegou o fósforo caído.
A boca de Peter caiu aberta. Ele descobriu que não tinha nada
que pudesse dizer.
Hook tossiu. —Onde está essa sua fada? Ela deveria dar-lhe
outra dose de pó de fada para mantê-lo.
Peter engoliu um nó repentino na garganta. —Ela está
morta.— ele disse brevemente. —Ela usou o último de sua magia
para impedir que o veneno se espalhasse. Para me dar tempo para
encontrar o antídoto.
—Eu não sabia.— disse Hook por fim. Sua voz foi áspera,
como se ele estivesse lutando para falar. —Sinto muito, Pan. Sinto
muito mesmo.
Que era tão injusto que pôs os dentes de Peter no limite. —Eu
não queria que Tink morresse.— ele retrucou. —Eu não queria que
ninguém ficasse realmente ferido.
—Por que vale a pena, eu não culpo você.— Hook riu ao redor
do charuto. —Seria difícil ser você sem um adversário, não seria?
Ele parou.
—E Samuel?
Mesmo que Samuel não fosse real, a dor de Hook era, e isso o
torcia. —Eu sinto muito.
Hook não pareceu notar que aquela era a primeira vez que
Peter se perguntava. Ele respondeu inutilmente: —James Hook,
capitão do Jolly Roger.
*~*~*
—Pan! Pan!
*~*~*
—Isso não significa que você não faria isso.— disse Pan,
embora sem entusiasmo.
—Ah. Morto?
—Não.
—O meu é.— disse Hook. —Minha mãe também.
*~*~*
Eles logo enfrentaram outra realidade amarga: Hook estava
ficando sem fósforos. A madeira queimada por um longo tempo, mas
ele não achava que duas varas lhes dariam mais do que outras horas,
e então eles estariam viajando cegos.
—Você faz parecer que você é o único a obter o fim mais curto
do negócio. —Pan recuou. Ele estava quase de volta ao seu estado
habitual, embora algo em seus modos fosse subjugado. Suas bordas
se suavizaram.
—Pan, não...
Ao apertar a mão de Pan, a laje afundou no chão e ouviu-se
um rangido profundo como se a pedra estivesse esculpida. Hook
olhou para cima a tempo de ver uma pedra enorme atravessar o teto
e rolar na direção deles. Era largo o suficiente para encher o túnel,
sem nenhum caminho para escapar.
Peter acelerou seu ritmo, seu coração pulando. —Por que você
não disse isso?
—Porque eu gosto de ouvir você reclamar como uma criança
petulante.
—Eu sei que você está preparado para lutar contra qualquer
coisa, mas há algo a ser dito para pensar antes que você corra para o
perigo.— retrucou Hook. —Não sabemos quanto tempo os túneis
estão. Eles podem percorrer quilômetros na direção errada e quase
não temos mais luz.
—Sim.— Peter sentiu uma onda de raiva; ele queria que Hook
confiasse nele. —Estamos trabalhando juntos, lembra? E eu te devo.
Um pequeno sorriso curvou o canto da boca de Hook. —De
fato.— ele disse. —Bem, faça isso.
—Sim.
*~*~*
—Claro?
—Red Dog era obcecado por fadas. Ele dedicou sua vida a
estudá-las, quando não estava brincando de pirata. Ele naturalmente
teria escolhido um esconderijo para seu tesouro que tivesse algo a
ver com as fadas.— Hook olhou pensativo para o cristal bem acima
deles. —Eu suponho que estas cavernas devem ter sido um local de
encontro para eles, uma vez.
—Eu vou fazer com que nós marquemos a entrada para que
eu possa voltar e reivindicar o lote.— disse Hook. —E nem todo
tesouro é ouro e joias.
—Quem é Sylvester?
—Você me ouviu.
Pan parecia não ter nada a dizer sobre isso. Ele saltou de pé,
deixando a tocha, e saiu abruptamente para as sombras.
Estendeu a mão para a parede e Hook viu o corte fino que ele
abrira na palma da mão para chamar o kraken.
—O que?
Ela tinha, às vezes, expressado certo pesar por dar a Pan esse
tipo de poder.
*~*~*
—Ninguém te coroou.
Ele tinha uma noção irritante de que Pan não sabia que ele
era bonito, mas Hook ia revelar isso a ele por acidente, se não tivesse
cuidado.
—Você deve admitir que é a coisa mais linda que você já viu.
—Eu acho que sim.— disse Hook. Ele olhou para a ferida e
depois para longe, respirando com dificuldade. Algumas gotas de
suor rolaram pelo seu peito.
—O que eu faço?
Peter ficou aliviado ao ver que a cor de sua pele estava normal
novamente, sua respiração era uniforme. O pó de fada se juntara no
oco de sua gola e estava aspergindo lentamente pelo peito quando a
brisa o perturbou. Invisível, Peter olhou para as linhas fortes dos
ombros de Hook, para a dura inclinação do peito, o cabelo preto que
descia pela barriga e por baixo das calças. Fez-se olhar para cima,
mas ver o rosto de Hook acalmado pelo sono não era melhor. Ele
parecia sereno e bonito, a barba crescida depois de todo o tempo no
subsolo. Peter queria estender a mão e sentir como ela se enrolava
contra suas bochechas.
Hook franziu o cenho para ele, mas não chegou a seus olhos;
foi quase um sorriso. Ele passou alguns minutos inspecionando a
ferida fechada em seu ombro, passando um dedo pelos pontos. —
Trabalho notável. — disse ele. —Obrigado.
*~*~*
Eles tinham que ter saído das cavernas. Ernest estivera com
eles; ele teria cuidado deles. Exceto Ernest foi ferido, Peter lembrou-
se com uma pontada de preocupação. Onde eles poderiam ter ido?
Onde eles teriam escondido?
Isso não estava certo, porque ele gostou quando Hook não
estava tentando machucá-lo também. Não foi a ameaça que
capturou a atenção de Peter. Era o jeito que Hook pulara para
encontrá-lo quando ele começou a contar histórias de guerra e
violência, tão ansioso quanto Peter era lutar e planejar. Foi assim
que ele deu a Peter toda a sua atenção, a força total de sua crueldade,
sem se preocupar se Peter poderia lidar com isso.
James Hook.
Peter amassou a nota. Ele não deveria ir. Não havia razão
para ele ir. Hook não atacaria os Garotos Perdidos de qualquer
maneira se Peter os deixasse sozinhos.
Peter olhou para longe, sua pele formigando. Ele encheu seu
prato com toda a carne e pão ao alcance e começou a mastigar
pedaços de cada um.
Peter tomou outro gole para evitar responder a ele. Foi direto
para suas bochechas; Ele sentiu-os aquecendo quando pousou a
taça.
Eles beberam.
—O que?
Peter olhou para ele do outro lado da mesa. —O que você quer
dizer?— Era isso, ele pensou. Pronto ou não, era para isso que ele
vinha aqui.
*~*~*
Peter não sabia o que dizer. Ele tinha voltado para resgatar
Hook tão impensadamente, tão instintivamente, que só agora
começava a perceber que havia feito isso. Ele não se preocupou com
uma única coisa além de proteger Hook.
—Eu tive que fazer. —ele disse finalmente. —Se você tivesse
morrido lá, eu não teria sido o único a derrotar você.
—Obsessão?
Hook riu, não com indelicadeza. —Isso faz de você o que você
quiser para você.— Ele empurrou um cacho do cabelo de Peter atrás
da orelha, e faíscas pareciam saltar sobre a pele de Peter na esteira
de seus dedos. —Você me disse uma vez que era juventude e alegria.
Peter sentiu a verdade em sua língua, mas ele não podia dizer,
nem conseguia pensar. Sentia-se vazio, e ainda mais completamente
ligado ao seu corpo do que jamais estivera, mais consciente de seus
sentidos e onde ele e Hook se tocavam.
—Eu não sei.— disse Peter. Ele não achava que ele tivesse
desejado algo mais do que ficar assim. Respirou profundamente e
Hook deu um beijo na testa. Peter não se surpreendeu mais com o
quão gentil ele poderia ser. —É sempre assim?— ele perguntou.
Hook pegou a mão dele. —Você não precisa.— disse ele. Ele
gentilmente puxou o pulso de Peter para o lado.
—Ah ... — Hook parecia que era algo que ele não tinha
considerado, como se não lhe ocorresse que Peter o queria tanto
quanto ele queria Peter. Ele estremeceu, e então soltou sua mão,
tocando sua bochecha em vez disso. —Bem, eu não direi não a isso.
Algo em seu tom fez Peter recuar. Não foi a reação que ele
esperava. Hook estava olhando para ele com uma dor assustada,
como se tivesse sido picado. —James?— Ele viu a terra do nome em
Hook desta vez, viu-o recuar, viu viajar através de seu corpo como
ondulações em um lago. —Isso é ... certo, não é?— Peter perguntou,
de repente com medo de que fosse uma lembrança tão dolorosa
quanto o antigo nome de Peter.
—Vá se você quiser.— disse Peter na voz mais fria que ele
poderia reunir. —Vou ficar.
James teve que rir. —Eu não posso dizer se você é realmente
gregário ou se você está sendo generoso porque Neverland não quer
que eu morra. Ou talvez seja porque você é amigo imaginário de Pan
e ele não quer que eu morra.
Isso foi um bom pensamento. Ele poderia se apegar a isso.
—Você sabia que não é real?— Parecia cruel dizer, mas, por
outro lado, James sentia que precisava continuar dizendo em voz
alta para se lembrar do que era verdade. —Você sabia que Pan criou
tudo para que ele tivesse companheiros? Engraçado, não é? Você e
meus piratas são iguais. Ele e eu só queríamos coisas diferentes.
*~*~*
*~*~*
James fez uma careta, o que foi difícil, porque seu rosto
estava entorpecido. —Não finja estar preocupada.— ele retrucou. —
Se você realmente quisesse ajudar, você deixaria de fazer essa
maldita tempestade para que eu pudesse encontrá-lo sem congelar
até a morte.
—Você nunca notou que o sol sai quando ele sorri?— a rainha
disse. —É outra coisa que ele desejava quando ele era um menino.
—Eu sei que não, mas é verdade. Eu não posso explicar isso.—
Peter abriu bem os braços, esperando que John visse a diferença
nele, como se sentia livre. —É um milagre.
—Não. É de verdade.
—Você tem alguma idéia do que você fez?— ele gritou, seu
rosto vermelho. Seus dedos apertaram os ombros de Peter como se
quisesse esmagá-los. —Nós pensamos que você foi raptada! Morta!
Trancada em algum lugar por algum degenerado que sequestra
garotinhas de suas camas! Nós tivemos a polícia rastejando mais da
metade de Londres por um mês! Seus irmãos pensaram que nunca
mais veriam sua irmã novamente!— Ele pontuou cada rugido com
uma sacudida dos ombros de Peter. Peter nunca tinha visto seu pai
tão zangado; Tudo o que ele podia fazer era agitar-se. —E agora. —
grunhiu George Darling. —Você está de volta para dizer que fugiu?
Pensou que estragar a felicidade da sua família era um dos seus
pequenos jogos de berçário?
—Eu teria sido feliz anos atrás.— disse Darling. —Se você
tivesse crescido e começasse a agir como uma jovem responsável
com um único pensamento em sua cabeça. Neverland. —Ele cuspiu
o nome. —Eu gostaria de saber onde você realmente esteve, e como
você está se comportando no último mês.
—Ele saiu.— disse Curly sem emoção. —Ele disse que estava
indo para casa. A culpa é de Hook. Ele veio e disse a Ernest que não
éramos reais.
Peter olhou para ele, com uma pontada de dor por James ter
tomado algo mais dele, horrorizado por nunca ter percebido o
quanto Curly se parecia com Michael.
*~*~*
—Eu pensei que sua família te fez infeliz.— disse Peter. —Eu
pensei que eles estavam tentando consertar algo que não estava
errado com você.
*~*~*
Ela voou para longe, uma luz quente que cortava a neve. Peter
quase não seguiu; ele não queria mais ver ela. Mas não havia mais
nada a fazer, e ela era a única outra coisa viva à vista, então ele se
levantou e saiu atrás dela.
Lia-se:
Querido Peter,
James
—E?
*~*~*
Ele ainda tinha apenas uma mão; o outro braço dele terminou
no pulso. Ele pegou o olhar curioso de Peter. —Quando menino.—
ele disse com tristeza. —Era mais excitante imaginar um gancho do
que uma prótese pesada.
*~*~*
*~*~*
Este era o rosto que o assombrara toda a sua vida, aquele que
ele havia olhado nos olhos no dia em que deixou a casa Darling pela
última vez. O cabelo, bagunçado e curto, enrolando
entusiasticamente sem o peso de sua velha trança para arrastá-lo
para baixo. O queixo teimoso. Os olhos claros, afiados e sombrios
cheios de tudo o que ele nunca tinha sido permitido.
—Eu juro que se você não estivesse aqui eu iria correr de volta
para Neverland de toda essa bagunça.— O rosto de James assumiu
um olhar irritado enquanto Peter se juntava a ele no fogão
enferrujado. —E francamente, eu não te culparia se você se sentisse
enganado - aqui eu te prometi uma casa, e eu nunca mencionei que
era um lar para todos os ratos e aranhas do mundo também. Ou que
não haveria nada para comer. Ou que eu nem tinha guardado meus
cavaletes antes de fugir para viver o resto da minha vida em um
sonho ...
*~*~*
—Não tenho certeza.— disse Peter. —Eu não sei o que vou
fazer.— Ele sentiu o caminho através da incerteza. —Eu sempre
achei que a única maneira de crescer era ser ... ela. Eu não sei o que
fazer como eu.
James sorriu.
Eles chegaram à macieira na próxima curva do caminho. A
árvore tinha uma forma incomum, mais alta e mais retida do que a
maçã comum, com o pouco de frutas que havia aglomerado em
direção aos ramos superiores. As maçãs eram pequenas e verdes.
James suspirou. —Eu sempre achei que o apelo das macieiras era
que você poderia pegar algo para comer enquanto passava. Este aqui
você tem que agitar e rezar para que a fruta caia... Peter, o que você
está fazendo?
—Eu sou seu incômodo.— disse Peter, e então fez uma pausa,
envergonhado consigo mesmo e feliz por ele estar alto demais para
que James pudesse ver. James caiu em um silêncio igualmente
constrangedor até que Peter começou a jogar maçãs nele.
Quando ele jogou fora o que parecia ser uma boa quantidade
de frutas para os dois, Peter começou uma descida incauta, descendo
pelos galhos e raspando as palmas das mãos na casca áspera. Ele
calculou mal a altura da última gota e bateu no chão um pouco duro,
tropeçando em James, que derrubou uma braçada de maçãs para
pegá-lo.
Fim
Sobre o autor