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GEOMETRIA: UM ENFOQUE VIA

MODELOS
Rosa Maria dos Santos Barreiro Chaves
Instituto de Matemática e Estatı́stica
da Universidade de São Paulo
Aula 16 - (28/10)
Perpendicularismo

Definição 1: Duas retas l e l ′ são perpendiculares se l ∪ l ′ contém


um ângulo reto. Duas semirretas ou segmentos são perpendiculares
se as retas que elas determinam são perpendiculares.
Notação: l ⊥ l ′ .
f

l P
Teorema 1: Numa geometria com transferidor (G.T.), dada
uma reta l e um ponto P ∈ l, existe uma única reta l ′ tal
que P ∈ l ′ e l ⊥ l ′ .
Prova: Dada a reta l, seja, B e C dois pontos distintos em l.
Como estamos numa G.T. ( portanto numa G.P.), l é uma reta de
separação do plano e BC está contido na fronteira. Pelo ı́tem ii) da
definição de medida angular, se θ = 90 então 0 < θ < 180 e existe
−→
uma semirreta BA, com A ∈ H1 e m(∠ABC ) = 90. Agora tome


l ′ = BA. Dessa forma existe l ′ , passando por B.
Exemplo 1: Em H, encontre l ′ por B = (3, 4) tal que l ′ ⊥ L0,5 . A
solução l ′ deve ser uma reta do tipo II e as retas tangentes a l ′ e
L0,5 devem ser perpendiculares. Note que L0,5 tem equação

x 2 + y 2 = 25. Logo y = 25 − x 2 e
dy 1
= 12 (25 − x 2 )− 2 (−2x) = √ −x .
dx 25−x 2
dy √ −3 −3
Portanto dx (B) = 25−9
= 4 .

Portanto a reta tangente em B à L0,5 é: y − 4 = − 34 (x − 3).


Esta reta corta o eixo x em: 0 − 4 = − 34 (x − 3).
16 16 25
Assim, x − 3 = 3 ex= 3 +3= 3.
O raio da semi-circunferência l ′ perpendicular à l é
q
r = ( 25 2
3 − 3) + 16 = 3 .
20

Logo l ′ = L 253 , 203 .


Corolário: Numa geometria com transferidor todo segmento
AB tem uma única mediatriz, isto é, uma reta l ⊥ AB com
l ∩ AB = {M}, onde M é o ponto médio de AB.
Prova: Tome M o ponto médio de AB. Pelo Teorema 1, existe
←→
uma única reta l ′ , tal que M ∈ l ′ e l ′ ⊥ AB.
Teorema 2: Numa geometria com transferidor {P, L, d, m},
todo ∠ABC tem um único ângulo bissetor, isto é, existe
−→
uma única semirreta BD, com D ∈ int(∠ABC ) e
m(∠ABD) = m(∠DBC )..
m(∠ABC )
Prova: Use a construção do ângulo com m(∠ABD) = 2 .

C
D

B A
Definição 2: Numa geometria com transferidor {P, L, d, m},
o ∠ABC é congruente ao ∠DEF se m(∠ABC ) = m(∠DEF ).
Notação: ∠ABC ∼
= ∠DEF .

C F

B A E D
Teorema 3: Numa geometria com transferidor se ∠ABC e
∠A′ BC ′ são opostos pelo vértice então ∠ABC ∼
= ∠A′ BC ′ .
Prova: Exercı́cio

Teorema 4: (Teorema da construção do ângulo)


Numa geometria com transferidor, dado um ∠ABC e uma
semirreta ED, que é fronteira de H1 , existe uma única


semirreta EF , com F ∈ H1 tal que ∠DEF ∼ = ∠ABC .
Prova: Seja θ = m(∠ABC ). Seja F ∈ H1 tal que m(∠DEF ) = θ (
definição de medida angular ii). Como m(∠DEF ) = m(∠ABC ),
segue que ∠DEF ∼ = ∠ABC .

B A E D
Teorema 5: ( Adição do ângulo)
Numa geometria com transferidor se D ∈ int(∠ABC ),
S ∈ int(∠PQR), ∠ABD ∼
= ∠PQS e ∠DBC ∼ = ∠SQR então
∠ABC ∼
= ∠PQR.
Prova: Exercı́cio.

D S

B A Q P
Teorema 6: ( Subtração do ângulo)
Numa geometria com transferidor se D ∈ int(∠ABC ),
S ∈ int(∠PQR), ∠ABD ∼
= ∠PQS e ∠ABC ∼ = ∠PQR então
∠DBC ∼
= ∠SQR.
Geometria Neutra

Vamos simplificar a notação de ângulo.


Convenção: ∠A = ∠CAB, ∠B = ∠ABC e ∠C = ∠BCA.
Definição 1: Sejam os triângulos △ABC e △DEF numa G.T e
seja f : {A, B, C } → {D, E , F } uma bijeção entre os vértices dos
triângulos. Dizemos que f é uma congruência se AB ∼ = f (A)f (B),
BC ∼
= f (B)f (C ), CA ∼
= f (C )f (A) e ∠A ∼
= ∠f (A), ∠B ∼
= ∠f (B),
∠C ∼
= ∠f (C ).
f(A)=D, f(B)=E e f(C)=F

A B E
Definição 2: Dois triângulos △ABC e △DEF numa G.T são
congruentes se existe uma congruência f : {A, B, C } → {D, E , F }.
Se a congruência é dada por f (A) = D, f (B) = E e f (C ) = F
então escrevemos △ABC ∼ = △DEF .
A seguir vamos estudar critérios para congruências de triângulos.
Um deles é o critério LAL, que não é satisfeito na geometria do
taxista. Assim, para que seja válido o critério LAL, vamos
adicioná-lo como axioma numa G.T.

Definição 3: Uma geometria com transferidor satisfaz o axioma


LAL se dados os △ABC e △DEF com AB ∼ = DE , ∠B ∼ = ∠E e
BC ∼
= EF então △ABC ∼
= △DEF .

Definição 4: Uma Geometria Neutra (ou Geometria Absoluta) é


uma Geometria com Transferidor que satisfaz o axioma LAL.
Observação: O termo neutra foi dado por Prenowitz e Jordan em
1965 e indica que estamos tomando um curso neutro em relação à
escolha do axioma das paralelas.
Vamos agora mostrar que a Geometria do Taxista não é Neutra. Na
lista de exercı́cios veremos que o mesmo ocorre com o plano de
Moulton.
Exemplo 1: A Geometria do Taxista satisfaz a hipótese do axioma,
mas △ABC ≇ △DEF .
De fato: Sejam A = (1, 1), B = (0, 0), C = (−1, 1),
D = (2, 0), E = (0, 0), F = (0, 2).
Considere a bijeção: f : {A, B, C } → {D, E , F }, com
f (A) = D, f (B) = E , f (C ) = F .

C A

B E D

Mas .?
Logo .
Por um lado:
AB = dT (B, A) = |1 − 0| + |1 − 0| = 1 + 1 = 2,
mE (∠ABC ) = 90,
BC = dT (B, C ) = | − 1 − 0| + |1 − 0| = 2.
Por outro lado:
DE = dT (D, E ) = |2 − 0| + |0 − 0| = 2,
mE (∠DEF ) = 90,
EF = dT (E , F ) = |0 − 0| + |2 − 0| = 2.
Portanto a condição LAL se verifica para estes dois triângulos.
Porém: AC = dT (A, C ) = |1 − (−1)| + |1 − 1| = 2 e
DF = dT (D, F ) = |2 − 0| + |0 − 2| = 4
Logo o axioma LAL não é satisfeito pois AC ̸= DF , implica
△ABC ≇ △DEF . Logo a Geometria do Taxista não é Neutra.

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