Você está na página 1de 10

Deus veio em primeiro - Fé/esperança/ caridade

Vilar, 20 de Novembro Padre Rui Santiago

1º Parte:

Deus cheio de Esperança!

Não devemos ter esperança, a esperança não é um dever!


A esperança é da ordem dos fascínios e não dos deveres. Devemo-nos apaixonar, enamorar, descobrir
os motivos sempre novos para dizer que isto é muito bonito!
Tenho um compromisso comigo mesmo, disse o Padre Rui, “vou parar de anunciar de Evangelho,
quando, e no próprio acto de o anunciar, não me encantar; quando Ele não provocar em mim alegria ou
perturbação! Devemos procurar os motivos para nos extasiarmos!
A Esperança não é um sentimento, é o motivo para fazermos projectos; é o músculo do futuro! E como
todos os músculos corporais, quanto mais se usa mais forte fica! Quanto menos se exercita, mais se
debilita!
A Fidelidade que Deus nos pede é um INVESTIMENTO, não uma “manutenção”. Ser Fiel significa
receber verdadeiramente e PÔR-A-RENDER, aplicar… O que significa “receber verdadeiramente”?
Acreditar no mais profundo de nós mesmo que o que recebemos foi mesmo um DOM, uma OFERTA.
“Guardar” para “devolver” significa não receber!
Na parábola dos talentos, das minas que Jesus conta sobre a Fidelidade, vemos isto mesmo: a
Fidelidade é um engenho, uma criatividade, um investimento!
Quem entra nesta Confiança vê os horizontes da Vida abrirem-se como manhãs de Nova Criação…
percebe que o “mais” não é nunca o “tudo”: há sempre mais, e mais, e mais… e quanto mais “se tem” –
para usar a linguagem da parábola – mais se fica capacitado para receber e acolher…
Quem se recusa a esta confiança começa pouco a pouco a enroscar-se no canto morno dos medos e a
achar que a máxima segurança consiste em “manter” e “preservar”… a Vida começa a escapar-se-lhe entre
os dedos, esquece-se do que significa receber ou acolher, e até o pouco que ainda tem perde capacidade
de ter…
Ter Esperança é ter um projecto!
Deus não é optimista nem pessimista, porque isso são atitudes perante o passageiro, o ilusório. Deus
tem um projecto! Ter esperança é dar futuro! E isso significa pôr-se à minha frente, avançar, anteceder-me,
o que toma a iniciativa.
Um projecto pode-se iniciar por causa de um fracasso, ou por causa de amor!

A) Como começa o projecto de Deus?

Em linguagem de parábola começa “de Alguém que não tem necessidade, mas porque quer, porque
sim, por decisão pessoal!”. São Paulo diz que Cristo foi sempre um “Sim”! Por pura graça Deus começa a
recitar um poema e a dançá-lo, um poema chamado “Criação”, que tem refrães como “E eu vi que era
bom”! E dançando feliz este poema chega ao sexto dia e pára, contempla, e cria alguém para declamar a
dois este poema e dançar consigo: o ser humano!
Na bíblia, o Homem é o “parceiro” de Deus na história. A história é o “lugar e o tempo” da realização do
Projecto de Deus. Na linguagem bíblica, Deus cria o Homem-6, ou seja, “cria-o criador de si próprio”! Ser 6
é ser vocacionado a ser 7! O 6 a caminho do 7 significa o Homem a construir-se “à Sua imagem e
semelhança” (Gen 1, 26-27). 7 é o número bíblico que simboliza a Plenitude. 6 é, por isso, o “quase
plenitude”, o que está chamado a ser 7! Deus criou o Homem criador de si próprio! É isso que significa o
“descanso” de Deus no dia 7.
No segundo relato criacional, o ser humano é como barro moldado da terra ao qual Deus insufla o
Alento da Vida num beijo enamorado, o “neshamah” (Gen 2, 7); e ainda hoje nos procura para nos beijar e
nos transmitir o hálito da Sua vida, que é a nossa vida! O projecto de Deus começa com um beijo! Não e um
projecto entre colaboradores ou sócios, mas entre amantes: Deus e o Homem! É um projecto a dois,
marcado pelo Amor! E quando entra o Amor nos projectos, não se cumprem cláusulas, começamos a
sonhar! Isto é o nosso ADN! De tão profundamente igual ao nosso Deus! Somos iguaizinhos a Ele… com
alguns desvios! Jesus é todo Pai, nós é que ainda somos “filhos da mãe”!
Este era o Sonho de Deus desde o princípio. Assumir na Sua Família toda a Humanidade como filhos de
Deus-Pai e irmãos de Deus-Filho na unidade universal eterna de Deus-Espírito Santo.
E porque Deus é Amor, Deus realiza o que sonha.

B) O Sonho de Deus era assumir-nos na Plenitude da Sua Vida.


Por isso nos criou “a caminho”, ou seja, pessoas em construção à Sua imagem e semelhança no Amor.
Deus foi revelando a Sua Palavra, foi-se dando a conhecer, de modo especial àquele povo que constituiu
como Povo à Escuta, Israel, preparando-o para um acolhimento especial da Sua Vontade…
No seio desse povo nasceu Jesus de Nazaré, o Sonhado-Esperado-Eleito-Ungido…
Nele o Sonho de Deus pode chegar à “Plenitude dos Tempos” (Gal 4, 4), isto é, à Fase dos
Acabamentos…
Três sonhos de Deus:
1º “Eu garanto-te que ainda havemos de viver no paraíso”. É já para este sonho que nos aponta a
maneira como começa este primeiro sonho: o paraíso!
2º “A arca do descanso ou de Noé” ou Noach (do hebraico ‫נח‬, "descanso, alívio, conforto"). É o fim do
projecto de Deus. A plenitude do projecto de Deus é o descanso; “no sétimo dia descansou”!
Nós ainda estamos na construção desta arca juntamente com o nosso Deus!
Jesus, o Cristo, é o SIM da Humanidade ao permanente SIM de Deus (2Cor 1, 19). Um de nós falou por
todos. E por isso todos vencemos!
3º Na plenitude da história toda a criação experimentará a casa de Deus como uma casa aberta, onde
todos entram! No Apocalipse João escreve “eram 144 mil e uma multidão incontável a serem marcados
com a marca do cordeiro”; e cada um recebe um nome novo (segredos típicos de Pai e filho).
Apocalipse significa revelação, e literatura apocalíptica é aquela cujas narrações acontecem sob a forma
de testemunho de revelações, quase sempre em linguagem profundamente simbólica e enigmática, de
modo a ser entendida apenas por membros do grupo perseguido a quem as revelações se dirigem.
Entendemos, assim, que o Apocalipse é uma Revelação de Deus ao Seu povo para lhe dar conforto,
esperança e firmeza na certeza absoluta do Seu Amor poderoso, mais poderoso que o poder de Roma. Por
isso, quem o usar para meter medo ou falar de um Deus que assusta, está a falseá-lo totalmente!
No calor da perseguição, eis que surge esta Revelação (Apocalipse) de Boa Nova para o povo
perseguido: Deus é o Senhor da história! Ele entregou todo o Seu poder a Jesus, a quem ressuscitou, para
agora Ele conduzir o Seu povo em direcção à festa da vitória final, sonhada, preparada e prometida por
Deus. Os opressores vão ser derrotados e o povo vai ser libertado!

C) A Esperança de Deus em nós e para nós!

Deus não espera que… isso diz o treinador para o seu atleta! Deus espera em nós!
Estar comprometido significa “dar-se”; “morrer para o outro”!
Exemplo: Galinha e porco. A galinha está envolvida no ovo que nos dá; o porco está comprometido no
presunto que nos dá!
Deus tem uma relação e uma ralação de compromisso connosco! Esperar em… é um compromisso!
Esperar que… é uma expectativa!
A Esperança de Deus manifesta-se sempre como alguma coisa que Ele ainda tem para nos oferecer; é a
permanente abertura de Deus; que nós ainda temos por descobrir e por receber!

D) A Esperança de Deu em nós também é uma paciência.


Se Ele quer caminhar connosco… tem que mudar de ritmo!
O Padre Rui deu o testemunho de alguém muito especial para ele: O Padre Calmeiro Matias. Em apenas
um mês a sua saúde debilitou-se até partir para o Pai na manhã do dia 17 de Julho. Ao longo do seu
processo oncológico, o Padre Rui não o quis abandonar, e para tal teve que abrandar o ritmo. Se fosse
necessário apenas dava dez passos para o acompanhar!
É o que se passa entre Deus e nós: se for preciso Ele abranda o passo para nos acompanhar! Deus é
paciente! Ser paciente é sofrer, é “passion”! Deus sofre-nos! Deus vive numa perfeita e completa
compaixão connosco! Deus espera em nós, e por nós! Deus recusa-se a usar de força connosco! Deus
aprende o nosso ritmo! A Esperança de Deus em nós e por nós está naquilo a que chamamos “Encarnação”
– Deus faz-se um de nós! Faz história connosco!
Em Adão, Deus fez-nos à sua imagem e semelhança, em Cristo, Deus faz-se à nossa imagem e
semelhança! A nossa vida tem impacto em Deus, nós contamos para Ele!

E) A Esperança de Deus é uma vitória sobre o medo e o absurdo, e Deus não


abdica de levar ao fim o Seu projecto.
Ele não perde de vista o fim! A Esperança é uma força finalizadora da história; uma energia de “não
desistência”!
Nos momentos de máxima frustração, medo e desilusão é sempre Deus que nos aparece a dizer “isto
ainda não acabou; calma; estou contigo; vamos resolver isto, juntos!”
A linguagem mais forte da Esperança é a linguagem do “fim do mundo e do juízo de Deus”. De um Deus
que tem juízo e nos salva da nossa falta de juízo!
Juiz, na bíblia, não significa aquele que vai sentar as pessoas no banco dos réus para dar a cada um o
que é devido, imparcialmente. Julgar, na escritura, significa “Salvar”. Julgar o mundo, biblicamente, significa
“pô-lo às direitas”, recriar toda a história, reconfigurá-la e reconduzi-la ao Projecto Amoroso que existe no
Coração do Deus Criador que, afinal, também é Pai.

2ª Parte

A nossa esperança como resposta à Esperança de Deus!

A nossa esperança é sabedoria, é lucidez, é um olhar para além do medo, e ao


mesmo tempo purificado de ingenuidade, do optimismo superficial!

Profecia de Miguel Torga:


"Profecia
Algum dia há-de ser um novo dia!
Se realmente o tempo se renova...
Sepultado nesta cova de rotina,
a ver o sol pousar sobre as colinas
em frente,
em vez de me entregar
ao sono paciente de morrer,
ponho-me a futurar o amanhecer.
E com toda a inquieta
seriedade sacra de um poeta
que descortina
a universal e própria salvação,
vejo na imprecisão
que a próxima alvorada
- ou ela, ou outra, ou outra, ou outra ainda -
dará por finda
esta luz monótona e cansada." Miguel Torga

Um bom ateu nunca nega a transcendência!


Pois!... Futurar o Amanhecer...que não é um Amanhecer qualquer...é para poetas e crentes. É para
aqueles que não desistem de sonhar e de ACREDITAR que o nosso Deus "faz novas todas as coisas".

Quando usamos a linguagem do “fim do mundo” não costuma ser uma boa notícia! Isto, devido às
interpretações à letra da leitura apocalíptica da Bíblia que é sempre tida como algo de negativo! Mas a fé
aponta-nos para algo jubiloso, maravilhoso! É a Esperança máxima e invencível que o Projecto de Deus
connosco tem um fim, uma finalidade, não cai a meio!
O livro do Apocalipse fecha a bíblia com uma linguagem fantástica de Nova Criação dita nestes termos:
“Surgem Novos Céus e Nova Terra e o Mar (mal) não existe mais… EU faço novas todas as coisas!”
É o Céu que se inclina, se debruça em direcção a nós, para recriar todas as coisas, para transfigurar a
Criação e a libertar das marcas do pecado e limpar todas as lágrimas que ainda estiverem no rosto das
pessoas.
Deus vem trazer justiça, juízo, a um mundo que anda em desordem, traz o cosmos a um mundo que
anda num caos!
A Esperança no Juízo de Deus é algo de maravilhoso!
Claro que a mudança implica luta, drama, morrer e nascer de novo. A linguagem apocalíptica é a isto
que nos induz!
Qual pode ser o perigo de uma Fé no nosso Deus, no fim do mundo a realizar-se? Cairmos na
ingenuidade, num optimismo superficial. São as linguagens apocalípticas utilizadas na bíblia que nos salvam
da ingenuidade, desse optimismo superficial que seria incapaz de interpretar e agir positivamente na
História. A mudança implica crise, enfrentamento, ruptura, luta. E estamos inscritos nisto! Não apenas com
a capacidade de “fazer frente” mas sobretudo com a disponibilidade para “fazer uma Frente” de
fraternidade e comunhão que, abdicando de todo o romantismo da ingenuidade mas sem nunca esquecer
a Poesia da Esperança, siga pela Palavra e pelo Desejo já inaugurado de um Mundo sempre Novo…
Estar do lado dos mais fracos, é estar com o mais fraco que é Deus!
No Evangelho de domingo passado Deus diz: não acrediteis nessas falsas profecias que dizem que
chegou o fim, não acrediteis porque vós sois meus! O fim é uma liberdade que está próxima, está próxima
porque já existe! Firmai-vos nesta Esperança, nesta lucidez, mesmo que tenhais que por em causa, e
romper com o que há de mais sagrado (a lógica religiosa, o culto e as ligações familiares). Não tenhais
medo!
Mas a profundidade da linguagem da Segunda Vinda no Novo testamento leva-nos mais longe… À
pergunta “Quando acontecerá isso?!” Jesus não responde com datas nem com cálculos. Falar da Segunda
Vinda de Cristo significa afirmar a Fé na Fidelidade de Deus como sentido definitivo da História Humana.
Mas a Segunda Vinda não se refere ao futuro, antes ao presente! Ou seja, o que importa no Novo
Testamento não é “quando”, nem “onde”, nem “como”, mas a atitude que os Discípulos de Jesus devem
viver na história, que compreendem sempre como tempo intermédio, porque o definitivo é Eterno e
acontecerá na união plena com Cristo Ressuscitado, Senhor da Vida.
Por isso é que o anúncio da Segunda Vinda, colocado pelos evangelistas na boca de Jesus, toca sempre
nas duas atitudes essenciais dos seus discípulos: a Vigilância e o Testemunho. Estar Vigilante, Atento, olhar
a realidade com olhos de Fé e Esperança… e nada temer, nunca! Dar testemunho do Evangelho da Vida,
Anunciar na própria existência a força desta Fé e desta Esperança que nos animam, mesmo quando
experimentamos na própria carne as consequências negativas da rejeição, da acusação ou da violência.
A linguagem apocalíptica é fantástica, dá-nos sempre imagens piores do que aquilo que nós vivemos no
dia-a-dia, por isso devemos ter Esperança!
O verdadeiro fim, no Apocalipse diz que Cristo, na Hora desse Abraço Eterno e definitivo, limpa do rosto
de cada um as lágrimas ainda molhadas...
Esta é a Nova Criação em marcha desde a Ressurreição de Jesus. E os sinais da Nova Criação são
aqueles das narrações do evangelho: a morte não existe mais, o luto acaba, o choro e a dor, as lágrimas
são enxugadas carinhosamente de todos os rostos…
A nossa esperança é sabedoria, é lucidez, é um olhar para além do medo, e ao mesmo tempo purificado
de ingenuidade, do optimismo superficial!

A nossa Esperança é um ensaio. Ensaiar aquilo em que acreditamos.

O nosso futuro é uma pessoa (Jesus de Nazaré,) não é um tempo! O fim já aconteceu há dois mil anos, e
agora abarca-nos! O fim está no centro da história. O caminho para o fim é um caminho de atracção!
Na sua Ressurreição começou uma Nova Criação. Deus estava a “descansar” mas a Ressurreição de
Jesus marca “o Primeiro Dia da semana”, o reinício do Trabalho Criador de Deus.
A nossa Esperança é uma vivência do fim: estamos na plenitude dos tempos (Gál, 4)
O fim do mundo já chegou há 2000 anos e nós estamos a viver a plenitude dos tempos. Temos que
praticar a Esperança, viver como quem antecipa o futuro, viver uma vivência do fim. Isto dá uma nova
dimensão ao termo de “cristãos praticantes ou não praticantes”, que normalmente se associa ao culto, mas
que se deve associar à Esperança!
Nós estamos em construção. Isto quer dizer que somos um poema ainda não plenamente declamado.
Com Cristo ressuscitado a Humanidade entrou no limiar da plenitude dos tempos, isto é, o tempo do
parto. Por outras palavras, em Cristo ressuscitado entramos na plenitude dos tempos, isto é, na fase dos
acabamentos.

A Esperança é uma maneira de viver, de construir a nossa história.

Ser discípulo de Jesus é ensaiar continuamente a Esperança! Praticar os critérios do Reino (as bem
aventuranças, o sermão da montanha etc). É treinar aos pouquinhos de acordo com o programa, o
programa do Reino de Deus! A Esperança é um programa; o anúncio da nova humanidade é um programa;
um plano de treino!
Celebrar na Esperança é celebrar já o fim da história. A Eucaristia é um laboratório da Esperança, um
treino da nova humanidade! Reunimo-nos para treinarmos em comum, para nos reunirmos no Amor de
Cristo! Deus fala-nos, nós respondemos-lhe, aclamamos e depois Deus fala outra vez em Cristo, A homília é
suposto ser um eco da palavra de Deus. Depois pomo-nos de pé e dizemos “Eu creio em ti” mas sozinhos
não vamos lá e temos a “Oração dos fiéis”.
Ofertório significa Oferta, Dom. Temos sempre que olhar mais longe do que costumamos, para
reconhecermos a presença do Deus que “nos ama sempre primeiro” (1Jo 4, 10), e de Graça. Ele é o
primeiro a fazer-Se ofertório, dom para nós, e a ofertar-nos tudo o que é: Fonte de Vida, de Amor e de
Verdade.
É no acolhimento do Seu ofertório, revelado de maneira plena no ofertório de Jesus Cristo que também
se fez dom incondicional a Deus e a todos nós, que surge a nossa resposta de ofertório. Deus não tem nada
para nos dar senão aquilo que é. E também não pode receber nada de nós senão aquilo que somos! O
que eu sou é o único que posso ofertar a Deus. Esta comunhão de vida manifesta-se sacramentalmente
sobretudo nos sinais do pão e do vinho.
Dizemos PAI-NOSSO, e em seguida nos abraçamos como irmãos, construtores de paz. Dizemos PÃO-
NOSSO, e em seguida saímos dos nossos lugares para nos encontrarmos na comunhão (comum-união) de
um mesmo Pão, Sinal de Jesus Cristo Fonte de Vida!
Faz todo o sentido rodearmos a mesa de Jesus e comermos todos juntos um pedaço do mesmo e único
Pão para todos! Porque estamos em Comunhão… procuramos a Comunhão… e fazemo-lo como pertença a
um Corpo, a Comunidade, dentro da qual escutamos a Palavra de Deus que nos convida a estas coisas,
conhecemos os irmãos que nos acompanham na procura e fazemos as experiências de Fé que nos
confirmam o esforço…
A Acção de Graças começa depois da comunhão e prolonga-se até… até… até ao início da Eucaristia
seguinte!!! Por isso é que a Eucaristia celebrada não termina, mas nos Envia: acolhemos a Bênção de Deus,
certeza da Sua presença em nós, para irmos em missão, pois de cada vez que nos abençoa, Deus diz-nos o
que disse a Abraão: “Vai, e Sê uma bênção!” (Gn 12, 2). Acolhemos a Bênção de Deus para nos tornarmos
uma bênção de Deus para os outros. Isto assim é bem mais exigente do que traçar uma cruz com a mão no
corpo, não é?... mas só assim é que tem Graça!...
E, então, abençoados para sermos uma bênção, Agraciados para fazermos acções de Graça, somos
enviados: “Ide em paz!”. Ir para onde? Não é para onde que interessa…o que interessa é como vamos e a
quem vamos…
Na Eucaristia treinamos os sinais da nova humanidade!

A Esperança é uma vigilância.

A nossa Esperança é a nossa expectativa de filhos! Devemos estar preparados: esperar é estar
vigilantes! “Futurar o amanhecer” – Miguel Torga!
Deixar de viver na Esperança é “abandalhar”, praticamos o culto, mas não praticamos a fé, o amor, a
esperança, a prontidão! Não fazemos de vez em quando”uma limpeza a fundo”.
Como aquele que espera que a mulher que ama volte de longe… Ela prometeu que voltava, logo que
conseguisse resolver tudo o que tinha ido fazer. Durante meses ele esteve a viver sozinho, e o apartamento
tornou-se claramente a cara de um homem com pouco jeito para a arrumação…
Quando ela lhe envia uma mensagem a dizer: “Está quase tudo… Estou quase a voltar para junto de ti!”
a primeira coisa que ele faz é arrumar o apartamento! Pôr as coisas no lugar, aspirar, limpar… Lavar a loiça
que se amontoa há mais de uma semana na cozinha, separar o lixo e levá-lo, arrumar em condições a roupa
que entretanto parece que tomou conta de todos os cantos do quarto…
No dia a seguir, acorda de manhã… “Pode ser que já venha hoje…” Toma banho e põe aquele perfume
que ela adora, que lhe ofereceu no Dia dos Namorados, veste depois aquela camisola especial que ela lhe
deu no aniversário do ano passado e sai. Ela adora flores! Ele vai comprar as que ela gosta e, pelo caminho,
viu um centro de mesa que ela adoraria encontrar na mesa da sala.
“Hoje ainda não pôde vir…”
No dia seguinte, quem sabe?!
Aquele perfume, um jeitinho às flores antes de sair para o trabalho… Uma aspersão até com água, para
se aguentarem mais, ajeitar bem o centro de mesa… Ela pode chegar enquanto ele não está em casa… A
toalha do banho no sítio certo, a roupa suja no sítio certo…
“Hoje ainda não pôde vir também…”
Um dia e outro… As flores murcham e ele arranja outras! Quando se dá conta que na mesinha da
televisão já se amontoam revistas e livros e comandos e mais um copo e uma caixa de biscoitos, arruma
num instante…
E passa uma semana, e passa outra… e pode acontecer que no seu íntimo ele pense: “Ela já não vem. A
minha amada não vem. Esqueceu-se de mim…que parvo eu fui ter esperado tanto tempo…”
Se isto acontece, se ele deixa de Esperar… Abandalha! A palavra é mesmo esta. Quando deixamos de
Esperar seja o que for, quando morrem em nós as expectativas, acabamos sempre por abandalhar no
essencial…
E talvez, passadas duas semanas, ela venha! E quando chega, um dia de manhã, encontra-o deitado no
sofá da sala, a dormir todo torto, de pijama a cheirar a choco e as persianas todas corridas… O centro de
mesa no chão num canto porque a mesa entretanto ficou cheia com o computador e papeladas, um jarro
de flores murchas à entrada…
Quando o Novo Testamento insiste tanto na Vigilância da Vinda iminente do Senhor, é para aqui que
está a apontar-nos, para a qualidade da nossa Vida e da nossa Fé, para a sabedoria de Vivermos como
quem Espera. Porque sem isso começamos logo a abandalhar…

O Senhor está connosco! Não é o Anúncio da Vinda de um Ausente! Um Re-Suscitado, um Vivente no


Espírito é sempre nosso contemporâneo, mas desejá-lo, procurá-lo, esperá-lo, descortiná-lo a vir
permanentemente entre as nuvens dos nossos próprios dias, medos e problemas é a condição para uma
experiência de Fé que dê qualidade verdadeira, sabedoria e beleza à nossa Vida.
“Quando tiveres um problema não fales a Deus desse problema; fala ao problema do teu grande Deus”.

O fim do mundo é o que Deus já fez acontecer plenamente na vida de Jesus, mas com a Esperança que
se realize e totalize em todos.
Deus deu a Jesus uma tarefa: realizar em nós o que Pai realizou plenamente n’Ele, justificá-lo, confirmá-
lo!
Foi à luz disto que se criou a expectativa da segunda vinda de Cristo! A segunda vinda é a Esperança que
Jesus Ressuscitado seja a finalização da história da qual Ele é o final. Que Jesus Ressuscitado abrace
permanentemente toda a criação, num abraço transformador.
É a grande proclamação de Jesus: “O Reino de Deus está Próximo!” Ficai sabendo que o Reino de Deus
chegou!” “Não espereis que venha de maneira visível, porque o Reino de Deus está no meio de vós!”
Este Reino de Deus esperado está já ao alcance. Venceu o tempo da Promessa e o tempo da
expectativa. Já chegou a Plenitude dos Tempos… Este Reino está inaugurado. No entanto, quando Jesus
fala dele, muitas vezes diz ainda: “Naquele dia…” E quando os discípulos lhe dizem: “Ensina-nos a orar”,
uma das coisas que lhes ensina é a dizer: “Pai… Venha o Teu Reino!”
O Reino de Deus não chegou como uma instituição, como uma norma, como uma moral… Não “foi” um
momento na história, mas é um dinamismo no seio da história humana e na história dos Cosmos a
conduzir tudo à sua Vocação plena…
“Venha o Teu Reino…” Este “pedir” do Reino obedece à mesma lógica do Amor… Já reparaste que só
dizemos “Ama-me!” ou “Diz-me que gostas de mim!” a alguém por quem já nos sabemos muito amados?
Ninguém “pede” Amor a ninguém para tirar dúvidas, mas para saborear o que tem como certo. Porque o
Amor não se pede… acolhe-se. “Pedir” sinais e palavras de Amor é uma maneira apenas de reconhecer que
esse Amor existe, é verdadeiro, não é estático, ainda não se esgotou, e é importante para nós.
…existe… é verdadeiro… não é estático… ainda não se esgotou… é importante para nós…
Assim é o Reino de Deus. Esse Reino que com Jesus aprendemos a anunciar próximo, ao alcance,
chegado… e também com ele aprendemos a pedir sempre: “Pai Nosso, venha a nós o Teu Reino…”
“Pedir” o Reino, clamar por ele, é uma maneira de reconhecermos na Fé que o Reino de Deus existe,
é verdadeiro, não é estático, ainda não se esgotou e é importante para nós! Como o Amor…
E talvez seja mesmo essa a melhor maneira de falar do Reino, como o Dinamismo do Amor de Deus por
nós a acontecer na nossa história, Amor que gera Aliança e nos dá a certeza disto: “Quando te digo que te
amo, estou a assegurar-te que nunca morrerás!”
O Dinamismo do Reino é a Vitalidade de Jesus Re-Suscitado, porque o Reino é a maneira de viver de
Jesus. Por isso é que ainda não se esgotou nem acabou… porque Jesus foi Re-Suscitado, o Reino foi
continuado!
O Reino de Deus é a própria acção do Espírito nele a consagrá-lo e gerá-lo continuamente como filho,
essa acção do Espírito que, na sua ressurreição, como uma explosão, se difunde para toda a Humanidade.
A Esperança não se resume a esperar que Deus resolva o que está mal, mas esperar em Deus e com
Deus (porque os seus timmings raramente coincidem com os nossos) na certeza de que a fidelidade a
esta Esperança fará de nós pessoas melhores e mais ao jeito daquele Jesus de Nazaré, Boa Noticia num
mundo cheio de más noticias (basta ligarmos a televisão à hora do telejornal...)

Chegamos “a meio” a esta História Humana que é um Projecto de Salvação! Entramos num Corpo
Apostólico já em andamento! Tudo isso nos move à Gratidão… mas também a compreendermos que a
Grandeza desta História, a Vastidão desta Narrativa que Deus vem realizando connosco, é a Paisagem
máxima da nossa Contemplação… É aí que vivemos, nos movemos e existimos…. É aí o lugar de todos os
Encantos e Admirações e também de todos os Desafios e Aventuras…
Só se vê bem com a Esperança. Sem ela, tudo fica turvo!
Com ela, não fica tudo claro; mas a Vida ganha um gosto que não queremos nunca mais trocar por
nada!
Advento: simbolizamos e celebramos o tempo da Espera(nça) do Povo de Israel, o Povo da Antiga
Aliança, animados no seu seio pela voz firme dos profetas que proclamavam aos quatro ventos a certeza de
que Deus está sempre comprometido com o Seu Povo e nele actua a libertação.
A descoberta: O “Deus do Advento” é o Deus que se compromete naquilo que promete!
A atitude: ESPERANÇA...

Conclusão: Nós estamos num projecto que começa num beijo (Génesis) e acaba a limpar as lágrimas
(Apocalipse)!

Você também pode gostar