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. O delineamento de uma política com foco na população em situação de rua contribui para
interferir, positivamente, na reversão neste quadro, viabilizando uma abordagem conjunta de
ações articuladas, objetivando assegurar, conforme estabelece o artigo 7°, I, da PNPSR, o acesso
amplo aos serviços e programas que integram as diversas políticas públicas necessárias a esse
público – dentre elas a assistência social.
A Assistência Social, política que visa prover os mínimos sociais para garantir o
atendimento às necessidades básicas do cidadão, prevista na Lei nº 8.742/1993 – Lei Orgânica
da Assistência Social, LOAS, art. 1º. (BRASIL1993), é estratégica para cumprimento dos objetivos
da PNPSR, na medida em que, em sua grande maioria, as políticas sociais fazem interface com
as demais políticas públicas, podendo ser compreendidos, assim, como “porta” de acesso aos
demais serviços e programas.
Os serviços socioassistenciais, voltados especificamente para pessoas em situação de rua,
estão expressos na Resolução nº 109/2009, do Conselho Nacional de Assistência Social
(BRASIL, 2009a), tratando da tipificação e orientações para a prestação desses serviços,
elencando quatro tipos: 1. Serviço especializado em abordagem social; 2. Serviço especializado
para pessoas em situação de rua; 3. Serviço de acolhimento institucional; 4. Serviço de
acolhimento em repúblicas.
Destaca-se, nesse contexto, o acolhimento institucional, tipificado, segundo a Resolução nº
109/2009 (BRASIL,2009) como serviço de alta complexidade, ao qual insere-se o Abrigo Ernani
Gomes Duarte. A oferta de acolhimento institucional, a que cabe citar, por sua vez, busca
contribuir para a garantia da proteção integral do cidadão em situação de rua, devendo prestar o
atendimento de forma qualificada e personalizada, respeitando a dignidade, costumes, tradições
e diversidade. Consiste numa estratégia para a construção, de forma conjunta com o(a)
acolhido(a), dos meios que viabilizem o processo de saída das ruas, quando de seu desejo, o
desenvolvimento e/ou fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e promoção da
autonomia e de direitos constitucionais básicos como, moradia, saúde, alimentação, educação e
etc.
Considerando que é no âmbito local que as políticas públicas se materializam, nota-se o papel
preponderante dos municípios no que tange à implementação e articulação das políticas,
programas e ações voltados para a população em situação de rua, sendo também importante
promover o alinhamento com a legislação federal que versa sobre o tema. Assim, o Município de
Maricá, por meio da Secretaria de Assistência Social, responsável por implementar a Política de
Assistência Social do Município e promover, por meio desta, o atendimento a essa população,
vem desenvolvendo ações de atenção à pessoa em situação de rua.
Diante do crescimento da população em situação de rua, tem-se a necessidade de
aprimorar a política voltada para esse público, com a oferta do serviço de acolhimento - na
modalidade de abrigo institucional, como medida excepcional às pessoas em situação de rua ou
de abandono, que têm seus vínculos familiares fragilizados e/ ou rompidos, não tendo condições
de manter uma moradia formal. Deste modo, o Município visa contribuir para efetivação das
políticas públicas voltadas para a população em situação de rua, bem como equacionar a violação
dos direitos sociais e fazer cumprir o dever do Estado de promover a dignidade e garantir os
mínimos sociais a estes cidadãos.
Esse processo em virtude da epidemia de ordem mundial, fez com que a Secretaria
Assistência Social, implementasse o “Pernoite Temporário COVID”. Em virtude da referida
pandemia, tal Secretaria se antecipou na prevenção dos riscos do COVID 19, implementando um
Abrigo Institucional Temporário, que com a luta dos que o integram e a vontade publica, no sentido
de garantir os direitos a essa população, institui-se hoje no município enquanto uma política
pública permanente.
O Serviço de Acolhimento na modalidade Abrigo Institucional realizado no Município de
Maricá, disponibiliza acolhimento em 01 (Uma) Unidade, possuindo 24 (vinte e quatro) vagas,
sendo 20 (vinte) para homens e 04 (quatro) para mulheres, com acolhimento provisório para
pessoas adultas em situação de rua e desabrigo, por abandono e ausência de residência ou
pessoas em trânsito e sem condições de autossustento, conforme previsto na Resolução CNAS
nº 109/2009 (BRASIL, 2009).
Nesse sentido, tendo em vista a Política Nacional para a População em Situação de Rua,
como aparato de nosso trabalho, partindo-se do entendimento de que a inclusão social de
pessoas em situação de rua deve ser pensada como ação integral e interdisciplinar, propõe-se
no presente a construção de uma agenda mínima de ações a serem realizadas de modo a
promover o alcance desse objetivo, para além dos limites institucionais ou dos muros de um
abrigo, dada a prerrogativa de promoção de autonomia e não tutela.
Deste modo, para além de oferecer alimento (café da manhã, almoço, lanche e jantar), local
para pernoite e convivência bem como, para higiene pessoal, almeja-se com o trabalho realizado,
o acompanhamento técnico e fomento a rede socioassistencial, garantir uma gama mais ampla
de direitos, o que gostamos de chamar de ampliação da vida, expandindo e ressignificando o
conceito proposto por Lancetti (2006), a partir de uma visão voltada para o usuário e suas
subjetividades, direcionada na autonomia, no agenciamento de afetos, vínculos e conexões, em
um cenário de cuidado complexo e contrafissurado (LANCETTI, 2015).
Assim, tendo em vista as prerrogativas e crenças que guiam o trabalho no equipamento,
conforme exposto no presente, reafirmadas a todo momento, consistem metas operacionais a
serem realizadas no ano de 2021, as seguintes:
10. Fortalecimento das ações de promoção à saúde, a atenção básica, incluindo prevenção
e tratamento, fomentando uma perspectiva que foque no sujeito e na saúde enquanto direito,
contrariando a ideia de saúde voltada à ausência de doença.
Lembra-se que a população em situação de rua se caracteriza por sua complexidade, sua
heterogeneidade, de modo que necessita de propostas que comtemplem a diversidade humana.
Respostas únicas, como centros de acolhimentos ou abrigos, não respondem as suas variadas
necessidades. Dessa forma, estabelecer rígidos protocolos de atuação por parte dos agentes
públicos ou qualquer método pré-estabelecido genericamente, sem as partes envolvidas,
infringiria o que se foi levantado como princípio norteador de nossa pratica profissional. Assim,
tendo em vista que a ideia de intersetorialidade anseia a liberdade de tratamento de cada
indivíduo, a depender de sua necessidade específica, os grupos interdisciplinares, que compõem
a equipe, devem estabelecer o método de intervenção e cuidado considerado como mais
adequado, sem qualquer imposição e tendo a escuta qualificada como metodologia basilar neste
processo.
Nesse sentido, tendo em vista que o serviço busca trabalhar a autonomia dos usuários e sua
participação democrática, pretende-se alcançar as 13 metas aqui expostas de maneira coletiva
através de ações como:
1. Execução de assembleias quinzenais com temas variados, de acordo com a necessidade
do período e as demandas suscitadas pelos profissionais ou usuários bem como, produção
e avaliação de regimentos internos ou pactuações coletivas.
2. Promoção de oficinas que possam ser de interesse dos moradores da casa e que auxiliem
a alcançar as metas propostas, como: oficinas de geração de renda, oficinas de debate
sobre economia solidaria, cooperativismo, redução de danos, oficina de música, oficina de
teatro, artesanato, jogos, construção de um jornal e etc.
3. Realização de reunião de equipe semanalmente com todos os profissionais em dias
alternados.
4. Realizar formação continuada semanal com toda equipe, em horário anterior ou posterior a
reunião de equipe a fim de garantir a participação de todos.
5. Realização de reunião com a equipe técnica semanalmente a fim de reafirmar pactuações
e propiciar o estudo de casos.
6. Realização semanal de grupo de estudo facultativo com intuito de promover a ampliação de
conhecimentos, entendendo tal ação como parte de um trabalho qualificado e pautado na
educação popular.
7. Promoção de articulação com a rede socioassistencial através de reuniões mensais com
agentes que integrem todos os setores possíveis, a fim de fazer ou rever pactuações,
ampliar o conhecimento sobre a causa e dar andamento a fila de espera para abrigamento
através da priorização de encaminhamentos e discussão de casos, bem como, reuniões
pontuais com demais atores que possam somar ou promover o alcance das metas
elencadas, como secretaria de trabalho, direitos humanos, habitação, cultura e etc, tendo
em vista o pilar intersetorial, que rege toda atuação profissional no equipamento.
8. Realização de reuniões semanais, para além das reuniões de equipe, com os profissionais
do setor administrativo, com intuído de promover a construção e constante avaliação de
protocolos administrativos, de estruturação da casa, de higienização do local, de utilização
da lavanderia e demais que se fizerem necessários.
9. Promoção de um processo de avaliação e analise da implicação continuado, por meio da
observação do resultado das ações desenvolvidas bem como, do seu processo de
execução. De modo que, nenhuma ação aqui planejada tem caráter fixo, ou seja, estão
suscetíveis a mudanças e em constante processo de aprimoramento e avaliação.
10. Fomento a realização de atividades externas pelos acolhidos, seja no sentido de promoção
ao lazer e a cultura, de educação, profissional, ou qualquer outra, com a presença de
profissionais ou não, com o intuito de promover a autonomia e desinstitucionalização desses
sujeitos, entendendo tal prerrogativa como fundamental ao trabalho.
11. Incentivar a produção de conhecimento cientifico que tenha como base a população em
situação de rua ou o fazer profissional neste cenário, através de publicação de artigos,
participação em eventos, construção de fóruns e levantamento de dados, uma vez que tais
ações contribuem para legitimar as questões concernentes a esse publico bem como,
promover maior visibilidade e garantia de direitos.
12. Realização de testagem periódica para COVID 19, dos profissionais e usuários. Enfatiza-se
ainda a manutenção de procedimentos sanitários de prevenção ao COVID 19, sendo todas
as atividades desenvolvidas, aqui descritas, dentro das normas para máxima segurança
sanitária de todos os envolvidos.
Ademais, conforme exposto no ultimo item (12), faz-se imprescindível salientar que, para
além dos requisitos teóricos e operacionais que nos regem, o advento da pandemia impossibilita-
nos de realizar determinadas atividades, tendo em vista a imprescindibilidade de alguns
procedimentos sanitários, dentre eles a não aglomeração, inviabilizando um cronograma de
ações de modo oficial, sejam festivas, de lazer, ou oficineiras. Sendo assim, estas, quando
ocorrerem, acontecerão de modo não oficial e sem grande planejamento prévio, em respeito a
ocasião pandêmica.
Por fim, cabe enfatizar que, dentro da proposta que nos guia e os aparatos teóricos e
práticos que a fundamentam, alguns expressos no presente planejamento, tem-se a prerrogativa
da escuta e do respeito a diversidade como basilar nesse trabalho e o que almeja-se com ele no
presente ano. Nesse sentido, traz-se o plano da diferença como influenciador e promotor de uma
nova possibilidade de cuidado, atentando-se ao fato de que tal planejamento visa organizar as
ações a serem desenvolvidas, mas em hipótese alguma cercear as intervenções, ou
homogeneizar sujeitos e processos de trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1983.