Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E CIÊNCIA POLÍTICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Epistemologia das Ciências Sociais – CSO7304


Docente: Rodrigo da Rosa Bordignon
Discente: Laura Battisti

RESUMO DO CAPÍTULO “A PSICANÁLISE DO CONHECIMENTO


OBJETIVO”
Epistemólogo, filósofo, cientista e crítico, Gaston Bachelard é um dos pensadores
contemporâneos que mais se destacou em investigar como se constrói o conhecimento de
natureza científica, isto é, da epistemologia das ciências. Hodiernamente, seus conceitos
epistemológicos ainda proporcionam debates no meio científico, além de oferecer suporte para
discussões metodológicas e para uma prática científica aberta.
Em seu livro “A epistemologia”, mais especificamente no capítulo “A psicanálise do
conhecimento objetivo”, o autor aborda os princípios de noção de obstáculo epistemológico,
logo em seguida apresenta exemplos atuais de alguns destes desafios e para encerrar esta parte
de sua obra, Bachelard expõe algumas ilustrações históricas.
Ao tratar sobre o primeiro assunto mencionado, Bachelard afirma que as adversidades
do conhecimento científico devem ser postas apenas em termos de obstáculos, ou seja, as
perturbações ou as chamadas “causas de inércia” (p. 165), não excedem o cargo de obstáculos
epistemológicos a serem superados.
Assim, os primeiros empecilhos são a opinião e o julgamento, estes ocorrem mais
facilmente em nossa mentalidade do que a construção de uma formulação verdadeira. Estes
ofuscam o conhecimento que deveria ser buscado, traduzindo convenientemente o que se quer
em conhecimento. Para solucionar estes problemas, é necessário destruir os preconceitos e as
opiniões pré-existentes. Ainda, na cultura científica, saber formular problemas é indispensável
para a construção do conhecimento.
Além disso, Bachelard concorda com M. Bergson ao notar uma frequência dos
indivíduos em ponderar com mais clareza as ideias que mais lhes servem. Estes fazem parte da
categoria dos espíritos conservativos. Na cidade científica, é o instinto formativo que deve
prevalecer, isto é, é aquele que busca formular o conhecimento de maneira racional. Já o
primeiro não permite o crescimento espiritual, visto que procura apenas o que confirma seu
saber, evitando questionamentos para não ser refutado.
Ainda, o autor aponta diferenças entre o historiador das ciências e o epistemólogo,
principalmente na questão de fatos e ideias. Dessa maneira, o epistemólogo, ao inserir os fatos
em um sistema de pensamento, os toma como ideiais. Em contrapartida, o historiador das
ciências acata as ideias como fatos, preocupado meramente com a objetividade. Estas oposições
tornam as explicações diferentes, tendo o epistemólogo um esforço ao pensamento científico,
procurando captar os conceitos científicos e demonstrar como uma ideia produziu ou se ligou
a outra.
Para finalizar este ponto, nota-se que, por mais que os obstáculos devam ser superados,
eles têm uma importância para a cultura científica. Em outras palavras, “Sem esta psicanálise
dos erros iniciais” (p. 169), não se atinge o nível de conhecimento verdadeiro. Apesar disso, as
acumulações da vida cotidiana que apresentam obstáculos à cultura experimental científica
devem ser eliminadas, é fundamental “uma catarse intelectual e afetiva” (p. 169). Outrossim, o
descobrimento destes obstáculos epistemológicos contribui para que a cultura científica esteja
constantemente em estado de mobilização, ou seja, o conhecimento é aberto e dinâmico,
permitindo uma contínua evolução da razão.
Logo após, Bachelard indica alguns obstáculos na formação do espírito científico,
diferenciando-os em: a experiência inicial, obstáculo realista, obstáculo animista e a libido. O
primeiro, diz respeito a uma situação que ocorre antes e que está acima da crítica, isto significa
uma experiência que se forma a favor do entusiasmo natural. Isto é um problema, pois um dos
elementos integrantes do espírito científico é a crítica, é o ir contra o senso comum e o
entusiasmo natural que habita nos seres humanos. O segundo, o obstáculo realista, trata sobre
aqueles realistas avarentos, os quais se fundamentam em um realismo não provado e se baseiam
em uma premissa de que nada se perde e nem se cria. O obstáculo animista, como o próprio
nome já revela, é colocado por aqueles autores que atribuem maior valor a alguns elementos do
que eles realmente têm. Estes, deixam-se seduzir por uma afirmação valorizante e concedem
um valor indiscutido e sem limites a certos elementos. Por último, neste item sobre a libido, o
autor difere-se da interpretação objetiva da cultura científica, adicionando uma via de
interpretação psicanalítica. Isto ocorre visto que Bachelard observa uma ligação do inconsciente
nos trabalhos científicos conscientes, ou seja, os esforços do conhecimento objetivo são
acompanhados de traços do inconsciente, seja relacionado a sentimentos como o medo ou seja
a traços sexuais.
Na segunda parte, Bachelard apresenta ilustrações históricas de empirismo ingênuo.
Assim, aborda pontos de autores que acreditam ter feito avançar o pensamento por meio de
extensões abusivas de imagens que são familiares, como os movimentos linguísticos que
associam palavras abstratas a palavras concretas, as quais funcionam como auxiliares de
pensamento. Esta ação não constitui uma doutrina coerente para Bachelard, dado que a
abstração precisa ter muito mais desapego em relação às imagens primitivas.
Por fim, discorre sobre diversos casos de substancialização e valorização, os quais
apresentam pensamentos que são insuficientemente baseados em comportamentos científicos.
No primeiro, Bachelard traz situações em que as afirmações substancialistas são apresentadas
sem provas suficientes ou até mesmo sem nenhuma prova ou imagem, conciliando
características contraditórias e concentrando substancialmente aspectos diversos. Isto é feito
devido a uma alta valorização de certos elementos, sendo necessário uma ingenuidade por parte
da intuição realista para poder explicar suas conclusões.
Conclui-se que a obra bachelardiana analisa ideias centrais da epistemologia:
obstáculos epistemológicos, construção do espírito científico, contraposição às filosofias do
imobilismo e vigilância. Além disso, o autor inova ao definir que o conhecimento ocorre por
meio de construções contínuas, associadas ao conhecimento a priori e a posteriori, trazendo a
ciência dinamismo.

REFERÊNCIAS

BACHELARD, G. A epistemologia. Lisboa / Portugal: Edições 70, 2006. (p. 165-190)

LIMA, M. A. M; MARINELLI, M. . A Epistemologia de Gaston Bachelard: uma ruptura com


as filosofias do imobilismo. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 45, n. 2, p. 393-
406, out.,2011. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/issue/view/1878. Acesso em: 07 de julho de
2021

Você também pode gostar