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MESTRADO EM ECOLOGIA E CONSERVACAO

DA BIODIVERSIDADE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CURSO DE ECOLOGIA DE CAMPO 2004

Cláudia Tasso Callil


Jerry Magno Ferreira Penha
Organizadores
MESTRADO EM ECOLOGIA E CONSERVACAO
DA BIODIVERSIDADE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CURSO DE ECOLOGIA DE CAMPO 2004

Cláudia Tasso Callil


Jerry Magno Ferreira Penha
Organizadores

Cuiabá – MT
2004
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
Reitor: Prof. Dr. Paulo Speller
Vice-Reitor: Prof. Dr. José Eduardo Aguilar S. do Nascimento
Pró-Reitora de Pós-Graduação: Profa. Dra. Marinêz Isaac Marques
Pró-Reitora Administrativa: Tec. Esp. Adriana Rigon Weska
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Profa. MSc. Matilde Araki Crudo
Pró-Reitora de Vivência Acadêmica e Social: Profa. MSc. Marilda Calháo Matsubara
Pró-Reitor de Planejamento: Tec. Esp. Adriana Rigon Weska (em exercício)
Pró-Reitor de Pesquisa: Prof. Dr. Paulo Teixeira de Sousa Júnior
Diretor do Instituto de Biociências: Prof. MSc. Edson Conceição de Campos Moraes
Coordenador do Programa de Pós-graduação: Prof. Dr. Pierre Girard
Organizadores: Profa. Dra. Cláudia Tasso Callil; Prof. Dr. Jerry Magno F. Penha
Diagramação: Profa. Dra. Cláudia Tasso Callil; Erica Cezarine Arruda
Secretária: Laura Cristina Vasconcelos

Curso de Ecologia de Campo, 2004/ Cláudia Tasso Callil; Jerry


Magno Ferreira Penha (organizadores). – Cuiabá, MT: s. ed.,
2004. 147 p. : il.

“A edição deste livro é resultado da disciplina Ecologia de


Campo do Curso de Ecologia e Conservação da Biodiversidade
da Universidade Federal de Mato Grosso.”

1. Ecologia. 2. Pantanal.

Endereço para Correspondência:


Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Biociências
Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade
Av. Fernando Corrêa da Costa, s/n, Boa Esperança
CEP: 78060-900, Cuiabá-MT
Fone/Fax: (65) 615-8878
Home-page: http://www.ufmt.br/ib/ppgecb.html
E-mail: ecologia@cpd.ufmt.br
Realização:

Apoio:
v

SUMÁRIO

Fatores Determinando a Diversidade de Espécies Arbóreas em Mesoescala, no


Parque SESC Baía das Pedras, Pantanal de Poconé, Mato Grosso-Brasil.
Arruda, Érica C. de ..............................................................................................................07

Predominância de Formas de Vida de Plantas em Função do Gradiente Ambiental no


Pantanal de Poconé, Mato Grosso (Brasil).
Couto, Julia A. .....................................................................................................................33

Riqueza e Abundância de Palmeiras (Arecaceae) na Baía das Pedras (SESC


Pantanal-Poconé/MT), em Gradiente Topográfico.
Morais, Rodrigo F. de ..........................................................................................................49

Biomassa de Serapilheira e sua Correlação com os Dados Bióticos e Abióticos na Baía


das Pedras / SESC Pantanal – Poconé – MT.
Santos, Jaime R. dos ............................................................................................................59

Densidade de Licania parvifolia Hüber (Chrysobalanaceae) ao longo do Gradiente


Topográfico em Meso-escala, Baía das Pedras, Poconé – MT
Santos, Luciana M. K. .........................................................................................................66

Densidade Populacional de Novateiro (Triplaris Gardneriana Wedd., Polygonaceae)


ao longo de um Gradiente Topográfico na Baía das Pedras, SESC – Pantanal, Poconé
– MT.
Barbosa, Marcello M. ..........................................................................................................76

O Efeito da Densidade sobre a Taxa de Herbivoria Foliar na Palmeira Bactris


Glaucescens, Baia das Pedras (SESC – Pantanal), no Município de Poconé – MT.
Rosa, Jorge das N. ...............................................................................................................84

Diversidade de Coleoptera do Solo: Estudo de Caso Parque Baía das Pedras - SESC
Pantanal, Poconé-MT Brasil.
Fortes, Caroline F. ...............................................................................................................95

Variação da Riqueza de Formicidae (HYMENOPTERA) em Gradiente Topográfico


em Mesoescala na Baía das Pedras – SESC - Pantanal de Poconé – MT.
Aburaya, Fernando H. .......................................................................................................111

Variação da Abundância de Artrópodes Terrestres em Função de Variáveis Abióticas


e Bióticas na Baía das Pedras no SESC/Pantanal.
Kawatake, Harumi S. .........................................................................................................126

Distribuição de Conchas de Pomacea lineata (MOLLUSCA, GASTROPODA) em


Ambientes Inundáveis do Pantanal de Poconé, MT.
Rosa, Fábio R. da ..............................................................................................................137

Distribuição de Marisa planogyra (Pilsbry, 1933) (Mollusca, Gastropoda) em Meso-


escala na Baía das Pedras – SESC Pantanal – Poconé, MT
Menegazzo, Nidia S. .........................................................................................................144
vi

PARTICIPANTES

11
6 9
1 2 4 8

5 20 12
3 7 10

14 19
13 16 21
15
18
17

Alunos Gonçalo Nuno Côrte-Real F. Oliveira (8)


Caroline Felfili Fortes (7) Jerry Magno Ferreira Penha
Érica Cezarine de Arruda (20) Lucia Aparecida de Fátima Mateus
Fabio Ricardo da Rosa (9) Pierre Girard
Fernando Hiroshi Aburaya (10)
Harumi Silva Kawatake (3) Organizadores
Jaime Rufino dos Santos (19) Claudia Tasso Callil (2)
Jorge das Neves Rosa (17) Jerry Magno Ferreira Penha (1)
Julia Arieira Couto (13)
Licínio Tertuliano Costa Leite (12) Técnicos
Luciana Midori Kanda dos Santos (21) Enésio Francisco Leôncio Filho
Marcello Messias Barbosa (18) Francisco G. de Assis Rondon (15)
Nidia Silva Menegazzo (5) Hélio Ferreira
Rodrigo Ferreira de Morais (16) Vantonildo Claudino do Nascimento

Professores Outros
Cátia Nunes da Cunha Temilze Gomes Duarte (Monitora) (4)
Christine Strüssmann Joaquim (guarda-parque) (6)
Claudia Tasso Callil Aruã Callil Peixoto (11)
Flávia Regina Capellotto Costa Iago Callil Peixoto (14)
Francisco de Arruda Machado
7

FATORES DETERMINANDO A DIVERSIDADE DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM


MESOESCALA, NO PARQUE SESC BAÍA DAS PEDRAS, PANTANAL DE
POCONÉ, MATO GROSSO-BRASIL.

Érica Cezarine de Arruda


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: ericacezarine@yahoo.com.br

(Com 14 Figuras)

RESUMO: O objetivo desse trabalho foi estimar a diversidade alfa e beta das espécies
arbóreas e analisar a existência de correlação entre os fatores abióticos e a diversidade.
Foram amostrados todos os indivíduos de porte arbóreo (dap ≥ 10 cm) em 60 parcelas,
distribuídos em 12 isolinhas ao longo de um transecto 6 km no Parque SESC Baía das
Pedras. Apenas 7 linhas apresentam espécies de porte arbóreo, totalizando 736 indivíduos,
distribuídos em 23 Famílias, 30 Gêneros e 35 espécies. A maior riqueza e diversidade alfa
das espécies foi encontrada nas isolinhas 500 (25 espécies, H’= 4,01, S= 0,93), 1000 (16
espécies, H’= 2,66, S= 0,78) e 4500 (12 espécies H’= 2,67, S= 0,79) , enquanto que 4000 e
5000 (H’= 1,75) apresentaram a menor riqueza com 5 e 4 espécies respectivamente. A
maior equitabilidade (E) ou evenness foi encontrada na linha 4000 com 93% de
homogeneidade. A diversidade beta entre as isolinhas, discutida neste trabalho como
proporção de similaridade entre cada linha ao longo do transecto apresenta os mais altos
valores entre as linhas 3000-4000, 4000-5000, 500-1000. A correlação realizada entre os
fatores abióticos e a diversidade nos mostra que a topografia, umidade relativa e matéria
orgânica apresentam fortes correlações e após a realização da regressão do tipo stepwise,
somente topografia e matéria orgânica que explicam melhor a variação da diversidade da
área estudada.
Palavras Chaves: Diversidade, Mesoescala, Arbórea, Pantanal.
8

INTRODUÇÃO
Na região central do continente Sul-americano onde o Brasil, Bolívia e Paraguai
se encontram, há uma grande área alagável, com mais de 100.000 Km² conhecida como
Gran Pantanal (Sarmiento, 1983).

O Pantanal está representado nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
adentrando pequenas partes na Bolívia e vinculando-se com o Chaco, em prolongamento
natural, sendo Poconé, Cáceres, Barão de Melgaço, Santo Antônio do Leverger e Nossa
Senhora do Livramento, os principais municípios no Estado de Mato Grosso com áreas
situadas dentro dos limites do Pantanal (Allem & Valls 1987).

O Pantanal Mato-grossense é denominado Savana Hipersazonal por Eitten (1982)


e Sarmiento (1983), apresentando um complexo de tipos de vegetação onde grandes áreas
são inundadas a cada ano. A principal força modeladora deste sistema é o pulso de
inundação que promove uma alternância entre habitats aquáticos e terrestres, onde o pulso
é do tipo monomodal e previsível (Junk, 1993).

Adámoli (1982) e Alvarenga et al. (1984) subdividiram o Pantanal em diferentes


sub-regiões de acordo com as características ecológicas locais. Dentre estas, destaca-se o
Pantanal de Poconé que ocupa uma área de 15.800 Km2, que representa 10,11% da área do
Pantanal. (Allem & Valls 1987; Silva & Abdon 1998).

O Pantanal de Poconé é caracterizado pela diversidade de habitats e dentre estes,


os de forma positivas de relevo como: cordilheiras, capões, murunduns, campos e os de
forma negativas, baías, brejos e corixos que abrigam uma variedade de plantas com
diferentes habilidades para tolerar situações adversas de inundação e de seca (Nunes da
Cunha, 1990).

No Pantanal encontramos comunidades complexas com alta diversidade, como as


encontradas nas florestas tropicais, tais como a Mata Atlântica e Floresta Amazônica, onde
estas são formadas por muitas espécies distintas de plantas e animais, com o número de
espécie normalmente variando muito. O número de espécie encontrado em um local
denomina-se riqueza de espécie. A abundância é influenciada pela equitabilidade ou
evenness, sendo uma maneira de estimar a importância relativa das distintas espécies
dentro da comunidade (Pianka, 1982; Magurran, 1988).

A diversidade de espécies arbóreas nos trópicos é extremamente alta, embora


muitas espécies são escassas com densidade inferior a uma árvore por hectare (Pianka,
1982). E uma das maneiras de se constatar a alta diversidade desses ecossistemas tropicais
9

é através da riqueza de espécies arbóreas numa determinada área amostrada (Kageyama &
Lepsch-Cunha, 2001). São utilizadas duas abordagens para se analisar a diversidade de
espécies em situações diferentes: (1) curva de abundância relativa do componente
dominância da diversidade e (2) índices de diversidades (Odum, 1988).

Padrões de riqueza de espécies podem ser conseqüências de diversos processos


históricos e ecológicos, que atuaram em diferentes escalas de espaço e tempo (Schluter &
Ricklefs 1993 apud Tabarelli & Mantovani 1999).

O objetivo desse trabalho foi estimar a diversidade alfa e beta das espécies
arbóreas em Mesoescala, comparando entre as isolinhas os diferentes habitats, analisar a
existência de correlação entre os fatores abióticos e a diversidade. Neste trabalho espera-se
que os fatores abióticos tenham influência sobre a diversidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O trabalho foi realizado entre os dias 29 de agosto a 08 de setembro de 2004, no


Parque SESC Baía das Pedras, localizado no Pantanal, sub-região de Poconé, MT, Brasil,
com coordenada 16° 30’S e 56° 25’W (Figura 1).

Figura 1- Localização da área de estudo: Parque SESC Baía das Pedras, Pantanal Norte, Poconé, Mato
Grosso-Brasil.
10

O Pantanal Norte é constituído por solos de textura argilosa com laterita


hidromórfica, planossolo, solonetz solodizado, vertissolo, podzólico vermelho-amarelo,
glei pouco húmico e solos aluviais (Calheiros & Fonseca Júnior, 1996). O clima é do tipo
AW, de acordo com classificação de Köppen com estação chuvosa no verão e uma estação
seca no inverno (Amaral Filho, 1986). A média anual de temperatura é 25 ºC. A
precipitação varia entre 1.250mm por ano no norte e 1.100mm na região sul. A estação
chuvosa ocorre entre os meses de outubro e abril e a estação seca entre maio e setembro
(Tarifa, 1986).
Os dados foram coletados em 60 parcelas distribuídas em 12 isolinhas, com 5
parcelas de 20 x 50 m por isolinha, por sua vez distribuídos ao longo de um transecto de 6
km. Estas linhas foram posicionadas para seguir a topografia, minimizando sua variação
interna. (Figura 2). Foi realizada uma caracterização aproximada dos tipos de
fitofisionomia predominante em cada linha.

Figura 2- Localização do transecto e as respectivas isolinhas no Parque SESC Baía das Pedras, Pantanal
Norte, Poconé, Mato Grosso-Brasil.
11

Coleta dos Dados Abióticos:

Foram coletados em cada isolinha dados abióticos, tais como:

ƒ Umidade do solo: coletados a cada 50 m, com o uso do aparelho “Moisture Meter HH2”.

ƒ Granulometria do solo: realizou-se uma amostragem superficial de solo (10 cm de


profundidade), onde as amostras coletadas de uma mesma linha foram misturadas em um
mesmo recipiente. Posteriormente as amostras foram pesadas e passadas em peneiras
granulométricas (2 mm, 1 mm, 250 mm, 125 mm e 63 mm), sendo classificada como
seixo, areia grossa, areia média, areia fina e silte respectivamente; as partículas menores
que 63 mm foram classificadas como argila.

ƒ Matéria Orgânica do solo: para determinar o teor de matéria orgânica das amostras de
solo de cada linha, as amostras foram levadas ao laboratório de Limnologia da UFMT,
onde separou-se 1 g de solo de cada amostra, sendo esta levada a mufla a uma
temperatura de 500° C por 4 horas, as amostras foram levadas para um dessecador e
posteriormente pesado.

Amostragem da Vegetação:

Nas 12 isolinhas amostradas foram delimitadas cinco parcelas de 50 x 20 m (5000


2
m ). Sendo a área total amostrada de seis hectares. Todos os indivíduos de porte arbóreo
com diâmetro a altura do peito (DAP) igual ou superior 10 cm foram amostrados (o termo
arbóreo neste trabalho inclui plantas lenhosas comumente classificadas como grandes
arbustos, arvoretas e árvores). O material botânico coletado foi identificado em campo com
ajuda de técnicos especializados e aqueles que não foram identificados foram levados ao
Herbário Central da Universidade Federal de Mato Grosso para posterior identificação. A
grafia dos nomes científicos segue o do Missouri Botanical Garden verificados pelo site
www.mobot.org/w3t/search/vast.html.

Análise de Dados

ƒ Diversidade:

A comunidade apresenta em sua organização dois componentes: diversidade alfa


(refere-se ao número e a abundância de espécies dentro de uma comunidade) e diversidade
beta (relaciona-se com as diferenças na composição de espécies e suas abundâncias entre
áreas dentro de uma comunidade) (Magurran, 1988).
12

Para o cálculo da diversidade (Whittaker, 1975), foram utilizadas as medidas de


riqueza de espécies (S), os índices de Shannon-Wiener (H’ que atribui maior peso a
espécies raras), Simpson (D que é pouco influenciado por espécies raras) e equabilidade (E
que é a distribuição do número de indivíduos por espécies) utilizando o programa MVSP.

A diversidade beta ou diversidade entre as linhas para cada par de linhas


seqüenciais preocupa-se com a dissimilaridade das espécies, de habitat para habitat, sendo,
portanto uma medida de mudança das espécies ao longo do gradiente. Neste trabalho a
diversidade beta foi avaliada através do Índice de Similaridade de Sorensen que pondera
mais as presenças do que as ausências das espécies entre as amostras. O coeficiente de
similaridade de Sorensen foi calculado usando o programa Ecological Methodology
(Krebs, 1989).

Uma curva de incremento do número de espécies por parcela foi preparada para
cada isolinha. Sendo o incremento calculado seqüencialmente para cada uma das parcelas
de cada local. Foi também elaborada outra curva para as 35 parcelas amostradas para
verificar o incremento a nível regional ou total.

ƒ Análise Estatística:

Foi realizada a plotagem dos dados em gráficos utilizando o programa Microsoflt


Excel. Foram aplicados os testes estatísticos de Correlação de Pearson e regressão múltipla
utilizando o programa SYSTAT 10.

RESULTADOS

Entre as 12 isolinhas amostradas apenas 7 apresentavam espécies de porte arbóreo


(Figura 3, 4 e 5).
13

Figura 3- A) Vegetação da linha 1500m. B) Vegetação da linha 2000m. C) Vegetação da linha 2500m.
14

D E

Figura 4- D) Vegetação da linha 3500m. E) Vegetação da linha 4000m. F) Vegetação da linha 4500m.
15

H
G

Figura 5- G) Vegetação da linha 5000m. H) Vegetação da linha 5500m. I) Vegetação da linha 6000m.
16

Foram amostrados 736 indivíduos, distribuídos em 23 Famílias, 30 Gêneros e 35


espécies (Tabela 1). As espécies mais abundantes no levantamento florístico foram: Vochysia
divergens (184 inds.), Tabebuia impertiginosa (90 inds.), Prosopis rubriflora (76 inds.),
Licania parvifolia (64 inds.) e Tabebuia aurea (56 inds.). As Famílias com maior número de
espécies foram Bignoniaceae, com 4 espécies; Caesalpiniaceae e Combretaceae, com 3;
Chrysobalanaceae, Fabaceae, Myrtaceae e Rubiaceae, com 2.

Tabela 1 - Relação das espécies arbóreas encontradas no Parque SESC Baía das Pedras, Poconé-MT, com suas
famílias e nomes vulgares.
Família/ Espécie Nome vulgar
ANACARDIACEAE
Astronium fraxinifolium Schott ex Spreng. Gonçaleiro
BIGNONIACEAE
Jacaranda cuspidifolia Mart. ex A. DC. Carobão
Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo Ipê-roxo
Tabebuia áurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore Paratudo
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. Piuva
BOMBACACEAE
Ceiba samauma (Mart.) K. Schum. Paineira
BORAGINACEAE
Cordia glabrata (C. Martius) A. DC. Louro-preto
CAESALPINIACEAE
Cassia grandis L. F. Canafístula
Copaifera langsdorffii Desf. Pau d'óleo
Indeterminada 5
CECROPIACEAE
Cecropia pachystachya Trécul Embaúba
CHRYSOBALANACEAE
Couepia cf. uiti (Mart. & Zucc.) Benth. ex Hook. f. Pateiro
Licania parvifolia Huber Pimenteira
CLUSIACEAE (GUTTIFERAE)
Rheedia brasiliensis (Mart.) Planch. & Triana Cupari
COMBRETACEAE
Buchenavia tomentosa Eichler Tarumarana
Combretum leprosum Mart. Carne-de-vaca
Terminalia argentea (Camb.) Mart. Capitão
DILLENIACEAE
Curatella americana L. Lixeira
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum sp. P. Browne
17
Tabela 1. (Continuação)
Família/ Espécie Nome vulgar
EUPHORBIACEAE
Alchornea cf. discolor Poepp. Uva-brava
FABACEAE
Andira cf. inermis (W. Wright) Kunth ex DC. Morcegueira
Dalbergia sp. L.f.
LAURACEAE
Ocotea suaveolens (Meisn.) Benth. & Hook. f. ex Hieron. Canela
MELASTOMATACEAE
Mouriri guianensis Aubl. Roncador
MELIACEAE
Trichilia catigua A. Juss. Pombeiro
MIMOSACEAE
Prosopis rubriflora Hassl. Espinheiro
MORACEAE
Brosimum sp. Sw. Leiterinho
MYRTACEAE
Eugenia sp. L.
Eugenia sp 2 L.
POLYGONACEAE
Triplaris gardneriana Wedd. Novateiro-preto
RUBIACEAE
Alibertia sp. A. Rich. Ex DC.
Genipa americana L. Jenipapo
STERCULIACEAE
Guazuma tomentosa Kunth Chico magro
VOCHYSIACEAE
Vochysia divergens Pohl Cambará
INDETERMINADA
Indeterminada 3

Nas figuras 6 e 7 estão representados os resultados dos dados abióticos.

Com relação a granulometria do solo, podemos observar a maior porcentagem de


seixos na linha 5000, de areia grossa na linha 5500, areia média na linha 5000, areia fina na
linha 3000. As maiores porcentagens de silte foram encontradas nas linhas 1000, 3500 e 4500,
sendo que na linha 6000 observou-se a menor percentagem de silte. As maiores porcentagens
de argila foram observadas nas linhas 1000 e 1500 e a menor percentagem na linha 3000
(figura 6).
18

Baia das Pedras


Granulometria do Solo
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

seixo areia grossa areia média areia fina silte argila

Figura 6- Granulometria do solo nas linhas (valores expressos em porcentagem).

Na Figura 7 o gráfico mostra como é o perfil topográfico do transecto, onde


percebe-se que a linha 500 encontra-se na cota mais alta e que a linha 5500 é a cota mais
baixa, conseqüentemente são as linhas que apresentam menor e maior valores de nível de
lâmina de água respectivamente. Em relação à presença de maior quantidade de matéria
orgânica, esta localiza-se na linha 2000, enquanto que a menor quantidade encontra-se na
linha 3000. O maior valor de umidade relativa encontra-se na linha 6000 e o menor valor na
linha 3500. Uma outra informação que observa-se nesta figura são os tipos de fitofisionomias
que cada linha apresenta.
19

Perfil topográfico do transecto / Matéria Orgânica

sempre verde

Campo sujo
Pombeiro
Cambarazal

transição
Carambazal

Mata de
Pombeiro

Carvoeiro

inundável
Mata

Campo
jovem
120 25

100
20
Elevação (cm)

80

MO (g*100)
15
60
10
40

20 5

0 0
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

Distância ao longo do transecto (m)


Lamina de água Topografia do Ponto 0 (corrigido) Matéria Orgânica

Figura 7- Perfil topográfico do Transecto associado à matéria orgânica e nível da lâmina de água.

Das 7 isolinhas amostradas, houve um número baixo de espécies, com pouco


aumento de espécies até a última parcela, onde a curva de incremento estava sempre tendendo
a estabilidade (Figura 8). A curva conjunta para todas as isolinhas, mostrou um aumento
gradativo de espécies até a parcela 16, havendo em seguida pouco incremento de espécie até a
última parcela (Figura 9). Portanto houve suficiência amostral, uma vez que as curvas se
estabilizaram.

A maior riqueza de espécie foi encontrada nas isolinhas 500, 1000 e 4500 (com 25,
16 e 12 espécies respectivamente), enquanto que 4000 e 5000 foram as mais pobres com 5 e 4
espécies (tabela 2). Conseqüentemente, os maiores índices de diversidade alfa foram obtidos
nas linhas 500, 1000 e 4500 (com 4,01; 2,66 e 2,67 pelo índice de Shannon e de 0,93; 0,78 e
0,79 pelo de Simpson). Sendo que na linha 5000 observa-se a menor diversidade (1,75 pelo
índice de Shannon, enquanto que pelo índice de Simpson a menor diversidade foi encontrada
na linha 3500 com 0,58). Entretanto a comunidade mais homogênea, ou seja, que apresentou a
maior equitabilidade (E) ou evenness, foi a linha 4000 com 93% de homogeneidade (índice de
Shannon) e 96% para a linha 500 pelo índice de Simpson (tabela 2).
20

Figura 8- Curva de incremento do número de espécies por parcelas amostradas para as 7 isolinhas que
apresentavam espécies arbóreas do Parque SESC Baía das Pedras.

40
4000 4500 5000
35
Número de Espécies

3000 3500
1000
30
500

25

20

15
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35

Número de Parcelas de 1000 m2

Figura 9- Curva de incremento do número de espécies por parcelas para o Parque SESC Baía das Pedras. As
setas assinalam o final de casa isolinha.
21
Tabela 2 - Valores de índices de diversidade das isolinhas do Parque SESC Baía das Pedras Pantanal de Poconé-
MT. (H’) Shannon-Wiener, (D) Simpson, (E) Equabilidade e Riqueza de Espécies (S).
Shannon (H’) Evenness (E) Simpson (D) Evenness (E) Riqueza (S)
500 4,01 0,86 0,93 0,96 25
1000 2,66 0,67 0,78 0,83 16
1500
2000
2500
3000 1,93 0,64 0,68 0,77 8
3500 1,82 0,58 0,58 0,65 9
4000 2,15 0,93 0,76 0,94 5
4500 2,67 0,74 0,79 0,86 12
5000 1,75 0,88 0,67 0,89 4
5500
6000

Na Figura 10 observa-se que a linha que apresenta maior cota, também possui a
maior diversidade, enquanto, que as linhas onde os níveis topográficos são considerados
baixos (linhas 1500, 2000, 2500, 5500 e 6000), ou seja, a água permanece por mais tempo,
essas linhas não apresentam espécies arbóreas.

Figura 10 – Variação da Diversidade em relação à topografia e lâmina de água ao longo do transecto.

A diversidade beta entre as isolinhas, discutida neste trabalho como proporção de


similaridade entre cada linha ao longo do transecto é apresentada na Figura 11, os mais altos
22
valores de similaridade florística encontram-se entre as linhas 3000-4000, 4000-5000, 500-
1000. Podemos inferir que essa similaridade entre as linhas é devido à mudança de
diversidade entre os ambiente secos e úmidos. Na Figura 12 esta representada um
dendrograma do coeficiente de similaridade de Sorensen onde podemos observar que os
maiores coeficiente permite diferenciar 3 conjuntos (linhas 500/1000, 3000/4000 e
3500/5000) entre as linhas. O dendrograma ordena esses conjuntos pela posição que as
espécies ocupam no gradiente de inundação, ou seja, ambientes florestais onde a inundação
não é tão pronunciada (linhas 500 e 1000) e ambientes onde a inundação é mais acentuada
(linha 3000, 4000 e 5000).

Figura 11- Curva de proporção de Similaridade de Sorensen, amostrando a diversidade beta entre as isolinhas.
23

Distance (Objective Function)


2,7E-02 1,6E-01 3E-01 4,3E-01 5,7E-01

InformationRemaining(%)
100 75 50 25 0

p500
p1000
p3000
p4000
p4500
p3500
p5000

Figura 12- Dendrograma de Similaridade de Sorensen entre as linhas que apresentavam espécies arbóreas.

Na figura 13 representa a distribuição da abundância das espécies, demonstrando a


relação entre o número de espécies e o número de indivíduos do transecto amostrado.
Observa-se que 5 espécies apresentam uma grande quantidade de indivíduos e que muitas
espécies possuem apenas um único indivíduo como representante.

Figura 13- Gráfico representa a relação entre o número de espécies e número de indivíduos de espécies arbóreas
no Parque SESC Baía das Pedras, Pantanal de Poconé-MT.

A partir dessa informação analisou-se a freqüência das 5 espécies mais abundantes


ao longo do gradiente de inundação (Figura 14): Vochysia divergens (cambará) observa-se
que esta espécie ocorreu tanto nas linhas onde a topografia é mais alta quanto na mais baixa,
24
porém sua maior freqüência foi nas linhas 3000 e 3500, onde o tipo fisionômico é de um
cambarazal e cambarazal jovem com nível topográfico intermediário. A espécie Prosopis
rubriflora (espinheiro) apresentou maior freqüência nas linhas 1000 e 3000 nos níveis
topográficos alto e intermediário. A espécie Tabebuia aurea (paratudo) sua maior freqüência
de ocorrência foi na linha 1000 que apresenta nível topográfico alto. A espécie T.
impertiginosa (piúva) sua maior freqüência de ocorrência foi na linha 1000 (nível topográfico
alto) e ocorrendo também nas linhas 500 e 3500 com menor freqüência, porém também
considerado tendo nível topográfico alto. Enquanto que a espécie Licania parvifolia
(pimenteira) ocorreu com maior freqüência na linha 3000, porém ocorrendo também na linha
4500 e 4000 sendo o nível topográfico alto e intermediário (Figura 14).

Foram realizadas correlações entre a diversidade de espécies arbóreas e a


granulometria (seixos, areia grossa, média e fina, silte e argila) e matéria orgânica do solo,
como os dados de diversidade apresentarem uma distribuição normal, utilizou-se a correlação
de Pearson. Os resultados mostram uma forte correlação apenas para seixos e matéria
orgânica, com coeficiente de correlação R = 0,592; R = - 0,615 (Tabela 3).

Tabela 3. Coeficientes de correlação granulometria e matéria orgânica do solo com a diversidade de espécies
arbóreas.
Granulometria do solo Coeficiente de Correlação
Seixos 0,592
Areia grossa -0,091
Areia média 0,164
Areia fina 0,289
Silte 0,450
Argila -0,195
Matéria orgânica -0,615
25

Figura 14- Histograma de freqüências das 5 espécies mais abundantes distribuídas no gradiente de inundação do
Parque SESC Baía das Pedras, Pantanal de Poconé - MT.
26
Para verificar o quanto da variação da diversidade é explicada pela variação de
seixos e da matéria orgânica realizou-se uma regressão linear múltipla, que mostram que essas
variáveis apresentam uma relação significativa com a diversidade, onde 55% da variação da
diversidade é explicada pela quantidade de seixos e matéria orgânica presentes no solo (R2 =
0,556, P = 0,026). Os Assim verifica-se que os dados de granulometria e matéria orgânica
influenciam na diversidade de espécies arbóreas.

A correlação entre a diversidade e os dados abióticos (nível topográfico, Umidade


relativa do solo, matéria orgânica e granulometria do solo) mostram que topografia apresenta
coeficiente de correlação positiva R = 0,849; e que umidade do solo e matéria orgânica
apresentam coeficiente de correlação negativa R = - 0,555, e R = – 0,615 respectivamente
(Tabela 4).

Tabela 4. Coeficientes de correlação dos fatores abióticos com a diversidade de espécies arbóreas.
Fatores Abióticos Coeficiente de Correlação
Topografia 0,849
Umidade relativa 0,555
Matéria orgânica -0,615
Granulometria -0,364

Realizou-se uma regressão do tipo stepwise para verificar quais fatores explicam
melhor a relação da diversidade com os fatores abióticos. E as variáveis que melhor explicam
a regressão são topografia e matéria orgânica, sendo que 86% da variação da diversidade é
explicada pela variação da topografia e quantidade de matéria orgânica presente no solo (R2 =
0,861, P = 0,001).

DISCUSSÃO

Costa (2004) em seu levantamento da vegetação do sub-bosque em floresta ripária da


em relação ao gradiente de inundação apresenta 9,9 % das espécies encontradas neste
trabalho. De acordo com Nunes da Cunha (1998), o número de espécies que ocorre em um
determinado ecossistema e o padrão de vida das mesmas dependem de vários fatores, entre
outros: tamanho do sistema, variedade dos habitas, fatores de estresse ambiental, diversidade
de espécies dentro dos sistemas adjacentes e sua capacidade de disseminação através de
diásporas, idade do sistema, taxa de especiação, taxa de extinção e impactos humanos.

Nunes da Cunha e Junk (1999) classificaram as espécies como sendo: exclusivas de


habitats secos, inundáveis somente em cheias excepcionais (localizam-se nas porções mais
27
elevadas do gradiente), espécies que tem preferência por habitats de máxima inundação e
espécies que ocupa diferentes habitats no gradiente de inundação. Sendo assim as espécies:
Astronium fraxinifolium, Jacaranda cuspidifolia, Tabebuia impertiginosa são classificadas
com espécies características de habitats secos. Espécies que ocupam uma faixa ampla do
gradiente de inundação: Curatella americana, Cecropia pachystachya, Ceiba samauna,
Andira inermis, Trichilia catigua, Genipa americana, Guazuma tomentosa. Entre as espécies
que resistem ao longo período de inundação: Mouriri guianensis.

Segundo Adámoli (1995) uma das características mais marcantes do Pantanal é a


extrema planície de suas terras. No plano regional, manifesta-se em declividades de ordem
dos 10 cm/km. No entanto, em âmbito local, as diferenças de relevo são importantes, não
tanto pelas diferenças de altitude, que rara vez ultrapassam um metro entre unidades vizinhas,
mas fundamentalmente na diferenciação de comunidades.

Costa (2002) em seu trabalho em uma transição floresta-savana em uma cordilheira


no Pantanal de Poconé, estima da diversidade arbórea H’= 4,722. Nunes da Cunha (1998)
encontrou para o Pantanal Norte valores de diversidade pelo índice de Shannon de 2,67 a
3,09. Espirito-Santo (2002) observa-se a diversidade H’= 4,19 e E = 0,81. Bianchini et al.
(2003) estudando espécies arbóreas em uma área alagável encontrou diversidade H’= 3,44 e E
= 0,82. Assim podemos observar que este trabalho apresenta em uma linha valor de
diversidade alta se comparadas com outros ambientes citados acima e diversidade menor para
as outras linhas.

A riqueza de plantas lenhosas nas florestas tropicais está relacionada a cinco grandes
gradientes principais: o latitudinal, o de precipitação, o edáfico, o altitudinal e o
intercontinental. Nas florestas neotropicias, observa-se uma relação direta entre a
precipitação, a fertilidade dos solos e a riqueza de espécies. Observa-se um decréscimo de
riqueza com o aumento da latitude e altitudes, mantidas as outras condições ecológicas e
biogeográficas constantes (Gentry 1988 apud Tabarelli & Mantovani 1999). As árvores (≥ 10
cm dap) constituem somente entre 15 e 22% das espécies nas florestas neotropicais onde há
flora conhecida. O restante são lianas, epífitas, ervas, arbustos e pequenas árvores que nunca
atingem 10 cm de dap.

Adámoli & Pott (1999) registraram que a menor diversidade e riqueza de espécies
ocorrem em ambiente que apresenta altos valores de altura e permanência das inundações,
isso também se observa neste trabalho, pois os locais de maior riqueza e diversidade estão em
locais onde o nível de inundação é menor.
28
Em ambientes tropicais o número de espécies é elevado e a distribuição desigual com
poucas espécies contendo muitos indivíduos e um grande número de espécies com um
número reduzido de indivíduos, podendo ser consideradas raras localmente (Felfili & Felfili,
2001).

Nunes da Cunha e Junk (2001) descrevem que a vegetação das matas do Pantanal
esta distribuída ao longo do gradiente de inundação de acordo com a tolerância a seca e cheia
e que o nível de tolerância esta relacionado com as peculiaridades específicas morfológicas e
fisiológicas das espécies. A grande variabilidade dos fatores climáticos, que resulta da posição
geográfica do Pantanal e que regula a distribuição das espécies, parece favorecer a ocorrência
dessas espécies lenhosas ao longo do gradiente de inundação (Nunes da Cunha e Junk, 1999).
A topografia e quantidade de matéria orgânica apresentam uma forte correlação com
a diversidade, desempenhando um papel significativo sobre a diversidade de espécies
arbóreas da área estudada.

Sendo assim, observamos que a hipótese levantada no inicio deste trabalho foi aceita,
pois os fatores abióticos influenciam a diversidade de espécies arbóreas.

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Conservação, aos Professores e


Colaboradores da Disciplina de Ecologia de Campo que estiveram conosco durante o curso:
Profª Cátia Nunes da Cunha, Profª Claudia Callil, Profª Flavia Costa, Prof° Francisco de
Arruda Machado, Prof° Gonçalo Ferraz, Profº Jerry Magno, Profª Lucia Mateus e Profº Pierre
Girard. A aluna de doutorado Temilze Gomes Duarte pelas valiosas informações e pela ajuda
de campo. Aos queridos técnicos Francisco de Assis Rondon, Hélio Ferreira e Vantonildo.
Aos guarda-parque do SESC, em especial ao Joaquim, pelo valioso auxilio. Aos colegas pelas
risadas e desabafos. Mas em especial a Profª. Cátia Nunes da Cunha pela transmissão do
conhecimento da flora e ecologia do Pantanal e principalmente pelo seu bom humor.

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33

PREDOMINÂNCIA DE FORMAS DE VIDA DE PLANTAS EM FUNÇÃO DO


GRADIENTE AMBIENTAL NO PANTANAL DE POCONÉ, MATO GROSSO
(BRASIL)

Julia Arieira Couto


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: juarieira@yahoo.com.br
(Com 12 figuras)

RESUMO: Realizado no SESC Pantanal, Poconé - MT (Brasil), o presente trabalho teve


como objetivo verificar qual a variação na predominância de cinco formas de vida de
plantas, em função do gradiente hidro-topográfico. O desenho amostral consistiu em 12
isolinhas topográficas, de 250m de comprimento, distribuídas sistematicamente a cada
500m, ao longo de um transecto de 6000m de distância. A percentagem de cobertura do
solo ocupada por forma de vida foi levantada nas 12 isolinhas, seguindo o método de
amostragem por ponto quadrado. Os resultados das análises diretas e indiretas de gradiente
mostraram que a cobertura de gramas e lianas possui uma relação inversa no gradiente.
Palmeira e erva tiveram baixo valor de cobertura em todas as isolinhas, no entanto,
apresentaram forte correlação com a topografia e umidade relativa do solo,
respectivamente. Assim, ervas foram mais abundantes nas partes mais baixas e úmidas do
gradiente, enquanto as palmeiras foram mais abundantes nas partes mais altas e secas.
Arbustos ocuparam, principalmente, as posições intermediárias do gradiente. Diferenças na
ocupação do solo pelas formas de vida, em condições hidro-topográficas particulares,
sugere a existência de diferentes adaptações das plantas a viver em ambiente específico.
Palavras Chaves: Formas de vida, Gradiente ambiental, Pantanal.

INTRODUÇÃO
Plantas apresentam diferentes respostas às condições ambientais que são refletidas
em suas diferentes amplitudes ecológicas e tolerância. Considerando que as características
morfológicas e fisiológicas das plantas, muitas vezes, possuem uma correlação com a sua
adaptação ao ambiente, ou seja, refletem adaptações a um habitat específico (CAIN &
CASTRO 1971), é possível caracterizar formações vegetais quanto às suas formas de vida
predominantes, correlacionando-as às variáveis abióticas locais, a fim de verificar padrões
34

entre estas relações. Forma de vida é definida como a forma vegetativa do corpo da planta
e é considerada uma adaptação usual (DOBBEN 1979). Sendo assim, é provável que, em
diferentes habitats, a predominância de formas de vida varie de acordo com as diferentes
condições ambientais dos habitats. Estudos com formas de vida em ambientes tropicais
têm tido um papel importante na descrição de adaptações de plantas a períodos regulares
de seca (LÜTTGE 1997).
O pulso de inundação é uma força reguladora dos processos ecológicos que
ocorrem no Pantanal Matogrossense e requer adaptações das plantas para lidar tanto com o
período de seca, quanto o de cheia (JUNK et al. 1989). Além do estresse gerado pelas
mudanças anuais do regime hidrológico, as plantas também estão submetidas a mudanças
plurianuais deste regime, com as ocorrências de períodos de grandes cheias e grandes secas
no Pantanal (JUNK e DA SILVA 1996). Variações topográficas mínimas resultam em
diferentes níveis de inundação e, por conseguinte, resultam numa grande heterogeneidade
da paisagem. Esta variedade de habitats em unidades de paisagem, com peculiaridades
edáficas, topográficas e hidrológicas permite a co-ocorrência de grande variedade de
plantas e animais com diferentes níveis de tolerância a períodos de seca e inundação
(NUNES da CUNHA & JUNK 2001).
Este trabalho considera que há uma variação na predominância das diferentes
formas de vida ao longo do gradiente hidro-topográfico refletida nas diferentes proporções
de ocupação dos habitats existentes no local.
O presente estudo teve como objetivo verificar qual a variação na predominância
das formas de vida de plantas (arbusto, liana, erva, grama e palmeira) entre habitats e
correlacioná-la com os fatores ambientais: topografia, umidade relativa do solo e conteúdo
de argila, areia e matéria orgânica.

MATERIAIS E MÉTODOS
o Área de Estudo
O estudo foi realizado na Baía das Pedras, SESC (Serviço Social do Comércio)
Pantanal, localizado no município de Poconé, Estado de Mato Grosso (Brasil). A área está
há 145 Km da cidade de Cuiabá e há 42 Km da cidade de Poconé e pertence ao Pantanal de
Poconé pela subdivisão elaborada por Jorge Adámoli (1982) (fig. 1).
A vegetação predominante no nordeste do Pantanal de Poconé, segundo
LOUREIRO et al. (1982) é a Savana-parque (campos de murundus) sem floresta de
galeria. Cerradão, cerrado e campos úmidos também são comuns na região, assim como
35

floresta estacional semi-decidual e floresta sempre-verde sazonalmente inundável


(ALMEIDA & NUNES DA CUNHA 1995). A vegetação local parece ter sofrido
influência do manejo pelo fogo e gado devido a grande quantidade de plantas perfilhadas e
à presença de espécies heliófilas, pioneiras. Há uma grande quantidade de lianas e arbustos
no local, com dominância de umas poucas espécies, como Combretum lanceolatum Pohl. e
Triplaris gardneriana Wedd. (arbustos) e Paullinia pinnata L. (liana). Algumas áreas
apresentam maior abundância de espécies arbóreas, formando pequenos trechos de mata
sempre-verde e de cambarazal (fig. 2). Nos locais onde a inundação permanece mais tempo
ao ano e com maior altura da lâmina de água, a fitofisionomia encontrada é de campo sujo.

Figura 1 - Mapa de sub-regiões do Pantanal Matogrossense elaborada por Jorge Adámoli (1982).
Fonte: SEPLAN.
36

Figura 2 - Visão de uma mata de Cambarazal no SESC Pantanal.

Segundo a classificação de Köpen, o clima local está na classe Aw que


corresponde a invernos secos e verões chuvosos, com precipitação anual entre 1000 e
1500mm (KÖPPEN 1948). Esta classe corresponde ao clima observado em todo centro-
oeste brasileiro. A despeito disto, no Pantanal é possível observar um gradiente climático
norte-sul, sendo a região norte com período chuvoso mais curto e a seca do inverno mais
rigorosa (HASENACK & CORDEIRO 2003).
A área é plana a ligeiramente ondulada, e sua maior parte está à cerca de 100m do
nível do mar (PRANCE & SHALLER 1982). Na área de estudo, a inundação segue a
estação chuvosa, como pode ser visto na figura 3. Em decorrência do relevo quase plano, a
inundação no Pantanal é fortemente influenciada pela precipitação local (NUNES DA
CUNHA & JUNK 2004). No entanto, na região de Poconé, as enchentes são determinadas
muito mais pelo excedente hídrico dos rios que pela precipitação local (NIMER &
BRANDÃO 1989).
37

Baia das Pedras


Granulometria do Solo

100%

80% argila
silte
60% areia fina
aeia média
40%
areia grossa
20% seixo

0%
500 1500 2500 3500 4500 5500

Figura 3 - Média anual de flutuação do nível da água do rio Cuiabá (1933-1993) e precipitação média
próximo a Cuiabá, Pantanal norte (1971-1988). Dados pluviométricos do INMET, dados do nível do rio do
DNAEE.

o Coleta de dados
O desenho amostral adotado consistiu em 12 isolinhas topográficas de 250m de
comprimento, distribuídas sistematicamente a cada 500m ao longo de um transecto de
6000m (fig. 4). Cada isolinha corresponde a um tipo de habitat, com características
ambientais próprias. A coleta de dados foi feita dentro de cada uma destas isolinhas. Este
desenho minimiza variações internas em topografia que, no Pantanal, estão relacionadas
com a variação do nível de inundação.

Figura 4 - Desenho amostral adotado neste estudo. Transecto de 6000m onde foram implantadas 12 isolinhas
topográficas de 250m de comprimento, a cada 500m de distância uma da outra.

Dados de cobertura vegetal das diferentes formas de vida de arbusto, liana, erva,
grama e palmeira foram coletados seguindo o método de amostragem por quadrado ponto
(Slingsby & Cook 1986), com 125 pontos por isolinha, espaçados 2m ao longo do eixo da
38

linha. Aqui foram consideradas as formas de vida de plantas em sua maturidade. Este
método consistiu no posicionamento de um bastão de espessura mínima e de 1,83m de
altura e na contagem e registro do número de toques no bastão, pelas diferentes formas de
vida, a cada ponto.
A cobertura de uma espécie ou outra categoria vegetal é uma proporção do solo
ocupado pela projeção perpendicular das partes aéreas dos indivíduos (GREIG-SMITH
1964) e é, normalmente, expressa em percentagem (CHAPMAN 1976).
A altitude ao longo de cada isolinha foi medida diretamente no campo utilizando
um cano transparente preenchido com água (princípio dos vasos comunicantes), para achar
pontos de mesma altitude.
O método de coleta utilizado para caracterização do solo nas diferentes isolinhas
foi de amostragem composta consistindo na coleta de solo em seis pontos (réplicas)
diferentes para cada isolinha, a uma profundidade de 0 a 10cm. Antes de escavar o solo, a
serrapilheira presente na superfície foi afastada. O material replicado foi misturado e
homogeneizado. O material foi pesado e em seguida foi separado em partículas de argila,
silte e areia através de peneiras granulométricas. Cada porção destas partículas foi pesada e
foram calculadas suas porcentagens em relação ao todo. As análises de matéria orgânica
foram realizadas na Universidade Federal de Mato Grosso, onde 1g do solo coletado em
campo foi levado à mufla em uma temperatura de 500 ºC. Após 4 horas, o solo foi retirado
e levado para esfriar em dessecador, para então ser levado à pesagem até possuir peso
constante.
Informações sobre a lâmina de água ao longo do transecto foram obtidas através
da marca de água mais alta deixada nos moirões das cercas que acompanhavam todo o
transecto.
Para a medição da umidade do solo utilizou–se o medidor de umidade do solo
digital Thetaprobe, que permite uma medição rápida e precisa da umidade de camadas
superficiais de solo, através da freqüência, técnica esta derivada da tecnologia TDR.
Consiste em uma unidade de leitura digital a bateria e em um sensor robusto e resistente a
água, cujo contato com o solo é feito através de 3 ponteiras de aço inox. A faixa de
medição varia de 5 a 55% (do volume de água pelo volume de solo), com precisão de 5%
sobre a calibração de fábrica e de apenas 2% sobre calibrações específicas.

o Análise de Dados
Cobertura Vegetal
39

O cálculo de cobertura, a partir de unidades de amostra pontuais, resultou do


número de pontos nos quais uma forma de vida aparece (ni) dividida pelo número total de
pontos (NT), em cada isolinha, equivalendo à cobertura da forma de vida: (Ci): Ci (%)= (ni/
NT) x 100 (Slingsby & Cook 1986).

Caracterização Fisionômica-estrutural
A fim de descrever a estrutura fitofisionômica dos habitats foi utilizada a
modalidade de espectro biológico (formas de vida) que tem como objetivo representar
graficamente as comunidades vegetais permitindo uma comparação visual. Esta
representação proporciona uma visualização das diferenças ecológicas dos sítios ocupados
por comunidades distintas. (COLMA 1982).

Análise Direta de Gradiente


A análise direta de gradiente foi utilizada para ordenar as formas de vida em
função da topografia. Testes de regressão linear ligando os valores da cobertura de cada
forma de vida aos dados ambientais também foram realizados. A regressão é normalmente
utilizada para analisar relações entre variáveis contínuas, descrevendo uma relação linear
entre uma variável preditiva, plotada sobre o eixo x, e uma variável de resposta, plotada
sobre o eixo y (Gotelli & Ellison 2004). O programa SYSTAT foi utilizado para realizar
esta análise.
Neste estudo, para rejeição da hipótese nula, a qual considera que não há variação
na distribuição de formas de vida ao longo do gradiente hidro-topográfico, foram
considerados valores de p ≤ 0.05.
Para avaliar as relações entre a distribuição de formas de vida e a distribuição de
fatores e gradientes ambientais associados, foi utilizado o método de ordenação CCA
(Canonical Correspondence Analysis). O objetivo desta análise foi relacionar dados
florísticos dentro de gradientes ambientais associados e avaliar as importâncias relativas de
cada variável ambiental medida, utilizando-se de correlações e regressões para isto (KENT
e COKER 1992). O programa utilizado para processar esta análise foi PC-ORD versão 4.
Duas matrizes foram confeccionadas: uma, primária, composta com os dados de cobertura
de formas de vida por linha (%) e outra, secundária, composta pelos fatores ambientais
topografia, umidade relativa do solo e porcentagem de matéria orgânica, areia, e argila.
40

RESULTADOS
o Variáveis Abióticas
A figura 5 mostra as variações dos dados abióticos encontrados ao longo do
transecto: topografia, lâmina de água e umidade relativa do solo. Ao longo do transecto
pode-se observar uma oscilação das porcentagens de cada partícula do solo (fig.6) e das
quantidades de matéria orgânica do solo (fig. 7).

120 20

Um. relativa (%)


100
Elevação (cm)

15
80
60 10
40
5
20
0 0
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

Distânciaaolongodotransecto(m)

Laminadeágua TopografiadoPonto0(corrigido) Umidaderelativa(média)

Figura 5 - Perfil da topografia e da umidade relativa do solo (%) da área de estudo, num transecto de 6000m
de distância.

Baia das Pedras


Granulometria do Solo

100%
90%
80% argila
70% silte
60%
areia fina
50%
aeia média
40%
areia grossa
30%
20% seixo
10%
0%
500 1500 2500 3500 4500 5500

Figura 6 – Granulometria do solo (%) da área de estudo, num transecto de 6000m de distância.
41

Figura 7 – Conteúdo de matéria orgânica do solo da área de estudo, num transecto de 6000m de distância.

o Cobertura Vegetal
Os dados de cobertura de formas de vida (porcentagem) variando ao longo de
cada isolinha podem ser vistos na fig.8. Quando os valores de coberturas de lianas
aumentaram numa isolinha, os de grama diminuíram. Palmeira e erva foram as formas de
vida menos representativas em todas as isolinhas, apresentando baixo valor relativo de
cobertura do solo. Arbusto apresentou valores de cobertura de solo altos, apresentando
variações ao longo das isolinhas.

Figura 8 - Variação dos valores de cobertura do solo (%) apresentados pelas formas de vida arbusto, liana,
erva, grama e palmeira nas 12 isolinhas estudadas.
42

o Análise Direta de Gradiente


As formas de vida parecem se estabelecer em diferentes pontos no gradiente
topográfico (fig. 9). Na figura 9, o eixo x está indicando a variação do nível do terreno
(cm) relativamente ao ponto mais profundo medido na trilha (96cm), representado no
gráfico pelo ponto zero. O eixo y aponta a variação na cobertura do solo (expressa em
porcentagem) coberta por cada forma de vida. Palmeiras estão localizadas nas áreas mais
altas deste gradiente, enquanto as ervas vivem nas áreas mais baixas. Arbustos são
encontrados em locais intermediários.

Figura 9 – Variação da cobertura vegetal das diferentes formas de vida (arbusto, liana, palmeira,
grama e erva) em função do gradiente topográfico (Topogr = topografia).
43

o Regressão Linear
Os resultados da regressão linear entre gramas e lianas mostraram significante
correlação (fig. 10), com 62% de explicação dos dados. Eles também indicam uma relação
inversa entre estas duas formas de vida.

Figura 10 - Resultados da regressão linear entre as formas de vida grama e liana. R2 é o coeficiente de
determinação.

Nos resultados de regressão entre as formas de vida e as variáveis ambientais,


apenas os valores de cobertura de palmeiras e gramas variaram significativamente no
gradiente topográfico (fig. 11.a e b); e de ervas em relação à umidade relativa (fig. 11 c).
Cerca de 53% da variação da cobertura de palmeiras e gramas foram explicadas pela
variação topográfica, e 62% da variação da cobertura de gramas foram explicadas pela
variação da umidade relativa do solo (tab.1). A regressão linear entre as formas de vida
grama e palmeira geraram resultados significativos.

15 12
100
90
10
80
70 8
10
PALMEIRA

60
GRAMAS

ERVA

50 6

40
5 4
30
20 2
10
0 0 0
0 50 100 150 0 10 20 30 40 50 60 70 0 5 10 15 20
TOPOGRAFIA TOPOGR UMIDREL

a) b) c)
44

Figura 11 - Resultados da regressão linear entre: a) grama e topografia; b) palmeira e topografia; e c) erva e
umidade relativa do solo. O eixo x representa a variação dos dados abióticos (topografia (cm) e umidade
relativa (%)), enquanto o eixo y representa a variação dos valores de cobertura do solo apresentado pelas
formas de vida (grama, palmeira e erva). Sob os diagramas estão apresentadas as equações que representam
a relação entre as variáveis preditivas e as de resposta.

Tabela 1 - Descrição dos resultados obtidos através de regressão linear entre as formas de vida e variáveis
ambientais. O valor de b é uma constante; R2 é o coeficiente de determinação; e p é a proporção de aceitação
da hipótese nula.
Descrição b R2 p
Grama x topografia 98.236 0.539 0.007
Palmeira x topografia - 2 .013 0.520 0.008
Erva x umidade - 1.854 0.615 0.003

o CCA - (Canonical Correspondence Analysis)


A análise (fig. 12) registrou autovalores para o primeiro e segundo eixos de
ordenação das espécies relativamente baixos, com 0.145 (exo 1) e 0.031 (eixo 2), a
despeito disto os dois eixos explicaram 50,4% da variância total dos dados (tab. 2). Isto
pode ser corroborado através da das relações espécie-ambiente que geraram altas
correlações nos eixos 1 e 2, com 0.720 e 0.890, respectivamente. As variáveis ambientais
mais fortemente correlacionadas com o primeiro eixo foram, respectivamente, topografia,
umidade relativa, argila, matéria orgânica e areia. Com o segundo eixo destacam-se:
umidade relativa, matéria orgânica, argila, areia e topografia.

erva

palm

L12
Axis 2

L1

L6 L11
umid
L3
gram
lian
top L9
arg
L2 mo
L7
L10 L8
L4 L5
arb
Axis 1

Figura 12 - Canonical Correspondence Analysis (CCA) entre as formas de vida e variáveis ambientais, nas
doze isolinhas amostradas. palm= palmeira; lian=liana; gram=grama; arb=arbusto; erva=erva. L= linha.
top=topografia; umid=umidade relativa do solo; arg=argila; mo=matéria orgânica.
45

Tabela 2 - Descrição dos resultados obtidos através da CCA. Autovalor, variância em dados de espécie (%),
porcentagem acumulada de explicação da variância (%) e correlação de Pearson (*espécie-ambiente).
Axis 1 Axis 2 Axis 3
Autovalor 0.145 0.031 0.006
Variância em dados de espécie % de
41.6 8.8 1.8
variância explicada
Porcentagem % de explicação acumulada 41.6 50.4 52.1
Correlação de Pearson, Sp-amb* 0.720 0.890 0.652

Topografia está positivamente correlacionada com areia e negativamente


correlacionada com o restante das variáveis, apresentando a mais forte correlação com a
umidade do solo.
As formas de vida palmeira, liana e arbusto apresentaram correlação negativa no
eixo 1; as formas de vida erva e grama tiveram correlação positiva no mesmo eixo. Em
ordem decrescente, das mais fortes correlações até as formas menos correlacionadas com o
eixo 1, têm-se: palmeira, erva, liana, grama e arbusto.
No eixo 2, apenas arbusto obteve uma correlação negativa. As formas de vida
mais fortemente correlacionadas com o segundo eixo foram, respectivamente, erva,
palmeira, arbusto, grama e liana.
Apenas o segundo eixo 2 mostrou uma correlação significativa entre as variáveis
ambientais e as formas de vida.

DISCUSSÃO
Algumas formas de vida foram influenciadas pela variação das condições
ambientais, como palmeira e grama foram pela variação topográfica e erva pela umidade
relativa do solo. No entanto, através das análises realizadas pode-se observar que apenas
cerca de 50% das correlações entre formas de vida palmeira, erva e grama e variáveis
ambientais foram explicadas e que as formas de vida liana e arbusto não apresentaram uma
correlação significativa com nenhum dos fatores abióticos analisados. Outros fatores, não
avaliados neste estudo, devem estar atuando sobre a distribuição das formas de vida. A
competição entre formas de vida similares pelo mesmo espaço e nicho pode estar
excluindo espécies de mesma forma de vida. A grande dominância de algumas espécies
observada nas isolinhas também pode, em parte, ser uma resposta da exclusão competitiva,
que prevê a baixa riqueza de espécies causada pela exclusão de espécies (ou formas de
vida), pela melhor capacidade de outra em crescer sob determinadas condições ambientais
(CRAWLEY 1986). Formas de vida semelhantes têm sido consideradas como
competidoras pelo mesmo espaço e nicho; estruturas e formas similares destas formas
46

indicam adaptações semelhantes no uso dos recursos ambientais oferecidos num local
(MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG 1974).
A relação inversa apresentada entre cobertura de grama e liana parece ser
influenciada pela presença das lianas apenas em locais onde há plantas arbustivas e
arbóreas (estas não consideradas neste estudo), o que resulta no sombreamento de gramas,
formas de vida altamente limitada pela ausência da luz. A pequena amostragem, no tempo
e no espaço, pode ter influenciado nos resultados deste estudo, de modo a subestimar as
relações entre formas de vida e fatores ambientais. Estudos que relacionem a ocupação
diferenciada do espaço pelas formas de vida com fatores abióticos e bióticos como, por
exemplo, impactos da herbivoria sobre as comunidades vegetais ou, mesmo, a competição
interespecífica poderiam nos esclarecer sobre outros processos ecológicos envolvidos na
distribuição de comunidades vegetais no Pantanal de Poconé.

AGRADECIMENTOS
Este artigo é resultado das atividades realizadas na disciplina Ecologia de Campo
desenvolvida pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Foram fundamentais: a
bolsa de estudos cedida pelo CNPq e o apoio logístico do SESC Pantanal. Enriqueceu
também este trabalho a orientação direta dos pesquisadores doutores: Jerry Magno Penha,
Cláudia Callil, Cátia Nunes da Cunha, Flávia Costa, Gonçalo Ferraz e Lucia Mateus; aos
técnicos Hélio Ferreira, José de Assis Rondon e Joaquim Xavier Bueno; e aos alunos Fábio
e Jorge Neves.

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49

RIQUEZA E ABUNDÂNCIA DE PALMEIRAS (ARECACEAE) NA BAÍA DAS


PEDRAS (SESC PANTANAL-POCONÉ/MT), EM GRADIENTE TOPOGRÁFICO

Rodrigo Ferreira de Morais


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: romoraisbio@hotmail.com.
(Com 01 figura)

RESUMO: A família Arecaceae, estão adaptadas em diversos tipos de florestas como terra
firme, campinarana, periodicamente inundadas, e em diversos ambientes degradados. O
trabalho teve como objetivo verificar a riqueza e abundância de palmeiras em diferentes
níveis topográficos e quais variáveis preditoras também pode influenciar na riqueza e
abundância. Para isso determinou-se um transecto de 6 Km, a cada 500 m foram definidas
isolinhas de 250 m. Para confecção das isolinhas foi fixada uma estaca mediu-se o nível a
1 m da altura do solo, depois a cada 25 m transportou-se o nível. Nas isolinhas foram
determinados 5 m à direita e à esquerda, registrando as espécies e o número de indivíduos
de cada espécie de palmeira. Encontrou-se três espécies: Bactris glaucescens Drude,
Copernicia alba Morong e Desmoncus cf. cuyabensis Barb Rodr., abundância total de 574
indivíduos, com dominância de B. glaucescens. A análise de regressão logística para medir
o efeito da topografia na riqueza obteve-se valor de P=0,480 (0,05). A correlação múltipla
de Spearman para verificar a relação dos fatores abióticos com a riqueza e abundância,
notou-se uma maior correlação entre riqueza de arbórea x abundância de palmeiras e
diversidade de arbórea x abundância de palmeiras. A regressão múltipla Stepwise para a
riqueza e abundância (log), analisando dados abióticos e biótico apresentou valores para
abundância com todas as variáveis preditoras de R= 0,903 e P= 0,005, somente a
diversidade de arbóreas apresentaram R= 0,884 e P= 0,000. Torna-se necessário considerar
a complexidade dos fatores bióticos e abióticos para um melhor conhecimento das causas
determinantes do ciclo fenológico em áreas inundáveis.
Palavras Chaves: Riqueza e Abundância, Palmeiras, Gradiente Topográfico.

INTRODUÇÃO
As palmeiras são plantas Monocotiledôneas (LORENZI, et alli.,1996), é da
família Arecaceae, sendo uma das maiores famílias de plantas no mundo e característico da
50

flora tropical (Ribeiro, 1999). Embora sejam tolerantes a fogo e ocorrer aumento
populacional com o manejo, o fogo pode matar palmeiras de caule muito fino, porém, estas
podem dependendo da pressão do fogo rebrotar na base. Podem fixar-se em barrancos de
rio, retendo sedimentos, pode ocorrer em vegetação ciliar alagável, beira de caapão, solos
argilosos, siltosos, arenosos (Pott & Pott, 1994). Para Miranda et al.(2001), as espécies da
família Arecaceae estão adaptadas em diversos tipos de florestas como terra firme,
campinarana, periodicamente inundadas, e em diversos ambientes degradados (Costa et al,
1992.c).
O mesmo autor aborda que as palmeiras são consideradas árvores importantes,
fazendo parte de ecossistemas naturais, suas flores e frutos são utilizados como recursos
para a sobrevivência de artrópodes, aves e outros animais, fornecendo alimento e abrigo. O
pólen e o néctar são disputados avidamente por abelhas, vespas, besouros, percevejos e
dípteros, tanto para alimento como local de reprodução.
A maioria das palmeiras arborescentes são plantas altamente produtivas e em
florestas inundáveis são dominantes em alguns ambientes, desempenhando um importante
papel como fonte de matéria orgânica, devido à persistência e fibrosidade das bainhas e a
presença de folhas mortas sobre o tronco (Kahn & De Granville 1995).
Segundo Odum (1983), a época de reprodução geralmente é um período critico
quando os fatores ambientais têm maiores probabilidades de serem limitantes. Os limites
de tolerância para indivíduos em estado de reprodução, sementes, plântulas geralmente são
mais estreitos do que para plantas adultas não-reprodutivos.
O mesmo autor aborda que, várias teorias foram propostas para se explicar os
ciclos regulares de abundância que abrangem toda hierarquia de níveis de organização,
podendo ser agrupadas em várias categorias: 1- teorias meteorológicas; 2 – teoria de
flutuações aleatórias; 3 – teoria de interações populacionais; 4 – teoria de interações de
níveis tróficos.
Ricklefs (1996), aponta que o número de espécies pode variar muito entre habitats
de acordo com a produtividade, grau de heterogeneidade estrutural, adequabilidade de
condições físicas e o isolamento dos centros dispersores.
A disponibilidade de recursos no solo é determinante da composição das
comunidades de plantas terrestres. Dois fatores importantes são importantes na
determinação da distribuição de populações: a radiação solar e a distribuição de água e
terras (Abreu, 2000).
51

Assim, a riqueza e abundância de palmeiras podem ser determinadas pelo


gradiente topográfico associados com fatores abióticos e bióticos: umidade relativa do
solo, riqueza e diversidade de arbóreas e teor de argila do solo. Neste sentido, este trabalho
tem como objetivo verificar a riqueza e abundância de palmeiras em diferentes níveis
topográficos e analisar as variáveis preditoras dessa podem influência.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
Este trabalho foi realizado na Reserva Particular do Patrimônio Natural – Sesc
Pantanal, localizada próximo do município de Poconé – MT nas coordenadas 56º, 25’W
16º 30’S, no Pantanal Mato-grossense, sendo este uma depressão sazonalmente alagável,
totalmente contida na bacia de drenagem do Alto Paraguai e compreende
aproximadamente 140.000 Km2 (RADAMBRASIL, 1982). O termo Pantanal engloba um
conjunto de diferentes feições ou tipos de Pantanais, cuja existência de há muito tempo é
reconhecida pelos pantaneiros e estudiosos (Junk & Da Silva, 1996).
O Pantanal Mato-grossense está situado no extremo oeste do território brasileiro,
nos estados de Mato Grosso (municípios de Poconé, Santo Antonio do Leverger, Cáceres,
Barão de Melgaço e Nossa Senhora do Livramento) e Mato Grosso do Sul (Corumbá,
Ladário, Rio Verde de Mato Grosso, Coxim, Miranda e Aquidauana).
As inundações periódicas no Pantanal têm sua origem em fatores de ordem natural
tais como a uniformidade topográfica, os fracos desníveis de drenagem e a predominância
de litológicas sedimentares recentes. Estas reduzem o escoamento das águas superficiais
resultantes das chuvas periódicas anuais que caem na bacia do Alto Paraguai,
principalmente nos seus afluentes superiores (Alvarenga et al., 1984). Em função da
topografia plana, 3-5cm sentido norte-sul e 5-25 cm no sentido leste-oeste e dos
afloramentos rochosos na porção sul do Pantanal (próxima ao planalto da Bodoquena) que
fizeram com que o rio Paraguai fosse represado até conseguir alcançar a soleira das rochas
e seguir em direção ao chaco (Junk e Da Silva, 1996) as águas descem lentamente na
planície pantaneira inundando-a em quase toda sua extensão.

Métodos
Foi feito um transecto de 6 Km onde a cada 500 m confeccionou-se isolinhas de
250 m. Para abertura das isolinhas foi fixada uma estaca onde mediu-se o nível a 1 m da
altura do solo, e depois a cada 25 m foi feito o transporte deste nível. Para coleta de dados
52

nas isolinhas foram determinados 5 m à direita e à esquerda onde foram registrados as


espécies e o número de indivíduos de cada espécie de palmeiras. Quanto à análise
estatística dos dados, para análise da riqueza considerou-se a presença e ausência das
espécies de palmeiras nas isolinhas. Para tanto, foi feita uma regressão logística, para
análise da influência da topografia na riqueza. Para verificação da relação dos fatores
abióticos com a riqueza e abundância, foi feita uma correlação de Spearman onde se
obteve os seguintes coeficientes de correlação como mostra tabela 02. Fez-se uma
regressão múltipla Stepwise para a riqueza e abundância (log), onde analisou-se os
seguintes dados abióticos e biótico: topografia, umidade do solo, teor de argila, riqueza e
diversidade de arbóreas. Para análise dos dados utilizou-se o programa SISTAT 10. 3901
1060 dados Flavia
As palmeiras foram identificas em campo com ajuda de referencial bibliográfico e
especialista, isto, pois a área de estudo como já mencionado é uma região de Reserva
Partícula do Patrimônio Nacional, que levou a opção de não coletar exemplares.
As variáveis preditoras de topografia, umidade relativa do solo, riqueza e
abundância de arbórea e teor de argila do solo, foram obtidas no banco de dados do curso
de Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso
(dados não publicados).

RESULTADOS
O estudo realizado mostrou que a área estuda apresenta três espécies de palmeiras:
Tucum (Bactris glaucescens Drude), Carandá (Copernicia alba Morong) e Urubamba
(Desmoncus cf. cuyabensis Barb. Rodr.), apesar deste número ser baixo é o representativo
da área, onde se aumentasse à área amostral não incorreria no aumento da riqueza. Assim
não foram encontrados altos valores de riqueza nas isolinhas (tabela 1). Quanto à
influência da topografia na riqueza, obteve-se o valor de P=0,480 (0,05). Pode-se notar que
Bactris glaucescens apresenta-se com maior freqüência e abundância nas isolinhas, onde
em algumas isolinhas a abundância total representa a abundância de Tucum, porém, vale
ressaltar que houve ausência de palmeiras em 4 isolinhas, como pode ser observado na
tabela 1.
53

Tabela 1- Valores demonstrando riqueza total, abundância total e abundância de cada espécie de palmeira
em cada isolinha, nota-se uma maior freqüência e abundância de Bactris glaucescens.
Abundância de Abundância
Abundância de Abundancia
Linhas Riqueza Bactris de Desmoncus
Total de Palmeiras Copernicia Alba
glaucescens cf. cuyabensis
01 02 366 00 263 78
02 01 69 00 69 00
03 00 00 00 00 00
04 00 00 00 00 00
05 01 02 00 02 00
06 02 74 02 72 00
07 01 06 00 06 00
08 01 06 00 06 00
09 01 40 00 40 00
10 02 11 01 10 00
11 00 00 00 00 00
12 00 00 00 00 00

A tabela 2 apresenta os coeficientes de correlação entre os fatores abióticos com a


riqueza e abundância, nota-se maiores valores entre riqueza de arbórea x abundância de
palmeiras e diversidade de arbórea x abundância de palmeiras.

Tabela 2 – Coeficiente de correlação entre as variáveis preditoras e riqueza e abundância de Palmeiras.


RIQUEZA DE ABUNDÂNCIA DE
PALMEIRAS PALMEIRAS
RIQUEZA 1.000
ABUNDANCIA 0.896 1.000
TOPOGRAFIA 0.264 0.549
UMIDADE -0.574 -0.521
ARGILA -0.379 -0.339
RIQUEZA DE ARBÓREA 0.688 0.902
DIVERSIDADE DE ARBÓREA 0.688 0.895

As palmeiras apresentaram maiores valores de abundância nas isolinhas com


níveis topográficos mais elevados (figura 1-A), onde a regressão entre o gradiente
topográfico apresentou valores R= 0,616 e P=0,047 (0,05). Ainda quanto à abundância, as
palmeiras apresentam-se mais concentradas em isolinhas com baixa umidade relativa do
solo (figura 1 –B), onde a relação R= 0,220 e P= 0,124 (0,05). Em relação à riqueza no
gradiente topográfico as espécies de palmeiras estão distribuídas dentro de todos os níveis
topográficos tendo maior riqueza nas áreas com menores valores de umidade relativa do
solo, como pode ser observado na figuras 1-A e D respectivamente, onde através de uma
análise de regressão obteve-se R= 0,118 e P= 0,274 (0,05).
54

Pode-se notar quanto à fitofisionomia (a fitofisionomia é uma caracterização


aproximada), que as palmeiras são mais abundantes onde a vegetação propicia um
ambiente mais sombreado, sendo mata sempre verde e mata de transição, onde foram
encontrados os maiores valores de abundância. Quanto à riqueza encontra-se o maior valor
no cambarazal e no Campo sujo como pode ser verificado na figura 1- E e F.
55

400 2.5
A B
2.0
300

Abundância Total
Abundância Total 1.5

200
1.0

100 0.5

0.0
0 0 5 10 15 20
0 50 100 150 Umidade Relativa (%)
Topografia (cm)

2.5 2.5
D
C 2.0
2.0

Riqueza Total
1.5
1.5
Riqueza

1.0
1.0

0.5
0.5

0.0
0.0 0 50 100 150
0 5 10 15 20 Topografia (cm)
Umidade Relativa (%)

2.5
400
E F
2.0
300
Abundâncai Total

1.5
Riqueza

200
1.0

0.5 100

0.0 0
l j . .
za zal inun ans erde e iro Sujo l j . . o
ara ara T r a V o mb p o za zal un ns rd
e
e ir ujo
m b b p o
ta t P m b ara ara p o in T ra Ve m b p o S
C a C am C a
m
Ma Ma ca m b m ta ta P o m
C a Cam C a Ma Ma ca
Fitofisionomia Fitofisionomia
Figura 01- Relação entre os fatores abióticos com abundância e riqueza.
56

Através da regressão múltipla Stepwise para a riqueza e abundância (log), pode


analisar que os dados abióticos e bióticos: topografia, umidade do solo, teor de argila,
riqueza e diversidade de arbóreas foram: para riqueza de espécies a análise estatística com
todas as variáveis preditoras apresentou P= 0,170 e R= 0,657, sendo que somente a
diversidade de arbóreas apresentou um P= 0,004 e R= 0,572. Para a abundância todas as
variáveis preditoras apresentaram R= 0,903 e P= 0,005, onde, somente a diversidade de
arbóreas apresentaram um R= 0,884 e P= 0,000.

DISCUSSÃO
Através da análise dos dados pode-se discutir sobre o baixo valor da riqueza e os
altos valores de abundância em algumas isolinhas pode ocorrer, pois a área de estudo é um
local manejado, onde pode-se notar a pressão do gado e o fogo. Segundo Pott & Pott
(1994), embora as palmeiras sejam tolerantes a fogo e ocorrer aumento populacional com o
manejo, o fogo pode matar palmeiras de caule muito fino como é o caso das palmeiras
estudadas. Ainda segundo Odum (1983), o fogo favorece mais as Gramíneas do que o as
árvores e arbustos. Kahn & De Granville (1993), em um estudo sobre palmeiras em
ecossistemas da Amazônia, verificaram que a flora destas plantas de florestas inundáveis é
mais homogênea em toda a bacia fluvial e claramente menos diversificada que em terra
firme.
O motivo de se encontrar maiores valores de abundância nos gradientes
topográficos mais elevados é devido este locais oferecem ambientes mais seco, sofrem
menos pressão do pulso de inundação. Nota-se ainda que há nestes ambientes conforme a
caracterização aproximada da fitofisionomia, vegetação ciliar de área alagável, propiciando
ambientes sombreados, onde segundo Pott & Pott (1994), são propícios à ocorrência das
palmeiras estudadas. Segundo Abreu et al (2000), dois fatores são importantes na
determinação da distribuição de populações: a radiação solar e a distribuição de água.
Quanto à riqueza de palmeiras notou-se que as espécies estiveram distribuídas
pelo gradiente topográfico, porém, como já mencionado com maiores valores de
abundância concentrados em isolinhas com níveis topográficos mais elevados, para Da
Silva e Junk (1996), estas características são de indivíduos estrategistas r, com processos
de dispersão que asseguram a rápida colonização ou recolonização de habitats. Os mesmos
autores ainda apontam que é natural que as drásticas mudanças entre as fases aquática e
terrestre, resultam em elevadas perdas sazonais para a maioria dos organismos, animais e
vegetais Isto pode justificar a ausência ou pouca abundância de palmeiras nas isolinhas que
57

sofrem maior pressão do pulso de inundação, ou seja, ambientes com níveis topográficos
menores.
De acordo com Kahn & De Granville (1993), no Pantanal Mato-grossense a
espécie de palmeira Scheelea phalerata Mart. (Arecaceae), conhecida como acuri, é
encontrada em capões consorciada com outras espécies vegetais, podendo ocorrer como
monodominante em adensamentos conhecido como acurizais. Estas características talvez
possa ser aplica a população de Tucum.
Quando se fez uma regressão múltipla Stepwise para a riqueza e abundância, para
analisar se a complexidade de fatores explicaria os valores de abundância e riqueza
encontrados, obteve-se valores que demonstram que torna-se necessário a análise de várias
informações abióticas (podendo inferir em próximas análises fatores bióticos) para inferir
sobre tais valores encontrados. Para Da Silva e Junk (1996), é preciso considerar a
complexidade dos fatores climáticos, edáficos, genéticos, botânicos e ecológicos, para um
melhor conhecimento das causas determinantes do ciclo fenológico em áreas inundáveis.
As fenofases vegetativas, em algumas espécies, podem estar relacionadas à dinâmica e
pulso do rio. Neste caso, as mudanças ambientais impostas pelo ciclo enchente e vazante
são determinantes para a cronologia dos eventos fenológicos.

AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da
Universidade Federal de Mato Grosso e Instituto de Pesquisa da Amazônia – INPA, pelo
curso de campo que nos foi proporcionado e a todos os professores, técnicos e
colaboradores do curso de Ecologia de campo. Agradeço aos guardas-parque da RPPN
SESC – Pantanal, a cozinheira pelo carinho e atenção conosco. A todos colegas de turma
em especial a Jorge, Marcello, Jaime, Érica e Carol, pelas discussões cientificas e pelos
ótimos momentos que passamos juntos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ABREU, P.A.C.R. Ecologia do Pantanal – Curso de Campo. Distribuição de Attalea
phalerata em cordilheiras no Pantanal da Nhecolândia, p102, Mestrado em Ecologia e
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J.A.S. 1992. Entomofauna de inflorescência de palmáceas: 1 – Curculionidae (Coleoptera).
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<http://www.sescpantanal.com.br/br/reserva/index.asp>. Acesso em: 09 dez. 2004.

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Pantanal de Mato Grosso. In: Anais II Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio
Econômicos do Pantanal, Manejo e Conservação. 18 a 22 de novembro de 1996
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KAHN, F.; DE GRANVILLE, J.J.. 1995. Palms in forest ecosystems of Amazonia.


Ecological Studies, Springer-Verlag, Berlin, Heidelberg, New York. 226p.

LORENZI, HARRI; SOUZA, H. M. de; et ali. Palmeiras do Brasil nativas e exóticas.


Nova Odessa - SP, Editora Plantarum Ltda, 1º edição, 1996, 303p.

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ed., 470p.
59

BIOMASSA DE SERAPILHEIRA E SUA CORRELAÇÃO COM OS


DADOS BIÓTICOS E ABIÓTICOS NA BAÍA DAS PEDRAS / SESC PANTANAL –
POCONÉ - MT

Jaime Rufino dos Santos


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: jrsgfb@ig.com.br.
(Com 02 figuras)

RESUMO: Biomassa é definida como o volume total de peso seco de vegetação por
unidade de área de terra em um dado período de tempo. A composição e decomposição da
serapilheira são reconhecidas como processos críticos da matéria orgânica e fluxo de
nutrientes em sistemas tropicais.Tais processos envolvem lixiviação, quebra mecânica,
digestão por animais saprófagos, degradação enzimática por compostos químicos de
microbiota, entre outros. Pouco se tem estudado o processo de decomposição e a função da
serapilheira nos ecossistemas tropicais. O objetivo deste trabalho foi avaliar as correlações
entre os valores de biomassa com os fatores bióticos e abióticos numa área do Pantanal de
Poconé – MT. Os resultados demonstraram fraca ou nenhuma correlação entre os fatores
analisados, sendo umidade relativa e fitofisionomia as duas correlações mais expressivas,
com coeficiente de correlação de 0,524 e 0,465, respectivamente. Os dados foram
analisados pela Correlação de Spearman.
Palavras Chaves: Biomassa, Serapilheira, Dados Bióticos e Abióticos.

INTRODUÇÃO
Biomassa é definida como o volume total do peso seco de vegetação por unidade
de área de terra em um dado período de tempo. A quantidade de biomassa por unidade de
área constitui os dados primários necessários para entender o fluxo de matéria de um
ecossistema. A biomassa deve ser medida e analisada em seu próprio contexto como parte
da produção, e isto fornece sobretudo um quadro do funcionamento do ecossistema
(Lodhiyal & Lodhiyal, 2003).
A composição e decomposição da serapilheira são reconhecidas como processos
críticos da matéria orgânica e fluxo de nutrientes em sistemas tropicais e florestas secas. A
60

produção e decomposição da serapilheira em florestas secas são influenciadas pela


sazonalidade da precipitação e pela composição das plantas (Xuluc-Tolosa et al, 2003).
Esses processos de decomposição incluem lixiviação, quebra mecânica e digestão
por animais saprófagos de solo, degradação enzimática por compostos químicos por
microbiota saprotrófica, (Moretto et al, 2001; Zimmer, 2002), e por outros fatores físicos,
químicos e bióticos, (Sariyildiz & Anderson, 2003).
A taxa de decomposição depende da qualidade da serapilheira a qual está
relacionada às concentrações de nutrientes (especialmente N). A atividade da fauna
também ajuda a incorporar matéria orgânica no solo, a qual propicia melhor contato entre o
resíduo orgânico e o ambiente do solo (Vestergaard et al, 2001).
Para Dias (1995), a serapilheira é uma das camadas da matéria orgânica do solo
florestal a qual é mais ou menos decomposta, sendo formada por resíduos vegetais e
animais.
O processo de decomposição de serapilheira tem sido estudado em detalhes,
principalmente sob uma perspectiva química em ecossistemas temperados (Torres et al., no
prelo), já Gastine et al (2003) afirmam que poucos trabalhos têm sido realizados sobre os
impactos da diminuição da diversidade de plantas sobre os processos, estrutura e biota do
solo; e, entender como está estruturado o funcionamento dos ecossistemas se apresenta na
atualidade como um grande desafio para os ecólogos. Acredita-se que a biomassa tenha
influência sobre os fatores bióticos e abióticos no ecossistema e desta forma este trabalho
tem como objetivo avaliar as correlações entre os valores de biomassa e os fatores bióticos
e abióticos numa área do Pantanal de Mato Grosso.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo
Este trabalho foi desenvolvido entre os dias 29/08 e 08/09/04 numa área do SESC
PANTANAL – BAÍA DAS PEDRAS, sendo que esta área não pertence à RPPN do SESC
no município de Poconé – MT. A região apresenta clima do tipo AW de Köppen
(Hasenack et al, 2003), com verão quente e úmido, inverno frio e seco. A temperatura
média anual gira em torno de 25º C, sendo que nos meses de setembro a dezembro as
temperaturas máximas absolutas ultrapassam os 40ºC. A precipitação média anual
encontra-se entre 1100 e 1200 mm, com as chuvas concentrando-se nos meses de
dezembro a fevereiro, compreendendo 45% da precipitação total anual (Calheiros &
Fonseca Jr., 1996).
61

Metodologia
Num transecto de 6km em uma das divisas do SESC Pantanal – Baía das Pedras,
foram marcados 12 pontos distando 500m um do outro. Em cada ponto foi delineada uma
isolinha de 250m sinalizadas a cada 25m seguindo o nível do primeiro ponto, e feito a
leitura das coordenadas geográficas em cada ponto com o GPS marca Garmin modelo V.
As amostras de serapilheira foram coletadas utilizando-se um quadrado de 25cm x 25cm,
em todas as isolinhas, distando 50m entre um ponto de coleta e outro e a 1m à esquerda da
isolinha, totalizando 5 amostras por isolinha. As amostras foram acondicionadas em sacos
plásticos identificados em cada ponto, levados para o laboratório onde foram peneirados,
retirada toda parte de solo, pesadas, embaladas novamente em sacos de papel, identificadas
e colocadas em estufa de secagem a 60º C até que seu peso se estabilizasse. O peso final
foi multiplicado por 4 para se obter o volume em m2.
Os dados obtidos foram analisados através do programa de análises estatísticas
SYSTAT.

RESULTADOS
As análises estatísticas realizadas demonstraram resultados não normais, sendo
por este motivo utilizada a Análise de Correlação de Spearman, e os valores desta
correlação estão demonstrados no quadro 1. Não foi observada nenhuma forte correlação
entre os fatores bióticos e abióticos, sendo que os mais representativos foram Peso de
Biomassa x Umidade Relativa (r=0,524), e Peso de Biomassa x Fitofisionomia (r=0,465),
(Figuras 1 e 2). A caracterização vegetacional foi realizada com o uso da técnica de “toque
em vareta” seguindo o protocolo de Slingsby & Cook (1986).

Quadro 1 – Análise de correlação entre o peso da biomassa e os componentes ambientais.


Peso Biomassa x Coeficiente de correlação
Fitofisionomia 0,465
Umidade Relativa 0,524
Topografia -0,147
Matéria Orgânica 0,091
Argila -0,305
Arbusto -0,268
Liana -0,018
Ervas 0,349
Grama -0,032
Palmeira 0,047
Densidade de Novateiro -0,214
Perfilho de Novateiro -0,382
62

Seixo -0,720
Areia Grossa 0,165
Areia Média 0,077
Areia Fina 0,217
Silte -0,329
Riqueza Arbórea -0,058
Abundância Arbórea -0,044
Diversidade de Formiga -0,478
Abundância de Formiga 0,161
Riqueza de Formiga -0,404

PESO
URELATIVA

PESO URELATIVA

Figura 1 – Análise de correlação entre Peso de biomassa e Umidade Relativa.


PESO
FITOFISIO

PESO FITOFISIO

Figura 2 – Análise de Correlação entre Peso de Biomassa e Fitofisionomia.

DISCUSSÃO
Segundo King et al. (2002), alguns autores relatam que a produtividade de plantas
e a disponibilidade de nutrientes no solo estão positivamente relacionados à diversidade de
espécies de plantas, outros, entretanto, não encontraram nenhuma relação entre essas
medidas e sugerem que as funções do ecossistema sejam explicadas mais pela identidade
das plantas do que pela própria diversidade. As plantas também influenciam as
63

propriedades dos ecossistemas através da decomposição de sua serapilheira, um processo


que é crítico para determinar a ciclagem de nutrientes do solo e o fornecimento de
substrato para os micróbios do solo. Entretanto pouco se sabe como mudanças em
diversidade de serapilheira influencia o processo de decomposição.
Schoereder et al. (2003) afirmam que a riqueza de espécies de formigas responde
de maneira significativa à abundância de serapilheira e à abundância de árvores, que são
consideradas como recursos para estas espécies. Neste trabalho tal correlação também não
pôde ser verificada quando realizadas as análises estatísticas, uma vez que os resultados
demonstraram uma fraca correlação negativa de -0,404.
A falta de correlação entre os fatores analisados leva a crer que os fatores que
determinam o volume de biomassa disponível no solo e sua correlação com os fatores
bióticos e abióticos não atuem isoladamente, mas em conjunto e novos estudos são
necessários para que se conheça a dinâmica de funcionamento desse ecossistema.

AGRADECIMENTOS
Agradeço ao PPGECB, especialmente ao seu coordenador Prof. Dr. Pierre Girard,
e também à Profª Drª Cláudia Tasso Callil, Profª Drª Cátia Nunes da Cunha, Prof. Dr. Jerry
Magno F. Penha, pelas sugestões e conselhos durante a aula de campo e elaboração do
trabalho, aos Guarda-Parques pela dedicação para com a turma, aos técnicos da UFMT
Assis Rondon e “Seu” Hélio pelo cuidado e atenção durante todo o curso, e, finalmente a
todos colegas de curso, pois, mais que um aprendizado escolar tivemos um aprendizado de
relacionamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALHEIROS, D.F.; FONSECA Jr, W.C. da. 1996. Perspectivas de estudos ecológicos
sobre o Pantanal. Corumbá, MS: EMBRAPA – CPAP, 1996. 41p., (EMBRAPA – CPAP.
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espacial da produção de serapilheira em uma área de floresta estacional semi-decídua
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Bhabar Shishan forests in Central Himalaya, India. Forest Ecology and Management., nº
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MORETTO, A.S., DISTEL, R.A.; DIDONÉ, N.G. 2001. Decomposition and nutrient
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decomposition and soil fertility: a laboratory study. Soil Biology & Biochemestry., nº 35,
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MADUREIRA, M.S., CAMPOS, R.B.F.; DE SOUZA, O. 2003. Por que a riqueza de
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Editor: J.J. Thompson, Macmillan Ed.
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plant material does not stimulate decomposition, but affects the microbivorous microfauna.
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XULUC-TOLOSA, F.J., VESTER, H.F.M., RAMÍREZ-MARCIAL, N.,


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ZIMMER, M. 2002. Is decomposition of woodland leaf litter influenced by its species


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66

DENSIDADE DE LICANIA PARVIFOLIA HÜBER (CHRYSOBALANACEAE) AO


LONGO DO GRADIENTE TOPOGRÁFICO EM MESO-ESCALA, BAÍA DAS
PEDRAS, POCONÉ – MT

Luciana Midori Kanda dos Santos


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: lmksantos@terra.com.br.
(Com 03 figuras)

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo verificar se a densidade de L. parvifolia é


determinada pelo gradiente topográfico no Pantanal Mato-grossense. Para a coleta de
dados da densidade de Licania parvifolia Hüber ao longo de cada linha observou-se o
número de indivíduos em cada lado da linha em uma área de 10m de distância. Houve 5
linhas onde não houve presença de Licania Parvifolia Hüber ou qualquer outra espécie
vegetal arbórea. Com relação à hipótese inicial de que a L. parvifolia Hüber teria sua
densidade determinada pela topografia, realizou-se uma regressão linear para verificar a
hipótese. Para explicar a densidade de L. parvifolia Hüber fez-se uma correlação com os
fatores abióticos coletados, e para a umidade relativa do solo (r=-0,814) e seixo (r=0,736),
houve valor considerado significante (r >0,5). Os dados abióticos de matéria orgânica,
topografia, areia grossa, areia média, areia fina, silte e argila não apresentaram correlação,
nem significância na análise de regressão com a densidade de L. parvifolia, se tratados
isoladamente. A densidade de Licania parvifolia é somente influenciada pela topografia
quando há principalmente o período de inundação da bacia do Pantanal. Os outros fatores
abióticos, tais como composição do solo (areia, silte e argila), umidade relativa do solo e
matéria orgânica não influenciam diretamente na densidade de L. parvifolia.
Palavras Chaves: Licania parvifolia, densidade, Pantanal Mato-grossense, Meso-escala.

INTRODUÇÃO
A densidade é o número de indivíduos da população por unidade de área. A
densidade provê informações sobre as relações da população com o ambiente. A principal
aplicação da densidade surge da dificuldade prática em estimar os tamanhos de populações
inteiras distribuídas sobre grandes áreas, e, do fato de que a densidade indica a capacidade
do meio ambiente em suportar a população partícula sob estudo (Pillar, 2004a).
67

A densidade pode ser estimada visualmente usando uma escala de abundância


relativa (Braun-Blanquet 1964); pode ser determinada objetivamente por contagem feita
em várias unidades amostrais (pequenos quadros) dentro da comunidade ou pode também
ser determinada objetivamente pelos métodos baseados na distância entre indivíduos
(Pillar.2004b).
Licania parvifolia Hüber é uma arbórea que possui altura de até 15m e diâmetro
de 20 cm, com tronco geralmente ramificado (Pott & Pott, 1994). Suas folhas são estreitas,
ligeiramente alongadas. Suas inflorescências são brancas e seus frutos são drupas
elipsóides. A árvore proporciona grande sombra ao gado no pantanal mato-grossense
devido à ampla copa densa que possui. Seus frutos são avidamente procurados por aves,
peixes e outros animais silvestres. As flores são apícolas. Tais características fazem desta
espécie uma ótima escolha para reflorestamentos heterogêneos destinados à recuperação da
vegetação de áreas degradadas. Recebe o nome de pimenteira devido ao fruto se
assemelhar a uma pimenta. É característica de formações secundárias abertas de várzeas do
Pantanal matogrossense, onde é abundante e freqüente, principalmente quando há a
formação do pimenteiral (Guarim Neto, 1984; Lorenzzi, 1992; PCBAP, 1997). Este
trabalho teve como objetivo verificar se a densidade de L. parvifolia é determinada pelo
gradiente topográfico no Pantanal Mato-grossense.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo - O estudo foi realizado entre os dias 30 de agosto e 08 de
setembro de 2004, em uma área do Pantanal Mato-grossense conhecida como Baia das
Pedras - SESC Pantanal (56º25'W e 16º30'S), localizado no município de Poconé – MT. A
região apresenta clima do tipo Aw de Köppen com verão quente e úmido e inverno frio e
seco. A temperatura média anual gira em torno de 25º C, sendo que nos meses de setembro
a dezembro as temperaturas máximas absolutas ultrapassam 40ºC. A precipitação média
anual encontra-se entre 1100 e 1200 mm, com as chuvas concentrando-se nos meses de
dezembro a fevereiro, compreendendo 45% da precipitação total anual (Calheiros &
Fonseca Júnior, 1996).
Foram utilizadas 10 parcelas de 20 x 50m (1000 m²) em cada um dos seis locais
estudados
Para a realização deste trabalho delimitou-se uma parcela contendo doze
transectos de 250 m de comprimento, nivelados na mesma altura topográficae denominou-
se de isolinhas. Entre os transectos determinou-se 500m como distância (figura 1).
68

Figura 1 – Localização geográfica da área de estudo e das isolinhas na Baía das Pedras, Pantanal Mato-
grossense.

Coleta de Dados - Para a coleta de dados da densidade de Licania parvifolia


Hüber ao longo das linha observou-se o número de indivíduos em uma área de 10m de
distância da linha. Os pontos das isolinhas foram marcados com GPS a cada 50m para se
obter as coordenadas de cada ponto das isolinhas.
Para as análises estatísticas, utilizou-se a transformação logarítimica dos dados
como padronização.
69

Para os dados abióticos referentes a topografia e o nível de água, utilizou-se uma


mangueira transparente preenchida com água e com as extremidades tampadas de modo
que não entrasse bolhas de ar como instrumento de nivelamento topográfico e medidor de
nível de água atingido durante a inundação na área estudada. Para a medição da umidade
do solo utilizou –se o medidor de umidade do solo digital Thetaprobe modelo que permite
uma medição rápida e precisa da umidade de camadas superficiais de solo, através da
freqüência, técnica esta derivada da tecnologia TDR. Consiste em uma unidade de leitura
digital a bateria e em um sensor robusto e resistente a água, cujo contato com o solo é feito
através de 3 ponteiras de aço inox. A faixa de medição varia de 5 a 55% (do volume de
água pelo volume de solo), com precisão de 5% sobre a calibração de fábrica e de apenas
2% sobre calibrações específicas.
Para avaliar a granolumetria do solo, utilizou-se um conjunto de peneiras de
diferentes malhas com as seguintes graduações: 2 mm (g) que foi determinado como seixo;
1 mm (g) que foi determinado areia grossa; 250 µm (g) que foi determinado areia média;
125 µm (g) que foi determinado areia fina; 63 µm (g) que determinou-se silte; e, < 63 µm
(g) que determinou-se argila.
Para a matéria orgânica, coletou-se o solo na área estudada e, na universidade
federal de Mato Grosso separou-se 1g e levou à mufla em uma temperatura de 500 ºC por
4 horas, retirou-se o material e levou-se para esfriar em dessecador para então levar à
pesagem até possuir peso constante (Callil, 2004 com. pessoal).
Para as análises estatísticas de correlação simples com ranqueamento de
Spearman e Regressão linear simples e múltipla dos dados coletados, utilizou-se o
programa Systat (v.10.2) e Microsoft Excel.

RESULTADOS
Houve 5 linhas onde não houve presença de Licania Parvifolia Hüber ou qualquer
outra espécie vegetal arbórea. Tais isolinhas foram 1500m, 2000m, 2500m, 5500m e
6000m.
A densidade de Licania parvifolia Hüber obteve maior representatividade na
isolinha 3000m em relação às outras áreas.
De acordo com o gradiente topográfico a densidade de Licania Parvifolia possui o
padrão de ocorrência em áreas mais altas (Figura 2).
70

Figura 2 – Densidade de Licania Parvifolia Hüber ao longo do gradiente topográfico

Como forma de se testar a hipótese de que a L. parvifolia Hüber teria sua


densidade determinada pela topografia, realizou-se uma regressão linear simples como
método de análise. Embora a densidade aparentemente varie somente com a topografia, a
regressão linear simples demonstrou que tal fato possa ser resultado do método de
amostragem, pois para a topografia o coeficiente de regressão foi r²= 0,139 com p= 0,233.
Entretanto pôde-se verificar que a densidade de L. parvifolia Hüber aumenta ao
longo do gradiente topográfico se este estiver relacionado com o nível de água, como
demonstra o coeficiente de regressão (r2= 0,716, p=0,03) na tabela 1.
Isto é explicado pela influência que o nível de água exerce sobre a topografia. Tal
influência age sobre 68,2% do gradiente topográfico como demonstra o coeficiente de
regressão r² = 0,682 (p = 0,001).

Tabela 1 – Coeficiente de regressão (r2) calculado para as variáveis topografia e nível de água.

Variáveis abióticas Coeficiente de regressão (r2)


Topografia - 0.024
Nível de água - 0.062

Para explicar a densidade de L. parvifolia Hüber fez-se uma correlação com os


fatores abióticos coletados, e para a umidade relativa do solo (r= -0,814) e seixo (r=0,736),
que é componente do solo, houve valor considerado significante (r >0,5), como demonstra
a tabela 2.
71

Tabela 2 – Coeficientes de correlação entre os dados abióticos e a densidade de L. parvifolia Hüber.

Dados Abióticos Coeficiente de correlação (r)


Serapilheira - 0,407
Matéria orgânica - 0,397
Umidade do solo - 0,814
Seixo 0,736
Areia grossa - 0,011
Areia media 0,294
Areia fina 0,294
Silte 0,475
Argila - 0,158

Como forma de se verificar se havia uma relação entre estes fatores e a densidade,
fez- se regressão linear para os fatores abióticos nível de água, umidade relativa do solo e
para o seixo. Somente a umidade relativa do solo não possuiu relação significativa.
Os coeficientes de regressão linear para os fatores nível de água e seixo foram r² =
0,542 e p=0,006 para nível de água; e, r²= 0,635 e p= 0,002 para o seixo (fig. 3)

Figura 3 – a) Regressão linear entre o nível de água e a densidade de L. parvifolia; b)


Regressão linear entre o seixo e a densidade de pimenteira (L. parvifolia).

Os dados abióticos de matéria orgânica, topografia, areia grossa, areia média,


areia fina, silte e argila não possuíram correlação nem regressão com a densidade de L.
parvifolia, se tratados isoladamente.
72

DISCUSSÃO
Nas isolinhas que não contiveram indivíduos de pimenteira um fator que deve
estar determinando a ausência é fitofisionomia do ambiente em cada isolinha, uma vez que
L. parvifolia se estabelece em áreas úmidas, tais como margens de rios e em áreas sujeitas
à inundações (Guarim Neto, 1991), assim como em corixos e vazantes (Pott & Pott, Op.
Cit.). As isolinhas 1500, 2000 e 2500m estão inseridas na fitofisionomia conhecida por
Pombeiro, onde há um domínio de Combretum laceolaum Pohl (Combretaceae), que é um
tipo de trepadeira que se estende sobre arbustos e árvores das margens de rios e das matas
semidecíduas. Apesar de ambas existirem em margens de rios, na área de estudo deste
trabalho houve apenas uma isolinha em que ambas ocorreram. Tal isolinha foi a 4000m.
Ainda um fator determinante para a presença de pimenteira é a sua dispersão, que é
irregular e descontínua (Lorenzzi, 1992).
A dispersão da semente de L. parvifolia pode também estar determinando a
densidade na isolinha 3000m e sua ausência nas isolinhas 5500m e 6000m, que possui uma
fitofisionomia de campo inundável. Almeida et al (2000) realizaram um estudo sobre a
distribuição de L. parvifolia ao longo do gradiente de inundação e constataram que as
plântulas de L. parvifolia teriam uma maior tolerância a ambientes abertos com muita luz,
tais como o campo inundável. Entretanto, neste trabalho houve uma ausência total de
arbóreas, incluindo plântulas, na área de campo inundável. Assim como nas isolinhas em
que houve ausência de pimenteira, outro fator, que não sido avaliado aqui, deve estar
determinando a densidade nestes ambientes.
A topografia do Pantanal é praticamente plana, com declividades de apenas 6- 12
cm km-1 no sentido leste-oeste e de 1-2 cm km-1 no sentido norte-sul (Brasil 1979). A baixa
declividade, associada às chuvas periódicas que caem na Bacia do Alto Paraguai, dificulta
o escoamento das águas, causando inundações periódicas anuais e determinando uma
variação entre anos, em que se verificam alternâncias de períodos plurianuais mais secos
ou mais chuvosos (Mourão et al, 2002). O nível de água avaliado neste trabalho refere-se
à altura da inundação durante a época de cheia, onde a topografia influenciará o nível de
inundação. A inundação, de acordo com a sua altura e duração é também o grande fator
condicionante das diversas fitofisionomias da região (Brasil, Op. Cit.). Ainda, o ciclo
periódico de seca e inundação, chamado também de pulso de inundação (Junk et al., 1989),
é um dos fatores que regem a biodiversidade do Pantanal, pois ora favorece as espécies
animais e vegetais relacionadas à fase de seca, ora favorece as espécies relacionadas à fase
de cheia. Tal fato está associado à presença de L. parvifolia às comunidades vegetais que
73

refletem os efeitos da cheias dos rios, ou então, das depressões alagáveis todos os anos nas
épocas chuvosas.
O solo do pantanal de Poconé é de textura arenosa, sendo em alguns casos
bastante espessos. Possui baixa permeabilidade e impede o movimento descendente da
água, contribuindo para os riscos de inundações (Amaral Filho, 1984). A densidade de
Licania parvifolia nesta área é determinada pelo solo da região, uma vez que sua
ocorrência se dá na região amazônica e no Pantanal mato-grossense, matas ciliares e áreas
aberta de savanas baixas onde o solo é de textura arenosas (Lorenzzi, Op. Cit.).
Segundo Lorenzzi, (1992), Licania parvifolia Hüber ocorre preferencialmente em
terrenos arenosos com bom teor de matéria orgânica. Neste trabalho observou-se que
somente em áreas inundáveis que continham bom teor de matéria orgânica não determinou
a densidade de L. parvifolia. Isto é explicado pelo aumento na densidade estar inserida em
uma área de amostragem onde o teor de matéria orgânica é muito baixo. (isolinha 3000).
Este fato pode ser explicado pela dispersão das sementes realizadas pela avifauna. Mas isto
é ainda um estudo a ser realizado a posteriori.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A densidade de Licania parvifolia é somente influenciada pela topografia quando
há principalmente o período de inundação da bacia do Pantanal. Os outros fatores
abióticos, tais como composição granulométrica do solo (areia, silte e argila), umidade
relativa do solo e matéria orgânica não influenciam diretamente na densidade de L.
parvifolia. Tal influência pode ocorrer quando estes fatores estiverem em conjunto com
outros que sejam significantes na determinação da densidade de pimenteira
Estudos sobre a formação de fitofisionomia do pantanal devem ser efetuados de
modo a avaliar se as espécies vegetais, sobretudo as pimenteiras, são naturalmente
indicadores de fisionomia no pantanal ou se estão invadindo o ambiente pantaneiro.
A principal determinante da densidade de L. parvifolia não foi avaliada neste
trabalho, o que permite afirmar que somente os fatores abióticos não determinam a
presença ou a ausência desta espécie vegetal no ambiente. Ainda, eventos aleatórios podem
influenciar sobremaneira a densidade das espécies em ambientes naturais. Aqui também se
faz necessário outros estudos para avaliar o que determina a densidade de Licania
parvifolia no ambiente pantaneiro.
74

AGRADECIMENTOS
Ao curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da
Universidade Federal de Mato Grosso, representado pelo coordenador Pierre Girard. Aos
professores do curso de ecologia de Campo, representados por Cláudia Callil, Cátia Nunes,
Lúcia Mateus, Jerry Penha e Francisco Machado. À Flávia Costa e Gonçalo Ferraz, do
Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia, pelo incentivo nas horas de ir para campo e
durante as análises de dados. Ao técnico Assis, por nos ajudar e nos levar para as isolinhas.
E, por último, mas não menos importantes, aos meus colegas de curso pela ajuda, pelos
momentos de descontração e pelos incentivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, M.T.; SILVA, M.B.; SANTOS, F.S. 2000. Distribuição de Licania parvifolia
(Chrysobalanaceae) ao longo de um gradiente de inundação. Ecologia do Pantanal:
Curso de campo, 2000. José Carlos Chaves dos Santos, José Milton Longo, Maristela
Benites da Silva, Adriano Chiarello & Erich Fischer (org). Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul: Campo Grande. 123-126pp.

AMARAL FILHO, Z.P. Solos do pantanal mato-grossense. Anais do 1 simpósio sobre


recursos naturais e sócio-econômicos do Pantanal. EMBRAPA – Centro de Pesquisa
Agropecuária do Pantanal (CPAP)- Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Brasília,
EMBRAPA- DDT, 1986. 265p. (EMBRAPA- DDT. Documentos, 5)

BRASIL. Ministério do Interior. 1979. Estudo de Desenvolvimento Integrado da Bacia


do Alto Paraguai (EDIBAP). Relatório da 1ª fase - Descrição Física e Recursos Naturais.
Tomo II. Brasília.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal


Brasília, DF). 1997. Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai (Pantanal) -
PCBAP: Diagnósticos dos meios físicos e bióticos. Brasília, 1997. Vol. II Tomo III.

BRAUN-BLANQUET, J. 1928-1964. Fitosociologia; bases para el estudio de las


comunidades vegetales. Trad. da 3.ed.rev.aum. Blume, Madrid, 1979. 820 p.
75

CALHEIROS, D.F.; FONSECA JÚNIOR, W.C. da (org.).1996. Perspectivas de estudos


ecológicos sobre o Pantanal. Corumbá, MS: EMBRAPA-CPAP, 1996. 41p. (EMBRAPA-
CPAP. Documentos, 18).

GUARIM NETO, G.. 1991. Plantas do Pantanal- Angiospermas do Estado de Mato Grosso
– Pantanal. Acta Bot. Bras. 5 (1): 25-47.

JUNK, W.J. et al. The flood pulse concept in river-floodplain systems. In: DODGE, D.P.
(ed.) Proceedings of International Large River Symposium. Can. Spec. Publ. Fish. Aquat.
Sci. v. 106, p.110-127, 1989.

LORENZZI, H. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas


Arbóreas Nativas do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Plantarum, 1992. v. II, 249p.

MOURÃO, G.; OLIVEIRA, M.C.; CALHEIROS, D.F.; PADOVANI1, C.R. MARQUES,


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PILLAR, V. D. 2004a. Descrição de comunidades vegetais. Textos e artigos. Porto


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artigos. Porto Alegre: Universidade federal do Rio Grande do Sul, 2004. 8p.

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Agropecuária, Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal, Corumbá, MS: EMBRAPA -
SPI, 1994. 320p.
76

DENSIDADE POPULACIONAL DE NOVATEIRO (Triplaris gardneriana Wedd.,


POLYGONACEAE) AO LONGO DE UM GRADIENTE TOPOGRÁFICO NA
BAÍA DAS PEDRAS, SESC – PANTANAL, POCONÉ – MT.

Marcello Messias Barbosa


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: m_mbarbosa@yahoo.com.br.
(Com 05 figuras)

RESUMO: Este trabalho objetivou avaliar se a densidade de novateiro (Triplaris


gardneriana Wedd., Polygonaceae) sofre variação ao longo de um gradiente topográfico.
O estudo foi conduzido na região denominada de Baía das Pedras, SESC – Pantanal, no
município de Poconé – MT. Utilizando a metodologia de isolinhas, foram levantados 12
pontos amostrais, totalizando uma área de 1,2 ha. Foram amostrados 175 indivíduos, dando
uma densidade total de 0,015 indivíduos/m2. A topografia não exerceu uma influência
considerável sobre a densidade de T. gardneriana, sendo necessários outros fatores
abióticos atuando em conjunto para que houvesse resposta sobre a densidade. Devido as
fracas relações apresentadas pelas variáveis abióticas abordadas neste estudo, sugere-se
que novos estudos sejam realizados considerando outros variáveis abióticas e bióticas.
Palavras Chaves: Triplaris gardneriana, densidade, nível topográfico, Pantanal.

INTRODUÇÃO
A densidade populacional é o tamanho da população em relação a alguma unidade
de espaço (Odum, 1988). Esta tem duas aplicações importantes em ecologia. A primeira
surge da dificuldade prática em estimar os tamanhos de populações inteiras distribuídas
sobre grandes áreas; a segunda surge do fato de que a densidade indica a capacidade do
meio ambiente em suportar a população particular sob estudo (Ricklefs, 1996). Diversos
fatores podem operar simultaneamente de modo a governar a densidade populacional,
assim, as taxas de natalidade e mortalidade podem ser sensíveis a diferentes fatores à
medida em que a densidade aumenta, deste modo, é possível, por exemplo, que a escassez
de nutrientes diminua a taxa de natalidade e o aumento da predação, simultaneamente,
aumentando a taxa de mortalidade (Futuyma, 1997).
77

A densidade das espécies de plantas está em constante mudança ao longo do


tempo e do espaço, e, avaliar estas mudanças constitui uma das alternativas para se
entender os processos que regem os ecossistemas florestais (Nascimento et al., 1999). Em
geral, os indivíduos são mais numerosos onde os recursos são mais abundantes. Deste
modo, a densidade provê informações sobre as relações de população com o ambiente, e
mudanças na densidade refletem mudanças nas condições locais. Neste aspecto, a
densidade proporciona uma base melhor para comparar as relações ecológicas entre duas
populações do que seus tamanhos totais (Ricklefs, 1996).
Em escala local, a topografia tem sido considerada a mais importante variável
relacionada ao substrato causando variação espacial na estrutura das florestas tropicais
devido a ela geralmente corresponder a mudanças nas propriedades do solo,
particularmente ao regime de água e a fertilidade natural do solo (Bourgeron, 1983).
O presente estudo teve por objetivo avaliar se existe mudança na densidade de T.
gardneriana ao longo de um gradiente topográfico em uma área da Baía das Pedras,
SESC – Pantanal, Poconé – MT.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo
O estudo foi realizado no período de 29 de agosto a 08 de setembro de 2004, em
uma área do Pantanal mato-grossense denominada de Baía das Pedras – SESC Pantanal
(56º25’W e 16º30’S), localizada no município de Poconé – MT. A região apresenta clima
do tipo Aw de Köppen com verão quente e úmido, e inverno frio e seco. A temperatura
média anual gira em torno de 25ºC, sendo que nos meses de setembro a dezembro as
temperaturas máximas absolutas ultrapassam 40ºC. A precipitação média anual encontra-se
entre 1100 e 1200 mm, com as chuvas concentrando-se nos meses de dezembro a
fevereiro, compreendendo 45% da precipitação total anual (Calheiros & Fonseca Júnior,
1996; Hasenack et al., 2003).

Metodologia
Para o levantamento dos dados foi traçado um transecto de 6 km de extensão, a
partir do qual, com o uso de trenas, foram determinados 12 pontos a cada 500 m do
transecto, onde foram estabelecidas isolinhas de 250 m. As isolinhas foram demarcadas
com estacas de madeira a cada 50 m, sendo que fixada a primeira estaca da linha, a 1 m do
solo, todas as outras seguiam o mesmo nível topográfico. Para a nivelação das linhas, foi
78

utilizada mangueira transparente de nível com água, a partir do qual o nível topográfico da
primeira estaca era transferida às demais, pela altura do menisco na mangueira. A
densidade populacional do novateiro também foi avaliada seguindo uma caracterização
aproximada da fitofisionomia que cada isolinha englobava.

Dados Abióticos
Em cada isolinha, foi medido a cada 50 m, a umidade do solo, com o uso do
aparelho “Moisture Meter HH2” e feito uma amostragem superficial de solo (10 cm de
profundidade), sendo todas as amostras de solo de uma mesma linha misturadas em um
mesmo recipiente. As amostras de cada linha foram pesadas e peneiradas em peneiras
granulométricas de 2 mm, 1 mm, 250 mm, 125 mm e 63 mm, sendo classificadas como
seixo, areia grossa, areia média, areia fina e silte respectivamente; as partículas menores
que 63 mm que restaram foram classificadas como argila. Também foi determinado o teor
de matéria orgânica das amostras de solo, para tanto, as amostras foram levadas ao
laboratório de limnologia do Núcleo de Estudos do Pantanal, da Universidade Federal de
Mato Grosso, onde separou-se 1 g do solo de cada isolinha que foi então levada à mufla a
uma temperatura de 500º C por 4 horas. Retirou-se o material e levou para resfriar em
dessecador sendo então pesado até possuir peso constante.

Espécie e Amostragem dos Indivíduos


Triplaris gardneriana Wedd. é uma espécie da família Polygonaceae,
unissexuada, de 2 – 7 m de altura, caule tortuoso e ramificado, copa baixa e folha dura
(Pott & Pott, 1994). Ocorre preferencialmente em várzeas inundáveis sobre solos calcários
e excepcionalmente também é encontrada em encostas úmidas, sendo que por vezes,
apresenta freqüência elevada em alguns locais, faltando completamente em outros dentro
da mesma área de dispersão (Lorenzi, 1998). Segundo Pott & Pott (1994) esta espécie e
colonizadora de áreas perturbadas como beira de estrada.
Foram amostrados todos os indivíduos de T. gardneriana que se encontravam a 2
m de cada lado da isolinha, perfazendo uma área de 1000 m2 por linha, totalizando 1,2 ha
nas 12 linhas. A identificação da espécie foi realizada no campo com base nas
características morfológicas, utilizando-se chaves de identificação e material bibliográfico
especializado. De cada indivíduo, foi determinado o sexo através de observações diretas
das partes reprodutivas.
79

Análise dos Dados


Para a análise dos dados foram utilizados os programas Microsoft Excel e
SYSTAT 10 for Windows. Foram feitas análise direta de gráficos e também utilizados os
testes estatísticos de correlação e regressão linear.

RESULTADOS
No total foram amostrados 175 indivíduos, sendo 105 femininos e 68 masculinos,
dando uma razão sexual de 1,54 indivíduos femininos para cada masculino. Dois
indivíduos não apresentavam material reprodutivo. A densidade total de T. gardneriana
nas 12 isolinhas foi de 0,015 indivíduos/m2.
Quando se plota a densidade com a topografia de cada isolinha, não se observa
um padrão de variação da densidade com mudança na topografia, sendo que a maior
densidade foi verificada para a isolinha 1500 (0,054 indivíduos/m2) e a menor nas isolinhas
5500 e 6000 (0 indivíduos/m2) (Fig.1). Ao se analisar a densidade ao longo do gradiente
topográfico, observa-se uma distribuição aparentemente homogênea, sendo que as maiores
densidades encontram-se entre os níveis topográficos de 10 a 30 cm (Fig.2).

120 0,06

Densidade (indiv./m2)
100 0,05
Topografia (cm)

80 0,04

60 0,03

40 0,02

20 0,01

0 0,00
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 45004500 50005000 5500 6000
Isolinhas
2
Topografia do Ponto 0 (corrigido) Densidade
Umidade (indiv./m
relativa (média) )

Figura 1. Comparação entre as densidades de T. gardneriana e topografia em cada isolinha.

0,06

0,05

0,04

0,03

0,02

0,01

0
0 10 20 30 40 50 60 70
Topografia (cm)

Figura 2. Análise direta da densidade de T. gardneriana no gradiente topográfico.


80

Foram feitas correlações entre a densidade e os fatores abióticos, devido aos


dados de densidade não apresentarem uma distribuição normal, foi utilizado a correlação
de Spearman, onde se verificou uma fraca correlação com todos os fatores abióticos,
apresentando baixos coeficientes de correlação (Tab.1). Os maiores valores de correlação
foram apresentados por topografia, matéria orgânica e areia grossa (0.333, -0.453 e -0.575
respectivamente) (Fig.3).

Tabela 1. Coeficientes de correlação das variáveis abióticas com a densidade de T. gardneriana.

Fatores Abióticos Coeficiente de Correlação


Topografia 0.333
Umidade do Solo -0.032
Seixo 0.101
Areia Grossa -0.575
Areia Média -0.095
Areia Fina -0.035
Silte 0.147
Argila 0.170
Matéria Orgânica -0.453
DENSIDADE
TOPOG
MATORGANICA AREIAG

DENSIDADE TOPOG AREIAG MATORGANICA

Figura 3. Fatores abióticos com maiores correlações com a densidade de T. gardneriana.

Com as três variáveis que apresentaram os maiores valores de coeficiente de


correlação, foi realizada uma regressão linear múltipla, para tanto foi utilizada a raiz
quadrada da abundância de T. gardneriana, que foi a que mais se ajustou a uma curva
81

normal. Essas variáveis apresentaram uma relação significativa sobre a densidade do


novateiro (r2 = 0.615, p = 0.045). Realizando regressões lineares simples com cada uma
dessas variáveis, a que apresentou maior influência com a densidade foi a areia grossa,
sendo sua relação negativa (r2 = 0.550, p = 0.006) (Fig.4).

y = -0,4215x + 5,7719 7
R2 = 0,5505
6

Raiz Abundância
5

0
0 5 10 15
Areia Grossa (g)

Figura 4. Regressão linear simples com o fator abiótico (areia grossa) que apresentou maior relação com a
densidade de T. gardneriana.

Também foi realizada a distribuição da densidade de acordo com a fitofisionomia


de cada isolinha, onde as maiores densidades foram verificadas para a fisionomia pombeiro
e mata-sempre-verde, sendo que na fisionomia campo inundável a densidade foi igual a
zero (Fig.5).

0.06

0.05
Densidade (indiv./m2)

0.04

0.03

0.02

0.01

0.00
el m al ujo
r o o
áv ve az Ve içã eir
und . Jo b ar p o s pre ans mb
In m r o
C. mb Ca
m
Ca Se
m
M.
T P
Ca M.
Fisionomia

Figura 5. Distribuição das densidades de T. gardneriana nas diferentes fisionomias de cada isolinha.
82

DISCUSSÃO
A baixa relação apresentada entre densidade e topografia demonstrou que o nível
topográfico sozinho não desempenha um papel primordial sobre a densidade de
T. gardneriana, sendo necessário um conjunto de variáveis abióticas para melhor explicar
sua densidade. O fator abiótico que mais determinou a densidade do novateiro foi areia
grossa, com relação negativa, como ficou evidenciado nas análises de correlação e
regressão. Isso também foi notado na isolinha que apresentou quantidade de areia grossa
igual a zero, onde sua densidade foi a mais alta encontrada, sendo que a menor densidade
foi verificada para a isolinha com maior quantidade de areia grossa. Esse fato corrobora
com os dados ecológicos dessa espécie que é tida como preferencial de solos argilosos
(Pott & Pott 1994).
Dois outros fatos devem ser destacados, a relação negativa apresentada com a
umidade do solo, o que vem em contrário do que indica a literatura sobre a espécie, que é
tida como higrófita; e uma maior densidade verificada nas fisionomias mata-sempre-verde
e mata de transição (dossel mais fechado), do que na fisionomia campo sujo, visto que esta
espécie tem preferência a habitats com mais luz (heliófita) (Lorenzi, 1998).
Devido a baixa relação observada entre densidade e topografia e também com os
demais fatores abióticos, sugere-se que novos trabalhos sejam realizados abordando outros
fatores abióticos e bióticos que não foram considerados neste estudo, tentando assim
apontar quais fatores determinam a densidade de T. gardneriana .

AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade
pelo excelente curso de campo que nos foi proporcionado e a todos os professores e
colaboradores do curso de Ecologia de campo pelo aprendizado que nos foi transmitido.
Agradeço também aos técnicos da UFMT e aos guardas-parque da RPPN SESC - Pantanal
pela importante ajuda no campo. Em especial, agradeço a doutoranda Temilze Gomes
Duarte pelas valiosas sugestões no desenvolvimento deste trabalho e a todos os colegas
pelos bons momentos que passamos juntos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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F.B. (ed.), Ecosystems of the World. 14 A – Tropical Rain Forest Ecosystems, Structure
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83

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84

O EFEITO DA DENSIDADE SOBRE A TAXA DE HERBIVORIA FOLIAR NA


PALMEIRA Bactris glaucescens, BAIA DAS PEDRAS (SESC – PANTANAL), NO
MUNICÍPIO DE POCONÉ – MT

Jorge das Neves Rosa


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: sevenrj@yahoo.com.br.
(Com 05 figuras)

RESUMO: Fatores dependentes da densidade influenciam a taxa de crescimento


populacional, e seus efeitos são sentidos mais fortemente em populações aglomeradas do
que em populações esparsas. O objetivo deste estudo foi testar se a taxa de herbivoria em
Bactris glaucescens é um fator dependente da densidade desta palmeira. O estudo foi
desenvolvido em uma área conhecida como Baia das Pedras (SESC – Pantanal), localizada
no município de Poconé, MT. Para a coleta de dados foi estabelecido um transecto de 06
Km, a partir do qual, foram feitas 12 linhas de 250 m de extensão posicionadas em um
mesmo nível topográfico (isolinhas). O ponto inicial de cada linha estava distante 500 m
uma da outra. Ao longo de cada isolinha, todos os indivíduos jovens e adultos de Bactris
galucescens (tucum) que se encontravam a 05 m de cada lado da trilha foram amostrados,
totalizando uma área amostrada de 03 ha. A proporção de folíolos herbivorados no tucum
aumenta a medida que aumenta a aglomeração dessa planta. A taxa de herbivoria em
folhas velhas e novas tanto para indivíduos adultos quanto para jovens é significativamente
dependente da densidade de B. glaucescens. O número de folíolos herbivorados nos
indivíduos jovens foi significativamente maior do que nos adultos e as folhas novas
apresentaram menor taxa de herbivoria tanto nos indivíduos adultos quanto nos indivíduos
jovens. A correlação positiva encontrada entre o número de folíolos herbivorados e o
aumento da densidade e o resultado significativo do teste Kruskal Wallis, indica que a
concentração de recursos leva a uma maior utilização dos mesmos e nos permite concluir
que, na área estudada, a herbivoria em Bactris glaucescens é dependente da densidade.
Palavras Chaves: Taxa de herbivoria, Palmeira, Pantanal.
85

INTRODUÇÃO
De acordo com hipótese da concentração de recursos proposta por Root (1973), é
provável que herbívoros encontrem e permaneçam em hospedeiros que crescem em
manchas densas e de uma única espécie. Um maior agrupamento de plantas pode causar
variações no desempenho de cada uma delas, como resultado da competição intra e
interespecífica por recursos, podendo afetar também o grau de herbivoria e atividade
patogênica, cujos efeitos podem ser sentidos mais fortemente em populações aglomeradas
do que em populações esparsas. Portanto, a medida que a densidade aumenta a população
pode esgotar seus recursos, envenenar seu ambiente com restos metabólitos ou propiciar o
crescimento de predadores e/ou patógenos (Futuyma, 1997; Straws & Agrawal, 1999).
Quando herbívoros estão forrageando em manchas com recursos decrescentes
devem decidir quanto tempo permanecer nas mesmas (Charnov,1976) e tal decisão é
influenciada por dois fatores básicos, o tamanho da mancha (abundância e qualidade do
recurso) e a distância entre manchas (tempo de busca), o que explica a vantagem de
permanecerem em manchas densas de uma única espécie.
Competição de plantas vizinhas e herbivoria são dois fatores que determinam o
crescimento, sobrevivência e a reprodução de plantas individuais, e subseqüentemente a
abundância das populações de plantas (Gurevitch et al. 2000).
Na maioria das espécies vegetais, as folhas jovens são mais vulneráveis aos
herbívoros do que as folhas maduras (Coley & Aide, 1991). Elas têm maior quantidade de
nitrogênio e água e são menos robustas, características que têm sido relacionadas com alta
herbivoria em estudos de campo e laboratório. Existem espécies de plantas que produzem
folhas que se tornam menos saborosas para os insetos e menos valiosas como alimento à
medida que elas amadurecem. Na maioria dos casos, não está claro se esses efeitos são
devidos a mudanças na química secundária das plantas ou meramente ao valor nutritivo
mais baixo das folhagens mais velhas (Coley & Aide, 1991). Em muitas outras plantas, as
concentrações de compostos tóxicos secundários são maiores nas folhas jovens, e então é a
folhagem mais velha que é mais atrativa para os herbívoros (Edwards & Wratten, 1981).
O efeito da herbivoria sobre uma planta depende das partes da mesma que venham
a ser afetadas e do momento do ataque com respeito ao desenvolvimento da planta (Begon
et al., 1988). A herbivoria foliar pode afetar o fitness da planta por alterar os padrões de
visitação do polinizador em plantas que foram herbivoradas (atacadas por herbívoros).
Além disso, a produção de sementes pode ser substancialmente reduzida pela herbivoria
ainda que os herbívoros não alimentem diretamente sobre o tecido reprodutivo. Isto pode
86

ser devido à redução de recursos disponíveis para flores, produção de pólen ou sementes
ou pela redução das taxas de polinização em plantas danificadas. A herbivoria foliar pode
ainda mudar a quantidade ou química do néctar, o número ou morfologia de flores, a
fenologia do florescimento ou o tamanho da planta. (Poveda et al., 2003).
Uma vez que herbívoros tendem a se agregar em áreas com maior concentração de
recursos e tal agregação pode levar a um aumento da herbivoria, espera-se que plantas
mais próximas uma das outras sejam mais predadas do que aquelas que apresentam
maiores distâncias interindividuais (Strong et al., 1984). Portanto espera-se que o número
de folíolos herbivorados em Bactris glaucescens – Drude seja maior em locais com maior
densidade dessa planta. Este estudo teve como objetivo testar se (i) a taxa de herbivoria
foliar em Bactris glaucescens (tucum) é dependente da densidade desta palmeira e (ii) se
existe um efeito da idadade da folha / indivíduo sobre a taxa de herbivoria.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O estudo foi realizado em uma área conhecida como Baia das Pedras (SESC –
Pantanal, 56º25’W / 16º30’S), localizada no município de Poconé, MT. O relevo do
Pantanal é praticamente plano, com altitude que varia entre 80 e 150 m. A baixa altitude
associada as chuvas periódicas anuais que caem na Bacia do Alto Paraguai, causam
inundações periódicas anuais e/ou plurianuais com certa ciclicidade.
O clima do Pantanal é do tipo AW, segundo a classificação de Koppen, quente e
úmido no verão e frio e seco no inverno, com temperatura média anual de 25 ºC sendo que
nos meses de setembro a dezembro as temperaturas máximas absolutas ultrapassam 40 ºC.
A precipitação média anual no Pantanal encontra-se entre 1000 e 1200 mm. As chuvas
estacionais concentram-se nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro (Guerrini, 1978).
O tucum (Bactris glaucescens) é uma palmeira de 01 a 04 m de altura que forma
agrupamentos densos e, por apresentar o caule fino, essa espécie pode morrer quando sofre
uma queimada forte. Ocorre em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ao longo de
rios, lagoas, margens de florestas, áreas abertas de pastagens, capoeiras e solos argilosos
ou siltosos (Pott e Pott, 1994 & Lorenzi et al., 1996).

Métodos
Para a coleta de dados foi estabelecido um transecto de 06 Km, a partir do qual,
foram feitas 12 linhas de 250 m de extensão, as quais estavam posicionadas em um mesmo
87

nível topográfico (isolinhas). O ponto inicial de cada linha estava distante 500 m uma da
outra (Figura – 01). Ao longo de cada isolinha, todos os indivíduos jovens e adultos de
Bactris galucescens que se encontravam a 05 m de cada lado da trilha foram amostrados,
totalizando uma área amostrada de 03 ha.
Somente os indivíduos jovens que apresentavam os folíolos completamente
separados foram amostrados. Duas folhas por indivíduo, a mais velha e a mais nova,
tiveram o número total e o número de folíolos que apresentavam sinais de herbivoria
contados. Não foi levado em consideração a intensidade, mas sim se os folíolos
apresentavam algum sinal de herbivoria. Como o tucum é uma planta que perfilha, cada
touceira foi considerada um indivíduo único. No caso dos indivíduos perfilhados, foram
amostrados aleatoriamente três perfilhos. Para se obter a taxa de herbivoria dividiu-se o
número total de folíolos herbivorados pelo número total de folíolos encontrados na folha.
Para uma melhor visualização dos dados, a densidade (número de indivíduos/área) foi
transformada em logarítimo da abundância.
Nas análises foram utilizados testes não paramétrico, pois os dados não
apresentavam uma distribuição normal e as tentativas para sua normalização não teve
sucesso. Para verificar se existia correlação entre a taxa de herbivoria e a densidade de
tucum foi utilizado o coeficiente de correlação de Spearman. Para testar se a variação na
taxa de herbivoria encontrada nas diferentes densidades, para indivíduos jovens e adultos,
eram significativas foram utilizados os testes Mann-Whitney U e Kruskal Wallis. O
primeiro é usado para testar apenas duas categorias e o segundo para mais de duas. Ambos
os testes ranqueiam os dados, ou seja, agrupam em diferentes categorias os indivíduos com
baixa, média e alta taxas de herbivoria.
Todas as análises estatísticas foram feitas utilizando o programa de análise
estatística SYSTAT 10.0.
88

Poconé

Isolinhas

Figura 01 – (A) localização geográfica do município de Poconé no Estado Mato Grosso, Brasil e (B) área de
estudo (Baías das Pedras) e desenho amostral com a distribuição das isolinhas ao longo do transecto.

RESULTADOS
Ao longo das 12 isolinhas estudadas foram amostrados 178 indivíduos de tucum
(Bactris galucescens). Houve uma grande variação na densidade entre as esolinhas, a qual
89

variou de 0,0008 a 0,0348 indivíduos por m2. A taxa de herbivoria foi diferente entre
folhas velhas e novas e em ambos os tipos de folha a herbivoria tende a aumentar com o
aumento da densidade (Figura – 02). A correlação de Spearman também mostrou uma
relação positiva entre a taxa de herbivoria em folhas velhas e novas e a densidade de tucum
(coeficiente de correlação 0,764 para folhas velhas e 0,492 para folhas novas).

1.0 1.0
0.9 0.9
0.8
A 0.8 B
0.7 0.7
Taxa de herbivoria

Taxa de herbivoria
0.6 0.6
0.5 0.5
0.4 0.4
0.3 0.3
0.2 0.2
0.1 0.1
0.0 0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
Log da abundância Log da abundância
Figura 02 – Taxa de herbivoria (nº de folíolos herbivorados/nº total de folíolos) nas folhas velhas (A) e
folhas novas (B) de tucum em função do logarítimo da abundância.

A taxa de herbivoria nos indivíduos jovens de tucum foi significativamente maior do que
nos indivíduos adultos (teste Mann-Whitney U: p = 0.000 - Figura 03 A). As folhas novas
apresentaram menor taxa de herbivoria (uma média de 0,530 para folhas velhas e 0,215
para folhas novas) tanto nos indivíduos adultos quanto nos jovens (teste Mann-Whitney U:
p = 0.000 para adultos e jovens), sendo que nos adultos essa diferença é mais nítida (Figura
03 B).

1 1
0,9 A 0,9
B
0,8 0,8
0,7 0,7
Taxa de herbivoria

Taxa de herbivoria

0,6 0,6

0,5 0,5
0,4 0,4

0,3 0,3

0,2 0,2

0,1 0,1

0 0
Adulto 0 F o lha velha F o lha1no va F o lha velha F o lha
2 no va
0 0,5 1
Jovem
adulto adulto jo vem jo vem

Figura 03 – Taxa de herbivoria foliar em indivíduos adultos e jovens de tucum - Mann-Whitney U: p =


0.000 – (A) e taxa de herbivoria em folhas velhas e novas de indivíduos adultos e jovens - Mann-Whitney U:
p = 0.000 – (B).
90

Através dos testes Kruskal Wallis e Mann – Whitney U verificou-se que a taxa de
herbivoria em folhas velhas e novas tanto para indivíduos adultos (Kruskal Wallis: p =
0.001, folhas velhas e p = 0.052, folhas novas – Figura 04) quanto para jovens (Mann-
Whitney U: p = 0.000, folhas velhas e p = 0.000, folhas novas – Figura 05) é
significativamente dependente da densidade de B. glaucescens.

0.9 0.4
0.8
0.7 0.3
Taxa de herbivoria

Taxa de herbivoria
0.6
0.5
0.2
0.4
0.3
0.2 0.1

0.1
0.0 0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
Log da abundância Log da abundância

Figura 04 – Taxa de herbivoria em folhas velhas (A) e novas (B) de indivíduos adultos de tucum em função
do logarítimo da abundância.

1.0 1.0
0.9 0.9
0.8 0.8
0.7 0.7
Taxa de herbivoria

Taxa de herbivoria

0.6 0.6
0.5 0.5
0.4 0.4
A B
0.3 0.3
0.2 0.2
0.1 0.1
0.0 0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
Log da abundância Log da abundância

Figura 05 – Taxa de herbivoria em folhas velhas (A) e novas (B) de indivíduos jovens de tucum em função
do logarítimo da abundância.

DISCUSSÃO
Neste estudo foi verificado um aumento na proporção de folíolos herbivorados
com o aumento da densidade da palmeira Bactris glaucescens, o que está de acordo com a
91

hipótese da concentração de recursos de Root (1973). A abundância com que uma espécie
de planta se apresenta ou ainda pelo seu tamanho (espécie evidente) torna-a muito
utilizada, devido a facilidade de ser encontrada pelos herbívoros, como constatado por
Kéry et al.,(2001) ao verificar que populações da borboleta Maculinea rebeli foi mais
provável ocorrer e ser maior em populações maiores de sua planta hospedeira Gentiana
cruciata. Analisando algumas espécies de plantas do cerrado Marquis et al., (2001)
também constatou que plantas maiores foram mais danificadas por patógenos. No mesmo
trabalho esse autor também encontrou resultados contrários para algumas espécies, onde
foi constatado que existiu uma tendência de espécies mais abundantes serem menos
danificadas do que espécies raras.
O fato dos indivíduos adultos apresentarem menor proporção de folíolos
herbivorados que os jovens, pode ser porque as folhas jovens têm maior quantidade de
nitrogênio e água e são menos robustas, ou mesmo porque as folhas velhas são menos
saborosas e menos valiosas como alimento, pois fibras oferecem problemas mecânicos e
digestivos para insetos (Coley & Barone, 1996). Baixo conteúdo de nitrogênio e água tem
sido repetidamente associado com a reduzida preferência e performance de insetos. O nível
de nitrogênio nas folhas jovens reflete o balanço entre a exigência para o crescimento e a
palatabilidade para os herbívoros (Coley & Barone, 1996). O conteúdo nutricional das
folhas varia entre espécies e ao longo da idade da folha, portanto, a qualidade nutricional
das folhas tem conseqüências para herbivoria e também pode ser particularmente adaptada
para a seleção de herbívoros e patógenos (Moran & Hamilton, 1980).
A presença de um menor número de folíolos herbivorados em folhas jovens pode
ser devido a um menor tempo de exposição destas, comparado com as folhas velhas. Além
disso, existe uma correlação positiva entre o tempo de vida da folha e a necessidade de
defesa, presumivelmente porque o valor de uma folha para a planta e o risco de sua
descoberta aumenta com o tempo de vida da folha (Southwood et al., 1986, Colling &
Matthies, 2004). As folhas novas também podem apresentar uma menor taxa de herbivoria
por estarem menos evidentes, devido o maior número de folhas velhas nos indivíduos.
Além disso, as folhas novas de tucum podem escapar do ataque devido a saciação dos
herbívoros (Lieberman & Lieberman, 1984) levando-se em conta a abundância de folhas
velhas em relação as novas presente nos indivíduos.
Os resultados obtidos neste estudo mostram que a concentração de recursos leva a
uma maior utilização dos mesmos e nos permite concluir que, na área estudada, a
herbivoria em Bactris glaucescens é dependente da densidade e o fato das folhas velhas
92

apresentarem uma maior taxa de herbivoria indica que compostos secundários também
podem estar influenciando tal resultado, o que nos leva a crer que para esta espécie as
folhas novas podem ser mais importantes. Estes resultados sugerem estudos qualitativos
para saber por que as folhas velhas e novas de B. glaucescens apresentam diferentes taxas
de herbivoria.

AGRADECIMENTOS
Ao SESC-Pantanal por ter disponibilizado suas instalações e a participação de funcionários
nos trabalhos de campo, especialmente o Sr. Joaquim. Ao programa de Pós-Graduação em
Ecologia e Conservação da Biodiversidade pela infra-estrutura colocada à disposição. Aos
professores do programa Pierre Girard, Lucia Mateus, Jerry Penha, Cláudia Callil, Cátia
Nunes e do INPA Flávia Costa e Gonçalo, pelas valiosas sugestões e discussões durante a
análise de dados. Aos colegas do curso em especial Jaime Rufino e Rodrigo Ferreira e aos
técnicos Assis e Hélio, pelo valioso auxílio nos trabalhos de campo.

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95

DIVERSIDADE DE COLEOPTERA DO SOLO: ESTUDO DE CASO PARQUE


BAÍA DAS PEDRAS - SESC PANTANAL, POCONÉ-MT BRASIL.

Caroline Félfili Fortes


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: carolfelfili@yahoo.com.br
(Com 08 figuras)

RESUMO: Os coleoptera do solo são importantes devido ao seu grande número de


espécies, distribuição cosmopolita, e utilização como ferramenta no controle biológico de
pragas. Assim, esse trabalho objetivou determinar a riqueza, abundância e diversidade (H’)
de morfoespécies de coleoptera do solo entre ambientes com níveis topográficos diferentes,
para verificar se há um padrão de distribuição da diversidade em relação ao gradiente
topográfico e possível correlações com variáveis abióticas e bióticas, checando a
viabilidade destas serem utilizadas como preditoras de diversidade de coleoptera do solo.
As hipóteses foram: 1) A diversidade de coleoptera será maior em áreas com níveis
topográficos maiores e 2) A diversidade de Coleoptera está correlacionada positivamente
com a biomassa de serapilheira. O trabalho realizou-se no Pantanal de Poconé, Parque
SESC Baía das Pedras, localizado nas coordenadas 16º30’S e 56º25’W, entre 02 a 09 de
setembro de 2004. Em uma área de 6.000 m de comprimento, foram estabelecidos 12
transectos de 250 m de comprimento a cada 500 m, cada uma com o nível topográfico
uniforme em todo seu comprimento (isolinhas de nível). Utilizou-se armadilha “pit fall”
instaladas a cada 50 m de cada transecto, totalizando 5 amostras por isolinha e 60 amostras
ao todo. A abundância total foi de 389 coleoptera, distribuídos em 24 morfoespécies, o
índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) variou de 0 nas isolinhas 5500 e 4000 a
2,95 na 3000. As duas hipóteses levantadas não se confirmaram. Encontrou-se apenas
fortes correlações negativas, e regressões altamente significativas, entre riqueza e
abundância de coleoptera com abundância de gramíneas (r = 0,893, R2 = 0,798 e p =
0,000). Os resultados mostraram que altos níveis topográficos e alta biomassa de
serapilheira não predizem e nem se correlacionam com diversidade de coleoptera. A
hipótese do meso-habitat parece ser a que mais se aplica para explicar os padrões
encontrados, uma vez que os maiores valores de diversidade foram obtidos em locais com
condições microclimáticas medianas (meso-habitats) e os menores valores em áreas que se
96

assemelham habitats xéricos, entretanto também são necessários maiores estudos pra
confirmar se esta tendência também se aplica nas variações sazonais na comunidade de
coleóptera.
Palavras Chaves: Diversidade de Coleoptera, Gradiente Ambiental, Preditores.

INTRODUÇÃO
A diversidade, em seu nível mais simples, tem sido definida como o número de
espécies encontradas em uma comunidade, medida esta conhecida como riqueza de
espécies. A maioria das definições também inclui a medida de quão uniforme o número
total (ou abundância) de indivíduos é dividido entre as espécies, o que chamamos de
eqüidade (evenness). Atualmente sabe-se que a diversidade de organismos é maior nos
trópicos, principalmente quando analisamos a classe dos insetos, grupo conhecido por
conter a maioria das espécies do mundo (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
Nesse contexto, os insetos e outros invertebrados desempenham papel chave nos
ecossistemas terrestres, estando envolvidos em processos, tais como, decomposição,
ciclagem de nutriente, fluxo de energia, entre outros (ANTONINI et al, 2003). Assim,
dentre os insetos que vivem no solo, um grupo dos mais importantes, é o que representa a
classe dos besouros, ou seja, os coleoptera (PENNY et al, 1978), devido ao seu grande
número de espécies, distribuição cosmopolita, fácil captura e utilização como ferramenta
no controle biológico de pragas (MELNYCHUK et al, 2003). Segundo BUZZI &
MIYAZAKI (1999) esta ordem é o maior agrupamento de animais que se conhece, pois
perfaz cerca de 23% de todos os animais conhecidos e 35% do total de insetos, nenhum
outro grupo de animais o supera em numero de espécies.
Segundo MARINONI & GANHO (2003), vários trabalhos têm sido produzidos
buscando estabelecer relações entre a fauna de coleoptera de solo e o meio ambiente, sendo
importante levantar o maior número de informações sobre as diferentes relações, para
consolidar o grupo como possível indicador de condições ambientais, podendo apontar
áreas prioritárias para a conservação.
Estudos que correlacionam a distribuição da diversidade de coleoptera, com
qualquer gradiente ambiental no pantanal são inexistentes ou mal divulgados, o que
acarreta uma certa lentidão na identificação de áreas prioritárias e tamanho de unidades de
conservação. Para preencher essa lacuna, o objetivo deste trabalho foi determinar a
riqueza, abundância e diversidade (H’) de morfoespécies de coleoptera entre ambientes
com níveis topográficos diferentes, verificando se há um padrão de distribuição da
97

diversidade em relação ao gradiente topográfico. Ainda tentou observar se alguma das


variáveis estimadas (por exemplo: biomassa de serapilheira, porcentagem de argila no solo,
abundância de ervas, entre outras), podem ser utilizadas como preditoras de diversidade de
morfoespécies de coleoptera.
As hipóteses testadas foram: 1) A diversidade de coleoptera é maior em áreas com
níveis topográficos maiores, pois estas representariam, em períodos de cheia, um refúgio
para os besouros do solo. 2) A diversidade de Coleoptera se correlaciona positivamente
com a biomassa de serapilheira, pois quanto mais esta se acumula no solo, a
heterogeneidade espacial aumenta. Assim locais com alto acúmulo de biomassa de
serapilheira, poderia indicar locais com alta diversidade de coleoptera, diminuindo o gasto
com coletas e triagem onerosas.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo
Características Gerais do Pantanal
Formado com o surgimento da Cordilheira dos Andes, o Pantanal é a maior
planície de inundação contínua do planeta, que se localiza entre os paralelos de 15º45’ a
22º15’ de latitude Sul e os meridianos 54º45’ a 58º de longitude Oeste, ocupando uma área
total de 139558 km2 (BRASIL, 1979; Da SILVA, 1990; SILVA, 1995). O Pantanal Norte,
ou Pantanal Matogrossense, possuiu clima quente e úmido no verão e frio e seco no
inverno, com temperatura média de 25º C, precipitação média anual entre 1100 e 1200
mm, concentrando 45% das chuvas entre os meses de dezembro e fevereiro (CALHEIROS
& FONSECA JR, 1996). A parte norte e sul do pantanal possui solos predominantemente
argilosos e a porção central é mais arenosa (AMARAL FILHO, 1986)
A vegetação do pantanal é um mosaico de espécies de plantas dos ecossistemas
circunvizinhos (cerrado, floresta amazônica e chaco), repetindo esse padrão quando
tratamos de diversidade de animais, sendo raras as espécies endêmicas (CALHEIROS &
FONSECA JR, 1996).
O trabalho foi realizado na porção norte da região pantaneira, no local
denominado Pantanal de Poconé, no município homônimo, a margem direita da estrada do
Porto Cercado, local chamado de Parque SESC Baía das Pedras, apêndice do Hotel SESC
Pantanal - Porto Cercado, no período de 02 a 09 de setembro de 2004. A área possui
basicamente as mesmas características gerais do Pantanal norte citadas acima, localizado
nas coordenadas 16º30’S e 56º25’W (Figura 01).
98

Metodologia
Modelo de Amostragem
Em uma área de 6.000 m de comprimento ao longo da cerca que divide a
propriedade do SESC, foram estabelecidos 12 unidades amostrais a cada 500 m de 250 m
de comprimento do lado esquerdo da cerca, cada uma manteve o nível topográfico
uniforme do marco 0 m até o 250 m (Figura 01). Cada unidade amostral foi denominada
pelo valor da distância que esta se encontrava na área amostral, assim temos as isolinhas:
500 m, 1000 m, 1500 m, e assim sucessivamente.
Denominamos esse tipo de marcação como “modelo de isolinhas de nível
topográfico”, isolinhas são um tipo de transecto com o mesmo nível topográfico em todo o
seu comprimento, portanto no interior de cada isolinha não há um gradiente topográfico,
porém existe variação topográfica entre as isolinhas. Conseqüentemente são boas
ferramentas para verificar como as comunidades e populações respondem a variação
topográfica, fazendo comparações entre as linhas.

Coleta de Dados
Primeiramente foram coletados os dados abióticos, tais como: topografia,
granulometria do solo, umidade do solo, nível da lâmina d’água, e matéria orgânica do
solo, para caracterização da área.
Os coleoptera foram coletados através de armadilha de queda tipo pit fall, feitas
de alumínio com capacidade de 350 ml. Estas foram enterradas até o nível do solo a cada
50 metros, do lado esquerdo da isolinha, então, em cada linha foram colocadas 5
armadilhas, e no total foram 60 armadilhas.
Nas armadilhas, durante as primeiras 24 horas, colocou-se uma mistura de água
com detergente, para quebrar a tensão superficial da água, fazendo com que os insetos ao
cair na armadilha, afundem. A partir das 24 horas, ou seja, no segundo dia, adicionou-se a
essa mistura, álcool a 70% ou formalina 4%. Completando 48 horas, retirou-se as
armadilhas, todo seu conteúdo foi transferido para garrafas de armazenamento, para
posterior triagem.
Os outros dados utilizados como possíveis preditores da diversidade de
coleoptera, tais como, biomassa de serapilheira, abundância de arbóreas e gramíneas,
foram obtidos de trabalhos realizados simultaneamente com este, por outros pesquisadores,
durante a disciplina de Ecologia de Campo, realizada pela Pós Graduação em Ecologia e
Conservação da Biodiversidade do Instituto de Biociências-UFMT.
99

Triagem das Coletas


Os coleoptera capturados foram triados em lupa esterioscópica, separado-os por
morfoespécies. Os outros artrópodes não foram considerados.

Análise dos Dados


Determinou-se abundância e riqueza de coleoptera obtidos nas armadilhas e sua
distribuição no gradiente topográfico entre as linhas. Em seguida foi calculada a riqueza
esperada para a comunidade, pelo método de estimativa de riqueza Jackknife, do programa
Ecological Methodology (KREBS, 1998). Os cálculos da diversidade e equidade foram
calculados utilizando o programa MVSP versão 3.13c.
Depois de testar a normalidade dos dados, e verificar que os mesmos possuíam
distribuição normal, foram feitas análises de correlação de Pearson, para verificar se havia
correlação entre a diversidade de coleoptera e outras variáveis abióticas (tais como,
topografia, granulometria do solo, nível da lâmina d’água) e bióticas (abundância e riqueza
de palmeiras, arbóreas, e formas de vida como lianas, gramíneas, ervas). As correlações
que apresentaram coeficiente de correlação (CC) superior a 0,6, a posteriori, foram feitas
regressões lineares, ambas calculadas através do programa SISTAT versão 10.

RESULTADOS
A caracterização geral da área, encontra-se esquematizada na Figura 2. É
interessante notar que a área escolhida para o estuda apresenta uma diversidade de habitats,
cada qual com sua topografia e conseqüente lâmina d’água característica. As áreas com
menor nível topográfico, são aquelas que permanecem com a lâmina d’água por um tempo
maior se comparadas com as mais elevadas.
O total de indivíduos amostrado foi 389, distribuídos em 24 morfoespécies. A
isolinha que apresentou maior abundância, riqueza e conseqüentemente maior diversidade
de coleoptera foi a 3000 m, sendo que a apresentou menor valor foi a 4000 m (Figura 3). A
morfoespécie com maior ocorrência foi a 06, representando 33% do total de morfoespéceis
amostradas, que ocorreu em quase todas as isolinhas, exceto nas 4000 m e 5500 m .
Entretanto, na linha 5500 m não foi coletado nenhum exemplar de coleoptera, e para
melhor desempenho das análises estatística, foi excluída da mesma, uma vez que esse
resultado não representa a realidade do local, mas deve refletir apenas uma deficiência de
amostragem.
100

A distribuição da abundância, da riqueza e da diversidade de coleoptera, quando


plotados com o gradiente topográfico (Figura 04), percebe-se que os maiores valores da
diversidade (H’ = 2,95; H’ = 2,61; H’ = 2,25; e H’ = 2,16) ocorrem nas fitofisionomias
mais fechadas: cambarazal, mata sempre verde, transição entre pobeiro-cambarazal e
cambarazal joven respectivamente. Entretanto, a Correlação de Pearson para a diversidade,
riqueza e abundância versus a fitofisionomia mostrou que estatisticamente essa observação
não se confirma (r = 0,211; 0,093; 0,057 respectivamente).
A riqueza esperada da comunidade de coleoptera (Figura 05) foi calculada pelo
método Jackknife, esta estimativa serve para saber quão boa foi sua amostragem, uma vez
que lhe mostra qual seria a riqueza esperada para uma determinada amostra com o
intervalo de confiança. Amostras confiáveis apresentam um intervalo de confiança
pequeno, e o valor de riqueza encontrado dentro desse intervalo. Assim, este trabalho
apresentou para alguns valores da riqueza estimada, um intervalo de confiança grande,
podendo indicar que para obter um valor mais confiável desta, seria necessário um esforço
amostral maior. Quando os intervalos de confiança são pequenos significa que o
levantamento realizado se aproximou da realidade.
Na tabela I estão os resultados da diversidade (H’) e da equidade (evenness). A
menor diversidade e a equidade foram na isolinha 4000 m com o valor de 0,0 para ambos,
pois só ocorreu um indivíduo da morfoespécie 05; a segunda menor diversidade foi na
isolinha 2000 m, com H’= 0, 89 e E= 0,72. A maior diversidade apresentada foi na isolinha
3000 m, com H’=2,95 na e E=0,77.
Os resultados das correlações de Pearson entre a diversidade, a riqueza e
abundância de coleoptera versus a biomassa da serapilheira apresentaram valores de
correlações baixos, r = 0,192; 0,403; 0,425 respectivamente. O que descartou a segunda
hipótese levantada e mostrou que nas condições de tempo, espaço e metodologia
apresentadas nesse trabalho, a serapilheira não foi preditora da diversidade de coleoptera.
Também foram feitas correlações entre a diversidade, riqueza e abundancia versus
fitofisionomia, porcentagem de argila no solo (pois na análise granulométrica esta foi a
única que variou), umidade relativa do solo, topografia, abundância e riqueza de palmeiras,
arbóreas e gramíneas.
A abundância e riqueza de coleoptera apresentaram fracas correlações negativas
coma porcentagem de argila no solo, r = 0,698 e 0,660 respectivamente. Assim, para saber
o quanto da variação da abundância e riqueza de coleoptera é explicado pela variação da
porcentagem de argila no solo, foram feitas regressões lineares, que mostraram que essas
101

correlações só explicam 48,7% e 43,6% da variação da abundância e riqueza de coleoptera


em função da porcentagem de argila do solo (Figura 06)
Observou-se uma correlação positiva fraca entre riqueza e diversidade de
coleopteras com abundância de arbórea (r = 0,714 e 0,720), a regressão mostrou que
apenas a metade das variações é explicada por essa correlação, R2 = 0,51, embora seja
significativa (Figura 07).
A maior correlação observada foi negativa entre abundância de coleoptera versus
abundância de gramíneas (r = 0,893), a regressão demonstrou que esse padrão é explica
aproximadamente 80% da variação encontrada (R2 = 0,798), sendo altamente significativo
(p = 0,000). Um valor alto de coeficiente de correlação negativo também foi observado
entre a riqueza e abundância de gramíneas (r = 0,820), com coeficiente de regressão mais
baixo (R2 = 0,672, p = 0,002). Entretanto quando se analisou a diversidade versus a
abundância de gramíneas, ainda se observou a correlação negativa, porém fraca (r =
0,601), sendo que o resultado da regressão estava no limite da significância, p = 0,051 e R2
= 0,0361 (Figura 08).

DISCUSSÃO
A área estudada é um exemplo característico do mosaico de habitats que constitui
o pantanal (Figura 02), dessa forma, a distribuição da diversidade de coleoptera nesses
diferentes habitats, reflete essa heterogeneidade (Figura 03) ao longo do gradiente
topográfico. Esperava-se encontrar um valor de diversidade maior nos locais mais
elevados, uma vez que estas áreas sofrem um estresse de inundação menor, representando
ambientes favoráveis durante a cheia do pantanal. Mas apesar da diversidade ter
apresentado certa tendência ascendente nesses locais (Figura 04), a correlação apresentada
foi muito fraca. Também foi observada uma fraca correlação negativa entre a porcentagem
de argila no solo e a abundância de coleoptera, ou seja, no pantanal, coleoptera de solo
parece preferir solos menos argilosos.
Esses dados indicam, que os locais que representariam refúgios para a inundação,
ou seja, ambientes com altas cotas topográficas, não servem como indicadores de alta
diversidade de coleoptera. Entretanto os pontos com altas diversidades, isolinhas 3000 m,
500 m, 2500 m e 3500m são áreas com a vegetação predominantemente arbórea,
sombreada, com camada de serapilheira expressiva, exceto a isolinha 2500 m, que se
localiza em um local com predominância do Pombeiro (vegetação dominante é do gênero
102

Combretum). Entretanto a correlação não apresentou resultado robusto para hipótese,


apesar da indicação dos dados não há confiabilidade estatística.
Assim, essas áreas que apresentaram maior diversidade e são mais florestadas,
conseqüentemente possuem uma maior biomassa de serapilheira, apresentando assim mais
recursos disponíveis para os coleoptera, o que poderia refletir na sua diversidade. Segundo
ALMEIDA et al (1998), as folhagens é o microhabitat que talvez abrigue, individualmente
a maior diversidade de inseto. MARINONI & GANHO (2003) observou em seu trabalho
com a fauna de coleópteros do Parque Estadual de Vila Velha no Paraná, que os coleoptera
do solo (coletadas com pit fall) estão mais relacionada com as características do folhiço, do
que, a fauna coletada com armadilha malaise, que está mais relacionada com as
características vegetais.
A hipótese testada nesse trabalho, era que as isolinhas localizadas em locais com
maior biomassa de serapilheira, apresentariam uma maior diversidade, baseada nas
hipóteses de concentração, abundância e tamanho do recurso. A hipótese da concentração
do recurso prediz que, as manchas com uma densidade elevada de um recurso, sustentam
uma alta riqueza de espécie que dependem desse recurso específico. A hipótese da
abundância do recurso prediz que os locais que oferecem mais recursos sustentam mais
espécies. A hipótese do tamanho do recurso prediz que manchas de recursos maiores
sustentam mais espécies do que manchas menores (PAIVINEN, 2004).
Apesar das hipóteses teóricas citadas acima, o resultado da correlação simples de
Pearson não detectou a tendência da hipótese proposta, tanto para a diversidade, como para
a riqueza e abundância, os coeficientes apresentados foram baixos (r = 0,192; 0,403; 0,425
respectivamente), descartando a hipótese deste trabalho que acreditava que a diversidade
de coleoptera está correlacionada positivamente com a biomassa de serapilheira.. Podendo
indicar que esta talvez não seja a melhor variável para demonstrar a relação dos recurso
com a diversidade. Ou ainda realmente a serapilheira não é uma boa preditora da
diversidade de coleoptera no pantanal.
A correlação entre a fitofisionomia e a diversidade, riqueza e abundância, também
foi igualmente irrelevante (r = 0,211; 0,093; 0,057 respectivamente). Embora seja
interessante ressaltar que foi observada uma fraca correlação positiva entre abundância de
arbórea com a riqueza e diversidade de coleoptera (Figura 07), ambas significativas
(p<0,05). Essa fraca correlação que ser a responsável pela tendência ascendente da
diversidade observada na figura 04, uma vez que, os níveis topográficos mais elevados
correspondem aos locais que apresentaram maior abundância de árvores.
103

A correlação mais significativa obtida foi negativa e entre a abundância de


gramíneas com a abundância e riqueza de coleoptera (Figura 08), interessantemente a
diversidade apresentou correlação negativa fraca com a abundância de gramíneas e no
limite da significância.
Este resultado que podemos concluir que em ambientes onde as gramíneas são
ausentes ou raras, provavelmente haverá uma alta diversidade de coleoptera. Entretanto
falta saber o porque dessa relação inversa, uma vez que, segundo FERNANDES (2004),
diz que a teoria da arquitetura da planta que prediz uma correlação positiva entre as
espécies de inseto do solo e a complexidade estrutural da planta, garantindo assim mais
heterogeneidade espacial, conseqüentemente mais opções de nichos, porém para as
condições presentes no pantanal, ou para a metodologia aplicada nesta pesquisa, esse
princípio não se aplica.
Vale ressaltar que esse mesmo autor (FERNANDES, 2004), aborda a hipótese da
riqueza em meso-habitats, que defende que a riqueza de insetos do solo será maior em
meso-habitats do que habitats xéricos. Portanto, as áreas com maior abundância de
gramíneas apresentaria uma microclima semelhante aos ambientes xéricos, durante os
períodos de seca no pantanal (estação em que o trabalho foi realizado), pois o solo está
mais desprotegido da radiação solar, o que leva uma dissecação do estrato logo acima do
solo.
Já as áreas com presença de árvores, apresentariam um microclima semelhante ao
meso-habitat, porque a copa as árvores manteria a temperatura e umidade do ar mais
ameno, e juntamente com a serapilheira, formariam uma barreira à evaporação d’água,
mantendo por mais tempo a umidade do solo propicia a permanência de várias espécies de
coleoptera. Contrariamente ao que ocorre no campo aberto, onde as gramíneas
predominam, o sol incide no solo mais facilmente, ressecando-o, tornando-o um habitat
inóspito.
São necessários maiores estudos investigando como a diversidade de grupos de
animais (vertebrados ou invertebrados) é distribuída em mosaicos de habitats no Pantanal,
uma vez que este tipo de abordagens são pouca ou inexistentes. Trabalhos dessa natureza
são importantes para manejo, conservação e principalmente pelo conhecimento por si só.
Concluindo, as duas hipóteses levantadas não se confirmaram, demonstrando que
altos níveis topográficos e alta biomassa de serapilheira não predizem diversidade de
coleoptera. Foram observadas fracas correlações negativas entre abundância e riqueza de
coleoptera do solo com a porcentagem de argila no solo; fraca correlação positiva entre
104

riqueza e diversidade de coleoptera com abundância de arbóreas e fortes correlações


negativas, altamente significativas, entre riqueza e abundância de coleoptera com
abundância de gramíneas. Os resultados obtidos não se encaixaram nas hipóteses de
tamanho, abundância e tamanho da mancha do recurso, hipótese da arquitetura da planta,
porém mais estudos são necessários uma vez que não foi avaliada a variação sazonal da
diversidade de coleoptera. A hipótese do meso-habitat parece ser a que mais se aplica para
explicar os padrões encontrados, uma vez que os maiores valores de diversidade foram
obtidos em locais com condições microclimáticas medianas (meso-habitats) e os menores
valores em áreas que se assemelham habitats xéricos, entretanto também são necessários
maiores estudos pra confirmar se esta tendência também se aplica nas variações sazonais
na comunidade de coleoptera.

AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Conservação, aos Professores e
Colaboradores da Disciplina de Ecologia de Campo que estiveram conosco durante o
curso: Profª Claudia Callil, Profª Cátia Nunes da Cunha, Profª Flavia Costa, Prof°
Francisco de Arruda Machado, Prof° Gonçalo Ferraz, Profº Jerry Magno, Profª Lucia
Mateus e Profº Pierre Girard. Aos técnicos Francisco de Assis Rondon, Hélio Ferreira e
Vantonildo. E, por último, mas não menos importantes, aos meus colegas de curso pela
ajuda, pelos momentos de descontração e pelos incentivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, L.M.; RIBEIRO-COSTA, C.S.; MARINONI, L. 1998. Manual de Coleta,
Conservação, Montagem e Identificação de Insetos. Série: Manuais Práticos para
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Causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de políticas públicas.


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do Alto Paraguai. Relatório da 1ª fase. Brasília-DF. t.2.

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PR. pp 215-226.

CALHEIROS, D.F.; FONSECA J.R.W.C. da. 1996. Perspectiva sobre Estudos


Ecológicos sobre o Pantanal. EMBRAPA, Corumbá-MS. pp 12-24.

DA SILVA, C.J. 1990. Influência da Variação do nível d’água sobre o funcionamento


de uma área alagável do Pantanal Mato-grossense (Pantanal de Barão de Melgaço,
município de Santo Antônio de Leverger e Barão de Melgaço - MT). Tese de
Doutorado - Ciências Biológicas. São Carlos - UFSCar, 215p.

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ANEXOS

Figura 01: Imagem de satélite da área estudo, demonstrando as formas das isolinhas.
107

Perfil topográfico do transecto / Matéria Orgânica

j
Campo
sempreverde

Pombeiro

transição
Matade
Cambarazal
Pombeiro

Carvoeiro
Carambazal
Mata

inundável
jovem

Campo
120 25

100
20

80
15
60
Elevação(cm)

MO(g*100)
10
40

5
20

0 0
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

Distância ao longo do transecto (m)


Lamina de água Topografia do Ponto 0 (corrigido) Matéria Orgânica

Figura 02: Caracterização geral da área de trabalho, está representados no gráfico o nível topográfico, a
lâmina d’água, a matéria orgânica, e a fitofisionomia da parcela. Há uma variedade de habitats, o que
chamamos de mosico de habitats.

1000

100

10

1
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

0,1

Abundância Riqueza Diversidade


Figura 3: Gráfico da abundância (nº de indivíduos), riqueza (nº de morfoespécies) e índice de diversidade
Shannon-Wiener (H’) para coleópteros, nas isolinhas. Picos de valores máximos: isolinha 3000 e 4500.
OBS.: isolinha 5500 foi excluída.
108

Mata de transição
Campo Sujo

Cambarazal

Cambarazal
10,00

Mata sempre
Pombeiro

jovem
inundável
campo

verde
Índice de Diversidade (H')

1,00
3 9 14 17 26 29 30 32 44 46 61

Gradiente topográfico (cm)


Coleópteros

0,10
Gradiente topográfico (cm)
o Coleoptera

Figura 04: Gráfico representando como a abundância, riqueza e diversidade de coleópteros estão distribuídas
ao longo do gradiente topográfico. O valor do nível topográfico do ponto 5500 é de zero.

Figura 05: Riqueza esperada (Jackknife) em nº de morfoespécies de coleópteros para as diferentes isolinhas.
O valor da 5500 é zero.
109

150 15

Abundância de coleopteros

Riqueza de coleoptera
100 10

50 R2=0,487 5
R2102,41
b= =0,698
b=-259,708
p=0,017
p=0,017 R2=0,436
b= 11,21
p=0,017
0 0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
% de argila no solo % de argila no solo

Figura 06: Gráficos das regressões lineares entre abundância de coleópteros x porcentagem de argila no solo
e riqueza de coleópteros x porcentagem de argila no solo. R2 indica o quanto da variação de abundância e
riqueza de coleopeta é explicada pela porcentagem de argila no solo, b é o intercepto da regressão e p é o
valor de significância.

Tabela I: Resultado dos índices de Diversidade de Shannon-Wiener (H’) e Equidade (evenness) para cada
isolinha amostrada.Obs: A isolinha 4000 apresentou um indivíduo (morfoespécie 05) com uma ocorrência.
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 600

Diversidade
2,61 1,79 0,92 0,87 2,25 2,95 2,16 0,0 0,99 0,92 1,32
(H’)

Equidade
0,74 0,98 0,70 0,72 0,96 0,77 0,78 0,0 0,35 0,81 0,57
(Evenness)

15 3
Diversidade de coleopteros (H')
Riqueza de coleopteros

10 2

5 Rb2=0,51
= 0,037 1 R2 = 0,518
bR=23,398
= 0,51 bb==0,008
1,033
pp==0,014
0,014 Rp2 == 0,012
0,518
p = 0,012

0 0
0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
Abundância de arborea (nº de indivíduo) Abundância de arborea (nº de indivíduo)
Figura 07: Gráficos das regressões lineares da riqueza e diversidade de coleópteros x abundância de
arbóreas, os valores de b, R2 e p estão representados no gráfico. R2 indica o quanto da variação de abundância
e riqueza de coleopeta é explicada pela porcentagem de argila no solo, b é o intercepto da regressão e p é o
valor de significância.
110

A bu nd ânc ia de c o leo pte ro s


1 50
RR2= =0,798
2
0 ,7 9 8
bb == 106,834
- 1 ,1 7 2
pp ==0,000
0 ,0 0 0

1 00

50

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00
15 A b un dân c ia de gra m ín e a s
R iqu ez a de c o leó pte r o s

R 22 = 0 , 8 2 0
R = 0,820
bb == -11,362
0 ,0 9 7
pp = 00,002
,0 0 2

10

5
D iv e r s i da de de c o le ó p te r os ( H ')

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00
3 A bu nd ânc ia de gra m ín e a s
R 2 = 0 ,3 6 1
R22== 0,361
0,361
R
bb b
===2,489
- 0 ,0 1 6
2,489
pp p
== =
0,051
0,051
0 ,0 5 1

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00
A bun d â n c ia d e g ra m ín e a s

Figura 08: Gráficos representando as regressões lineares entre abundância, riqueza e diversidade x
abundância de gramíneas. Os valores de R2, b e p estão representados nos gráficos. R2 indica o quanto da
variação de abundância e riqueza de coleopeta é explicada pela porcentagem de argila no solo, b é o
intercepto da regressão e p é o valor de significância.
111

VARIAÇÃO DA RIQUEZA DE FORMICIDAE (HYMENOPTERA) EM


GRADIENTE TOPOGRÁFICO EM MESOESCALA NA BAÍA DAS PEDRAS –
SESC - PANTANAL DE POCONÉ – MT

Fernando Hiroshi Aburaya


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: aburayafh@yahoo.com.br.
(Com 07 figuras e 05 gráficos)

RESUMO: O Pantanal apresenta características marcantes influenciadas pelo pulso de


inundação. Tal fenômeno acarreta no bioma uma heterogeneidade espacial, capaz de
modelar diferentemente as populações locais. Essas mudanças podem estar direta e
indiretamente ligadas com os diferentes níveis topográficos. De acordo com alguns autores
estes desníveis acarretam um maior tempo de alagamento afetando os processos
ecológicos, como por exemplo, a estruturação dessas populações. O trabalho teve como
objetivo determinar a variação da riqueza de Formicidae em um gradiente topográfico em
mesoescala na Baía das Pedras, localizado no Pantanal de Poconé. Em uma parcela de
1500000 m2, foi demarcado um transecto de 6000 m e confeccionado linhas perpendicular
de 250 m, no mesmo nível topográfico. Nas isolinhas foram instaladas cinco armadilhas Pit
fall e cinco conjunto de iscas atrativas, a cada 50m durante 6 dias. As variáveis preditivas
foram: topografia, umidade relativa do solo (UR), diversidade de arbóreas e serrapilheira.
As coletas resultaram em 4565 indivíduos de 29 morfotipos. Através da correlação de
Pearson e regressão linear pode se determinar a riqueza de formiga está correlacionada
com (i) Abundância de Arbóreas (R2 = 0,69 e P = 0,013) e (ii) Topografia (R2 = 0,64 e P =
0,024), e inversamente com (iii) Serrapilheira (R2 = -0,64 e P=0,025) e (iv) UR (R2 = 0,74 e
P = 0,006). Os dados confirmam que riqueza de espécies está diretamente sendo influência
pelas variáveis ambientais locais. Portanto estudos de Inventariamento de Formicidae em
áreas com heterogeneidade espacial devam abranger diferentes habitats com meso escala.
Palavras Chaves: Pantanal, Variação, Topografia, Riqueza e Formicidae.

INTRODUÇÃO
O Pulso de Inundação segundo Junk e Da Silva (1996) é determinante dos
processos ecológicos, proporcionando alterações ambientais, exigindo dos organismos a
112

capacidade de desenvolver adaptações (plasticidade) nos períodos de severos estresses


hídricos. Tais adaptações podem propiciar aos organismos variação no comportamento
migratório, formas anatômicas e até mesmo no ciclo de vida, variando a densidade das
colônias de acordo com a disponibilidade alimentar (Hölldobler & Wilson, 1990). Com
isso muitos autores incluindo Pott & Pott (2000) chamam a atenção para as flutuações
populacionais, explicadas pelos diferentes níveis de inundação, ou seja, o tempo de
permanência da água nos ambientes alagáveis. Outro fator de estress adicional é
ocasionado pelos incêndios que afetam o Pantanal durante o período da seca (Junk & Da
Silva, 2003). Pode ainda ocorrer com diferentes intensidades de acordo com a Umidade
Relativa do comburente (matéria vegetal).
Alguns grupos de insetos são ótimos indicadores biológicos e especialmente úteis
em monitoramentos ambientais. Ao se trabalhar com a Família Formicidae tais indícios são
facilmente interpretados pelo fato por se tratar de um grupo de organismos relativamente
bem estudados, táxon bem diversificado e de fácil identificação, comuns o ano inteiro e por
responderem de forma rápida às alterações no ambiente e ainda de pela fácil amostragem
(Hölledobler & Wilson, 1990; FREITAS et all, 2003). Mesmo sendo a família mais
abundante dentre os Artropodes e podendo ser mais abundante que suas próprias presas
(Tobin,1995 apud Davidson, 1996; Silveira, 2002), formigas em geral são bastante
sensíveis a heterogeneidade fisionômica tendo grande influência sobre a riqueza de
espécies de formigas, já que elas apresentam diferentes especialidades quanto na forma de
colonização como em escolha de habitats. Tendo espécies que são especialistas de
pastagens, outras em áreas de florestas e ainda as são generalistas, podendo ocorrer em
ambos os locais (Schoereder, 2003).
Heterogeneidade de Habitats estão incorporados aos estudos de Ecologia de
Paisagem (EP) e isso vem sendo muito discutido em Fóruns sobre Ecologia de Paisagem e
Planejamento Ambiental como prioridades em ações integradas para a minimização dos
impactos ambientais adversos à conservação da biodiversidade (Pires, 2003).
Devido às diferenças do gradiente topográficas e heterogeneidade de habitats
existentes no Pantanal, há uma probabilidade que estas populações estejam distribuídas em
diferentes estruturas de comunidade sob a influência do gradiente. Na tentativa de poder
avaliar a riqueza de Formicidae, o presente trabalho teve como objetivo determinar a
variação da riqueza de Formicidae, utilizando métodos de isolinhas topográficas em
mesoescala em uma parcela na Baía das Pedras, levando em consideração que as avariáveis
113

preditivas (topografia, abundância de arbóreas e biomassa sde serrapilheira).


Subentendendo que tais variáveis possuem forte influência na riqueza de Formicidae.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo

O Pantanal é maior bioma mato-grossense com uma extensão de


2
aproximadamente 140000 Km (Oliveira, et all, 2002), possuindo uma rica biodiversidade
de organismos com fenologias das mais variadas possíveis, sendo influenciada por dois
regimes temporários denominado de pulso de inundação. Tal fenômeno é marcado pelos
extremos dos processos hídricos, compreendendo a seca e cheia.
A área de estudo está localizada no município de Poconé, denominada Baía das
Pedras (16º 29’ 7.06’’ S e 56º 24’ 7.00’’) (figura 01) de propriedade do SESC-
PANTANAL. Está à 140 Km de Cuiabá, cuja formação vegetacional é o Pantanal.
Segundo Hasenack et al. (2003) o clima predominante baseado na classificação de Köppen
é Aw (Clima tropical úmido com inverno seco), cuja precipitação pluviométrica média é de
1.500 mm anual. Apresentando duas estações bem definidas seca (abril à setembro) e
chuva (outubro à março), com temperaturas média anuais de 24º C podendo chegar ao
máximo de 42ºC e mínimo de 4º C. A formação geológica de coberturas dobradas do
Fanerozóico. Solo do tipo Latossolo vermelo-amarelo, Podzólico vermelho amarelo,
Planossolo, Solonetz-Solodizado, Plintossolo, Vertissolo e Solos Aluviais, com uma
altitude de 91 m (Ferreira, 2001).
A área utilizada para a pesquisa possui uma extensão de 1.500.000 m2
denominada de Parcela. Na qual podem ser encontradas áreas inundáveis com a presença
de vegetações rasteiras chamado de Campo Inundável (gramíneas), Mata sempre verde,
com predominância de Vochysia divergens, Campo sujo com predominância Combretum
sp., Mata de Transição e ainda áreas com longos períodos de alagamento (corixos). A
presença de áreas mais altas chamadas de Capões, Murundus e cordilheiras (Pott & Pott,
2000) proporciona uma heterogeneidade vegetacional formando um mosaico de habitats
para as espécies da fauna. Que por sua vez, pode se notar que a fauna silvestre é
privilegiada com diferentes espécies da macro e meso fauna.
A caracterização das isolinhas foram consideradas de acordo a predominância da
fisionomia encontradas. Obtendo assim 6 diferentes fisionomias; (i) Mata Sempre Verde,
encontradas nas isolinhas 500m e 1000m (ii) Pombeiro, isolinhas 1500m, 2000m, 2500m e
4000m (figura 02); (iii) Cambarazal, 3000m e 3500m; (iv) Mata de Transição, 4500m
114

(figura 03); (v) Campo Sujo, 5000m (figura 04) e (vi) Campo Inundável, nas isolinhas
5500m e 6000m (figura 05) (Nunes, com. pess. 2004) (quadro 01).

Metodologia de Amostragem
Na parcela definiu-se um transecto ao longo de sua margem de 6000 m. A cada
500 m, foram demarcadas as isolinhas com 500 metros de comprimento, as quais estando
no mesmo nível topográfico.
Para a amostragem de formigas foram empregadas armadilha do tipo Pit fall e
Iscas Atrativas de sardinha e frutas. Tais armadilhas foram distribuídas ao longo das
isolinhas, instaladas nos devidos pontos previamente marcados (50, 100, 150, 200 e 250m).
Em cada ponto foram colocadas um conjunto de armadilhas, constituído de um Pit fall e
duas armadilha de Isca Atrativa (uma de sardinha e uma de fruta), durante um período de 2
dias. Os Pit falls foram confeccionadas com latas de alumínio (refrigerantes) com
capacidade de 350 ml, com uma superfície de abertura com 7 cm2, o esforço de cada linha
foi de 35 cm2/dia, ou seja, 70 cm2/linha. Cada Pit fall recebeu uma mistura de formalina à
0,5% e detergente, para a fixação dos espécimes coletadas. Já as armadilhas de Iscas foram
colocadas o período da manhã no intervalo das 6:00 hs às 12:00 hs. Horário definido como
pico de movimentação por formigas de hábito diurno (Weseloh, 2001). Foram iscadas
durante dois dias consecutivos em cada isolinha com permanência de 3
horas/dia/linha/Isca, ou seja, 12 horas/linha de armadilha atrativa, com fruta e sardinha.
Ao término do período amostral, os Pit falls foram recolhidos e o material
coletado levados para o laboratório sendo então triado, agrupados em morfotipos, com
auxílio de lupa estereoscópica (40X).
As duas metodologias de capturas foram postas nos mesmos pontos de coletas ao
longo das linhas (figura 6) com distância de 1m para esquerda (Pit fall) e 1m para direita
(Isca Atrativa), portanto a totalização dos esforços amostrais para a parcela, foi de 60 Pit
falls abertos por um período de 2 dias (48 horas/linha) e 240 armadilhas de iscas expostas
por 3 horas/linha.
Para as análises estatísticas foram utilizadas pacotes estatísticos SYSTAT version
10.2 e Biological Methodology.

Variáveis Preditivas da riqueza Formicidae


Variáveis ambientais são preditoras da riqueza de fauna de solo Ekschmitt et all
(2003). Diferenças topográficas em mesoescala pode ter influência diferentemente sobre as
variáveis. Para as coletas da diferenças topográficas foram realizadas com auxilio de
115

mangueira de nível (usada em construção), onde para cada linha foi calculado qual a
variação de altitude entre elas. Ao final foi determinado que o ponto mais baixo seria
considerado o ponto com nível 0. Os dados da umidade relativa do solo foram obtidos
através da mensuração com Medidor de Umidade de Solo Theta Probe modelo HH2 AT -
Delta-T-Services (ML 2X), cujo resultado é dado em porcentagem (%) de Umidade
relativa (UR) com uma precisão de 5%. Em cada ponto da isolinha (50, 100, 150, 200 e
250m) foi realizada a medida da UR, introduzindo 3 ponteiras de aço inox à 10 cm de
profundidade. Nos mesmos pontos, porém 1 metro da linha foi realizado a amostragem de
liteira (matéria morta) com auxilio de um quadrante de 25x25 cm. Toda a matéria morta
encontrada dentro do quadrante foi recolhida e levada ao laboratório para a secagem em
estufa à 60º C, para eliminar o efeito da umidade da M.O. Determinando assim a biomassa
de liteira (Serrapilheira) (Tabela 01).
A diversidade de arbóreas encontradas nas isolinhas foi feita através do
inventariamento quali-quantitativo ao longo de todas as isolinhas na parcela. Sendo que
para cada isolinha foi determinado uma distância de 20 metros de cada lado.

RESULTADOS
O estudo realizado nos meses de agosto e setembro de 2004, cuja estação
compreende os meses de seca no Pantanal (Ferreira, 2001). Utilizando metodologias
padronizadas para todas as isolinhas, proporcionaram a captura de 4565 indivíduos
distribuídos em 29 morfotipos. Uma rápida análise da eficiência dos métodos de captura
pode-se notar a diferença significativa entre os métodos de amostragens de P <0,05 e R2 =
0,52 (ANOVA), sendo mais bem representada quando analisadas as amostras de forma
unificada para os pontos de coletas (figura 07). A Riqueza de Formigas estimada a partir da
estimativa de Jackknife com seus intervalos de confiança (Ecological Methodology). Os
índices de riqueza (Jackknife) estimados são baseados na presença e ausência das espécies
nas isolinhas, não se importando com a abundância das mesmas. Os dados sobre a
Diversidade de Arbórea e Biomassa de Serrapilheira foram coletados por Arruda (2004) e
Santos (2004), respectivamente, como variáveis preditivas da comunidade de Formicidae,
analisadas neste trabalho.
Foram calculados os coeficientes de correlação de Pearson entre os fatores
preditivos e a diversidade, abundância e riqueza de Formicidae (tabela 2). As correlações
mais fortes e com significância foram entre Riqueza de Formicidae e as variáveis:
Topografia (gráfico 01), Abundância de Arbórea (gráfico 02), Biomassa de serrapilheira.
116

(gráfico 03) e Umidade Relativa do Solo (gráfico 04). Para Abundância e Diversidade (H’)
de Formicidae não obteve correlações significativas, como mostra os valores de “P” e “R2”
(tabela 02). Com a variação topográfica (altitude das isolinhas) pode se notar gradiente
com uma heterogeneidade fisionômica marcante na parcela, dando indícios de que poderia
haver diferentes estruturas de comunidade biótica local.
O maior índice de Diversidade (H’) (Tabela 02) foi encontrado na isolinha 3500
de fisionomia Cambarazal e o menor na isolinha 6000 com fisionomia de Campo
inundável (gráfico 05). Após análise do gráfico mostrando a tendência dos dados à
normalidade comprovada através da diferença da curtose e seu erro (< 2), foram realizadas
regressões de Pearson (SYSTAT versão 10.2) entre as variáveis correlacionadas com a
riqueza de formigas (tabela 2) assumindo como significativa os valores em que P < 0,05
com 95% de confiança.
Para a análise da semelhança de riqueza entre as fisionomias, foram calculados
aos Índices de Similaridade de Sorenson (Quadro 01). Tal índice descarta o peso da
abundância, aumentando assim a representatividade das espécies menos amostradas.
Formigas têm demonstrado ser pouco influenciado pela característica fisionômica Sarr et
all (2001) não apresentando significância também para a área estuda (P > 0,05). As
fisionomias Pombeiro e Campo Sujo obtiveram o maior valor de similaridade (0,800)
dentre as demais. As isolinhas com Fisionomia de Pombeiro compartilham pelo menos
50% das espécies encontradas nos locais. Já Campo inundado e Campo Sujo possuem uma
dissimilaridade total (tabela 01). Tais resultados induzem a concluir que a semelhança da
fisionomia pode ser um fator para a estrutura de comunidade de Formicidae (quadro 01).

DISCUSSÃO
De acordo com Campos et all (2003) a riqueza de formigas varia de acordo com a
abundância de Serrapilheira, porem em nosso estudo a correlação entre Riqueza de
Formigas e Serrapilheira (R2= -0,64 e P = 0,025) obteve valores totalmente inversos ao
esperado. Duas hipóteses são sugeridas para tal resultado: (i) Metodologia de amostragem
de formigas em Serrapilheira foi inadequada, devendo ser utilizada amostragem com
peneiramento de Serrapilheira ou (ii) Devido o tempo de alagamento nas áreas mais baixas,
propiciaram a abundância de gramíneas (Couto, 2004), que em geral possuem uma forma
de vida latente nos períodos de cheia, voltando ao seu crescimento no período da seca,
tornando-se muito abundante. Exceto quando pastadas por herbívoros (Pott & Pott, 2000).
Conseqüentemente, com a alta densidade, pode ocorrer a mortalidade da população por
117

abafamento, deixando uma grande quantidade de biomassa (matéria morta no solo) (Pott &
Pott, 2000). Com a chegada da seca, período em que ocorre as queimadas no Pantanal
(Junk, & Da Silva, 2003), esta biomassa seca se torna excelente combustível nos incêndios,
eliminando assim as populações de formigas.
As respostas obtidas da abundância de arbórea com riqueza de formigas são
esperadas, uma vez que Galbiati et all, (2003); Dauber et all (2003) obtiveram o mesmo
padrão de distribuição quando correlacionadas diferentes fisionomias em estudos com
fragmentos. Ou seja, a abundância de Arbóreas proporciona à áreas, estruturas florestais
muito importante para a comunidade de formigas (Antonini et all, 2003), constituindo uma
heterogeneidade de microhábitat, explorado por diferentes grupos de espécies de
Formicidae.
A correlação negativa entre Umidade Relativa do Solo foi esperada, pois a
umidade do solo está diretamente relacionada com o tempo de permanência da água.
quanto mais baixa for a área o tempo de inundação é maior pelo represamento de água nos
corixos, que por sua vez ocasiona maior umidade do solo nestes locais. Interferindo no
tempo de colonização nestes ambientes.
Apesar de não existir correlação entre a riqueza de formigas e diferentes
fisionomias, uma análise de similaridade de Sorenson entre Mata de Transição e Campo
Sujo, mostraram uma similaridade relativamente alta (similaridade = 0,80).
Compartilhando o maior número de espécies de formiga. Já Campo inundado e Pombeiro
não compartilharam nenhuma espécie (similaridade = 0). Estudos em microhabitat
poderiam ser melhor avaliado tais resultados.
Quando analisada a regressão múltipla das variáveis significantes (Stepwise -
Análise de Regressão Múltipla) a Abundância de arbórea com P=0,003 e R2 = 0,90, foi tida
como a variável preditiva de maior influência. Numa avaliação da heterogeneidade
proporcionada pelo gradiente topográfico em meso escala na Baía das Pedras pode-se
concluir que a distribuição de Formicidae está direta ligada com a Topografia.
Portanto fatores ambientais podem ser considerados como preditores da riqueza
de formigas, sendo assim para estudos de conservação na área amostrada deve-se levar em
consideração a sua totalidade heterogênica de habitats.

AGRADECIMENTOS
Ao coordenador Dr. Pierre Girard do programa de pós-graduação, Laura e Cristiane pela
organização dos assuntos burocráticos, a Professora Drª Claudia Tasso Callil, responsável
118

pela disciplina de ecologia de campo. Aos professores adjuntos da disciplina, Profª Drª
Cátia Nunes da Cunha, Prof. Dr. Jerry Magno F. Penha, Prof. Soraia Diniz, que muito
colaboraram no lapidamento dos projetos a serem desenvolvidos. Aos técnicos Hélio e
Assis que acompanharam toda a trajetória da disciplina, desde a organização, quanto à
execução da mesma, ao Vantonildo pelo transporte. Aos professores convidados, Flávia
Costa e Gonçalo Ferraz, que tiveram um papel significativo nas orientações técnicas. Aos

Guardas Parque que nos orientaram nos trabalhos de campo. Aos colegas de curso que
acompanharam nas discussões e execução dos projetos e Harumi, Midori e Carol, pelo
desenvolvimento do projeto individual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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121

ANEXOS

Figura 01 - Imagem Satélite da área de estudo (Parcela) com detalhe do transecto em branco.
Perpendicularmente encontra-s, em linhas menores estão localizadas as isolinhas em mesoescala na Baía das
Pedras – SESC/Pantanal, Poconé –MT.
Cortesia do Centro de Sensoriamento Remoto, 2004.
122

Figura 02 - Área de Pombeiro (isolinha


3500m) ao fundo da figura nota-se a presença
com Cambarazal Jovem. Fonte: Arruda 2004.

Figura 03 - Mata de Transição (isolinha


4500m) entre o Pombeiro e Campo Sujo.
Fonte: Arruda 2004.

Figura 04 - Campo Sujo (isolinha 5000m)


Fonte: Arruda 2004.

Figura 05 - área de Campo Inundável


(isolinha 5500) com a presença de
aldogoeiro bravo. Fonte: Arruda 2004.

Figura 6 - Disposição das armadilhas Pit fall e Iscas atrativas ao longo da linha.
A - Latas de Refrigerantes (350ml) enterradas ao nível do solo; B - Iscas de Sardinha e Frutas.
123

Tabela 01 - Dados coletados das variáveis bióticas e abióticas e diversidade de formigas na Baía das Pedras -
Pantanal de Poconé - MT.
Variáveis/Isolinhas 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000
Topografia (cm) 61 46 14 26 9 30 44 17 32 29 0 3
Umidade Relativa do solo (%) 5.43 3.20 7.75 5.20 5.45 4.95 0.60 3.13 3.35 2.5 9.48 15.7
Liteira (gr/m2) 186.1 170 165.2 196.2 160.3 295.3 174.1 83.8 368.8 61.4 438.2 462.4
Riqueza de Arbórea 25 16 0 0 0 8 9 5 12 4 0 0
Abundância de Arbórea 191 159 0 0 0 147 103 15 11 9 0 0
Diversidade de Arbórea 4.01 2.66 0 0 0 1.93 1.82 2.15 2.67 1.75 0 0
Riqueza de Formigas 17.8 18.8 14 14 15.8 19.8 16.6 14.8 11 14.8 11.2 4.6
Abundância de Formigas 220 775 38 225 542 2119 100 90 40 112 135 167
Diversidade de Formigas 2.7 1.5 3 1 1.5 1.3 3.1 3 1.9 2 2 0.61
Variáveis abióticos (Topografia, Umidade Relativa e quantidade de Matéria Vegetal Morta
(Serrapilheira) e bióticos (Riqueza e Abundância de Arbóreas), Índice de Diversidade de
Shannon (Arbóreas e Formigas). Riqueza e Abundância de Formigas, coletados na Baía
das Pedras, Poconé-MT.

Figura 07 - Diferenças significativas encontradas para os


diferentes métodos de amostragem utilizada (Box Plots). R2
= 0,52 e P < 0,05 (ANOVA). Note que as diferenças entre as
técnicas de amostragem são bem expressivas.

Tabela 02 - Valores de P para regressões entre as variáveis bióticas e abióticas com diversidade, riqueza e
abundância de formigas.
RIQUEZA DIVERSIDADE ABUNDÂNCIA
FORMIGAS/VARIÁVEIS 2 2
P - value R P - value R P - value R2
Topografaia (cm) 0,64 0,024 0,30 0,346 0,14 0,667
2
Liteira (gr/m ) -0,64 0,025 -0,49 0,107 0,08 0,804
Riqueza de arbórea 0,50 0,099 0,28 0,382 0,14 0,669
Abundância de arbórea 0,70 0,013 0,15 0,652 0,52 0,087
Diversidade de arborea 0,51 0,91 0,36 0,248 0,14 0,665
Umidade relativa do solo (%) 0,74 0,006 0,49 0,110 0,08 0,798
124

Gráfico 01 - Regressão entre Riqueza de Gráfico 03 - Regressão entre Riqueza de


Formigas e Topografia. Formigas e Biomassa de Liteira.
25 r2 = 0.644 25
P = 0.024 r2 = 0.638
20 P = 0.025
20
15
15
10
10
5
5
0
0
61 46 14 26 9 30 44 17 32 29 0 3

186.08

170

165.2

196.24

160.32

295.28

174.08

83.84

368.8

61.36

438.24

462.4
Topografia (cm)
Biomassa de Liteira (gr/m2)
Riqueza de Formigas Linear (Riqueza de Formigas) Riqueza de Formigas Linear (Riqueza de Formigas)
* Raiz quadrada do intervalo de intervalo de confiança . * Raiz quadrada do intervalo de confiança.

Gráfico 04 - Regressão entre Umidade Relativa


Gráfico 02 - Regressão entre Riqueza de
do solo e Riqueza de Formigas
Formigas e Abundância de Arbóreas
25 25 r2 = 0.738
r2 = 0.691 P = 0.006
20 P = 0.013 20

15 15

10 10

5 5

0 0
191 159 0 0 0 147 103 15 11 9 0 0 5.43 3.2 7.75 5.2 5.45 4.95 0.6 3.13 3.35 2.5 9.48 15.7

Abundância de Arbóreas (Nº de Ind.) Umidade Relativa do Solo (%)


Riqueza de Formigas Linear (Riqueza de Formigas)
Riqueza de Formigas Linear (Riqueza de Formigas)
* Raiz quadrada do intervalo de confiança. * Raiz quadrada do intervalo de confiança.

Fisionomias/ M.S. Pom. Pom. Pom. Cam. Ca.J. Pom. M.T. C.S. C.I. C.I.
Isolinhas 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000
M.S. 500 0.5926 0.522 0.609 0.75 0.643 0.583 0.435 0.5 0.522 0.476 0.125
M.S. 1000 - 0.583 0.333 0.4 0.552 0.64 0.5 0.286 0.583 0.545 0.235
Pom. 1500 - - 0.5 0.571 0.48 0.667 0.5 0.353 0.6 0.444 0.154
Pom. 2000 - - - 0.571 0.4 0.571 0.5 0.588 0.5 0.222 0
Pom. 2500 - - - - 0.538 0.545 0.381 0.333 0.571 0.421 0.143
Cam. 3000 - - - - - 0.615 0.64 0.364 0.64 0.435 0.222
Ca. J. 3500 - - - - - - 0.571 0.333 0.762 0.632 0.143
Pom. 4000 - - - - - - - 0.235 0.8 0.444 0.154
M.T. 4500 - - - - - - - - 0.353 0.267 0.2
C.S. 5000 - - - - - - - - - 0.667 0.308
C.I. 5500 - - - - - - - - - - 0.364
Quadro 01 - Apresenta as similaridades calculadas com índice de Sorenson para as isolinhas com diferentes
fisionomias predominantes. Legenda: M.S - Mata Sempre Verde; Pom. - Pombeiro; Cam. - Cambará; Ca.J. -
Cambará Jovem; M.T. - Mata de Transição; C.S. - Campo Sujo; C.I. - Campo Inundável.
125

Gráfico 05 - Estrutura da comunidade de Formigas em um gradiente


Topográfico na Baía das Pedras - Poconé-MT.

24 70
20 60
50
16
40
12
30
8
20
4 10
0 0
Mata Mata Pombeiro Pombeiro Pombeiro Cambarazal Cambarazal Pombeiro Mata de Campo Sujo Campo Campo
sempre sempre jovem transição inundável inundável
verde verde

Variação da Topografia (cm)

Diversidade Riqueza Abundância Topografia


126

VARIAÇÃO DA ABUNDÂNCIA DE ARTRÓPODES TERRESTRES EM FUNÇÃO


DE VARIÁVEIS ABIÓTICAS E BIÓTICAS NA BAÍA DAS PEDRAS NO
SESC/PANTANAL

Harumi Silva Kawatake


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: harumi_kawatake@zipmail.com.br.
(Com 02 figuras)

RESUMO: Este trabalho teve como objetivos gerar informações sobre a abundância e a
composição de artrópodes terrestres ativos e estudar algumas variáveis abióticas e bióticas
que podem estar envolvidas na variação da abundância de artrópodes na Baía da Pedras
SESC/Pantanal, em um transecto de 6 km, com 12 pontos. Foram coletados 2359
indivíduos pertencentes as Classes Arachnida e Insecta distribuídos em 12 ordens, sendo
que 7 indivíduos não foram identificados. Formicidae foi a ordem mais representativa
(1035 ind.; 43.87%), seguido por Coleoptera.(439 ind,; 18,61%) e Collembola. (404
ind.;17,13%). O ponto mais abundante foi o P. 6 com 571 indivíduos, que corresponde a
uma fitofisionomia de cambarazal (predomínio de Vochysia divergens) e o ponto menos
abundante P. 3, com 77 indivíduos em área de pombeiro (predomínio de Combretum sp.).
Os resultados mostraram que a diversidade e riqueza de ordens são muito similares entre os
pontos, e que o teor de argila influenciou negativamente a abundância de artrópodes, já as
variáveis areia fina e abundância arbórea correlacionaram positivamente com a abundância
de artrópodes.
Palavras Chaves: abundância, riqueza, diversidade, artropodafauna.

INTRODUÇÃO
O Filo Arthropoda compreende cerca de 75% de todas as espécies animais
catalogadas sendo considerado o mais numeroso do reino animal. Os artrópodes são
abundantes em praticamente todos os ecossistemas terrestres, muitas espécies são bastante
comuns e têm grande importância econômica, enquanto outras passam imperceptíveis ao
olho humano (Ruppert et. al. 1996).
Dentre os artrópodes estão os insetos que na macrofauna de solo atuam na
ciclagem de nutrientes por fragmentação e ingestão de material presente na liteira. Estes
127

animais interagem com outros microorganismos, os quais decompõem e mineralizam os


detritos do solo (Hofer et al. 2001; Ruppert et. al. 1996). Além disso, esses consumidores
de detritos são presas de espécies carnívoras, e podendo assim, haver vários níveis tróficos
de carnívoros. Conseqüentemente, pode existir uma teia alimentar relativamente complexa
entre os habitantes do húmus de folhas (Ruppert et. al. 1996), afetando a estrutura do solo
e alterando as suas propriedades físicas e biológicas.
Nemátodos, rotíferos e membros de alguns outros grupos vivem entre as
partículas do solo, mas os espaços entre as folhas caídas e os pedaços de vegetação em
decomposição no chão de uma floresta são o lar de um grupo incrivelmente rico de ácaros,
aranhas, pseudoescorpiões, vários insetos e outros grupos de artrópodes. Esses organismos
decompõem aproximadamente 20% da folhagem anualmente produzida no planeta, sendo
dessa forma importante na manutenção do equilíbrio na natureza (Samways, 1995).
A riqueza de espécies é um dos componentes mais importantes de uma
comunidade. Diversos fatores estão relacionados com a abundância, diversidade e riqueza
de espécies, dentre estes fatores destacam-se os geográficos (latitude, altitude, em
ambientes aquáticos, profundidade), além de fatores não perfeitamente correlacionados
com os geográficos como a variabilidade climática, entrada de energia, produtividade
primária e o isolamento de habitats, agindo conjuntamente com outros fatores (Begon et al.
1996).
Atributos biológicos de uma comunidade, como a taxa de predação e competição,
as heterogeneidades espaciais geradas pelos próprios organismos e seu estádio sucessional
constituem fatores secundários relacionados à sua riqueza (Begon et al. 1996).
De acordo com Vieira et al. (2002), muitos estudos têm demonstrado que a
diversidade das comunidades de artrópodes está relacionada à complexidade estrutural do
habitat, já que em ambientes mais complexos estruturalmente deve haver maior número de
espécies, devido a uma maior oferta de habitat para esses organismos, mais refúgios contra
predadores, maior disponibilidade de sítios para nidificação e recursos alimentares. Ainda,
no caso das aranhas, a fixação das teias depende de maior variedade de microhabitats.
Desta forma o presente trabalho tem como objetivos gerar informações sobre a
composição e abundância da comunidade de artrópodes terrestres ativos em solo no
Pantanal, utilizando-se armadilha de queda (Pitfall) e verificar se a abundância de
artrópodes presentes nos pontos amostrados varia em função de algumas variáveis
abióticas (umidade do solo, matéria orgânica, topografia, serapilheira e granulometria do
solo) e bióticas (fitofisionomia, abundância, riqueza e diversidade arbórea).
128

MATERIAIS E MÉTODOS
Área do Estudo
O Pantanal mato-grossense faz parte da Bacia do Alto Paraguai (BAP) e constitui-
se na maior planície inundável contínua da América do Sul, com cerca de 140.000 km2 em
território brasileiro. Localiza-se na porção central da América do Sul, extremo norte da
Bacia Platina (15° 45´ a 22° 15´ S; 54° 5´ a 58° W).
As características geológicas, geomorfológicas e climáticas, em conjunto com as
variações hidrológicas sazonais, formam planícies distintas quanto à duração e altura das
inundações, resultando em um mosaico de habitats, com diferentes fitofisionomias. Todos
esses fatores associados são responsáveis pela alta biodiversidade característica do
Pantanal.
Segundo Sánchez (1978) como em outras planícies de inundação, o equilíbrio
ecológico das paisagens é muito sensível às alterações da estrutura fisiomômicos -
florística, apresentando grande heterogeneidade, que pode ser explicada pela relação entre
a dinâmica hídrica e a estrutura geomorfológica.
De acordo com Nunes da Cunha et al. (1996) esta região apresenta inundações
anual-sazonais, também exibe períodos plurianuais de grandes enchentes e secas, e durante
a fase plurianual de inundações excepcionais, até as áreas altas de capões e cordilheiras são
inundadas.
A distribuição sazonal da pluviosidade no Pantanal ocorre, em média, por uma
alternância de outono-inverno com menor intensidade, abaixo de 100mm, e uma
concentração substancial de chuvas no período de primavera - verão, 250-330mm, sendo
que, a evaporação ultrapassa a precipitação durante 6 a 12 meses (Tarifa, 1986). Contudo,
podem existir consideráveis variações locais no padrão anual de chuvas (Nunes da Cunha
& Junk, 1999).
As amostragens foram realizadas na Reserva Particular de Patrimônio Nacional
SESC - Pantanal, situada cerca de 140 Km da capital do Estado, a qual possui uma área de
106.588 hectares localizados na parte norte do Pantanal mato-grossense.

Procedimentos em campo
Com o uso de trenas foi demarcado um transecto de 6 km dividido em 12 pontos.
A cada ponto foi fixada uma estaca a um metro de distância do transecto, onde foi
estabelecida uma linha perpendicular com o transecto com 250m de comprimento seguindo
o nível topográfico, chamado de isolinha. Em cada isolinha foram instalados 5 conjuntos
129

de armadilhas de queda (pitfall) distribuídos a cada 50m totalizando 60 conjuntos


instalados de armadilhas.
As armadilhas ficaram expostas por 48 horas e receberam uma mistura de
formalina à 10%, para a fixação dos espécimes coletados e detergente para impedir que os
animais interceptados permanecessem sobre a superfície da água (tensão superficial).

Procedimentos em laboratório
Os organismos foram triados e depositados em frascos com álcool a 70%. No
laboratório as amostras foram triados e agrupados levando em conta o nível taxonômico de
ordem, segundo BORROR & DELONG (1969).
Foram coletados dados abióticos como umidade do solo (aparelho Moisture Meter
HH2), matéria orgânica, topografia, serapilheira e granulometria do solo - foram pesadas e
peneiradas em peneiras de 2 mm, 1 mm, 250 mm, 125 mm e 63 mm, sendo classificada
como seixo, areia grossa, areia média, areia fina e silte respectivamente; as partículas
menores que 63mm que restaram foram classificadas como argila.
Para os dados bióticos foi realizada uma caracterização aproximada da
fitofisionomia que cada isolinha englobava, abundância, riqueza e diversidade arbórea
acima de 10cm de diâmetro.

Análise dos dados


Para a análise de diversidade utilizaram-se os índice de Shannon (H’) e Simpson
(D), a análise da riqueza das ordens foi estimada com Jacknife e a similaridade de Morisita
entre os pontos, através do software Ecological Methodology.
A análise de Correlação (Person) entre a abundância e os fatores abióticos e
bióticos assim como a regressão (múltipla e stepwise), calculados através do software
SYSTAT 10.0®.

RESULTADOS
Foram coletados 2359 indivíduos pertencentes as Classes Arachnida e Insecta
distribuídos em 12 ordens, sendo que 7 indivíduos não foram identificados (Tabela 1).
Hymenoptera foi a ordem mais representativa (1035 ind.; 43.87%), seguida por
Coleoptera.(439 ind,; 18,61%) e Collembola. (404 ind.;17,13%). O ponto mais abundante
foi o P. 6 com 571 indivíduos, que corresponde a uma fitofisionomia de cambarazal
130

(predomínio de V. divergens) e o ponto menos abundante, P. 3, com 77 indivíduos em área


de pombeiro (predomínio de Combretum sp.).

Tabela 1 – Abundância de artrópodes (N) capturados por ponto amostral utilizando-se armadilhas pitfall, no
Pantanal de Mato Grosso, MT.
Pontos amostrais
ORDEM 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 TOTAL
Hymenoptera 88 179 40 62 39 176 126 129 22 95 51 28 1035
Coleoptera 112 15 3 29 10 137 24 2 90 0 0 17 439
Collembola 34 11 13 22 40 219 23 5 0 1 11 25 404
Diptera 30 3 10 4 61 16 5 10 23 5 16 8 191
Acari 2 2 9 6 22 7 14 7 0 14 21 62 166
Araneae 6 9 1 5 3 14 6 4 11 9 4 6 78
Orthoptera 1 2 0 0 2 1 1 3 11 5 1 0 27
Blattodea 1 2 0 0 0 0 0 0 2 1 0 0 6
Dermaptera 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 2
Embioptera 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 2
Mantodea 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
Lepidoptera 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1
Não identificados 3 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 1 7
TOTAL 278 223 77 129 177 571 201 160 160 130 106 147 2359

Tabela 2 – Porcentagens de indivíduos, média e desvio padrão das ordens no Pantanal de Mato Grosso,
MT.

Ordem % Média Desvio


Hymenoptera 43,8 86,2 55,4
Coleoptera 18,6 36,5 48,0
Collembola 17,1 33,6 59,6
Diptera 8,1 15,9 16,4
Acari 7,0 13,8 16,7
Araneae 3,3 6,5 3,6
Orthoptera 1,1 2,2 3,1
Blattaria 0,2 0,5 0,8
Dermaptera 0,0 0,1 0,3
Embioptera 0,0 0,1 0,3
Mantodea 0,0 0,0 0,2
Lepidoptera 0,0 0,0 0,2
Não 0,3 0,5 0,9

Esforço Amostral
Através da análise de freqüência acumulada de ordens, pode-se observar que o
esforço amostral foi satisfatório no total de pontos amostrados, e que a curva de
acumulação dos 12 pontos exibe uma estabilidade (Figura 1).
131

15

Nº de ordens
10

5
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Pontos

Figura 1 - Estimativa do esforço amostral das ordens de artrópodes, amostrados no Pantanal de Mato Grosso,
MT.

Diversidade
O índice de diversidade de Simpson calculado para as ordens nos 12 pontos foi
maior no P. 5 (D=0.767) e menor no P. 8 (D=0.344). Para o índice de diversidade de
Shannon destacou-se o P. 12 (H`=2.198), demonstrando que há uma distribuição mais
homogênea do número de indivíduos, já o menor índice foi registrado no P. 2 (H`=1.184).
Ambos demonstraram resultados semelhantes por pontos (Tabela 3).

Tabela 3 - Índices de diversidade de Shannon (H’) e Simpson (D) calculados por pontos amostrais (log2).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

D 0,707 0,348 0,678 0,69 0,767 0,699 0,572 0,344 0,638 0,45 0,695 0,74
H' 2,036 1,184 2,014 2,025 2,276 1,918 1,776 1,174 1,919 1,413 2,032 2,198

Riqueza Estimada do Número das Ordens de Artrópodes


Para a análise da riqueza estimada de ordens os pontos P. 8 e P. 12 não
forneceram a riqueza e seus respectivos intervalos de confiança, portanto, considerou-se
como riqueza estimada de número de táxons a quantidade de grupos de artrópodes
presentes nesses pontos (Figura 2). Observa-se que há sobreposição dos intervalos de
confiança para todos os demais pontos.
132

14

Rique z a de Orde m
12

10

4
Pontos

Figura 2 - Estimativa da riqueza de ordens de artrópodes por pontos amostrais.

Similaridade
A similaridade (Morisita) entre os pontos mostrou-se alta (Tabela 4), indicando
que a composição de ordens é semelhante entre os mesmos. O resultado a maior
similaridade obtida foi entre P. 2 e P. 8 (90.28%), a menor entre P. 8 e P. 9 (25.63%). Os
índices de similaridade demonstraram que o P.9 diferencia-se dos demais pontos em geral.

Tabela 3 - Índices de Similaridade por ponto amostrados no Pantanal de Mato Grosso, MT.

P. 1 P. 2 P. 3 P. 4 P. 5 P. 6 P. 7 P. 8 P. 9 P. 10 P. 11 P. 12
P. 1 -
P. 2 48,64 -
P. 3 61,19 64,32 -
P. 4 72,85 65,84 78,67 -
P. 5 53,74 37,45 68,79 54,18 -
P. 6 73,17 47,41 56,99 76,90 56,19 -
P. 7 61,27 80,40 78,14 81,71 50,88 60,74 -
P. 8 45,90 90,28 68,25 62,41 36,86 41,92 77,25 -
P. 9 68,30 27,65 31,93 43,21 36,60 43,22 31,75 25,63 -
P. 10 40,25 81,79 68,63 60,46 40,24 38,31 76,77 86,44 29,09 -
P. 11 57,02 60,45 85,02 70,10 62,82 48,02 72,05 65,77 32,89 68,72 -
P. 12 51,57 37,12 58,42 59,50 61,55 54,44 54,82 35,91 34,98 38,67 58,94 -

Correlação
A correlação entre a abundância de artrópodes é negativa com a argila (-0.533) e
matéria orgânica (-0.402) e positiva com areia fina (0.722) e abundância arbórea (0.684)
(Tabela 5).
133

Tabela 5 - Correlação de abundância de artrópodes com fatores abióticos e bióticos.


Abundância de Artrópodes
Fatores abióticos Fatores bióticos
Linha -0,223 Matéria Orgânica -0,402
Umidade do solo -0,135 Riqueza de artrópodes 0,088
Topografia 0,373 Diversidade de Artrópodes D 0,101
Seixo -0,066 Diversidade de Artrópodes H` -0,005
Areia G -0,416 Serapilheira 0,063
Areia M 0,271 Riqueza de arbórea 0,392
Areia F 0,722 Abundância de arbórea 0,684
Silte -0,137 Diversidade de arbórea 0,412
Argila -0,533

Regressão
A regressão múltipla da abundância de artrópodes com a areia fina e abundância
arbórea mostrou-se significativa (R2= 0.745 e p>0.05). Com a Regressão Stepwise a
abundância arbórea possui um R2=0.590 e p>0.05 enquanto que a areia fina possui um
R2=0.435 e p>0.05 indicando que a uma estreita influência da abundância da
artropodofauna com a abundância arbórea em relação a variável areia fina.

DISCUSSÃO
A Classe Insecta foi a mais representativa com 2108 indivíduos correspondendo a
89.63% dos indivíduos identificados, o mesmo padrão presente em vários estudos (Hofer et
al. 2001). Tal resultado pode estar correlacionado ao fato dos insetos serem dotados de alta
capacidade de dispersão, o que lhe confere uma característica de colonizadores rápidos, e
ainda, de ampla distribuição (Price, 1984). A ordem Hymenoptera, a maioria Formicidae
foi mais abundante com 43.87%, fato que pode estar associado ao hábito de construção de
ninhos no solo e se alimentarem acima dele (Borror et al.1965).
Este fato pode ser confirmado pelos resultados obtidos por Marques et al. (2001),
que obtiveram Formicidae como grupo dominante, representando 44% da fauna amostrada
em copas de V. divergens, durante o período de vazante no Pantanal. E a mesma maneira
por Santos (2001), quando investigou a fauna de artrópodes em Attalea phalerata Mart.
(Arecaceae), obtendo Formicidae como o segundo grupo dominante no período de seca no
Pantanal de Mato Grosso.
Estudos realizados na Amazônia e Pantanal por Adis (1997) e Adis et al. (2001)
demonstraram que as formigas representam um importante componente da artropodofauna
nas áreas alagáveis, já que participam de grande parte dos processos ecológicos, além de
134

apresentarem diferentes estratégias de sobrevivências e comportamentos sociais nessas


áreas.
Os resultados dos índices de diversidade, similaridade e riqueza estimada das
ordens de artrópodes não apresentaram grandes variações, o que era de se esperar para
ambientes próximos (Vieira et al. 2002).
A abundância de artrópodes (59%) é explicada pela abundância arbórea (p>0.05),
pois como existe uma estreita relação entre espécies de animais e plantas habitando a
mesma área, uma mudança na estrutura da vegetação pode acarretar modificações na
composição da comunidade de invertebrados (Wise, 1993 apud Vieira, 2002).
A fauna de invertebrados apresenta uma tendência em acompanhar a riqueza
vegetal, pois muitos dependem direta ou indiretamente dessas para sua sobrevivência. A
presença de áreas monodominantes pode, desta forma, influenciar a diversidade de
espécies de invertebrados associada a essas áreas, já que a baixa diversidade vegetal
acarreta diferenças na disponibilidade de recursos nesses ambientes (Brown, 1970 apud
Battirola, 2003).
Para Primavesi (1999 apud Pinho, 2003) a diversidade da mesofauna do solo
depende da matéria orgânica disponível e seu arejamento adequado, bem como pouca
exposição ao sol. Além disso, a estrutura física do solo pode contribuir para o
desaparecimento da maioria dos habitat, estabelecendo-se apenas aquelas espécies
adaptadas às condições adversas.

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137

DISTRIBUIÇÃO DE CONCHAS DE Pomacea lineata (MOLLUSCA,


GASTROPODA) EM AMBIENTES INUNDÁVEIS DO PANTANAL DE POCONÉ,
MT

Fábio Ricardo da Rosa


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: frritzel@hotmail.com.
(Com 03 figuras)

RESUMO: Uma alternativa para estimar a distribuição de moluscos em áreas inundáveis é


estudar, durante o período seco, a distribuição de conchas de indivíduos mortos. Este
trabalho seguiu a tal critério e baseia-se no pressuposto de que, em habitats lênticos, as
conchas de indivíduos mortos naturalmente, sem a ação de predadores especializados,
servem como indicadores dos seus hábitats preferenciais. A distribuição de Pomacaea e
sua relação com variáveis ambientais foram os alvos do estudo realizado em áreas
inundáveis da RPPN do SESC Porto Cercado, no Pantanal Mato-Grossense. Foram
realizadas coletas manuais das conchas utilizado o método de Transecto em faixas e
quadrats em 12 isolinhas de 250 metros, distribuídas de 500 em 500 metros ao longo de um
transecto de seis quilômetros. Dados como altimetria, cobertura vegetal, umidade e
granulometria do solo, foram tomados em vários pontos ao longo de cada isolinha. Foram
efetuadas regressões logísticas entre ocorrência das conchas, profundidade da coluna de
água e cobertura vegetal, com auxílio do Systat 10. Foram registradas 186 conchas de
Pomacea lineata em 9 das 12 linhas estudadas, somando-se os indivíduos coletados por
ambos os métodos. O valor p encontrado para a relação entre ocorrência de conchas e
cobertura por gramas (0,088) foi o que mais se aproximou do limite de significância
adotado. Apesar de não demonstrar uma relação direta, indica uma tendência mais
acentuada de correlação entre a ocorrência das conchas nas isolinhas e a cobertura
percentual por gramas do que com a profundidade da coluna de água.
Palavras Chaves: Pomacea lineata, Áreas Inundáveis, Seleção de Habitats, Meso-Escala.

INTRODUÇÃO
As áreas inundáveis do Pantanal Mato-grossense apresentam-se como um
mosaico de habitats temporários (Junk & Silva, 1996) que são selecionados por animais
que se movimentam ativamente como os gastrópodes aquáticos.
138

A auto-ecologia desses gastrópodes em ambientes inundáveis e suas relações com


a seleção de micro habitats são facilmente descritas e testadas com observações
naturalísticas in situ, enfocadas no seu modo de vida. No entanto, verificar a sua
distribuição e ocorrência em escalas espaciais maiores, empregando observações pontuais
durante o período inundado pode ser impraticável, ou exigir esforços de amostragem
demasiadamente severos.
Uma alternativa para estimar a distribuição de tais organismos nas áreas
inundáveis é estudar, durante o período seco, a distribuição de conchas de indivíduos
mortos. Este trabalho seguiu a tal critério e baseia-se no pressuposto de que, em habitats
lênticos, as conchas de indivíduos mortos naturalmente, sem a ação de predadores
especializados, servem como indicadores dos seus hábitats preferenciais, em se tratando de
meso-escalas. Henry & Simão (1986) estimaram a abundância, diversidade e a biomassa de
moluscos na represa Piraju (SP), correlacionando-as a variáveis ambientais em uma
ocasião que guarda certas semelhanças com a deste trabalho: Durante o esvaziamento
daquela represa do rio Paranapanema foram demarcadas parcelas sobre o substrato exposto
para coletar os moluscos aquáticos remanescentes e tomadas as medidas de variáveis
ambientais.
Três são as espécies de Gastropoda aquáticos encontradas na região: Pomacaea
lineata, Pomacea escalaris e Marisa planogyra (Cláudia Tasso Callil, Comun. Pess.).
Apenas a primeira foi alvo deste trabalho. A hipótese deste trabalho é que a abundância de
conchas de Pomacaea lineata varia de ambiente em ambiente, em função da profundidade
da água no período inundado e da cobertura vegetal.
Os objetivos deste trabalho são: Verificar a ocorrência ou ausência de P. lineata
em diferentes habitats de áreas inundáveis, pelo registro de suas conchas; Relacionar essas
informações a dados ambientais como a profundidade da água na estação cheia e
características fitofisionômicas dos ambientes.

MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho teve como apoio logístico a infra-estrutura disponibilizada para a
disciplina “Ecologia de Campo” do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e
Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso. Durante essa disciplina, uma área
experimental em meso-escala foi demarcada na RPPN do SESC Porto Cercado no
município de Poconé, MT. Doze isolinhas de 250 metros foram demarcadas de 500 em 500
metros ao longo de um transecto de seis quilômetros. As isolinhas estavam dispostas sobre
139

curvas de nível do terreno, de modo a representar comunidades sob a mesma influência de


nível de inundação. Dados abióticos como altimetria, umidade e granulometria do solo,
foram tomados em vários pontos ao longo de cada isolinha naquela ocasião. Dados bióticos
secundários de algumas áreas também foram disponibilizados pela equipe formada pelos
docentes e discentes da disciplina, bem como nos resultados dos projetos individuais
desenvolvidos pelos alunos matriculados. Para este trabalho foram utilizados os dados de
topografia do terreno, fornecidos pela equipe e os de cobertura arbórea, fornecidos pela
discente Júlia A. Couto.
Para registrar a presença de Pomacea lineata nas áreas inundáveis do SESC
Pantanal foram efetuadas amostragens nas 12 isolinhas. Utilizou-se o método de Transecto
em Faixa, pelo qual as conchas localizadas visualmente a até um metro das isolinhas foram
coletadas, sem revolver a vegetação ou serrapilheira. Adicionalmente foram efetuadas
coletas em três quadrats de 4 m2 em cada linha, a três metros destas, para estimar a
densidade dessa espécie. Nesses quadrats a serrapilheira foi revolvida e a vegetação
gramíneo-herbácea foi removida durante a coleta das conchas.
Para buscar relações entre os dados obtidos sobre a ocorrência de P. lineata e
dados disponibilizados como a profundidade da água e variáveis fitofisionômicas foram
efetuadas regressões logísticas, com auxílio do programa Systat 10. O valor máximo de
significância adotado foi de 0,05.

RESULTADOS
Foram registradas 186 conchas de Pomacea lineata em 9 das 12 linhas estudadas,
somando-se os indivíduos coletados por ambos os métodos. Apenas nas isolinhas 500,
3000 e 3500 não foram observadas conchas. A tabela 1 e a figura 1 trazem informações a
respeito da ocorrência e densidade de conchas da espécie nas diferentes linhas, além de
dados secundários disponíveis sobre os ambientes.

Tabela 1 - Presença (1) / Ausência (0) de Pomecea lineata, profundidade da água durante a estação cheia e
dados fitofisionômicos nas diferentes parcelas.
Isolinhas 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000
Presença/Ausência 0 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1
Indivíduos/m2 0 0,833 0,833 0 0 0 0 0 3,333 1,666 5 1,666
Nível de água 22,5 42,3 84,6 73,6 101,3 68 51,7 72,4 46,6 58,4 97 93
Cobrt. gramas (%) 2 45 87 57 78 13 77 93 27 87 94 99
140

Ocorrência, Densidade, profundidade da coluna de água e cobertura po gramas


nas diferentes isolinhas

1,2 120

Presença / Ausência
1 100

Profundidade (cm); Cobertura vegetal (%


Ocorrência (1); Indivíduos/m2

0,8 80
Indivíduos/m2

0,6 60

0,4 40 Nível de água

0,2 20

Cobertura vegetal
0 0 perecentual por
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 gramas nas parcelas
Localização da isolinha no transecto

Figura 1 - Gráfico representando a distribuição e densidade de conchas de Pomacea lineata e características


ambientais das diferentes isolinhas.

A tabela 2 demonstra os resultados obtidos pela análise de regressão logística


aplicada sobre a variável resposta e variáveis preditivas. As figuras 2 e 3 ilustram a
dispersão das ocorrências e ausências de conchas em ambientes ordenados de acordo com
sua profundidade e cobertura por gramas respectivamente. Em conjunto, estes resultados
indicam uma tendência, embora não se tratando de uma razão significativa, entre a
densidade de conchas e a profundidade da água ou a cobertura por gramas.

Tabela 2. Resumo dos resultados obtidos pela regressão logística aplicada sobre os dados de ocorrência,
profundidade da coluna de água durante a cheia e cobertura percentual por gramas.
Parâmetro correlacionado à ocorrência de Estimate S.E. t-ratio p-value
Pomacea lineta ↓
Profundidade da coluna de água 0,063 0,042 1,488 0,137
Cobertura percentual por gramas 0,046 0,027 1,708 0,088
141

1.2

1.0

0.8

PRESENCA
0.6

0.4

0.2

0.0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
NIVEL

Figura 2 - Gráfico ilustrando a ocorrência e ausência de conchas de Pomacea lineata em isolinhas com
diferentes profundidades.

1.2

1.0

0.8
PRESENCA

0.6

0.4

0.2

0.0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
COBERTURA

Figura 3 - Gráfico ilustrando a ocorrência e ausência de conchas de Pomacea lineata em isolinhas com
diferentes percentuais de cobertura por gramas.

DISCUSSÃO
Tendências foram observadas na distribuição de conchas de Pomacea lineata nos
ambientes representados pelas isolinhas:
Conchas não foram encontradas em ambientes com profundidade da coluna de
água abaixo de 40 cm, como na isolinha 500. Contudo também não foram encontradas nas
isolinhas 3000 e 3500, onde a profundidade da coluna de água durante o período de cheia
deve ficar entre 50 e 70 centímetros. De fato, ao efetuar regressão logística sobre os dados
não houve a constatação de uma relação significativa entre presença de conchas e
profundidade das isolinhas (valor p = 0,137). A densidade de conchas estimada pelo
método de quadrats sequer apresentou semelhante tendência. Provavelmente, a área
amostrada pelos três quadrats em cada isolinha (12 m2) foi insuficiente para registrar
tendências mediante as densidades verificadas. Em um trabalho sobre distribuição e
142

abundância de moluscos aquáticos, Duarte e Diefenbach (1996) realizaram coletas de em


40 quadrats de apenas 1 m2 na lagoa Suzana (RS), obtendo resultados significativos, porém
com maiores densidades de cada espécie (em torno de dezenas de indivíduos por metro
quadrado).
Uma tendência mais clara apareceu entre a ocorrência das conchas e a
fitofisionomia dos ambientes, representada pela cobertura percentual por gramas, que
indica descampados. O valor p encontrado para a relação entre ocorrência de conchas e
cobertura por gramas (0,088) foi o que mais se aproximou do limite de significância
adotado. Apesar de não demonstrar uma relação direta, indica uma tendência mais
acentuada de correlação entre a ocorrência das conchas nas isolinhas e a cobertura
percentual por gramas do que com a profundidade da coluna de água. Não foram
encontradas conchas nas isolinhas 500, 3000 e 3500, descritas sucintamente como “mata
inundável, cambarazal e cambarazal jovem”. Uma explicação a esse fenômeno é que o
sombreamento ocasionado pelos estratos arbóreos e arbustivos prejudica de alguma forma
a disponibilidade de itens alimentares utilizáveis por Pomacea lineata.
Para o caso de se efetuar outros testes estatísticos ou testar novas hipóteses
empregando os dados disponibilizados por este trabalho é aconselhável aumentar o esforço
amostral, de modo a garantir maior confiabilidade estatística às especulações feitas, ou
coletar os animais vivos durante o período inundado.

AGRADECIMENTOS
Agradeço ao corpo docente e Coordenação do Curso de Pós-Graduação em
Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso por
efetivar a disciplina de Ecologia de Campo graças à qual foi possível realizar este trabalho.
Agradeço à instituição Sesc Pantanal Porto Cercado e a cada um dos seus
integrantes que em vários momentos colaboraram na abertura das isolinhas, coleta dos
dados ou operações de logística na base de apoio.
Agradeço aos profissionais do INPA, Dr. Gonçalo e Drª. Flávia pela orientação a
nós oferecida para a demarcação da área experimental, determinação da metodologia
amostral e análise dos dados.
Agradeço em especial aos colegas daquela disciplina pela colaboração, que muito
mais do que profissional (dados secundários), resultou em extraordinária união, atenção,
compreensão, simpatia e em todas as “forcinhas” trocadas em campo e na análise dos
dados.
143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(Corumbá MT).
144

DISTRIBUIÇÃO DE MARISA PLANOGYRA PILSBRY, 1933 (MOLLUSCA,


GASTROPODA) EM MESO-ESCALA NA BAÍA DAS PEDRAS – SESC
PANTANAL – POCONÉ MT

Nidia Silva Menegazzo


Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Curso de Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Av: Fernando Corrêa da
Costa, S/N. Boa Esperança. Cuiabá-MT. CEP: 78060-900. E-mail: biovinil@terra.com.br.
(Com 02 figuras)

RESUMO: Marisa planogyra é um gastrópodo dulciaqüícola comum em águas rasas e


ricas em vegetação. A distribuição desta espécie foi avaliada pela presença e ausência de
conchas num sistema de 12 trilhas (isolinhas) na Baía das Pedras-SESC Pantanal, Poconé
MT. O objetivo deste trabalho foi verificar a distribuição de M. planogyra e relacionar as
variáveis topografias, nível de água e percentagem de cobertura por gramíneas com a
distribuição das conchas do molusco. Foram realizadas amostragens em quadrats de 2X2 m
em três pontos em cada trilha e amostragem em faixa, onde as conchas avistadas a até um
metro da linha central foram coletadas. Um total de 27 conchas foi coletado na área
durante o estudo, utilizando-se os dois métodos. Não foi encontrada relação entre a
distribuição das conchas e a topografia, nível de água e cobertura por gramíneas.
Provavelmente outros fatores determinam a ocorrência desta espécie na área, podendo a
presença das conchas ser devido a inundação.
Palavras Chaves: Pantanal, distribuição, gastrópodos dulciaqüícolas, Marisa planogyra,
nível da água.

INTRODUÇÃO
Parte das faixas tropical e subtropical da América do Sul é ocupada por amplos
sistemas hidrográficos, geralmente responsáveis por extensas áreas de inundação (JUNK &
DA SILVA, 1995). Essas planícies de inundação caracterizam-se pela existência de vários
ambientes aquáticos e transacionais entre o ambiente aquático e o terrestre, que se
diferenciam quanto à morfometria e quanto ao grau de comunicação com o rio (THOMAS
et al., 1997).
As inundações são os distúrbios mais importantes desses sistemas e seu impacto
sobre a comunidade bentônica, como resultado da interação entre a água do rio e as
145

condições locais, pode ser extremamente variável (BECHARA, 1996). Dessa forma, as
flutuações no nível da água têm conseqüências negativas para animais de mobilidade
reduzida, como é o caso dos macroinvertebrados bentônicos.
O padrão de distribuição dos organismos aquáticos é resultado da interação entre
o hábito, condições físicas que caracterizam o habitat e disponibilidade alimentar
(MERRIT & CUMMINS, 1996).
Estudos sobre a composição e a diversidade de comunidades bentônicas, bem
como respostas individuais de cada espécie, são ferramentas importantes para o
entendimento do processamento do sedimento por variações hidrológicas, que são
acompanhadas de modificações na biota e densidades populacionais (ALVES &
STRIXINO, 2000).
A distribuição de uma população descreve a sua abrangência geográfica e
ecológica, a qual é determinada primordialmente pela presença ou ausência de hábitat
adequado. O clima, a topografia, a química do solo e a textura do solo são exemplos de
alguns fatores que podem exercer influência na distribuição geográfica das espécies
(RICKLEFS, 2003).
Os gastrópodos de água doce são organismos importantes por servirem de
alimento, na transmissão e controle de doenças humanas e veterinárias e na análise de
biogeografia fluvial. Ocorrem em quase todos os ambientes. Habitam, em geral o
sedimento e/ou a vegetação adjacente (SANTOS, 1982) São sensíveis à correnteza e
apresentam certo grau de resistência à exposição ao ar, contudo, ocorre grande variação
desse padrão. Alguns são de dispersão ampla como os Ampullariidae, Planorbidae e
Ancylidae. O modo de dispersão de espécies amplamente distribuídas é pouco conhecido,
havendo indícios de que o transporte desses animais ocorra através de aves migratórias
(SIMONE, 1999).
Marisa planogyra (PILSBRY, 1933) é um gastrópodes de água doce pertencente a
Família Ampullariidae que apresenta uma concha discoidal, como no gênero Planorbis,
com cerca de 35-50 mm de diâmetro. A cor é marrom amarelada com faixas marrom
avermelhadas a marrom escuro. Estes caracóis vivem em águas rasas com vegetação rica
na América do Sul (Venezuela, Brasil, Colômbia, etc). São comedores vorazes; na natureza
eles comem tudo o que encontram: plantas vivas e mortas, animais em decomposição e
ovos de outros caracóis (SCOTT, 1957) (Figura 1).
146

A presença das conchas desta espécie em algumas trilhas na área de estudo leva a
predizer que sua distribuição seja influenciada por algumas variáveis como nível da água,
topografia e porcentagem de cobertura por gramas.
O objetivo deste trabalho foi verificar a distribuição de conchas de Marisa
planogyra na Baía das Pedras e relacionar as variáveis topografias, nível da água e
percentagem de cobertura por gramas com a distribuição das conchas desta espécie.

Figura 1 – Detalhe da concha de Marisa planogyra

MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi realizado nos meses de agosto e setembro de2004 na Baía das
Pedras (16º 29’ 7.06’’ S e 56º 24’ 7.00’’) que está situada dentro dos limites do SESC
Pantanal, Poconé - MT. A área apresenta um mosaico de cobertura vegetal, desde campos
sujos, cambarazal, mata semi-descídua a mata sempre verde, entre outros tipos de
vegetação. Sofre inundação durante o período das chuvas, o que foi constatado pelas
marcas deixadas nas árvores e mourões da cerca. Também foi observado que há presença
de gado, constituindo-se numa área de pastagem (Figura 2).
Em um transecto de 6.000 metros foram construídas trilhas, separadas a cada 500
metros, formado por isolinhas de 250 metros de comprimento cada uma.
Para registrar a presença de conchas de Marisa planogyra na Baía das Pedras
foram efetuadas amostragens nas 12 isolinhas. Um dos métodos utilizados foi o do
transecto em faixa, onde as conchas localizadas visualmente a até um metro dessas linhas
foram coletadas, sem revolver a vegetação ou serrapilheira. Adicionalmente foram
efetuadas coletas em três quadrats de 2 x 2m em cada linha, a 4 metros destas, para estimar
147

a densidade dessa espécie. Nesses quadrats a serrapilheira foi revolvida e a vegetação


gramíneo-herbácea foi removida durante a coleta das conchas. As conchas foram
embaladas em sacos plásticos, etiquetadas para posterior contagem.
A análise de dados foi realizada através do programa SYSTAT 10, utilizando-se a
regressão logística para verificar a existência de correlação entre a distribuição das conchas
do molusco e as variáveis topografias, nível da água e porcentagem de cobertura por
gramíneas.

RESULTADOS
Foram coletadas 27 conchas de Marisa planogyra em 5 das 12 linhas estudadas,
utilizando o método de transecto em faixa. A amostragem por quadrats não registrou
nenhuma coleta de concha. O maior número de indivíduos foi encontrado na isolinha 5000
(16 conchas). A Tabela 1 traz informações a respeito da ocorrência da espécie nas
diferentes linhas.
A análise de regressão logística demonstrou que não há relação direta entre a
ocorrência de M. planogyra e as variáveis preditivas.

DISCUSSÃO
Como um animal aquático, a distribuição de Marisa planogyra está intimamente
relacionada a presença de água (SIMONE, 1999). Não foi encontrada relação entre a
distribuição da espécie e as variáveis: topografia (p = 0,321), nível de água (p=0,248) e
porcentagem de cobertura por gramíneas (p = 0,127), o que sugere que outros fatores
determinam a distribuição da espécie.
A presença do maior número de conchas na trilha 5.000, a qual apresenta
cobertura vegetal por gramíneas, parece estar relacionada mais a presença de um corixo
nas proximidades do que ao tipo de vegetação característica.
A distribuição de M. planogyra pode estar relacionada a formação de correntes de
água durante o período de inundação desta área, dispersando os indivíduos. No período da
vazante e seca esses indivíduos ficariam retidos pela vegetação e morreriam ficando apenas
suas conchas espalhadas pelo local. Um estudo mais aprofundado, e talvez um esforço
amostral maior poderiam contribuir para a predição das variáveis que determinam a
ocorrência deste gastrópode na Baía das Pedras.
148

AGRADECIMENTOS
Agradeço aos professores coordenadores da disciplina de Ecologia de Campo e
aos demais professores participantes pela oportunidade de aprendizagem; aos colegas pelo
apoio e companheirismo.

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ANEXOS

Tabela 1. Presença(1)/Ausência(0) de Marisa planogyra, número de indivíduos e profundidade da água


durante a estação cheia, na diferentes linhas.
Linhas 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000
Presença/Ausência 0 0 1 1 0 0 0 1 0 1 1 0
Nº Indivíduos 0 0 1 3 0 0 0 6 0 16 1 0
Nível da água 22,5 42,3 84,6 73,6 101,3 68 51,7 72,4 46,6 58,4 97 93
Cambarazal
Cambarazal
Pombeiro

Carvoeiro
Pombeiro

inundável
transição
sempre

Campo
Mata de

Campo
verde

jovem
Mata

120 20
Elevação (cm)

100
15
80
60 10
40
5
20
0 0
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 550 6000
0

Lamina de água Topografia do Ponto 0 (corrigido) Umidade relativa (média)

Figura 02 – Variação da Lâmina d'água, Topografia e Umidade Relativa em isolinhas no Pantanal de Poconé
– MT, SESC – PANTANAL.

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