Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Articulação de Orações Proverbiais À Luz Da Teoria Da Estrutura Retórica Do Texto
A Articulação de Orações Proverbiais À Luz Da Teoria Da Estrutura Retórica Do Texto
RESUMO:A Gramática Tradicional, ao analisar as orações, não leva em conta o nível do discurso em que as
porções de textos estão inseridas, atendo-se a critérios ora sintáticos, ora semânticos. Procurando ressaltar uma
análise das orações orientada por processos inferenciais, verificaremos como um estudo sobre articulação de
orações, tendo em vista a hipotaxe de realce e a Teoria da Estrutura Retórica do Texto pode contribuir para a
análise dos provérbios propostos para este trabalho. A hipótese que acolhemos é a de que os conectivos não
podem determinar, por si só, as relações estabelecidas entre as porções dos textos. Quanto à fundamentação
teórica, utilizaremos os estudos de Matthiessen e Thompson (1988) e da RST (Rhethorical Structure
Theory/Teoria da Estrutura Retórica do Texto). Ressaltamos que este trabalho se configura como um recorte da
minha dissertação, portanto analisaremos um provérbio de um dos textos da minha pesquisa de mestrado.
Acreditamos que um estudo das relações retóricas contribui para que os enunciados não sejam observados a
partir dos conectivos que os encabeçam, já que além dos critérios sintáticos, devemos considerar também os
semânticos e os pragmáticos.
Introdução
68
UFMG. Faculdade de Letras/POSLIN. Belo Horizonte – MG – Brasil. 31270-901 – E-mail:
anaclarameira@hotmail.com.
69
Para que entendamos o termo função utilizado aqui, é válido mencionar as palavras de Neves (1997, p. 8): “Na
visão funcionalista, como afirmou Halliday (1973a, p. 104), a noção de função não se refere aos papéis que
desempenham as classes de palavras ou os sintagmas dentro da estrutura das unidades maiores, mas ao papel que
a linguagem desempenha na vida dos indivíduos, servindo a certos tipos universais de demanda, que são muitos
e variados”.
70
Neste estudo, designamos cláusula como oração, assim como considerou Decat (2001). Assim, mesclaremos o
uso dos termos cláusula e oração, neste trabalho.
160
Levando em conta a importância de um estudo que observe as orações, tendo em vista
critérios sintáticos, semânticos e pragmáticos, analisaremos um provérbio retirado de um texto
de um site (pertencente ao corpus da minha dissertação), observando as relações que se
articulam por meio da Teoria da Estrutura Retórica do Texto. Ressaltamos, uma vez mais, que
este artigo constitui um recorte da minha dissertação.
Pressupostos teóricos
161
Taxis Oração primária Oração secundária
Parataxe 1 (iniciando) 2 (continuando)
Hipotaxe α (dominante) β (dependente)
Quadro 1- Representação da hipotaxe e da parataxe, conforme Halliday (2004)
Hipotaxe de realce
Como retomamos alguns conceitos de Halliday no que diz respeito à sua definição de
orações complexas, serão esboçadas, em seguida, as definições de Matthiessen e Thompson
(1988).
Ao proporem um estudo para as orações, Matthiessen e Thompson (1988) afirmam
que mais importante do que estabelecer uma diferença entre oração subordinada e principal é
analisá-las observando o contexto discursivo no qual aparecem. Assim:
71
Não serão tratados com detalhes os tipos de projeção pornão constituírem objeto deste trabalho.
72
“Enhancing hypotaxis refers to hypotactic clause combining involving some kind of circumstantial relation
like condition, reason, purpose and others kinds of cause, time, space, manner, and means: One clause enhances
another clause circumstantially”.
162
Matthiessen e Thompson procuram explicitar que existe uma analogia entre as
relações retóricas presentes no discurso e a hipotaxe de realce. Logo, afirmam que a hipotaxe
de realce poderia ser observada como uma gramaticalização73 das relações retóricas de uma
dada situação comunicativa.
Assim, selecionam dezoito pequenos textos para observar a presença de relações
núcleo-satélite – um par relacionado é ancilar ao outro – e núcleo-núcleo – nenhum dos
membros da oração é ancilar ao outro – em orações hipotáticas e paratáticas e, inicialmente,
chegam à seguinte conclusão:
Nosso ponto é que temos argumento a favor de nossa afirmação de que a hipotaxe
é, de forma reveladora, observada como uma gramaticalização da relação núcleo-
satélite, visto que, quando tais relações são gramaticalmente codificadas, elas são,
frequentemente, mas nem sempre, codificadas como hipotaxe74” (MATTHIESSEN
E THOMPSON, 1988, p. 308 (tradução nossa))
Tendo em vista que, neste estudo, procuramos realizar uma análise que leve em conta
a situação discursiva, adotamos a seguinte definição sobre a hipotaxe de realce: “o fenômeno
de articulação de cláusulas que se combinam para modificar, ou expandir, de alguma forma a
informação contida em outra cláusula (ou porção de discurso) o que é manifestado pelas
relações circunstanciais” (DECAT, 2001, p. 111).
Neves (2007) menciona que, no estudo da articulação de cláusulas, as orações
classificadas como adverbiais pela Gramática Tradicional são objetos privilegiados de
pesquisa. O estudo dessas orações torna-se importante, já que, muitas vezes, suas
classificações são restritas ao nível da frase.
Além disso,
76
Disponível em: http://www.sfu.ca/rst/07portuguese/intro.html. Acesso em: 1. mar. 2009.
77
Ressaltamos que todos os quadros que serão apresentados sobre a Teoria da Estrutura Retórica se encontram
disponíveis no site: http://www.sfu.ca/rst/07portuguese/intro.html. Além disso, os termos N, S, A e L se referem,
respectivamente, ao núcleo, ao satélite, ao autor e ao leitor.
165
Nome da relação Condição em S ou N, Condição em N +S Intenção do A
individualmente
Antítese Em N: A tem atitude N e S estão em contraste A atitude positiva do L
positiva face a N. (cf. a relação de contraste); face a N aumenta.
devido à incompatibilidade
suscitada pelo contraste,
não é possível ter uma
atitude positiva perante
ambas as situações; a
inclusão de S e da
incompatibalidade entre as
situações aumenta a atitude
positiva de L por N.
Quadro 3 – Relação Retórica de Antítese
1-2
Condição
78
Disponível em http://www.sfu.ca/rst/07portuguese/intro.html. Acesso em 1 mar. 2009.
166
Este esquema mostra que o texto foi dividido em duas partes (1-2), sendo (1): Se pinga
fosse fortificante e (2): brasileiro era gigante. A unidade (2) representa o núcleo e a (1) o
satélite, a curva sempre vai do sentido do satélite para o núcleo. Nesse caso, demonstramos
uma relação de condição que ocorre quando a realização do núcleo depende da realização do
satélite.
Nas relações multinucleares, ao formarmos os esquemas, utilizaríamos as linhas
horizontais com os mesmos objetivos, mas no lugar de linhas verticais, teríamos diagonais
que representariam os dois ou mais núcleos presentes na relação. Logo, é possível demonstrá-
las da seguinte maneira:
1-2
Contraste
O amor faz passar o e o tempo faz
tempo passar o amor.
Medologia
Proposta de análise
Unidades de informação:
81
Foram colocados todos os títulos e subtítulos dos textos em negrito.
168
Levando em conta uma análise tradicional, as orações quando não cresce, míngua
poderiam ser classificadas da seguinte forma: a primeira seria oração subordinada adverbial
temporal e a segunda, principal. Essa classificação se deve ao fato de as gramáticas
tradicionais apontarem o conectivo quando como típico das orações adverbiais temporais. Já
em O amor é como a lua poderíamos depreender uma oração adverbial comparativa com o
verbo elíptico, logo teríamos O amor é como a lua é. Nesse sentido, o amor é representaria a
oração principal e como a lua é corresponderia à oração subordinada adverbial comparativa.
Outra análise de base tradicional seria pensar em uma oração subordinada temporal e em uma
subordinada adjetiva explicativa, assim, ter-se-ia O amor, que é como a lua, quando não
cresce, míngua. Logo, que é como a lua seria considerada subordinada adjetiva explicativa;
(O amor) quando não cresce, subordinada adverbial temporal e (O amor) míngua, principal.
Além disso, nas gramáticas tradicionais, as orações subordinadas adverbiais são, por
vezes, definidas por funcionarem como adjuntos adverbiais. Assim, vários gramáticos
mencionam que, se há uma oração subordinada adverbial, podemos trocá-la por um adjunto
adverbial. Desse modo, afirma Cegalla (2007, p. 396) que a oração quando amanhecia da
porção textual Saímos de casa quando amanhecia poderia ser substituída por de manhã cedo,
o que resultaria em Saímos de casa de manhã cedo.
Como já afirmamos, as orações não devem ser estudadas observando os conectivos
que as encabeçam, ou seja, não será a presença de um quando que designará uma temporal,
nem acreditamos que a oração subordinada adverbial possa ser substituída, sem alterações de
sentido, por um adjunto adverbial. Ademais, nem sempre é possível encontrar um adjunto
adverbial que faça equivalência a uma oração.
No que concerne a Halliday82 (1985/ 2004), teríamos, nesse provérbio, orações
complexas, já que há mais de uma oração. Entre essas orações quando não cresce, míngua
estabeleceria uma elaboração com o amor é como a lua; logo, as primeiras constituiriam
orações complexas que seriam como um todo hipotáticas de elaboração para o amor é como a
lua. Já entre quando não cresce e míngua, a primeira oração seria hipotática de realce,
expressando uma circunstância de tempo, em relação à segunda.
Quanto à Matthiessen e Thompson (1988), no que se refere à articulação de orações,
teríamos orações paratáticas e hipotáticas. Assim, entre as porções de texto,o amor é como a
lua e míngua, encontram-se orações paratáticas. Já entre quando não cresce e míngua, a
primeira oração é considerada hipotática em relação à segunda. Por outro lado, esses
estudiosos asseveram que devemos levar em conta também as relações retóricas que se
estabelecem entre essas orações, o que é perceptível no nível do discurso.
A partir da Teoria da Estrutura Retórica, detectamos, no provérbio citado, as seguintes
relações predominantes: as porções de texto (2-3) funcionam como elaboração para a
proposição (1). Entre as porções (2-3), consideramos a relação de circunstância. Ao se
analisar o quadro de relações83, notamos que uma das intenções da relação de elaboração é
que o leitor reconheça que o satélite, no caso (2-3), proporciona informações adicionais ao
núcleo (1). Desse modo, o satélite contribui para aumentar a capacidade de o leitor entender o
que está sendo dito no núcleo. Então, quando nos deparamos com as partes de texto: O amor é
como a lua, podemos questionar por que o amor é como a lua?A partir dessa pergunta,
encontramos a resposta porque quando não cresce, míngua. Essa resposta quando não cresce,
míngua demonstra que a informação presente no núcleo O amor é como a lua seria uma
abstração que poderia ser exemplificada pelo satélite – quando não cresce, míngua –, o que
reforça a escolha da elaboração. No texto, aparecem informações que confirmam por qual
82
É válido mencionar que as nossas classificações baseadas em Halliday (1985/2004) e Matthiessen e Thompson
(1988) foram pautadas no que se considerou plausível para esses estudos.
83
Todas as análises das relações retóricas serão fundamentadas no quadro de relações disponíveis em:
<http://www.sfu.ca/rst/07portuguese/definitions.html >.
169
motivo o autor considera o amor como a lua: Uns dias lua cheia... uns dias minguante e que
mostram que ele não resume essa comparação ao amor, mas à vida em geral.
Entre (2-3), emerge a relação de circunstância que se caracteriza pelo fato de o leitor
reconhecer que o satélite fornece o contexto ou situação para que o núcleo seja interpretado,
salientamos que essa situação ou contexto é designado, pela teoria da RST, de forma ampla.
Logo, quando não cresce (porção 2) seria o satélite, já que forneceria a situação para o amor
acabar, ou, nos termos do texto, minguar. Entre as porções de texto que podem justificar o uso
de quando não cresce, míngua, no texto, citamos por vezes parece cheia, por vezes parece
minguar.
1-3 Elaboração
Considerações finais
ABSTRACT: Traditional Grammar, when it analyzes clauses, it doesn’t consider the level of discourse in which
portions of texts are inserted, referring to sometimes syntactic criteria, sometimes semantic criteria. Trying to
highlight an analysis of clauses that take the implicit processes into account, we intend to verify how a study
about articulation of clauses, looking into enhancing hypotaxis and Rhethorical Structure Theory can contribute
to the analysis of proverbs proposed to this work. We believe in the hypothesis that connectives cannot determine
the relations established between the portions of the texts by themselves. On theoretical foundations, we will use
170
the studies of Matthiessen and Thompson (1988) and the RST (Rhethorical Structure Theory). We emphasize that
this work corresponds to a small part of my master’s degree, so we will analyze a proverb from one of texts of
my master's research. We believe that a study of rhetorical relations contributes to that sentences doesn’t be
observed from connectives that start them, so besides syntactic criteria, we must consider semantic and the
pragmatic criteria too.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
171