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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Instituto de Educação à Distância

Cristóvão António: 708216871

O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

Disciplina: Habilidades de Vida

Nampula, Outubro de 2022


INDICE

Introdução………………………………………………………………………………………….3

A personalidade e as fases do seu


desenvolvimento……………………………………………….4

Temperamento………………………………………………………..……………………………4

As principais capacidades humanas por desenvolver………………………..……………………7

Os pilares de auto-estima e auto-confiante………………………………….…….………………9

Influência da cultura a
personalidade……………………………………………………………..11

Os papéis de género……………………………………………………………………..………..12

O papel da educação na formação da personalidade………………………………………….


…..14

CONCLUSÃO…………………………………………………………………………..……….16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………….……….17

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objectivo a realização de um diálogo sobre como a educação
contribui e ampara a formação da personalidade, esta, por sua vez, é ancorada pelos pensadores
da educação que refletem sobre psicogénese cognitiva. Tendo como base a importância da
educação nos primeiros anos de vida na formação das pessoas.

Iniciando, cada vez mais cedo, o ciclo escolar em berçários, creches e a pré-escola, a criança é
inserida no segundo meio social que é a escola. Como este espaço contribuirá na formação da
personalidade deste indivíduo é uma das questões que norteará esse estudo. Parte-se da ideia de
que introjecções se iniciam com todos os cuidados, a partir da formação de alianças com aqueles
que os circulam.

Muitas vezes os pequenos passam mais tempo expostos neste ambiente integral, em estado de
vigília, do que com a família. As longas jornadas de trabalho dos pais, fazem com que, cada vez
mais cedo, a escola seja a opção mais adequada pelo estímulo especializado, assim como por
proporcionar a sensação segurança, comodidade e protecção.

É importante que se trabalhe a conscientização a partir do professor, dos auxiliares de sala bem
como de todos que circulam nesse espaço, visando que esses tenham noção da importância que
possuem no processo de desenvolvimento de características nesses indivíduos que tomam conta,
pois esses resultados poderão ser percebidos seis anos mais tarde, dessa forma, é preciso entender
que esses profissionais terão um impacto expressivo sobre a vida da criança, como coloca Piaget.
Com esta estrutura também é construída a alfabetização, o letramento, a capacidade de ler,
compreender e escrever textos. O acúmulo de todo este material somado ao logo dos anos faz
parte da base que sustenta o indivíduo.

A construção afectiva, neste período, dará subsídios para a compreensão não só de textos, mas da
realidade externa e das relações interpessoais que fazem parte do cotidiano dessas crianças. As
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emoções e sentimentos, dessa forma, passam a ser consideradas nesta interpretação assim como
os traços de cada um, pois eles, com o tempo, são expostos bem como as suas necessidades.

1.1. A personalidade e as fases do seu desenvolvimento

De acordo com Berg (2020), a personalidade é o conjunto de características psicológicas e


comportamentais que podem ser observadas numa pessoa. Não é fixa, é dinâmico, dependente do
contexto individual que pode mudar no curso da sua vida. A personalidade desenvolve-se,
durante a vida, e é influenciada por factores físicos, psicológicos, culturais e morais.

São quatro (4) os factores apontados pelos antropólogos como determinantes da formação da
personalidade de um individuo:

 As características biológicas e genéticas dos sistemas neurofisiológicos e


endocrinológico;
 As características do ambiente natural e social, em que o individuo vive;
 A cultura, de que o individuo participa;
 As experiencias biológicas e psicossociais únicas, ou a historia de vida do individuo.

1.2 Temperamento

O temperamento é um dos elementos que faz parte da composição da personalidade. O


temperamento refere-se a vivacidade duma pessoa, a intensidade com que os estímulos são
respondidos, o nível geral de energia e actividade duma pessoa. (Berg, 2020),

Muitos psicólogos que estudam a personalidade infantil têm-se concentrado no estudo do


temperamento, da consistência comportamental e dos seus substratos biológicos, por serem
fenômenos que aparecem cedo na vida. Há um esforço para se mostrar a ligação entre o
temperamento na infância e a personalidade do adulto, mas figura-se como obstáculo principal a
dificuldade de delimitação conceitual dos constructos temperamento e personalidade.

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O temperamento pode ser conceituado como a qualidade das respostas emocionais da criança. É
mensurado na infância e tem a tendência de se manifestar em traços mais específicos, sendo
influenciado pelos componentes biológicos ou genéticos mais do que pela experiência (Caspi,
2005). Para Strelau (1998), o temperamento consiste em uma característica formal do
comportamento, sendo expresso através do nível de energia e de factores temporais. São traços
básicos e relativamente estáveis, presentes desde cedo nas crianças. É primariamente determinado
por mecanismos biológicos e, ao longo do tempo, está sujeito a mudanças causadas tanto pela
maturação quanto pela interacção do indivíduo com o ambiente.

De forma geral, o temperamento é atribuído a bebés e crianças pequenas – até cerca de sete anos
de idade –, destacando-se por sua forte influência biológica, sendo que a tendência de integração
dos comportamentos culmina na formação da personalidade adulta (Goldsmith et al., 1987).

O constructo denominado personalidade consiste em um domínio mais amplo, envolvendo


hábitos, valores, conteúdo da cognição social e padrões de reacção e de sentimentos. Há um
número significativo de variáveis que estão no cerne de sua concepção e desenvolvimento e, por
ser um constructo com ampla variabilidade, costuma ser atribuído a crianças mais velhas,
adolescentes e adultos.

Conforme Berg (2020), Hipócrates, filósofo grego, foi o primeiro a formular uma teoria do
temperamento, baseando-se na teoria dos quatro fluidos corporais (humores) sanguíneo (sangue),
fleumático (linfa ou fleuma), colérico (bilis) e melancólico (astrabilis ou bilis negra) cada um
deles possui uma determinada característica:

a) Sanguíneo
 Pessoa marcante, que não passa despercebida. O seu espirito é jovial, apaixonado, alegre e
sociável;
 É ágil e rápido, tem muita vitalidade, esta sempre animado, gosta do contacto com a
natureza, tem amigos em toda a parte. O seu ritmo é rápido, entusiasta, os movimentos
são amplos, dinâmicos e expansivos;
 É um actor nato, exuberante;
 Tem um espirito positivo, prático;
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 É alegre;
 É apreciado, pelo seu caracter optimista e caloroso. Sempre demostra amabilidade,
mesmo quando não sente nada, podendo até cometer pequenas pequenas mentiras,
aumentando ou diminuindo as situações, para parecer ou conseguir o que deseja;
 Expansivo, optimista, mas irritável e impulsivo.
b) Colérico
 É uma pessoa calorosa, rápida, impulsiva. Zanga-se facilmente;
 Esta pessoa e prática, tem muita força de vontade e é auto-suficiente, e muito
independente;
 Tende a ser determinada e com opiniões fortes, tanto para si como para os outros, e tende
a tentar impô-las;
 Ambicioso e dominador, tem propensão a reacções abruptas e explosivas.
c) Fleumático
 É uma pessoa calma, tranquila, e raramente fica zangada;
 As pessoas deste temperamento são bem equilibradas;
 O fleumático é frio e é preciso, na tomada de decisão;
 Ele prefere viver numa vida feliz, sem perturbações;
 Pode se dizer que é o melhor temperamento;
 Sonhador, pacífico e dócil, preso aos hábitos e distante das paixões.
d) Melancólico
 É uma pessoa com alto nível de sensibilidade;
 É o mais rico e o mais complexo de todos os temperamentos;
 O temperamento melancólico geralmente faz com que a pessoa seja dedicada, talentosa e
perfeccionista;
 Esta pessoa é de natureza muito sensível, emocional, e é propensa à depressão;
 É a pessoa que mais aprecia as artes;
 É propensa a introspecção;
 Nervoso e excitável, tendendo ao pessimismo, ao rancor e à solidão.

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As fases do desenvolvimento da personalidade. O seu processo de amadurecimento pode dividir-
se em três etapas:

 1ª Fase: dos 0 aos 14 anos - Etapa do Eu – é caracterizada pela necessidade de receber,


sendo necessária uma correcta vivência da autoridade, dos limites, da orientação e coisas
semelhantes.
 2ª Fase: dos 15 aos 40 anos – Etapa do NÓS – ocorre aqui uma demanda do compartilhar,
ate atingir o NÓS.
 3ª Fase: dos 40 aos 70 anos – Etapa do DAR - ocorre aqui a demanda do dar, ate atingir a
consumação da identidade.

O psicanalista americano Erik Erikson (1976) deu continuidade aos grandes psicólogos como
Freud e Piaget, na distribuição do desenvolvimento humano, por fases. Mas o seu modelo detém
algumas características particulares:

 Em vez do foco fundamental na sexualidade, como Freud, deu mais foco as relações
sociais;
 Ampliando a proposta de Freud, verificou que os estágios psicossociais envolvem outras
partes do ciclo vital, além da infância.
1.3. As principais capacidades humanas por desenvolver

De acordo com Berg (2020), o ser humano não nasce perfeito, e deve desenvolver a sua
personalidade, durante toda a sua vida. Portanto, podemos encontrar neste campo, cinco
capacidades humanas que consideramos importante resolver:

a) Domínio sobre a afectividade


 Permite aproveitar a riqueza da afectividade, sem se lhe estar submisso;
 Actua orientado por propósitos bem pensados, claros e assumidos conscientemente: não
hesita em pedir ajuda e orientação, mas ao mesmo tempo, determina-se de maneira
autónoma;
 Persevera, durante muito tempo, enquanto for necessária a acção, para atingir a finalidade
proposta;
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 Supera a sua afectividade espontânea; sabe analisar os factos e as pessoas, de maneira
mais profunda; nos conflitos com outras pessoas, sabe aguentar e superar situações.
 Hierarquiza valores, colocando em primeiro lugar os que o projectam para fora de si, em
direcção ao “outro” e, em ultimo lugar, os que se referem directamente a ele próprio.
b) Prevalência do amor

Um amor, que se da aos outros, num processo dinâmico e habitual de integração interpessoal. Na
vida do ser humano, existem diversas etapas, que o vão preparando para atingir a possibilidade de
viver o amor maduro. Todas elas deverão ser vividas em plenitude. Para chegar ao amor maduro
e enriquecedor, devemos percorrer um longo caminho: O caminho do amor:

 Na infância: amor receptivo;


 Na adolescência: Treino para o amor;
 Na juventude: experiencia do amor;
 Na idade adulta: maturidade, a vida do amor.
c) Capacidade de auto-reflexão, de auto-analise, de autocritica e de critica dos outros

É o dinamismo do aperfeiçoamento e crescimento pessoal. A finalidade da crítica é a análise


atenta e objectiva do modo de agir das pessoas e do acontecer, na sociedade. Isto supõe um
processo de identificação de causas, de avaliação de situações e comportamentos e da procura de
novas soluções: tudo se dirige à formulação de uma verdade.

O primeiro sinal, inicio do processo de amadurecimento pessoal, é o começo da auto-reflexão, da


auto-analise e da autocritica. Esta atitude é gerada pela consciência da nossa possibilidade de
errar, e da sincera aceitação da crítica, que os outros fazem de nós. Mas, para que a critica seja
objectiva e construtiva, devera respeitar duas condições imprescindíveis:

 O reconhecimento sincero dos aspectos positivos da pessoa ou do facto em avaliação.


Sempre existem aspectos positivos. Não descobrir é sinal de imaturidade.
 Não julgar as intenções (evitando o mecanismo da projecção das opiniões subjectivas).
Podemos afirmar que, para as pessoas maduras, tal tipo de crítica ou autocritica é sempre
um estímulo para crescer. Se eu fico ferido, quando me criticam, certamente será: ou
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porque eu psicologicamente ainda não sou maduro; ou porque a critica não foi objectiva e
construtiva. Isso sempre acontece, quando interpretamos as intenções dos outros ou os
outros interpretam as nossas.
d) Sentido de responsabilidade
 O adulto maduro tem a capacidade de adaptar-se, criticamente, as diversas circunstâncias
da vida. A adaptação da pessoa madura e psicologicamente adulta constitui-se, num
hábito espontâneo de flexibilidade e sensibilização, face as exigências e expectativas das
pessoas e situações, com que convive.
 Adaptação prévia e fundamental é a aceitação cordial e funcional da própria realidade
individual. Não podemos adaptar-nos ao meio ambiente, sem termos aprendido a
conviver, consciente e serenamente, com nós mesmos.
 Uma adaptação madura exigira que eu saiba administrar os conflitos, e não apenas evitá-
los ou eliminá-los.
 Para amadurecer, é preciso focalizar o triunfo. Se me sinto frustrado, quando não sou
elogiado, estou a cair no infantilismo, porque não confio em mim mesmo. Se não sei
elogiar, mas só criticar, estou a mostrar imaturidade (inveja. ciúme).

Portanto, podemos concluir que, a maturidade humana, enfim, é: conquista pessoal favorecida
pelo próprio esforço, pelo ambiente, pela educação e pelo dinamismo da acção da graça de Deus
no nosso ser.

1.4. Os pilares de auto-estima e auto-confiante

Branden (2002) cita 06 atitudes fundamentais as quais denominou “os seis pilares da auto-
estima” que devemos desenvolver.

1º Pilar: A atitude de viver conscientemente

Branden (2002) discute que é muito importante ter consciência do que está por trás dos nossos
actos. Quanto mais elevada for a forma de consciência, que é um recurso de sobrevivência, mais
avançada será a relação com a vida. Isso nos leva à maturidade, sair do estado de nevoeiro
mental. Viver conscientemente significa querer estar ciente de tudo o que diz respeito a nossas

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ações, nossos propósitos, valores e objectivos, ao máximo de nossa capacidade, qualquer que seja
ela e comportarmo-nos de acordo com aquilo que vemos e conhecemos. Viver conscientemente é
viver responsavelmente perante a realidade, ter a mente activa em vez de passiva, ter uma
inteligência que deriva bem-estar, estar no momento sem perder o contexto amplo, distinguir a
relação entre os fatos, sua interpretação e as emoções. É ter discernimento e coragem.

2º Pilar: A atitude da auto-aceitação

Sem auto-aceitação, a auto-estima é impossível. Enquanto a auto-estima é algo que


experimentamos, a auto-aceitação é algo que fazemos: valorizo “a mim mesmo”, tratando-me
com respeito e lutando por meu direito de ser e a disposição de dizer sobre qualquer emoção ou
comportamento.

Barreto (2010) comenta que auto-aceitação envolve se perceber com valor próprio, poder dizer
que “tenho valor”, “que sou capaz” e poder me afirmar e de dizer não, é estar a meu favor, ser
coerente com o que sinto. Quando calamos, com certeza o corpo vai falar através de vários
sintomas: gastrites, úlceras, etc. Quem se rejeita e não se aceita não tem futuro promissor. Todo
ser humano é imperfeito, todos cometemos erros, e muitas vezes somos possuídos por
sentimentos negativos. Se desejarmos nos livrar deles temos que primeiro aceitar que erramos. Se
tenho raiva, aceito ter raiva, se tenho medo, aceito que tenho medo. A auto-aceitação envolve a
ideia de ser amigo de si mesmo, aceitando as imperfeições, os conflitos e até mesmo a nossa
grandeza.

3º Pilar. A atitude da autorresponsabilidade

Branden (2002) refere que a atitude de autorresponsabilidade envolve: ser responsável pela
realização de meus desejos, por minhas escolhas e meus actos, pelo nível de consciência com que
trabalho e vivo meus relacionamentos, por meu comportamento com os outros, pela qualidade
das minhas comunicações, por aceitar e escolher os valores que vivo pela minha própria
felicidade e pela minha própria auto-estima

Se errei, reconheço que errei, peço perdão, me desculpo, me corrijo, tiro as lições e sigo em
frente. Jamais culparei os outros por meus próprios erros e nem muito menos procurarei álibis
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para justificar meus deslizes. Diz um filósofo alemão: “Não me envergonho de mudar porque não
me envergonho de pensar.” (Barreto, 2010).

4º Pilar. A atitude da auto-afirmação

Segundo Branden (2002), esse pilar é a disposição para honrar minhas vontades, meus desejos,
necessidades e valores e tratar a mim com respeito. Sem a auto-afirmação agimos como meros
expectadores e não participantes. É necessário sermos actores de nossas próprias vidas.

A auto-afirmação é aceitar ser o que se é com suas qualidades e defeitos, sem precisar esconder
ou falsificar a si mesmo para poder ser aceito pelos outros. Precisamos agir sem agressividade,
prestando atenção ao contexto, nutrindo em nós a confiança e a segurança naquilo que se é, sem
medo de represálias.

5º- Pilar. A atitude da Intencionalidade

É necessário estarmos atentos, estabelecendo metas e objectivos produtivos. É viver de forma


intencional, assumindo as escolhas com responsabilidade e de forma consciente. Para viver de
forma intencional e produtiva, segundo Branden (2002) é necessário desenvolver dentro de nós a
capacidade da autodisciplina, que é uma virtude de sobrevivência.

Essa atitude envolve os seguintes aspectos: preocupar-se em identificar os actos necessários para
alcançar os objectivos estabelecidos, monitorar o comportamento para que ele esteja em sintonia
com esses objectivos, prestar atenção aos resultados dos próprios actos, para saber se eles levam
ao que se quer chegar e estar conectado com o nosso presente, pois assim estaremos olhando para
o futuro.

6º- Pilar. A atitude da integridade pessoal

Integridade é a integração dos ideais, das convicções, dos critérios, das crenças e dos
comportamentos. Integridade é a congruência dos nossos actos, dos nossos valores,
compromissos e prioridades. É ter autoconsciência e autorresponsabilidade. É ser íntegro consigo
mesmo, admitir nossas falhas sem culpar os outros, entender o porquê daquilo que fazemos,

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reconhecer nossos erros e pedir perdão, reparar os danos causados e se comprometer
intencionalmente a agir de forma diferente. É agirmos com os demais de forma como gostaríamos
que agissem connosco, de forma gentil, delicada e justa.

1.5. Influência da cultura a personalidade

De acordo com Berg (2020), a cultura se refere aquela parte do ambiente produzida pelos homens
e por eles aprendida e utilizada. Segundo Taylor (1874), cultura é o conjunto de conhecimentos,
crenças, artes, normas morais e costumes e muitos outros hábitos e capacidades adquiridos pelos
homens, em suas relações, como membros da sociedade.

A compreensão moderna da palavra cultura tem quatro significados principais: 1) o processo


geral de desenvolvimento intelectual, espiritual e estético; 2) o estado da sociedade baseada na
lei, ordem, moralidade coincide com a palavra "civilização"; 3) características do modo de vida
de qualquer sociedade, grupo de pessoas, período histórico; 4) formas e produtos da actividade
intelectual, e sobretudo artística, como a música, a literatura, a pintura, o teatro, o cinema, a
televisão ( Leontiev, 1982).

A cultura desempenha um papel muito controverso na vida humana. Por um lado, ajuda a
consolidar os padrões de comportamento mais valiosos e úteis e transmiti-los às gerações
subsequentes, bem como a outros grupos. A cultura eleva a pessoa acima do mundo animal,
criando um mundo espiritual, promove a comunicação humana. Por outro lado, a cultura é capaz,
com a ajuda das normas morais, de consolidar a injustiça e a superstição, comportamentos
desumanos. Além disso, tudo o que foi criado no âmbito da cultura para conquistar a natureza
pode ser usado para destruir as pessoas. Portanto, é importante estudar as manifestações
individuais da cultura para poder diminuir a tensão na interacção de uma pessoa com a cultura
gerada por ela.

Em primeiro lugar, deve-se notar que uma certa experiência cultural é comum a toda a
humanidade e independe do estágio de desenvolvimento desta ou daquela sociedade. Assim, cada
criança recebe nutrição de crianças mais velhas, aprende a se comunicar por meio da linguagem,
ganha experiência na aplicação de punição e recompensa e também domina alguns dos outros

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padrões culturais mais comuns. Ao mesmo tempo, cada sociedade fornece a praticamente todos
os seus membros alguma experiência especial, padrões culturais especiais, que outras sociedades
não podem oferecer. Da experiência social comum a todos os membros de uma determinada
sociedade, surge uma configuração de personalidade característica que é típica de muitos
membros de uma determinada sociedade. Por exemplo, uma pessoa que foi formada nas
condições de uma cultura muçulmana terá características diferentes de uma pessoa criada em um
país cristão. ( Leontiev, 1982).

1.6. Os papéis de género

De acordo com Berg (2020), os papéis de género são desenvolvidos pela própria criança ao longo
da sua infância, através do processo de construção da sua identidade. É importante, ao longo
desse processo, incentivar o diálogo entre pais e filhos. Deste modo, a criança irá sentir-se
apoiada pelas pessoas que lhe são mais próximas para que no futuro seja um adulto plenamente
desenvolvido.

A sociedade exige que adoptemos determinadas atitudes e comportamentos para nos inserirmos
nela, e é desde cedo que a aprendizagem dessas directrizes começa. Uma delas está relacionada
com os papéis de género, em que são esperados determinados comportamentos e atitudes,
baseados em estereótipos pré-existentes. No entanto, por vezes, existem fugas a esse tipo de
comportamentos esperados, situação que geralmente provoca na criança problemas sociais e
desorganização emocional. Como tal, é importante clarificar qual o modo de agir face a estas
fugas de comportamentos pré-definidos e qual a posição a adoptar relativamente aos mesmos.

A percepção do papel de género é adquirida logo na infância, onde se desenvolve a capacidade


para identificar o próprio género e o dos outros. Consoante a criança cresce, apercebe-se também
das diversas variantes e dimensões que compõem o seu papel de género, tais como,
características físicas, comportamentos típicos ou orientação sexual. (Berg, 2020)

De acordo com alguns estudos feitos na área, a criança constrói este papel de género até aos 7/8
anos, para depois nos anos seguintes a consolidar. Esta percepção da criança pode ser
influenciada e implementada por diversos factores, entre eles a convivência com os seus pais e

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pessoas próximas, e a própria sociedade em que se insere (em que se destacam nos dias de hoje
os meios de comunicação social). Assim, para além do fator biológico, o papel de género tem
também uma componente social e cultural, uma vez que as pessoas reagem de modo diferente se
uma criança é uma menina ou um menino.

Como tal, é muito importante que a criança defina o seu papel de género, não só para organizar o
seu mundo social, mas também para efectuar uma correta avaliação de si próprio e dos outros.
Outro fator que a criança desenvolve a partir do seu papel de género é a sua capacidade de
socialização, uma vez que o modo como de se comporta, de acordo com o seu género, ajuda nas
relações com os outros. Inicialmente a aquisição de estereótipos é feita de forma rígida pela
criança, ou seja, ela identifica claramente as características típicas de cada género e comporta-se
de acordo com o mesmo.

No entanto, ao longo do seu crescimento, a rigidez torna-se dá lugar à flexibilidade, em que a


criança começa a ter a percepção das suas próprias características individuais e complementa-as
de acordo com a sua identidade de género. Esta flexibilidade é também aplicada à visão que tem
dos outros que a rodeia, não estando tão susceptível a adoptar determinados estereótipos de
género.

1.7. O papel da educação na formação da personalidade

O autor de origem francesa Henri Wallon (1879-1962), salienta que a escola irá buscar relativizar
e articular-se a partir da história dessa criança, para tanto, considera-se a bagagem, a
singularidade e o repertório desta como também resultado do seu meio. Este espaço é um
caminho de conciliamento que actua no contexto privilegiado para o estado da criança, onde as
emoções se inserem em um campo maior que a afectividade. Como há uma variedade intensa,
expressam-se de forma visível para o outro, elas tentam, também, chamar a atenção de todo o
grupo familiar, buscando, principalmente, contagiá-los com as suas emoções. A função das
emoções é, principalmente, social, assim este é o primeiro recurso de interacção accionado para
chamar a atenção. A inteligência nasce das emoções, baseada na linguagem e desenvolve a
inteligência discursiva. Dessa forma, instala-se um antagonismo entre a inteligência e a emoção
conflitosa.

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Analisado as origens do conhecimento na criança, apresenta duas particularidades do pensamento
infantil. A ausência do pensamento reflexivo que configura a capacidade de pensar o próprio
pensamento, e a ausência da tomada de posição que configura a capacidade de assumir um ponto
de vista. Tomaremos agora a segunda particularidade que guarda relações com outro traço
próprio do pensamento infantil: A alternância entre afirmações opostas. Wallon afirma que o
pensamento infantil é “fluído” pelo menos sobre dois aspectos: o da solução entre hipóteses
contraditórias e o da interferência mutua entre a linguagem verbal e imagem (Pereira, 2012).

O autor de origem Suíça Jean Piaget (1896-1980), salienta que o processo de escolarização é
importante no processo de autonomia para as fases subsequentes. Era um grande estudioso de
teorias da educação. A partir do século XV, Worinton, criador da autogenética, passou a ver o
papel da natureza e da cultura no processo de aprendizagem. Há duas fases na construção da sua
teoria: A primeira, ocupa-se em pensar a linguagem e a representação que a criança tem das
coisas, para tanto, apoia-se nas perguntas clássicas para criança e no julgamento moral. Na
segunda fase passou-se a observar os filhos e, portanto, dedicou-se a pensar sobre o nascimento
da inteligência e a construção da realidade. Assim, foram desenvolvidas quatro fases. No livro de
1975 tinha-se como objectivo entender e interpretar a realidade.

Enfim, a identificação do eu é um processo de individualização que se soma ao longo destes anos


com intuito de construir o adulto a partir da criança.

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CONCLUSÃO

Por conseguinte, entende-se que para que a criança possa aprender e se desenvolver, ela necessita
da liberdade de escolher o que, como e quantas vezes irá aprender. Os erros devem ser
descobertos e corrigidos a partir delas mesmas, em um ambiente apropriado com os materiais
devidos, observadas pelo professor que, por sua vez, deve ser capacitado para orientar essas
crianças. Elas devem se sentir confortáveis para conseguir aprender com esses erros, dessa forma
a liberdade precisa ser, continuamente, incentivada.

Os maiores danos que se pode causar a uma criança é a condução à perda da confiança e da
capacidade de pensar. Assim sendo, deve-se capacitar o professor para que ele possa intervir de
forma adequada para anular ou amenizar essa sensação nas crianças, dessa forma, é importante
que haja, sobretudo, o respeito à individualidade. Como estratégia, propõe-se a leitura em voz
alta para estimular o mistério e a curiosidade no alvo, ou seja, no aluno aprendiz.

Propôs-se este tudo pois acredita-se que a escola deve actuar, junto com a família, como um
ambiente propício para que a criança se desenvolva plenamente. Para tanto, elencou-se os autores
para amparar a defesa de seus conceitos e teorias relacionados ao desenvolvimento do saber. É
um processo que deve ser entendido como um grande útero social, ou seja, como um espaço de
formação de pessoas, como um local para o desenvolvimento do saber, como um sítio de
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promoção à saúde mental. É importante entender esse processo como um jardim que
disponibiliza as ferramentas adequadas para cada fase, pois essas conseguem solucionar conflitos,
transformar a realidade e edificar um indivíduo produtivo, seguro e com valores que podem
tornar o mundo melhor no futuro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Branden, N. (2002). Auto-estima e os seus seis pilares. Tradução de Vera Caputo. (7ª. ed.). São
Paulo: Saraiva.

Barreto, A. (2010). Manual: cuidando do cuidador-resgate da auto-estima na comunidade.


Fortaleza: [s.n.]

Berg, Yme van den, et al. (2020). Habilidades de vida: Projecto saúde sexual reprodutiva,
género e HIV/SIDA. Moçambique, Beira: UCM.

Leontiev A.N. (1982). Sobre a teoria do desenvolvimento da personalidade. (3ª. ed). São Paulo:
Atlas

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