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ARENDT, Hannah.

Trabalho, Obra e Ação, In: Cadernos de


Ética e Filosofia Política 7, 2/2005, pp. 175 – 201.
Disponível em
http://www.fflch.usp.br/df/cefp/Cefp7/arendt.pdf

Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho


Profa. Dra. Bruna Suruagy Dantas
Prof. Dr. Enzo Banti Bissoli
TRABALHO, OBRA, AÇÃO

As Notas de Aula aqui apresentadas foram também retiradas


de CORREIA, A. Hannah Arendt. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
“O Trabalho Liberta” (Auschwitz)
A Condição Humana, de Renè Magritte (1935)

14/10/1906 – 04/12/1975
J. L. David - Madame Récamier, 1800

Magritte – Madame
Récamier de David, 1949
Magritte - A Ponte de Heráclito, 1935
Magritte - O Terapeuta, 1941
Magritte The Rape 1945
Max Ernst - The Virgin
Spanking the Christ Child Before
Three Witnesses, 1926
“Você... Sendo apenas uma barata, só quer viver! Pra
você já é o bastante! Mas eu... Eu tenho que
perguntar, por quê?”
A vida ativa é constituída por: 1. condições da
existência humana, que são a vida (biológica), a
natalidade e a mortalidade que lhe é inerente, a
cotidianidade, a pluralidade e o planeta Terra.

“Para que houvesse


um início o homem foi
criado.”
Santo Agostinho de Hipona
(Tagaste, atual Argélia, 13 de
Novembro de 354 - Hipona, atual
Argélia, 28 de Agosto de 430)
A vida ativa é constituída por: 2. as atividades
humanas, que são o trabalho, a fabricação e
ação.
TRABALHO (LABOR)
• Processo biológico do corpo humano, consiste no
metabolismo do homem com a natureza, em vista da
satisfação das necessidades permanentementes
repostas no processo vital.
A OBRA OU FABRICAÇÃO
• É a produção de um mundo artificial de coisas, diferente de
qualquer ambiente natural. Da interação do homem com a
natureza, por meio da fabricação, surgem objetos para serem
usados e que portam uma durabilidade de que não desfrutam os
produtos do trabalho feitos para serem consumidos.
• A obra (a mundaneidade) degenera em labor
(consumo)
Ação
• É a única atividade que se dá diretamente entre os
homens, sem mediação de qualquer objeto natural ou
coisa fabricada, e corresponde à condição humana da
pluralidade.
• A guerra é a ação degenerada
A vida ativa é constituída pela: 3. localização das
atividades humanas, que são o espaço privado,
o público e o social.
A distinção entre as esferas pública e privada foi
inspirada pela Pólis grega e o pensamento político de
Aristóteles (Estagira, Macedônia, 384 A.C. – Atenas,
322 A.C.).
O Espaço Privado
• A vida doméstica refere-se ao convívio
compelido pelas carências e necessidades
relacionadas à conservação da vida.
O Espaço Público
• Refere-se à Polis, onde ser livre significava estar
ao mesmo tempo liberado da tarefa de atender
as necessidades da vida e da obrigação de
comandar e de ser comandado, é o espaço dos
exclusivamente iguais.
Coragem
• A coragem era a virtude
política por excelência,
pois decorria do
abandono da segurança
da esfera privada para a
vida pública
• Um excessivo amor à
vida era um obstáculo à “Antígona”, peça de Sófocles, ícone do
teatro grego antigo, evoca o coragem da
afirmação da liberdade consciência versus a tirania da
autoridade.
e um claro sinal de É a história de uma heroína que resolveu
sepultar seu irmão Polinices, mesmo
covardia. desobedecendo o decreto de seu tio, o
rei Creon, que proibiu sepultura àquele
morto, por ter sido traidor.
Para Hanna Arendt

• o princípio que orienta a vida privada é a


necessidade;
• e o que norteia a vida pública é a liberdade.
Política degenerada
A diferença fundamental entre o governo despótico e o
poder político se assenta, antes de tudo, na distinção
entre servidão e liberdade.
Fuzilamentos de 3 de Maio, 1808
Francisco José de Goya y Lucientes (30 de Março de 1746, Fuendetodos, Espanha
- 16 de Abril de 1828, Bordeaux, França)
30 de Dezembro de 2005 - Refugiados sudaneses contra polícia egípcia - A polícia
egípcia anti-motim disparou canhões de água para tentar dispersar centenas de
refugiados sudaneses que estava acampados há três meses em frente ao edifício do
Alto Comissariado da ONU para os Refugiados no Cairo. Vinte refugiados foram mortos
nos confrontos que se seguiram. A ONU diz-se "profundamente chocada". Foto: Ben
Curtis/AP(visto in jornal o Público)
Guernica, 1937
Pablo Picasso (Málaga, 25 de Outubro de 1881 — Mougins, 8 de Abril de
1973).
Servidão Voluntária
Vida Pública X Vida Privada
• De acordo com o pensamento grego, a capacidade
humana para a organização política é não apenas
diferente daquela associação natural cujo centro é o
lar (oikia) e a família, mas se põe em oposição direta
a ela.

• A ascensão da cidade-estado significou que o


homem recebera “em acréscimo a sua vida privada
uma espécie de segunda vida, seu bios politikos.
Agora cada cidadão pertencia a duas ordens de
existência; e há uma aguda distinção em sua vida
entre o que lhe é próprio (idion) e o que é comum
(koinon).
O Espaço Social
• Para Arendt, com a modernidade desapareceu a
diferença entre a esfera pública e a privada.

• O que caracteriza a atitude moderna é a


compreensão da política como uma função da
sociedade, com a implicação fundamental de
que as questões eminentemente privadas da
sobrevivência e da aquisição transformaram-se
em interesse coletivo, ainda que nunca se possa
falar de fato de tal interesse como sendo
público.
• A busca de satisfação dos interesses privados no
domínio público é tão danosa quanto a
pretensão dos governos de controlar a vida
privada dos cidadãos.
Modernidade
• Uma sociedade de consumidores possivelmente não é
capaz de saber como cuidar de um mundo e das coisas
que pertencem de modo exclusivo ao espaço das
aparências mundanas, visto que sua atitude central em
relação a todos os objetos, a atitude de consumo,
condena à ruína tudo em toca.
• A vitória do animal laborans – a supremacia do
trabalhador sobre o fabricante e o homem de ação –
traduz o apequenamento da estatura e dos
horizontes do homem moderno, para quem a
felicidade se mostra como saciedade, e não como
grandeza ou perfeição.

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