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Catherine Souto Costa Coelho da Silva (1); Filipe Frauches (2); Giles Bortolon Leitão (3);
Carla Neves Costa (4)
(1) Engenheira Mestre, Universidade Estadual de Campinas
(2) Engenheiro, Universidade Estadual de Campinas
(3) Engenheiro Mestre, Universidade Estadual de Campinas
(4) Professora Doutora, Departamento de Estruturas na Universidade Estadual de Campinas
Resumo
As pesquisas na área de construção civil relacionadas a novos materiais têm sido exploradas
cada vez mais com foco na sustentabilidade de novas construções. O uso de estruturas
formadas por ligas de alumínio no Brasil ainda é pequeno se comparado a países Europeus. O
Brasil, apesar de ter algumas estruturas em alumínio em seu território, não possui uma
normatização para o dimensionamento de estruturas com a liga de alumínio, seja ela em
situações normais de carregamentos ou em situações de incêndio. Neste artigo serão
apresentadas as principais propriedades das ligas de alumínio, o método simplificado de
dimensionamento do alumínio em situação de incêndio segundo o Eurocode EN 1991-1-2
(2007) demonstrando o dimensionamento à tração, compressão, flexão, cisalhamento e
combinações dos esforços de peças de alumínio em situação de incêndio, e um exemplo
prático de um desses dimensionamentos para compararmos esse material com o aço quando
submetidos à situação de incêndio.
Palavras-Chave: alumínio, estruturas, incêndio, aço.
Abstract
Research in the field of civil construction related to new materials has been increasingly
explored focusing on the sustainability of new construction. The use of structures formed by
aluminum alloys in Brazil is still small compared to European countries. Despite having some
aluminum structures in its territory, Brazil does not have a standard for the design of
aluminum alloy structures, whether in normal loading situations or in fire conditions. In this
paper the main properties of the aluminum alloy will be presented, the simplified method of
design aluminum in a fire condition according to Eurocode EN 1991-1-2 (2007)
demonstrating the design by tension, compression, bending, shear and combinations of efforts
of aluminum parts in a fire conditions, and a practical example of one of these sizing to
compare this material with steel when subjected to the fire conditions.
Keywords: aluminium alloy, structures, fire, steel.
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1 Introdução
Este artigo científico tem como proposta investigar e compreender melhor o uso de elementos
formados por ligas de alumínio em estruturas de Engenharia Civil. Este material já é usado há
mais de 150 anos para diversos fins, mas ainda pouco empregado nas estruturas da construção
civil no Brasil.
Seu estudo nesse campo também é demasiadamente limitado no Brasil, sendo a Europa o
continente que mais empregou recursos nas investigações, com a realização de experimentos e
trabalhos sobre este material. Além disso, foi na Europa que houve o início do emprego do
alumínio em construções. Devido a seus estudos e testes foram capazes de produzir material
didático e por fim os EUROCODES, que servem como diretrizes para acadêmicos e
engenheiros em todo o mundo.
Cada vez mais o mercado vem exigindo produtos renováveis e com maior durabilidade e isso
faz com que haja a necessidade de mais estudos e comprovações científicas para o surgimento
de novos materiais como, por exemplo, novas ligas metálicas para aprimorar o canteiro de
obra. Com essa exigência, as ligas de alumínio ocupam um lugar de importância e passam a
ser vistas como uma evolução para a indústria da construção civil. Na Figura 1 pode-se
observar uma estrutura feita em alumínio.
Figura 1: Exemplo de estrutura de Alumínio – ponte construída no leste da Rússia (STAFF, 2017).
2 Considerações gerais
Segundo ABAL (2007), o alumínio foi isolado pela primeira vez em 1825 e é o elemento
metálico mais abundante na crosta terrestre e, segundo estudos, também na lua. Em
temperatura ambiente é encontrado em estado sólido, mas nunca livre. A alumina é extraída
de seu principal minério, a bauxita (hidróxido de alumínio). Sendo o Brasil o terceiro país
com a maior quantidade de mineração do mesmo e também ocupa a colocação de terceiro país
com a maior reserva de alumínio do mundo.
O primeiro processo de beneficiamento da bauxita foi realizado através do processo Le
Chatelier. SILVA FILHO (2007) et al. explica que neste processo o minério era aquecido a
1200°C com uso de Na2CO3, os aluminatos eram removidos com auxílio da água, era
realizada uma precipitação do Al(OH)3 com uso de CO2 e por final, o Al(OH)3 que se
formava era filtrado.
A produção do alumínio primário atualmente é realizada pelo processo Bayer, que substituiu
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o último por ter uma enorme diferença no custo de produção. O processo é dividido em quatro
estágios, como pode ser verificado na Figura 2.
Figura 2 - Produção do alumínio primário pelo processo Bayer (Silva Filho, 2007)
O alumínio teve seu uso iniciado em estátuas e utensílios domésticos. Após anos de
aperfeiçoamento de suas ligas, e por possuir excelentes propriedades físico-químicas começou
a ser usado na indústria automotiva.
Sua elevada capacidade de combinação tornou-o um material importante para indústria
metalúrgica, que principiou pesquisas e testes com o intuito de elevarem as propriedades
mecânicas das ligas.
Ensaios em corpos de prova constataram importantes propriedades mecânicas do material,
mas, segundo BUZINELLI (2000), os estudos sobre as ligas de alumínio são muito limitados,
e os recursos são voltados para estruturas de aço, que concorrem no mercado com as de
concreto armado.
Nos ensaios realizados por ABAL (2007) notou-se que as ligas de alumínio apresentam
característica de se fundirem com quase todos os metais usados na engenharia, tornando o
alumínio um elemento de emprego diversificado.
Para ABDO (1983), se for comparado as estruturas de aço com as de alumínio, essas últimas
demonstram uma redução de no peso estrutural entre 40% e 70%, tornando-se estruturas mais
leves, que geram diminuição nos custos das fundações. Em certos casos, considerando-se
todas as varáveis, as estruturas de alumínio podem ser mais vantajosas do que as estruturas de
aço.
2.1 Vantagens da liga de alumínio
Segundo PEKO (2016), as ligas de alumínio são consideradas econômicas e competitivas na
construção civil quando se avalia as propriedades básicas desse material, tais como a leveza,
resistência à corrosão, e funcionalidade estrutural.
Com relação à leveza, as ligas de alumínio possuem um baixo peso específico (praticamente
um terço do peso específico do aço). Esse fato facilita nas montagens das estruturas feitas
com esse material. Outro ponto a se destacar com essa propriedade é a de que, tendo-se uma
estrutura mais leve, as cargas transmitidas para as fundações ficam menores o que acarreta na
diminuição do custo das fundações. Além destas, a leveza na estrutura também ajuda na
economia de energia durante a montagem da estrutura e na redução no trabalho físico.
Já relacionado à resistência à corrosão, há a formação de uma película protetora de óxido na
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Figura 3 – Estrutura espacial reticulada do Pavilhão do Anhembi em São Paulo – Brasil (Peko, 2016)
A estrutura original do Pavilhão do Anhembi cobre uma área de aproximadamente 67600m²
com uma malha de 60m x 60 m (Figura 4). A profundidade da camada reticular correspondeu
a 2,36m e a altura total da estrutura correspondeu a 16,36 m.
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Figura 4 – Cobertura do Pavilhão do Anhembi finalizada em São Paulo – Brasil (Peko, 2016)
A estrutura do Anhembi foi completamente parafusada no chão e posteriormente elevada ao
nível final de 14 m por meio de 25 guindastes localizados nos cantos da malha nas posições
dos suportes da estrutura conforme pode ser observado nas Figuras 5 e 6.
Figuras 5 e 6 – Cobertura do Pavilhão do Anhembi no chão e sendo elevada por guindaste (Peko, 2016)
O peso final da estrutura reticulada ficou no valor de 16 kg/m², totalizando em 56820 barras e
um comprimento total de 300 km. O tempo de montagem foi de 27 horas e incluiu 550000
parafusos em 13724 nós. Os materiais incluíam ligas de alumínio das séries AW 6063 e AW
6351 T6 para barras cilíndricas, Al 99,5 para folhas trapezoidais e parafusos de aço
galvanizado para conexões. Nas Figuras 7 e 8 é possível observar a leveza da estrutura
espacial reticulada e suas ligações.
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transmissão elétrica que podem até ser transportadas por um helicóptero (Figuras 9 e 10).
Figura 9 e 10 – Estrutura de torre de linha de transmissão transportada por helicóptero (Boone, 2017)
Por possuir boa resistência à corrosão, as estruturas situadas em ambientes corrosivos ou
úmidos podem ser executadas com as ligas de alumínio. Como exemplos dessas estruturas
têm-se os telhados de piscinas, pontes fluviais (Figura 1), estruturas hidráulicas e
superestruturas de offshore (Figura 11).
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Figura 14: Curvas típicas de deformação das ligas de alumínio (ABAL, 2007).
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Tabela 2 – Limites mínimos para os fatores de redução da resistência ao escoamento das ligas de alumínio
a temperaturas elevadas - ko,θ. Fonte: Eurocode EN 1999-1-2 (2007)
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Tabela 3 – Módulo de elasticidade das ligas de alumínio a temperaturas elevadas - Eal,θ. Fonte: Eurocode
EN 1999-1-2 (2007)
Módulo de elasticidade a
Temperatura da liga de
temperaturas elevadas
alumínio, θ (°C)
Eal,θ (N/mm²)
20 70 000
50 69 300
100 67 900
150 65 100
200 60 200
250 54 600
300 47 600
350 37 800
400 28 000
550 0
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Figura 16: Calor específico das ligas de alumínio em função da temperatura. (Eurocode EN 1999-1-2,
2007)
2.5.3.3 Condutividade térmica
A condutividade térmica das ligas de alumínio (λal), em watts por metro e por grau Celsius
(W/m°C), para 0ºC < θal < 500ºC, pode ser determinada conforme as eq.4 e eq.5 e também
através das curvas A e B desenhada na Figura 17:
a) para as ligas das séries 3xxx e 6xxx:
λ al =0,07 ⋅θal +190 (eq. 4)
b) para as ligas das séries 5xxx e 7xxx:
λ al =0,1 ⋅θal +140 (eq. 5)
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Tabela 4 – Comparação das propriedades físicas das ligas de alumínio em relação ao aço. Fonte: Peko et.
al (2016)
Propriedades físicas Ligas de alumínio Aço
Ponto de fusão 660°C 1425 – 1540C
Densidade a 20°C 2700 kg/m³ 7850 kg/m³
Dilatação térmica 23x10-6 °C-1 12x10-6 °C-1
Calor específico ≈ 920 J/kg°C ≈ 440 J/kg°C
Condutividade térmica ≈ 240 W/m°C ≈ 54 W/m°C
Módulo de elasticidade 70 000 N/mm² 210 000 N/mm²
Módulo de elasticidade
27 000 N/mm² 81 000 N/mm²
transversal
Coeficiente de Poisson 0,3 0,3
Como no Brasil não existe nenhuma Norma Técnica que demonstre o dimensionamento do
alumínio em situação de incêndio, a seguir será apresentado o método simplificado desse
dimensionamento segundo o Eurocode EN 1991-1-2 (2007).
3.1 Condições de segurança
As condições de segurança de uma estrutura de alumínio em situação de incêndio podem ser
expressas por:
E fi, d ⩽ R fi, d , t (eq. 6)
em que
Efi,d é o esforço solicitante de cálculo em situação de incêndio, determinado de acordo com o
Eurocode EN 1991-1-2;
Rfi,d,t é o esforço resistente de cálculo correspondente do elemento estrutural para o estado-
limite último em consideração, em situação de incêndio.
3.2 Capacidade resistente dos elementos estruturais de alumínio
Aqui serão tratados apenas os cálculos com distribuição de temperatura uniforme na seção
transversal.
3.2.1 Classificação das seções transversais
Para o dimensionamento das estruturas de alumínio em situação de incêndio, as seções
transversais podem ser classificadas da mesma forma que em temperatura ambiente, de
acordo com o item 6.1.4 do Eurocode EN 1999-1-1.
3.2.2 Barras submetidas à força axial de tração
A força axial resistente de cálculo, Nfi,θ,Rd, de uma barra de liga de alumínio axialmente
tracionada, com uma distribuição de temperatura uniforme da seção transversal, é igual a:
N fi ,θ , Rd =k o ,θ N Rd ( γ M , x /γ M , fi ) (eq. 7)
em que
NRd é a força axial resistente de cálculo à temperatura ambiente determinada conforme o
Eurocode EN 1999-1-1. NRd é o mesmo que No,Rd ou Nu,Rd;
γMx é o coeficiente do material dado no Eurocode EN 1999-1-1. γ M1 é usado nas combinações
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Figura 18: Comportamento dos pilares em situação de incêndio em estruturas de pequena deslocabilidade.
(ABNT NBR 14323:2013)
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Para o estado limite de flambagem lateral com torção, o momento fletor resistente de cálculo,
Mb,fi,t,Rd, é dado por:
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mas ∆θal(t) ≥ 0
em que:
cp ρ p Ap (eq.16)
ϕ= dp
c al ρal V
em que:
Ap/V é o fator de massividade para elementos estruturais de ligas de alumínio envolvidos por
material de revestimento contra fogo, em um por metro;
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4 Exemplo de dimensionamento
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Com esses valores, foi determinado o TRF à temperatura crítica de 414,4 °C, que é de 4 min.
Foi realizado o mesmo cálculo para uma estrutura equivalente de aço, considerando fy = fo =
200 N/mm², porém com as propriedades térmicas do aço: ca= 600 J/kg/ºC e ρa = 7850 kg/m³.
Fazendo a interpolação do valor de ky,θ = ko,θ na Tabela 1 da norma ABNT NBR 14323:2013,
obtemos o valor da temperatura crítica do aço, θcr,a = 898,0 °C.
Para essa temperatura crítica o valor do TRF é de 44,5 min.
Nota-se com esses cálculos que o valor do TRF do elemento de liga de alumínio é muito
inferior ao do elemento de aço.
5 Conclusões
O uso de ligas de alumínio no Brasil, como elemento estrutural na construção civil, ainda é
incipiente, sendo seu uso mais atrelado a esquadrias e elementos secundários de estruturas de
coberturas leves e fachadas.
No entanto, ao pesquisar os tipos de estruturas feitas com as ligas de alumínio, foi possível
verificar uma estrutura de grande porte executada no Brasil, que é do Pavilhão do Anhembi e
que foi feita há mais de 50 anos.
Apesar das ligas de alumínio possuírem diversas propriedades vantajosas como a leveza, a
resistência à corrosão e a funcionalidade estrutural, as mesmas possuem propriedades
desvantajosas como o alto custo de produção, a alta deformabilidade, alguns problemas com
estabilidade, a redução de resistência nas regiões de soldagem e alta sensibilidade aos efeitos
do fogo. E por conta dessas desvantagens muitas vezes o cliente, o arquiteto ou o projetista
estrutural, acaba adotando o aço ao invés da liga de alumínio em seus projetos.
O dimensionamento de estruturas de ligas de alumínio em situação de incêndio adotado pelo
Eurocode EN 1991-1-2 (2007) é similar ao dimensionamento de estruturas de aço
preconizado pela norma ABNT NBR 14323:2013, com a diferença da adoção das
propriedades mecânicas e térmicas de cada material.
Conforme apresentado no exemplo de cálculo, o valor do TRF do elemento da liga de
alumínio forneceu o valor de 4 minutos com a temperatura crítica de 414,4 °C. Já no caso do
aço o valor de TRF foi de 44,5 minutos com a temperatura crítica de 898,0 °C. Com isso
conclui-se que o valor do TRF da liga de alumínio analisada é muito inferior ao TRF do aço.
Essa diferença no TRF dos dois materiais se deve às diferenças de suas propriedades físicas e
térmicas de cada um dos materiais.
Sendo assim, para as estruturas de ligas de alumínio, devido à sua baixa resistência a
temperaturas elevadas, torna-se imprescindível considerar o uso de materiais de revestimento
contra o fogo.
6 Agradecimentos
7 Referências
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