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AULA 1

FISIOLOGIA ENDÓCRINA E DO
METABOLISMO

Profª Beatriz Essenfelder Borges


TEMA 1 – INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA ENDÓCRINA

O Sistema Endócrino, juntamente com o Sistema Nervoso, é responsável


pela regulação das atividades celulares. Essas atividades estão relacionadas à
integração de todo o organismo. Um conceito bem importante dentro da fisiologia
como um todo é a homeostasia.
Homeostasia é a regulação e constância do meio interno em relação às
alterações do meio externo. É a capacidade de o organismo se manter
relativamente estável, independentemente das alterações sofridas. Sempre
devemos levar em conta que existe um limite para que essa constância seja
mantida. Quando o organismo sair da homeostasia, temos uma patologia
instalada.
Conseguir manter um certo equilíbrio é essencial para a manutenção da
vida e o equilíbrio das funções vitais, físicas e químicas. Caso o ambiente interno
sofra uma modificação muito brusca, o corpo não conseguirá manter a
homeostase, e consequências severas poderão acontecer. Então, dessa maneira,
se as substâncias químicas internas estiverem em condições adequadas de
temperatura e pressão, dizemos que o organismo está em homeostasia.
Um exemplo é o calor: independentemente da temperatura externa, o
nosso organismo mantém a temperatura de 36,50C. Caso o ambiente seja de
450C, vamos ter uma pequena elevação, mas rapidamente isso será controlado,
e nosso corpo responderá com sudorese excessiva e calor periférico intenso. Isso
ocorre para que as nossas proteínas não sejam desnaturadas, e para que nossas
funções fisiólogicas não sofram alterações.
No caso do frio, a reação de manutenção da homeostasia está relacionada
com o eriçamento dos pêlos e o tremor corporal, na tentativa de gerar calor e
manter a temperatura corpórea a 36,50C. Caso a temperatura corpórea diminua
muito, os órgãos param de funcionar, pois as reações bioquímicas presentes
ocorrem na temperatura normal, e as alterações bruscas levam ao não
funcionamento fisiológico.
Precisa ficar claro que nosso organismo consegue se adaptar a pequenas
alterações e manter o equilíbrio corpóreo, gerando respostas fisiológicas a isso,
como nos exemplos citados acima: sudorese, tremor e eriçamento de pêlos
(Figura 1). Porém, quando ocorre uma alteração brusca e severa, o organismo
não consegue manter o equilíbrio, e assim temos patologias.

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Figura 1 – Demonstração dos mecanismos de ajustes do organismo para controle
da temperatura após variações normais

Sempre que pensamos em alguma doença, temos que ter em mente que o
organismo está fora do equilíbrio homeostático. As reações imunológicas de
defesa, nesse caso, ocorrem para que o equilíbrio seja retornado.
Tudo dentro do organismo funciona de forma integrada e interligada, pois
todos os sistemas são regulados pelo Sistema Nervoso ou Sistema Endócrino.
Por conta disso, o equilíbrio corpóreo é tão importante para a manutenção da vida.
Há um trabalho coesa para garantir que o organismo seja operacional.
Esses dois sistemas mantêm a homeostasia, mas funcionam de formas
diferentes. O Sistema Nervoso tem como característica uma ação rápida, mas
com baixa duração; ou seja, sua ação é de curto prazo e seu efeito é localizado.
Isso acontece porque se vale de impulsos nervosos, liberando
neurotransmissores nos terminais nervosos, o que gera uma resposta rápida e
local.
Já o Sistema Endócrino é aquele que produz os hormônios para gerar
respostas fisiológicas. Esses hormônios são lançados na corrente sanguínea para
alcançarem seus receptores-alvo. Dessa maneira, sua ação é lenta, já que precisa
percorrer grande parte da circulação para encontrar seu alvo. Apresenta ação
mais duradoura e o seu efeito é bem mais amplo que o estímulo nervoso (Figura
2).

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Figura 2 – Esquemas dos sistemas de controle (sistemas nervoso e endócrino)

SISTEMA NERVOSO SISTEMA ENDÓCRINO

Ação rápida e fugaz Ação lenda e duradoura


A curtíssimo prazo A médio e longo prazo
Efeito localizado Efeito amplo

Crédito: P.S.Art-Design-Studio/Shutterstock; Marina_Ua/Shutterstock.

TEMA 2 – SINALIZAÇÃO CELULAR

Para que ocorra uma resposta fisiológica, as nossas células precisam


receber estímulos e responder a eles. E elas conseguem fazer isso porque se
comunicam. Essa comunicação não é verbal, mas está relacionada com os
estímulos gerados no organismo.
A informação pode chegar na célula de diversas formas; elas devem
interpretar esses sinais e gerar respostas celulares. que por fim darão respostas
fisiológicas. A comunicação celular é um evento simples, se a comparamos com
a comunicação dos humanos. Uma célula-alvo converte uma molécula de
sinalização extracelular em uma molécula de sinalização intracelular, processo
chamado de transdução de sinal.
As células-alvo apresentam proteínas que são conhecidas como receptores
celulares, que reconhecem e respondem a uma molécula sinalizadora, alterando
o comportamento celular.
Na Figura 3, observamos como a molécula sinalizadora se liga no seu
receptor de membrana, desencadeando uma sinalização intracelular, que gera
uma resposta celular para o sinal recebido.

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Figura 3 – Transdução de sinal

Crédito: Vectormine/Shutterstock.

De forma geral, os processos de sinalização funcionam de maneira bem


simplificada. Uma célula produz, e envia para outro local, uma proteína que
sinalizará uma resposta metabólica em uma célula-alvo. A célula-alvo possui um
receptor em sua membrana ou no seu citoplasma/núcleo, que reconhecerá a
proteína sinalizadora, e dessa maneira ocorre um reconhecimento químico, e o
sinal é transduzido em resposta intracelular.
A sinalização pela molécula sinal pode ocorrer em qualquer distância. Uma
proteína que vai gerar a cascata de sinalização intracelular pode ser enviada para
uma célula muito próxima ou enviada para a corrente sanguínea para ser
transportada até onde o seu receptor específico estará posicionado. Essas
proteínas sinais podem ter diversas naturezas, ou seja, podem ser moléculas
hormonais, aminoácidos ou pequenos peptídeos. Se pensarmos na sinalização

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propriamente, podemos dividi-la conforme o tipo de estimulação. Assim, temos a
sinalização conhecida como autócrina, parácrina, endócrina e neuronal.
Detalhando cada tipo, encontramos diferenças importantes. A autócrina é
aquela que ocorre quando o receptor específico para recebimento da sinalização
está na mesma célula que produziu o sinal. Em outras palavras, ocorre
autossinalização, para que a resposta ocorra internamente, sem que o sinal se
desloque pelo corpo. Nessa comunicação, o sinal é enviado ao interstício e depois
volta para se conectar ao receptor que está na mesma célula.
A parácrina já difere da autócrina, pois o receptor específico de percepção
de sinal está em uma célula próxima. Dessa forma, a sinalização ocorrerá em
células vizinhas, ou ao redor da célula que enviam o sinal de comunicação.
Depois, temos a comunicação endócrina, que ocorre com os hormônios,
substâncias que são produzidas com a intenção de gerar uma resposta
intracelular. As células que têm a proteína receptora geralmente estão afastadas,
e assim precisam ser transportados pela corrente sanguínea para que possam
encontrar a célula que precisa ser sinalizada.
Por fim, na sinalização nervosa, temos a liberação de um neurotransmissor
pelo terminal axônico na fenda sináptica, que se ligará à célula-alvo, que pode ser
um neurônio ou um músculo. Essa sinalização é extremamente rápida, levando
alguns milissegundos para gerar uma resposta na célula-alvo.
Na Figura 4, temos um esquema que mostra alguns tipos de sinalização
pela molécula sinal no seu receptor específico.

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Figura 4 – Diversas maneiras de as células se comunicarem utilizando moléculas
sinalizadora extracelular

Crédito: Designua/Shutterstock.

A resposta de uma célula a uma molécula sinal depende de ela apresentar


um receptor para essa molécula. Cada receptor é ativado por um apenas um tipo
de sinal. Sem esse receptor, a célula não responde à sinalização, e não fará
modificações celulares como resposta. Ao apresentar poucos receptores entre
todos que seriam possíveis, a célula restringe a quantidade de sinal que poderia
receber.
As moléculas sinalizadoras podem alterar o comportamento da célula-alvo
de diversas formas. Podem fazer alterações no formato da célula, no movimento,
no metabolismo e na transcrição gênica.
Quando a molécula sinalizadora se liga no receptor da célula-alvo, o sinal
é propagado para o interior celular por meio de moléculas intracelulares que agem
em sequência, alterando a atividade de proteínas efetoras que agem diretamente
no comportamento celular.
Os receptores podem ter estruturas variadas e até mesmo localizações
variadas nas células. No próximo tema, vamos conhecer todos os tipos de
receptores.

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TEMA 3 – RECEPTORES INTRACELULARES

As células apresentam receptores, que podem ser intracelulares ou de


membrana. A molécula sinalizadora, em geral, pode pertencer a duas classes
distintas.
A primeira é composta de moléculas grandes demais ou altamente
hidrofílicas para passarem livremente pela membrana plasmática da célula-alvo.
Dessa maneira, seus receptores estão na superfície celular, ou seja, na
membrana plasmática da célula-alvo.
A segunda classe de moléculas sinalizadoras é formada de moléculas
pequenas e hidrofóbicas; assim, conseguem atravessar a membrana plasmática
e entrar na célula para se ligar a um receptor intracelular.
Para entender como estão dispostos os receptores e qual molécula
sinalizadora se liga a qual classe de receptor, precisamos conhecer a membrana
plasmática das células.
A membrana tem uma estrutura bem característica, formada de lipídeos e
proteínas. Os lipídeos da membrana apresentam duas propriedades na mesma
molécula: uma cabeça hidrofílica (amiga da água) e uma cauda hidrofóbica (não
gosta de água). Essa característica é bem importante para que possam estar em
ambientes aquosos.
Os lipídeos mais numerosos nas membranas são os fosfolipídeos. As
moléculas com partes hidrofóbicas e hidrofílicas são conhecidas como moléculas
anfipáticas. As moléculas hidrofílicas contêm grupos polares, permitindo assim
ligação com a água. Já as moléculas hidrofóbicas apresentam grupos apolares,
que são insolúveis em água.
As moléculas anfipáticas sofrem forças contrárias, pois a cabeça hidrofílica
é atraída pela água, mas a cauda hidrofóbica é repelida pela água e tende a se
agrupar com outras moléculas hidrofóbicas. Para resolver esse problema, temos
a formação da bicamada lipídica, que faz um arranjo em que as cabeças ficam
expostas à água e as caudas ficam protegidas dela.
Existem três classes principais de moléculas de lipídeos de membrana: os
fosfolipídeos, os esteróis (colesterol) e os glicolipídeos. Além de lipídeos, também
temos proteínas na membrana. Essas proteínas podem estar, parcial ou
integralmente, inseridas na membrana.

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As proteínas de membrana podem ser poros funcionais para transporte de
moléculas de um lado para o outro da estrutura, ou podem funcionar como
receptores de moléculas sinalizadoras.
A membrana tem proteínas integrais e periféricas. As integrais são aquelas
que atravessam a membrana como um todo, podendo ser divididas em proteínas
de passagem única e proteínas de passagem múltipla. Já as proteínas periféricas
ficam fracamente associadas à membrana.
A organela responsável pela produção das proteínas de membrana é o
retículo endoplasmático rugosos, que fabrica a proteína e a envia ao complexo de
golgi, para que essa organela faça as modificações necessárias antes de enviar
de volta para a membrana.
Ainda pensando na estrutura de membrana, na parte da superfície externa
temos o glicocálice. Essa camada é formada por cadeias glicídicas das
glicoproteínas e glicolipídeos de membrana, além de glicoproteínas e
proteoglicanos secretados pela célula. O glicocálice participa do reconhecimento
entre as células, da união entre elas, e da identificação das moléculas
extracelulares.
Na Figura 5, podemos observar a estrutura de membrana descrita com
todas as suas partes, e ter uma ideia do arranjo dessa organela tão importante
para a fisiologia corpórea.

Figura 5 – Estrutura de membrana plasmática

Crédito: Zvitaliy/Shutterstock.

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Toda essa descrição de membrana celular é importante para que
possamos entender os receptores. Cada molécula tem um receptor específico, de
acordo com a sua estrutura. Assim, moléculas que são hidrofóbicas conseguem
atravessar a membrana e seu receptor, dessa maneira, estará dentro da célula.
Já moléculas sinalizadoras hidrofílicas jamais conseguirão atravessar a
membrana, e assim seus receptores estarão associados à membrana, para que
dessa forma consigam sinalizar a célula, que vai gerar uma resposta intracelular.
Vamos começar descrevendo os receptores intracelulares, que são
aqueles que se ligam a moléculas hidrofóbicas.
As moléculas que sinalizam por receptores intracelulares são os hormônios
esteroides, como cortisol, estradiol, testosterona e os hormônios da tireóide.
Todas essas moléculas passam livremente pela membrana plasmática, por um
processo de transporte chamado de difusão simples (Figura 6). Moléculas com
afinidade pelos lipídeos e tamanho condizente conseguem atravessar a
membrana sem ter gasto de energia. Portanto, a difusão simples é um transporte
passivo, que por definição não tem gasto energético.

Figura 6 – Desenho esquemático de transporte passivo, difusão simples.

Crédito: Designua/Shutterstock.

Uma vez dentro da célula, as moléculas sinalizadoras ligam-se aos


receptores intracelulares que são expressos pelas células-alvo. Estes receptores,

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que fazem parte de uma família de proteínas conhecida como receptores de
esteróides, ligam-se às regiões específicas do DNA, causando aumento da
expressão de genes específicos. Nesses casos, os efeitos do ligante não são
imediatos, porque essa célula necessita de tempo hábil para a transcrição gênica
e para a transdução do mRNA no interior do núcleo.
Vamos ver por exemplo o hormônio cortisol, que passa livremente pela
membrana plasmática e se liga a uma proteína receptora que está no citosol,
formando assim um complexo receptor-hormônio. Esse complexo entra no núcleo
pelo complexo do poro nuclear e ativa transcrição gênica de genes específicos
(Figura 7).

Figura 7 – Cortisol ativando receptor intracelular

Crédito: Meletios Verras/Shutterstock.

TEMA 4 – RECEPTORES DE SUPERFÍCIE

Os receptores de superfície celular transmitem os sinais extracelulares por


via intracelular de moléculas sinalizadoras, que são altamente hidrofílica. Assim,

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como essas moléculas não podem ultrapassar a membrana diretamente,
precisam se ligar a receptores de membrana.
Os receptores de superfície estão presentes na membrana plasmática e
podem ser divididos em três grandes classes: os receptores acoplados a canais
iônicos, os acoplados a proteína G, e os acoplados a enzimas (Figura 8).

Figura 8 – Tipos de receptores de superfície celular

Crédito: Ellepigrafica/Shutterstock.

Os receptores acoplados a canais iônicos também são conhecidos como


canais iônicos dependentes de ligante. Seu funcionamento é bem simples: eles
transformam um sinal químico em um sinal elétrico. São responsáveis pela
transmissão rápida dos sinais, pela ligação com neurotransmissores.
Esse tipo de receptor, quando tem ligação com a molécula sinal, que é um
neurotransmissor, faz mudança de conformação e permite a abertura ou o
fechamento para o fluxo de íons específicos, como sódio, potássio e cálcio (Figura
9). Esses íons se deslocam conforme seus gradientes eletroquímicos, criando
mudança de potencial de membrana, com a alteração da voltagem e a
despolarização da membrana.

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Figura 9 – Esquema de receptor acoplado a canal iônico

Crédito: Designua/Shutterstock.

Os receptores acoplados à proteína G estão presentes na maioria das


células, estando envolvidos com as vias metabólicas. Esses receptores são
formados por uma cadeia polipeptídica que atravessa sete vezes a bicamada
lipídica chamado de receptor GPCR (G-protein coupled receptor) e três
subunidades α, β e γ. Quando uma molécula sinal extracelular se liga ao GPCR,
a proteína G sofre modificação na sua conformação, e ativa uma das subunidades
que tem ligação GTP (a proteína G é um interruptor que é ligado por GTP e
desligado quando esse nucleotídeo é desfosforilado e se transforma em GDP).
Isso faz com que ocorra uma cascata de sinalização que resulta na liberação de
um segundo mensageiro, que vai agir em proteínas de sinalização intracelular,
ativando enzimas e genes específicos.
Os receptores acoplados a proteína G estão envolvidos em diversos
processos fisiológicos, que regulam o equilíbrio do corpo como um todo e podem
ser utilizados como medicamentos dentro da medicina atual. Dessa maneira, esse
tipo de receptor tem grande importância na farmacológica, pois atua como alvo
terapêutico para mais de 50% dos fármacos vendidos no mundo.
Os receptores acoplados a enzimas são proteínas transmembranas. A
maior classe desse receptor tem um domínio citoplasmático que funciona como
uma tirosina quinase (RTK), que fosforila resíduos específicos de uma tirosina em
proteína de sinalização intracelular (Figura 10). De forma bem simplificada, esse
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receptor tem duas partes que estão separadas e se unem quando a molécula
sinalizadora se liga e ativa a enzima, provocando uma cascata de sinalização
intracelular, atingindo um alvo e provocando um efeito biológico.
Esse tipo de receptor regula crescimento, proliferação, diferenciação e
sobrevivência celular, além de mudanças em expressão gênica, alterações de
citoesqueleto e alteração na migração celular. Geralmente, em alguns tipos de
câncer, esses receptores estão superexpressos, com a função desenvolver essa
patologia.

Figura 10 – Esquema do receptor acoplado a enzima

Crédito: Meletios Verras/Shutterstock.

O conhecimento de receptores é importante para que possamos entender


a fisiologia endócrina, já que é o sistema responsável pela sinalização de grande
parte do metabolismo corpóreo.

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Após ter uma noção da sinalização e ativação de receptores para gerar
respostas fisiológicas e metabólicas, precisamos conhecer um pouco das
estruturas que produzem as moléculas sinalizadoras. Assim, em nosso próximo
tema vamos relembrar os conceitos gerais das glândulas, para que depois
possamos detalhar as glândulas endócrinas.

TEMA 5 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS GLÂNDULAS ENDÓCRINAS

As glândulas possuem células especializadas em produzir e eliminar


substâncias de seus metabolismos. Elas podem também armazenar produtos ou
hormônios que são essenciais para o funcionamento dos órgãos.
Nesse momento vamos apenas relembrar as glândulas endócrinas (Figura
11). As glândulas surgem de um tecido conhecido como epitelial e podem adentrar
ao tecido adjacente (conjuntivo). As glândulas podem ser classificadas como
aquelas que enviam substâncias para fora do corpo ou em alguma cavidade
(exócrina) e aquelas que enviam substâncias para o próprio sangue (endócrina)

Figura 11 – Desenho esquemático de uma glândula endócrina.

Crédito: Tefi/Shutterstock.

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As glândulas endócrinas são cordões com células secretoras envolvidas
por uma rede de vasos sanguíneos. A taxa de secreção dessas glândulas é
modulada por hormônios. Não há ductos; dessa maneira, suas secreções são
lançadas na corrente sanguínea e seguem pela circulação até encontrar o alvo
específico. As partes secretoras de algumas glândulas endócrinas são
determinadas por células contráteis, que estão presentes entre as células
secretoras e a membrana basal. Apresentam formato estrelado, com núcleo
centralizado e citoplasma com prolongamentos que envolvem a porção secretora
da glândula. A contração dessas células é parecida com a contração das células
musculares. Quando se contraem, comprimem as partes secretoras e eliminam o
produto de secreção. Histologicamente, a glândula tireoide é formada de células
organizadas em folículos. Esses folículos são estruturas esféricas que formam um
espaço intracelular. Nesse espaço, ocorre a secreção de hormônios específicos.
As glândulas endócrinas são classificadas como cordonal e folicular ou
vesicular. As cordonais se organizam em fileiras ou cordões anastomosados e
separados por vasos sanguíneos. São a maioria das glândulas endócrinas, como
por exemplo adrenal, paratireoide, lobo anterior da hipófise, ilhotas de
Langerhans. As foliculares têm as células organizadas em folículos com uma
única camada de célula. Esses folículos são preenchidos com o material
secretado. O exemplo desse tipo de glândula é a tireoide.

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REFERÊNCIAS

ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,


2017.

_____. Fundamentos de biologia celular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

ROBERTIS, E. M. F. de; HIB, J. Bases da biologia celular e molecular. 3. ed.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de histologia em cores. 3. ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2007.

GUYTON, A.C., HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2017.

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 12. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação com biologia


celular e molecular. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

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AULA 2

FISIOLOGIA ENDÓCRINA DO
METABOLISMO

Profª Beatriz Essenfelder Borges


TEMA 1 – HORMÔNIOS

O Sistema Endócrino tem a função de permitir o fluxo das informações


entre as células, fazendo com que ocorra a integração funcional de todo o
organismo. Esse sistema tem três funções principais: garantir o crescimento e o
desenvolvimento, reprodução, e manter a homeostasia corpórea.
Como já falamos, a homeostasia é o estado de equilíbrio corpóreo interno
em relação às alterações do meio ambiente. Esse sistema tem grande importância
para as funções fisiológicas e metabólicas.
No sistema endócrino, a molécula que determina as funções fisiológicas é
o hormônio. Para isso, é preciso uma célula secretora e uma célula-alvo. A célula
secretora é aquela responsável por produzir os hormônios, e dessa maneira levar
a informação necessária à célula-alvo, enquanto a célula-alvo é aquela que vai
reconhecer o hormônio e gerar uma resposta fisiológica.
Como já falamos, a célula alvo necessita de um receptor para reconhecer
um hormônio e dessa maneira gerar respostas fisiológicas. Já discutimos os tipos
de receptores, e apontamos que os receptores podem ser de superfície ou
intracelulares.
Depois de produzidos, os hormônios são mandados para a corrente
sanguínea, para que possam encontrar suas células-alvo. Nessas células. haverá
receptor específico para o hormônio secretado. Mas hoje já sabemos que muitos
hormônios produzidos por uma célula secretora servem para alterar a função dela
mesma, sem que precisem ir para a corrente sanguínea encontrar a célula-alvo
com um receptor específico. Essa característica de modular função na própria
célula, sem ir para o meio extracelular, é conhecida como ação intácrina.
Assim, o melhor conceito para definir hormônio é: substância química não
nutriente capaz de conduzir informação entre uma ou mais células. O hormônio é
necessariamente produzido por uma célula secretora, que pode estar ou não
associada a uma glândula. Antigamente, pensava-se que todos os hormônios
eram produzidos por glândulas, mas já se sabe que existem epitélios secretores
e células secretoras em órgãos não glandulares.
Depois de entender um pouco o que é um hormônio, precisamos estudar
os sistemas hormonais (ações) clássicos e não clássicos. Os clássicos estão
divididos em três tipos (Figura 1). O primeiro é o endócrino, quando o hormônio
vai agir longe de onde foi produzido, chegando pela corrente sanguínea. O

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segundo é o parácrino, quando o hormônio age na célula vizinha, difundindo-se
pelo interstício. E o último é o autócrino: o hormônio secretado volta para agir na
mesma célula que o produziu.

Figura 1 – Desenho esquemático dos sistemas hormonais clássicos

Crédito: Designua/Shutterstock.

Além dos sistemas descritos acima, ainda temos as ações neuroendócrinas


com a liberação de neurotransmissores e de peptídeos secretados pelos
neurônios. Essas substâncias não necessariamente são hormônios, mas agem
fazendo a sinalização para funções fisiológicas da mesma maneira.
Atualmente, têm sido descritos sistemas hormonais que diferem dos
clássicos. Por conta disso, foram classificados como não clássicos. Os hormônios
que agem dentro desse sistema não clássico geralmente são sintetizados em
múltiplos locais, e podem também agir localmente. Eles muitas vezes fazem
intercruzamentos de ações, e ocasionalmente ações que são contrárias. Podem
ser fatores de crescimento.
Os sistemas não clássicos podem ser divididos em três: criptócrino,
justácrino e intrácrino (Figura 2). O criptócrino faz a secreção e a ação do
hormônio em um sistema fechado com células intimamente interligadas. Um
exemplo seriam as células de Sertoli e as espermátides. A membrana basal
impede que os hormônios se difundam no interstício.
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Figura 2 – Esquema dos sistemas não clássicos

No justácrino, o hormônio produzido faz parte da membrana plasmática, e


geralmente fica aderido a ela, mantendo sua capacidade de ação restrita às
células vizinhas. Exemplo seriam os fatores de crescimento TNF-alfa e EGF.
Por último, temos o intrácrino. Aqui, a célula que produz o hormônio tem o
receptor para que ele aja dentro dela. Esse sistema difere do sistema autócrino,
pois esse hormônio não sai da célula, enquanto no autócrino ele é secretado para
depois encontrar seu receptor na membrana da célula que o sintetizou. Esse tipo
de sistema fica restrito a hormônios com receptores intracelulares, pois ele não
será secretado para encontrar o receptor.
Para que ocorra alguma modificação fisiológica intracelular, é necessária
uma quantidade ínfima de hormônios; ou seja, a quantidade circulante de
hormônio fica na casa de picogramas (10-12g).

TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DOS HORMÔNIOS

Antes de tratarmos propriamente dos hormônios, precisamos rever alguns


conceitos. Os solventes do nosso corpo são constituídos de água, que tem caráter
polar, possibilitando que qualquer molécula que seja polar se solubilize. Isso
porque semelhante dissolve semelhante. Dessa maneira, o meio intracelular e o
extracelular são hidrofílicos, possibilitando que qualquer molécula polar, ou seja,
hidrossolúvel, se solubilize. Essas moléculas hidrossolúveis também são
conhecidas como lipofóbicas ou hidrofílicas.
A membrana plasmática, que delimita a célula secretora de hormônio e a
célula alvo, tem lipídeos que são apolares. Por isso, na membrana, as moléculas
hidrossolúveis são incapazes de se solubilizar, e assim ela passa a ser uma
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barreira para as moléculas hidrofílicas. Dizemos que a membrana é hidrofóbica
ou lipofílica. Nas moléculas lipofílicas, é possível se solubilizar na membrana.
Dessa maneira, podemos classificar os hormônios em hidrossolúveis e
lipossolúveis. Os hidrossolúveis são a maioria dos hormônios do nosso
organismo, sendo conhecidos também como proteicos, pois são proteínas. As
proteínas são formadas de aminoácidos ligados por ligações peptídicas, que
preservam a polaridade da molécula de aminoácido; dessa forma, esses
hormônios são hidrossolúveis. Eles podem ser um único aminoácido, peptídeos
simples ou grandes proteínas. As grandes proteínas podem estar glicosiladas
(açúcar ligado ao aminoácido), além de apresentar várias subunidades ou
fosforilados (com um fosfato ligado ao aminoácido).
Os hormônios hidrossolúveis pequenos são aminoácidos modificados: a
tirosina origina a epinefrina, a histidina origina a histamina e o triptofano origina a
serotonina. A produção desses hormônios depende da disponibilidade do
aminoácido no organismo.
Os outros hormônios hidrossolúveis maiores (peptídeos e proteínas) são
sintetizados como as demais proteínas do corpo, pois apresentam genes
específicos. Na célula secretora, os fatores transcrisionais são os responsáveis
por ativar a região promotora do gene, iniciando assim a transcrição e a produção
do RNA mensageiro. Este se desloca para o retículo endoplasmático rugoso; nos
ribossomos ocorre a tradução desse RNA em proteína; após a tradução, ocorrem
modificações pós-traducionais, para que a proteína fique pronta (Figura 3). Essas
modificações são a retirada do peptídeo sinal, a clivagem das proteínas, por
peptidases, até ficarem ativas, e por último ainda pode ocorrer a glicosilação e a
fosforilação da molécula. São mudanças essenciais para que o hormônio tenha
atividade biológica.
Os hormônios lipossolúveis são aqueles que possuem, na sua estrutura,
uma molécula precursora de lipídeo, de modo que esse hormônio fica lipofílico. A
produção desse hormônio é um pouco mais complexa, dependendo de dois
fatores: o primeiro é o aporte do substrato lipídico à célula secretora, enquanto o
segundo é a presença de uma enzima específica na célula secretora, que
metaboliza a molécula precursora até que o hormônio fique ativo.
Grande parte desses hormônios vem da molécula do colesterol, sendo por
isso conhecidos como hormônios esteroides. Esses hormônios derivam do
colesterol, e podem vir tanto do córtex da suprarrenal como das gônadas. Há uma

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exceção: os hormônios da tireoide, que possuem duas tirosinas acopladas e
iodadas, sendo assim derivados de aminoácidos. Pelo fato de estarem iodados,
suas tirosinas perdem a característica hidrossolúvel, e eles passam a ser
lipossolúveis em todas as características.

TEMA 3 – SECREÇÃO DOS HORMÔNIOS

Antes de iniciarmos a secreção, precisamos esclarecer a diferença entre


síntese e secreção. São palavras muito confundidas, com significados muito
diferentes. A síntese é a produção do hormônio, já a secreção é como ele é
liberado pela célula secretora.
Agora podemos iniciar a secreção dos hormônios hidrossolúveis. A
membrana é impermeável a esse tipo de hormônio; dessa maneira, esses
hormônios utilizam do mesmo caminho jeito para serem secretados, que é o
empacotamento das moléculas em vesículas ou grânulos secretórios. Essas
vesículas são formadas paralelamente à síntese hormonal, através de fragmentos
do retículo endoplasmático ou do complexo de Golgi (Figura 3).

Figura 3 – Hormônios hidrossolúveis são produzidos em etapas

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Depois de formadas, as vesículas serão enviadas para a superfície celular
com o auxílio do citoesqueleto da célula. Quando a membrana da vesícula
secretora encontra a membrana plasmática, elas se fundem, por possuírem
caráter lipofílico, e o conteúdo é secretado para o meio extracelular. Essa
liberação de conteúdo também é conhecida como extrusão dos grânulos.
Alguns hormônios tem a finalização da sua síntese dentro da vesícula,
devido ao empacotamento de enzimas específicas, que degradam ligações
peptídicas, juntamente com o hormônio. Dentro da célula secretora, as vesículas
podem se fundir e ter seus conteúdos misturados, liberando hormônios recém-
sintetizados, e aqueles que já foram sintetizados há algum tempo.
Os hormônios hidrossolúveis têm característica polar; devido a isso, se
solubilizam facilmente no interstício e no sangue, e por isso podem se movimentar
livremente por esses espaços. Mas existem exceções, como por exemplo o
hormônio do crescimento e o IGF (insulin-like growth factor), que costumam estar
ligados a uma proteína carreadora para circular.
Órgãos como fígado e rim são ricos em enzimas que degradam os
hormônios proteicos, enzimas proteolíticas, e isso faz com que os hormônios,
quando clivados, percam sua atividade biológica. Por essa razão, alguns
hormônios têm meia vida curta. Essa meia vida é definida como o tempo
necessário para degradar 50% da quantidade secretada de hormônio em dado
momento.
A secreção dos hormônios lipossolúveis é um pouco diferente, pois eles
não são armazenados em vesículas, sendo secretados por difusão conforme são
produzidos. Assim, não existe estoque desse tipo de hormônio na célula
secretora. A produção depende apenas da quantidade maior ou menor da
proteína precursora. A exceção é a tireoide, pois seus hormônios conseguem ficar
armazenados no coloide dos folículos tireoidianos.
Como descrito, os hormônios lipossolúveis são de fácil secreção, mas seu
transporte pelo sangue ou interstício é dificultado, devido ao fato de serem
hidrofóbicos.
Dessa maneira, esses hormônios precisam se ligar a proteínas para se
deslocarem. Essas proteínas podem ser as globulinas, capazes de se ligar a
andrógenos, estrógenos, glicocorticoides e hormônios da tireoide. Podem ser
também as albuminas, que são proteínas encontradas em grande quantidade
circulando no nosso organismo.

7
Essas proteínas carreadoras, ao se ligarem aos hormônios, impedem a
disponibilidade da célula-alvo, bloqueando a ação do hormônio. Entretanto, a
ligação proteína carreadora mais hormônio deixa um pedaço bem pequeno do
hormônio livre; esse pedaço que entra em contato com a membrana plasmática
da célula-alvo e se difunde para o meio intracelular. Assim, ocorre a sinalização
intracelular e a resposta celular pela atividade do hormônio.
Como vimos, os hormônios lipossolúveis apresentam receptores
intracelulares em células-alvo.

TEMA 4 – CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE HORMONAL

Como já discutido anteriormente, os hormônios não são somente aquelas


substâncias químicas produzidas em glândulas, pois substâncias produzidas nos
neurônios, como vasopressina e ocitocina, também agem como hormônios.
Substâncias presentes em zonas do cérebro e com função neurotransmissora
também são consideradas hormônios, como por exemplo somatostatina, GnRH,
CRH e ACTH. Substâncias produzidas no sangue e na pele também podem agir
como moléculas sinalizadoras (angiotensina e vitamina D).
A secreção hormonal pode acontecer devido a estímulos, estabelecendo
ciclos de várias maneiras, como ciclo circadiano (diário), ultradiano (horas) e
circalunar (mensal).
Alguns hormônios não entram na circulação sanguínea, passando para a
célula-alvo por difusão passiva – por exemplo, algumas prostaglandinas. Os
hormônios esteroides e tireoideanos são transportados pelo sangue pela
associação com proteínas, mas essa característica limita sua difusão através dos
tecidos, apesar de proteger esse tipo de hormônio da degradação enzimática.
Os hormônios devem estar na forma livre para poderem entrar nas células-
alvo e, dessa maneira, garantir uma pequena fração de hormônio livre. Mesmo
quando esse hormônio está sendo carreado por uma proteína, ele é fundamental
para a sinalização celular e para a atividade intracelular.
A secreção hormonal é regulada por mecanismos de retroalimentação ou
feedback. Essa retroalimentação pode ser simples, quando está relacionada
apenas com o equilíbrio de metabólitos, eletrólitos e fluidos biológicos. Também
pode ser bem mais complexa, quando pensamos nos mecanismos de “alças
longas” e “alças curtas”.

8
Os de “alças longas” são aqueles hormônios secretados pelos órgãos
efetores, com efeito negativo sobre a secreção dos hormônios tróficos hipofisários
e sobre os hormônios hipotalâmicos.
Os de “alça curta” funcionam no eixo hipotálamo-hipófise, de forma mais
rápida. Os hormônios hipotalâmicos são liberados, obedecendo a uma regulação
negativa, podendo exercer um efeito positivo, com ação liberadora, ou negativo,
com ação inibitória.
Os hormônios também podem ser liberados através de controle do sistema
nervoso. Um exemplo seria o efeito da luz sobre a atividade reprodutiva em
algumas espécies. Nas aves, o número de horas de exposição à luz influencia no
hipotálamo, modificando a secreção dos hormônios hipofisários gonadotrópicos,
mediante a ação da melatonina, que é um hormônio produzido pela glândula
pineal, e que faz com que as aves queiram se reproduzir. No homem, a quantidade
de luz influencia o ciclo de sono e vigília, determinado pelo sistema nervoso
central. A produção diminuída de melatonina de noite leva ao desenvolvimento de
insônia.

TEMA 5 – AÇÃO HORMONAL

Os hormônios atuam através de receptores específicos que estão nas


células-alvo. Esses receptores são a forma como os hormônios interagem com as
células. Já discutimos esse tema: trata-se da sinalização celular e da
comunicação entre as células através de um sinal químico.
Os receptores podem estar na membrana plasmática da célula, no
citoplasma, ou no núcleo. Os receptores são proteínas que, quando ligadas aos
hormônios, desencadeiam especificamente uma resposta celular.
No esquema a seguir, resumimos os tipos de hormônios, a localização do
receptor, e onde o sinal vai agir, para depois termos uma resposta celular,
efetivamente.

9
Figura 4 – Ação hormonal

Os receptores não são fixos, podendo variar em número, dependendo do


tipo da célula. Isso também faz com que a resposta seja variada.
A ligação hormônio-receptor é uma ligação forte (não covalente), e o local
de união das moléculas é chamado de esteroespecífico, o que significa que
apenas um hormônio específico pode se ligar a moléculas que são semelhantes
a esse hormônio. Existem substâncias análogas que se ligam nos receptores e
causam os mesmos efeitos que o hormônio: elas são chamadas de agonistas; há
também aquelas que não causam efeito devido ao bloqueio do receptor: são
chamadas de antagonistas.
Existem dois tipos de mecanismos de ação hormonal. Os hormônios que
apresentam receptores de superfície, ou seja, na membrana plasmática, e os
hormônios com receptores intracelulares (Figura 5).

10
Figura 5 – Desenho esquemático mostrando os hormônios que se ligam a
receptores de membrana e a receptores intracelulares, respectivamente

Receptor de membrana Receptor intracelular

Crédito: Designua/Shutterstock.

Os hormônios com receptores em membrana fazem alterações da


permeabilidade da membrana, ou ativam enzimas produzindo AMPcíclico
(segundo mensageiro), o que aumenta a atividade intracelular, regulando ou
modificando a velocidade da transcrição dos genes específicos. Esses hormônios
têm uma ação mais rápida, pois circulam livremente pela corrente sanguínea e
causam modificações imediatas no metabolismo. O tempo de ação é de segundos
ou minutos. Como exemplo, as catecolaminas e os hormônios peptídicos.
Os hormônios que conseguem atravessar a membrana da célula-alvo terão
receptores intracelulares, que podem estar no núcleo. Esse tipo de sinalização
altera a transcrição gênica, e isso demanda tempo, pois é necessário sintetizar
RNA mensageiro no núcleo, e depois produzir proteínas no retículo
endoplasmático e nos ribossomos. Dessa maneira, a resposta desses hormônios
é mais lenta, de horas até dias. O transporte desses hormônios é feito com a ajuda
de proteínas carreadoras. Como exemplo, os esteroides e os hormônios da
Tireóide (Figura 6).

11
Figura 6 – Ação dos hormônios lipossolúveis

1. Hormônios lipossolúveis são


transportados pelo sangue por
proteínas carreadoras. Entram na
célula sem estarem ligados, pois seus
receptores são intracelulares.
2. Receptores no citoplasma ou núcleo.
3. O complexo receptor-hormônio se liga
ao DNA e ativa genes
4. Genes ativados produzem RNAm que
se movem de volta para o citoplasma.
5. Tradução produz novas proteínas para
os processos celulares.

Crédito: Alila Medical Media/Shutterstock.

A ativação hormonal por segundo mensageiro só ocorre em hormônios


hidrossolúveis. Os segundos mensageiros são proteínas ou enzimas que estão
posicionadas intracelularmente, sendo ativadas apenas quando ocorre uma
ligação de moléculas sinais a elas. Essa sinalização nada mais é do que a
produção de resposta fisiológica celular (Figura 7). Existem diversas moléculas
que atuam como segundos mensageiros, entre elas adenosina 3',5'-monofosfato
cíclico (AMPc), proteínas-quinases, receptores proteicos que estão na mebrana
do núcleo, e monofosfato cíclico de guanosina (GMPc).

Figura 7 – Esquema das respostas celulares pelos segundos mensageiros

12
O AMPcíclico é um mediador para muitos hormônios do organismo. Ele é
ativado pela enzima adenilciclase, que transforma o ATP (adenosina trifosfato) em
AMPc (adenosina monofosfato cíclica), quando o hormônio se liga ao receptor
específico.
Depois da ativação, o AMPc se liga a uma proteína quinase, que fosforila
outra proteína, desencadeando uma cascata de sinalização, e fazendo com que
ocorram mudanças metabólicas intracelularmente.
O GMPc (guanosina monofosfato cíclico) também é um segundo
mensageiro que atua no epitélio de intestino, coração e vasos sanguíneos,
cérebro e rins. Ele é derivado da conversão de GTP pela enzima guanilciclase. e
tem efeito contrário ao AMPc. Por exemplo, o GMPc está relacionado à contração
da musculatura lisa, enquanto o AMPc faz o relaxamento da musculatura lisa.
Outro segundo mensageiro hormonal é o cálcio, que regula diversos
processos celulares, sendo essencial para ativar a fosfolipase A2. O cálcio muitas
vezes é requerido, pois promove a interação do receptor do hormônio e dos
nucleotídeos. Ele pode agir tanto como um inibidor da atividade da adenilciclase,
quanto como estimulador da atividade cíclica da fosfodiesterase dos nucleotídeos.
A fosfolipase C é uma proteína hormônio sensível, presente na membrana
plasmática, e atua sobre o fosfatidil inositol, hidrolisando essa molécula para que
seus produtos sejam usados como segundo mensageiro. Os produtos gerados
são diacilglicerol e inositol trifosfato. O diacilglicerol ativa proteínas quinases para
gerar respostas celulares e o inositol trifosfato libera íons cálcio que estão no
retículo endoplasmático, para que as respostas ocorram. Os hormônios ACTH e
LH são exemplos desse tipo de mecanismo de segundo mensageiro pelo inositol.
Por último, temos os receptores nucleares, que se ligam a hormônios
lipofílicos que passaram por difusão simples pela membrana. Quando ocorre a
ligação do hormônio com o receptor nuclear, são unidas regiões específicas do
DNA, para que ocorra ativação ou inativação gênica, alterando a transcrição e a
produção de RNA mensageiro.
Na Figura 8, mostramos toda a ação dos segundos mensageiros em uma
única imagem, e assim o seu funcionamento ficará mais claro.

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Figura 8 – Desenho esquemático da ação dos segundos mensageiros

1. Molécula sinalizadora liga-


se ao receptor acoplado à
proteína G.
2. Ativa as subunidades da
proteína G e ocorre a
conversão de GDP em ATP.
3. Esse processo ativa a
enzima adenilato ciclase.
4. O adenilato ciclase converte
ATP em AMPc
5. O AMPc ativa a proteína
cinase, que faz fosforilação
de várias proteínas e isso
gera uma resposta celular

Crédito: Alila Medical Media/Shutterstock.

Os hormônios podem sofrer interações; quando isso ocorre, temos três


tipos diferentes de efeitos. Os efeitos sinérgicos, quando temos dois ou mais
hormônios atuando em conjunto para produzir um determinado efeito – por
exemplo, a adrenalina e a noradrenalina quando agem sobre o coração. Os efeitos
permissivos, que ocorrem quando um hormônio aumenta a capacidade de
resposta de uma célula-alvo a um segundo hormônio – por exemplo, o hormônio
feminino estrogênio, que aumenta a resposta do útero à progesterona. E, por
último, o efeito antagônico, que ocorre quando as ações de um hormônio têm
efeito contrário aos efeitos de um outro hormônio, como por exemplo a insulina,
que estimula a formação de gordura, enquanto que o glucagon estimula a quebra
de gordura.

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REFERÊNCIAS

AIRES, M. M. et al. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,


2017.

_____. Fundamentos de biologia celular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

GUYTON, A.C., HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2017.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 5. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

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AULA 3

FISIOLOGIA ENDÓCRINA E DO
METABOLISMO

Profª Beatriz Essenfelder Borges


TEMA 1 – LOCALIZAÇÃO DAS GLÂNDULAS ENDÓCRINAS

O sistema endócrino é formado por várias glândulas, entre elas estão o


Hipotálamo, a hipófise, a pineal, a tireoide, a paratireoide, o pâncreas, a adrenal
e as gônadas.
Vamos localizar cada uma das glândulas para depois sabermos quais
hormônios elas produzem. Iniciaremos com a glândula mestre, que é o
hipotálamo. Segundo Souza (2019), “o Hipotálamo é uma região do encéfalo e
está localizado logo abaixo do tálamo e logo acima da hipófise, bem no interior
central dos dois hemisférios cerebrais. Faz parte do diencéfalo e é uma das partes
mais importantes do Sistema Nervoso Central”.
A glândula chamada hipotálamo está situada no encéfalo, que é uma parte
do sistema nervoso central; sua localização é bem característica e tem como
posicionamento ficar bem abaixo do tálamo. Essa localização é bem
característica, pois determina sua relação com outras estruturas. Por exemplo,
está situado também em cima da glândula hipófise e, por isso, consegue trabalhar
em conjunto com essa estrutura, pois regula muitas respostas fisiológicas no
nosso organismo.
Outra glândula que faz parte do sistema endócrino é a hipófise, também
conhecida como pituitária, que está localizada na sela túrcica do osso esfenoide
e liga-se, por um pedículo, ao hipotálamo na base do cérebro. Divide-se em
adeno-hipófise e neuro-hipófise.
Embriologicamente, é originado por duas porções, uma nervosa e outra da
camada ectodérmica. “Possui uma origem embriológica dupla, sendo que uma
porção tem origem nervosa e a outra porção tem origem ectodérmica” (Braz,
2013). A porção de origem nervosa é denominada neuro-hipófise ou hipófise
posterior e possui estruturas que mantêm a ligação entre hipófise e sistema
nervoso central. Já a porção do ectoderma é denominada adeno-hipófise ou
hipófise anterior.
A adeno-hipófise é formada por tecido conjuntivo e, consequentemente,
apresenta fibras reticulares, fazendo com que tenha sustentação como órgão. Já
a neuro-hipófise tem como estrutura uma característica diferente, pois está
relacionada ao tecido nervoso.
Vários estudos sobre a fisiologia da glândula pineal mostram que ela não é
uma glândula endócrina, mas age como um transdutor neuroendócrino, ou seja,

2
converte impulsos luminosos em descarga hormonal, participando do ritmo
circadiano ou relógio biológico e de outros ritmos biológicos, como os relacionados
com as estações do ano.
A tireoide fica na região cervical, região anterior do pescoço, na parte
anterior da traqueia, e possui dois lobos unidos por um istmo. Essa glândula
apresenta origem endodérmica.
A parte celular da tireoide é bem importante, pois determinará a produção
hormonal por essa glândula. Esta possui estruturas chamadas de folículos, os
quais possuem um formato específico, lembrando um cubo, e, por isso, é
conhecido como cuboide. Os folículos histologicamente possuem uma camada de
tecido epitelial e são as células que têm como função produzir uma substância
fluída, a qual fica no interior. A tireoide, além de possuir essas células foliculares,
também possui uma célula chamada de parafolicular, que tem como função
principal, dentro da glândula, produzir um hormônio de regulação de cálcio
conhecido como calcitonina.
Juntamente com a tireoide, possuímos a paratireoide. Esta última é uma
glândula dividida em 4 pequenas partes que se posicionam na parte de trás da
tireoide. É constituída por uma cápsula composta de tecido conjuntivo denso e
dois tipos de células, sendo elas: a principal, que secreta o paratormônio, e as
oxífilas, que ficam próximas aos vasos sanguíneos.
O pâncreas se posiciona anatomicamente bem atrás do estômago e muito
próximo à primeira porção do intestino delgado, conhecida como dudeno. Esse
órgão pode ser dividido em duas porções, uma que está relacionada à produção
hormonal e outra que está relacionada à produção de suco pancreático. Essa
divisão determina o seu funcionamento de secreção, pois pode produzir tanto
hormônios como substâncias relacionadas ao processo de digestão corporal.
Estruturalmente, tem três porções, uma cabeça, um corpo e uma cauda.
Tal divisão pode ser considerada anatômica e é importante para determinar a
localização de algumas estruturas específicas. As mais importantes são o ducto
de Wirsung e ampola de Vater.
As glândulas adrenais, também conhecidas como suprarrenais, ficam bem
em cima do rim. Histologicamente, possuem estruturas específicas para garantir
sua sustentação, as quais são tecido conjuntivo de revestimento com todas as
suas fibras e tecido adiposo. As adrenais são divididas em córtex, que é a porção

3
mais externa com uma coloração amarelada, e medula, que é a parte mais interna
com coloração avermelhada.
As gônadas são representadas pelos testículos no homem e ovários nas
mulheres. Essas produzem hormônios sexuais e estão no controle de determinar
as características sexuais secundárias.

TEMA 2 – PRODUTOS ESPECÍFICOS DAS GLÂNDULAS

Depois de termos uma noção da localização das glândulas, agora vamos


entender qual o produto de cada uma delas (Figura 1), quais hormônios elas
secretam para depois detalharmos qual a função específica de cada um desses
hormônios.

Figura 1 – Localização das glândulas endócrinas no organismo

Créditos: Designua/Sutterstock.

Existe claramente uma relação entre duas glândulas principais, essas


glândulas são o hipotálamo e a hipófise. No contexto metabólico, são elas que
regulam o corpo com as suas liberações de substâncias importantes. Essas
substâncias podem agir diretamente no metabolismo ou indiretamente,
sinalizando outras regiões. Essa inter-relação entre as duas glândulas é
importante, pois a glândula hipófise só consegue desenvolver seu papel se recebe
uma informação direta do hipotálamo.

4
O hipotálamo, como glândula, tem um importante papel na formação e
liberação de algumas substâncias. Essas substâncias são conhecidas como
hormônios ocitocina e vasopressina. Esses dois hormônios, depois de serem
produzidos, serão enviados à hipófise para que essa glândula parceira possa
deixar armazenado.
Neurônios com funções especiais dentro do hipotálamo sintetizam e soltam
hormônios liberadores e hormônios inibidores que controlam a secreção dos
hormônios da hipófise anterior. Na tabela a seguir, temos os hormônios
liberadores e inibidores hipotalâmicos, que fazem esse controle na hipófise.

Tabela 1 – Hormônios liberadores e inibidores hipotalâmicos

HORMÔNIO AÇÃO NA HIPÓFISE


Hormônio liberador de tireotropina (TRH) Estimula liberação de TSH
Hormônio liberador de gonadotropina
Estimula liberação de FSH e LH
(GnRH)
Hormônio liberador de corticotropina
Estimula liberação de ACTH
(CRH)
Hormônio liberador do hormônio do
Estimula liberação de GH
crescimento (GHRH)
Hormônio inibidor do hormônio do
Inibe a secreção do GH
crescimento (somatostatina)
Hormônio inibidor da prolactina (PIH) Inibe a secreção e a síntese de prolactina

A hipófise anterior ou adeno-hipófise possui cinco tipos celulares que são


responsáveis pela secreção dos hormônios:

1. Corticotrofos secretam ACTH;


2. Tireotrofo, que secreta TSH;
3. Gonadotrofos, que secretam LH e FSH;
4. Somatotrofos, que secretam GH; e
5. Lactotrofos, que produzem prolactina.

Dessa maneira, os hormônios produzidos na adeno-hipófise são ACTH, LH,


FSH, GH e prolactina. Esses hormônios possuem ações diferentes em cada local
que agem e são estimulados a serem secretados pelos hormônios liberadores e
inibidores hipotalâmicos.
O local de ação desses hormônios é distinto. O ACTH vai estimular o córtex
da adrenal para que esse produza adrenalina. O LH vai ter como órgão alvo os
testículos e os ovários e sua função é a formação do corpo lúteo e produção de
progesterona e testosterona. O FSH também age no ovário e testículo, mas tem
como função desenvolver os gametas. O GH vai agir no organismo como um todo

5
e tem como função o crescimento. E, por último, temos a prolactina, que estimula
as glândulas mamárias na produção de leite.
Na hipófise posterior, temos o armazenamento dos hormônios ADH, que
agem no rim no processo de absorção de água, e a ocitocina, que está relacionada
com a contração uterina.
Na tireoide temos a produção dos hormônios T3 (tri-iodotironina), T4
(tiroxina) e calcitonina. T3 e T4 são estimulados pelo TSH e estão relacionados
com o metabolismo corpóreo. E a calcitonina é estimulada por um produto, que
no caso é o cálcio. Quando tem alta concentração de cálcio circulando, a
calcitonina faz deposição de cálcio no osso, diminui a absorção de cálcio no
intestino e diminui a absorção de cálcio no rim.
As paratireoides produzem o hormônio paratormônio, que juntamente com
a calcitonina produzida na tireoideu regulam a concentração de cálcio no sangue.
Em antagonismo com a calcitonina, o paratormônio aumenta concentração de
cálcio circulante, retirando do osso e aumentando a absorção no intestino e rim.
A glândula pineal sintetiza o hormônio metatonina (derivado do serotonina),
que tem como função modular os padrões de sono nos ciclos circadianos e
sazonais.
O pâncreas endócrino é responsável pela produção de insulina e glucagon.
Esses hormônios têm a relação com o metabolismo energético e são muito
importantes para o organismo.
As adrenais são glândulas que possuem duas partes: a medula e o córtex.
A medula é a parte interna que secreta o hormônio epinefrina (adrenalina), que
ajuda no controle da pressão arterial, da frequência cardíaca e do suor. E o córtex
é a região mais externa da glândula, que tem como função liberar cortisol,
hormônio classificado como corticosteroide e aldosterona, classificada como
mineralocorticoide. Essa região específica também tem a capacidade de produzir
hormônios do grupo sexual, como testosterona. “O córtex é a parte externa que
secreta os corticosteroides (cortisol) e os mineralocorticoides (aldosterona). O
córtex adrenal também estimula a produção dos andrógenos (testosterona e
hormônios similares)” (Grossman, S.d.). É importante saber que o córtex é dividido
em 3 zonas: a glomerulosa, a fasciculada e a reticular, sendo que cada uma delas
é responsável pela produção de um hormônio. A zona glomerulosa secreta
mineralocorticoides (aldosterona), a zona fasciculada secreta glicocorticoides
(cortisol) e a zona reticular secreta os andrógenos.

6
As gônadas no sistema endócrino masculino são representadas pelos
testículos e estes fazem a secreção de testosterona, hormônio produzido nas
células de Leydig e secretado nos fluído dos túbulos seminíferos.
No sistema feminino, é o ovário que secreta os hormônios progesterona e
estrogênio. A progesterona é um hormônio produzido pelas células do corpo lúteo
do ovário, que é uma estrutura que se desenvolve no lugar que ocupa um óvulo
maduro que tenha sido liberado durante a ovulação. O estrogênio é produzido
pelos ovários e liberado no início do ciclo menstrual. Ele que proporciona as
características femininas das mulheres, além de ser o hormônio responsável pelo
controle do processo de ovulação e preparo do útero para a fase de reprodução.
A seguir, segue uma tabela com todos os hormônios do sistema endócrino
para podermos ter uma visão geral da glândula que secreta, qual hormônio ela
secreta, quais as principais funções e o local de ação. Assim, temos um panorama
geral e podemos passar para o próximo tema, que é a ação propriamente de cada
um desses hormônios.

Tabela 2 – Hormônios do sistema endócrino

7
TEMA 3 – AÇÃO DOS HORMÔNIOS ENDÓCRINOS

Nessa etapa, iremos falar da ação de alguns hormônios. Deixaremos de


lado, por enquanto, tireoide e pâncreas, pois teremos uma aula para cada uma
dessas glândulas e seus hormônios. Elas regulam o metabolismo corpóreo e,
dessa maneira, daremos atenção especial.
Até agora podemos entender que o hipotálamo regula a liberação e síntese
dos hormônios da hipófise, por meio dos hormônios liberadores e inibidores, e que
esta regula a síntese e secreção de hormônios nas outras glândulas. Cada
hormônio produzido na hipófise sinaliza para que ocorra uma função específica
que pode ser estimulação de outra glândula ou ativação de metabolismo.
Um exemplo é o ACTH, que é secretado quando o hipotálamo secreta o
CRH e estimula a hipófise a produzir esse hormônio. A estimulação do hipotálamo
ocorre devido a um estímulo estressor ou pelo ciclo circadiano. O ACTH estimula
a adrenal a produzir alguns hormônios e um deles é o cortisol.
O cortisol é um hormônio bem importante no metabolismo, pois vai agir em
diversos órgãos. No fígado, ele atua promovendo a gliconeogênese e aumentando
a glicemia; no músculo, promove o catabolismo de carboidratos e proteínas; e no
tecido adiposo faz lipólise (Figura 2).

Figura 2 – Liberação de cortisol

Crédito: Thyago Macson Maria.

8
O cortisol é liberado em situações de estresse. Dessa maneira, aumentar
a glicemia é importante, pois o cérebro precisa de mais energia para agir em
situações adversas.
Temos também a pineal. Essa glândula produz um hormônio chamado de
melatonina. Esta tem sua secreção diminuída com a idade e é influenciada pelo
ritmo sazonal e circadiano, sobre o ciclo sono-vigília e sobre a reprodução. Sua
secreção segue um padrão dia-noite, sendo muito sensível à luminosidade, com
aumento da secreção no início da noite e queda no fim. A exposição à
luminosidade é suficiente para inibir a síntese do hormônio melatonina (Figura 3).
Na figura a seguir, podemos ver também que durante o dia temos a secreção de
serotonina, que é um neurotransmissor que atua no cérebro regulando o humor,
e a noite é transformado em melatonina para regular o sono. Mas, nos dois casos,
depende do ciclo circadiano para ocorrer a secreção.

Figura 3 – Esquema da secreção de melatonina dependendo da luminosidade

Créditos: Yomogi1/Shutterstock.

O paratormônio, secretado pelas paratireoides, e calcitonina, secretado


pela tireoide, são hormônios antagônicos. Eles trabalham de forma contrária: a
calcitonina retira cálcio da corrente sanguínea, já o paratormônio coloca na
corrente sanguínea. Na Figura 4, podemos ver detalhadamente como funciona
essa regulação.

9
Figura 4 – Calcitonina e paratormônio (níveis de regulação hormonal do cálcio no sangue)

Créditos: Designua/Shutterstock.

E, por último, temos as gônadas. Nos meninos, o eixo hipotálamo-hipófise


é ativado durante o período pré-natal mas entra em um estado dormente no
período juvenil, pré-puberdade. A puberdade é precedida pela adrenarca
(aumento de DHEA e androstenediona – 6 a 8 anos – pequeno aumento de
testosterona circulante a partir de androgênios vindos da suprarrenal). A entrada
na puberdade é acionada pela secreção pulsátil de GnRH pelo hipotálamo, com

10
aumento das gonadotrofinas séricas e depois aumento da secreção gonadal de
esteroides sexuais.
O hormônio testosterona é uma substância que tem sua liberação por uma
célula específica conhecida como célula de Leydig. Elas ficam na região dos
testículos no aparelho reprodutor masculino. “A testosterona é secretada pelas
células intersticiais de Leydig no testículo” (Lima, 2017). O testículo também
secreta di-hidrotestosterona e androstenediona. A testosterona é o hormônio mais
abundante, mas no tecido alvo ele é convertido no hormônio di-hidrotestosterona,
que é mais ativo.
A secreção da testosterona é ativada com a liberação de hormônio da
hipófise. O hipotálamo secreta GnRH, que estimula a hipófise a secretar LH, o
qual estimula o testículo a secretar testosterona. O FSH no homem estimula as
células de sertoli a entrarem na espermatogênese.
Nas meninas, o GnRH secretado pelo hipotálamo estimula a hipófise
secretar LH e FSH e estes estimulam a produção de progesterona e estrógeno. A
liberação dos hormônios hipofisários só ocorre na puberdade com a primeira
menstruação (menarca). O LH estimula as células da teca do ovário a produzirem
progesterona e as células da granulosa são estimuladas pelo FSH para
produzirem estrogênios. Assim, a liberação desses hormônios segue o ciclo
menstrual, tendo fase ovariana e fase uterina. A fase uterina está relacionada ao
crescimento e descamação do endométrio uterino.
Na figura a seguir, temos a liberação dos hormônios femininos com a
relação do ciclo menstrual.

Figura 5 – Dias de ciclo sexual feminino

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TEMA 4 – MECANISMOS DE RETROALIMENTAÇÃO

Quando pensamos em sistema endócrino, imediatamente vem à cabeça


regulação hormonal. Essa regulação é bem importante pois controla a
homeostasia corpórea.
A regulação hormonal ocorre por meio de mecanismos de
retroalimentação, ou seja, é um conjunto de respostas que acontecem diante de
um desequilíbrio. Existe um estímulo que após ser interpretado geram uma
resposta fisiológica e essa resposta pode aumentar ou diminuir o estímulo.
Quando aumenta, dizemos que está ocorrendo retroalimentação positiva; quando
diminui, dizemos que está ocorrendo retroalimentação negativa.
A retroalimentação negativa impede a hiperatividade dos sistemas
hormonais. Essa regulação ocorre para que o nível apropriado de atividade
hormonal seja assegurado.
Um exemplo de retroalimentação negativa é a regulação de açúcar no
nosso organismo. Quando os níveis de glicose aumentam, devido ao estado
alimentado, ocorre a liberação de um hormônio chamada de insulina. Esse
hormônio tem como função principal colocar a glicose nas células, mas, como tem
muita glicose, esse hormônio fará a inibição da liberação de glicose pelo fígado e
estimulará o acúmulo de glicogênio nesse órgão. Dessa maneira, quanto mais
glicose, menos esta será produzida.
A maioria dos hormônios fazem retroalimentação negativa na tentativa de
voltar ao equilíbrio. No esquema a seguir, demonstramos como acontece a
retroalimentação negativa.

Figura 6 – Esquema de como acontece a retroalimentação negativa

12
Já a retroalimentação positiva é menos frequente e se caracteriza por
possuir um estímulo inicial que causa cada vez mais estimulação e secreção
deste. Isso quer dizer que o estímulo provocará cada vez mais produção de
dado hormônio.

Um exemplo da relação de integração dos hormônios é a liberação de


ocitocina. Essa substância possui a capacidade de regular as contrações do útero
feminino. Dessa maneira, faz um processo conhecido como retroalimentação
positiva com o hipotálamo. Esse processo tem como finalidade aumentar a
produção e liberação desse hormônio para estimular o nascimento de um bebê.

Um exemplo de retroalimentação positiva é a secreção de ocitocina na hora do


parto. Quando ocorre o estiramento do colo uterino os receptores enviam um
sinal para que ocorra a liberação de ocitocina pela hipófise e esse hormônio
aumenta as contrações uterinas. Quanto mais liberação de ocitocina
acontecer, mais estímulo ocorre para que esse hormônio seja liberado. Nesse
caso, o estímulo é reforçado, levando ao nascimento do bebê. (Sardinha, S.d.)

Nas glândulas mamárias também ocorre a retroalimentação positiva: a


mesma ocitocina liberada pela hipófise estimula a quantidade de leite produzida
na mama.
O esquema a seguir demonstra uma alça de retroalimentação positiva e um
esquema exemplificando.

Figura 7 – Alça de retroalimentação positiva

13
TEMA 5 – HORMÔNIOS QUE INFLUENCIAM NO COMPORTAMENTO E
METABOLISMO

Os hormônios são responsáveis pelas funções fisiológicas, podendo


auxiliar no sono, na reprodução, metabolismo de alimentos e podem alterar até o
comportamento. Essas modificações ocorrem de modo silencioso e apenas
quando temos alterações é que percebemos a falta de regulação hormonal.
As desregulações ocorrem quando temos produções aumentadas ou
diminuídas dos hormônios, por problemas nas glândulas secretoras.
As variações hormonais podem alterar o comportamento humano. Um
exemplo disso é o que ocorre nas mulheres que sofrem com essas alterações
quando precede o ciclo menstrual. Durante essa fase, as mulheres passam por
alterações de humor, sintomas de ansiedade, aumento do apetite, retenção de
líquido e dores de cabeça.
Alterações na produção de hormônio feminino podem afetar regiões
específicas do sistema nervoso. Quando ocorre uma diminuição destes para que
a mulher menstrue, pode afetar regiões relacionadas ao comportamento e assim
ser preciso fazer modificações na rotina diária.

Isso ocorre devido à diminuição dos hormônios sexuais, progesterona e


estrogênio, para que a menstruação ocorra. Esses hormônios atuam no
sistema nervoso central e a diminuição deles gera alterações
comportamentais. Diminuir os efeitos da desregulação hormonal não é
fácil, podemos tentar controlar com alimentação e prática de exercício
físico. Em casos específicos, anticoncepcionais de uso contínuo, que
interferem na quantidade de hormônios no corpo, podem utilizados.
(Kosachenco, 2016)

Outro hormônio que faz alterações no organismo na parte metabólica e


comportamental é o cortisol. Esse hormônio é liberado em situações de estresse.
Tem função catabólica para poder gerar energia. Dessa maneira, faz a quebra de
proteínas e gorduras.
Além disso, também tem um efeito na glicose, não permitindo a sua
diminuição, e fazendo com que o fígado produza glicose por meio do processo de
gliconeogênese.
A quantidade de cortisol produzida aumenta conforme o nível de estresse.
Assim, quanto mais a pessoa se estressa, mais cortisol produz. E conforme os
níveis de estresse vão diminuindo, a secreção do hormônio também cai, chegando
ao normal.

14
Esse hormônio também tem efeito anti-inflamatório e é liberado
principalmente nas primeiras horas do dia, tendo seu nível de secreção diminuído
à noite.
A liberação de cortisol ocorre quando temos o estímulo da produção do
ACTH na hipófise. E este ocorre quando o hipotálamo faz a liberação de CRH. Na
figura a seguir, temos um esquema das alterações metabólicas e fisiológicas que
o cortisol faz no organismo.

Figura 8 – Esquema das alterações metabólicas e fisiológicas que o cortisol faz


no organismo

Créditos: Brgfx/Shutterstock.

15
REFERÊNCIAS

AIRES, M. M. et al. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

ALBERTS, B. et al. Fundamentos de biologia celular. 2. ed. Porto Alegre:


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_____. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

BRAZ, B. X. Tecido hipofisário. Petdocs, 4 dez. 2013. Disponível em:


<http://petdocs.ufc.br/index_artigo_id_348_desc_Cl%C3%ADnica_pagina__subt
opico_24_busca>. Acesso em: 28 abr. 2019.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2017.

GROSSMAN, A. B. Considerações gerais sobre as glândulas adrenais. Manual


MSD – versão saúde para a família. Disponível em:
<https://www.msdmanuals.com/pt/casa/distúrbios-hormonais-e-
metabólicos/distúrbios-da-glândula-adrenal/considerações-gerais-sobre-as-
glândulas-adrenais>. Acesso em: 28 abr. 2019.

KOSACHENCO, C. Por que os hormônios são tão importantes para o equilíbrio


do corpo. Gauchazh, 21 jan. 2016. Disponível em:
<https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2016/01/por-que-os-
hormonios-sao-tao-importantes-para-o-equilibrio-do-corpo-4963368.html>.
Acesso em: 28 abr. 2019.

LIMA, I. Funções reprodutivas e hormonais do homem. Prezi, 2017. Disponível


em: <https://prezi.com/x0hdwyjtgwjo/funcoes-reprodutivas-e-hormonais-do-
homem/>. Acesso em: 28 abr. 2019.

SARDINHA, V. Mecanismo de Feedback. BiologiaNet. Disponível em:


<https://www.biologianet.com/anatomia-fisiologia-animal/mecanismo-
feedback.htm>. Acesso em: 28 abr. 2019.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana – uma abordagem integrada. 5. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

SOUZA, E. B. Hipotálamo. Toda biologia, 2 jan. 2019. Disponível em:


<https://www.todabiologia.com/anatomia/hipotalamo.htm>. Acesso em: 28 abr.
2019.

16
AULA 4

FISIOLOGIA ENDÓCRINA E DO
METABOLISMO

Profª Beatriz Essenfelder Borges


TEMA 1 – EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-TIREOIDE (TRH)

Antes de falarmos propriamente da glândula tireoide, precisamos descrever


como ela é estimulada, e isso depende de hormônios que são liberados pela
hipófise. A regulação hormonal vai muito além da hipófise, pois é preciso
considerar também o hipotálamo, que é conhecido como a glândula que estimula
a hipófise a fazer o seu trabalho.
Dessa maneira, precisamos pensar no eixo hipotálamo, hipófise e tireoide,
que tem uma relação direta com o metabolismo corpóreo.
O hipotálamo tem dois tipos de hormônios na sua constituição, aqueles que
são liberados na adeno-hipófise para dar estímulo a ela, e os hormônios que são
enviados à neuro-hipófise, para que fiquem armazenados até o momento
necessário da sua liberação.
Os hormônios liberados pelo hipotálamo que agem na adeno-hipófise são
conhecidos como fatores liberadores hipotalâmicos. Um exemplo é o hormônio
liberador de TSH (TRH). O TRH é liberado para estimular a hipófise a liberar um
hormônio conhecido como tireotrófico (TSH), que vai agir diretamente na tireoide,
estimulando essa glândula a produzir seus hormônios e, assim, a fazer alterações
no metabolismo geral do corpo.
O TRH foi o hormônio liberador a ser encontrado por primeiro nas
investigações científicas. Ele foi descoberto na década de 60, e desde então
muitos estudos têm sido feitos sobre a sua função e estrutura.
Tanto isso é verdade, que hoje já se sabe que o TRH não estimula apenas
a liberação de TSH, mas também tem uma participação importante na liberação
do hormônio prolactina pela hipófise.
A secreção de TRH sofre influência dos hormônios produzidos na tireoide.
Esses hormônios desencadeiam a retroalimentação negativa em relação ao
hipotálamo. Quando aumenta o nível de hormônios da tireoide na circulação,
diminui a produção de TRH.
Para que o TRH tenha efeito na hipófise, é necessário que as células da
hipófise, que são conhecidas como células tireotróficas, tenham receptores de
membrana para o hormônio liberador. E quanto mais receptores tiver, maior é a
resposta da hipófise à estimulação do TRH.
Os receptores das células tireotróficas têm sua expressão regulada por
diversos hormônios, como os glicocorticoides, produzidos na adrenal, que podem

2
inibir a expressão de receptores de TRH, fazendo com que ocorra uma menor
estimulação da hipófise. Consequentemente, o hipotálamo também diminui sua
secreção hormonal.
Hoje, sabemos que hormônios como TRH e TSH são bem mais evidentes
no sexo feminino. Isso pode ser explicado pelo fato de o hormônio feminino
conhecido como estrógeno estimular a expressão de receptores de TRH na
glândula hipófise; assim, esse hormônio passa a ser produzido intensamente pelo
hipotálamo, e consegue estimular a hipófise, por ter a o que se ligar,
desencadeando um aumento das respostas metabólicas no organismo.
Como vimos na aula sobre os tipos de receptores, os que são específicos
para o TRH são acoplados à proteína G, e quando ativados desencadeiam uma
cascata de respostas intracelulares, que por sua vez mobilizam alterações de
transcrição gênica.
O TRH tem diversas funções, além de estimular a hipófise a liberar o TSH.
No sistema nervoso central, ele pode alterar o sono e aumentar a pressão arterial.

TEMA 2 – HIPÓFISE E A PRODUÇÃO DE TSH

Continuando a liberação hormonal no eixo hipotálamo, hipófise e tireoide,


agora vamos falar um pouco da hipófise. Quando é estimulada pelo hipotálamo,
ela secreta um hormônio conhecido como TSH (figura 1).

Figura 1 – Desenho esquemático da liberação de hormônios no hipotálamo e


hipófise para estimular a tireoide

Crédito: Sakurra/Shutterstock.
3
O TSH é importante para que a tireoide funcione, pois é ele que se liga em
receptores específicos na tireoide, para fazer com que essa glândula endócrina
libere seus hormônios e altere o metabolismo corpóreo.
O TSH é um hormônio de natureza glicoproteica, produzido em células
chamadas de tireotrofos, que representam aproximadamente 5% do total de
células da hipófise.
A atividade hormonal do TSH ocorre devido a modificações durante a sua
produção. Por ser um hormônio com parte proteica, ele é produzido no retículo
endoplasmático, e depois enviado ao complexo de Golgi para sofrer certas
modificações, como adições de moléculas de açúcar na sua estrutura. Essa
adição de açúcar é conhecida como glicosilação; quando é feita de forma
inadequada, o hormônio perde sua atividade biológica e para de funcionar.
A principal função do TSH é estimular as células da tireoide a produzirem
os hormônios tireoidianos que regulam o metabolismo. As células da tireoide que
são estimuladas são os folículos, ou células foliculares. A estimulação resulta em
dois processos de adaptação celular, conhecidos como hiperplasia e hipertrofia.
Dessa maneira, as células conseguem produzir hormônios específicos.
A secreção dos TSH ocorre em pulsos, ou seja, a cada duas ou três horas
há um pulso de liberação desse hormônio. De noite, sua produção e liberação é
mais ou menos duas vezes mais elevada do que de dia.
Os efeitos do TSH na tireoide podem ser percebidos quando temos uma
alta ou baixa secreção dessa substância. Quando há em circulação uma grande
quantidade desse hormônio, as células foliculares da hipófise ficam alteradas,
sofrendo processo de hipertrofia, que causa um aumento no tamanho das células,
e hiperplasia, que aumenta a quantidade de células. Além disso, ainda ocorre um
aumento dos vasos e alterações específicas para produção hormonal exagerada.
No caso de uma diminuição da secreção de TSH, as alterações são
exatamente contrárias as descritas para a hipersecreção.
Como descrito anteriormente, o TSH precisa se ligar aos receptores de
proteína G para funcionar. Os receptores estão alocados na membrana celular da
tireoide, e quando se ligam ao TSH desencadeiam i,a resposta intracelular que
ativa as respostas metabólicas.
O que o difere do TRH, é que essa ligação do TSH com seu receptor, e a
consequente cascata de sinalização, dependem de um segundo mensageiro,
chamado de AMPcíclico. Esse segundo mensageiro é especificamente a molécula

4
que faz com que ocorra toda a resposta celular ao estímulo. É ele que
efetivamente gera a resposta intracelular.

TEMA 3 – GLÂNDULA TIREOIDE

A glândula tireoide produz os hormônios conhecidos como tireoidianos, que


são T4 (tiroxina) e T3 (tri-iodotrionina). Esses hormônios estabelecem regulação
metabólica corpórea. Além desses dois hormônios, ainda temos a tireoide
secretando um terceiro, conhecido como calcitonina (Figura 2). A calcitonina
participa da regulação de cálcio no organismo como um todo.

Figura 2 – Desenho esquemático dos hormônios da tireoide

Crédito: Designua/Shutterstock.

A tireoide produz T3 e T4 em quantidades diferentes, mas esses hormônios


são funcionalmente importantes para o organismo. Mais ou menos 7% de
hormônio ativo produzido na tireoide é T3 e 93% é de T4, sendo que praticamente
toda a tiroxina é convertida em T3 nos tecidos orgânicos. Esses dois hormônios

5
diferem na velocidade e intensidade da ação, ou seja, o T3 é muito mais efetivo e
potente que o T4, mas tem menor quantidade circulante e meia vida curta.
A glândula tireoide tem células foliculares, em cujo interior há uma
substância chamada de coloide, ao redor células epiteliais com formato cuboide,
que produz os hormônios e os joga para o coloide que está no interior dos
folículos. A substância central (coloide) tem na sua constituição uma glicoproteína
conhecida como tireoglobulina, que tem grande importância, por conter os
hormônios da tireoide (Figura 3).

Figura 3 – Anatomia e histologia da glândula tireoide

Crédito: Sakurra/Shutterstock.

Os hormônios tireoidianos quando chegam nos folículos devem ser


encaminhados para os vasos sanguíneos para desenvolverem suas funções
fisiológicas. Além dos folículos, a histologia da tireoide mostra que essa glândula
também possui uma célula chamada de C, que tem como principal função secretar
a calcitonina.
Para que os hormônios da tireoide sejam produzidos, precisamos de
iodetos ingeridos na alimentação. Essa substância é digerida pelo trato
6
gastrointestinal e absorvida para o sangue; uma pequena parte vai para as células
da tireoide, e o restante é excretado pelos rins.
Pensando na formação dos hormônios T3 e T4, precisamos ir com calma,
pois são várias etapas. Inicia com o transporte de iodeto da corrente sanguínea
para as células epideliais e depois os folículos.
Nas células tireoidianas, existe uma bomba sódio-iodeto, que permite o
transporte ativo simporte de iodeto e dois sódios para o interior dessa célula, mas
temos que saber que o sódio que está no sangue foi transprtado por uma bomba
de sódio potássio. Dessa maneira, quando o sódio volta, faz isso de forma
simporte com o iodeto. A entrada de iodeto é contra o gradiente de concentração
e a energia utilizada para isso vem justamente da bomba de sódio e potássio.
Essa entrada de iodeto na célula é estimulada por TSH, que ativa o
funcionamento da bomba de iodeto nas células da tireoide.
Depois, o iodeto deverá sair da célula e chegar no folículo, o que acontece
devido à ação da pendrina, que é um cotransportador de cloro e iodeto. Além
disso, as células epitelias secretam a tireoglobulina para dentro do folículo.
A síntese de tireoglobulina ocorre pelo retículo endoplasmático, já que essa
molécula é proteica, e sua secreção depende do complexo de golgi. Essas
organelas estão presentes nas células epiteliais da tireoide. A tireoglobulina tem
na sua estrutura muitos aminoácidos tirosina, que são os substratos que
combinam com o iodo para formar os hormônios.
Todos esses passos são importantes para termos a formação dos
hormônos da tireoide, mas vamos devagar para entender todo o processo. Uma
vez que o iodeto esteja dentro do folículo, precisa ocorrer a oxidação de iodo, pois
é essa forma oxidada que vai se combinar com a tirosina. Quem faz isso é uma
enzima conhecida como peroxidase. Essa enzima precisa do peróxido de
hidrogênio para poder funcionar, e dessa forma esse complexo oxida o iodeto e
forma o iodo oxidado, que vai se ligar à tireoglobulina. Quando um iodo é
incorporado ao aminoácido tirosina, forma-se uma molécula de monoiodotirosina
(MIT); quando dois iodos se ligam, temos a di-iodotirosina (DIT).
O acoplamento de MIT e DIT formam tri-iodotironina e tri-iodotironina
reversa, respectivamente T3 e T3 reversa. Já duas DITs, quando se acoplam,
formam a tiroxina (T4). O acoplamento ocorre com essas moléculas associadas à
tireoglobulina. Ao final desse processo, cada tireoglobulina tem mais ou menos 30
moléculas de tiroxina e algumas de tri-iodotironina associadas. Assim, esses

7
hormônios ficam armazenados no folículo, até o momento de serem liberados.
Esse armazenamento é importante, pois as quantidades existentes garantem
suprimento hormonal por até 3 meses. Assim, se houver algum problema para
produzir hormônios tireoidianos, os efeitos só serão reparados após 3 meses do
problema.
Para ocorrer a liberação do T3 e T4, a tireoglobulina precisa sofre hidrólise
no folículo. Com estímulo de TSH, temos a formação de pseudópodes, que criam
pequenas vesículas pinocíticas no interior da célula. Essas vesículas acabam se
fusionando com o lisossomo da célula fazendo proteólise da tireoglobulina,
soltando MIT, DIT, T3, T4 e T3r.
MIT e DIT são moléculas inativas, e dessa maneira não saem das células.
Elas têm o iodo removido pela enzima iodotirosina-desiodase. Esse iodo será
reutilizado ou reciclado para um novo ciclo de formação hormonal.
O T3 e T4 livres saem da célula folicular por transporte passivo, conhecido
como difusão simples. Na Figura 4, temos um esquema de todo o processo
descrito até aqui para a formação dos hormônios T3 e T4.

Figura 4 – Desenho esquemático da formação hormonal de T3 e T4

Após serem colocadas no sangue, tanto T3 quanto T4 são ligadas a


proteínas plasmáticas transportadoras. Essas proteínas são as globulimas, e em
menor quantidade a albumina.

8
TEMA 4 – FUNÇÕES FISIOLÓGICAS DOS HORMÔNIOS DA TIREOIDE

A principal função dos hormônios tireoidanos está na ativação de


transcrição gênica e no aumento da atividade metabólica do organismo como um
todo.
Como já falamos, grande parte da tiroxina produzida será convertida em tri-
iodotironina. Isso ocorre devido à retirada de uma molécula de iodo da estrutura
da tiroxina. Essa conversão é necessária, pois a maioria dos receptores de
hormônios da tireoide tem especificidade pela tri-iodotironina.
Pensando nas atividades fisiológicas que eles desenvolvem, podemos
iniciar comentando que participam do aumento da atividade metabólica no corpo.
Isso ocorre porque esses hormônios participam de várias regulações.
Uma delas é aumentar a atividade mitocondrial. Na verdade, com a
presença de T3 e T4, as mitocôndrias aumentam de tamanho e quantidade. Sua
membrana também tem um aumento significativo. Isso faz com que ocorra uma
maior produção de ATP, e consequentemente mais energia.
Quando pensamos em aumento de metabolismo, lembramos da geração
de calor. Esses hormônios têm a capacidade de gerar mais calor, mas isso só
ocorre porque eles ativam as bombas de sódio e potássio, aumentando o
transporte de íons e gastando mais energia para, assim, produzir calor.
Os hormônios tireoidianos também participam do processo de crescimento
do indivíduo. Já é sabido que essa relação é mais intensa no período da infância,
pois em crianças com baixa produção desses hormônios há um crescimento
menor. Durante a vida fetal e primeiros anos de vida, os hormônios da tireoide
podem influenciar até no crescimento cerebral.
Em relação ao metabolismo de carboidratos, esses hormônios agem
aumentando a captação de glicose pelas células, pois assim aumentam também
os processos conhecidos como glicólise e gliconeogênese. A glicólise ocorre para
aumentar a produção energética no organismo; a gliconeogênese nada mais é do
que a conversão de moléculas em glicose, o que por sua vez aumenta a produção
energética.
Esses hormônios estimulam o metabolismo de gorduras, pois fazem
mobilização de lipídeos, diminuindo o acúmulo de gordura e estimulando a
oxidação de ácidos graxos. Quando temos aumento dos hormônios da tireoide,
ocorre uma redução de níveis de colesterol, fosfolipídeos e triglicerídeos no

9
plasma. Essa diminuição de colesterol se dá pelo aumento de secreção dessa
molécula na bile, e com isso sua retirada pelas fezes.
Os hormônios tireoidianos promovem a atividade excessiva de enzimas do
metabolismo, mas já sabemos que as vitaminas são precursoras de diversas
enzimas; assim, como existe a ativação de muitas enzimas quando há altos níveis
desses hormônios, podemos ter falta de vitamina. Isso não ocorre se houver maior
disponibilidade de vitaminas, juntamente com o aumento de secreção de T3 e T4.
Existe também uma regulação com peso corporal: quando temos uma
quantidade grande desses hormônios, quase sempre há perda de peso. Porém,
pode haver aumento de apetite: portanto, temos perda de peso quase sempre,
mas podemos ter aumento dependendo do controle alimentar.
Frequência cardíaca, fluxo cardíaco e débito cardíaco também são
alterados com a liberação de hormônios da tireoide. Todos esses parâmetros são
aumentados, devido ao aumento metabólico. A frequência cardíaca é diretamente
afetada quando temos aumentos hormonais.
A pressão arterial média não se altera em resposta à secreção hormonal.
Se temos apenas sistólica ou diastólica, há uma alteração devido a todas as
descompensações cardíacas envolvidas, ainda que na média tudo permanece
normal.
Podemos ter alterações nas atividades cerebrais, como nervosismo,
ansiedade, paranoia e preocupações exageradas.
Em relação aos músculos, fazem muito catabolismo proteico quando
temos hormônios da tireoide em excesso. Pode haver até tremor muscular leve.
Pelo fato de a atividade muscular e cerebral aumentar quando há excesso de
hormônios, podemos ter o desenvolvimento de um quadro de insônia e de
alterações de sono.
Por último, podemos ter regulações de glândulas endócrinas, devido aos
hormônios da tireoide. Um exemplo é o aumento da liberação de insulina, por
conta do aumento do metabolismo da glicose, que ocorre pela estimulação da
tiroxina. Esses hormônios podem inativar a produção de glicocorticoides pelo
fígado, aumentando a produção das adrenais, em função da retroalimentação em
jogo.
Na Figura 5, podemos ver um resumo das atividades metabólicas
realizadas pelos hormônios T3 e T4 no organismo.

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Figura 5 – Desenho esquemático das funções de T3 e T4

Crédito: Vectormine/Shutterstock.

TEMA 5 – REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DOS HORMÔNIOS DA TIREOIDE

Todos os hormônios precisam ser regulados, para que a taxa metabólica


normal seja sempre mantida. Dessa maneira, os hormônios da tireoide precisam
estar em concentrações ideias para que possam desenvolver suas atividades
fisiológicas normais.
O nível ideal de secreção está relacionado com mecanismos de
retroalimentação específica. Já descrevemos um pouco esses mecanismos
quando falamos de hipófise e hipotálamo.

11
A glândula tireoide é controlada pelos hormônios secretados pela hipófise,
e a hipófise é regulada pelos hormônios do hipotálamo. Dessa maneira, temos a
regulação na liberação dos hormônios tireoidianos.
O TSH aumenta a secreção dos hormônios da tireoide, por estimular o
aumento da quebra de tireoglobulina no folículo, fazendo com que ocorra a
liberação de T3 e T4 para a corrente sanguínea. Também estimula o aumento do
funcionamento das bombas de iodeto, do iodização, e de forma geral faz com que
todos os processos de formação de T3 e T4 ocorram.
Esse hormônio liberado pela hipófise também proporciona a ativação de
um segundo mensageiro para que os hormônios tireoidianos sejam liberados. A
ligação com segundo mensageiro e a ativação de respostas celulares são
fundamentais para que ocorra a liberação de T3 e T4.
A hipófise é regulada pelo hipotálamo, ou seja, o hormônio liberador de
tireotropina (TRH) estimula a hipófise a liberar o TSH. O TRH proporciona a
liberação de TSH por efeito molecular. Na membrana da hipófise há receptores
específicos para esse hormônio liberador. Assim, ele desencadeia uma
sinalização intracelular imediata à sua ligação ao receptor. No caso do TRH,
temos a ativação do mecanismo de segundo mensageiro, que ativa os
mecanismos intracelulares, até que isso seja suficiente para ocorrer a liberação
do TSH.
A exposição ao frio pode ativar a liberação de TRH e a consequente
estimulação da produção e liberação de TSH. Isso acontece devido ao fato de o
frio estimular os centros de controle de temperatura que ficam no hipotálamo. O
que precisamos ter em mente é que, se aumenta o TSH, consequentemente
teremos aumento da liberação de T3 e T4, e isso pode gerar ativação metabólica
excessiva.
Além do frio, podemos ter alterações nas liberações hormonais de TRH e
TSH, quando temos oscilações emocionais. Um exemplo é o quadro de
ansiedade, que faz aumentar a atividade do sistema nervoso simpático e
consequentemente diminuir a liberação de TSH.
Os hormônios da tireoide, T3 e T4, determinam a homestase do organismo,
pois quando estão em grande quantidade na circulação, fazem retroalimentação
negativa na hipófise e no hipotálamo. Isso acontece para que ocorra a
manutenção da quantidade de hormônios no organismo.

12
A seguir, temos um esquema da retroalimentação negativa que ocorre
entre as glândulas hipotálamo, hipófise e tireoide.

Figura 6 – Retroalimentação negativa

A glândula tireoide também pode sofrer o que chamamos de


autorregulação, que ocorre pela quantidade disponível de iodo na célula. Temos
que pensar que essa autorregulação pelo iodo é independente do TSH.
Quando temos uma grande quantidade de iodo disponível, a molécula faz
um efeito inibitório, impedindo o transporte de iodo e a organificação, e
consequentemente impedindo a produção de tiroxina e tri-iodotironina.
Alterações nas quantidades hormonais podem levar a processos
patológicos graves. As patologias mais conhecidas são hipertireoidismo e
hipotireoidismo.
O hipertireoidismo é uma condição que faz com que a glândula tireoide
produza seus hormônios em excesso. Se lembrarmos dos efeitos desses
hormônios, podemos ter ideia de como isso é maléfico. Em excesso, esses
hormônios podem alterar as funções cardíacas, aumentar muito a temperatura
corpórea, causar perda de peso significativa, além de ansiedade, irritação e
inchaço ocular.

13
Isso pode acontecer devido a uma inflamação da glândula, ou por
aparecimento de nódulos, tumores. Na figura a seguir, temos alguns sintomas
dessa patologia.

Figura 7 – Retroalimentação negativa

Crédito: Timonina/Shutterstock.

Outra patologia associada à tireoide é o hipotireoidismo. Essa doença


ocorre quando, por algum motivo, temos poucos hormônios tireoidianos sendo
secretados. O aparecimento pode estar relacionado com uma doença autoimune
que determina a diminuição da atividade da glândula, mas também pode haver
má formação, ou sequela de uma cirurgia.
Os sintomas relacionados a essa doença englobam sensação de frio,
cansaço, depressão, ganho de peso corpóreo, constipação, e alterações na
hidratação da pele e cabelo.
Na Figura 8, podemos ver os sintomas do hipotireoidismo.

14
Figura 8 – Hipotireoidismo

Crédito: Timonina/Shutterstock.

15
REFERÊNCIAS

AIRES, M. M. et al. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

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_____. Fundamentos de biologia celular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

GUYTON, A.C., HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
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SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 5. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

16
AULA 5

FISIOLOGIA ENDÓCRINA DO
METABOLISMO

Profa. Beatriz Essenfelder Borges


TEMA 1 – PÂNCREAS ENDÓCRINO

Este órgão está localizado no abdome, entre a primeira porção do intestino


delgado, conhecida como duodeno, e o baço. É anatomicamente dividido em
porções: a primeira é a cabeça (próxima do intestino), a segunda é o corpo e a
última é a cauda (próxima do baço).
A Figura 1 demonstra sua localização:

Figura 1 – Localização do pâncreas no corpo humano

Crédito: Designua/Shutterstock.

O pâncreas é uma glândula considerada mista, pois libera tanto enzimas


do sistema digestório quanto substâncias hormonais na circulação. Em relação ao
sistema digestório, tem a função de uma glândula exócrina, na qual as secreções
ocorrem por meio de um ducto tubular que faz com que as substâncias produzidas
por elas sejam eliminadas na superfície do corpo ou em uma cavidade. Esse tipo
de glândula tem duas partes ou porções específicas: a porção secretora,
responsável pela síntese e pela secreção de substâncias, e a parte dos ductos
glandulares, região que elimina a secreção.
O órgão também é considerado uma glândula endócrina, que se constitui
como um cordão com células secretoras envolvidas por uma rede de vasos
sanguíneos. A taxa (ou quantidade) de secreção desse tipo de glândula é

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modulada por hormônios. Como não tem ductos, suas substâncias são lançadas
na corrente sanguínea e seguem pela circulação até encontrar o alvo específico.
Nesta aula, estamos falando de fisiologia endócrina, por isso abordaremos
apenas o pâncreas endócrino e suas especialidades metabólicas. De saída, é
importante pontuar que o pâncreas é um órgão formado por dois tecidos distintos,
os ácinos pancreáticos e as ilhotas de Langerhans. Os primeiros têm a função de
liberar suco pancreático na primeira porção do intestino delgado e as últimas são
responsáveis por liberar os hormônios produzidos no órgão.
Como trataremos apenas do pâncreas endócrino, vamos detalhar as ilhotas
de Langerhans e suas células. Essas ilhotas têm quatro tipos diferentes de
células, alfa, beta, delta e F. As células alfa estão dispostas na periferia e formam
o revestimento das ilhotas pancreáticas, representando mais ou menos 25% do
total das células desse local. Elas têm a função de liberar um hormônio conhecido
como glucagon.
As células beta estão presentes na região central das ilhotas e são as mais
abundantes, chegando a aproximadamente 60% do total. Têm como função
secretar um hormônio conhecido como insulina. As células delta também estão
próximas da periferia e representam 10% do tecido, tendo como função a
produção de somatostatina. Já as células F representam 5% do total de células e
produzem polipeptídeo pancreático.
Na Figura 2, podemos observar o pâncreas e suas células:

Figura 2 – Representação do pâncreas e de suas células

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Crédito: Sakurra/Shutterstock.

TEMA 2 – INSULINA E GLUCAGON

As células beta do pâncreas sintetizam e secretam o hormônio conhecido


como insulina, que tem estrutura proteica e é formado por duas cadeias de
aminoácido, as quais se unem por meio de ligações específicas conhecidas como
ligações dissulfeto. Essa estrutura determina a funcionalidade da molécula – se
as duas cadeias se separarem, a proteína perde sua função.
Por ser um hormônio com uma estrutura proteica, sua produção ocorre no
retículo endoplasmático rugoso da célula beta, a partir de um RNA mensageiro.
Inicialmente, ocorre a formação da substância conhecida como pré-pró-insulina,
que é quebrada no retículo endoplasmático, formando a pró-insulina. Essa
molécula de pró-insulina tem as cadeias de peptídeos A, B e C.
A pró-insulina é enviada ao complexo de Golgi e sofre mais uma quebra,
formando a insulina e o peptídeo C, também conhecido como peptídeo conector.
Tanto a insulina como o peptídeo C são liberados do complexo de Golgi em
vesículas secretoras, e ficam armazenados até o momento de serem liberados na
circulação sanguínea pelo fenômeno conhecido como exocitose. Antigamente,
4
imaginava-se que esse peptídeo era apenas parte do processo de formação da
insulina, mas, hoje, com as pesquisas na área básica, já se sabe que essa
molécula pode ter importância como anti-inflamatório e antiapoptótico.
O receptor da insulina é um receptor enzimático e tem duas unidades
distintas, alfa e beta, que se unem por pontes dissulfeto. A unidade alfa está
externa à célula e a beta está entre a membrana (transmembrana), com porção
intracelular. A porção interna funciona como uma tirosina quinase, que fosforila.
Quando o hormônio insulina se liga ao receptor (unidade alfa), ocasiona uma
autofosforilação da unidade beta, levando a uma cascata de sinalização
intracelular, o que gera inúmeros processos intracelulares ligados ao metabolismo
do organismo.
A liberação da insulina das vesículas secretoras acontece de maneira
bastante complexa. Quando ocorre aumento do nível de glicose no sangue, as
células beta pancreáticas, que têm um transportador de glicose chamado de
GLUT2, colocam essa molécula para dentro, e isso faz com que ocorra o aumento
de ATP, devido à fosforilação oxidativa. O aumento de energia fecha os canais de
potássio que são controlados por ATP e despolariza a membrana das células
pancreáticas.
Essa despolarização da membrana faz com que os canais de cálcio que
são controlados por voltagem se abram, esse íon entre na célula e aumente o
nível intracelular, pois, além de receber de fora o retículo da célula, libera também
íon cálcio. O nível intracelular desse íon aumenta bastante e isso sinaliza para a
liberação da insulina das vesículas secretoras. Ocorre a exocitose do hormônio
insulina, produzido nas células beta do pâncreas, para a corrente sanguínea.
O referido mecanismo pode ser ativado por qualquer molécula que faça
aumento do ATP intracelular, como, por exemplo, aminoácidos, ácidos graxos,
ativação de sistema nervoso autônomo e hormônios gastrointestinais. Para ilustrar
a complexidade desse funcionamento, apresentamos na Figura 3 um esquema da
secreção da insulina:

Figura 3 – Esquema da secreção de insulina

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Crédito: Meletios Verras/Shutterstock.

O glucagon é um segundo hormônio produzido pelo pâncreas e tem


atividade contrária da insulina. As células responsáveis por esse hormônio são as
alfa, e sua liberação ocorre quando os níveis de concentração de glicose ficam
baixos na corrente sanguínea.
Também é um hormônio com estrutura proteica e tem o pré-pró-glucagon
produzido no retículo endoplasmático rugoso. Nessa organela, ocorre a primeira
clivagem, que forma o pró-glucagon, o qual, quando enviado ao complexo de
Golgi, sofre a segunda clivagem e forma o glucagon, que fica armazenado na
vesícula secretora até o momento de ser liberado pelas células.
Da mesma maneira que a insulina, esse hormônio é liberado da célula
pancreática pelo fenômeno de exocitose. Também depende da glicemia, mas,
nesse caso, é necessário ocorrer uma baixa dos níveis de concentração de glicose
no sangue.
Na Figura 4, podemos observar os dois hormônios e seus funcionamentos
em relação à glicose:

Figura 4 – Funcionamento da insulina e do glucagon

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Crédito: Designua/Shutterstock.

TEMA 3 – SOMATOSTATINA E POLIPEPTÍDEO PANCREÁTICO

As células delta do pâncreas produzem um hormônio chamado de


somatostatina, que foi primeiramente descrito em uma porção do sistema nervoso
central conhecida como hipotálamo. Neste local, os pesquisadores observaram
que ele alterava a liberação do hormônio de crescimento, o GH. Como o que
estava sendo observado era a inibição do hormônio somatotrofina, ele foi batizado
de somatostatina.
O gene desse hormônio é transcrito em vários lugares do organismo, e não
somente no pâncreas, podendo ocorrer no sistema nervoso e também no sistema
digestório. Acontece a formação de duas somatostatinas que têm atividade

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biológica: a primeira é a SS14 e a segunda é a SS28. O número está relacionado
com a quantidade de aminoácidos utilizados para formar cada uma – a SS28 é
constituída da SS14 mais 14 aminoácidos. No pâncreas, temos apenas a
formação da SS14, sendo a SS28 muito mais efetiva para a regulação do
hormônio de crescimento no sistema nervoso.
A somatostatina produzida no pâncreas participa como molécula inibitória
para a insulina e o hormônio glucagon. Nos intestinos, esse hormônio pode
provocar a má absorção de substâncias e ocasionar uma diarreia líquida (aquosa),
além de diminuir a filtração que ocorre no glomérulo, o que resulta em uma
diminuição do volume urinário produzido pelos rins.
O polipeptídeo pancreático é um hormônio produzido nas células F do
pâncreas, mas seus efeitos ainda são pouco conhecidos. O que se sabe sobre ele
é que tem estrutura proteica e é mais produzido toda vez que aumentam os níveis
de acetilcolina no organismo. Na área farmacológica, é utilizado para inibir as
secreções de insulina e glucagon, quando estão fora de controle.

TEMA 4 – AÇÃO DO HORMÔNIO INSULINA

A insulina participa do controle da glicemia/do açúcar no organismo


humano, sendo um hormônio muito importante para o metabolismo corpóreo.
Suas funções são a produção energética pela ativação e a metabolização de
glicose no corpo humano. Ela retira o açúcar da corrente sanguínea e coloca para
dentro das células, para que estas possam fazer metabolismo celular e gerar
energia para o organismo como um todo.
Vamos pensar um pouco em como a insulina consegue pegar a glicose e
colocar para dentro da célula. Ela é liberada quando ocorre um aumento de glicose
na corrente sanguínea, o que ocorre devido à alimentação. Muito do que comemos
se transforma em açúcar (glicose) na corrente sanguínea, e, assim, deve ser
enviado para dentro das células.
Como já descrito, quando temos aumento de glicose na corrente
sanguínea, ela se liga ao seu receptor na célula beta (GLUT2), e este faz com que
a glicose entre na célula beta pancreática e aumente o ATP intracelular. Quando
isso ocorre, os canais de potássio se fecham e impedem o influxo desse íon,
despolarizando a membrana das células e abrindo canais de cálcio que vão
provocar a liberação da insulina das vesículas secretoras.

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Assim que a insulina cai na corrente sanguínea por exocitose, vai ser
transportada até as células para que sinalize para a entrada de glicose. As células
têm receptores de insulina que são acoplados a enzimas, e, quando essa
molécula se liga ao seu receptor, ela desencadeia uma sinalização intracelular e
causa a translocação de vesículas com os transportadores de glicose GLUT que
se fixam e são expostos na membrana plasmática, de modo que a glicose consiga
entrar na célula e ativar seu metabolismo.
Existem vários tipos de GLUTs para transportar glicose, e cada um deles
só depende do tecido em que está. Cada uma das células do corpo tem vários
tipos de GLUT e em quantidades diversas, dependendo do tipo de tecido e da
demanda dele em relação à produção energética.
No Quadro 1, temos uma demonstração dos tipos de transportadores de
glicose e suas funções estabelecidas:

Quadro 1 – Transportadores de glicose em humanos

Transportador Tecido(s) onde está expresso Kt (mM)* Função†


GLUT1 Ubíquo 3 Captação basal de glicose
No fígado e rim, remoção do excesso de
GLUT2 Fígado, ilhotas pancreáticas, intestino 17 glicose do sangue; no pâncreas,
regulação da liberação de insulina
GLUT3 Cérebro (neuronal), testículo (esperma) 1,4 Captação basal de glicose
GLUT4 Músculo, gordura, coração 5 Atividade aumentada pela insulina
GLUT5 Intestino (principalmente), testículo, rim 6‡ Transporte principalmente de frutose
GLUT6 Baço, leucócitos, cérebro >5 Possivelmente sem função de transporte
GLUT7 Intestino delgado, colo 0,3 –
GLUT8 Testículo ~2 –
GLUT9 Fígado, rim 0,6 –
Coração, pulmão, cérebro, fígado,
GLUT10 0,3ᶳ –
músculo, pâncreas, rim
GLUT11 Coração, músculo esquelético, rim 0,16 –
Músculo esquelético, coração, próstata,
GLUT12 – –
intestino delgado
Fonte: Nelson; Cox, 2014, p. 407.
†O traço indica uma função incerta.
‡ Km para a frutose.
ᶳ Km para a 2 desoxiglicose.

Quando fazemos uma ingestão grande de carboidratos, essa molécula é


transformada em açúcar e fica em grande quantidade no sangue. Esse excesso
de açúcar será capturado pelas células do tecido adiposo, do músculo do coração
e do músculo esquelético. Nesses tecidos, o transportador de glicose que está
presente em vesículas intracelulares é o GLUT4, que fará a entrada de glicose
para o meio intracelular quando ocorrer a sinalização do hormônio insulina.
Essa ligação da insulina ao seu receptor faz com que as vesículas
intracelulares com transportadores de glicose se fundam à membrana e

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exponham o receptor GLUT4 para o meio extracelular, e, assim, a glicose entra
na célula e desencadeia as respostas metabólicas do organismo. A Figura 5
mostra como todo esse processo acontece:

Figura 5 – Efeito da insulina na captação de glicose

Crédito: Alila Medical Media/Shutterstock.

O número 1 representa a ligação da insulina em seu receptor, o 2 mostra a


fosforilação da parte intracelular do receptor acoplado à enzima e o 3 indica a
vesícula intracelular que contém GLUT4. O número 4 é a translocação do GLUT4
para a membrana e, por último, o 5 indica a colocação do GLUT4 na membrana e
a entrada de glicose na célula.
Para continuarmos entendendo a ação da insulina, precisamos rever
alguns conceitos básicos de bioquímica, como glicogenólise, glicogênese e
gliconeogênese. A glicogenólise pega uma molécula chamada de glicogênio e a
transforma em glicose, enquanto a glicogênese é o processo reverso, ou seja,
pega o excesso de glicose e o transforma em glicogênio. A gliconeogênese é a
produção de glicose por meio de moléculas não glicídicas.
A insulina participa do metabolismo corpóreo ativando ou inibindo as vias
descritas acima. Já se sabe que a captação de glicose mediada pela insulina

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ocorre principalmente nos músculos, nas células do tecido adiposo e no fígado.
No músculo, o nível de concentração de glicose aumenta quando ocorre a ligação
do hormônio insulina ao receptor das suas células, mas esse aumento só ocorre
quando o indivíduo está em atividade física ou quando acabou de fazer uma
refeição. Caso contrário, a glicose que chega ao músculo será transformada em
glicogênio e armazenada, de modo que esse glicogênio não seja perdido,
podendo ser utilizado como fonte energética para o músculo.
Uma das funções específicas da molécula de insulina é contribuir para o
armazenamento de glicogênio no fígado. A captação e a transformação no fígado
são muito importantes: quando houver queda do nível de glicose no sangue, o
fígado pode fazer a transformação do glicogênio armazenado em glicose,
aumentando o nível dessa molécula na circulação.
Podemos perceber que essa regulação entre insulina, glicogênio e fígado
ocorre por meio de um mecanismo de retroalimentação. O nível de glicose cai de
concentração no sangue, e, assim, diminui a secreção de insulina pelo pâncreas,
o que diminui a síntese de glicogênio no órgão e aumenta a liberação de glicose
no sangue. Esse mecanismo é importante para entendermos como o corpo
funciona entre as refeições e que sempre temos disponibilidade de glicose,
mesmo quando não estamos comendo.
É possível ainda que haja muita glicose na circulação e que o fígado não
consiga armazenar tudo em glicogênio. Nesse caso, ele fará a transformação de
glicose excedente em ácidos graxos, que serão empacotados em forma de
triglicerídeos e transportados para o tecido adiposo para serem armazenados em
forma de gordura.
Em síntese, a insulina apresenta muitos efeitos metabólicos, e os principais
deles estão sistematizados no Quadro 2:

Quadro 2 – Principais efeitos metabólicos da insulina

No fígado
• Inibição da glicogenólise e da gliconeogênese;
• Inibição da conversão de ácidos graxos e aminoácidos em cetoácidos;
• Aumento da síntese de glicogênio;
• Aumento da síntese de triglicerídios e das lipoproteínas VLDL.
Nos músculos
• Aumento da captação de aminoácidos e da síntese proteica;
• Aumento do transporte de glicose e da síntese de glicogênio.
No tecido adiposo branco

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• Aumento do armazenamento de triglicerídios;
• Aumento do transporte de glicose e metabolização a glicerofosfato;
• Aumento da hidrólise de triglicerídios extracelulares;
• Aumento no influxo de ácidos graxos livres;
• Aumento da esterificação dos ácidos graxos;
• Inibição da hidrólise de triglicerídios intracelulares.
Na maioria dos tipos celulares
• Aumento de atividade glicolítica;
• Aumento da captação de aminoácidos e da síntese proteica;
• Aumento da atividade da Na+/K+ -ATPase.
Fonte: Aires, 2013, p. 1109.

A liberação da insulina no organismo não ocorre apenas pelo aumento da


glicose após uma refeição, pois são muitos os fatores que podem interferir nesse
processo. Os fatores que aumentam essa liberação são a quantidade de ácidos
graxos livres na circulação, o aumento do nível de concentração de aminoácidos,
gastrina, cortisol e a obesidade. Já os fatores que diminuem a liberação de insulina
são a somatostatina, o jejum prolongado e um hormônio chamado de leptina.

TEMA 5 – AÇÃO DO HORMÔNIO GLUCAGON

O glucagon é uma substância hormonal produzida pelas células alfa do


pâncreas. As funções específicas desse hormônio proteico são inversas às da
insulina, constituindo-se como antagônicas na relação do metabolismo corpóreo.
Sua principal função é disponibilizar glicose para o organismo, o que ocorre
quando a concentração de glicose na corrente sanguínea abaixa e esse hormônio
precisa ser liberado para resolver a situação.
Já deu para perceber que ter glicose disponível na corrente sanguínea é
muito importante, pois facilita o funcionamento do organismo e permite que os
processos metabólicos ocorram. Nesse sentido, o glucagon tem duas funções
importantes no metabolismo: a primeira é quebrar glicogênio das células
hepáticas fazendo a glicogenólise, liberando glicose para a corrente sanguínea, e
a segunda é aumentar a gliconeogênese no fígado, aumentando também os
níveis de glicose no corpo.
O processo de glicogenólise é muito importante, pois faz a amplificação de
produtos, e, assim, pode produzir muita glicose com pequenas quantidades de
hormônio. Esse mecanismo de produção de glicose é ativado por segundo
mensageiro. Vamos detalhar o passo a passo para ficar mais claro.
O receptor de glucagon se encontra nas células dos hepatócitos e é do tipo
acoplado à proteína G, de modo que sua sinalização aconteça por meio de

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segundo mensageiro. O segundo mensageiro dessa sinalização é a 3’,5’-
adenosina monofosfato cíclico.
Primeiramente, o hormônio glucagon ativa uma enzima chamada de adenil
ciclase, que está presente na membrana das células do fígado. Essa ativação
desencadeia uma mensagem intracelular e ativa o AMP cíclico, e esse segundo
mensageiro, logo após sua ativação, faz uma cascata de fosforilações
intracelulares que geram como resposta celular a quebra do glicogênio em
glicose. Depois de tudo isso, essa glicose vai ser liberada na célula para circular
pelo sangue e encontrar seu receptor específico.
Esse esquema está resumido na Figura 6:

Figura 6 – Do glucagon à glicose

A gliconeogênese também sofre interferência desse hormônio, pois ele tem


a capacidade de captar muitos aminoácidos e transformá-los em glicose. Essa
transformação de produtos não glicídicos é chamada de gliconeogênese.
Uma curiosidade interessante sobre o aumento da secreção do hormônio
glucagon é que, exatamente como a insulina, sua liberação aumenta quando
fazemos atividade física intensa. Na teoria, isso não deveria ocorrer, pois o nível
de glicose nesse momento não diminui e, por isso, não deveríamos ter glucagon
sendo liberado.
Entretanto, a explicação para isso é que nesse processo de atividade
intensa temos uma quantidade grande de aminoácidos livres. Não podemos nos

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esquecer da regulação na liberação hormonal: quando há muita glicose na
corrente sanguínea, ocorre a inibição da liberação de glucagon.
Na Figura 7, temos um desenho esquemático das funções do glucagon e
da insulina, mostrando claramente que esses hormônios agem de formas
contrárias, mas que ambos têm grande importância para o metabolismo corpóreo:

Figura 7 – Funções da insulina e do glucagon

Crédito: VectorMine/Shutterstock.

A homeostasia corpórea em relação aos níveis de glicose circulante é


bastante importante. Essa substância não pode estar em demasia nem em falta
no organismo, pois contribui para a regulação da pressão osmótica no meio

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extracelular, a qual, se não for ajustada, provavelmente provocará uma intensa
desidratação nas células.
Da mesma forma, quando em nível muito elevado, pode provocar perda
dessa substância na urina, causando perda excessiva de água e fazendo com que
o indivíduo tenha uma grande perda de moléculas e íons essenciais, o que pode
levar a patologias severas que serão vistas em outro momento.

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REFERÊNCIAS

AIRES, M. de M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,


2017a.

_____. Fundamentos de biologia celular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017b.

GUYTON, A. C., HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2017.

NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2014.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 5. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

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AULA 6

FISIOLOGIA ENDÓCRINA E DO
METABOLISMO

Profª Beatriz Essenfelder Borges


TEMA 1 – RELAÇÕES METABÓLICAS NO ESTADO ALIMENTADO

O metabolismo corpóreo é regulado por diversos processos. Nesta aula


vamos ver um pouco sobre a relação de controle para manter as fontes de energia
ativas no organismo.
As vias que removem o excesso de partículas energéticas da circulação
estão relacionadas ao estado alimentado. Já aquelas que mantêm os níveis
adequados dessas partículas se ativam no estado de jejum. Essas vias são
estabelecidas pela disponibilidade de substrato e enzimas de ativação.
Quando o indivíduo está bem alimentado, isso já supre as necessidades
energéticas do organismo como um todo. Quando falamos em alimentação,
pensamos na entrada de glicose, aminoácidos e gorduras na circulação
sanguínea, dessa maneira essas moléculas terão destinos variados no corpo.
A glicose vai ser direcionada ao fígado pela veia porta, os aminoácidos
sofrem uma pequena metabolização no intestino delgado e depois vão para a
corrente sanguínea. As gorduras são transportadas por uma lipoproteína,
chamada de quilomícron, do intestino para os vasos linfáticos e depois para o
corpo todo.
A glicose é utilizada em diversas vias; no fígado é convertida em glicogênio
pela glicogênese, ou em piruvato e lactato no processo conhecido como glicólise.
A maior parte da glicose que entra na circulação passa primeiramente pelo fígado
para depois ser enviada aos outros órgãos. O cérebro precisa da glicose do fígado
para poder funcionar, pois depende exclusivamente dessa molécula energética.
Nossa musculatura também usa a glicose e normalmente a transforma em
glicogênio.
Os aminoácidos precisam chegar nas células, pois precisam dessa
molécula essencial. Muitos dos aminoácidos ingeridos na alimentação passam
pelo fígado para serem metabolizados nas células e formarem proteínas e energia
para os tecidos. Os que ficam nesse órgão são metabolizados e servem para
participar da atividade intrínseca.
Os triglicerídeos que vêm com o estado alimentado chegam no sangue
como quilomicrons; essas moléculas reagem com a lipoproteína lipase do tecido
adiposo, hidrolisando o triglicerídeo dos quilomicrons. Isso gera ácidos graxos que
vão ser capturados e armazenados pelos adipócitos.

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Anteriormente também falamos um pouco da relação da glicose com as
células beta do pâncreas. Além da glicose, essas células também respondem ao
aumento do nível de aminoácidos circulantes. Como já vimos, a glicose entra na
célula beta e sofre oxidação, liberando ATP; isso gera um fechamento dos canais
de potássio e despolarização de membrana que, consequentemente, causa a
abertura de canais de cálcio, levando à liberação do hormônio insulina. Esse
hormônio é essencial para que ocorra o metabolismo, pois, como descrito
anteriormente, a entrada de glicose nas células leva a um processo metabólico
intenso.
Na Figura 1 há um esquema que mostra tudo que foi descrito.
Resumidamente, a imagem mostra as relações metabólicas no estado
alimentado.

Figura 1 – Relações metabólicas no estado alimentado

TEMA 2 – RELAÇÕES METABÓLICAS NO ESTADO DE JEJUM

No jejum, temos a diminuição de glicose, aminoácido e ácido graxo na


circulação sanguínea e, consequentemente, hormônios como a insulina acabam
tendo uma menor secreção. Contrariamente, o glucagon, hormônio antagônico da
insulina, deve ser liberado em maior quantidade para suprir as necessidades
metabólicas.
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A liberação de glucagon em grande quantidade gera um período de
catabolismo, ou seja, quebra das moléculas energéticas para que possam ser
utilizadas nas células do organismo. Essa atitude do corpo ocorre para que tecidos
como o cérebro e músculo cardíaco possam receber glicose e corpos cetônicos
que surgem com base em ácidos graxos.
Durante o jejum, a primeira fonte de energia utilizada pelo corpo são as
reservas de glicogênio que existem no fígado; isso vai acontecer por meio do
processo conhecido como glicogenólise. Esse processo faz com que a glicose
seja liberada na corrente sanguínea e possa se deslocar até o cérebro para suprir
as necessidades desse tecido. Depois, abastece também todos os outros tecidos
que têm a necessidade de utilizar a glicose.
A reserva de glicogênio no fígado é limitada e em poucas horas pode
acabar. Sabendo disso, logo após uma refeição, o corpo pega moléculas não
glicídicas e começa a produzir mais glicogênio, garantindo, assim, um ótimo
abastecimento para momentos de jejum mais prolongado. Tal processo é
conhecido como gliconeogênese.
Outra função do fígado para manter o equilíbrio metabólico é converter
gordura em corpos cetônicos. Essas moléculas são altamente energéticas e
funcionam como suprimento adequado na falta de glicose.
No tecido adiposo, durante o jejum, está ocorrendo a degradação de
triglicerídeos em ácido graxo e glicerol. Os ácidos graxos vão para a corrente
sanguínea e chegam em tecidos para fazer metabolismo energético e o glicerol
vai para o fígado para ser substrato na formação de glicogênio, pela
gliconeogênese.
Para o músculo, o jejum pode durar mais tempo, pois até duas semanas
ele usa como molécula energética para suprir o metabolismo os ácidos graxos e
corpos cetônicos. Mas, se passar desse tempo, ele para de usar corpos cetônicos
que se acumulam na corrente sanguínea.
Após a utilização de toda a gordura, o organismo passa a utilizar proteínas
do músculo para gerar energia, pois transforma os aminoácidos em glicose e esta
vai para os tecidos suprir suas necessidades energéticas.
Na Figura 2 podemos observar as relações metabólicas entre os tecidos no
processo do estado de jejum.

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Figura 2 – Relações metabólicas entre os tecidos no processo do estado de jejum

O que podemos observar com essas relações metabólicas é que o


organismo tenta de todas as formas suprir as necessidades metabólicas, mas tudo
tem um limite. Se todas essas opções se acabarem, o indivíduo acabará
morrendo, pois seu corpo não será mais nutrido, tampouco terá o metabolismo
regulado.

TEMA 3 – DIABETES MELLITUS TIPO 1

O diabetes como um todo é um distúrbio caracterizado pelo excesso da


molécula glicose na corrente sanguínea. Existem vários tipos de diabetes mellitus.
Vamos iniciar falando do tipo 1.
A diabete mellitus tipo 1 é uma doença metabólica crônica relacionada com
alterações na produção do hormônio insulina. Não é tão comum, e atinge muito
mais crianças e adultos com menos de 30 anos. Isso devido ao fato de ser uma
doença de predisposição genética.
A literatura traz que esse tipo de diabetes é multifatorial e sofre grande
influência do ambiente na sua caracterização, além da marcação genética.
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Nesse tipo 1, temos uma doença considerada autoimune, ou seja, as
células beta do pâncreas, que são responsáveis pela produção do hormônio
insulina, sofrem destruição. Essa destruição leva à falta do hormônio no
organismo, assim, consequentemente, ocorre a incapacidade da glicose entrar
nas células para que possa participar do metabolismo energético.
Além das características descritas anteriormente, essa doença apresenta
infiltrado inflamatório mononuclear com linfócitos também presentes. As outras
células que estão no pâncreas, como alfa, delta e F, não sofrem nenhuma
alteração, mas a ilhota pancreática acaba ficando atrofiada devido ao fato das
células beta estarem em uma quantidade muito maior que as outras células.
Geralmente, nesse tipo de diabetes é necessário utilizar insulina exógena,
pois o corpo necessita fazer a metabolização energética da glicose, mesmo que
forçada.
A degradação das células beta acaba acontecendo devido a uma resposta
do sistema imunológico celular, com a participação de linfócitos, células naturais
killers e macrófagos.
Devido ao defeito das células beta e a não produção de insulina, o corpo
responde de diversas formas: aumenta a quantidade de glicose no corpo
(hiperglicemia), aumenta quantidade de quilomicrons circulante
(hipertrigliceridemia) e cetoacidose. Esses são efeitos imediatos pela falta de
metabolização de moléculas como carboidratos e proteínas.
Para entender melhor, vamos detalhar. A hiperglicemia surge pela não
captura de glicose da corrente sanguínea e pelo fígado estar fazendo
liconeogênese intensamente, devido à presença de aminoácidos vindos da
musculatura. A cetoacidose ocorre, pois o tecido adiposo está fazendo muita
lipólise e no fígado está ocorrendo a oxidação de ácidos graxos. E os quilomicrons
em quantidade aumentada na circulação ocorre divido à inatividade da
lipoproreína lipase, pois ela depende da insulina para se ativar e funcionar
perfeitamente.
Na Figura 3 podemos observar a inter-relação metabólica dos tecidos
corpóreos e a diabetes tipo 1.

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Figura 3 – Inter-relação metabólica dos tecidos corpóreos e a diabetes tipo 1

Mesmo sendo uma doença sem cura, a utilização da insulina sintética


auxilia na melhora do quadro clínico. Isso ocorre devido à possibilidade de
captação da glicose e inibição dos processos de gliconeogênese, lipólise e quebra
proteica (proteólise).
Mas temos que levar em conta que a utilização apenas de insulina não é
suficiente para controlar a doença; é necessário que o paciente faça uma dieta
alimentar, controlando a ingestão de carboidratos, açúcar, gordura e proteínas.
Além disso, fazer atividade física regularmente ajuda muito, pois o músculo utiliza
glicose no seu metabolismo, mas é necessário fazer ajustes com a dose de
insulina utilizada.
Os principais sintomas dessa doença são: vontade excessiva de urinar,
boca completamente seca e, por isso, muita sede, além de náuseas, cansaço,
alterações oculares e fadiga intensa.
Para tratar esses sintomas a utilização de hormônio sintético se faz
necessária, além de regulação alimentar e atividades físicas, como explicado há
pouco. Não podemos esquecer do psicológico, pois muitas vezes o indivíduo
doente é uma criança e precisa de cuidado e instruções específicas para que
tenha qualidade de vida e autonomia com seu organismo.

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Na Figura 4 podemos observar um resumo da diabetes tipo 1, com seus
problemas e principais sintomas.

Figura 4 – Problemas e principais sintomas da diabetes tipo 1

Créditos: Igdeeva Alena/Shutterstock.

TEMA 4 – DIABETES MELLITUS TIPO 2

O diabetes mellitus do tipo 2 é bastante frequente na população,


correspondendo a mais ou menos 80% dos casos da doença. Geralmente,
aparece em adultos com obesidade, idosos e pacientes com alterações
metabólicas. Mas pode ocorrer também em indivíduos que possuem pré-
disposição genética.
Dessa maneira, é uma doença metabólica caracterizada também por
aumento da quantidade de açúcar na circulação sanguínea (hiperglicemia),
Geralmente, antes de termos a diabetes tipo 2 instalada, começamos com
um processo chamado de resistência insulínica, ou seja, as células do nosso
organismo passam a não conseguir responder à quantidade normal do hormônio
insulina, e precisam cada vez mais dessa molécula para poderem colocar glicoses
para dentro do citoplasma e, consequentemente, fazerem metabolização celular.

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Mas, infelizmente, essa resposta inadequada ao hormônio faz com que as
células produtoras de insulina, que são as células beta pancreáticas, fiquem
esgotadas, sobrecarregadas, fazendo com que não consigam produzir mais
insulina do que já produzem. Exatamente nesse momento temos o aparecimento
da doença conhecida como diabetes mellitus tipo 2.
Os locais mais acometidos por essa resistência descrita há pouco é o
fígado, tecido adiposo e os músculos.
Esse estado metabólico pode ocorrer devido a uma sinalização genética,
mas já se sabe que a obesidade e o sedentarismo levam a esse processo
também. Esses dois problemas levam, conjuntamente com a diabetes, a um
aumento da predisposição de doenças cardiovasculares, devido ao aumento de
pressão, acúmulo de colesterol e acúmulo de gordura no abdome.
Na Figura 5, podemos observar exatamente como acontece a diabetes tipo
2.

Figura 5 – Diabetes tipo 2

Créditos: Alila Medical Media/Shutterstock.

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Os sintomas dessa doença são muito parecidos com aqueles da diabetes
tipo 1, pois as pessoas acometidas pela doença possuem sede recorrente,
aumento da vontade de ingestão alimentar, grande quantidade de formação de
urina, formigamento nos membros, perda de peso, problemas nos olhos,
infecções constantes e ferimentos que não se cicatrizam.
Nesse tipo de diabetes geralmente os pacientes não usam o hormônio para
tratamento imediato, apenas em alguns casos, mas existem remédios que
auxiliam na clínica da doença quando ela aparece. Um dos medicamentos mais
utilizados é a Metformina, porém, ainda há muitas dúvidas sobre sua ação no
metabolismo; o que já se sabe é que ele interfere na produção e liberação da
molécula de glicose pelo fígado, diminui a intensidade da entrada de glicose pelo
intestino e aumenta a sensibilidade celular pelo hormônio, isso mais evidente no
músculo.
Na Figura 6, podemos observar a ação intracelular desse medicamento e
como ele controla a glicemia no organismo de pessoas com diabetes tipo 2.

Figura 6 – Ação intracelular da Metformina

Créditos: Ellepigrafica/Shutterstock.

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Dessa maneira, este medicamento auxilia no tratamento e melhora na
qualidade de vida dos indivíduos doentes. Mas não podemos esquecer que
pessoas com essa doença precisam fazer atividade física regularmente, melhorar
a alimentação e, se forem obesos, perder peso o mais rápido possível.
Na Figura 7, podemos observar a relação metabólica da diabetes mellitus
tipo 2 e todo o metabolismo dos tecidos do corpo.

Figura 7 – Relação metabólica da diabetes mellitus tipo 2 e todo o metabolismo


dos tecidos do corpo

Fonte: Devlin, 2011 / Crédito: Thyago Macson Maria

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TEMA 5 – OBESIDADE

A obesidade vem crescendo na população. Tal fato está acontecendo


devido ao estilo de vida que temos nos dias atuais. Sedentarismo e má
alimentação são alguns dos fatores que predispõem o aparecimento dessa
doença.
Esta se caracteriza por acúmulo de gordura com finalidade prejudicial ao
corpo do indivíduo. Pode ocorrer em todos os indivíduos, até mesmo em crianças
bem pequenas.
Essa doença aparece principalmente pelo desequilíbrio energético devido
ao fato de estarmos consumindo mais alimentos do que realmente podemos
gastar. Isso faz com que ocorra um acúmulo no corpo e prejudique as atividades
metabólicas globais.
Como faz alterações internas no organismo, pode levar a doenças graves,
como problemas no coração, diabetes tipo 2 e aumento da pressão arterial; por
isso, passou a ser considerada uma doença muito grave. Além disso, o fato do
número de casos estar aumentando fez com que o governo considerasse a
doença um problema de saúde pública.
O tecido adiposo, antigamente, era visto apenas como um tecido de
reserva, mas, atualmente, já se sabe que ele tem grande participação no
metabolismo corpóreo, sendo visto por alguns autores como um órgão endócrino.
Essa relação de interação com o organismo pode ser percebida pelas
substâncias que agem nesse tecido, estimulando a formação dos adipócitos,
secreção de hormônios e metabolização de esteroides sexuais.
O nome dado às substâncias secretadas no tecido adiposo é adipocinas,
que agem por meio de mecanismos endócrinos e parácrinos, atuando como
moduladores imunológicos, agindo nas citocinas pró e pré-inflamatórias,
induzindo a fome, o gasto energético, o tônus vascular, o perfil lipídico e a
proliferação celular.
Vamos falar de duas adipocinas, quais sejam, a leptina e a grelina.
A leptina está relacionada com a homestasia corpórea no que se trata de
energia. É um hormônio responsável pelo controle da ingestão alimentar, agindo
em células neuronais do hipotálamo dentro do sistema nervoso central. A ação
desse hormônio no sistema nervoso central (hipotálamo), em mamíferos, faz com
que ocorra a redução da ingestão alimentar e o aumento do gasto energético,

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além de regular a função neuroendócrina e o metabolismo da glicose e de
gorduras.
Ela reduz o apetite no indivíduo com base na inibição da formação de
neuropeptídeo Y, e também do aumento da expressão de neuropeptídeos
anorexígenos (hormônio estimulante de a-melanócito – a-MSH – e hormônio
liberador de corticotropina – CRH).
Na Figura 8 podemos observar todas as funções metabólicas
desenvolvidas pela leptina. Em relação à obesidade, ainda precisamos estudar
muito essa molécula, pois que se sabe é que em pacientes com aumento de
gordura essa molécula não funciona de maneira adequada. E, portanto, não faz a
redução do apetite como deveria.

Figura 8 – Funções metabólicas desenvolvidas pela leptina

Créditos: Designua/Shutterstock.

Já a grelina é um hormônio que está relacionado com o estado de fome.


Pode ser produzido pelo estômago e pode agir sobre o hipotálamo nos centros
relacionados à fome.
Mas relacionando essas moléculas com a obesidade, podemos entender
que o obeso, por ter mais células no tecido adiposo, tem maior produção de
leptina. No entanto, infelizmente possui resistência a essa molécula, fazendo com
que possua muita vontade de comer e não fique saciado de forma adequada.

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Além do problema das adipocinas, precisa pensar na obesidade como um
todo. Portanto, mesmo com disfunções teciduais, a principal característica da
obesidade está no fato da pessoa ingerir mais alimento do que deveria.
A obesidade geralmente leva à resistência à insulina, e está relacionada
com a quantidade de gordura corporal; por exemplo, quanto mais gordura, maior
a resistência. E essa resistência pode estar relacionada com adipocinas
conhecidas como TNF-alfa e resistina. Essas moléculas têm atividade contrária à
da insulina.
O TNF-alfa atua negativamente na lipase lipoprotéica, que tem função de
hidrolisar os triglicerídeos das lipoproteínas no tecido adiposo. Isso leva a crer que
possui um efeito local, regulando o tamanho da célula de adipócito. Portanto, o
TNF- α, além de diminuir a ação dessa lipase, também reduz o transporte de
glicose pelo transportador GLUT-4 (inibição da via da lipogênese). Por essa razão
que a maioria dos obesos possuem diabetes tipo 2.
Na Figura 9 vemos os hormônios que participam dos estados da fome e
alimentado.

Figura 9 – Hormônios que participam do estado da fome e alimentado

Créditos: Vectormine/Shutterstock.

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A obesidade é uma patologia muito comentada, principalmente quando se
fala em hábitos alimentares, mas podemos estabelecer uma relação muito forte
com a parte endógena, a regulação hormonal e o acúmulo de gordura pelo
metabolismo corpóreo.
A alimentação, o estresse e o sedentarismo podem afetar e predispor mais
o aparecimento da obesidade, mas a regulação endógena nunca pode ser
deixada de lado. Cada vez mais, fica clara a necessidade de uma mudança nos
hábitos de vida, incluindo uma alimentação saudável e uma diminuição do
estresse, para que as desregulações hormonais não ocorram.

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REFERÊNCIAS

AIRES, M. M. et al. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

ALBERTS, B. et al. Fundamentos de biologia celular. 2. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2017.

ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,


2017.

DEVLIN, T. M. Manual de bioquímica com correlações clínicas. 7. ed. São


Paulo: Blucher, 2011.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2017.

NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2014.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 5. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

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