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AULA 1

INTERCORRÊNCIAS EM
ESTÉTICA FACIAL E CORPORAL

Profª Karla Glazielle Gonçalves dos Santos Malachoski


INTRODUÇÃO

Cada dia mais o reflexo da imagem no espelho faz com que as pessoas
busquem a perfeição, simetrias faciais, padrões de beleza corporais impostos
por uma sociedade que vive com ilusões do que é ser uma pessoa perfeita. As
redes sociais têm uma grande responsabilidade quando o assunto é padrão de
beleza, visto que as pessoas que utilizam essas plataformas postam apenas
fotos “perfeitas”, com definição corporal e facial, e realizam alterações nas
imagens para que fiquem de acordo com esses padrões, levando a uma
indistinção do que é real ou ilusão. Dessa forma, cada vez mais as pessoas estão
buscando procedimentos estéticos para se aproximar de um padrão que, em sua
maioria, não existe.

Figura 1 – Padrões de beleza

Crédito: Master1305/Shutterstock

É claro que a saúde estética está à disposição da população, com a


finalidade de auxiliar a qualidade de vida, autoestima e bem-estar, de forma
responsável e dentro de um limite. Por isso, tudo precisa ser realizado dentro de
normas e técnicas de segurança.

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Figura 2 – Autoestima

Crédito: Iren_Geo/Shutterstock.

O conhecimento anatômico e fisiológico é de suma importância para que


os riscos a possíveis erros possam ser diminuídos. Mesmo assim,
intercorrências podem ocorrer, pela individualidade de cada pessoa, pela
resposta de forma particular e pela expertise profissional.
É importante salientar, pois, que existem diferenças quando o assunto é
intercorrências, efeitos colaterais e complicações.

TEMA 1 – INTERCORRÊNCIAS

Quando o assunto é intercorrências, é preciso, primeiramente, entender o


significado desse termo. Intercorrência se refere a algo não previsível, ou seja,
no caso da saúde estética, pode-se dizer que é um resultado diferente do que o
profissional e o paciente estavam esperando. Não quer dizer que ocorreu algum
erro, apenas algo que não se esperava.
As intercorrências podem surgir por vários motivos, podendo ser:

• Falta de conhecimentos por parte do profissional;

• Materiais incompatíveis;

• Possíveis contraindicações não detectadas.

No entanto, é válido salientar que as intercorrências nem sempre


caminham para uma complicação. Exemplos:

• Preenchimento labial – em algum momento, os lábios podem ficar um


pouco maiores do que o profissional e paciente tinham traçado, o que não

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quer dizer que é um problema ou um erro, mas apenas um resultado que
não estava previsto e pode ser facilmente revertido.

• Toxina botulínica A – por exemplo, durante uma aplicação de toxina


botulínica em que o paciente solicita que o profissional realize um
arqueamento nas sobrancelhas, essa elevação pode ocorrer em demasia,
fazendo com que o resultado não seja harmonioso, o que também não
caracteriza um erro ou complicação, mas sim um resultado diferente do
que estava traçado, podendo ser resolvido de forma simples.

1.1 Possíveis intercorrências

As intercorrências podem ser detectadas de forma imediata ou tardia, não


se restringindo apenas na face, mas também nos procedimentos corporais. É
possível citar alguns exemplos de intercorrências em que fica claro que não há
um processo de complicação, apenas de respostas do organismo não previstas,
pois cada organismo é único e pode responder de formas variadas a um mesmo
tipo de procedimento. Por exemplo:

• Descamação acentuada – nesse caso, refere-se ao processo de peeling


químico, em que não é possível prever exatamente como será a
descamação do tecido, pois a sensibilidade de cada pessoa ocorre de
formas diferentes, e um mesmo ácido pode reagir de diferentes maneiras.

Figura 3 – Descamação causada por Peeling Químico

Crédito: Tugol/Shutterstock

• Arqueamento de sobrancelhas exacerbado – na aplicação de toxina


botulínica, pode ocorrer uma elevação da sobrancelha que pode acabar
promovendo uma “estranheza” por parte do paciente.

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• Volumizações em demasia após preenchimento – essa é uma das
intercorrências mais comuns, pois, muitas vezes, o paciente chega ao
consultório profissional com queixas, e os preenchedores são as melhores
opções de tratamento, porém, a mudança na fisionomia pode promover
uma alteração de identidade, fazendo com que o paciente não se
reconheça mais frente à sua própria imagem refletida. Em nenhum
momento pode ser identificado como um erro, pois trata-se apenas de
uma mudança de formas que não agrada aos olhos do paciente e não
deixa de ser uma intercorrência.

• Aumento da flacidez tissular após tratamento para lipodistrofia


localizada – quando são realizados tratamentos para redução de
medidas, é muito comum uma disfunção ser substituída por outra, ou seja,
o que incomodava antes (gordura localizada) foi sanado, mas a pele que
sobrou pode começar um novo incômodo, o que pode levar a um novo
protocolo de tratamento (flacidez tissular).

• Sangramento anormal – em alguns casos, durante a execução do


procedimento, alguns pacientes podem sangrar mais do que outros. São
vários os motivos que podem levar a essa intercorrência, como
medicações, patologias e etnias. Por esse motivo, é de suma importância
a realização da avaliação prévia, a fim de evitar esse tipo de contratempo.

TEMA 2 – EFEITOS ADVERSOS

O efeito adverso é um evento que ocorre após uma intervenção


profissional. Esse evento não é prejudicial ao paciente de forma que coloque a
sua vida em risco, porém são efeitos desagradáveis, que nenhum indivíduo
gostaria de sentir.
Esses efeitos podem aparecer até mesmo durante a execução do
procedimento, como o edema.

2.1 Efeitos adversos na saúde estética

Na saúde estética, os efeitos adversos fazem parte da rotina diária dos


profissionais. Logo, é importante saber classificá-los e diferenciá-los de
possíveis complicações. Faz parte também do rol de deveres e

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responsabilidades do profissional conduzir da melhor forma possível o paciente
para que ocorra a regressão de tais efeitos.
Dependendo do caso, a regressão pode iniciar dentro das primeiras horas
após a realização do procedimento, porém pode perdurar por dias. Até a
regressão total, o paciente deve ter calma e seguir de forma correta todas as
orientações passadas pelo profissional, este que deve apresentar-se firme e
seguro para a resolução de qualquer efeito que possa ocorrer.

2.2 Possíveis efeitos adversos

Durante a realização dos procedimentos estéticos, algumas reações


podem ocorrer. É possível observar alguns eventos de forma imediata, como o
edema e o eritema. Já outros efeitos adversos são desencadeados após o
término da técnica realizada, podendo destacar

• hematoma/equimose;

• paralisação excessiva de músculos da mímica facial;

• prurido;

• cefaleia.

Figura 4 – Hematoma

Crédito: Elenfantasia/Shutterstock

No entanto, todos esses efeitos são transitórios, regredindo em questão


de horas ou após alguns dias.

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TEMA 3 – COMPLICAÇÕES

Quando complicações são abordadas, entende-se que são eventos


maléfico inerentes a procedimentos da área da saúde, que podem ocorrer por
falta de experiência ou conhecimento do profissional. Isso é, então,
caracterizado como erro profissional ou uma fatalidade, devido a fatores
particulares de cada indivíduo.

3.1 Complicações na saúde estética

Quando o paciente se submete a um procedimento estético, ele está


assumindo, juntamente com o profissional, os riscos que acompanham o
processo, pois toda e qualquer técnica estética, principalmente as minimamente
injetáveis, estão suscetíveis a ter complicações.
Desencadear uma complicação não significa que ocorreu um erro
profissional, que pode ser classificado como imperícia, negligência e
imprudência, apesar de, em alguns casos, poder sim ser fruto da falta de preparo
e conhecimento anatômico, fisiológico e do mecanismo de ação do produto. No
entanto, é importante salientar que existem variações anatômicas nos pacientes
e, mesmo que o profissional realize a técnica da melhor forma possível e da
forma mais segura, complicações podem ocorrer, e o profissional responsável
precisa iniciar uma conduta precoce e certeira.
As complicações podem ser imediatas – até 30 dias após o procedimento
– ou tardias – após 30 dias da realização da técnica –, sendo algumas de fácil
resolução e outras podem até trazer risco à vida do paciente.

3.2 Possíveis complicações

As complicações podem ocorrer em qualquer procedimento da saúde


estética. É possível destacar alguns procedimentos e suas complicações mais
comuns e mais graves, dentro da prática clínica profissional, sendo elas
apresentadas no Quadro 1.

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Quadro 1 – Complicações

ID PQ LT FS TBA PC BM

Reação alérgica +++ + - + + + +

Assimetrias - - - ++ +++ ++ +

Infecção + + + + + + +

Hiperpigmentações - +++ +++ - - - -

Queimaduras - + ++ - - - -

Ptoses + - - - +++ - -

Diplopia - - - + - -

Parestesias + - - + + + +

lesões vasculares - - - - - ++ -

Necrose - - - - - + -

Nódulos e granulomas + - - + - + +

Migração dos produtos + - - + ++ ++ +

Efeito Tyndall - - - + - + -

Ativação Herpes + ++ ++ ++ + +++ +

Irregularidades - - - + + + +

Legenda:
ID – Intradermoterapia BM – bioestimuladores
PQ – Peeling químico
- Nenhum risco
LT – Laserterapia
+ Risco baixo
FS – Fios de sustentação
++ Risco intermediário
TBA – Toxina botulínica A
+++ Risco alto
PC – Preenchimento

TEMA 4 – RESPONSABILIDADE CIVIL

Entende-se o termo integridade física como um direito da personalidade.


Por esse motivo, o profissional da área da saúde precisa obter conhecimentos
jurídicos sobre possíveis danos que podem ocorrer durante a prática clínica. O
conhecimento jurídico é denominado responsabilidade civil, sendo um dever da
área jurídica, em que é possível diferenciar obrigação e responsabilidade.
Pode-se dizer que a obrigação é uma regra a ser seguida, cumprida. Caso

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ocorra o descumprimento dessa regra, será desencadeado um dever jurídico,
o que é denominado responsabilidade, ou seja, a responsabilidade civil aparece
quando ocorre o descumprimento obrigacional.

Figura 5 – Responsabilidade civil

Crédito: artpixelgraphy Studio/Shutterstock

Algumas áreas da saúde precisam de profissionais que atuem


diretamente com os pacientes, logo, é uma profissão que está à frente do maior
patrimônio de cada indivíduo: a vida. São profissionais que atuam com
atividades consideradas essenciais à sociedade. Como cada ser humano é
único, alguns danos podem ocorrer e, se esses erros profissionais
acontecerem, cabe ao profissional a responsabilidade de repará-los, sejam
materiais, estéticos ou morais.
No Código Civil, o art. 927 descreve que aquele que promover um dano
a outra pessoa fica sujeito a repará-lo. No parágrafo único, cita que “haverá
obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
específicos em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem” (Filho,
2003).

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Figura 6 – Código civil

Crédito: Zerbor/Shutterstock

4.1 Responsabilidade civil do profissional no tratamento estético

A saúde estética tem crescido de forma avassaladora; com isso,


algumas complicações podem ocorrer. O profissional que atua com
tratamentos estéticos embelezadores precisa seguir dois tipos de obrigação,
sendo:

• Obrigação do meio – o profissional não tem como dar garantias do


resultado a ser alcançado, porém, em consenso com o paciente, ele
se compromete a buscar um progresso benéfico no resultado final.
Desse modo, na obrigação de meio, não se assume a
responsabilidade de entregar determinado resultado, mas sim de se
portar com zelo e atenção.

• Obrigação de resultados – nesse caso, o profissional assume um


resultado específico e precisar atender esse resultado; caso contrário,
poderá responder por não cumprir seu dever. Essa é a obrigação dos
profissionais da área estética. Os pacientes buscam melhorar sua
condição física, como diminuir as linhas de expressão, reduzir medidas
e alcançar volumização facial e corporal. Assim, nesses casos, o
profissional tem a obrigação de entregar o resultado e, caso não seja
possível entregar certo resultado ou haja chances de ocorrer
complicações, o paciente deve estar ciente, sendo, às vezes, o
profissional obrigado a se negar a realizar o procedimento.

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É certo que tudo precisa ser avaliado para realmente saber se o erro
foi decorrente de uma falha profissional ou se o paciente não seguiu as
orientações do profissional, acarretando uma complicação. Todo profissional
que trabalha diretamente com a vida deve contratar um seguro de
responsabilidade civil, pois, assim, existe uma segurança financeira caso seja
necessário.

TEMA 5 – DANOS EM TRATAMENTOS ESTÉTICOS

Com o padrão de beleza em alta no país, seja facial ou corporal, as


pessoas prezam por resultados benéficos nos seus tratamentos de beleza.
Sendo assim, qualquer dano estético pode gerar problemas graves tanto ao
paciente quanto ao profissional.
A complicação na área estética é definida como um prejuízo na
aparência de um indivíduo, podendo essas alterações chamar a atenção de
pessoas que convivem diariamente com a pessoa, ou seja, um terceiro
observador.
Quando o erro é proveniente de procedimentos estéticos, a tendência
é repercutir de uma forma mais intensa, pois são técnicas realizadas para
melhorar a aparência do paciente, auxiliar na formação da identidade,
ajudando, assim, a aumentar a autoestima e o bem-estar do indivíduo.
Portanto, quando isso ocorre de forma contrária, as consequências físicas e
emocionais são fortemente abaladas.
O dano estético, porém, não é qualquer alteração, pois o que é
considerado bonito por uma pessoa pode não ser para outra. Por esse
motivo, vale uma avaliação detalhada e minuciosa, sendo, portanto, possível
definir o dano estético como uma lesão que é desencadeada uma
deformação ou mutilação. Além disso, é de suma importância levar em
consideração as ações do profissional perante o dano ocorrido, pois é de
responsabilidade do profissional agir de forma ética e responsável, prestando
os atendimentos necessários para sanar tal alteração. Caso sejam
comprovadas imperícia, imprudência e negligência, o profissional terá uma
maior consequência juridicamente.

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Figura 7 – Profissional

Crédito: riopatuca/Shutterstock

De forma mais simples, o dano estético é um “enfeiamento” do


paciente, logo, a alteração precisa ser diagnosticada para pior e não apenas
uma alteração qualquer.

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REFERÊNCIAS

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em: <https://www.anvisa.gov.br/servicosaude/organiza/inaiss/GLOSS%C1RIO.
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v. 6, n. 24, 2003. Disponível em:
<https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista24/revista24_3
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GRACINDO, G.C.L. A moralidade das intervenções cirúrgicas com fins estéticos


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de Oftalmologia, v. 71, n. 6, p. 894-901, 2008.

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AULA 2

INTERCORRÊNCIAS EM
ESTÉTICA FACIAL E CORPORAL

Profª Karla Glazielle Gonçalves dos Santos Malachoski


INTRODUÇÃO

Classificação das lesões elementares dermatológicas – parte 1

Quando se fala em intercorrências, o melhor é trabalhar na prevenção, ou


seja, realizar os procedimentos de forma segura para que esses efeitos
indesejados não ocorram. As complicações provenientes de procedimentos
estéticos não podem ser anuladas. O risco sempre estará presente, mas
determinadas atitudes podem ser tomadas, com a intenção de reduzir ao máximo
a manifestação de uma possível reação indesejada. Porém, quando as
intercorrências ocorrem, é importante entender cada uma das alterações e,
dessa forma, o profissional consegue estabelecer um protocolo de tratamento
para regressão e assim reverter a complicação que foi instalada na região
tratada. Algumas dessas reações ocorrem com maior prevalência, outras são
menos comuns. No caso de intercorrências mais comuns, é possível citar os
casos de edema, eritema e hematomas. A regressão destes geralmente é
espontânea e ocorre em um curto período.

Figura 1 – Intercorrências

Créditos: Nevodka/Shutterstock.

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O procedimento estético muitas vezes é requisitado por parte do paciente
como uma alternativa de tratamento facial ou corporal menos agressiva e mais
segura. Porém, esse tipo de procedimento pode causar reações indesejadas e
complicações, parte das vezes por reação do próprio organismo, e outras vezes
por má qualificação profissional.
A classificação das lesões elementares ocorre por meio de alterações de
processos, que podem ser:

• degenerativos;
• metabólicos;
• circulatórios; e
• inflamatórios.

Pode ser dividida em primária e secundária, sendo:

• primárias – alterações desencadeadas em pele íntegra sem lesões


anteriores, como manchas e hematomas; e
• secundárias – ocorrem por meio de uma alteração primária, como uma
cicatriz, a necrose, entre outros.

As intercorrências que esse capítulo abordará são:

• edema;
• hematoma;
• inflamação;
• hipersensibilidade; e
• hiperpigmentação pós-inflamatória.

TEMA 1 – EDEMA

O líquido extracelular pode ser dividido em dois tipos, tendo como função
manter um equilíbrio constante no volume, sendo:

• intravascular; e
• intersticial.

Quando esse equilíbrio é quebrado e o volume de líquido intersticial


aumenta de forma desregulada, como resultado ocorre o edema. No início dos
estudos, foi estabelecido que para o surgimento do edema é necessário um

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desequilíbrio entre pressão hidrostática e pressão osmótica, sendo então
caracterizado como uma retenção de sódio e água.

Figura 2 – Edema

Créditos: VectorMine/Shutterstock.

Sendo assim, o edema ocorre quando há uma alteração nos mecanismos,


que têm a responsabilidade de distribuir o líquido no meio intersticial.

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Figura 3 – Comparação organismo normal e com edema

Créditos: yomogi1/Shutterstock.

As alterações que ocorrem podem ser de dois tipos:

• localizada – quando as alterações envolvem particularmente o fluxo do


leito capilar; e

Figura 4 – Edema localizado

Créditos: sruilk/Shutterstock.

• generalizada – quando as alterações envolvem o volume extracelular com


o volume corporal como um todo, promovendo assim um edema
generalizado.

O edema dentro da saúde estética ocorre na maioria das vezes como um


sinal da ativação de um processo inflamatório, que durante os procedimentos
pode ser desencadeado por uma agressão ou trauma ao organismo.
O edema pode iniciar logo após a execução do procedimento, porém tem
seu pico entre 24-48 horas após o processo de realização da técnica. Após as

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48 horas, se o edema persistir, é necessária uma atenção especial, pois existe
o risco de ser o início de um processo infeccioso. Assim como existe a
possibilidade de o edema surgir após dias da realização do procedimento, sendo
estabelecido como edema tardio.
É importante salientar que em alguns procedimentos estéticos o
profissional tem como objetivo estimular um processo inflamatório, isso ocorre,
por exemplo, nas técnicas para estimulação de colágeno. Dessa forma, a
presença do edema é normal e esperada.

1.1 Tratamento

Na maioria das vezes, o edema desaparece espontaneamente. Em outros


casos, apesar de ser incômodo para o paciente, o edema não pode ser tratado,
pois é necessário para que o resultado ocorra como esperado, por exemplo, nos
bioestimuladores de colágeno.
Porém, em situações em que o edema é mais intenso e não irá interferir
no resultado final, algumas opções são bem-vindas para regredir de uma forma
mais rápida o edema.
Essas opções podem ser medicamentosas ou por meio da utilização de
equipamentos.

• Medicamentoso – os medicamentos que podem ajudar no processo de


regressão do edema são os anti-inflamatórios esteroidais – corticoides,
que podem ser tópicos e orais. É importante lembrar que nesse caso o
auxílio de um profissional médico pode ser necessário, a fim de auxiliar
na posologia e dosagens.
• Equipamentos – como exemplo de equipamentos é possível citar a
fototerapia, mais especificamente o LED vermelho, que tem a capacidade
de atuar como um anti-inflamatório, auxiliando, assim, na redução do
edema. É sugerido realizar de duas a três sessões semanais com duração
média de 20 minutos.

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TEMA 2 – HEMATOMA

O hematoma/equimose é umas das intercorrências mais comuns, pode


ocorrer devido à ruptura de vasos sanguíneos onde há um extravasamento de
sangue interiormente por meio da camada subcutânea. A coloração observada
é arroxeada, podendo ser mais ou menos intensa, tudo depende do grau da
agressão.
Muitas pessoas confundem e acham que hematoma e equimose são a
mesma coisa, porém existem diferenças importantes entre eles.
A equimose é a ruptura de vasos mais superficiais que podem ocorrer por
diversos fatores, como traumas ou fragilidade capilar. A coloração observada é
arroxeada, com características mais planas e irregulares, não apresentam
elevação tecidual no local da ruptura, geralmente regride de forma espontânea
em um prazo de uma a três semanas.

Figura 5 – Equimose

Créditos: Alexander Sobol/Shutterstock.

O hematoma também ocorre por um rompimento dos vasos sanguíneos,


porém são vasos mais profundos. Nesse caso, é possível observar uma
elevação tecidual, como um acúmulo de sangue nos tecidos abaixo da pele. A
coloração também é roxa, mas pode ser mais intensa quando comparado à

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equimose. Em alguns casos não ocorre regressão espontânea do hematoma,
sendo necessário intervenções mais agressivas para reverter o quadro.

Figura 6 – Hematoma

Créditos: Volodymyr Baleha/Shutterstock.

Após entender a diferença entre hematoma e equimose, é possível


concluir que a maioria dos casos em procedimentos estéticos são equimoses, e
não hematomas, porém, dependendo da agressão, o hematoma também poderá
ser desencadeado.

2.1 Tratamento

Para reverter o quadro de equimose, o paciente pode simplesmente


aguardar, pois a regressão ocorre de forma espontânea, a cor arroxeada vai
passando para esverdeada, depois amarelada, até desaparecer em sua
totalidade, pois o sistema imunológico por meio da fagocitose tem a

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responsabilidade de “limpar” a região. Porém, pode ser indicado pomadas que
auxiliam na regressão do quadro clínico – medicamentos contendo vitamina K,
heparina sódica, polissulfato de mucopolissacarídeo, arnica.
Quando o caso é mais grave, às vezes é necessária uma intervenção mais
invasiva. No caso de alguns hematomas, a remoção é realizada por meio de uma
cirurgia ou punções com seringa e agulha para esvaziar a região.

TEMA 3 – PRURIDO

O prurido, também conhecido como coceira, é uma alteração tanto


sensorial quanto emocional desagradável que ocorre por vários motivos, por
exemplo, lesões cutâneas.

Figura 7 – Prurido

Créditos: Dragana Gordic/Shutterstock.

O prurido pode ser classificado em agudo ou crônico, localizado ou


generalizado.

• Agudo – a coceira aguda é aquela considerada normal, diária. Há,


também, a coceira que é desencadeada por uma reação de
hipersensibilidade no caso de picada de insetos ou uma irritação
tegumentar. Na maioria dos casos, cessa de forma espontânea e rápida.

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• Crônica – é a coceira que é persistente e a duração ultrapassa seis
semanas. Pode ser agravada se o paciente não controlar o ato de coçar,
nesses casos é necessário tratamentos para regressão.
• Localizada – como o próprio nome diz, é em uma região delimitada do
tecido cutâneo.
• Generalizada – acomete todo o tecido cutâneo.

3.1 Tratamento

Em alguns casos, a regressão é rápida e espontânea, já em outros casos


a intervenção medicamentosa é necessária. Os medicamentos mais indicados
são:

• anti-histamínicos;
• corticoides; e
• anestésicos.

O auxílio do profissional médico pode ser necessário para auxiliar na


posologia e dosagens dos princípios ativos. A fototerapia também é indicada
para redução da sensibilidade e possível processo inflamatório.

TEMA 4 – HERPES

O vírus do herpes pode ser ativado por vários fatores que de alguma forma
promovem uma mudança no sistema imunológico. Agressões durante alguns
procedimentos estéticos podem ser a causa da ativação, por exemplo,
laserterapia, preenchimentos, peelings químicos, entre outros. O herpes pode
ser desencadeado por dois vírus, o mais comum é o vírus herpes simples do tipo
1 - HSV-1.
Durante a manifestação clínica é possível dividir o herpes em três estágios
– prodrômico, clínico ativo e reparatório.

• Estágio prodrômico – esse é o primeiro estágio ou estágio precoce.


Antecede o quadro ativo da patologia e, nesse caso, é possível observar
o estágio prodrômico até 24 horas antes da manifestação real da doença.
Muitas vezes difícil de identificar, porém, se identificado, é possível iniciar
o tratamento evitando assim a progressão da doença para o estágio
clínico ativo.

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• Estágio clínico ativo – ocorre após o estágio prodrômico, com o
aparecimento de pústulas e bolhas contendo no seu interior líquido citrino,
ou seja, o exsudato inflamatório. Nesse estágio, o desconforto existe,
podendo ser dor e prurido, podendo durar de dois até sete dias.

Figura 8 – Herpes

Créditos: Everything I Do/Shutterstock.

• Estágio reparatório – fase de regeneração tecidual. É possível observar


uma redução das pústulas e bolhas, pois o exsudato começa a ser
reabsorvido pelo organismo. Depois de seca, a região é coberta por uma
casca em tom amarelada ou em alguns casos mais escurecida, que
perduram por até quatro dias.

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Figura 9 – Estágio de reparação

Créditos: Cherries/Shutterstock.

4.1 Tratamento

Entretanto, se o profissional não detectar previamente essa ocorrência e


a ativação for efetivada, o tratamento para regressão deve ser inicializado o
quanto antes. Indica-se administrar antivirais, como o aciclovir 400 mg, por sete
dias, três vezes ao dia.
A laserterapia é um aliado no tratamento do herpes, pois age de forma
eficaz perante o vírus, atuando como anti-inflamatório e:

• diminui carga viral;


• induz a regeneração tecidual; e
• diminui a dor.

TEMA 5 – DISCROMIAS

Podem ocorrer após procedimentos de laser e peelings químicos, por


exemplo. Essa alteração pode se dar tanto pela hiperpigmentação quanto pela
hipopigmentação. Quando ocorre uma reação inflamatória exacerbada, o
organismo responde, com finalidade de proteção, por meio da produção de
melanina: manchas escuras surgem na região do tratamento, sendo
denominadas de hiperpigmentação pós-inflamatória (HPI).

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Figura 10 – Hiperpigmentação pós-inflamatória

Créditos: Lado/Shutterstock.

A HPI na saúde estética surge geralmente após um processo inflamatório


intenso ou lesões no tecido dérmico. Quando ocorre uma agressão externa, o
organismo ativa vários fatores de proteção, entre eles, a produção de melanina,
pois assim a integridade da pele é mantida. Porém, em alguns casos, essa
produção de melanina acaba resultando em uma alteração de cor na pele,
causando manchas mais escurecidas.
A HPI tem prevalência em pessoas de fototipo acima do III, pois são
indivíduos em que a quantidade de melanócitos por natureza são maiores,
produzindo então uma quantidade maior de melanina.

5.1 Tratamento

Para a resolução do problema, é indicado iniciar o mais breve possível a


utilização de um despigmentante, que pode ser à base de vários ativos, como a
tretinoína, ácido tranexâmico, ácido kójico, alfa arbutin, vitamina C, entre outros.
Recomenda-se também o uso oral de substâncias clareadoras de dentro para
fora, denominadas de in-out, como é o caso do Oli-olá, P. leucotomus, Pinus
pinaster e óleo de prímula.
Para produtos tópicos, sugere-se a aplicação de uma a duas vezes ao dia
até o clareamento da região; para ativos orais, indica-se a administração duas
vezes ao dia.
A laserterapia também é uma aliada para regredir a HPI. O LED vermelho
e o azul podem acelerar o processo de regeneração tecidual.

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AULA 3

INTERCORRÊNCIAS EM
ESTÉTICA FACIAL E CORPORAL

Profª Karla Glazielle Gonçalves dos Santos Malachoski


INTRODUÇÃO

Dando seguimento à discussão sobre intercorrências na saúde estética,


vamos estudar o cuidado com o paciente, aspecto de extrema importância, ligado
à expertise de detectar alterações no paciente. A avaliação prévia ajuda a diminuir
os riscos das intercorrências, pois assim o profissional pode traçar um plano de
tratamento correto, com técnicas mais seguras. Porém, sabemos que todo
profissional está sujeito a cometer erros. Dessa forma, a resolução também faz
parte dos deveres profissionais.

TEMA 1 – FIBROSE

A fibrose é uma intercorrência que pode ser desencadeada em resposta a


processos inflamatórios intensos. Na saúde estética, alguns procedimentos
podem promover a fibrose, como: aplicação de lipolíticos para redução de
medidas e implantação de fios de sustentação.

Figura 1 – Fios

Crédito: Bankkangshutter/Shutterstock.

A fibrose é um processo cicatricial. Após desencadear um processo


inflamatório intenso, há uma série de respostas defensivas, pois o organismo tenta
manter o equilíbrio corporal. As células que foram lesionadas durante o processo
são substituídas por um tecido cicatricial. Quando há elevada porcentagem na
composição, é possível encontrar fibras de colágeno.

2
É importante salientar que as fibras de colágeno, no caso da fibrose, são
produzidas de forma desordenada, com ondulações e aderências teciduais, sendo
possível visualizar “repuxamentos” no tecido cutâneo do paciente.
A fibrose pode ser leve, moderada ou severa, a depender da agressão
causada na região. Na maior parte dos casos, a formação da fibrose está ligada
à existência de alterações na cicatrização, com desregulação entre o processo
proliferativo e o processo de apoptose celular. Por esse motivo, procedimentos
para a reversão de fibrose devem ser feitos o mais precocemente possível, com
vistas à obtenção de excelentes resultados.

1.1 Tratamento

O tratamento para regressão da fibrose é realizado através de métodos


manuais ou de equipamentos estéticos. Associar procedimentos é importante
quando o grau de comprometimento é severo. As principais técnicas são:

• Massoterapia: a técnica de massoterapia mais utilizada nesses casos é a


drenagem linfática, que ajuda na recuperação da regeneração tecidual.
Trata-se de uma técnica que atua no metabolismo, na nutrição e na
desintoxicação celular. Também auxilia na reorganização das fibras
colágenas. É realmente efetiva em casos mais leves de fibrose.
• Vacuoterapia: consiste em uma massagem mecânica, que promove sucção
de pele, tecido subcutâneo, além de componentes vasculares e linfáticos,
desencadeando diversos fatores benéficos aos tecidos e colaborando para
a melhora da fibrose. Ocorre uma associação entre sucção e dobramento,
que é chamada de pressão negativa, em que o manípulo tem a função de
“apalpar-sugar-rolar”, com movimentos padronizados e contínuos. O vácuo
obtido durante os movimentos permite que o profissional alcance camadas
mais profundas. Dessa maneira, atua tanto no tecido subcutâneo quanto
nos sistemas circulatório e linfático, eliminando toxinas e melhorando a
capacidade nutritiva e de oxigenação do tecido. A técnica restabelece,
assim, o equilíbrio hidroeletrolítico do organismo.
• Ultrassom: o equipamento de ultrassom é utilizado na saúde estética para
a mobilização de tecidos, por meio da emissão de vibrações sonoras de
alta frequência, superiores às frequências audíveis pelos seres humanos.
A penetração das ondas ultrassônicas no tecido acarreta dois efeitos: o

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térmico e o mecânico. O efeito térmico é gerado pelo atrito celular, com
liberação de calor. Com isso, o metabolismo celular é estimulado,
favorecendo a circulação sanguínea. No efeito mecânico, ocorre
micromassagem celular, com melhora da permeabilidade cutânea, o que
favorece a absorção de ativos. Esse processo é chamado de fonoforese. A
associação dos dois efeitos leva à redução das aderências cicatriciais.
• Radiofrequência: consiste na emissão de correntes elétricas capazes de
alcançar tecidos mais profundos, causando fricção e formando um campo
eletromagnético que gera calor. É classificada como radiação não
ionizante, ou seja, não provoca danos à saúde humana, como câncer,
esterilidade, entre outros problemas que as radiações ionizantes podem
provocar. A técnica consiste em deixar o tecido cicatricial mais maleável,
com temperatura ideal entre 36 e 38 graus. É importante frisar que essa
mesma técnica, quando utilizada em temperaturas mais altas, pode piorar
o quadro clínico da fibrose, pois aumenta a síntese de fibras de colágeno,
piorando a aderência.
• Taping: esta técnica é utilizada na prevenção da fibrose, mas também pode
auxiliar em sua regressão. O procedimento se caracteriza por
descompressão tecidual, que auxilia na drenagem dos fluidos, melhorando
assim a mobilização do tecido cicatricial.

Figura 2 – Taping

Crédito: Gorlov-KV/Shutterstock.

4
TEMA 2 – INFECÇÃO

As infecções decorrem, no tratamento estético, da falta de assepsia por


parte do profissional, ou ainda da falta de cuidados no período posterior ao
procedimento, por parte do paciente.
O início do processo infeccioso apresenta alguns sintomas:

• enrijecimento
• prurido
• eritema
• edema
• dor

Figura 3 – Prurido

Crédito: Orawan Pattarawimoncha/Shutterstock.

Se as infecções não forem tratadas rapidamente, pode haver progressão


para a formação de abcessos e sintomas de forma sistêmica, como febre e
calafrios.
A maioria das infecções do tecido cutâneo é desencadeada por
microrganismos da própria flora bacteriana humana (Staphylococcus e
Streptococcus spp.). Porém, em alguns casos outros microrganismos podem estar
presentes, promovendo infecções mais duradouras e perigosas, que podem
progredir para um biofilme.

Figura 4 – Staphylococcus e Streptococcus spp.

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Crédito: Kateryna Kon/Shutterstock.

2.1 Biofilme

O biofilme é um processo infeccioso formado por bactérias mais


resistentes. Como o nome indica, trata-se de uma comunidade embebida nas
matrizes de substâncias poliméricas extracelulares com aderência a superfícies.
São resistentes aos antibióticos e consequentemente à ação do sistema
imunológico natural, de modo que podem agravar o estado clínico do paciente.

Figura 5 – Biofilme

Crédito: Art-UR/Shutterstock.

2.2 Tratamento

O tratamento para infecção se baseia na administração de antibióticos, o


que pode ser feito por via oral, tópica ou injetável, dependendo da gravidade, da
região e do objetivo de cada situação. É indicada a realização de uma cultura
microbiológica, para definir o melhor antibiótico para o microrganismo envolvido
na infecção.
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Figura 6 – Antibiótico x bactéria

Crédito: Kateryna Kon/Shutterstock.

Em casos de infecção de tecido cutâneo, os dois antibióticos mais


utilizados, são cefalexina e tetraciclina.

TEMA 3 – COMPLICAÇÕES VASCULARES

As intercorrências vasculares são as mais temidas pelos profissionais da


saúde estética. Alguns procedimentos, principalmente preenchimentos, podem
causar obstrução ou compressão arterial, levando a um processo de isquemia.
A isquemia, por sua vez, é uma diminuição ou até mesmo interrupção total
do fluxo sanguíneo em uma região. Dessa forma, a parte afetada não receberá
aporte de oxigênio, o que pode levar à morte tecidual (necrose).
Existe diferença entre obstruir e comprimir? Sim, a diferença básica é que,
na obstrução, o produto é injetado dentro do vaso sanguíneo, geralmente uma
artéria nobre, enquanto na compressão o produto é injetado fora do vaso, porém
muito perto dele, causando emparedamento da artéria.
Independentemente de um caso de obstrução ou compressão, uma
isquemia não tratada pode gerar um processo de necrose (morte tecidual).

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Figura 7 – Necrose

Crédito: SGM/Shutterstock.

O profissional da saúde estética precisa estar devidamente preparado,


primeiramente para realizar uma técnica segura, e depois para identificar um
possível processo de isquemia, para que o protocolo de reversão seja iniciado o
quanto antes. Logo após a interrupção de fluxo sanguíneo, alguns sinais
começam a ficar evidentes, aos quais o profissional deve estar atento. São eles:

• Região mais esbranquiçada: duração curta, de segundos a minutos;


• Livedo (arroxeamento da região): descoloração cianótica que inicia logo
após o esbranquiçamento. Seu aspecto é chamado de rendilhado, durando
de alguns minutos a algumas horas, a depender do grau de do
comprometimento arterial;

Figura 8 – Livedo

Crédito: Liubomirt/Adobe Stock.

• Coloração preta-azulada: pode ser observada entre 10 minutos até


algumas horas após a interrupção do fluxo sanguíneo;
• Dor: o paciente pode se queixar de um desconforto agudo e intenso;

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• Dormência: a falta de sensibilidade na região é um dos sinais que o
profissional deve observar;
• Erupções: formação de bolhas, geralmente após 24 horas da
intercorrência;
• Necrose: último estágio da isquemia, pode ocorrer 48 horas ou semanas
depois.

Sabemos que é importante identificar um possível processo de isquemia. É


igualmente importante saber como iniciar o protocolo de reversão, tema que
abordaremos na sequência.

TEMA 4 – REAÇÃO ANAFILÁTICA

A reação anafilática é um agravamento de uma reação alérgica. Na área


de saúde estética, os profissionais têm à disposição uma quantidade muito grande
de ativos que podem ser utilizados no tratamento das disfunções estéticas. Dessa
forma, existe o risco de desencadeamento de uma reação alérgica, com possível
choque anafilático.
O choque anafilático é uma reação sistêmica, ou seja, vai além da região
de tratamento estético, sendo determinado por mediadores que são liberados pelo
sistema imune, como mastócitos, basófilos e principalmente IgE.

Figura 9 – Reação imunológica

Crédito: Designua/Shutterstock.

9
A incidência da anafilaxia é de aproximadamente 20/100.000 habitantes
anualmente.
A intensidade da reação anafilática pode ser leve, moderada ou grave. Sua
evolução é considerada rápida, pois em cerca de 5 a 30 minutos já atinge o pico
da reação. Por esse motivo, alguns sinais devem ser observados por parte do
profissional.
Tais sinais podem ser desencadeados em várias regiões e sistemas do
organismo, como oral, cutâneo, cardiovascular, respiratório, ocular e
gastrointestinal.

Figura 10 – Reação anfilática

Crédito: Designua/Shutterstock.

Em cada sistema, é possível observar sinais de um possível início de


reação anafilática. Vejamos:
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• Oral:

o prurido em mucosas
o edema de língua
o edema de lábios

• Cutâneo:

o eritema
o prurido
o urticária
o erupções bolhosas

• Respiratório:

o obstrução de vias aéreas superiores


o apertamento no peito
o tosse
o espirros
o congestão nasal
o broncoespasmos

• Cardiovascular:

o arritmia
o dor torácica
o choque hipovolêmico

• Ocular:

o edema periorbital
o eritema
o lacrimejamento

• Gastrointestinal:

o dores abdominais
o aumento nos movimentos peristálticos, sendo necessário uma
evacuação urgente
o náuseas
o vômito

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Figura 11 – Edema e eritema ocular

Crédito: Shevtsova Yuliya/Shutterstock.

Quando não tratada, a reação anafilática pode levar o paciente a óbito em


minutos. O tratamento inicial para uma reação alérgica é a administração de anti-
histamínico e corticoides. Dependendo da gravidade, pode ser tópico, oral ou
injetável. Se detectado um grau grave de alergia, capaz de desencadear anafilaxia
grave, o paciente deve ser encaminhado ao pronto atendimento para
administração de adrenalina.

Figura 12 – Tratamento

Crédito: Kasimasimik/Shutterstock.

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TEMA 5 – ERROS DE PLANEJAMENTO

Os procedimentos estéticos, antes de executados, precisam ser bem


indicados pelos profissionais. Por esse motivo, é indispensável fazer anamnese
clínica e física antes do início do protocolo.
Durante a avaliação, um planejamento deve ser traçado, seja facial ou
corporal, levando em conta anatomia e biótipo do paciente, para que as suas
características não sejam perdidas, e sim realçadas. Quando essas práticas não
são seguidas, podem ocorrer erros de planejamento. Dependendo do paciente,
pode ocorrer transtorno de identidade, que pode causar sequelas físicas e até
mesmo psicológicas. Em alguns casos, é necessário reverter os resultados
obtidos. Sendo assim, o profissional deve respeitar os limites de cada organismo,
sendo capaz de escutar e entender a queixa real do paciente. Assim, pode
desenvolver um processo satisfatório e seguro.

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AULA 4

INTERCORRÊNCIAS EM
ESTÉTICA FACIAL E CORPORAL

Profª Karla Glazielle Gonçalves dos Santos Malachoski


INTRODUÇÃO

O profissional que executa procedimentos na área de saúde estética


precisa ter conhecimento dos equipamentos e dos ativos básicos para reversão
de complicações que possam surgir. É importante salientar que principalmente os
medicamentos devem ser administrados com cautela; no caso dos antibióticos,
por exemplo, a receita precisa ser redigida por profissionais da medicina ou da
odontologia. No entanto, isso não impede que os demais profissionais saibam
como tratar seus pacientes caso reações indesejadas ocorram.

TEMA 1 – LASER VERMELHO E AZUL

A terapia à base de luz é uma das mais antigas utilizadas no tratamento de


disfunções patológicas, como cicatrização de feridas e hemangiomas. Nas
complicações da saúde estética, é possível destacar sua ação anti-inflamatória,
também clareadora e bactericida.
Com a tecnologia em ampla descoberta, muitos equipamentos foram
desenvolvidos e aprimorados para o uso na saúde estética, causando um impacto
benéfico na qualidade de vida dos pacientes.
O que define se o laser será vermelho ou azul é o comprimento de onda: o
vermelho gira em torno de 630-700 nm, e o azul, 400-470 nm.

1.1 Protocolo

As sessões para auxiliar nos tratamentos das complicações são semanais,


com duração de 20 minutos. Esse parâmetro pode variar dependendo da
avaliação do profissional conforme a gravidade da situação.

TEMA 2 – ELETROTERAPIA

2.1 Ultrassom

O ultrassom na saúde estética é indicado para complicações como fibroses


e aderência cicatricial. O aumento da circulação, favorecendo a oxigenação, a
nutrição tecidual e a eliminação de líquidos e toxinas, auxilia na regressão da
fibrose e aderências.

2
As ondas ultrassônicas são emitidas por meio de um cabeçote, que possui
um transdutor capaz de se deformar quando existir um campo elétrico, ou seja,
pode transformar energia elétrica em vibrações mediante a compressão e
expansão da matéria, originando assim tais ondas. Esse efeito é denominado
piezoeletricidade.

Figura 1 − Transdutor ultrassom

Crédito: elenavolf/Shutterstock.

Com a penetração das ondas ultrassônicas no tecido, acontecem dois


efeitos: o térmico e o mecânico. O efeito térmico é gerado pelo atrito celular que
libera calor, e, com isso, o metabolismo celular é estimulado, favorecendo a
circulação sanguínea. No efeito mecânico, ocorre uma micromassagem celular e
também uma melhora na permeabilidade cutânea, possibilitando a absorção de
ativos. Esse processo pode ser chamado de fonoforese.
Com relação ao tempo de aplicação, há divergências de opiniões, porém a
média estipulada é de 20 a 30 minutos por região, uma vez a cada sete dias.

2.2 Radiofrequência

A radiofrequência é um equipamento versátil dentro de uma clínica de


estética. Quando se trata de complicações, pode ser utilizado para ajudar nos
tratamentos de fibrose, cicatrizes e ptoses.
Trata-se de uma tecnologia segura e eficaz, podendo ser realizada desde
pessoas com fototipo I até aquelas com fototipo V. Consiste na emissão de
correntes elétricas que alcançam tecidos mais profundos, causando fricção e
formando um campo eletromagnético que gera calor. É classificada como

3
radiação não ionizante, ou seja, não provoca danos à saúde humana, como
câncer, esterilidade e outros problemas que as radiações ionizantes acarretar.
Para aplicação da radiofrequência, o equipamento precisa ser programado
com a frequência desejada, intensidade e tempo de sessão. Recomenda-se que,
para regiões superficiais, a frequência seja de 2,4 MHz, se possível, e a
intensidade, no início da sessão, pode ser em 100%.
Um meio de contato é necessário para o deslizamento da manopla, e nesse
caso se utiliza glicerina ou gel glicerinado. A região deve ser dividida em
quadrantes de aproximadamente 15 cm2 cada um. Para fibrose e cicatrizes, a
temperatura deve chegar a 37 ºC e ser mantida durante cinco minutos em cada
quadrante. Assim que a temperatura for atingida, a intensidade pode ser
diminuída, apenas para manter o calor necessário. Nas regiões mais profundas,
as recomendações são as mesmas, entretanto deve se ajustar a frequência para
1,2/1,5 MHz, se possível.
A manopla precisa ser mantida sempre em movimento e nunca parada,
pois a energia se acumula e pode causar queimaduras. Os movimentos podem
ser circulares, vaivém ou ascendentes, o importante é que eles ocorram.
A temperatura deve ser constantemente aferida durante a aplicação por
meio de um termômetro infravermelho, evitando assim o superaquecimento da
região. O tempo de sessão depende do tamanho da região, mas geralmente varia
entre 20 e 40 minutos.

2.3 Correntes

As indicações da eletroestimulação neuromotora nas complicações da


saúde estética são retenção de líquidos e ptoses. Na corrente russa,
eletroestimulação neuromuscular representada pela sigla EENM, ocorre uma
estimulação nos nervos motores que causa uma despolarização da membrana,
realizando uma indução à contração muscular.
A EENM é uma tecnologia que simula o pulso elétrico nervoso. Contraindo
o músculo, sem acionar verdadeiramente o sistema nervoso, o estímulo acontece
nos pontos motores da musculatura. Esses pontos são regiões de gatilho para a
contração mecânica, pois se trata de áreas nas quais existe maior excitabilidade
da pele, razão por que é necessário um estímulo menor para que haja a excitação
neuromuscular.

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O equipamento é composto por canais em que ocorre a ligação dos
eletrodos à pele do paciente. Entre a pele e o eletrodo, é obrigatório o uso de gel
como meio de contato.

Figura 2 − Eletroestimulação neuromotora

Crédito: Vereshchagin Dmitry/Shutterstock.

A técnica da corrente russa tem como base o conhecimento de alguns


parâmetros, como tempo de contração e o de relaxamento. O primeiro é
caracterizado por ON, em que o trem de pulso está correndo para a contração
muscular. Já o tempo de relaxamento é marcado por OFF e ocorre quando o trem
de pulso cessa a contração.
A emissão da onda é realizada numa faixa de 50 Hz, pois é a mesma
frequência de uma contração voluntária.
Depois que os eletrodos estão posicionados e os parâmetros ajustados, a
sessão se inicia, podendo ser de 20 a 45 minutos. É ideal a realização diária ou,
pelo menos, vez vezes na semana para atingir um resultado eficaz.

TEMA 3 – ANTI-INFLAMATÓRIOS E ANTI-HISTAMÍNICOS

A inflamação desencadeia uma série de sinais específicos no organismo,


como edema, rubor, calor, tumor e dor. Dessa forma, a avaliação clínica é focada
nas manifestações apresentadas pelo paciente. O processo inflamatório é iniciado
pela liberação de substâncias chamadas de mediadores químicos que são
direcionados até a região onde a lesão está instalada.
Para o tratamento da inflamação, são utilizados fármacos denominados
anti-inflamatórios, mas na maioria dos casos também são analgésicos e

5
antipiréticos, já que a dor e o aumento da temperatura fazem parte dos sinais
presentes nesse quadro.
Os anti-inflamatórios são divididos em dois grupos:

• anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs);


• anti-inflamatórios esteroidais.

Os antialérgicos, também conhecidos como anti-histamínicos, são muito


indicados no tratamento de alergias, e seu uso vem crescendo desde meados de
1940. De modo geral, a ação deles ocorre pelo bloqueio na liberação da histamina
presente no interior dos mastócitos. Dosagem, periodicidade e duração da ação
dependem do ativo administrado (Quadro 1).

Quadro 1 − Absorção, doses e metabolismo dos anti-histamínicos H1

*Disponíveis no mercado brasileiro; ND = informação não disponível; T max* = tempo decorrido


entre a ingestão oral e o pico de concentração plasmática (em horas); IH = insuficiência hepática;
IR = insuficiência renal.

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3.1 Anti-inflamatórios não esteroidais

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são utilizados para


transtornos não específicos, ou seja, não há interferência na origem natural das
patologias inflamatórias. Os efeitos colaterais são baixos, justificando seu
emprego com maior segurança.
O mecanismo de ação dos AINEs se dá mediante o bloqueio na síntese de
prostaglandinas; essa inativação é possível pela competição do sítio de forma
ativa da cicloxigenase, conhecida como COX. A COX possui duas isoformas: a
COX-1, cuja função é a produção das prostaglandinas, protegendo o tecido, ou
seja, é uma isoforma fisiológica, denominada também constitucional; e a COX-2,
estimulada em eventos inflamatórios, chamada induzida.
O ácido aracdônico é um produto importante no processo inflamatório, os
seres humanos o obtêm do ácido linoileico ou da alimentação. Ele é responsável
por várias funções no organismo, incluindo a produção das prostaglandinas.
Portanto, a inibição da COX diminui de forma satisfatória a conversão do ácido
aracdônico em prostaglandinas.
Outra via importante na inflamação é a síntese dos leucotrienos. Os AINEs
não possuem a capacidade de inibição dessa via, portanto a administração deles
diminui os sintomas do processo inflamatório, mas não os elimina por completo.
Na grande maioria, os anti-inflamatórios desenvolvidos têm ação direta na
COX-2. O motivo é diminuir ao máximo possível as reações adversas, reduzir a
toxicidade e aumentar o efeito anti-inflamatório no organismo.
Após a administração do fármaco, ocorre a metabolização, e a maior parte
dos AINEs têm como resultante metabólitos inativos. Essa conversão ocorre na
região hepática, ou seja, no fígado, sendo eliminados via urina logo após;
entretanto, existem exceções, pois alguns ativos são excretados pela via biliar.
Como exemplos de AINEs, podemos citar:

• meloxicam;
• nimesulida;
• cetoprofeno;
• diclofenac;
• piroxicam.

A posologia é relativa, depende da complicação a ser tratada, o grau de


comprometimento e o princípio ativo escolhido. O cetoprofeno, por exemplo, é um
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dos AINEs mais fortes, sendo indicada a administração uma vez dia na dosagem
de 150 mg. Já outros podem ser administrados a cada 12 horas ou de 8 em 8
horas.

3.2 Anti-inflamatórios esteroidais

Também conhecidos como anti-inflamatórios hormonais ou


glicocorticoides, esses fármacos formam um grupo de substâncias que, além da
capacidade anti-inflamatória, também realizam efeitos imunossupressores.
O principal glicocorticoide é o cortisol, também conhecido como
hidrocortisona, secretado pelas glândulas suprarrenais e regulado pelo hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH). Atua nos receptores específicos dos
glicocorticoides, promovendo um feedback no hipotálamo e na hipófise que
interrompe a produção de alguns hormônios, incluindo o ACTH.
Em algumas situações anormais, ou seja, eventos em que o organismo
sofre transtornos não esperados e programados, como é o caso das
complicações, ocorre uma estimulação na produção dos hormônios ACTH e
corticotrofina, aumentando o nível sérico do cortisol, tornando ineficaz o processo
de feedback. Nesse cenário, é necessária a administração dos corticoides.
A administração dos glicocorticoides pode se dar de modo injetável, como
intramuscular e endovenosa, e também de forma oral e tópica. É alta sua
utilização na saúde estética, com ótima absorção pelo trato gastrointestinal.
Para a administração dos anti-inflamatórios hormonais, é preciso
conhecimento na durabilidade dos resultados, potência e período de meia-vida.
Eles são divididos em ação curta, ação intermediária e ação longa (Tabela 1),
possibilitando indicar a maneira correta aos pacientes.

Tabela 1 – Grupos de classificação

Fármaco Grupo de classificação Durabilidade da ação


Cortisona Ação curta 8 a 12 horas
Hidrocortisona Ação curta 8 a 12 horas
Triancinolona Ação intermediária 12 a 36 horas
Prednisona Ação intermediária 12 a 36 horas
Dexametasona Ação longa 24 a 72 horas

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Betametasona Ação longa 24 a 72 horas

3.3 Antialérgicos

Os primeiros ativos antialérgicos desenvolvidos foram denominados


primeira geração. Com efeitos neuropsicológicos, essas substâncias promovem
inúmeros efeitos adversos, pois a passagem da barreira hematoencefálica ocorre
de forma facilitada, como os efeitos anticolinérgicos, ou seja, ocorre a inibição na
liberação da acetilcolina, causando efeitos indesejáveis como:

• boca seca;
• tontura;
• pupila dilatada;
• visão turva;
• taquicardia;
• intestino preso;
• confusão mental.

É possível destacar os principais ativos classificados como primeira


geração, pois todos apresentam efeitos colaterais similares como sonolência,
fadiga e os efeitos anticolinérgicos. São eles:

• difenidramina;
• tripelenamina;
• clorfeniramina;
• prometazina.

Nos últimos anos da década de 1930, os anti-histamínicos de segunda


geração representaram o maior avanço na classe desses medicamentos,
destacando-se pela maior durabilidade dos resultados e baixos efeitos colaterais.
Isso se explica pelo fato de ser baixa a passagem dos ativos na barreira
hematoencefálica, com isso os efeitos anticolinérgicos se tornam muito baixos e,
em alguns casos, nulo. São comercializados os seguintes fármacos de segunda
geração:

• loratadina;
• cetirizina;
• epinastina;
• desloratadina;
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• levocetirizina;
• rupatadina.

Sua posologia é relativa, mas a média é uma administração de 12 em 12


horas ou apenas vez ao dia (mais indicado). A absorção é eficaz quando se dá
por via oral, iniciando os resultados efetivos após três horas. É muito importante
destacar que, dependendo da gravidade da complicação, o encaminhamento ao
atendimento médico é fundamental.

TEMA 4 – ANTIBIÓTICOS

São fármacos utilizados para o controle microbiano, especialmente o


bacteriano, e podem ser de forma natural ou sintética. Sua classificação básica
corresponde a dois grupos: os bactericidas, ativos que promovem a morte do
agente; e os bacteriostáticos, que impedem a proliferação do agente microbiano.
Os estudos de substâncias para colaborar nos tratamentos contra a
proliferação bacteriana foram iniciados em meados da década de 1910, com o
desenvolvimento do antibiótico voltado ao combate da sífilis – salvarsan. Na
década de 1930, a proflavina foi produzida a fim de auxiliar os tratamentos durante
a Segunda Guerra Mundial, porém, caiu em desuso devido à alta capacidade de
intoxicação. O grande marco na produção desses fármacos aconteceu em 1928,
com a penicilina.

Figura 3 − Penicilina

10
Crédito: volha_a/Shutterstock.

A partir de então, muitos fármacos com ação antimicrobiana foram


desenvolvidos para contribuir em processos infecciosos, principalmente depois da
década de 1980, com o auxílio das triagens nas coleções de compostos e da
genômica.
Na saúde estética, alguns procedimentos, como os fios de sustentação,
laser e preenchimentos, têm o risco de desencadear uma infecção, na maioria dos
casos quando o profissional não segue corretamente a biossegurança.

4.1 Classificação

Os antibióticos podem ser classificados em vários grupos, como veremos


a seguir.

• -lactâmicos – é o maior grupo dos antibióticos (corresponde a cerca de


50% dos fármacos disponíveis para utilização). Seu mecanismo de ação
envolve a inibição da enzima transpetidase de forma irreversível, e assim a
catálise das cadeias peptideoglicanas da parede celular bacteriana não
ocorre, impedindo sua proliferação. Nesse grupo, é possível destacar a
cefalexina, pois nas complicações estéticas é um dos ativos mais
utilizados, por ser mais específico para infecções de tecido cutâneo.
• Tetraciclinas – apresenta eficácia tanto nas bactérias gram-positivas como
nas gram-negativas; sua ação ocorre por meio da inibição ribossômica, a
qual é possível pela ligação do fármaco com a subunidade 30S dos
ribossomos, resultando no bloqueio da síntese de cadeias proteicas, pois
os novos aminoácidos não poderão ser inseridos. Estes também são
utilizados nas complicações decorrentes de procedimentos estéticos,
pois são antibióticos específicos para infecções do tecido cutâneo.
• Aminoglicosídeos – tendo como exemplo o ativo estreptomicina, esse
grupo promove a morte dos microrganismos, sendo, portanto, considerado
bactericida; a ação ocorre pela ligação do fármaco na subunidade 30S dos
ribossomos, interrompendo a síntese proteica. Na saúde estética, um
ativo desse grupo muito utilizado é a gentamicina, presente nas
pomadas antimicrobianas que podem ser administradas pela via
tópica, auxiliando nos tratamentos das complicações.

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• Macrolídeos – nesse grupo pode ser encontrado um dos ativos mais
seguros, a eritromicina; diferentemente dos aminoglicosídeos, os
macrolídeos são bacteriostáticos, ou seja, impedem o crescimento
bacteriano. O mecanismo de ação ocorre mediante a ligação do ativo na
subunidade 23S do RNA dos ribossomos, inibindo a síntese das proteínas
bacterianas.
• Cloranfenicol – com ligação da subunidade 30S dos ribossomos e bloqueio
da peptidil transferase, apresenta ação similar à dos ativos inseridos no
grupo dos macrolídeos. Dessa forma, a associação entre os dois grupos se
torna contraindicada.
• Lincosamidas – está presente nesse grupo o antibiótico com maior eficácia
de absorção por via oral, a clindamicna, porém pode ser utilizado também
pela via tópica. O mecanismo de ação é similar à do grupo dos macrolídeos,
com inibição da subunidade 23S do RNA ribossomal.
• Glicopeptídeos – o primeiro ativo a ser incorporado nesse grupo foi a
vancomicina, sendo administrado com maior eficácia por via intravenosa,
com exceção de infecções intestinais, que pode ser realizada por via oral.
A ação é enzimática, em que a transpeptidação é inibida, ou seja, a síntese
da parede celular não ocorre.
• Rifamicinas – utilizada para tratamentos da tuberculose, sua ação acontece
pela inibição da RNA polimerase, e assim o processo de transcrição
bacteriana não é realizado.

É possível observar que cada grupo apresenta uma quantidade de


fármacos antimicrobianos com mecanismos de ações terapêuticas para inibição
dos agentes agressores, tanto na proliferação quanto na morte do microrganismo.

4.2 Posologia

O destaque será feito para dois antibióticos (Quadro 3) que, como


mencionado, são os mais utilizados para infecções de pele: tetraciclina e
cefalexina. É importante salientar que, dependendo da gravidade, outros podem
ser administrados.

12
Quadro 3 − Posologia

Antibiótico 250 mg 500 mg


Cefalexina 6 em 6 horas 12 em 12 horas
Tetraciclina 6 em 6 horas 8 em 8 horas

Na administração tópica, o destaque é para a gentamicina, cuja aplicação


é recomendada de três a quatro vezes dia, até se obterem resultados satisfatórios.

TEMA 5 – DESPIGMENTANTES

O processo inflamatório que alguns procedimentos estéticos


desencadeiam eleva a atividade mitótica nos melanócitos no momento da
cicatrização. Não se conhece exatamente o fator que determina o aumento ou a
diminuição da pigmentação após a cicatrização, porém, a agressão que ocorre
durante o procedimento sobre os melanócitos da camada basal e o processo
inflamatório que se instala obrigam a liberação e a mobilização da melanina tanto
nas células de Malpighi, por meio dos prolongamentos dendríticos, quanto na
derme, por meio do derrame pigmentar, gerando uma hiperpigmentação.
O desaparecimento do pigmento dependerá de normalização da produção
de melanina, descamação das células de Malpighi e fagocitação das melaninas
pelos macrófagos na derme; esse processo é realizado por meio de ativos
denominados despigmentantes. Quanto maior a quantidade de pigmento
derramado após um processo inflamatório induzido pelo procedimento estético,
mais tempo será necessário para a normalização da cútis.
Os principais despigmentantes utilizados para reversão da
hiperpigmentação são:

• ácido retinoico;
• ácido tranexâmico;
• ácido ascórbico;
• alfa – arbutin;
• TGP2;
• Lumiskin®.

Os despigmentantes, em sua grande maioria, são inibidores da tirosinase,


impedem sua conversão em L-dopa. Quando aplicados de forma correta, realizam
o clareamento da mancha e também impedem que outras sejam desencadeadas.
13
Em um processo de hiperpigmentação, é possível contar com os
despigmentantes orais e também fotoprotetores orais que, juntamente com os
tópicos, irão acelerar o processo de regressão da complicação, entre eles:

• Oli-ola®;
• Bio-blanc®;
• Pomegranate;
• Pinus pinaster;
• Polipodium leucotomus;
• Glisodin®;
• Vitamina C;
• Vitamina E;
• Luteína;
• Santé beauté®.

5.1 Sugestões

Quadro 4 – Orais

Pinus Pinaster.................................. 100 mg


Pomegranate................................... 200 mg
Vitamina C....................................... 250 mg
Vitamina E........................................ 100 mg
Polypodium Leucotomus................. 240 mg

Santé Beauté ................................... 200mg


LumineCense INN ............................ 100mg
Bio-blanc .......................................... 300 mg
P. leucotomus ................................... 240 mg
Luteína.............................................. 20 mg

Pinus Pinaster.................................... 50 mg
Glisodin.............................................. 200 mg
Luteína............................................... 20 mg
Oli-olá ............................................... 300 mg
Polypodium Leucotomus................... 240 mg

Quadro 5 – Tópicos

14
Luminescence .................................... 3%
Lumiskin ............................................. 4%
Ácido tranexâmico .............................. 8%
TGP2 .................................................. 3%
Base second skin qsp ........................ 30 g

Luminescence ..................................... 3%
Alfa – arbutin ....................................... 2%
Ácido retinoico................................ 0.025%
Ácido tranexâmico ............................... 8%
TGP2 ................................................... 3%
Base omega gold qsp ......................... 30 g

15
REFERÊNCIAS

ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. W. Imunologia celular e molecular. Tradução da


quinta edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

ALAM, M.; LADSTONE, H. B.; TUNG, R. C. Dermatologia cosmética. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2010.

AZULAY, R. D. Dermatologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004.

BORGES, F. S. Terapêutica em estética: conceitos e técnicas. São Paulo:


Phorte, 2016.

BORGES, F. S. et al. Parâmetros de modulação na eletroestimulação


neuromuscular utilizando corrente russa. Revista Fisioterapia Ser, ano 2, n. 1,
jan./mar. 2007.

CROCCO, E. I.; ALVES, R. O.; ALESSI, C. Eventos adversos do ácido hialurônico


injetável. Surgical & Cosmetic Dermatology, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 259-263,
ago. 2012. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/pdf/2655/265524650007.pdf>. Acesso em: 17 set. 2021.

FITZPATRICK, T. B; MOSHER, D. B. Pigmentação cutânea e distúrbios do


metabolismo da melanina. In: ISSELBACHER, K. et al. Medicina interna. 9. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983. p. 276-284. v. 1.

FRANCINE, B. C. Complicações com o uso de lasers. Parte II: laser ablativo


fracionado e não fracionado e laser não ablativo fracionado. Surgical & Cosmetic
Dermatology, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 135-146, 2011. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/pdf/2655/265519664009.pdf>. Acesso em: 17 set. 2021.

ICOLETTI, M. et al. Hipercromias: aspectos gerais e uso de despigmentantes


cutâneos. Cosmetics & Toiletries, São Paulo, v. 14, n. 3. p. 46-53, maio/jun.
2002.

MAIO, M. Tratado de medicina estética. 2. ed. São Paulo: Roca, 2011. v. 2.

MONTEIRO, E. O. Complicações imediatas com preenchimento cutâneo. Revista


Brasileira de Medicina, v. 71, n. esp., ago. 2014. Disponível em:
<https://hialurox.com.br/site/wp-content/uploads/2019/06/complicacoes_HA.pdf>.
Acesso em: 17 set. 2021.

16
NELSON, M. R.; HAYES, W. K.; CURRIER, P. D. Eletroterapia clínica. 3. ed.
São Paulo: Manole, 2003.

REESE, R. E.; BETTS, R. F. Manual de antibióticos. 3. ed. São Paulo: MEDSI,


2002.

SANTOS, T. J. Aplicação da toxina botulínica em dermatologia e estética e


suas complicações: revisão da literatura. Trabalho de Conclusão de Curso
(Especialização em Dermatologia) – Núcleo Alfenas, 2013.

WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2016.

ZAGUI, R. M. B.; MATAYOSHI, S.; MOURA, F. C. Efeitos adversos associados à


aplicação de toxina botulínica na face: revisão sistemática com meta-análise.
Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, v. 71, n. 6, p. 894-901, 2008. Disponível
em: <https://www.scielo.br/j/abo/a/WrXYQrNLhQ7SRB7Hg894mPF/?lang=pt>.
Acesso em: 17 set. 2021.

17
AULA 5

INTERCORRÊNCIAS EM
ESTÉTICA FACIAL E CORPORAL

Profª Karla Glazielle Gonçalves dos Santos Malachoski


CONVERSA INICIAL

O envelhecimento facial é um processo natural do organismo, o qual não


podemos evitar. Entretanto, o envelhecimento não é sinônimo de descuido da
pele, pode-se passar pelos ciclos da vida de maneira saudável e com qualidade.
Existem muitos procedimentos que auxiliam na prevenção e no processo de
rejuvenescimento, deixando uma pele harmoniosa, sem rugas profundas, ptoses
severas e perda de volume em regiões especificas da face.

Figura 1 – Rejuvenescimento

Créditos: Evgeny Atamanenko/Shutterstock.

A toxina botulínica é um desses tratamentos e é considerada padrão ouro


no rejuvenescimento. Sua aplicação é mais preventiva do que curativa, ou seja, a
aplicação pode iniciar antes dos 30 anos se houver indicação, evitando a formação
de rugas estáticas na pele e mantendo uma aparência mais jovial e saudável.
Porém, por ser um procedimento minimamente injetável, algumas reações
indesejáveis podem ser desencadeadas, por esse motivo as recomendações pós-
procedimentos precisam ser esclarecidas da melhor forma para o paciente, e se
houver alguma intercorrência, o profissional precisa lidar com o quadro clínico,
auxiliando o paciente de forma correta e com responsabilidade. Sendo assim,
antes de elucidar as intercorrências é importante saber – qual o mecanismo de
ação da toxina botulínica? E quais as recomendações pós-aplicação?

2
TEMA 1 – TOXINA BOTULÍNICA A

A toxina botulínica A é um tipo de neurotoxina produzido pela bactéria


Clostridium botulinum. Os primeiros relatos envolvendo a toxina botulínica
surgiram na Alemanha, no início do Século XVIII, associando-a a mortes de
pacientes que apresentaram midríase e paralisia muscular progressiva, o que
levou à suspeita de envenenamento após o consumo de linguiças de sangue.

Figura 2 – Clostridium botulinum

Créditos: Peddalanka Ramesh Babu/Shutterstock.

Em meados de 1822, pesquisadores se mostraram interessados no uso da


toxina botulínica com finalidade terapêutica, realizando aplicações para
hipercontração muscular e hipersalivação, por exemplo, pois estudos
demonstravam bloqueio neuromuscular autônomo e periférico.
Na década de 1970, Alan Scott utilizou a toxina na região ocular, para
correção do estrabismo, sendo esse uso consolidado a partir da produção de um
produto farmacêutico que recebeu o nome de Oculinum®, que, posteriormente,
foi alterado para Botox®, marca conhecida internacionalmente.

3
Figura 3 – Botox

Créditos: Thiti Sukapan/ Shutterstock.

Na área estética, o uso da toxina botulínica teve seu início apenas na


década de 1990, quando foi observada uma melhora das rugas faciais em
pacientes que utilizavam a toxina para tratar espasmos hemifaciais.

Figura 4 – Resultado estético

Créditos: Tanyalovus/Shutterstock.

Com base nisso, empresas farmacêuticas iniciaram a produção e a venda


da toxina botulínica A, algumas delas são: Dysport®, Prosigne®, Botulift®,
Xeomin®, Botulim®, entre outras.
Há sete sorotipos distintos de toxina botulínica – A, B, C, D, E, F, G,
entretanto a utilização na saúde estética se restringe à do tipo A, considerada a
mais potente. Os sorotipos realizam a clivagem de proteínas que compõem o
complexo SNARE (soluble NSF attachment receptor); essa clivagem é muito
importante para entender o mecanismo de ação da toxina.

4
A toxina botulínica é composta por duas cadeias, uma pesada (HC) e uma
leve (LC), a união entre as duas é feita por pontes dissulfídicas.

Figura 5 – Toxina botulínica A

Créditos: Kateryna Kon/Shutterstock.

1.1 Toxicidade

Estudos com a TB foram realizados para se determinar parâmetros


importantes: toxicidade aguda, toxicidade com injeções repetidas, tolerância local,
mutagenicidade, antigenicidade e compatibilidade ao sangue humano. Estudos de
toxicologia com dose única foram conduzidos através de injeção intramuscular em
ratos, coelhos e macacos e com injeções intravenosas em ratos. A dose letal 50
(letal em 50% da população de animais testados) variou de 50 a 102 U/kg, em
injeções intravenosas, e de 83 a 209 U/kg, em injeções intramusculares, em ratos.
Em macacos, o NOEL (non observed effect level) foi de 4 a 24 U/kg em uma única
injeção intramuscular.
Estudos conduzidos em macacos, com doses de até 16 U/kg, não
mostraram alterações significativas nos seguintes parâmetros: exame
oftalmoscópico, medida da pressão arterial, exame neurológico, exame
hematológico, dosagens de anticorpos, análises químicas sanguíneas e urinárias.
Portanto, a aplicação de toxina botulínica A para finalidade estética é
segura, a quantidade para chega a um caso de toxicidade ou até mesmo letal é
muito alto, dose que vai muito além da utilizada em uma rotina clínica.

5
TEMA 2 – MECANISMO DE AÇÃO

A toxina botulínica A provoca paralização muscular, inibindo a acetilcolina


na junção neuromuscular e provocando denervação química. O mecanismo de
bloqueio ocorre através de um processo realizado pelas seguintes etapas:

• Ligação: A cadeia pesada da toxina, responsável também por sua


estabilidade, é quem faz a ligação a um receptor, que por sua vez é ligado
à membrana pré-sináptica na junção neuromuscular. Essa ligação é muito
rápida e irreversível;
• Internalização: Pelo mecanismo de endocitose, a toxina é envolvida por
uma membrana celular, formando uma vesícula que a transporta para
dentro da célula;
• Redução e translocação da ponte dissulfídica: Após a internalização, a
ponte dissulfídica da TB é quebrada por um processo ainda desconhecido.
A parte terminal da cadeia pesada promove a penetração e translocação
da cadeia leve, através da membrana celular, para o citoplasma da
terminação nervosa;
• Bloqueio (atividade enzimática – metaloprotease da cadeia leve): Para que
a vesícula de acetilcolina se funda à membrana pré-sináptica e seja
liberada na junção neuromuscular, são necessárias três proteínas de fusão
(SNARE proteins).

A cadeia leve da TBA provoca a clivagem enzimática de uma dessas três


proteínas (a proteína SNAP-25), impedindo a liberação do neurotransmissor. Este
processo é conhecido como desnervação química funcional e não lesa o nervo ou
altera a produção da acetilcolina, apenas a estrutura responsável pela
transmissão do sinal nervoso através da junção neuromuscular.
O músculo que recebeu a toxina botulínica começa a enfraquecer após 24
horas e seu bloqueio final ocorre no máximo em duas semanas. É importante
ressaltar que, para a ação da toxina acontecer de forma eficaz, é necessária a
presença do zinco, ou seja, a toxina botulínica A é zinco-dependente.

6
Figura 5 – Esquema mecanismo de ação

junção neuromuscular junção neuromuscular


saudável com envenenamento
botulínico
bainha de bainha de
mielina mielina

axônio axônio

acetilcolina toxina
botulínico

receptores
receptores nicotínico menos
nicotínico acetilcolina
musculo liberada
musculo

Créditos: Joshya/Shutterstock.

Os efeitos da toxina não são permanentes. Aproximadamente 45 dias após


a aplicação, inicia-se a formação de novos terminais nervosos, nos quais a
contração voltará a ser realizada, por esse motivo, após quatro a seis meses, a
atividade muscular retorna, sendo necessária uma nova aplicação de toxina
botulínica A.
A Toxina Botulínica estimula a produção de anticorpos e pode não
responder à paralisação quando o indivíduo é submetido à aplicação em um
intervalo curto de tempo. Por isso, o intervalo mínimo entre aplicações deve ser
de 90 dias. Sabe-se que a resposta imune depende da dose injetada por sessão,
da dose acumulada e da frequência de administração da toxina, porém, vale
ressaltar que as doses mínimas de toxina utilizadas para a imunização são
desconhecidas.

7
TEMA 3 – APLICAÇÃO

Para um resultado satisfatório e regular, é muito importante levar em


consideração os pontos de aplicação, quantidades por ponto e plano de aplicação
para o objetivo esperado.
Existem várias maneiras de marcar os pontos de aplicação. O mais
importante é a escolha da técnica, pois o profissional deve estar plenamente
seguro para realizar as aplicações.
Algumas características precisam ser observadas durante a avaliação,
para definir marcação e quantidade de toxina que será́ infiltrada, conforme mostra
a Tabela.

Tabela 1 – Padrão, característica e expressividade

Padrão Característica Expressividade


Cinético Movimentação Adequada e harmônica
normal
Hipercinético Movimentação Excessiva
excessiva
Hipocinético Movimentação lenta Baixa
Tônico Tônus muscular Estruturas posicionadas
normal corretamente
Hipertônico Ausência de Distorção anatômica e formação de
relaxamento rugas compostas
Hipotônica Relaxamento Flacidez e ptose em determinadas
excessivo estruturas

A quantidade de produto aplicado e a força muscular do paciente estão


diretamente ligados à durabilidade da ação da TBA, e essas características
influenciam diretamente nesses aspectos.

8
TEMA 4 – RECOMENDAÇÕES PÓS-APLICAÇÃO

A aplicação de toxina botulínica do tipo A não requer repouso e nem


afastamento das rotinas diárias, o paciente pode realizar a aplicação e voltar aos
seus afazeres logo em seguida. As recomendações são básicas, porém, precisam
ser respeitadas e seguidas a fim de evitar qualquer contratempo e ter um resultado
satisfatório e harmônico.
As recomendações após a aplicação de toxina botulínica precisam ser
seguidas corretamente pelos pacientes para que não ocorram complicações
durante a fase de paralisação muscular. Sendo elas:

• Não se deitar por um período de quatro horas, pois a toxina apresenta


poder de difusão aos tecidos circunvizinhos, podendo ocorrer paralisia de
regiões adjacentes à aplicação;
• Não realizar atividade física por 24 horas, devido à difusão e também pelo
aumento do metabolismo, podendo interferir no processo de ação da
toxina;
• Não consumir bebida alcoólica em excesso durante 24 horas após a
aplicação – o álcool aumenta o metabolismo corporal;
• Não tomar antibiótico, nem relaxante muscular por sete dias, pois estes
medicamentos interferem diretamente no resultado da paralisação;
• Não massagear a região com força no dia da aplicação;
• Após 15 dias, retornar para uma nova avaliação e, se preciso, realizar o
ajuste fino.

TEMA 5 – INTERCORRÊNCIAS

As intercorrências com a toxina botulínica em sua grande maioria são


transitórias, ou seja, reações que são revertidas de forma rápida, e muitas vezes
espontaneamente, porém em alguns casos a complicação desencadeada podem
ser irreversível, como é o caso de lesões nos nervos. As complicações precisam
ser evitadas, e isso só é possível com o conhecimento e atenção do profissional.
A aplicação de toxina é uma técnica que requer habilitação e preparo adequado.
Os efeitos adversos mais comuns relatados são:

• Eritema e edema – o eritema irá depender da sensibilidade da pele de cada


paciente, podendo muitas vezes ser imperceptível aos olhos. Já o edema,

9
ocorre pelo volume de líquido injetado nos pontos de aplicação, sendo que,
uma reação transitória pode durar de algumas horas até, no máximo, dois
dias. se necessário para acelerar a estabilização pode ser realizada
compressas geladas nas primeiras 24 horas;
• Equimoses e hematomas – por ser um procedimento que faz utilização de
agulhas, existe o risco de perfuração de um vaso existe, causando os
hematomas. Caso ocorra um rompimento, pressionar a região por alguns
instantes para que não ocorra um extravasamento do sangue e, em casa,
utilizar pomadas que acelerem o processo de regeneração da região, como
a arnica em gel, pomadas com polissulfato de mucopolissacarídeo e
também com heparina. Administrar topicamente de 2 a 3 vezes no dia até
regressão total da reação.
• Cefaleia – é uma reação menos observada, mas que pode ocorrer após a
aplicação de Toxina Botulínica A. Sua etiologia ainda é desconhecida, mas
alguns estudos a relacionam com o trauma sofrido pelas agulhas, podendo
durar de uma a quatro semanas após a aplicação, sua regressão é
espontânea, porém se necessário é recomendado administrar analgésicos
para promover um conforto diário ao paciente;
• Elevação excessiva da sobrancelha – essa reação pode ocorrer devido
uma paralisação apenas na região central do músculo frontal, elevando as
extremidades compensatoriamente, promovendo uma aparência inestética.
Para a correção, o profissional deverá aplicar a toxina novamente em um
ponto estratégico, o local do ponto é acima de cada sobrancelha para que
o músculo relaxe e desça, ficando com aspecto harmônico.
• Assimetrias faciais – As assimetrias faciais são decorrentes de marcações
e aplicações realizadas de maneira errada por parte do profissional ou
também pelo descumprimento das recomendações básicas por parte do
paciente.

10
Figura 6 – Assimetrias

Créditos: Wayhome Studio/Shutterstock.

Entre as assimetrias, a mais comum de ocorrer é a ptose, seja ptose dos


olhos, sobrancelhas ou labial.

• As ptoses ocorrem geralmente por um erro na marcação, na aplicação ou


na difusão da toxina. Na região das pálpebras, é fácil evitar este tipo de
complicação, para isso, o profissional deve respeitar uma distância de 1 cm
da margem orbital óssea. Já na região dos lábios, para que a ptose não
ocorra, é necessário um conhecimento anatômico minucioso, pois os
músculos se entrelaçam, o que pode facilmente ocasionar uma aplicação
em regiões indesejadas. Se ocorrer a ptose, não há nenhum “antídoto” para
reversão imediata, a recomendação é utilizar alguns equipamentos que
acelerem o processo de síntese de uma nova placa motora, esses
equipamentos são – corrente russa e alguns tipos de laser, exercícios
faciais também podem ajudar na reversão. A ptose na região dos olhos
alguns profissionais defendem o uso do colírio de fenilefrina a 10% e
também o colírio de brimonidina, porém existem controvérsias em seu uso
para esse fim.

11
Figura 7 – Ptose palpebral

Créditos: Nakaridore/Shutterstock.

• Lesão em nervos – essa intercorrência pode gerar uma parestesia que


ocorre quando um nervo é bloqueado durante a aplicação, desencadeando
um adormecimento na região ou até mesmo uma assimetria facial, como
por exemplo no nervo temporal, pode causar ptose dos olhos. Nesse caso
nem todas as complicações são reversíveis, a ação da toxina permanece
em média por cinco meses, porém a intercorrência desencadeada pode
gerar uma lesão nervosa de difícil reversão ou até mesmo irreversível, é
muito raro mais não é nulo o risco. Alguns procedimentos podem ser
realizados para acelerar o processo de reversão, como a utilização de
microcorrente, laserterapia e fisioterapia para reestabelecer os movimentos
faciais com normalidade.
• Dificuldade para movimentação dos lábios – ocorre quando há erro na
técnica ou na quantidade de unidades aplicada no músculo orbicular da
boca para tratamento de rugas periorais, com aplicação de toxina botulínica
A. Essa complicação pode afetar a fala, o ato do soprar, usar canudos e de
franzir os lábios para beijar. O tratamento também é realizado com
equipamentos que promovam a contração muscular, como é o caso das
microcorrentes e exercícios faciais para estimular a contração dos
músculos também é recomendado.
• Disfagia e dificuldades para movimentar o pescoço – A intercorrência mais
perigosa com a toxina botulínica, ocorre quando são administradas altas
12
doses de toxina botulínica A no músculo platisma ou quando as marcações
não estão de acordo com o recomendado. Dependendo da gravidade da
situação o profissional poderá tratar com a utilização de equipamentos que
promovem a contração muscular – correntes, também exercícios que
estimulem a movimentação da região, porém em casos mais graves é
necessário o encaminhamento para o profissional médico, pois nesse caso
poderá ocorrer disfagias, e dispneias, colocando à vida do paciente em
risco.
• Diplopia – essa intercorrência pode ocorrer quando a aplicação na região
orbicular dos olhos ocorre de forma errada, nesse caso a toxina botulínica
é infiltrada para dentro da reborda orbitária, podendo causar visão dupla,
embaçada, olhos parados, secura ocular. Nesse caso, o auxílio de um
médico oftalmologista será necessário, pois existe um grande chance de o
paciente utilizar óculos de correção até a reversão do quadro. O uso de
colírio de fenilefrina ou brimonidina também são indicados nesses casos.

13
REFERÊNCIAS

AYRES, E. L. Toxina botulínica na dermatologia. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2016.

AZULAY, R. D. Dermatologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

BRAZ, A. V. Atlas de anatomia e preenchimento global da face. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2017.

MAIO, M. Tratado de Medicina Estética. 2. ed., v. 2, São Paulo: Roca, 2011.

RIVITTI, E. A. Dermatologia de Sampaio e Rivitti. 4. ed. Porto Alegre: ArtMed,


2014.

SADICK, N. S. Overview of complications of non cirurgical facial rejuvenation


procerures. Clin Plast Surg, V.1, p.109-120, 2001

SANTOS, T. J. Aplicação da toxina Botulínica em Dermatologia e estética e


suas complicações: Revisão da Literatura. Trabalho de obtenção de título de
pós-graduação em Dermatologia – Núcleo Alfenas, 2013.

SOUTOR, C. Dermatologia clínica. Porto Alegre: AMGH, 2015.

ZAGUI, R.M.B.; MATAYOSHI, S.; MOURA, F.C. Efeitos adversos associados à


aplicação de toxina botulínica na face: revisão sistemática com meta-análise. Arq
Bras Oftalmol. v. 71, n. 6, p. 894-901, 2008.

14
AULA 6

INTERCORRÊNCIAS EM
ESTÉTICA FACIAL E CORPORAL

Profª Karla Glazielle Gonçalves dos Santos Malachoski


INTRODUÇÃO

Preenchimento

Na fase da juventude, a face possui volume em regiões específicas,


como a região malar e lábios. O volume adequado mantém a sustentação facial
por meio dos coxins adiposos, juntamente com um tecido tegumentar firme,
com fibras colágenas e elásticas em quantidades normais. Com o passar dos
anos, os coxins adiposos vão perdendo volume e formando depressões,
sombras, sulcos e ptoses. Pessoas estão buscando, cada dia mais, soluções
não cirúrgicas para corrigir essas alterações, e o preenchimento é um dos mais
procurados, pois, por meio desse procedimento, o profissional consegue
devolver o volume em regiões estratégicas, sustentando novamente a face e
realocando a pele flácida.

Figura 1 – Rejuvenescimento

Créditos: Tanyalovus/Shutterstock.

TEMA 1 – PREENCHIMENTOS

Quando se trata de preenchimentos, muitas substâncias podem ser


utilizadas para realizar o procedimento. É importante frisar que profissionais da
biomedicina só podem utilizar produtos absorvíveis, como a hidroxiapatita de
cálcio, o ácido polilático e o ácido hialurônico.
Já produtos como o polimetilmetacrilato (PMMA) são preenchedores
permanentes de uso proibido para biomédicos. Quando se trata de produtos

2
absorvíveis, o mais utilizado nas clínicas de estética é uma substância
biocompatível e biodegradável, chamada de ácido hialurônico (AH).
A técnica de preenchimento só fica atrás da aplicação de toxina
botulínica quando se trata de rejuvenescimento facial, e a escolha do ácido
hialurônico como ativo preenchedor torna a técnica mais segura, já que é um
produto produzido naturalmente pelo organismo humano, presente
principalmente na pele com função de reter água, conferindo hidratação e
volume na região onde a aplicação é realizada.

Figura 2 – Ácido hialurônico

Créditos: It Tech Science/Shutterstock.

Para realizar as técnicas de preenchimento, algumas características


precisam ser evidenciadas, deixando a face harmoniosa, tanto para mulheres
quanto para os homens. Levando em conta o padrão de beleza mais
procurado, as características da beleza feminina comumente almejadas são:

• Região malar (osso malar) proeminente;


• Mandíbula bem marcada, com determinada proporção entre suas duas
partes com ângulo tendendo ao reto;
• Efeito blush (bochechas rosadas);
• Proporção entre o nariz, lábio e o queixo, que é definido como barra
central da beleza;
• Lábios bem contornados.

3
Figura 3 – Preenchimento labial

Créditos: Millaf/Shutterstock.

Já as características do padrão de beleza masculino são:

• Mandíbula bem marcada (rosto com formato mais quadrado);


• Queixo largo e bem proporcionado;
• Nariz proporcional e retilíneo.

O nome ácido hialurônico é de origem grega: hyalos significa “vítreo”,


referência ao humor vítreo de onde foi isolado pela primeira vez, em 1934, por
Karl Meyer e John Palmer. As primeiras aplicações na área médica ocorreram
na cirurgia oftalmológica e no tratamento de osteoartrite de joelhos na década
de 1970. Na área da estética facial, seu uso iniciou-se por volta de 1996.
O ácido hialurônico (AH) é uma grande arma contra o envelhecimento.
Encontrado em quase todo o corpo humano, esse ácido apresenta
concentração média de 200 mg/kg, ou seja, é uma substância biocompatível
com o organismo humano.
O ácido hialurônico é considerado um potente hidratante, pois sua
afinidade com água permite à área tratada alcançar a umidade ideal, o que
hidrata a região, promove volume e estimula a síntese de colágeno,
principalmente quando utilizado de forma injetável em peles fotoagredidas, já
que restaura a matriz celular.
4
Figura 4 – Restaura e volumiza

Créditos: Sofia Bessarab/Shutterstock.

Com base nessas características, seu uso tem crescido de forma muito
significativa, porém, juntamente com o aumento do procedimento, o risco de
complicações também se torna maior, principalmente quando realizado por
profissionais desqualificados e inexperientes.

TEMA 2 – MECANISMO DE AÇÃO

O ácido hialurônico é ideal para procedimentos de preenchimento, pois é


eficaz e biocompatível. O processo de volumização é possível graças à alta
capacidade de retenção hídrica, podendo chegar até 1.000 vezes o seu
volume.

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Figura 5 – Expansão do preenchimento

Créditos: Sofia Bessarab/Shutterstock.

O mecanismo do ácido hialurônico age na estruturação e organização da


derme, auxiliando na flexibilidade e firmeza da pele, atua também na
estimulação de síntese das células responsáveis pela produção de colágeno,
nos fibroblastos e no processo de angiogênese.
Todo esse mecanismo resulta no aumento da espessura da derme,
tornando a pele firme e rejuvenescida, devolvendo o volume natural da face.
De modo geral, o preenchimento é uma técnica tranquila, realizada em
consultório, e o paciente retorna para suas atividades diárias imediatamente ao
final do procedimento. Não são feitos cortes e nem pontos, os pertuitos
minúsculos são cobertos por um pequeno esparadrapo antialérgico, que são
retirados em até 48 horas.

2.1 Composição

O ácido hialurônico (AH) é um polímero de cadeia linear, em um peso


molecular de 2-6 x 106 Daltons, aproximadamente. O AH é também um
polissacarídeo que tem participação importante na proliferação de fibroblastos
e na maturação das fibras colágenas. É um produto não imunogênico, tendo

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estrutura semelhante em todas as espécies vivas e dispensando, portanto,
testes prévios de alergia.
Encontrado em vários produtos, o AH pode ser ministrado por via oral,
tópica ou injetável. Esse glicosaminoglicano tem alta higroscopia e viscosidade,
funcionando muito bem como lubrificante nos fluidos sinoviais. Confere
consistência gelatinosa ao humor vítreo e é um importante componente da
matriz dérmica extracelular.
Ele influi tanto no volume dérmico nas suas propriedades quanto na
capacidade de suportar pressões externas, além de influenciar na proliferação,
diferenciação, reparação tecidual e morfogênese celular.
Sabe-se que o ácido hialurônico sofre degeneração isovolêmica com
dois mecanismos principais de reabsorção: via corrente sanguínea e linfáticos
locais.
Quando utilizado em cadeia linear, tem como função apenas a
hidratação, permanecendo no organismo por 48 horas. Após esse tempo, a
degradação ocorre.

TEMA 3 – RETICULAÇÃO

Ao injetar o AH em sua forma natural na pele, a absorção ocorre em


menos de 24 horas. Sendo assim, para técnicas de preenchimento com alta
durabilidade, é necessário o desenvolvimento de múltiplas ligações cruzadas
entre suas moléculas, denominadas de cross-link ou reticulação.
A quantidade de partículas nas apresentações dos preenchedores pode
variar de acordo com a indústria farmacêutica. A média encontrada na
quantidade e tamanho das partículas podem ser encontradas na tabela a
seguir.

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Tabela 1 – Tamanho das partículas

Baixa Média Alta reticulação


reticulação reticulação
Concentração de 20 mg/ml 20 mg/ml 20 mg/ml
AH
N. de partículas 150.000 – 10.000 – 5.000 2.000
de gel por ml 1000.000
Tamanho das 0,10 – 0,28 0,28 – 1,00 1,25 – 2,00
partículas (mm)
Durabilidade 8 – 12 meses 8 – 12 meses 8 – 16 meses
Indicações Linhas Linhas profundas Enchimento de
superficiais e e aumento de tecidos moles,
moderadas volume projeção e
volumização

Os reticuladores são substâncias adicionadas ao ácido hialurônico para


alterar a estrutura física, os principais reticuladores são:

• Butanodiol-diglicidil-éter (BDDE);
• Dimetilformaldeído;
• Adivinilsulfona (DVS).

Com a reticulação, a estrutura da molécula sofrerá uma mudança,


transformando o ácido hialurônico em gel. A viscosidade do gel pode ser menor
ou maior, o que irá depender da quantidade de reticulador adicionado. Quanto
maior for a reticulação, maior serão as partículas criadas e menor sua
quantidade, aumentando a viscosidade e densidade do preenchedor.
Consequentemente, maior será sua durabilidade na região de aplicação.

TEMA 4 – RECOMENDAÇÕES PÓS-APLICAÇÃO

As recomendações pós-preenchimento são bem simples e tranquilas de


serem seguidas, sendo elas:

• Não massagear a região preenchida com força, pois nos primeiros dias
existe a possibilidade de deslocamento do produto da área que foi
preenchida;

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• Evitar consumo de bebida alcoólica nas primeiras 24 horas;
• Realizar compressas geladas, se necessário;
• Para preenchimentos labiais – evitar atritos nos lábios nas primeiras 24
horas;
• Para preenchimentos no nariz – manter o curativo por cinco dias.

TEMA 5 – INTERCORRÊNCIAS

As complicações no preenchimento podem ser mais graves se


comparadas a outros procedimentos estéticos, como a toxina botulínica.
As principais complicações são:

• Ativação do herpes – pessoas que possuem o vírus do herpes poderão


desencadear a sua ativação devido ao trauma realizado pela agulha ou
cânula. A ativação do vírus do herpes ocorre geralmente após os
procedimentos que agridem o tecido cutâneo. Se o paciente já
mencionar, na ficha de avaliação, a ocorrência dessa alteração, indica-
se a realização de uma profilaxia de cinco dias antes da realização do
procedimento (e mais cinco dias após o procedimento realizado), com
aciclovir 400 mg, três vezes ao dia, a fim de inibir a ativação do vírus.
Entretanto, se o profissional não detectar previamente essa ocorrência e
a ativação for efetivada, o tratamento para regressão deve ser
inicializado o quanto antes. Indica-se a mesma profilaxia: administrar
antivirais, como o aciclovir 400 mg, por sete dias, três vezes ao dia;
• Efeito Tyndall – é uma complicação geralmente observada a curto e
médio prazos. Manifesta-se como pápulas esbranquiçadas,
normocrômicas ou nódulos, podendo desencadear um efeito que é
denominado de tindalização, descrito em alusão ao efeito Tyndall,
devido à transparência da pele fina. Na pele ocorre uma alteração para
uma coloração azulada devido à deposição de hemossiderina após
lesão vascular, ocorrendo principalmente na região infraorbitária após
técnica de preenchimento. O resultado é observado a olho nu, sem ser
necessária a palpação para sentir o efeito. Essa complicação ocorre, na
maioria das vezes, por má técnica de aplicação, por meio de uma
infiltração muito superficial do AH, ou pela não realização do molde
corretamente. Para resolver essa complicação é utilizada uma enzima

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chamada de hialuronidase, ela tem como objetivo realizar a degradação
do ácido hialurônico. Em aproximadamente 72 horas os nódulos serão
degradados;
• Nódulos – são observados como uma complicação derivada de
preenchedores, que podem ser o ácido hialurônico, a hidroxiapatita de
cálcio e o ácido polilático. Nódulos podem ocorrer quando a distribuição
do produto não é realizada corretamente, quando o plano de aplicação é
muito superficial, ou ainda quando as massagens não são realizadas
como recomendado pelo profissional. Esses nódulos podem ser não
inflamatórios ou inflamatórios, e podem ser observados vários meses
depois.

Figura 6 – Nódulos

Créditos: L Julia/Shutterstock.

Os nódulos não inflamatórios podem ter uma resolução espontânea,


porém, caso isso não ocorra, é indicada a aplicação de soro fisiológico na
região, para diluir o produto, e, se necessário, realização de uma incisão com a
agulha 18 G, de modo a drenar o produto do local. No caso do ácido
hialurônico, a indicação é a injeção da enzima hialuronidase pontualmente para
sua degradação. Os nódulos inflamatórios, denominados também de
granulomas, são caracterizados dessa maneira pois apresentam eritema, dor,

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inchaço e sensibilidade, a diferença é a presença de um infiltrado inflamatório
na região. Precisam ser tratados empiricamente como infecção, sendo assim,
para reversão do quadro, o uso de antibiótico se faz necessário, sendo
indicada tetraciclina 500 mg, de 12 em 12 horas, e aplicação de corticoide no
local para atrofia do granuloma.

• ETIP – sigla para Edema Tardio Intermitente e Persistente, é uma


intercorrência tardia, na qual o paciente apresenta edema e dor na
região onde o preenchedor foi infiltrado. Para desencadear essa reação
algum gatilho precisa ocorrer no organismo do paciente, pois é uma
alteração relacionada à imunidade do paciente, então uma gripe,
infecções, sinusites, entre outros, podem ser o gatilho. A explicação para
isso é que quando nosso sistema imune é alterado os anticorpos
também atacam as regiões com preenchedores, na maioria das vezes
lábios e pálpebras inferiores devido a reações cruzadas
imunomediadoras. É uma intercorrência transitória, o preenchimento não
será comprometido. O tratamento é com corticoides orais e tópicos de 5
a 7 dias, os orais de 12 em 12 horas, os tópicos três vezes ao dia.
• Isquemia e necrose tecidual – essa é a complicação mais temida pelos
profissionais em casos de realização do preenchimento dérmico com o
ácido hialurônico, pelo fato de ser compatível e biodegradável. A
necrose é uma consequência da oclusão arterial ou emparedamento da
artéria, impedindo que o fluxo sanguíneo ocorra de forma eficaz. É
fundamental o profundo conhecimento da rede vascular facial,
especialmente ao tratar áreas com vasos sanguíneos terminais, como a
glabela, o nariz, nasogeniano e lábios, onde estão presentes as
principais artérias faciais, como a própria artéria facial, a artéria angular
ao longo do sulco nasolabial, nariz e glabela e a supratroclear. O plano
de aplicação interfere diretamente em possíveis oclusões, por exemplo,
a artéria facial torna-se superficial na região próxima à fossa canina,
portanto, nessa área, a injeção de preenchimento deve ser profunda, na
região supraperiosteal. O uso de agulhas também aumenta as chances
de penetração do lúmen vascular, causando uma obstrução arterial. O
indicado é a realização da técnica com o auxílio de cânulas com a ponta
romba, reduzindo (mas não eliminando) o risco de lesão vascular. É o

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caso de cicatrizes anteriores que estabilizam e fixam as artérias no
lugar, tornando-as mais fáceis de serem penetradas com agulhas.

Quando ocorre a obstrução ou compressão arterial, alguns sinais


começam a ser desencadeados e o profissional deve estar atento a eles:

• Branqueamento transitório: início entre segundos a minutos pós-


aplicação;
• Livedo ou hiperemia reativa: minutos após a obstrução;
• Descoloração preto-azulada: dez minutos a horas após a aplicação;
• Dormência na região;
• Dor aguda;
• Formação de bolhas: de horas a dias pós-procedimento;
• Necrose e ulceração cutâneas: dias a semanas pós-procedimento, se
não tratado previamente.

Para a prevenção desse tipo de complicação, indica-se o uso de


pequenos volumes e utilização de cânulas, como citado acima. A aspiração
prévia à infiltração também pode ser realizada. Quando a complicação já está
instalada, um percurso deve ser seguido de forma rápida, para reverter o
quadro o mais rápido possível.

• A primeira medida a ser tomada é a infiltração da enzima que realiza


degradação de ácido hialurônico – a hialuronidase. Ela é considerada a
espinha dorsal do tratamento de oclusões vasculares. A aplicação não
se faz apenas no ponto isquêmico, mas em toda a região, de forma
difusa, seguida de uma massagem vigorosa, para absorção e
degradação do preenchedor. A recomendação é de 200 – 500 UI de
hiluronidase a cada duas horas, até a volta da vascularização da região.
• A segunda medida a ser tomada é a utilização de compressa de água
morna para ajudar na vasodilatação da região (realizar a aplicação da
compressa a cada hora).
• A terceira medida é o início do uso de medicações, prescritas pelo
profissional, para auxiliar na reversão da obstrução. Nesse caso, é
indicado o uso de um vasodilatador, dessa forma ocorrerá a estimulação
da vasodilatação; anticoagulante, para evitar formação de coágulos
(uma vez ao dia por sete dias); e corticoide, tanto intramuscular quanto

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oral (no primeiro dia, tomar um comprimido de 20 mg e manter por mais
sete dias de 12 em 12 horas).

O uso de pasta de nitroglicerina também é uma opção que se destaca,


porém, sua venda não é permitida no Brasil.
Quando a ulceração já está instalada, outra medida eficaz é a realização
de sessões na câmara hiperbárica, de modo a reprimir a progressão da
necrose.

Figura 7 – Câmara hiperbárica

Créditos: Drazen Zigic/Shutterstock.

Estudos também mostram a utilização de sessões de ozonioterapia para


aumentar a oxigenação da região.

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Figura 8 – Ozonioterapia

Créditos: Burdun Iliya/Shutterstock.

O acompanhamento diário do paciente deve ser realizado por pelo


menos 48 horas. Caso a reversão não ocorra, o internamento do paciente para
administração de medicação endovenosa deve ser realizado o mais breve
possível.

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REFERÊNCIAS

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2017.

BRAZ, A. V. Atlas de anatomia e preenchimento global da face. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

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ácido hialurônico: recomendações de consenso do painel de especialistas da
América Latina. Surg. Cosmet. Dermatol., v. 9, n. 3, p. 204-213, 2017.
Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/2655/265553579002.pdf>. Acesso
em: 23 set. 2021.

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RIVITTI, E. A. Dermatologia de Sampaio e Rivitti. 4. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2014.

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procerures. Clin Plast Surg., v. 1, p. 109-120, 2001.

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São Paulo: Quin- tessence, 2017.

SOUTOR, C. Dermatologia clínica. Porto Alegre: AMGH, 2015.

VARGAS, A. F. Complicações tardias dos preenchimentos permanentes.


Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, ano 2009, v. 24, n. 1. Disponível em:
<http://www.rbcp.org.br/details/447/ complicacoes-tardias-dos-preenchimentos-
permanentes>. Acesso em: 23 set. 2021.

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