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Análise dos Elementos Narrativos

"Esaú e Jacó" é uma obra literária escrita pelo renomado autor brasileiro
Machado de Assis, publicada pela primeira vez em 1904. A história se passa no Rio
de Janeiro do século XIX e gira em torno dos gêmeos Pedro e Paulo, cujos nomes
fazem referência aos personagens bíblicos Esaú e Jacó, representando assim um jogo
de oposições e dualidades que percorre toda a narrativa. Vamos analisar os
principais elementos narrativos da obra:
1. Enredo: O enredo de "Esaú e Jacó" gira em torno da rivalidade entre
os gêmeos Pedro e Paulo, que simbolizam o conflito entre duas visões políticas no
Brasil da época: o conservadorismo e o liberalismo. A narrativa segue suas vidas
desde a infância até a maturidade, explorando seus embates ideológicos e pessoais.
2. Personagens: Além dos protagonistas, Pedro e Paulo, Machado de
Assis cria uma série de personagens secundários complexos que contribuem para o
desenvolvimento da história, como Natividade, a mãe dos gêmeos, e Flora, por
quem ambos os irmãos se apaixonam. Esses personagens são multifacetados e
revelam camadas de suas personalidades ao longo da trama.
3. Ambiente: O romance se passa no Rio de Janeiro do século XIX, e
Machado de Assis utiliza o ambiente da cidade como pano de fundo para a reflexão
sobre as transformações políticas e sociais do Brasil na época. Ele descreve
detalhadamente a sociedade carioca, suas instituições, os costumes da elite e os
eventos históricos que moldaram o país.
4. Tempo: A narrativa abrange um período de várias décadas,
acompanhando o amadurecimento dos personagens e os acontecimentos históricos
do Brasil. A passagem do tempo é um elemento fundamental na trama, pois reflete
as mudanças políticas e sociais que ocorrem no país.
5. Narrador: O narrador de "Esaú e Jacó" é uma figura onisciente, que
tem conhecimento total das motivações e pensamentos dos personagens. Esse
narrador omnisciente permite a Machado de Assis explorar a psicologia dos
personagens e revelar ironias e sutilezas na trama.
6. Estilo e Linguagem: A prosa de Machado de Assis é conhecida por
sua sofisticação e sutileza. Ele utiliza um estilo irônico e satírico para abordar
questões sociais e políticas, muitas vezes subvertendo as expectativas do leitor. Seu
uso da linguagem é preciso e repleto de jogos de palavras e trocadilhos.
7. Temas: Alguns dos temas centrais do livro incluem a rivalidade
fraternal, a busca pelo poder, a política, o amor e a influência da família e da
sociedade na formação das identidades individuais. Através da história dos gêmeos,
Machado de Assis examina as contradições e complexidades da sociedade brasileira
da época.
8. Simbolismo: Os nomes dos personagens, Pedro e Paulo, fazem
referência à Bíblia, onde Esaú e Jacó representam dois irmãos com destinos opostos.
Essa escolha de nomes é simbólica e reflete as divergências ideológicas e de
personalidade dos gêmeos na narrativa.
Em resumo, "Esaú e Jacó" é uma obra rica em elementos narrativos que
exploram não apenas a história dos personagens, mas também questões políticas e
sociais do Brasil do século XIX. A habilidade de Machado de Assis em criar
personagens complexos, utilizar a ironia e a sátira, e abordar temas universais torna
esse romance uma obra-prima da literatura brasileira e um retrato fascinante de sua
época.
Crítica Literária Histórica
"Esaú e Jacó" é uma obra icônica de Machado de Assis que merece uma
análise crítica profunda, tanto pelo seu impacto na literatura brasileira quanto pelo
seu conteúdo e abordagem de temas sociais e políticos. Vamos explorar alguns
aspectos da obra em uma crítica literária:
1. Alegoria Política e Social: Uma das características mais marcantes de
"Esaú e Jacó" é sua natureza alegórica. Os personagens principais, Pedro e Paulo,
representam as duas facções políticas em conflito no Brasil da época: o
conservadorismo e o liberalismo. Machado de Assis usa essa rivalidade política
como uma metáfora para examinar as tensões sociais e políticas do país no final do
século XIX. Através das ações e dilemas dos gêmeos, o autor oferece uma crítica
perspicaz das divisões ideológicas e das lutas pelo poder na sociedade brasileira.
2. Narrador Onisciente e Ironia: A voz narrativa onisciente de
Machado de Assis é uma ferramenta poderosa para aprofundar a análise dos
personagens e situações. O autor utiliza a ironia de forma magistral para expor as
contradições e hipocrisias de seus personagens e da sociedade em que vivem. Essa
ironia sutil é uma das características distintivas da escrita de Machado de Assis e
contribui para a complexidade da narrativa.
3. Personagens Complexos: Os personagens de "Esaú e Jacó" são
profundamente desenvolvidos e multifacetados. Pedro e Paulo, embora representem
posições políticas opostas, não são meros estereótipos, mas indivíduos complexos
com suas próprias motivações, dilemas e fraquezas. O retrato psicológico desses
personagens é uma das maiores conquistas da obra.
4. Sátira Social: Machado de Assis utiliza a sátira para criticar várias
instituições e aspectos da sociedade brasileira da época, incluindo a política, a
educação, a religião e a classe alta. Ele revela os absurdos e as contradições que
permeiam essas esferas da sociedade, usando um estilo literário que combina
sarcasmo e humor.
5. Temas Universais: Embora "Esaú e Jacó" seja profundamente
enraizado na realidade política e social do Brasil do século XIX, seus temas são
universais. A rivalidade entre irmãos, a busca pelo poder, o amor não correspondido
e a influência da família são temas que ressoam em todas as culturas e épocas,
tornando a obra relevante para leitores de diferentes contextos.
6. Estilo Literário e Estrutura Narrativa: Machado de Assis
demonstra grande maestria em sua escrita, com uma prosa elegante e envolvente.
Sua estrutura narrativa é cuidadosamente construída, com flashbacks e analepses que
enriquecem a história e oferecem perspectivas alternadas sobre os eventos.
7. Desfecho Enigmático: O final de "Esaú e Jacó" é notável por sua
ambiguidade e abertura à interpretação. Machado de Assis deixa questões em aberto,
convidando os leitores a refletir sobre o destino dos personagens e o futuro do
Brasil. Essa ambiguidade adiciona camadas adicionais à obra.
Em resumo, "Esaú e Jacó" é uma obra-prima literária que continua a ser
estudada e debatida pela sua riqueza temática, estilo literário sofisticado e sua
relevância histórica. Machado de Assis habilmente utiliza a narrativa para explorar
questões políticas e sociais complexas, enquanto ao mesmo tempo cria personagens
e situações que cativam os leitores. É uma contribuição valiosa para a literatura
brasileira e uma obra que mantém sua relevância ao longo do tempo.
Análise Sobre as Personagens
"Esaú e Jacó," de Machado de Assis, é uma obra que apresenta uma
variedade de personagens complexos e multifacetados. Vou realizar uma análise
mais profunda de alguns dos personagens principais e secundários da história:
1. Pedro e Paulo (Esaú e Jacó): Pedro é o irmão mais velho e representa
o conservadorismo na narrativa. Ele é descrito como uma pessoa firme em suas
crenças políticas e religiosas, resistente a mudanças e disposto a manter o status quo.
Pedro também é retratado como um personagem austero e metódico, que valoriza a
tradição e a ordem.
Paulo, o irmão mais novo, simboliza o liberalismo e a busca pela
modernização. Ele é um personagem mais volátil e adaptável, disposto a abraçar
novas ideias e mudanças sociais. Paulo é retratado como mais carismático e idealista
do que seu irmão mais velho, mas também é ambíguo em suas ações e motivações.
2. Natividade: A mãe dos gêmeos é uma figura central na história, e seu
nome sugere uma conexão com a ideia de nativismo, ou seja, o amor e a lealdade à
terra natal. Ela é uma mulher forte e determinada, que deseja ver seus filhos
reconciliados. Sua influência sobre os gêmeos é profunda, e ela representa o
elemento materno e afetivo da narrativa.
3. Flora: Flora é a figura feminina que desperta o amor nos gêmeos e,
assim, desempenha um papel fundamental na trama. Sua indecisão e ambiguidade
em relação aos irmãos refletem a própria indecisão do país em relação às mudanças
políticas. Ela representa a busca pelo amor e pelo afeto em meio às lutas ideológicas.
4. Palha: Palha é o amigo e confidente dos gêmeos, e sua lealdade a eles
é notável. Ele serve como um contraponto às complexidades políticas dos irmãos,
sendo um personagem mais simples e leal. Sua presença na narrativa ajuda a
destacar as tensões políticas e pessoais entre Pedro e Paulo.
5. Senador Cotrim: O Senador Cotrim é um personagem político
influente que desempenha um papel significativo na trama. Ele representa a velha
guarda política e mantém um relacionamento complexo com os gêmeos, alternando
entre apoiar e resistir a suas ideias políticas. Cotrim é um exemplo da política
pragmática e oportunista da época.
6. Padre Diogo: O Padre Diogo é um personagem religioso que desafia
as crenças conservadoras de Pedro e representa uma influência mais liberal e
intelectual. Ele simboliza o conflito entre a Igreja e as ideias políticas modernas.
7. Tio José: Tio José é um personagem mais velho da família e serve
como uma testemunha das transformações políticas e sociais que ocorrem ao longo
da narrativa. Ele representa a tradição e a resistência às mudanças.
8. Mirabeau: Mirabeau é um personagem enigmático e misterioso que
aparece ao longo da narrativa, representando um elemento disruptivo. Sua
verdadeira identidade e motivações são objeto de especulação e intriga.
Cada um desses personagens contribui para a riqueza e complexidade da
trama, representando diferentes perspectivas ideológicas e emocionais. Através
deles, Machado de Assis explora não apenas as tensões políticas da época, mas
também as complexidades das relações humanas e a influência das circunstâncias
históricas na formação dos indivíduos.
Contexto Simbólico
"Esaú e Jacó," de Machado de Assis, é uma obra repleta de simbolismo,
que contribui para enriquecer a profundidade da narrativa e a compreensão das
complexas questões abordadas. Aqui estão algumas das principais simbologias
presentes no livro:
1. Nomes dos Personagens: Os nomes dos personagens principais,
Pedro e Paulo, são simbólicos. Eles são uma referência direta aos personagens
bíblicos Esaú e Jacó, que representam irmãos com destinos e personalidades
opostas. Pedro (Esaú) simboliza o conservadorismo e a tradição, enquanto Paulo
(Jacó) representa o liberalismo e a mudança. Esses nomes refletem os conflitos
políticos e ideológicos do Brasil da época.
2. Espelho e Reflexo: O tema do espelho e do reflexo é recorrente na
obra. Reflete a dualidade dos personagens principais e a ideia de que Pedro e Paulo
são como reflexos um do outro, apesar de suas diferenças ideológicas. Essa
dualidade é representada pelo espelho, que reflete duas imagens distintas, mas
interligadas.
3. As Cores Verde e Vermelho: As cores verde e vermelha são usadas
simbolicamente ao longo da narrativa. O verde está associado ao conservadorismo e
à facção de Pedro, enquanto o vermelho está ligado ao liberalismo e à facção de
Paulo. Essas cores representam as ideologias políticas em conflito e são usadas para
destacar as divisões na sociedade.
4. Alegorias Políticas: A narrativa como um todo é uma alegoria das
lutas políticas e sociais do Brasil do século XIX. As personalidades e ações dos
personagens representam diferentes facções políticas e suas ideologias. Isso torna a
história uma alegoria poderosa das mudanças políticas e sociais em curso no país na
época.
5. O Espírito da Época: Machado de Assis usa os personagens e
eventos para representar o espírito da época em que a história se passa. Os
personagens não são apenas indivíduos, mas também representam tipos sociais e
políticos que eram comuns na sociedade brasileira da época.
6. A Mulher como Símbolo de Unidade e Divisão: Flora, o interesse
amoroso dos gêmeos, é um símbolo de unidade e divisão. Sua indecisão em relação
aos irmãos reflete a indecisão do país em relação ao futuro político. Ela também
representa a busca pelo amor e pelo afeto em meio às lutas ideológicas.
7. O Leopardo: O leopardo é um símbolo que aparece várias vezes na
obra. Ele é usado para representar a imprevisibilidade e a instabilidade política no
Brasil. Assim como o leopardo não muda suas manchas, as facções políticas dos
gêmeos são retratadas como sendo inerentes à sua natureza.
8. O Teatro e a Encenação: O teatro e a encenação são temas
recorrentes na narrativa. Eles simbolizam a política como um jogo de aparências,
onde os personagens desempenham papéis e encenam suas intenções. Isso destaca a
ideia de que a política é muitas vezes uma forma de teatro, onde as verdadeiras
motivações podem estar ocultas.
Esses são apenas alguns exemplos do simbolismo complexo presente em
"Esaú e Jacó". Machado de Assis usa esses símbolos para enriquecer a narrativa e
transmitir suas mensagens sobre política, sociedade e as complexidades das relações
humanas.
Sofisticação de Machado de Assis
Analise a sofisticação de Machado de Assis no livro Esaú e Jacó
A sofisticação literária de Machado de Assis é amplamente evidente em
"Esaú e Jacó", tanto em termos de estilo quanto de abordagem narrativa. Aqui estão
algumas maneiras pelas quais Machado demonstra sua sofisticação nesta obra:
1. Narrador Onisciente e Irônico: Machado de Assis utiliza um
narrador onisciente que tem conhecimento completo dos pensamentos e motivações
dos personagens. Esse narrador onisciente permite que ele revele ironias sutis e
complexidades nas ações e nas palavras dos personagens. A ironia é uma marca
registrada de Machado, e ela está presente em toda a narrativa, frequentemente
desafiando as expectativas do leitor.
2. Jogos de Palavras e Trocadilhos: Machado de Assis é conhecido por
sua habilidade em criar jogos de palavras e trocadilhos. Ele usa esse recurso de
forma aprofundada em "Esaú e Jacó", criando diálogos e situações em que o
significado das palavras e das frases é ambíguo ou duplo. Isso adiciona camadas de
significado à história e estimula o pensamento crítico do leitor.
3. Complexidade dos Personagens: Os personagens de Machado de
Assis são notáveis por sua complexidade psicológica. Em "Esaú e Jacó", ele
mergulha profundamente nas mentes e motivações dos gêmeos Pedro e Paulo, assim
como dos personagens secundários. Ele examina suas crenças, desejos, fraquezas e
conflitos internos com detalhes minuciosos, tornando-os indivíduos vívidos e
tridimensionais.
4. Alegoria Política e Social: Machado usa a história dos gêmeos Pedro
e Paulo como uma alegoria para as lutas políticas e sociais do Brasil do século XIX.
Essa abordagem simbólica e aprofundada exige que o leitor pense criticamente sobre
as implicações políticas e sociais da narrativa, elevando-a a um nível mais
sofisticado.
5. Intertextualidade e Referências Culturais: Machado frequentemente
faz referências a outros autores, obras literárias e eventos históricos. Ele incorpora
elementos da cultura clássica e da literatura estrangeira em sua escrita, adicionando
camadas de significado para leitores familiarizados com essas referências. Essa
intertextualidade enriquece a experiência de leitura para aqueles que têm
conhecimento prévio dessas influências.
6. Diálogo com o Leitor: Machado quebra a "quarta parede" em várias
ocasiões, direcionando-se diretamente ao leitor e comentando sobre a narrativa. Isso
cria uma interação sofisticada entre autor e leitor, desafiando as convenções
literárias tradicionais e convidando o leitor a refletir sobre o processo de leitura e
interpretação.
7. Estrutura Narrativa Complexa: A estrutura narrativa de "Esaú e
Jacó" não é linear. Machado usa flashbacks, analepses e uma cronologia não
convencional para contar a história. Essa complexidade na estrutura narrativa exige
um leitor atento que seja capaz de acompanhar os eventos e as relações temporais.
Em resumo, "Esaú e Jacó" é uma obra que reflete a maestria literária de
Machado de Assis em sua forma mais sofisticada. Sua escrita irônica, sua
complexidade na construção de personagens, sua abordagem alegórica e suas
técnicas literárias inovadoras fazem da obra um exemplo notável da literatura
brasileira e da capacidade de Machado de Assis de desafiar e enriquecer o
pensamento do leitor.
A Ironia na Obra
A ironia é uma característica marcante da escrita de Machado de Assis, e
em "Esaú e Jacó" ela é utilizada de maneira sutil e profunda para comentar sobre a
sociedade, a política e a natureza humana. Aqui estão algumas das principais
manifestações de ironia na obra:
1. Ironia Narrativa: Machado frequentemente utiliza a voz do narrador
para expressar sua visão irônica do mundo retratado na história. O narrador
onisciente comenta sobre os personagens e eventos de maneira perspicaz, revelando
contradições e hipocrisias de forma indireta. Por exemplo, quando descreve as ações
de Pedro e Paulo, o narrador muitas vezes destaca a discrepância entre suas palavras
e ações, deixando implícita a ironia da situação.
2. Ironia na Construção dos Personagens: Os personagens em "Esaú e
Jacó" são frequentemente retratados com camadas de ironia. Pedro, por exemplo, é
descrito como firme em suas crenças conservadoras, mas suas ações revelam
contradições em relação a essas crenças. Paulo, o irmão liberal, também não está
imune à ironia do autor, especialmente em momentos em que suas ações não estão
alinhadas com seus ideais.
3. Ironia Política: A obra como um todo é uma alegoria das tensões
políticas do Brasil do século XIX. A rivalidade entre os irmãos gêmeos, que
representam facções políticas opostas, é permeada por ironia. O narrador destaca a
superficialidade das crenças políticas dos personagens, sugerindo que suas
motivações são muitas vezes egoístas ou movidas por interesses pessoais.
4. Ironia nos Diálogos: Os diálogos entre os personagens
frequentemente contêm ironia. Eles podem dizer uma coisa, mas o narrador revela o
oposto por meio de suas ações ou pensamentos. Isso cria uma tensão irônica entre o
que os personagens afirmam e o que realmente fazem, enfatizando a natureza
complexa e contraditória da condição humana.
5. Ironia na Reversão de Expectativas: Machado de Assis
frequentemente subverte as expectativas do leitor de maneira irônica. Por exemplo,
eventos que parecem ter grandes consequências podem ser resolvidos de forma
anticlimática, enquanto detalhes aparentemente insignificantes podem revelar-se
cruciais para o enredo. Essa inversão de expectativas cria um senso de ironia e
humor na narrativa.
6. Autoironia do Autor: Machado de Assis também inclui autoironia em
sua obra. Ele se autodeprecia e faz comentários irônicos sobre sua própria escrita e
sobre o ato de escrever. Isso cria uma relação especial entre o autor e o leitor, à
medida que ambos compartilham da compreensão irônica das complexidades da
vida e da literatura.
Em resumo, a ironia desempenha um papel fundamental na narrativa de
"Esaú e Jacó" de Machado de Assis, servindo como uma ferramenta através da qual
o autor comenta sobre a sociedade, a política e a natureza humana. Através da ironia,
ele revela as contradições e ambiguidades presentes em seus personagens e na
cultura de sua época, desafiando as expectativas do leitor e convidando-o a refletir
criticamente sobre os temas abordados na obra.
A Ambientação e o Espaço
A ambientação e o espaço em "Esaú e Jacó" desempenham um papel
significativo na narrativa de Machado de Assis, contribuindo para o contexto
histórico e social da história, bem como para o desenvolvimento dos personagens e a
exploração de temas políticos. Vamos analisar mais profundamente esses aspectos:
1. Rio de Janeiro do Século XIX: A história se passa no Rio de Janeiro
do século XIX, um período de importantes transformações políticas e sociais no
Brasil. O Rio de Janeiro é retratado como um ambiente vibrante e dinâmico,
refletindo as mudanças que estão ocorrendo no país, como a abolição da escravatura
e a proclamação da República.
2. Cenário Político e Social: O espaço do Rio de Janeiro é usado por
Machado de Assis como um microcosmo da sociedade brasileira da época. Ele
explora os espaços sociais, como a alta sociedade carioca, os círculos políticos e
intelectuais, e a influência da Igreja Católica. Cada um desses espaços desempenha
um papel na formação das ideologias e na política dos personagens.
3. Residência dos Gêmeos: A residência dos gêmeos Pedro e Paulo é
um espaço simbólico. Ela representa a divisão dentro da família e a dualidade das
crenças políticas. A casa é frequentemente cenário de debates ideológicos
acalorados, refletindo as tensões políticas da época.
4. Café: O Café Guanabara é um espaço de encontro frequente para os
personagens e um local onde discussões políticas e sociais ocorrem. É um símbolo
da vida social da alta classe carioca e do intercâmbio de ideias da época.
5. Igreja e Religião: A Igreja Católica desempenha um papel importante
na história, e seus espaços, como a igreja e a casa do padre Diogo, são usados para
explorar o conflito entre a religião e a política. A igreja também é um espaço onde
personagens expressam suas crenças e dilemas éticos.
6. Espaços Públicos e Políticos: O Rio de Janeiro do século XIX é
apresentado como um espaço público e político efervescente. Ele inclui espaços
como a praça pública, onde ocorrem manifestações políticas, e a câmara dos
deputados, onde os personagens estão envolvidos na política.
7. Casas de Campo: As casas de campo dos personagens representam
um escape da agitação da cidade e servem como cenário para eventos importantes na
narrativa. São espaços de reflexão e revelação, onde os personagens podem se
distanciar das questões políticas e pessoais.
8. Cemitério: O cemitério é um espaço que simboliza a mortalidade e a
passagem do tempo. É também um local de reflexão sobre a história e a família dos
gêmeos, onde eventos importantes ocorrem ao longo da narrativa.
Em suma, a ambientação e o espaço desempenham papéis cruciais na
construção da atmosfera e na exploração dos temas de "Esaú e Jacó". Machado de
Assis usa esses espaços de maneira simbólica para refletir as mudanças políticas e
sociais do Brasil do século XIX, bem como para criar cenários que ressaltam os
conflitos ideológicos e pessoais dos personagens. Cada ambiente é cuidadosamente
escolhido para contribuir para a complexidade da narrativa e para a compreensão
mais profunda das questões abordadas na obra.
Análise Literária Ideológica de Flora
Flora é um personagem complexo em "Esaú e Jacó" de Machado de
Assis, e sua análise ideológica revela a maneira como ela representa conflitos e
questões políticas, sociais e emocionais na narrativa. Aqui está uma análise literária
ideológica de Flora:
1. Objeto de Desejo e Dualidade: Flora é apresentada como o objeto de
desejo de Pedro e Paulo, os gêmeos protagonistas que representam facções políticas
opostas. Ela personifica a dualidade ideológica que permeia a narrativa, tornando-se
um símbolo das tensões políticas do Brasil do século XIX. Sua dualidade se reflete
na indecisão sobre qual dos irmãos escolher, espelhando a indecisão ideológica que
a nação enfrenta.
2. Influência da Família e Sociedade: Flora é influenciada pelas
expectativas da sociedade e da família em relação a sua escolha amorosa. A pressão
exercida sobre ela reflete a influência da sociedade e das instituições na formação
das identidades individuais e nas decisões pessoais. Isso também demonstra a
maneira como a política e a sociedade afetam as relações pessoais.
3. Indecisão e Ambiguidade: A indecisão de Flora ao escolher entre
Pedro e Paulo é uma característica importante de sua personagem. Essa indecisão
não se limita apenas à escolha amorosa, mas também se estende às suas próprias
crenças e convicções políticas. Ela é ambígua em suas ações e motivações,
refletindo a incerteza política da época.
4. Conflito Entre o Indivíduo e a Sociedade: A luta de Flora para
encontrar seu próprio caminho entre as expectativas familiares e sociais e seu desejo
pessoal por amor é um tema ideológico relevante. Ela representa o conflito entre o
indivíduo e a sociedade, destacando como as pressões externas podem moldar as
escolhas e as identidades das pessoas.
5. Metáfora para a Nação: Flora pode ser vista como uma metáfora
para a nação brasileira em transição. Assim como o Brasil estava passando por
mudanças políticas e ideológicas, Flora está em um estado de transição e indecisão.
Sua escolha entre os gêmeos pode ser vista como uma representação do futuro
incerto do país.
5. Alegoria Política e Social: Flora também é uma parte integral da
alegoria política e social da obra. Sua indecisão e as circunstâncias que a cercam
refletem as incertezas e os dilemas enfrentados pela sociedade brasileira durante um
período de mudança política e social.
Em resumo, Flora é um personagem que vai além de seu papel como
interesse amoroso dos gêmeos protagonistas em "Esaú e Jacó". Ela personifica as
complexidades ideológicas e emocionais da narrativa, representando a indecisão, a
dualidade e as pressões sociais e políticas que permeiam a obra. Através de Flora,
Machado de Assis examina questões mais amplas relacionadas à identidade, escolha
individual e a influência da sociedade e da política sobre as decisões e a vida das
pessoas.

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