Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2.1 A obra
Esse trecho sugere que as ideias de Conceição, são vistas como estranhas
e absurdas por sua avó. A personagem é caracterizada como alguém que pensa
de forma independente, vivendo de maneira isolada e desenvolvendo suas
próprias ideias e preconceitos, que podem ser considerados peculiares e
marcados por sua perspectiva única.
Outra autora modernista relevante, que também contribuiu para a
representação da figura feminina, é Clarice Lispector. Em sua obra "Perto do
Coração Selvagem" (1943), Lispector explora a subjetividade feminina de maneira
inovadora, utilizando uma prosa introspectiva e desconstruindo as convenções
narrativas convencionais. Seus retratos de mulheres rompem com as expectativas
tradicionais, oferecendo uma visão mais complexa e rica das experiências
femininas. Clarice Lispector apresenta uma protagonista, Joana, que desafia os
estereótipos convencionais das mulheres na literatura da época. Joana é uma
personagem complexa, profunda e introspectiva, cuja narrativa incorpora
elementos de stream of consciousness1.
A abordagem de Clarice Lispector em "Perto do Coração Selvagem" reflete
uma investigação profunda da psique feminina e uma exploração da liberdade
interior da mulher. Joana não se encaixa em padrões preestabelecidos de
comportamento feminino e é apresentada como alguém que busca compreender
a complexidade de sua própria existência.
É importante ressaltar que as autoras modernistas, de maneira geral,
buscavam ampliar a representação das mulheres na literatura, dando voz a suas
experiências, anseios e desafios. Elas desafiaram a visão estereotipada da
mulher como mero objeto passivo e exploraram narrativas que refletiam as
transformações em curso na sociedade brasileira do período. Ao fazê-lo,
contribuíram significativamente para uma nova compreensão e apreciação da
figura feminina na literatura e na cultura brasileira.
Em se tratando sobre a representação da figura feminina no pós-
modernismo brasileiro é marcada por uma rica diversidade de vozes que
desafiam as convenções narrativas tradicionais, explorando a multiplicidade de
experiências das mulheres em um contexto cultural específico. Autoras do pós-
modernismo no Brasil têm contribuído para a literatura contemporânea com
narrativas inovadoras e perspectivas que transcendem as fronteiras
convencionais.
Uma figura central nesse movimento é Hilda Hilst, cuja obra abrange
diversos gêneros literários, incluindo poesia, prosa e teatro. Em obras como "A
Obscena Senhora D" (1982), Hilst explora a sexualidade feminina e questiona as
normas sociais, desafiando o patriarcado por meio de uma linguagem provocativa
e experimental.
Ainda sobre a autoras de suma importância no pós-modernismo, pode-se
destacar a escritora Lygia Fagundes Telles, embora tenha iniciado sua carreira
literária antes do pós-modernismo, continuou a produzir obras significativas nesse
período. Em romances como "As Meninas" (1973), Lygia explora a subjetividade
feminina e a complexidade das relações interpessoais, incorporando elementos
de vanguarda à sua narrativa.
1
Fluxo de consciência, técnica literária utilizada primeiramente por Édouard Dujardin em 1888
que explora os pensamentos e emoções do personagem de forma contínua e sem interrupções.
A partir da década de 1960, o feminismo desempenhou um papel
importante na evolução da representação feminina na literatura brasileira, autoras
como Júlia Lopes de Almeida abordaram questões de gênero e poder em suas
obras, a exemplo temos a obra “A intrusa”, este romance de Julia Lopes de
Almeida apresenta uma história envolvente sobre uma mulher, Marina, que busca
um lugar na sociedade carioca do início do século XX. O livro destaca questões
de classe, gênero e a busca por identidade feminina em uma época de mudanças
sociais. A literatura feminista também começou a ganhar destaque, com autoras
como Conceição Evaristo que em sua obra “Ponciá Vicêncio” aborda a vida de
Ponciá Vicêncio, uma mulher negra que enfrenta os desafios do racismo e da
busca por identidade e a autora Carolina Maria de Jesus, ambas deram voz às
experiências das mulheres negras e pobres.
Essas personagens femininas apresentam uma força e resistência notáveis ao
confrontar os desafios impostos pela sociedade. Em vez de retratar mulheres
como figuras passivas e submissas, tais autoras supracitadas, inovam ao dar voz
a personagens que enfrentam ativamente as adversidades, desafiando assim
estereótipos arraigados.
Dessa forma, a literatura continua a ser uma poderosa ferramenta para
explorar as complexidades da experiência feminina em diferentes contextos
culturais e históricos. A representação da figura feminina na literatura brasileira é
um tema complexo e multifacetado, que evoluiu ao longo do tempo em resposta
às mudanças sociais, políticas e culturais.
Diante disso, pode-se observar que a atuação da mulher na literatura
brasileira tem evoluído significativamente ao longo do tempo, refletindo as
mudanças na sociedade e nas concepções de gênero. Hoje, a literatura brasileira
é rica em uma variedade de vozes femininas, cada uma trazendo uma perspectiva
única e valiosa para o cânone literário do país. A representação da mulher na
literatura ao longo da história mundial reflete a evolução das concepções de
gênero, papéis sociais e poder nas diferentes culturas.
2
Refere-se a um sistema social em que o poder e a autoridade são predominantemente
exercidos pelos homens, com uma estrutura hierárquica que favorece a liderança masculina.
Por meio de uma análise minuciosa do texto e de sua relação com o
contexto histórico e literário em que foi produzido, o trabalho contribui para uma
compreensão mais profunda da obra e de sua importância na literatura brasileira.
Além disso, a discussão sobre a figura feminina na narrativa pode trazer reflexões
relevantes sobre questões como a subjetividade na escrita e na leitura, a
veracidade dos relatos e a construção da identidade, além de ser um excelente
material de apoio para estudantes do curso de Letras, assim como também
pesquisadores da área.
Inserido em um contexto de constantes mudanças e desafios na área de
estudos literários, este trabalho propõe-se a investigar a representação da figura
feminina no século XIX, com foco na análise da obra 'Dom Casmurro' de Machado
de Assis. Diante da rápida evolução das discussões sobre gênero e das
transformações sociais e culturais da época, torna-se imperativo compreender de
que maneira a figura feminina é delineada e influencia as dinâmicas sociais e
literárias do século XIX.
Contudo, ao realizar uma revisão crítica da literatura, identificamos uma
lacuna significativa no entendimento da representação específica da figura
feminina em obras literárias desse período, com enfoque particular na análise
detida de personagens femininas e em suas interações com o contexto
sociocultural da época. Essa lacuna representa não apenas uma oportunidade
para contribuições originais nesta área, mas também ressalta a urgência de uma
pesquisa que esclareça, explore e proponha soluções para o entendimento mais
profundo da construção narrativa e social da figura feminina em obras literárias do
século XIX, especialmente em 'Dom Casmurro'.
A formulação da pergunta central deste estudo – Como a figura feminina é
representada no conto Dom Casmurro de Machado de Assis e como o fato do
autor ser um homem influencia na forma como o personagem principal interpreta
fatos isolados? – Servirá como guia para explorar e responder de maneira
abrangente e aprofundada a esse problema, buscando não apenas ampliar o
conhecimento acadêmico sobre a representação feminina, mas também fornecer
insights valiosos para aplicações práticas no campo da análise literária e cultural.