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246ouvrer
Professor Autor
Lourival Pereira Pinto
Design Instrucional
Deyvid Souza Nascimento
Maria de Fátima Duarte Angeiras
Renata Marques de Otero
Terezinha Mônica Sinício Beltrão
Diagramação
Izabela Cavalcanti
Coordenação
Hugo Carlos Cavalcanti
Coordenação Executiva
George Bento Catunda
Coordenação Geral
Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra
P659r
Pinto, Lourival Pereira.
Representação Temática: Curso Técnico em
Biblioteconomia: Educação a distância / Lourival Pereira
Pinto. – Recife: Secretaria Estadual de Pernambuco, 2017.
49 p. : il.
CDU – 025
Sumário
Introdução ........................................................................................................................................ 6
2.4 Síntese.................................................................................................................................................26
Conclusão ........................................................................................................................................ 47
Referências ..................................................................................................................................... 48
5
Introdução
Comecei por essa breve introdução porque o fundamento básico desta disciplina será a
representação. Estamos, mesmo que inconscientemente, representando as coisas e uma das
atividades associadas à representação é a atividade de classificar.
O QUE É CLASSIFICAR?
Classificar é conhecer, é separar por grupos ou classes, é atribuir a cada coisa uma relação com as
outras e também um lugar no mundo. O ser humano é um classificador por natureza, porque desde
que temos consciência de nosso espaço, já estabelecemos uma conexão com pessoas e coisas que
estão ao nosso redor. O ato de classificar talvez seja uma ação inconsciente de dar sentido ao nosso
mundo, de organizar, no mundo presente, nosso lugar e nossos significados. Somos seres de
significados e conscientemente, ou não, sabemos que sem relação não há significação, por isso,
6
enquanto vivemos tentamos construir uma rede de relações e significados, para que nossa
existência tenha sentido dentro de uma lógica de organização, mesmo que básica. Essa organização
pode ser notada em realizações dentro da esfera humana, tais como a preservação das nossas
memórias, construção de genealogias, registros de documentos, relações de parentesco, busca de
compreensão das nossas proximidades e distanciamentos com as pessoas, as coisas e o próprio
universo. Todas as tentativas de organização sempre tentam responder às questões básicas da
humanidade, questões que possam dar sentido à nossa existência. Dou aqui dois exemplos, embora
nem sempre exemplos sejam claros para todos. Pergunte-se: Quem sou eu? De onde vim? Alguém
poderia defender que são perguntas retóricas (ou metafísicas), mas, no fundo, sabemos que essas
questões sempre nos incomodaram. E o que fazemos para respondê-las? Tentamos nos organizar,
criar uma relação com as pessoas e as coisas para que essa relação possa fazer sentido, daí nossos
laços familiares, nossas memórias registradas, nossas genealogias, nossas rotinas, nossos mundos
relacionados e repletos de sentidos. Alguns de vocês já devem ter ouvido a expressão o tio do
macaco (em inglês monkey's uncle), que, entre outros significados, também faz referência à
necessidade humana de relações de parentesco. Os macacos e todos os animais, não sabem quem
são seus tios, avôs, primos, eles não sentem uma necessidade imediata de construir relações e
significados. Mas nós temos essa necessidade e tentamos supri-la.
Esse fenômeno pode ser percebido também, desde sempre, nas nossas vidas cotidianas. Em todas
as nossas organizações cotidianas trabalhamos sempre com as semelhanças e diferenças dos
fenômenos a nós apresentados. Exemplos: organizamos nossos guarda-roupas por semelhanças e
diferenças de roupas e calçados; quando vamos ao mercado vemos os produtos disponibilizados
por semelhanças e diferenças. Classificar é organizar o mundo por semelhanças e diferenças para
que as coisas possam fazer sentido para nós e que, assim, sejam compreendidas.
Nesta disciplina vamos falar de classificações bibliográficas, que são as classificações de acervos de
bibliotecas. Veremos que sem elas as bibliotecas e os acervos não podem ser compreendidos.
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utilizados em bibliotecas, que são a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal
Universal (CDU).
Meu desejo é que nossa convivência seja rica em trocas de experiências e que criemos coisas boas
para as bibliotecas e para as pessoas.
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Competência 01
O homem sempre procurou compreender o mundo em que vive. Por essa razão, ele recorreu
primeiramente às classificações, porque classificando e ordenando as coisas desse mundo poderiam
fazer sentido a ele. Então, sendo assim, surgiram as primeiras classificações, que são conhecidas
como classificações filosóficas.
Conforme o conhecimento humano foi sendo ampliado e registrado, as bibliotecas, que foram os
primeiros repositórios de informação, foram também se ampliando, porque elas sempre
armazenaram o conhecimento registrado em livros e documentos.
A solução foi recorrer às classificações filosóficas e aplicá-las nas bibliotecas. Surgiram, então, as
classificações bibliográficas.
9
Competência 01
Na biblioteca existem acervos (ou coleções, que são os livros, periódicos, audiovisuais, mapa, e
outros documentos). Pois bem, depois de formar uma coleção, a biblioteca deve iniciar o que
chamamos de processamento técnico.
Quando classificamos um documento por meio dos seus assuntos (ou temas) estamos
procedendo a uma representação do documento a partir dos seus temas. Em outras
palavras, determinado documento será representado por seus temas principais. Por essa
razão, esta disciplina chama-se REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA.
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Competência 01
De acordo com Ranganathan, classificar consiste em traduzir o nome dos assuntos dos
documentos da linguagem natural para a linguagem artificial pelos sistemas de
classificação bibliográfica. Assim, entendemos que a classificação constitui uma das fases
fundamentais do pensar humano.
Ranganathan foi um bibliotecário indiano que criou, nos anos 1930, um sistema de
classificação chamado de Cólon Classification, ou Classificação de Dois Pontos.
Linguagens artificiais são criadas por seres humanos e usadas para comunicação com as
máquinas, entre máquinas, e entre seres humanos. Exemplos: as linguagens de programação
e o Esperanto.
Um sistema de classificação também pode ser chamado de tabela de classificação. Aqui adotaremos
o termo Sistema de Classificação. Na Biblioteconomia um sistema de classificação é um conjunto de
11
Competência 01
classes apresentado em ordem sistemática e inclui disciplinas e fenômenos. Para entender melhor
os seus conceitos, vejam o quadro a seguir:
Fenômeno é tudo aquilo que é percebido pela consciência e pelos sentidos e tudo o que se
observa. São coisas, ações, reações, ideias, com duas características, chamadas de
entidades concretas e abstratas. Exemplos:
Espero que esteja claro até aqui. Agora vamos falar um pouco sobre categorias. Todo sistema de
classificação é fundamentado em CATEGORIAS, que são os elementos ou classes em que podemos
ordenar as coisas. Assim, afirmamos que não é possível classificar sem antes categorizar as coisas.
Os princípios da classificação foram estabelecidos por Aristóteles (384-322 a.C.). Ele deu o nome de
categorias às classes gerais em que podemos /ordenar as ideias das coisas e que constituem dez
essências mais gerais. As categorias são os grandes tipos de fenômenos presentes no conhecimento
em geral ou numa de suas partes.
Para entender melhor: as categorias são constituídas por fenômenos e apontam para as grandes
classes (disciplinas). Cada categoria pode ser considerada como uma faceta do elemento a ser
classificado. Vejam abaixo as dez essências mais gerais estabelecidas por Aristóteles. Em parênteses
estão alguns exemplos da categoria:
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Competência 01
De acordo com Aristóteles, a SUBSTÂNCIA é a categoria básica. Assim, se algum documento tiver
como assunto principal CAVALO, essa categoria (substância) deve apontar para alguma disciplina
(ou classe) em que ele pode ser enquadrado. O cavalo pode estar dentro da classe ZOOLOGIA
(cavalos selvagens) ou ESPORTES (para hipismo) ou AGRICULTURA (criação de animais).
Vocês devem lembrar-se de que já falamos de Ranganathan. Pois bem, ele “reduziu” a quantidade
de essências. A partir das dez de Aristóteles, ele estabeleceu cinco categorias, que chamou de
PMEST, a sigla de Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo. Vejam na tabela o conceito de
cada uma delas:
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Competência 01
Vamos agora discorrer, brevemente, sobre a história das classificações bibliográficas mais
conhecidas no mundo.
Antes da era cristã, existia uma biblioteca conhecida como Biblioteca de Assurbanipal, que foi rei da
Assíria, entre 669 e 626 a.C. Nessa biblioteca o acervo era formado por tabletes de argila e estavam
classificados por dois grandes grupos: Ciências da Terra e Ciências do Céu.
Vocês já devem ter ouvido falar da Biblioteca de Alexandria. Pois bem, entre 260-240 antes da era
cristã, o bibliotecário de Alexandria foi Calímacus e, para classificar os papiros que compunham o
acervo, ele criou o catálogo conhecido como Pinakes. Nesse catálogo os livros apareciam divididos
segundo o tipo de escritores, como apresentamos a seguir:
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Competência 01
Pouco se sabe sobre a organização das bibliotecas gregas e romanas. Quanto às bibliotecas
medievais, elas mantinham os livros ordenados por tamanho ou em ordem alfabética pelo nome
dos autores ou ainda em ordem cronológica.
Naquele tempo, os livros eram manuscritos e feitos de couro, conhecidos como pergaminhos.
Alguns ainda existiam em formato de rolos, como os papiros, e outros eram encadernados,
chamados de códices.
Agora, vejam esta tabela com uma linha do tempo, com os sistemas de classificações bibliográficas
do mundo moderno e contemporâneo e seus respectivos autores:
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Competência 01
1498: Aldo Manutius, editor veneziano publicou um catálogo intitulado Libri Graeci Impressi.
Empregou uma classificação rudimentar, dividindo-o em: Gramática, Poesia, Lógica, Filosofia,
Escrituras Sagradas.
1548: O suíço Konrad Von Gesner, publicou a Bibliotheca Universalis, uma bibliografia universal.
1876: A Classification and Subject Index for Cataloguing and Arranging of Books and Pamphets
of a Library. Inspirou-se na divisão do conhecimento humano, de William Torrey Harris, utilizada
na biblioteca da escola pública de St. Louis (EUA), desde 1870. Que por sua vez se inspirou em
FRANCIS BACON. Esta é a que se tornou a Classificação Decimal de Dewey (CDD). Falaremos
mais detalhadamente sobre esta classificação na terceira competência.
1905: Classificação Decimal Universal (CDU). Falaremos mais detalhadamente sobre esta
classificação na quarta competência.
1906: o britânico James Duff Brown, célebre pela introdução do livre acesso às estantes nas
bibliotecas inglesas, publica a Subject Classification.
16
Competência 01
posteriores.
“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de
recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma
aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se
precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo
era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar
com o dedo. Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua
tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos
inventos.”
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Competência 02
Agora vamos falar um pouco sobre como vocês devem classificar um documento. Para classificar
devemos conhecer alguns conceitos de leitura para classificação e também algumas estratégias
para conseguir um bom resultado no trabalho de classificação bibliográfica.
Livros de 20 centímetros.
Livros de 40 centímetros.
Livros azuis.
Livros amarelos.
Livros em inglês.
Livros em alemão.
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Competência 02
Pois bem, quando vocês fazem a leitura de um documento para descobrir os assuntos principais,
vocês estão realizando um uma leitura documentária, que é uma espécie de leitura técnica para
descobrir os assuntos que representam um documento. A seguir, vamos falar um pouco sobre
assuntos.
2.1 Assuntos
Por enquanto, para facilitar o entendimento, vamos pensar apenas em assuntos simples. Na tabela
a seguir, vocês poderão ver três exemplos de classificação, a partir de assuntos simples.
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Competência 02
O emprego de uma característica deve ser exaustivo e consistente. Isso quer dizer que numa
classificação todos os assuntos possíveis devem ser listados, tanto os principais como os
secundários.
Além disso, é bom que cada característica seja subdividida em todas as suas possíveis hierarquias.
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Competência 02
Vejam nos exemplos a seguir as subdivisões lógicas. A primeira baseada na geografia dos países e a
segunda baseada na sequência educacional do Ministério da Educação do Brasil:
História da África
(Uganda, Angola, Moçambique, Egito, etc.)
Ensino Fundamental
Livros de Educação Ensino Médio
Ensino Superior
Dica importante: a maioria dos livros didáticos pode ser classificada a partir do título, porque
normalmente o título já é o próprio assunto principal.
Com base nos exemplos dados acima, façam a seguinte atividade: Imaginem que vocês
trabalhem numa biblioteca escolar que contenha livros didáticos do ensino fundamental e
médio. Para classificar os livros de História Geral dessa coleção, você deve escolher uma
característica para estabelecer como assunto principal e, a partir daí, organizar sua biblioteca.
Qual característica você escolheria como principal? O assunto História? Ou a sequência de
aprendizagem (ensino fundamental e médio)?
Justifique sua escolha.
As classificações obedecem sempre a uma relação, que pode ser vertical (hierarquia) ou horizontal
21
Competência 02
(do mesmo nível). Alguns especialistas chamam as classificações de linguagens hierárquicas, porém
essa conceituação reduz a complexidade dos sistemas, que também são horizontais, mesmo que
sempre estejam sujeitas a uma relação hierárquica. As relações verticais podem ser compreendidas
na DIVISÃO EM CADEIA, que é uma linha de classes, geradas por subdivisões sucessivas, que se
movem passo a passo de um assunto geral para um assunto específico. Vejam o exemplo a seguir:
Todo sistema de classificação obedece a uma ordem, que chamamos de ordem de citação. A ordem
de citação determina a sequência em que serão citados os vários conceitos presentes nos assuntos.
As primeiras preocupações dos bibliotecários com a ordem de citação surgiram nos cabeçalhos de
assunto.
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Competência 02
A ordem de citação define a ordem em que assuntos e outras características serão citados numa
classificação bibliográfica. Por exemplo, na atividade anterior, quando vocês definiram qual
característica viria primeiro (História ou sequência de aprendizagem) vocês estabeleceram uma
ordem de citação. Pois bem, normalmente uma ordem de citação estabelece que o que vem
primeiro é o assunto principal (ou classe principal daquele documento) e em seguida vêm as suas
subdivisões (assuntos secundários, outras caraterísticas e outras categorias).
Mas o que significa essa citação? Como esses assuntos serão representados na classificação? É uma
boa pergunta. O sistema de classificação deve ser racional, de fácil entendimento e de fácil
memorização. Assim, se formos classificar o assunto pelas palavras (assuntos), a classificação ficaria
muito extensa. A solução encontrada pelos classificadores foi criar códigos que representassem as
palavras dos assuntos. Esses códigos são chamados de NOTAÇÃO.
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Competência 02
As subdivisões de forma, aplicáveis aos vários assuntos, normalmente compõem apêndices que
são chamados de TABELAS AUXILIARES.
Um índice é uma lista alfabética dos termos de um sistema de classificação e seus respectivos
sinônimos, indicando os símbolos da classificação que os representam no sistema. Ele também
facilita a localização dos assuntos nas tabelas de classificação.
Nas próximas competências, quando falarmos sobre sistemas específicos de classificação, vocês
compreenderão melhor essa composição. Por enquanto, vamos nos ater às NOTAÇÕES:
As notações utilizam caracteres para representar os assuntos. Caracteres são as formas que usamos
para escrever. Podem ser letras, símbolos, sinais, números, etc. O uso de caracteres pode variar de
um sistema para outro, como vocês poderão conhecer nas competências 3 e 4.
Vejam um exemplo:
IMPORTANTE: as notações têm como objetivo traduzir em símbolos os assuntos dos documentos,
mostrar a hierarquia ou a estrutura da classificação e localizar os assuntos na coleção. A notação
oferece um símbolo que, combinado com outros, indica os assuntos complexos e compostos.
Vamos retomar um exemplo dado anteriormente para que vocês entendam melhor a relação entre
assunto e notação. No exemplo a seguir, utilizaremos o sistema de classificação da CDD
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Competência 02
(Classificação Decimal de Dewey). Cada assunto será representado por uma notação.
ASSUNTO NOTAÇÃO
CIÊNCIAS PURAS (ou naturais) 500
Matemática 510
Aritmética 513
Números decimais 513.2
Tabela 4 – Classe 500 (Ciências Puras) – Classificação Decimal de Dewey
Fonte: O autor (2017)
Percebam, na tabela acima, como os caracteres das notações mostram a estrutura hierárquica
dos assuntos.
Percebam, na tabela acima, como os caracteres das notações, mostram a relação horizontal entre
os assuntos.
Os dois exemplos mostram como as notações expressam os assuntos. A isso, damos o nome de
EXPRESSIVIDADE DA NOTAÇÃO.
FLEXIBILIDADE: capacidade do sistema de incluir novos assuntos nos pontos adequados, sem
alterar a ordem existente. A flexibilidade pode ser obtida deixando espaços vagos ou
utilizando caracteres de novos tipos.
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Competência 02
Todo sistema de classificação deve ser constantemente avaliado para se verificar possíveis falhas e
incoerências para, então, propor, se necessário, melhorias no sistema. Além disso, o conhecimento
humano muda constantemente, exigindo sempre novas revisões e edições. Basicamente um
sistema de classificação deve ser, na medida do possível, breve e simples, e fácil de memorizar. Um
recurso muito utilizado pelos sistemas é representar em vários assuntos relacionados símbolos que
possuam associação de ideias. Vimos em exemplos anteriores que na CDD as notações para as
Ciências Puras sempre são representadas, no seu início, pelo símbolo 5 (cinco).
Na CDD (e também na CDU), os mesmos símbolos são utilizados para representar ideias
semelhantes que, pela associação, facilitam guardar e compreender. Exemplo:
Percebam que, neste exemplo, o símbolo 4(quatro) sempre representa a FRANÇA (país) ou algo
relacionado à FRANÇA.
2.4 Síntese
329.81
Daqui em diante vamos nos ater às classificações de Dewey (CDD) e Classificação Decimal Universal
(CDU), que provavelmente vocês mais utilizarão nas futuras práticas bibliotecárias.
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Competência 02
Espero que até aqui as coisas estejam ficando claras e fáceis de compreender.
Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão
Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação
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Competência 03
O acervo de uma biblioteca deve ser separado e classificado de acordo com algum sistema ou
método pré-estabelecido. O sistema mais utilizado pelas bibliotecas foi criado pelo norte-americano
Melvil Dewey (1851-1931) e é conhecido como Classificação Decimal de Dewey, ou CDD. Esse
sistema foi criado em 1876 e, ao longo dos anos, foi passando por sucessivas atualizações.
Atualmente, quem coordena os trabalhos da CDD é a OCLC (Online Computer Library Center), com
sede nos Estados Unidos.
Melville Louis Kossuth Dewey nasceu no dia 10 de dezembro de 1851 no Estado de Nova York.
Dewey inventou o sistema de Classificação decimal Dewey (CDD) quando tinha 21 anos (1872) e
trabalhava como assistente de bibliotecário no Amherst College. Dewey transformou a
Biblioteconomia de vocação para uma profissão moderna. Além de ter criado esse sistema, Dewey
também ajudou a fundar a Associação de Bibliotecas Americanas (ALA) em 1876; foi o secretário
dela de 1876 a 1890 e presidente nos períodos de 1890 a 1891 e 1892 a 1893. Um pioneiro em
educação bibliográfica, Dewey tornou-se o bibliotecário do Columbia College (agora a Columbia
University) na cidade de Nova York em 1883 e fundou ali a primeira biblioteca escolar em 1887. Em
1889, ele se tornou diretor da Biblioteca do Estado de Nova York em Albany, um cargo que teve até
1906. O Sistema Decimal de Dewey teve ampla divulgação através do Library Bureau. Foi aplicado a
documentos, pela primeira vez, pela Estrada de Ferro Baltimore-Ohio em 1898.
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Competência 03
Os símbolos matemáticos utilizados para representar um número no sistema decimal são chamados
de algarismos: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, que são utilizados para contar unidades, dezenas e
centenas. Esses algarismos são chamados de indo-arábicos porque tiveram origem nos trabalhos
iniciados pelos hindus e pelos árabes. Com os algarismos formamos numerais (numeral é o nome
dado a qualquer representação de um número).
Exemplo:
352
c d u (C é centena, D é dezena e U é unidade)
Mas como Dewey associou o sistema decimal ao processo de classificação em bibliotecas? Vejam a
história a seguir, contada pelo próprio Dewey:
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Competência 03
“Durante meses imaginei, noite e dia, que deveria haver, em alguma parte, uma solução
satisfatória. No futuro teríamos milhares de bibliotecas, a maioria das quais aos cuidados de
pessoas com pequena capacidade ou escasso adestramento. O primeiro requisito da solução há de
ser a maior simplicidade possível. O provérbio dizia 'simples como a, b, c', mas ainda mais simples do
que isso era 1, 2, 3. Após meses de estudo, um domingo, durante um longo sermão do pastor
Stearns, enquanto o encarava com firmeza sem lhe ouvir uma palavra, e absorvida a mente no
problema vital, a solução coruscou-me ante os olhos, a ponto de fazer-me saltar da minha cadeira e
de quase levar-me a gritar 'Eureca!' Consistia ela em alcançar a simplicidade absoluta empregando
os mais simples símbolos conhecidos, os algarismos arábicos na qualidade de decimais, com o zero
revestido da significação usual, a fim de numerar uma classificação de todo o conhecimento
humano impresso; completando tal expediente pelos símbolos que, depois dos números, eram os
mais simples, ou seja, a, b, c, e indexando todos os títulos das tabelas, de forma que seria mais fácil
usar a classificação com 1.000 títulos assim ajustados, do que os 30 ou 40 títulos que reclamam
cuidadoso estudo antes de serem utilizados."
Logo depois desse insight, Dewey começou a construir seu sistema de classificação com base nas
classificações de Francis Bacon e de William Torrey Harris.
Pesquisem sobre William Torrey Harris. Quem foi e qual seu legado?
O sistema de Dewey divide o conhecimento em dez classes principais e, em seguida, as classes vão
se subdividindo de acordo com a lógica hierárquica das classes. As classes são as seguintes:
200 - Religião
30
Competência 03
400 - Linguística
800 - Literatura.
Mas como Dewey chegou nessas classes e porque esta é a sequência? Dewey queria que as
bibliotecas mantivessem uma relação com a organização do conhecimento humano, sendo assim, a
sequência decimal não é gratuita, mas obedece à seguinte lógica:
31
Competência 03
Descubram, a partir da explicação dada, porque o tema MATEMÁTICA está na classe 500.
32
Competência 03
Os exemplos dos sumários foram extraídos do site da OCLC. Para mais informações sobre os
33
Competência 03
www.oclc.org/pt-americalatina/dewey/features/summaries.html
A CDD está atualmente na 23ª edição e é publicada na língua inglesa pela OCLC.
Assim, Dewey construiu seu sistema de classificação tendo como base o sistema decimal e, por isso,
a CDD é chamada de classificação DECIMAL de Dewey.
O princípio da classificação é decimal, portanto deve ser entendido como uma divisão decimal. Por
exemplo, se na biblioteca tiver um livro cujo assunto seja Ensino Fundamental, deve ser classificado
na classe 300 (Ciências Sociais), mas na subclasse 370, que se refere ao assunto Educação.
Subdividindo a classe 300 para o assunto Ensino Fundamental, teremos:
Você se lembra do exemplo do número 372 que foi dado na explicação sobre o sistema decimal?
Fazendo uma analogia àquele exemplo, teremos aqui o seguinte:
Como vimos na competência anterior, todo sistema de classificação deve ser constituído de TABELA
PRINCIPAL, TABELAS AUXILIARES, NOTAÇÃO e ÍNDICE. No caso da CDD, ela é composta de 4 (quatro)
volumes:
34
Competência 03
Você já deve ter notado que os livros de uma biblioteca têm uma etiqueta na lombada, com várias
letras e números. Aquilo se chama número de chamada (ou notação), que identifica o livro na
prateleira, ou seja, é o endereço do livro na estante. Vamos supor que percorrendo uma prateleira
vocês encontraram um livro com o título O HOBBIT, de autoria de J.R.R, Tolkien. Na lombada deste
livro há os seguintes símbolos:
823
T577h
Lembrem-se de que 800 (na CDD) significa LITERATURA, que no sistema, assim se subdivide:
800 LITERATURA
820 Literatura de língua inglesa
823 Romance de língua inglesa da
Inglaterra
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Competência 03
Obs.: Este livro foi escrito e publicado na Inglaterra, não nos Estados Unidos.
Assim, ao se digitar o sobrenome do autor no campo superior (Tolkien), aparece no campo inferior
o número desse autor dentro do sistema, ou seja T577. Se este livro tiver mais de um exemplar, as
etiquetas de lombada podem estar sinalizadas assim:
823 823
T577h T577h
ex. 1 ex. 2
36
Competência 03
Lembre-se de que o endereço do livro deve ser exclusivo. Cada livro tem seu endereço na estante.
A ordenação nas estantes deve ser feita levando-se em consideração o critério alfanumérico.
Assim, se tivermos um livro com a classificação 824, este vem depois do livro 823. Se houver outros
livros com o número 823, a ordenação deve ser feita pela letra do autor, e assim por diante.
Exemplo:
ex. 1 ex. 2
Na internet é possível encontrar versões resumidas da CDD. Com essas versões em mãos, é possível
classificar pequenos acervos (na atividade semanal apresentaremos dois sites que contêm esses
resumos). Demonstramos abaixo como se configura um trecho de uma das classes.
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Competência 03
Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho
38
Competência 03
39
Competência 04
Outra classificação muito utilizada nas bibliotecas é a Classificação Decimal Universal, ou CDU, que,
utilizando os princípios da CDD, foi criada pelos belgas Paul Otlet (1868-1944) e Henri La Fontaine
(1854-1943).
Em 1895 Paul Otlet e Henri La Fontaine fundaram o Instituto Internacional de Bibliografia, com as
seguintes atribuições:
O que OTLET queria era fazer um inventário do mundo. Mas, para isso, ele precisava fazer uma
classificação detalhada desse inventário. Ele, então, examinou todos os sistemas de classificação
existentes e decidiu por expandir a Classificação Decimal de Dewey. Surge, então, em 1905 a
primeira edição do novo sistema, com 33000 subdivisões e 40000 entradas no índice.
Seu título era Manual do Repertório Bibliográfico Universal. Depois, Classificação de Bruxelas.
Hoje, é intitulada Classificação Decimal Universal. Entre 1905 e 1914, o Instituto cresceu
lentamente. O que ajudou o instituto foi que Henri La Fontaine recebeu o Nobel da Paz em 1913 e
doou o dinheiro ao Instituto. A Primeira Guerra Mundial interrompeu as atividades, que foram
retomadas em 1920. Em 1937 é criada a Federação Internacional de Documentação. O
representante no Brasil é o IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia).
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Competência 04
Obs.: a edição mais recente da CDU é a UDC CONSORTIUM. Classificação decimal universal: tabelas
sistemáticas: 2ª edição-padrão internacional em língua portuguesa. Tradução de Odilon Pereira da
Silva. Revisão de Fátima Ganim. Brasília: IBICT, 2007. 2v.
Ela pode ser adquirida por meio do IBICT, neste site: www.ibict.br/publicacoes-e-institucionais/
Catalogo-de-publicacoes/publicacoes
NOTAÇÃO CLASSES
0 GENERALIDADES
1 FILOSOFIA
2 RELIGIÃO. TEOLOGIA.
3 CIÊNCIAS SOCIAIS. DIREITO.
4 CLASSE VAGA.
5 MATEMÁTICA. CIÊNCIAS NATURAIS
ou CIÊNCIAS PURAS.
6 CIÊNCIAS APLICADAS. MEDICINA.
TECNOLOGIA.
7 ARTES. ARQUITETURA. ESPORTES.
8 LÍNGUAS. LITERATURA.
9 GEOGRAFIA. BIOGRAFIA. HISTÓRIA.
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Competência 04
Para conhecer um pouco mais sobre as classes da CDU, visite este site
www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.
A CDU começa com um caractere, enquanto a CDD começa com três caracteres.
Corte dos zeros finais.
Uso de sinais gráficos.
Nos dois sistemas, a classe GENERALIDADES refere-se a um assunto que não pode ser
classificado em nenhuma das outras classes gerais. Na CDU, a classe 4 está vaga,
porque Otlet resolveu agrupar Literatura e Linguística na classe 8. A classe 4, portanto,
continua aguardando ser utilizada por uma classe nova.
Cada uma das classes principais é subdividida em 10 (dez) classes, repartindo-se por elas os
assuntos que a compõem, sendo a primeira reservada aos temas gerais e as 9 (nove) seguintes
destinadas a assuntos específicos. Vejamos, a seguir, como fica a classe 5 (CIÊNCIAS PURAS).
5 CIÊNCIAS PURAS
50 Princípios gerais
51 Matemática
52 Astronomia
53 Física
54 Química. Mineralogia
55 Geologia e ciências afins. Meteorologia.
56 Paleontologia
57 Ciências Biológicas
58 Botânica
59 Zoologia
A seguir essas divisões são novamente subdivididas em 9 (nove) classes especificas e uma classe
42
Competência 04
geral. Dentre as classes acima, escolhemos, como exemplo, a classe 51 (Matemática). Vejam como
fica a subdivisão:
51 MATEMÁTICA
510 Princípios gerais
511 Aritmética. Teoria dos números.
512 Álgebra
513 Geometria
514 Trigonometria. Poligonometria.
515 Geometria descritiva
516 Geometria analítica
517 Análise matemática
518 Processos gráficos de cálculo
519 Análise combinatória. Probabilidades.
Agora vamos fazer uma atividade como exemplo. Classificaremos um documento cujo assunto
principal é ENGENHARIA ELÉTRICA.
Observando as classes principais (0 a 9), chegamos à conclusão de que esse assunto se enquadra
melhor na classe 6 (CIÊNCIAS APLICADAS/TECNOLOGIA). Assim, a lógica da subdivisão será a
seguinte:
6 CIÊNCIAS APLICADAS
62 Engenharia
621 Engenharia mecânica
621.3 Engenharia elétrica.
Peço que vocês façam mais exercícios como este consultando o site:
www.udcsummary.info/php/index.php?tag=6&lang=en.
Escolham um tema qualquer e procedam à classificação desse tema.
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Competência 04
A CDU, assim como a CDD, pode ser subdividida além dos primeiros sumários. Nesse caso, a
recomendação é que, quando vocês precisarem classificar assuntos mais específicos, recorram às
tabelas completas (CDD e CDU), porque só assim vocês terão possibilidade de proceder a uma
classificação que exija uma notação mais particular. Vamos ver um exemplo a partir do exercício
anterior. Vamos supor que vocês precisem classificar o assunto LINHAS TELEGRÁFICAS, que está na
classe ENGENHARIA ELÉTRICA. No entanto, no site que mencionei acima a classe só se subdivide até
ENGENHARIA ELÉTRICA. Então, como subdividir mais? Se vocês consultarem a CDU integral poderão
chegar ao seguinte resultado:
A CDD e a CDU possuem recursos que possibilitam subdividir e/ou relacionar os assuntos de uma
forma ainda mais específica, que vão além das tabelas principais. Nesse caso, ambas disponibilizam
tabelas auxiliares, que auxiliam o classificador na construção da notação mais adequada ao assunto
que se procura classificar. Além disso, as tabelas auxiliares orientam na construção de notações
associando assuntos das tabelas principais. Recomendamos que vocês, sempre que possível,
consultem essas tabelas para conhecer melhor a dinâmica da classificação de cada sistema.
Existem muitos outros sistemas de classificação no mundo das bibliotecas. Peregrinando por esse
universo, você poderá encontrar livros classificados por cores, por ícones e até pela simples ordem
alfabética. Uma classificação que conheci recentemente foi a classificação MAIONESE (The
Mayonnaise System). Esse sistema divide os documentos pelas seguintes classes:
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Competência 04
1. Adventure (aventura)
3. Family (família)
4. Future (futuro)
5. Humor (humor)
6. Love (amor)
9. Poetry (poesia)
Nosso assunto não termina aqui. Aliás, este é o ponto inicial das suas pesquisas. Você chegou até
este ponto de leitura e certamente muita coisa nova já foi descoberta. Os códigos de classificação
são sistemas robustos com muitas especificidades, seria impossível trazermos todas elas aqui.
Afinal, os bibliotecários investem o mínimo de dois da graduação estudando a CDD e a CDU. Para
avançarmos mais vou deixar duas dicas de literatura que você tem livre acesso na web. Vamos nos
desafiar a aprofundar estes novos conteúdos a partir de hoje? Certamente você vai desenvolver
habilidades e competências específicas no seu futuro ambiente de trabalho!
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Competência 04
O importante é você conectar coleções e leitores. Por isso, meu conselho é que você desenvolva sua
criatividade e busque sempre novas soluções. A inovação é uma das chaves para o sucesso em
qualquer área. Portanto, leia e pesquise bastante. Isso possibilitará que você faça coisas diferentes
e inovadoras. O mundo das bibliotecas agradece.
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Conclusão
Caro (a) estudante, chegando ao fim desta disciplina, em que vimos os tipos de classificações mais
utilizadas em bibliotecas, pudemos acompanhar a estrutura delas e como utilizá-las.
Bons estudos!
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Referências
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Minicurrículo do Professor
Doutor em Ciência da Informação pela USP (2009), Mestre em Ciências da Comunicação pela USP
(2005), Bibliotecário pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1993). Foi docente
do curso técnico em Biblioteconomia - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial e Coordenador
do Museu da Bíblia da Sociedade Bíblica do Brasil. De 2010 a 2013 foi Professor Adjunto no
Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco. De 2014 a 2015
foi Professor Adjunto no Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de São
Carlos. Atualmente é Professor Adjunto III no Departamento de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência na área de Ciência da Informação, atuando
principalmente nos seguintes temas: Bibliotecas Públicas, Escolares e Comunitárias, Incentivo à
Leitura, Formação de Leitores, Organização da informação, Mediação Cultural e Literatura.
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