Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desde a Antigüidade até o final da Idade Média foram utilizados diferentes suportes
como base para o registro de conhecimentos: a pedra, o barro, a madeira, o linho, a
seda, o papiro, o pergaminho e o papel. Com a invenção da imprensa por Guttenberg,
em 1452, e seu desenvolvimento nos séculos seguintes, houve grandes modificações na
produção, no armazenamento e na difusão dos conhecimentos. Esse fato ocasionou o
rompimento do monopólio que a Igreja exercia na geração e guarda dos conhecimentos.
Até então, o acesso aos conhecimentos, assim como consultas a bibliotecas, constituía-
se em privilégio da elite.
A criação de Guttenberg e o processo de fabricação do papel facilitaram, aos poucos, a
democratização dos conhecimentos e do livro. Esses eventos permitiram maior
produção de registros impressos e elevaram a biblioteca a uma condição de maior
importância à época.
A expressão "geografia do conhecimento" é usada por Burke (2003) para mapear a
produção de conhecimentos, notada mente dos séculos XVI. XVII e XVIII. Ele
distingue a distribuição espacial do conhecimento desde os locais onde foi produzido,
descoberto, guardado até onde era difundido. Naqueles séculos, os centros tradicionais
eram os mosteiros, que guardavam grandes bibliotecas, assim como as universidades e
os hospitais.
Como produtores e divulgadores de conhecimentos, o autor cita também o laboratório,
a galeria de arte, a livraria, a biblioteca, o anfiteatro de anatomia, o escritório e o café.
Esse mapeamento do conhecimento exemplifica a visão do autor de que o
conhecimento é visto na sua forma plural e não só como atividade científica.
Prosseguindo, Burke (2003) percebeu a existência de conhecimentos também em
ambientes de comércio, particularmente os portos, que eram especiais na difusão de
informações. Os habitantes dos portos se dirigiam ao cais para conversar com
marinheiros de embarcações recém-chegadas. Ali filam encontrados cartas, mapas e
globos, além de o local propiciar o intercâmbio de conhecimentos. Dessa maneira,
justifica-se a importância de Lisboa na história do conhecimento dos séculos XV e XVI,
derivada de sua posição como capital do Império Ultramarino Português. O autor cita
também Veneza como a mais importante agência de informações dos primórdios do
mundo moderno, por sua posição intermediária entre o Ocidente e o Oriente. Quando
se refere à localização das bibliotecas, Burke (2003) cita a Itália e a França, países onde
se concentrava o maior número delas. Algumas cidades italianas, como Nápoles,
Florença, Veneza e Milão, abrigaram grandes bibliotecas. Roma hospeda bibliotecas
de diversas ordens religiosas, além da Biblioteca do Vaticano. Paris superava Roma em
quantidade de bibliotecas, principalmente no século XVII. Um guia de Paris, datado de
1692, arrola 32 bibliotecas onde se permitia que os leitores entrassem "como um favor"
para consulta em suas coleções. Naquela época, teve início a formação de centros de
estudos nas principais cidades da Europa, o que contribuiu para o aparecimento de
novas bibliotecas, tanto universitárias como públicas. Esse fato coincide com o início
da formalização da atividade de pesquisa, ocasionando o surgimento das agências de
fomento à pesquisa naquele século.
Com o aparecimento dos Estados Nacionais e a estruturação da pesquisa científica, os
conhecimentos produzidos no mundo passaram a crescer significativamente. Com o
correr do tempo, a atividade de construção de conhecimentos expandiu-se para incluir
empresas, indústrias, área jurídica e outras, que passaram de consumidoras a também
produtoras de conhecimentos. Mais recentemente, com o surgimento da Internet, a
divulgação de conhecimentos tornou-se mais rápida, agilizando os serviços das
bibliotecas.
No Brasil, as primeiras bibliotecas foram criadas por ordens religiosas. A ordem dos
Jesuítas foi a mais atuante. Em 1549, fundou a Companhia de Jesus, organização que
objetivava catequizar índios e colonos. Nas escolas daquela Companhia os padres
criavam bibliotecas que, aos poucos, se tornaram as melhores e mais numerosas.
Fundaram escolas e bibliotecas em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, no
Maranhão, Pará e em vários outros estados e cidades. Tais bibliotecas atendiam
necessidades tanto de alunos em seus primeiros aprendizados, como até de alunos de
Filosofia, que equivaleriam aos das Faculdades de hoje. As consultas não se restringiam
aos alunos e professores das escolas, mas eram possíveis a qualquer pessoa que
justificasse o pedido. A Biblioteca do Mosteiro de São Bento, em Salvador, Bahia,
organizada no início do século XVI, formalizou atividades de uma biblioteca pública
(MORAES, 1979).
Com a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil, pelo Marquês de Pombal, seus bens
foram confiscados, inclusive as bibliotecas. Os acervos foram selecionados e grande
parte enviada ao Colégio do Rio de Janeiro, o restante foi entregue ao bispo da Diocese.
Com isso, o conhecimento produzido por brasileiros e estudiosos daqueles colégios
ficou perdido. Outras ordens religiosas se incumbiram da educação dos brasileiros e
criaram colégios e bibliotecas para isso, como os franciscanos, Beneditinos e
Carmelitas. Dentre as bibliotecas mais relevantes, estavam as beneditinas. As abadias
beneditinas tinham boas bibliotecas e enriqueciam seus acervos por meio de compra e
herança.
A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil alterou as condições políticas, econômicas
e sociais da Colônia. Foi uma transformação radical no Rio de Janeiro, sua população
cresceu consideravelmente com a chegada de nobres, funcionários de muitas categorias,
comerciantes, burgueses ricos etc. Esse fato ocasionou novas necessidades na cidade e,
em conseqüência, transformou a situação do livro e das bibliotecas. Junto com os
tesouros do Estado Português, como ouro, diamantes, pratarias e paramentos da Capela
Real, vieram também arquivos das repartições públicas, manuscritos da Coroa e do
Infantado e a Biblioteca Real da Ajuda. O acervo da biblioteca era composto de
coleções ricas e versáteis, como as primeiras edições portuguesas e espanholas, edições
de clássicos portugueses e espanhóis, coleção de folhetos, manuscritos, fotos, mapas e
gravuras. A partir daí, a biblioteca desenvolveu-se recebendo também doações e,
principalmente, através da obrigação do depósito legal, pela qual a biblioteca passou a
receber um exemplar de tudo o que é publicado em território nacional. Com o retorno
da Corte Portuguesa à Europa, a Biblioteca Real ficou desfalcada de parte de seu
acervo, mas, mesmo assim, ainda conservou uma parte valiosa. Com o advento da
Independência, a biblioteca ficou subordinada a uma repartição pública e passou a
denominar-se Biblioteca Nacional (MORAES, 1979).
A primeira biblioteca pública surgiu, em Salvador, como expressão da sociedade. Um
senhor de engenho, Pedro Gomes Ferrão de Castelo Branco, planejou a biblioteca como
uma instituição para promover a instrução do povo. A Biblioteca Pública da Bahia foi
a primeira a ser fundada com essa característica de não contar com recursos do governo.
A experiência não deu certo e o governo passou a dar subsídios e outras bibliotecas
públicas floresceram em outras capitais e cidades importantes.
É importante ressaltar que a divulgação da cultura até a República já não estava restrita
às livrarias e bibliotecas dos conventos religiosos. No Rio de Janeiro funcionavam
vários institutos de estudos superiores criados pelo governo, como a Real Academia
Militar, o Laboratório Químico-prático, a Academia Médico-Cirúrgica, o Arquivo
Militar e a Academia Real dos Guarda-Marinhas. Essas organizações estabeleciam em
seus estatutos a criação de bibliotecas (MORAES, 1979).
Com o desenvolvimento do sistema educacional brasileiro, a criação de agências de
fomento e principalmente das Universidades Federais, o crescimento do conhecimento
no Brasil expandiu-se consideravelmente, não só pela produção dos brasileiros, mas
também pela compra de coleções para atender a essas novas organizações. Contudo, o
número de bibliotecas ainda é insuficiente para atender toda a sociedade.
O país não conta com estatísticas sobre os diferentes tipos de bibliotecas existentes,
mas é possível calcular o número de bibliotecas em instituições de nível superior, uma
vez que a autorização para o funcionamento destas depende exatamente da existência
de bibliotecas. Considerando-se o número de universidades federais existentes no país,
estima-se que o número de bibliotecas universitárias esteja em torno de 62.
2.3 Conceituações
As teorias e conceitos que embasam grande parte das atividades das bibliotecas são
oriundos da Ciência da Informação, em função de orientações comuns na resolução de
problemas. Assim, a biblioteca é uma coleção de documentos bibliográficos (livros,
periódicos etc.) e não bibliográficos (gravuras, mapas, filmes, discos etc.) organizada e
administrada para formação, consulta e recreação de todo o público ou de determinadas
categorias de usuários.
A biblioteca ou outra unidade de informação, aqui entendida como uma unidade que
trata de informação, desde a organização até sua difusão (base de dados, serviço de
informação especializada, centro de informação, telecentro, videotecas, mapotecas
etc.), pressupõe atividades bem características, por trabalhar a informação. Isso faz com
que esse tipo de instituição ou serviço ofereça serviços e produtos particularizados.
É importante salientar que os esclarecimentos aqui fornecidos sobre
bibliotecas/unidades de informação são gerais e presumem metodologias que podem
ser utilizadas tanto em bibliotecas tradicionais quanto em unidades de informações
eletrônicas, como as bibliotecas virtuais.
A biblioteca como uma organização pressupõe três grandes funções:
1) Função gerencial - administração e organização.
2) Função organizadora - seleção, aquisição, catalogação, classificação, indexação.
3) Função divulgação - referência, empréstimo, orientação, reprografia, serviços de
disseminação, extensão.
A função gerencial pressupõe gestão e políticas para a biblioteca/unidade de
informação para buscar o seu melhor desempenho. Conforme Guinchat e Menou
(1994), a gestão é o processo que dirige as competências e a energia dos indivíduos
com a finalidade de atingir um determinado objetivo. Motta (1997) sugere que uma boa
gestão não se limita ao domínio de técnicas administrativas, uma vez que a capacidade
gerencial demanda outras habilidades mais complexas: capacidades analíticas, de
julgamento, de decisão e liderança e de enfrentar riscos e incertezas. É também um
conjunto de técnicas que permitem tomar decisões racionais e colocá-las em prática
para que todos os recursos do organismo sejam empregados da melhor forma possível,
visando a sua eficácia. Ainda segundo os autores, as políticas são princípios gerais que
ajudam a traduzir os objetivos em ações, para preparar as regras de conduta que serão
adotadas no momento da tomada de decisões e da execução das atividades. Visto dessa
maneira, toda biblioteca deve ter uma gestão e políticas específicas nos seguintes
aspectos: organização dos serviços, pessoal, equipamento, recursos financeiros,
serviços aos usuários, produção, interação com os usuários e com a instituição a que
está subordinada, intercâmbio com outros organismos e outras unidades de informação
(GUINCHAT; MENOU, 1994).
A função organizadora aglutina atividades muito especializadas do profissional de
informação: selecionar materiais para aquisição, catalogar, classificar e indexar aqueles
materiais.
Antes de oferecer uma visão dessas atividades, torna-se necessário um entendimento
da representação dos documentos, feito em dois níveis. O primeiro é sobre a
representação física do documento, como a catalogação, e o segundo é sobre sua forma
temática. A representação temática inclui os processos de indexação e classificação, ou
seja, diz respeito ao(s) assunto(s) do documento.
Seleção e Aquisição - a seleção é uma atividade intelectual importante que deve ser
realizada com o responsável pelo tema tratado, com a participação dos usuários. Tanto
a seleção quanto a aquisição fazem parte de uma política de gestão da unidade e, por
isso, estarão condicionadas a elementos da política organizacional como: natureza dos
serviços prestados, orçamento, objetivos da unidade.
Catalogação - pode ser entendida como o trabalho de descrever a estrutura física dos
objetos ou documentos que fazem parte de um acervo ou coleção. Este trabalho pode
se desdobrar na elaboração de catálogos impressos ou on-line e ainda na chamada
catalogação na fonte, que consiste na inserção da descrição física do documento no
próprio documento. Os catálogos, por sua vez, se apresentam sob a forma de listas onde
são registrados e descritos fisicamente os documentos conservados em uma Biblioteca
ou Unidade de Informação. Geralmente são organizados alfabeticamente e
apresentados em uma ordem específica: por autor, assunto, local ou título.
A diferença básica entre catálogos impressos e catálogos on-line está no tipo de suporte
utilizado e, ainda, no processo de busca e recuperação da informação contida nos
mesmos. Os catálogos on-line oferecem várias vantagens no acesso à informação que
os impressos não têm, como a rapidez na busca, uma maior possibilidade de
padronização das informações etc.
Guinchat e Menou (1994) descrevem vários tipos de catálogos, dentre os quais,
destacam-se: catálogo dicionário, catálogos sistemático, cronológico, geográfico,
topográfico e coletivos.
Classificação ou ato de classificar pode ser entendido como um processo mental, por
meio do qual se dá a reunião de objetos em classes ou grupos que apresentam, entre si,
certos traços de semelhança ou, ainda, de diferença (SOUZA, 1950, p. 3). Na
Biblioteconomia, a classificação é a tarefa de descrever o conteúdo de um documento
de onde é extraído o assunto principal e, eventualmente, um ou dois assuntos
secundários, os quais são traduzidos para o termo mais apropriado da linguagem
documental adotada na unidade de informação.
A Biblioteconomia e a Ciência da Informação lidam, mais comumente, com a
classificação dos conhecimentos que estão registrados nos mais diversos suportes.
Assim, nas Bibliotecas e Unidades de informação, os documentos são classificados e
agrupados conforme os assuntos de que tratam. Para esta tarefa específica existem
sistemas de classificação bibliográfica que visam a organização de documentos, com o
intuito de facilitar o acesso dos usuários à informação contida em seus respectivos
acervos.
Ao longo da história, surgiram vários modelos de sistemas de classificação. Os mais
estudados são a Classificação Decimal de Dewey - CDD, a Classificação Decimal
Universal - CDU e a Classificação Facetada de Ranganathan, entre outras. Como já foi
mencionado, na história do surgimento da CDU, as classes da Classificação Decimal
de Dewey foram utilizadas na sua construção, assim, ambas carregam a mesma
filosofia. A CDU, segundo Miranda (1996), "caracteriza-se como um instrumento de
representação da informação e, conseqüentemente, de organização do conhecimento
registrado em sistemas de recuperação da informação" (MIRANDA, 1996, p. 23).
Esse sistema é dividido em classes decimais, o que permite a inclusão de temas e
subtemas. As classes principais da CDU são:
0 Generalidades. Ciências e conhecimento. Organização. Informação etc.
1 Filosofia. Psicologia.
2 Religião. Teologia.
3 Ciências Sociais ... Direito. Administração etc.
4 Vaga.
5 Matemática e ciências naturais.
6 Ciências aplicadas. Medicina. Tecnologia.
7 Arte, Belas Artes. Recreação. Diversões. Esportes.
8 Linguagem. Lingüística. Literatura.
9 Geografia. Biografia. História.
Como podemos observar, a classe 0 é a mais geral das classes e é usada para trabalhos
sem uma limitação, por exemplo, enciclopédias, jornais, periódicos, e ainda para
algumas disciplinas especializadas, como Ciência da Computação, Biblioteconomia e
Ciência da Informação, Jornalismo. Tais sistemas buscam acompanhar os avanços do
conhecimento humano, contudo, as atualizações ainda são lentas.
Indexação - é uma das principais atividades desenvolvidas numa Biblioteca ou Unidade
de Informação. Consiste na descrição dos conteúdos dos documentos e possui como
principal objetivo a recuperação a informação desejada pelo usuário. Segundo Guinchat
e Menou (1994), esses conteúdos são expressos por meio de um vocabulário oriundo
da linguagem documental escolhida na unidade de informação. Essa tarefa tem como
desdobramento a construção de índices de termos, o que possibilita maior facilidade de
pesquisa ou consulta por parte do usuário.
Esta atividade era realizada essencialmente por seres humanos. No entanto com o
advento do computador, passou a ser desenvolvida por softwares capazes de reconhecer
os principais termos utilizados no corpo do documento e indexá-los, daí originou-se a
chamada Indexação automatizada.
A função divulgação é uma atividade fundamenta nas unidades de informação e, por
isso, deve ser sua principal preocupação. Ela consiste em comunicar ao usuário as
informações de que ele necessita e dependendo do procedimento, antecipar-se à
pesquisa do usuário, como, também, propor-lhe as possibilidades de acesso a estas
informações/documentos. As diferentes formas de atuação da biblioteca nesta atividade
englobam um conjunto de serviços a que se denominam Serviços de Disseminação.
Os Serviços de Disseminação em Bibliotecas e Unidades de Informação vêm ao longo
dos anos se fortalecendo, na medida em que os profissionais de Biblioteconomia e
Ciência da Informação passaram a perceber tais serviços como um elo a ser
estabelecido entre os usuários e os diversos serviços/materiais existentes e
disponibilizados pela unidade de informação. Esta ligação passou a ser fundamental
para o bom desempenho das atividades desenvolvidas em consonância com as políticas
estabelecidas pela organização. Os serviços de divulgação reúnem instrumentos como:
referência, orientação ao usuário, empréstimo, fornecimento de fotocópias e os serviços
de alerta, que incluem os sumários correntes e a disseminação seletiva da informação.
A Biblioteca é um organismo vivo a serviço da comunidade; nela, obtemos respostas
às nossas mais diversas indagações. O lugar de destaque que ela ocupa no mundo atual
decorre da importância que a informação tem para cada sociedade. Assim, a biblioteca
participa do aprimoramento intelectual, humanístico, técnico e científico de todos os
segmentos sociais.
REFERÊNCIAS