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A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

1
SORATO, Maurício – PUCPR
mauriciosorato@hotmail.com
2
HUF, Tânia – PUCPR
taniahuf@hotmail.com
3
MIRANDA, Simone de _ PUCPR
simone.miranda@pucpr.br

Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas


Agência Financiadora: Não contou com financiamento

Resumo

Este foi um trabalho desenvolvido na disciplina de Prática Profissional II - Identidade


Profissional e Produção do Conhecimento do curso de licenciatura em Educação Física cujo
objetivo deste estudo foi investigar a importância da Educação Física Escolar a partir da
opinião dos professores do curso de Educação Física de uma instituição de ensino superior
particular da cidade de Curitiba, assim como refletir sobre a prática docente na disciplina
escolar. Para a coleta de dados optou-se pelo uso da entrevista, onde os participantes foram
filmados ou somente gravados em áudio. A investigação teve o propósito de analisar a
importância da Educação Física na escola, sendo que esta tem um papel relevante no processo
educativo, e este por sua vez, está diretamente ligado ao momento histórico e necessidades
sociais das pessoas. Os objetivos da Educação Física (saúde, performance, etc.) variam de
acordo com diversos fatores que influenciam os professores e as instituições de ensino. Esta
pesquisa possibilitou a compreensão do papel da Educação Física atualmente na escola e a
reflexão da prática docente que poderá auxiliar na elaboração de novas propostas pedagógicas
para a disciplina. Com a realização desta, podemos constatar que para a maioria dos
entrevistados o maior objetivo da Educação Física escolar é o desenvolvimento humano,
consequentemente o motor; para os investigados a Educação Física na escola não está sendo
bem trabalhada e associam este fato aos dilemas e contradições que existem na formação dos
professores. Além das práticas vazias, sem reflexões para os alunos; falta de saberes
adquiridos na formação acadêmica há também a falta de reflexão do professor sobre suas
práticas e sobre a disciplina; portanto, a sugestão para reversão deste quadro é a associação da
teoria e prática, mudança no comportamento e atitude do professor e a utilização concreta da
ação pedagógica voltada para a Educação Física.

Palavras-chave: Importância. Educação Física escolar. Desenvolvimento.

Introdução

1
Graduado em Bacharelado e acadêmico do Curso de Licenciatura de Educação Física da PUCPR.
2
Graduada em Bacharelado e acadêmica do Curso de Licenciatura de Educação Física da PUCPR.
3
Docente do Curso de Educação Física da PUCPR
11186

Para compreendermos de forma mais crítica a importância da Educação Física


escolar, busca-se normalmente ferramentas que possam auxiliar no processo, uma delas é a
reflexão da sua própria prática. Muitos dos profissionais que hoje atuam na área da Educação
Física não possuem tempo, ou até mesmo interesse, em refletir sobre o papel que possuem na
sociedade. O que se percebe é uma grande quantidade de profissionais que dizem
compreender o papel fundamental da profissão, mas que sequer têm argumentos para
convencer seus alunos dessa importância.
O profissional de Educação Física está acomodado, fazendo o seu papel, que muitas
vezes ele mesmo desconhece, e esperando que alguém faça alguma coisa para protegê-lo.

De repente, é preciso cuidar do corpo. É preciso tirar o excesso de gordura. É


preciso melhorar a “performance” sexual. É preciso melhorar o visual. É preciso
competir. É preciso, acima de tudo, vencer. Vencer no esporte e vencer na vida. Mas
acontece que nunca perguntamos a nós mesmos o que é realmente vencer na vida.
Dentro deste panorama, a Educação Física se desenvolve e se prolifera em nosso
país. E hoje, mais do que em nenhuma outra época, ela vem atendendo a toda essa
demanda da sociedade de consumo. Desta forma, são os seus profissionais
orientados a preencher este enorme campo que se abre; um campo de trabalho sem
precedentes na história da Educação Física nacional, e que já ultrapassa em muito o
âmbito escolar a que basicamente se restringia o licenciado tempos atrás. Formado o
profissional – ou mesmo antes de completar seu curso – vai como professor ou
técnico em busca de mercado. E, encontrando o seu lugar, procura desempenhar
fielmente a função técnica que dele se cobra. Procura dar exatamente aquilo que se
pede a ele. Este é um traço do perfil generalizado do profissional da Educação Física
no Brasil. E é por meio deste tipo de relação que, segundo me parece, podemos
analisar parte da falência desta disciplina como proposta de real valor: aquela
Educação Física entendida como disciplina que se utiliza do corpo, através de seus
movimentos, para desenvolver um processo educativo que contribua para o
crescimento de todas as dimensões humanas. É nesse sentido que entendemos que a
crise que costuma atingir quase todos os setores da sociedade que clamam por
desenvolvimento, parece não estar perturbando muito a Educação Física. Ela vem
cumprindo de maneira mais ou menos eficiente, disciplinada e comportada a função
que a ela foi destinada na sociedade (Medina, 1987, p. 24).

A partir das experiências adquiridas no processo de formação e no exercício da


profissão, além das eventuais discussões com colegas da área educacional, fica evidente que a
Educação Física não se demonstra de maneira clara, com objetivos e práticas bem
estruturadas, ainda busca uma forte “concordância” que a justifique com clareza. Apesar de
cumprir seu papel deixa de lado a organização, que é indispensável para dar objetivos e traçar
estratégias cada vez mais claras.
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Devido à grande quantidade de informação acumulada pela disciplina acabaram


surgindo diversos objetivos para a prática (desenvolvimento motor, saúde, performance, etc.),
mas são objetivos que variam de acordo com professores e instituições de ensino.
O grande problema está em reconhecer qual é o momento histórico que a sociedade
está vivendo. O processo educativo está sempre intimamente ligado ao momento histórico e
necessidades sociais das pessoas, conforme comenta Freire (1996):

Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as


condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o
professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se
como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador [...] No
fundo, passa despercebido a nós que foi aprendendo socialmente que mulheres e
homens, historicamente, descobriram que é possível ensinar (p. 41-44).

Mas onde nos situamos hoje historicamente, qual a contribuição da Educação Física
na sociedade atual? Facilmente podemos identificar, de maneira simplista, momentos
históricos que influenciaram determinadas práticas ou adjetivar as práticas desses períodos,
porém não podemos identificá-los em sua complexidade, talvez seja por isso que é tão
complicado entender o que está acontecendo atualmente e quais são os fatos e acontecimentos
que influenciam as mudanças ou não. Um exemplo é quando nos referimos à Grécia Antiga
como o período de maior ênfase na prática de atividades físicas e à Idade Média como o
período de decadência das atividades físicas (RAMOS, 1983).
Portanto, sabemos que existem diversos objetivos para justificar a presença da
Educação Física na escola, mas qual será o objetivo mais necessário para o quadro atual de
acordo com docentes do curso de Educação Física de uma universidade de Curitiba?
É fundamental compreender o papel da Educação Física na escola atualmente e
buscar apresentar reflexões acerca do assunto que auxiliem na elaboração de novas propostas
pedagógicas para a disciplina.

Desenvolvimento

Para verificar qual o atual objetivo da Educação Física escolar, investigamos junto
aos docentes de um Curso de Educação Física de uma instituição de ensino superior particular
da cidade de Curitiba. Utilizamos a entrevista como instrumento de pesquisa, sendo que a
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mesma foi do tipo padronizado e com o objetivo de determinação das opiniões sobre os fatos.
Classifica-se tal estudo como um estudo exploratório descritivo (LAKATOS; MARCONI,
2001).
Para compreender de forma mais crítica a importância da Educação Física escolar
busca-se normalmente ferramentas que possam auxiliar no processo, sendo que uma delas é a
reflexão acerca da prática docente na disciplina. Conforme afirma Piccolo (1993, p.15)
“refletir é necessário e os resultados dessa reflexão radical e contextualizada devem ser
socializados na perspectiva de desestruturar-se a ordem estabelecida”.
Mas afinal para que serve a Educação Física escolar? Creio não existir pessoa ou
profissional mais capacitado para responder esta pergunta que o próprio professor de
Educação Física. Mas como bem lembra Piccolo (1993):

O principal papel do professor, através de suas propostas, é o de criar condições aos


alunos para tornarem-se independentes, participativos e com autonomia de
pensamento e ação. Assim, poderá se pensar numa Educação Física comprometida
com a formação integral do indivíduo. Dessa forma, pode-se enfatizar o papel
relevante que a Educação Física tem no processo educativo. O que, na verdade,
ameaça a existência desta disciplina nas Escolas é a sua falta de identidade. Ela sofre
conseqüências por não ter seu corpo teórico próprio, isso é, a informação acumulada
é vasta e extremamente desintegrada por tratar-se de uma área multidisciplinar (p.
13).

Segundo De Marco (1995, p.77), “a Educação Física como sendo um espaço


educativo privilegiado para promover as relações interpessoais, a auto-estima e a auto-
confiança valorizando-se aquilo que cada individuo é capaz de fazer em função de suas
possibilidades e limitações pessoais”.
A capacidade da criança se movimentar é essencial para que ela possa interagir com
si mesma e com o meio ambiente em que vive; os quais desempenham um papel formidável
na extensão dos limites do crescimento e do seu desenvolvimento, sendo este um processo
demorado e sucessivo. Além da maturação, as experiências e as características individuais
agem no processo do desenvolvimento da criança.

A entrevista realizada com os participantes foi registrada através de áudio ou filmada


de acordo com a escolha de cada professor (a), feita em um ambiente separado
proporcionando maior liberdade de resposta aos entrevistados. Após as respostas coletadas
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analisamos os dados levantando os principais indicadores em cada questão e verificando a


quantidade de respostas semelhantes.

Questões que direcionaram a entrevista com os professores:

a) Para você, qual é o maior objetivo da Educação Física escolar.

Para esta questão, quatro dos entrevistados relataram que o maior objetivo da Educação
Física escolar é o desenvolvimento humano e consequentemente o motor. Para estes
profissionais o valor da disciplina e da vivência motora na escola está no fato de que pode
criar condições para que essa pessoa se desenvolva na sua plenitude motora, desenvolvendo
suas capacidades locomotoras, manipulativas e estabilizadoras. Isso facilitará sua escolha e
estimulará o gosto por uma atividade física, o que implicará em um estilo de vida saudável
futuramente através de uma prática para a vida toda.

Dos cinco entrevistados, apenas um relatou que para ele o objetivo maior da
Educação Física escolar é o poder que possui para trabalhar aspectos da aprendizagem e
desenvolver inteligências múltiplas.

b) Baseando-se em suas experiências e vivências pessoais, qual é a visão que você


possui com relação à prática da Educação Física na escola atualmente?

Com relação a esta questão, dos cinco professores entrevistados três disseram que a
Educação Física escolar não está sendo bem trabalhada de maneira geral, não como deveria, e
afirmam que os principais problemas são a formação do professor de Educação Física, a falta
de embasamento teórico, o imediatismo no desenvolvimento da disciplina e o comodismo do
professor.
Do restante dos entrevistados dois comparam suas vivencias como alunos, que
relataram terem sido muito bom, e como estagiário e professor de Educação Física na escola,
onde um deles diz ter sido uma prática ruim e sem metodologia e o outro afirma ter sido
sempre muito boa. O entrevistado que teve opinião divergente dos demais não relatou se acha
que as aulas estão sendo bem desenvolvidas ou não, mas acredita que a disciplina é muito
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voltada para o esporte, que os conteúdos são muito repetitivos e a as aulas abusam das
atividades recreativas, o que pode dar um caráter de ‘oba-oba’ à disciplina.

c) Em muitas instituições de ensino a Educação Física é incluída, como parte da


ação educativa, mais pelo dever de satisfazer formalmente o postulado da “educação global”,
já que ela auxilia a educação moral, estética e intelectual. Quando justificada por tal fato a
função pedagógica da Educação Física funda-se sobre coisas não específicas da Educação
Física, ou seja, os objetivos específicos da Educação Física ficam fora da educação, e lá
ficarão enquanto estes objetivos forem diretamente orientados para o corpo, pois se pode
“formá-lo, aperfeiçoá-lo, mas não se pode educá-lo”, porque “somente a personalidade é
objeto da educação e nada mais”. Assim sendo, se orientam os objetivos da Educação Física
para a formação global da personalidade, eles se dispersam e perde-se a especificidade da
Educação Física. Se eles dirigem-se para o corpo, tornam-se estranhos à Pedagogia. Dito isso,
comente justificando se concorda ou não. Se concordar, sugira uma solução.

A última questão gerou respostas muito extensas e bastante complexas, portanto a


análise aqui realizada será para levantar apenas ideias centrais que foram passadas.
Quatro dos entrevistados concordam com o que foi dito e justificam-se por diversos
motivos, entre eles estão: práticas vazias, sem quaisquer reflexões para os alunos; a falta de
utilização dos saberes adquiridos na formação acadêmica; falta de reflexão do professor sobre
suas práticas e sobre a disciplina; e a falta de identidade da disciplina por não ter um objetivo
claro, bem definido no âmbito escolar. As sugestões dadas por esses professores para a
reversão do quadro atual incluem: associação da teoria e prática, mudança de comportamento
e atitude por parte do professor e utilização concreta de uma ação pedagógica voltada para a
Educação Física. Um dos entrevistados relatou que não há como reverter o quadro enquanto a
Educação Física utilizar-se de outras ações pedagógicas não específicas para se justificar.
Apenas um dos entrevistados não concordou totalmente com o artigo, mas concordou
em partes, disse que quando o professor planeja não pensa no indivíduo como corpo apenas,
mas como ser, disse que a dificuldade está em observar tais fatos.
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Conclusão

Somente com esta pesquisa não é possível apontar a real importância da Educação
Física escolar, mas através desta pesquisa pudemos constatar que, na visão da população
pesquisada, a Educação Física escolar não se apresenta como deveria, pois sempre acaba
limitando-se a uma pequena quantidade de atividades que não geram reflexões posteriores,
que perdem seu significado na promoção do imediatismo. Segundo os dados levantados, a
falta de embasamento teórico e o comodismo dos professores, além de outros fatores como,
por exemplo, o excesso de atividades recreativas, acabam formando uma opinião errada da
disciplina para os alunos, principalmente pelo fato de que a Educação Física lhes aparece
muitas vezes sem significado ou objetivo bem definido.
É esta falta de objetivo e de identidade da disciplina que, segundo o que foi comentado
e pesquisado, gera conflitos para a Educação Física escolar, pois falta-lhe uma razão de ser
que vá além do corpo, ao mesmo tempo que não o esqueça, e é onde encontra-se o desafio do
profissional, em fundamentar cada vez mais suas práticas e dedicar-se à profissão, realizando
de maneira efetiva o papel de educador.

REFERÊNCIAS

DE MARCO, Ademir (org.). Pensando a educação motora. São Paulo: Papirus, 1995.

FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano; MAZZA, Débora. Na escola que fazemos-: uma
reflexão interdisciplinar em educação popular. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. 109 p.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia


científica. 4. ed., rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001. 288 p.

LUDKE, Menga. O professor, seu saber e sua pesquisa. Educação & Sociedade,
Campinas, v.22, n.74, p.77-96, 2001. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010173302001000100006&lng=pt
&nrm=iso>. Acesso em: 08 Jul. 2008.

MEDINA, João Paulo Subirá. A Educação Física cuida do corpo... e “mente”: bases para a
renovação e transformação da educação física. Campinas: Papirus. 1987.
11192

PICCOLO, Vilma L. Nista. Educação física escolar: ser___ ou não ter?. Campinas: Ed. da
UNICAMP, 1993. 136 p.

RAMOS, Jayr Jordão. Os exercícios físicos na história e na arte. São Paulo: IBRASA,
1983. 348 p.

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