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Radiação Térmica em Superfícies Seletivas

Sousa, G. C. P.1, Duarte, Raimundo N. C.1

1
Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil
e-mail: pamplonagustavo@hotmail.com

Resumo: O mundo caminha em ritmo acelerado no consumo de recursos naturais não


renováveis ocasionando diversos problemas ecológicos, tal como o aquecimento global,
resultante da queima de combustíveis fósseis, por exemplo. Além desse argumento ambiental,
as pesquisas sobre novas fontes de energia tem procurado reduzir a atual dependência em
relação aos combustíveis fósseis, além de popularizar e difundir o uso de energias renováveis.
O Brasil possui uma das melhores condições no mundo para geração de energia solar e
atualmente vem crescendo aqui a indústria fabricante de coletores solares. Entretanto, se os
indicadores apresentados pelo país forem comparados com os de outros países líderes e
pioneiros na implementação sustentável de energia solar, fica evidente que o nosso mercado e
o potencial explorado ainda são ínfimos. Atualmente, esse tipo de energia apresenta
limitações quando se pretende atingir temperaturas mais elevadas, restringindo sua
viabilidade a aplicações de baixas e médias temperaturas. Como uma das alternativas para
melhorar o desempenho dos coletores solares, a aplicação de revestimentos superficiais nas
placas absorvedoras de radiação solar promovem um acréscimo no ganho energia desses
equipamentos, elevando significativamente seu rendimento global. Diante dessa realidade, a
presente análise busca estudar a fundo as aplicações e parâmetros radiativos dos
revestimentos seletivos.
Palavras Chaves: Radiação Térmica, Coletor Solar, Energias Renováveis, Superfícies
Seletivas.

CILAMCE 2016
Proceedings of the XXXVII Iberian Latin-American Congress on Computational Methods in Engineering
Suzana Moreira Ávila (Editor), ABMEC, Brasília, DF, Brazil, November 6-9, 2016
Radiação Térmica em Superfícies Seletivas

1. Introdução

A maior parte da energia utilizada pela humanidade decorre do petróleo, do carvão


natural, de fonte nuclear e de hidroelétricas. O uso de tais energias, em larga escala, tem
alterado consideravelmente o clima, a composição da atmosfera e o balanço térmico global do
planeta provocando poluição, chuvas ácidas, aquecimento global e degelo nos polos.

A crise do petróleo na década de 1970 fez com que a sociedade mundial começasse a
se preocupar com o esgotamento das reservas de combustíveis fosseis, e com isso, surgiram as
primeiras análises de impactos ambientais. O interesse na realização dessas análises
apresentou variações ao longo dos anos, sendo reacendido na década de 1990 com a criação
das normas ISO 14040 e as discussões ambientais ocorridas naquela época (RIBEIRO, 2011).
Com isso, a necessidade de reduzir a dependência em relação aos combustíveis fósseis e
contribuir para melhorar as condições ambientais do planeta fomentaram a busca por novas
fontes de energia com um menor impacto ambiental, reduzindo a poluição atmosférica e as
alterações do balanço térmico do planeta.

Atualmente, a energia solar tem sido utilizada em diversas aplicações, podendo ser
destacado o aquecimento de água e a geração de vapor para utilização industrial. Para tanto,
utilizam-se trocadores de calor especiais chamados de coletores solares para realizar o
aquecimento do fluido pretendido. Dentre outros aspectos que reduzem a eficiência desses
coletores, observa-se uma grande perda por emissão de radiação térmica, implicando em
temperaturas de operação inferiores a 100ºC e limitando sua aplicabilidade. As superfícies
seletivas constituem uma das alternativas encontradas para reduzir elevar a absorção de
radiação e, principalmente, minorar as perdas por emissão térmica.

O revestimento superficial do material que absorve a radiação solar influencia


diretamente na relação custo-benefício do equipamento (GOMES, 2001). Além de aumentar a
eficiência dos coletores, os revestimentos superficiais possibilitam uma temperatura mais
elevada na saída do equipamento, aumentando o horizonte de aplicações e diminuem
sensivelmente a emissão de radiação térmica. O presente trabalho busca estudar a fundo as
propriedades de Transferência de Calor por Radiação Térmica em Superfícies Seletivas.

2. Radiação Solar

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I Simpósio da Pós-Graduação em Engenharia Mecânica
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A luz do sol está prontamente disponível e livre de tensões geopolíticas, além de não
representar ameaça para o nosso meio ambiente. A Terra é essencialmente um enorme coletor
que recebe grandes quantidades de energia solar que se manifestam em várias formas, como a
luz solar direta usada para a fotossíntese das plantas, massa de ar aquecidas que causam vento
e a evaporação dos oceanos resultando em chuva, que forma rios e fornece hidroelétricas.
Este parâmetro se torna importante para um estudo comparativo entre o potencial existente e o
quanto realmente é utilizado dessa quantidade de energia.

A energia irradia de um objeto para outro em todas as condições e todos os tempos


(MODEST, 2013). A energia solar é transmitida principalmente para a Terra por ondas
eletromagnéticas que também podem ser representadas por partículas (fótons). A fonte da
radiação emitida é uma combinação de oscilações e transições eletrônicas e moleculares no
material emissor, bem como vibrações de rede. Uma vez que a energia é irradiada, ela se
propaga como uma onda eletromagnética, independentemente de haver vácuo ou matéria ao
longo de seu caminho. A interação entre os órgãos emissores e absorventes através das ondas
eletromagnéticas é a essência da transferência de energia radiativa.
O objetivo geral nos cálculos de transferência radiativa é determinar a quantidade de
energia deixando uma superfície e atingindo outra depois de viajar através de um espaço
intermediário, que pode ser composto por partículas, gases, algum outro material ou vácuo.
Essas partículas no meio também absorvem e emitem radiação (MODEST, 2013). Além
disso, eles mudam a direção da energia radiativa devido à dispersão, o que desempenha um
papel na diminuição ou aumento da quantidade de energia radiativa que se propaga ao longo
de uma determinada direção.

Considerando a energia radiativa espectral se propagando ao longo de uma direção S e


incidente sobre um pequeno volume de controle dA em S (x, y, z), como mostrado na Figura
1. Essa energia é confinada a uma pequena região cônica, que é chamada de ângulo sólido, Ω.

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Figura 1: Definição de Ângulo Sólido

O sentido é medido pelos ângulos zênite (θ) e azimutal (φ), respectivamente, onde θ é
medido da direção normal para dA. Por definição, um ângulo sólido em qualquer lugar acima
dA é igual à área interceptada no hemisfério da unidade. Conforme mostrado na Figura 1, um
elemento desta área hemisférica é dado por senθdθdφ para que dΩ = senθdθdφ
Todo objeto a uma temperatura finita emite energia radiativa. Em princípio, a emissão
de um determinado corpo é uma função das propriedades do material, da temperatura e da
direção.

Um corpo negro é uma superfície que é considerada como um emissor perfeito, ou


seja, nenhum corpo emite mais radiação que um corpo negro; este absorve toda a energia
radiante que chega até ele e também emite toda a radiação incidente, podendo-se concluir que
os valores da absortividade e da emissividade de um corpo negro são α = ε =1. Esta radiação
emitida por um corpo negro independe da direção, se comportando como um emissor difuso
perfeito.

Na natureza, mesmo que não exista um corpo negro, existem aproximações, por
exemplo, uma espessa camada de carbono preto pode absorver 99% da radiação térmica
incidente (DUFFIE & BECKMAN, 1980).

2.2. Intensidade Radiativa

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A radiação emitida em todas as direções é definida como intensidade de radiação (I),


que pode ser expressa como a quantidade de energia radiante emitida por unidade de área (A),
por unidade de tempo (t), para um ângulo sólido unitário (Ω) (KREITH, 1977).

A intensidade pode ser definida como intensidade espectral (Iλ), que se refere à
radiação em um intervalo em torno do comprimento de onda, ou intensidade total (I), que se
refere à radiação para todos os comprimentos de onda.

2.3. Lei de Planck e Lei do Deslocamento de Wein

A radiação na região do espectro eletromagnético aproximadamente 0,2 a


aproximadamente 1000µm é chamada de radiação térmica e é emitida por toda substância em
virtude de sua temperatura. A distribuição do comprimento de onda da radiação emitida por
um corpo negro é mostrada pela Lei de Planck (RICHTMYER & KENNARD, 1947):

Aqui, λ é o comprimento de onda no meio do índice de refração n. Esta é a


distribuição espectral Planck do poder emissivo. Para a maioria das aplicações de engenharia,
a emissão radiativa é no ar ou outros gases, para os quais o índice de refração, n = c0 / c, é a
unidade. Note-se que a função do corpo negro de Planck, que fornece valores quantitativos
para a emissão, é expressa em termos de duas constantes universais: Constante de Planck, h =
6.62606957 × 10-34 J⋅s e Boltzmann constante, kB = 1.3806488 × 10-23 J / K. Duas
constantes auxiliares de radiação são definidas como C1 = hc02 e C2 = hc0/kB.

A distribuição espectral definida por esta lei está representada na Figura 2 para
algumas temperaturas. Pode observa-se nela que a radiação emitida por um corpo negro varia
continuamente com o comprimento de onda e para qualquer comprimento de onda, a radiação
emitida por um corpo negro aumenta à medida que a temperatura aumenta. Nota-se também
que quando a temperatura aumenta, diminui o comprimento de onda correspondente ao valor

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máximo da distribuição espectral. Desta forma a Lei do Deslocamento de Wein pode ser
escrita como as posições dos pontos máximos e estes são representados pela linha pontilhada
no gráfico da Figura 2.

 (e b ,max ) T  2,8978  10 3 mK

A lei de Planck expressa a distribuição espectral da radiação de um corpo negro;


entretanto, a energia total emitida por um corpo negro pode ser obtida por integração para
todos os comprimentos de onda, como mostrado na equação

onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann e é igual a 5,66 x 10-8 W/m²K.4

Figura 2: Distribuição espectral da radiação de um corpo negro (INCROPERA &


DEWITT, 2003)

2.4. Propriedades Radiativas de Superfícies Reais

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As propriedades de superfície constituem-se em um importante parâmetro para a


determinação da seletividade de absorvedores de radiação solar. De maneira geral, toda a
radiação deve ser refletida para fora do meio, absorvida no interior da camada ou transmitida
através da superfície, conforme esquematizado na Figura 3.

Figura 3: Absortância, Reflectância e Transmitância da Radiação.

2.4.1. Emissividade

A emissividade ε de uma superfície é como a razão entre a energia radiante emitida


por uma superfície real e a energia radiante emitida por um corpo negro, à mesma
temperatura e com as mesmas dimensões. Considera-se que a emissividade de um corpo
negro tem valor 1.
𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑒𝑚𝑖𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑢𝑚 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑙
ε=
𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑒𝑚𝑖𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑢𝑚 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 𝑛𝑒𝑔𝑟𝑜

A determinação da emissividade de um material depende de algumas condições tais


como temperatura, ângulo de emissão e comprimento de onda da energia radiante emitida, e é
frequentemente medida experimentalmente em uma direção normal à superfície emissora e
como função do comprimento de onda. Para cálculo da potência total radiante emitida por
uma superfície é necessário incluir todas as direções e comprimentos de ondas.

A emissividade direcional espectral ελθ(λ,θ,φ,T) de uma superfície a temperatura T é


definida como a razão entre a radiação emitida no comprimento de onda e na direção θ e φ e a
radiação emitida por um corpo negro nos mesmos valores de T e λ.

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A emissividade total direcional ελθ(λ,θ,φ,T) de uma superfície a temperatura T é


definida como a razão entre a radiação média emitida, considerando a contribuição de todos
os comprimentos de onda e na direção θ e φ, e a radiação emitida pelo corpo negro no mesmo
valor de temperatura.

A emissividade espectral hemisférica ε λ (λ,T) de uma superfície a temperatura T é


definida como a razão entre a radiação média emitida no comprimento de onda , considerando
a contribuição de todas as direções θ e φ e a radiação emitida pelo corpo negro nos mesmos
valores de T e λ.

A emissividade hemisférica total ε de uma superfície a temperatura T é definida como


a razão entre a radiação média emitida, considerando a contribuição de todos os
comprimentos de onda λ, e as contribuições de todas as direções θ e φ, e a radiação emitida
por um corpo negro à mesma temperatura.

2.4.2. Absortividade

A absortividade α de uma superfície é definida como a fração da radiação solar


incidente que é realmente absorvida, ou seja, a razão entre a radiação absorvida e a radiação
incidente sobre a mesma. A determinação da absortividade de uma superfície depende de
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alguns fatores tais como características da radiação incidente da fonte. A distribuição


espectral da radiação incidente é independente da temperatura ou da natureza física da
superfície absorvedora, a menos que a radiação emitida seja refletida em direção à superfície.

O valor da absortividade de um corpo negro é 1; ele absorve toda a radiação que incide
sobre sua área.

A absortividade direcional espectral, αλ,θ(λ,θ,φ) de uma superfície é definida como a


fração da intensidade espectral na direção θ e Ì que é absorvida pela superfície.

A absortividade hemisférica espectral αλ(λ) é definida como a fração da irradiação


espectral que é absorvida pela superfície e está representada na equação:

A absortividade hemisférica total α é definida pela equação que representa a


absortividade para todos os comprimentos, ou seja, é a integração da equação anterior.

A lei de Kirchhoff define a relação entre emissividade e absortividade de um corpo.


Esta lei pode ter variações necessárias, impondo condições, dependendo da quantidade que se
pretende trabalhar, quer seja espectral, hemisférica, direcional ou total.

Portanto, as absorções e emitâncias hemisféricas espectrais são iguais se (e apenas se)


a irradiação e/ou a absorção espectral, direcional são difusas (isto é, não dependem da direção
de entrada).

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2.4.3. Refletividade

A refletividade ρ é definida como a razão entre a energia radiante refletida e a energia


radiante incidente sobre a superfície em estudo. Entretanto, segundo Seigel (2002), sua
definição específica pode assumir diversas formas, uma vez que essa propriedade é
inerentemente bidimensional. Na Figura 4, observamos que além de depender da radiação
incidente, ela também depende da direção da radiação refletida.

Figura 4: Esquema da Reflexão bidirecional.

A refletividade direcional espectral, ρλ,θ(λ,θ,φ) mostrada na equação, de uma superfície


é definida como a fração da intensidade espectral na direção θ e φ que é refletida pela
superfície.

A refletividade hemisférica espectral ρλ(λ) é definida como a fração da irradiação


espectral que é refletida pela superfície e está representada na equação:

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A refletividade hemisférica total ρ é definida pela equação que representa a


refletividade para todos os comprimentos, ou seja, é a integração da equação anterior.

2.4.4. Transmissividade

A transmissividade τ de um material é definida como a parcela da radiação incidente


que transpõe a superfície do material em estudo, ou seja, a razão entre a radiação que
ultrapassa a superfície e a radiação incidente.

Quando se considera troca de calor entre corpos, existem três formas de perda de
energia: ser refletida, ser transmitida e ser emitida. Logo, existe uma relação entre as
propriedades emissividade, refletividade e transmissividade.

Considerando uma troca de calor entre um pequeno corpo opaco (τ = 0) e sua


vizinhança, sob condições de equilíbrio térmico a uma temperatura T(K) e considerando a lei
de Kirchhoff, a equação anterior pode ser escrita como:

3. Coletor Solar Térmico

É o principal componente de um sistema de aquecimento solar. Promove a conversão


da radiação solar, transferindo o fluxo energético proveniente da radiação incidente para o
fluido que circula no interior do mesmo.

Coletores solares devem ter alta transmissividade e absortividade da radiação.


Algumas vezes, eles perdem energia pela combinação de mecanismos de convecção e
condução de calor, incluindo radiação térmica da superfície absorvedora e é desejável que a
emitância da superfície seja a mais baixa possível para reduzir as perdas (DUFFIE &
BECKMAN, 1980).

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Os principais tipos de coletores solares térmicos são de placa plana, tubo evacuado e
concentradores.

O coletor plano consiste de quatro elementos principais: Estrutura; Superfície


Absorvedora, responsável pela absorção da radiação solar incidente e pela transmissão desse
calor para o fluido de trabalho; Coberta, responsável pela redução do calor perdido pelo
sistema absorvedor, permitindo a passagem da radiação de curto comprimento de onda e
retendo radiação com comprimentos de onda maiores e também uma recuperação do calor
perdido pelo absorvedor através de uma reflexão interna; Isolamento, responsável pela
redução da perda de calor por condução e convecção para o meio externo.

3.1. Superfície Absorvedora

O componente fundamental de um coletor plano é a placa absorvedora. Esta consiste


numa chapa metálica com uma absortividade elevada, ou seja, uma chapa que apresenta boas
características de absorção de calor, com revestimento preto-baço ou com revestimento
seletivo e tubos de transferência de calor ligados ao coletor. Desta forma, quando a radiação
solar atinge o absorvedor esta é parcialmente absorvida e parcialmente refletida. Da absorção
da radiação é gerado calor, que é transferido da chapa metálica para os tubos ou canais de
escoamento. Através desses tubos de escoamento, o fluído de transferência térmica transporta
o calor para os tanques de armazenamento.

A exigência principal de um excelente revestimento para absorção solar é a


seletividade espectral. Uma superfície cujas propriedades ópticas de absortividade,
refletividade e emissividade variam nas regiões da radiação solar e da radiação infravermelha
térmica é chamada de superfície seletiva espectral.
O ganho de calor radiativo líquido de um coletor solar é a diferença entre a energia
solar absorvida e as perdas de radiação devido à emissão pela superfície do coletor.
Uma superfície de coletor ideal tem uma emitância máxima para aqueles
comprimentos de onda e direção sobre os quais a energia solar cai na superfície e uma
emitância mínima para todos os outros comprimentos de onda e direções (MODEST, 2013).

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Uma superfície ideal espectralmente seletiva seria preta (αλ = ϵλ = 1) ao longo da faixa
de comprimento de onda sobre a qual é desejada a absorção máxima e seria totalmente
reflexiva (αλ = ϵλ = 0) onde a emissão indesejável ocorreria.
A Figura 5 mostra a superfície de um coletor solar com superfície seletiva. No
processo de captação de energia, o sistema superfície seletiva-coletor absorve a radiação solar
de curto comprimento de onda, emitindo radiação térmica de maior comprimento de onda.

Figura 5: Esquema da radiação solar na superfície seletiva-coletor (AGNIHOTRI, O.P. &


GUPTA, B. K., 1981).

A seletividade óptica de uma superfície absorvedora varia em virtude do comprimento


de onda (λ) da radiação incidente, de forma que o comportamento seletivo, a uma
determinada temperatura, consiste em absorver toda a radiação incidente abaixo de
determinado comprimento de onda, tido como o comprimento de onda de corte (λC), e não
emitir radiação acima deste comprimento de onda (AMRI et al, 2013; MADHUKESWARA;
PRAKASH, 2012).
Para aplicações em energia solar, o λC é igual a 2 µm, uma vez que uma superfície
seletiva espectral deve apresentar alta absortância na faixa do espectro relativa à radiação
solar na região visível de alta intensidade e na região do infravermelho próximo, o que
corresponde até aproximadamente 2 µm, e ao mesmo tempo apresentar baixa emitância para a
radiação térmica infravermelha, referente aos comprimentos de onda acima de 2 µm
(KENNEDY, 2002).
No entanto, este λC é característico para diferentes materiais e tipos de superfícies. No
caso dos semicondutores, esta variação está relacionada a algumas propriedades, como por
exemplo, seu band gap (representa a quantidade de energia necessária para que um elétron se
descoque da banda de valência até a banda de condução) que é função do tipo de ligações
atômicas que este material apresenta e que determinará a quantidade de energia que poderá
ser absorvida (CALLISTER, 2008).

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A microestrutura do material também irá influenciar seu λc. Materiais que possuem
inclusão de partículas com diâmetro inferior a faixa de comprimentos de onda da radiação
incidente, terão suas propriedades ópticas afetadas, pois estas partículas gerarão múltiplas
reflexões internas ao material (MARTINS, 2010).
A espessura do filme seletivo também pode ser um fator que motivará alterações no λc
visto que este pode atuar como filtro a determinados comprimentos de onda de radiação
incidente e que, se a espessura da superfície for elevada, a quantidade de energia emitida por
radiação também será maior (REBOUTA et al., 2012)
Com relação ao fluxo de calor, considere uma placa de coletor solar, irradiada pelo sol
em um ângulo fora do normal de θs. Fazendo um balanço energético (por unidade de área do
coletor), encontramos:

onde o fator cosθs aparece uma vez que qsun é fluxo de calor solar por unidade de área normal
aos raios do sol. A emitância total e a absorção total são encontradas a partir das equações:

Considerando que a distribuição espectral de qsun é a mesma que a emissão de corpo


negro da superfície do sol.
A maioria dos absorvedores seletivos são fabricados por revestimentos de uma fina
película não metálica sobre um metal. Na maioria dos comprimentos de onda, o filme não
metálico é muito transmissivo e a radiação entrante passa diretamente para a superfície
metálica com sua alta reflectância.

4. Conclusões

Uma das formas de reduzir a dependência de combustíveis fósseis é a utilização da


energia solar, por meio de conversão térmica. Coletores solares dos tipos: placa plana,
concentrador e tubo evacuado captam a radiação solar através da região espectral absorvedora

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e a transformam em energia térmica. Essa região espectral absorvedora pode ser obtida por
uma superfície preta ou uma superfície seletiva, sendo esta última mais eficiente.

Em aplicações práticas para a geração de energia solar térmica, torna-se necessário o


revestimento do material que absorve a radiação solar por uma superfície seletiva, ou seja,
uma superfície que absorva bem a radiação no espectro solar (ultravioleta e visível) e, ao
mesmo tempo, tenha uma baixa emissividade (emita no infravermelho). O revestimento de
superfícies absorvedoras tem a função de aumentar a eficiência do equipamento e fazer com
que o mesmo atinja temperaturas de estagnação maiores, o que não ocorre com equipamentos
sem a seletividade.

Portanto, para um desempenho máximo de coletores solares térmicos, a absorção


deverá ser máxima e a emitância de infravermelho deve ser mínima.

5. Referências

[1] AGNIHOTRI, O. P. & GUPTA, B. K. Solar Selective Surfaces. Wiley Interscience. 1981.
[2] AMRI, A.; DUAN, X.; YIN, C.; JIANG, Z.; RAHMAN, M.; PRYOR, T. Solar
absorptance of copper-cobalt oxide thin film coating with nano-size, grain-like morphology:
optimization and synchrotron radiation XPS studies. Applied Surface Science, v. 275, p. 127-
135, 2013.
[3] CALLISTER, W. D. Ciência e Engenharia de Materiais. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
[4] DUFFIE, J. A. & BECKMAN, W.A. Solar engineering of thermal processes. John
Wiley & Sons. 1980.
[5] GOMES, C. A. S. Estudo Comparativo de Superfícies Seletivas para Coletores
Solares. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2001.
[6] INCROPERA, F.P.; DEWITT, D.P. Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa.
4ª Ed, LTC Editora, Rio de Janeiro, 1998.
[7] KENNEDY, C. E. Review of Mid-to-High Temperature Solar Selective Absorber
Materials. Colorado: National Renewable Energy Laboratory, 2002.
[8] KREITH, F. Princípios da Transmissão de Calor. 3ª Edição, Ed. Edgard Blϋcher, São
Paulo, 1977.
[9] MARTINS, M. Produção de Superfícies Seletivas por Magnetron Sputtering para
Aplicação em Coletores Solares. Dissertação (Mestrado em Engenharia Metalúrgica e dos
Materiais) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
[10] MODESR, M. F. Radiative Heat Transfer. 3ª Edição, Elsevier, Oxford, 2013.

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[11] REBOUTA, L.; PITÃES, A.; ANDRITSCHKY, M.; CAPELA, P.; CERQUEIRA, F. M.;
MATILAINEN, A.; PISCHOW, K. Optical characterization of TiAlN/TiAlON/SiO2 absorber
for solar selective applications. Surface and Coatings Technology, v. 211, p. 41-44, 2012.
[12] RIBEIRO, M. A. J. Aplicação da avaliação do ciclo de vida na busca de ecoeficiência
na fabricação de pães de forma. Dissertação de mestrado. Centro Federal de Educação
Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ. 2011.
[13] RICHTMYER, F. K ; KENNAD, E. H. Introduction to Modern Physics. 4rd.ed,
McGraw-Hill. New York, 1947.
[14] SIEGEL, R. & HOWELL, J.R., Thermal Radiation Heat Transfer, McGraw Hill, New
York, NY.

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