Nº 01 – Fevereiro 2015

Editorial Nesta edição

2
NOTÍCIAS EM FOCO
Novas perspectivas Em “Check this out!” e “¡Mira esto!”

A
A mobilização contra os radicais islâmicos
arte nos ajuda a ver o mundo com outros olhos. O contexto é

5
representado de maneira peculiar por meio do pensamento e da
CONTEXTO
criatividade dos artistas, que imprimem em suas obras o sentido
Prêmio Nobel de Física
que enxergam na vida ou nos próprios desejos e intenções. Vista
A ciência benéfica dos LEDs
por esse ângulo, talvez toda arte possa ser considerada abstrata. Assim,

6
este mês, com o falecimento da artista Tomie Ohtake, famosa por suas
TOQUE DO ESPECIALISTA
obras de formas livres, coloridas e imperfeitas, aproveitamos para discutir
Painéis solares
um pouco sobre a arte e a construção de sentido na seção “Entrelinhas”.
Sob o olhar da Química
Embarcando no clima de novos olhares e perspectivas, despertado

7
também pelo início do ano, desenvolvemos um novo projeto gráfico para o
Leia Agora. Priorizamos um visual moderno e descontraído para tornar sua ESPAÇO LITERÁRIO
leitura mais dinâmica e agradável. “A doce dança da vida (Bailarina)”
Pensando em ampliar ainda mais seus horizontes, criamos também Por Érica M. Bettoni Hayashibara
novas seções para o informativo. Você notará que, para compor as páginas
de matérias em destaque (“Notícias em foco”), adicionamos trechos de
notícias em língua estrangeira (inglês – “Check this out!” – e/ou espanhol –
“¡Mira esto!”), além de uma foto em evidência que representa uma notícia
(“Imagem em foco”). Com todas essas mudanças, novas habilidades PARTICIPE DO ESPAÇO LITERÁRIO!
podem ser trabalhadas enquanto você se informa e desenvolve seu “Espaço literário” é a seção* de literatura do Leia Agora e
conhecimento de mundo. queremos dividi-la com você, nosso leitor, como uma forma
de estimular sua participação, além de divulgar e descobrir
Aproveite as novidades!
novos talentos. Se você tem um poema, uma crônica, um
Equipe Leia Agora
pequeno conto que gostaria de compartilhar, envie para
editora@sistemapoliedro.com.br, indicando o seu nome, a sua
Noel Portugal/Flickr

Monumento Tomie Ohtake,

em Santos (SP). idade, a Unidade Parceira e a sua cidade.
A sua composição poderá estar nas próximas edições. Participe!
*A Editora Poliedro não realiza a edição dos textos veiculados
nesta seção, respeitando, assim, a liberdade de criação do(a)
autor(a) integralmente.

Expediente Edição: Erica Moraes e Matheus Monteiro

Texto: Anaiza Castellani Selingardi
Ilustração: Pedro Nogueira
Projeto gráfico: Willyam Gonçalves
Revisão: Cristiane Gonella e Mariana Castelo
Diagramação: Willyam Gonçalves
// NOTÍCIAS EM FOCO
Inflação acelera
para 1,24%,
maior taxa desde
2003
No acumulado em 12
meses, taxa subiu a
7,14%, muito acima
do teto da meta.
Resultado foi puxado
por alta de 8% nas
tarifas de energia. Para
2015, a expectativa
dos economistas é de
que a inflação fique em
7,01%, acima do teto
da meta do governo,
de 6,5%. Entre 2005
e 2014, a inflação
avançou 69,34%.
6 fev. 2015
O Globo
Grécia vai
descartar 30%
das reformas
exigidas pelo
atual programa
de resgaste
Caso entre em outro
financiamento, a Grécia
provavelmente precisará
se submeter a uma
supervisão da troica que
o novo governo, liderado
pelo Ministro Alexis
Tsipras, tem rejeitado.
9 fev. 2015
Estadão
Brasil
Casos de dengue aumentam
64% em São Paulo
Meio Ambiente
A prefeitura teme que a incidência do mosquito transmissor da
Educação
doença, o Aedes aegypti, cresça por causa do maior armazenamento
Internacional de água pela população, em virtude da crise hídrica.
Energia
Saúde
Crise de água já afeta
agricultura no Brasil
O impacto da estiagem na agricultura deve ser sentido
principalmente pelo consumidor, com o aumento de
preços. Perdas são esperadas nas safras de café,
cana-de-açúcar, milho e feijão. A produção de soja
deve ficar abaixo da estimativa. O desenvolvimento
de hortaliças e frutas também ficou comprometido.
Tecnologia
desenvolvida por
alunos ajuda na
qualidade de vida
de deficientes
Alunos da Escola Martha
Falcão (Manaus, AM)
desenvolveram o Projeto
“Educação inclusive para
portadores de deficiência
auditiva”. Com ele, a
escola participa do
Torneio de Robótica A
FLL Sesi 2014-2015. O
projeto é um protótipo
de “esqueleto de mão”,
construído inteiramente
com peças e tecnologia
de Lego, que se
comunica com pessoas
portadoras de deficiência
auditiva através do uso
de Libras.
3 fev. 2015
A crítica
Militants’ Killing of
Jordanian pilot unites
the Arab world in anger
Crowds welcomed home King
Abdullah II of Jordan after
the swift executions of two
prisoners, a day after militants
released a video that appeared
3 fev. 2015 to show a captured Jordanian
Deutsche Welle
pilot being burned alive. In a
way that recent beheadings
of hostages had not, the
Reforma política, immolation of Lieutenant
estabilidade e Kasasbeh set off a regionwide
segurança são explosion of anger and disgust
destaque na
at the extremists, also known
abertura do ano as ISISor ISIL, or, to most
legislativo
Arabs, by the word Daesh.
O tema da reforma 4 fev. 2015
política foi comum The New York Times
aos pronunciamentos
da Presidente Dilma
Rousseff, do Presidente
do Senado, Renan
Calheiros, e do
Presidente da Câmara, Unidad africana en
las redes contra el
Eduardo Cunha.
terrorismo
A harmonia entre os
Poderes da República
#JeSuisNigeria, #IAmNigeria
y #JeSuisAfricain, estos tres
foi lembrada pelo
hashtags sirvieron para difundir
Presidente do STF,
mensajes de apoyo a quienes
Ricardo Lewandowski,
padecen los actos de Boko
que reforçou a
Haram, pero también para
importância de uma
mostrar el rechazo a la violencia
relação pacífica,
y para criticar la hipocresía de la
porém pautada pela
sociedad. No es la primera vez
independência. que los africanos utilizan esas
2 fev. 2015 herramientas para movilizarse.
Agência Senado Ahora, sin embargo, la acción
se plantea como un movimiento
panafricano, precisamente en el
momento en el que los países
del entorno de Nigeria han
escenificado su compromiso
para acabar con Boko Haram.
La sociedad civil presente en
las redes sociales apuesta por
la construcción de la paz y
de una conciencia continental
del problema aderezando los
12 fev. 2015
mensajes con las etiquetas.
Folha de S. Paulo
4 fev. 2015
El Pais
2
Explosão em Graça Foster e outros cinco diretores
navio-plataforma deixa 3 mortos e 10 renunciam aos cargos na Petrobras
feridos no litoral do ES Graça reclamou com a presidente sobre a pressão
Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), ocorreu que vem sofrendo e colocou, novamente, seu cargo à
uma explosão na casa de bombas às 12h50 e que foi disposição. Dessa vez, Dilma concordou com a saída
comunicada 1 hora depois. Segundo a agência, da auxiliar. A sua posição só mudou depois que o
74 pessoas estavam no navio- Conselho de Administração da
-plataforma. Não houve vazamento Na Argentina, 400 mil pedem justiça em empresa divulgou uma baixa
de óleo no mar. A Capitania dos caso de promotor achado morto em seus ativos da ordem de
Portos do Espírito Santo (CPES) Milhares foram às ruas para lembrar um mês da morte do R$ 88 bilhões, fruto de desvios
diz que será aberto um inquérito promotor Alberto Nisman, encontrado morto um dia antes de e ineficiência na execução de
administrativo para esclarecer as apresentar, no Congresso, documentos que mostrariam ação projetos.
causas e responsabilidades pelo da presidente [Cristina Kirchner] para dificultar a investigação 4 fev. 2015
Folha de S. Paulo
ocorrido na plataforma. sobre o ataque à Amia, uma entidade judaica, em 1994.
11 fev. 2015 18 fev. 2015
G1 Folha de S. Paulo

Estiagem leva 16,8% dos municípios
brasileiros a decretar desastre
Os dados são do Ministério da Integração Nacional, de 2 de
fevereiro. Dos 936 municípios oficialmente em situação de desastre,
843 estão no Nordeste. A região Sudeste é a segunda mais
afetada, com 94 municípios. As demais regiões não têm nenhum
município com decreto de desastre reconhecido pelo governo federal.
11 fev. 2015
UOL
Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 18 fev. 2015.
Aneel pode arrecadar até R$ 17 bilhões
com novo valor das bandeiras tarifárias
O Diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, informou que a
bandeira não representa necessariamente aumento de
custo. “A bandeira aprimora a forma de repassar o custo já
existente ao consumidor. Na prática, não é aumento, porque
o custo seria repassado posteriormente [...]”, disse Rufino.
6 fev. 2015
Agência Brasil

Protesto de trabalhadores da empresa contratada para

as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj), que tem como objetivo estratégico expandir
a capacidade de refino da Petrobras.

10 fev. 2015
Tomaz Silva /Agência Brasil

// IMAGEM EM FOCO
3
 ENTRELINHAS
Tomie Ohtake e a arte abstrata
Os textos a seguir não tratam exatamente do mesmo assunto, porém um complementa a ideia
exposta no outro. Entenda como isso acontece na análise proposta depois dos textos.

TEXTO Pintura abstrata é arte?

01 Morre Tomie Ohtake,

101, grande dama
das artes brasileiras
Morreu nesta quinta-feira, aos 101 anos, a
artista plástica Tomie Ohtake, um dos grandes
nomes das artes nacionais. [...]
“Tomie é uma artista que busca a experiência da
imperfeição. Ela sabe que não é perfeita, como
humana que é, e trabalha seus quadros com essa
consciência”, disse Paulo Herkenhoff, amigo de
Tomie e diretor cultural do Museu de Arte do
Rio (MAR). Por isso, segundo ele, a artista criou
uma geometria particular em suas telas [...]. Ao
mesmo tempo, ela se afastou da exatidão das
formas ocidentais, com retas e círculos feitos a
partir de instrumentos como régua e compasso,
e compõe formas imprecisas, à mão.
Para Herkenhoff, [...] “A pintura tem dimensão
corporal. Tomie estabeleceu um diálogo entre
pintar e viver, a energia vital é a mesma que
risca o quadro”.
É um engano supor que a arte se faz a partir do nada,
sem ao menos manifestar a consciência e a crítica do
passado. Suposições errôneas, do senso comum, é que
conduzem o simples observador a cometer equívocos
de julgamento, manifestos normalmente na forma de
preconceitos. [...]
[...] no fundo, o que é um rabisco senão uma técnica
das artes plásticas? Compete à pintura, enquanto
arte do sentido da visão, explorar todos os recursos
existentes de expressão de que dispõe.
[...]
Como não somos artistas, vamos às exposições à
procura de algum prazer e em busca de algum sentido.
Se saímos dali frustrados é porque o sentido que
buscamos é diverso daqueles que buscam os próprios
artistas, de sorte que o que entendemos por “sentido”
é, ainda hoje, quase sempre mediado pela realidade
objetiva, convertida em parâmetro de apreciação e
julgamento pelos leigos. Ora, um pintor moderno
é alguém que se libertou desse preconceito, dessa
escravidão ao aparente exterior, por isso o sentido que o
artista tem em mente é de outra ordem.
[...]
J.C. GUIMARÃES. “Pintura abstrata é arte?”.
Opção. Goiânia, ed. 1894, 23 a 29 out. 2011.
Disponível em: < www.jornalopcao.com.br/posts/opcao-cultural/
pintura-abstrata-e-arte>. Acesso em: 18 fev. 2015.

TEXTO
Veja. 12 fev. 2015.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/morre-

02
tomie-ohtake-101-grande-dama-das-artes-brasileiras>.
Acesso em: 18 fev. 2015.

ANÁLISE

E
m nosso dia a dia, o aconte-
cimento de determinados fa-
tos promove discussões e re-
flexões sobre questões ainda
mais abrangentes. Nesta edição, desta-
camos a obra da artista Tomie Ohtake,
“dama da arte nacional”, que faleceu
este mês, aos 101 anos, deixando uma
vasta gama de trabalhos que transitam
entre pinturas, gravuras, esculturas e
obras públicas.
O texto 1, de caráter mais infor-
mativo, trata da morte da artista, mas
se concentra também em definir as
características de sua obra a partir dos
comentários de um curador de arte.
São exatamente essas definições que
abrem espaço e preparam o terreno
para a discussão proposta no texto 2,
evidenciando a relação que os temas
estabelecem.
Apesar de não se restringir a
nenhum movimento artístico, Tomie
Ohtake se dedicou, em grande parte,
à arte abstrata. Tanto que, na matéria
“Morre Tomie Ohtake, 101, grande
dama das artes brasileiras”, Paulo
Herkenhoff define que “Tomie é uma
artista que busca a experiência da
imperfeição. [...] estabeleceu um diálogo
entre pintar e viver, a energia vital é a
mesma que risca o quadro”.
A declaração do curador de arte
sobre a obra da artista nipo-brasileira
conversa com os argumentos expostos
no artigo “Pintura abstrata é arte?”, em
que o crítico J. C. Guimarães propõe
uma reflexão sobre o sentido da arte
abstrata, afirmando que “o que enten-
demos por ‘sentido’ é, ainda hoje, quase
sempre mediado pela realidade objetiva,
convertida em parâmetro de apreciação
e julgamento pelos leigos. [...] um pintor
moderno é alguém que se libertou desse
preconceito, dessa escravidão ao apa-
rente exterior, por isso o sentido que o
artista tem em mente é de outra ordem”.
Tendo percebido como as ideias
dos dois textos se completam, agora é
a sua vez de refletir e relacionar fatos e
questões mais profundas. Experimen-
te reler os artigos e produzir um texto
com a temática “Tomie Ohtake e a arte
abstrata”. Você tem a liberdade de
escolher o tipo de texto que quer escre-
ver: proponha-se a redigir um artigo de
opinião ou uma crônica, por exemplo.
Fique sempre atento a todas as
áreas do conhecimento e aos textos
que relatam os acontecimentos que
marcam nosso dia a dia. Tudo pode ser
pensado e debatido!
Editorial

4
Uma nova luz para a humanidade
O empenho dos ganhadores do Nobel de Física de 2014 no desenvolvimento do LED azul reverte-se em soluções
criativas e vantajosas para os desafios atuais
Por MarCo anTonio riDEnTi
N
o final do século XIX, Alfred
Nobel criou um prêmio,
que traz o seu nome, a fim
de exaltar as descobertas
científicas de grande benefício para a
humanidade. Esse prêmio se tornou o
mais prestigioso do tipo e, em 2014,
no âmbito da Física, foi dado aos pes-
quisadores japoneses Isamu Akasaki,
Hiroshi Amano e Shuji Nakamura pela
invenção do diodo emissor de luz
(LED – Light Emitting Diode) na cor azul.
Mas qual é a grande importân-
cia do LED azul? Para responder a
isso, tenhamos em mente que a luz
é utilizada pela humanidade desde
os primórdios, com proveito para os
mais variados fins.
Historicamente, a forma mais pri-
mitiva de iluminar é obtida pelo fogo,
cuja importância ficou bem demarca-
da nos mitos das antigas civilizações.
Porém, o fogo é, de todas as formas
de produzir luz, a mais ineficiente do
ponto de vista energético, pois ape-
nas uma pequena fração da energia
disponível é convertida em fluxo ra-
diante luminoso (0,1 ln/W).
A invenção da lâmpada incandes-
cente, por sua vez, representou, com-
parativamente, um grande avanço,
considerando que uma lâmpada con-
vencional é capaz de gerar 16 ln/W.
Melhores resultados foram obtidos,
depois, com a lâmpada fluorescente,
cuja eficiência de conversão de luz é
igual a 70 ln/W. Ainda assim, estima-
-se que, ainda hoje, aproximadamente
1,5 bilhões de pessoas não tenham
acesso à luz elétrica.
Nesse sentido, o mais recente
passo tecnológico para solucionar o
problema da iluminação foi criar uma
fonte de luz que utiliza o LED. Esse tipo
de dispositivo é capaz de converter
diretamente energia elétrica em energia
luminosa, com perdas desprezíveis
para outras formas de dissipação de
energia, como o aquecimento térmico.
Os modelos mais modernos são
capazes de gerar luz com a eficiência
de 300 ln/W. Por isso, entre as tecno-
logias para atender ao fim em questão,
o LED é, de longe, a mais eficiente.
Tem-se uma ideia melhor do que isso
significa quando se considera que um
quarto de toda a energia utilizada no
mundo é destinada para iluminação.
Considerando que, atualmente, toda
a luz é gerada por lâmpadas com uma
eficiência de 70 ln/W, se todas elas fos-
sem trocadas por lâmpadas de LED,
seria possível uma economia de ener-
gia de mais de 400%!
Os primeiros LEDs
Os LEDs são conhecidos nossos
há muito tempo, sendo que os pri-
meiros a produzir luz no espectro vi-
sível (vermelho) foram apresentados à
comunidade científica por Nick
Holonyak em 1962, quando ele traba-
lhava na General Electric. Não muito
tempo depois, um aluno dele, George
Craford, inventou o LED amarelo.
Desde então, esses LEDs são
utilizados em painéis de controle de
todo tipo de equipamento – quem vi-
veu nos anos 1970 e 1980 usou algum
assim, certamente. “Mas, se os LEDs
Mike Deal/Flickr
vermelho e amarelo já existiam” – al-
guém pode perguntar – “por que ainda
era necessário criar um azul?”. A razão
é a seguinte: pensando na iluminação
por luz branca, para que ela possa ser
produzida, é necessário combinar as
luzes vermelha, verde e azul. Assim,
a última peça necessária para a mon-
tagem de uma fonte mais eficiente e
durável de iluminação estava faltando.
Ao menos, até meados dos anos 1990.
Essa demora se explica porque o
desafio de desenvolver um LED azul
provou-se muito mais difícil do que se
imaginava. Foram necessários mais
de 30 anos para que se obtivesse su-
cesso: é aí que entra o trabalho pio-
neiro dos agraciados com o prêmio
Nobel de 2014.
Uma história de perseverança
As principais dificuldades de pro-
duzir um LED azul foram: preparar dio-
dos emissores de luz, usando nitreto
de gálio (GaN), um semicondutor; en-
contrar um substrato adequado, com
propriedades físicas semelhantes ao
do GaN; e desenvolver uma técnica
para o crescimento do semicondutor
sem impurezas.
Foram muitas as tentativas fra-
cassadas de produzir um LED azul por
meio do nitreto de gálio. Apesar dis-
so, os pesquisadores Isamu Akasaki e
5
Hiroshi Amano, da Universidade de Na-
goya, e Shuji Nakamura, na empresa
Nichia Chemicals, elegeram esse mate-
rial. Akasaki e Amano foram os primei-
ros a conseguir produzi-lo, entretanto
Nakamura foi quem produziu o diodo
tido como o primeiro LED realmente
brilhante, com possibilidade concreta
de se aplicar em várias tecnologias.
Em acréscimo, os três autores fo-
ram capazes de desenvolver um laser
que utilizava o LED azul como com-
ponente crucial. Na medida em que a
luz azul tem um comprimento de onda
muito menor do que a luz vermelha, ela
permite a transmissão de uma quanti-
dade maior de informação por unidade
de tempo e uma maior capacidade de
armazenamento em dispositivos óp-
ticos. O desenvolvimento dos discos
Blu-ray, capazes de armazenar uma
quantidade muito maior de informação
do que os DVDs ou os CDs, tornou-se
viável graças a esse tipo de laser.
Aplicações: presente e futuro
Como mencionado anteriormen-
te, um quarto da energia utilizada no
planeta é destinado à iluminação, por
isso pode-se imaginar a dimensão de
economia de energia possível graças
à lâmpada de LED. E essa economia
não acaba aí: além da maior eficiência,
sua durabilidade é muito maior. Uma
lâmpada convencional incandescente
tem uma durabilidade de 1.000
horas, e uma lâmpada fluorescente,
de 10.000 horas. A lâmpada de LED
pode funcionar por um tempo muito
maior: incríveis 100.000 horas! Pode-
-se ainda mencionar que a lâmpada de
LED não oferece o risco de contaminar
o meio ambiente, diferentemente das
lâmpadas fluorescentes, que contêm
mercúrio, uma substância tóxica.
Dessa maneira, a invenção do
LED azul, em particular, revolucionou
a tecnologia da iluminação. Muitos
equipamentos voltados para a vida
doméstica fazem uso dele. Desta-
cam-se, por exemplo, as telas de LED
presentes em computadores, monito-
res e celulares.
Além disso, pensando-se naque-
les bilhões que não têm acesso à
luz elétrica, a luz de LED poderia ser
utilizada para sanar seu problema
por meio de painéis solares de baixo-
-custo instalados localmente. Versões
mais elaboradas desse dispositivo
são capazes de produzir luz em
diversas intensidades e diferentes
cores. Entre as muitas aplicações,
seria possível criar lâmpadas capazes
de simular a iluminação natural e
as alterações dela ao longo do dia,
ajustando-se ao relógio biológico.
Desse modo, em sintonia com os
desejos do criador do prêmio Nobel, a
realização dos três cientistas ilustra de
modo contundente o impacto positivo
que o trabalho científico pode exercer
sobre a sociedade, pois a descober-
ta deles se aplica hoje a uma ampla
gama de tecnologias e à solução de
várias necessidades.
Assim também, quando o olhar
se volta para outros tantos benefícios
conquistados ou, agora, ao nosso
alcance, cabe notar que, por trás
deles, está escondida a história de
muitos cientistas que, para viabilizá-
-los, dedicaram a própria vida à busca
de soluções tecnológicas.
No caso em destaque, em um
caminho com muitas idas e vindas,
cheio de obstáculos, alguns pesqui-
sadores decidiram insistir em uma
possibilidade aparentemente irrealizá-
vel. Foram necessárias muitas tentati-
vas frustradas para chegar finalmente
a uma “receita” que permitisse obter o
LED azul. E não é de se estranhar que
tenha sido assim. Em geral, a pesqui-
sa aplicada se faz desse modo e, por-
tanto, exige dos pesquisadores, bem
como dos interessados em realizá-la
algum dia, não somente a inteligência
mas, também, a consciência de que o
sucesso exige sempre muito trabalho,
planejamento e perseverança.
Marco é bacharel em Física pelo
Instituto de Física da USP e
desenvolve pesquisas que visam
aplicações tecnológicas.
Ciências da Natureza e suas Tecnologias
QUÍMICA
TOQUE DO
ESPECIALISTA
Por Giovana Pasqualini DA SILVA
Painéis solares 
P
ainéis solares são constituídos
basicamente por células sola-
res, que são dispositivos que
convertem a energia emiti-
da pela luz do Sol em energia elétrica.
Esses painéis são formados por módulos
compostos de células que podem ser de
silício ou germânio.
O mais utilizado é o silício, pois é o
segundo elemento mais abundante na
crosta terrestre e ocorre em grandes
quantidades nas rochas, na forma de
silicatos, e na areia, como sílica (SiO2).
Para ser usado na fabricação das cé-
lulas solares, o silício passa por processos
de purificação, tais como:
SiO2(s) + 2C(s) Si(s) + 2CO(g)
∆
Uma segunda purificação se faz
necessária, pois, para uso em células
solares, a pureza deve ser de, pelo
menos, 99,9999%. Portanto, após a
primeira etapa, o produto é exposto ao
cloro, que é então destilado para obter a
forma mais pura:
SiCl4(l) + 2H2(g) Si(s) + 4HCl(g)
O cristal de silício puro não apresenta
elétrons livres e, portanto, é mal condutor
elétrico. Para alterar essa característica,
porcentagens de outros elementos são
adicionados a ele. Esse processo é
denominado dopagem.
Da dopagem do silício com o fósforo,
por exemplo, obtém-se um material com
elétrons livres, ou seja, portadores de
carga negativa (silício tipo N). Realizando
o mesmo processo, mas acrescentando
boro, obtém-se um material com
características inversas, ou seja, material
com cargas positivas livres (silício tipo P).
Separadamente, ambas as células
são eletricamente neutras. Ao serem
unidas e ao receberem a luz solar, a união
P-N gera um campo elétrico, gerando,
então, energia elétrica.
6
Espaço Literário