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DIREITO PROCESSUAL PENAL I

Elias Ferreira de Moraes

I. Investigação preliminar
 Conceito: reunião de elementos realizados por um órgão
do Estado a partir da notícia de um fato típico.

 Finalidades:
- Comprovar a existência do fato típico;
- Reunir indícios de autoria deste fato típico.

Obs.: um crime ou fato típico pode ser


1. Material (produz resultado e exige-se a ocorrência
resultado para sua consumação. Quando este não é
atingido, estaremos diante da tentativa.
2. Formal: produz resultado, mas independentemente do
resultado há crime. Não há o que se falar em tentativa.
3. Mera conduta:não produz resultado algum (exemplos:
invasão de domicílio, desobediência).

II. Espécies
Quanto à espécie, a investigação poderá tomar dois caminhos:
 Inquérito Policial: o critério para a autoridade
competente escolher realizar um inquérito policial está
na tipificação do fato como um crime e que este tenha
uma previsão de pena superior a dois anos (leva-se em
conta o limite superior da pena).

 Termo Circunstanciado: neste caso estaremos diante de


uma contravenção ou um crime com pena igual ou
inferiora dois anos.
 Investigação pelo Ministério Público: alguns crimes
podem ser investigados diretamente pelo MP que tem
competência para tal quando a investigação lhe
interessar.

III. Formas de ação


Ação penal é a atividade que impulsiona a jurisdição penal,
que materializar-se-á na forma de processo penal.
A ação penal poderá ser pública ou privada.
 Ação Pública: é aquela impulsionada diretamente pelo
Ministério Público através de denúncia.Logo a
legitimidade ativa é sempre do Ministério Público. Ela
pode ser incondicionada ou condicionada à representação
ou à requisição do Ministro da Justiça.
o Ação pública incondicionada: quando o MP age por
seus próprios meios, sem necessitar de
representação ou requisição.
o Ação pública condicionada à representação: neste
caso, a frase “somente se procede mediante
representação” deve estar expressamente redigida
no texto da lei, como é o caso do crime de ameaça
(art. 147 – CP).
o Ação pública condicionada à requisição do Ministro
da Justiça: comum para crimes contra a honra do
presidente da República, se assim se decidir.

Obs.: Em regra todo fato criminoso é de ação penal


incondicionada.

 Ação Privada: a ação penal privada é toda ação movida


por iniciativa da vítima ou, se for menor ou incapaz,
por seu representante legal. Nesta modalidade de ação,
a legitimidade ativa é do sujeito ofendido.
o Ação privada propriamente dita:esta modalidade de
ação privada permite que o autor constitua
representante legal para representa-lo.
o Ação privada personalíssima: é o tipo de ação que
somente o ofendido tem a legitimidade de
representação. Como exemplo, citamos o art. 236 do
CP – induzimento a erro essencial o contraente de
novo casamento ou lhe ocultando impedimento.
o Ação privada subsidiária da pública:se aplica a um
determinado crime que por natureza seria promovido
por ação pública, mas que por algum motivo o MP
não ofertou a denúncia. Neste caso a pessoa
interessada poderá mover uma ação privada
subsidiária da pública para impulsionar a justiça.

Atenção: a ação privada só se procede mediante queixa(queixa-


crime), diferentemente da pública que se procede mediante
denúncia.

IV. Notícia Crime (Notitia Criminis)


Quando um crime ocorre, é preciso que as autoridades
competentes sejam notificadas para dar início à investigação
contra seu autor ou autores. Para tanto, é preciso fazer a
exposição do fato criminoso à polícia ou ao Ministério Público.
A essa comunicação dá-se o nome de "notícia-crime". Ela pode ser
feita por via direta ou indireta:

 Notícia Crime Direta ou de Cognição Direta ou Imediata:


a autoridade toma conhecimento do crime por si mesma ou
pela autoridade de polícia preventiva (polícia militar).
 Notícia Crime Indireta ou de Cognição Indireta ou
Mediata: Diz-se que é uma notícia crime indireta
simples quando a autoridade toma conhecimento do crime
de forma indireta que ocorreu um crime de ação pública
incondicionada. Para os crimes que a própria vítima
precisa postular (registrar) a intenção (no caso de
ação penal privada), temos uma notícia crime indireta
postulatória.

V. Investigação Preliminar
A investigação preliminar está relacionada à colheita de
dados (elementos) a respeito de um fato típico e é realizada por
um órgão oficial do Estado (Polícia Judiciária ou MP) e tem a
finalidade de provar a existência do fato típico e colher
indícios sobre sua autoria. O fato deve ter tipicidade aparente.
Se evidentemente o fato não for típico, não se instaurará a
investigação.

VI. Inquérito Policial


O inquérito policial é uma investigação preliminar de
caráter administrativo presidido por um delegado de polícia. Sua
finalidade é a de provar a existência do crime e colher indícios
de sua autoria. Atenção: trata-se de um procedimento
administrativo. Não confundir com processo judicial que é fase
posterior ao inquérito policial após a denunciação pelo MP.

 Características:para que o procedimento do inquérito


policial preencha as formalidades exigidas pelo Código
de Processo Penal (CPP), ele deve ter as seguintes
características:

o Inquisitivo:O inquérito, apesar de sua importância,


não perde a natureza de peça informativa, que tem
por única finalidade a apuração do fato criminoso,
colhendo elementos para subsidiar a propositura da
ação penal; daí ser inquisitivo, ou seja, não
acolher o
0000000000000000000000000000000000000000-
contraditório, nem a ampla defesa.
o Sigiloso: todo inquérito policial é em regra,
público (princípio da publicidade), no entanto há
casos em que é necessário o sigilo. Nota-se, porém,
que o sigilo não é absoluto, mas restrito às
hipóteses em que seja necessária a investigação
não revelada, sob pena de não se colher os
elementos almejados, ou, quando o interesse social
estiver presente, para preservar a intimidade de
alguém em investigação de um crime sexual, por
exemplo.Atenção: o inquérito nunca deverá ser
sigiloso para a parte investigada.
o Preparatório da ação penal:o sentido de se
elaborar o inquérito é para servir de suporte
probatório mínimo do exercício da ação penal.
Quando se diz mínimo é porque o processo judicial
não deve basear-se nele integralmente. As provas
ou novas provas poderão ser colhidas no decorrer
do processo.

 Formas de instauração:são várias as situações em que a


autoridade pode instaurar o inquérito policial:

o Por ato de prisão em flagrante delito: A despeito


de não constar expressamente do art. 5 do CPP, o
auto de prisão em flagrante é, sim, uma das formas
de instauração do inquérito policial, funcionando
o próprio auto como a peça inaugural da
investigação. Lembrando que considera-se situação
em flagrante (art. 30 - CPP) quando o indivíduo
está cometendo o ato infracional ou acaba
decometê-lo. Ambos os casos são situações
equivalentes à certeza visual e caracterizam a
espécie de flagrante próprio.Por outro lado, se o
indivíduo que cometeu a infração está sendo
perseguido logo após o fato criminoso ou então se
este for encontrado logo depois do ocorrido, diz-
se que o flagrante é ficto oupresumido, porque
trata-se apenas de presunção de autoria.

o De ofício – Art. 5º, I, do CPP: nesse caso, a


autoridade tem a obrigação de instaurar o
inquérito policial, independentemente de
provocação, sempre que tomar conhecimento imediato
e direto do fato (ação pública incondicionada),
por meio de delação verbal ou por escrito, feita
por qualquer pessoa do povo, notícia anônimaou de
sua atividade rotineira (cognição imediata).

o Por requerimento do ofendido – art. 5º,


II,(segunda parte) do CPP:para ações penais
privadas.

o Por requerimento do juiz ou do Ministério


Público:quando for conveniente a estas autoridades.

 Duração do Inquérito: de acordo com a competência, o


inquérito pode ser elaborado pelas delegacias de
polícia civil ou pelas delegacias de polícia federal.
Os prazos nestes diferentes inquéritos policiais são
diferenciados tanto para indiciado (ou suspeito) preso
ou solto:
o Indiciado preso:a justiça estadual dá 10 dias
improrrogáveis para a conclusão do inquérito. A
justiça federal dá 15 dias prorrogáveis por mais
15 dias uma única vez.
o Indiciado solto:neste caso tanto a justiça
estadual como a federaldão 30 dias para a
conclusão do inquérito, podendo ser prorrogado
sempre que for necessário (prazo fixado pelo juiz).
Atenção: se o indiciado preso ficar mais tempo que o prazo
máximo para a conclusão do inquérito policial, estará
sofrendo um constrangimento ilegal que poderá ser afastado
devidamente através de um Habeas Corpus (HC).

 Indiciamento: é a imputação formal da autoria do crime


à determinada pessoa ou pessoas. O indiciamento
consiste na prática de três atos:
o Qualificação:A qualificação individualiza a pessoa.
Ela deve descrever todos os dados da pessoa.
o Pregressamento:O pregressamento busca qualificar a
vida pregressa da pessoa, ou seja, sua situação
quanto à justiça.
o Interrogatório:é o momento em que o indivíduo dá a
sua versão dos fatos imputados a ele. Neste
momento o indivíduo exercerá sua autodefesa.

O indiciamento poderá ser:


o Direto:diz-se que o indiciamento é direto quando
este é realizado tendo a pessoa do indiciado
frente a frente com a autoridade que preside a
investigação ou por meio de carta precatória. O
indiciamento por meio de carta precatória é
considerado direto, porém o indiciado estará
frente a frente com a autoridade deprecada (em
geral é o delegado de polícia da cidade em que o
indiciado reside). Neste caso o delegado aonde o
fato criminoso aconteceu é o delegado deprecante.
Ele é que presidirá o inquérito.
o Indireto:este tipo de indiciamento é para aquelas
situações onde o indiciado não é encontrado por
estar em lugar incerto ou não sabido ou mesmo para
os casos em que o sujeito devidamente notificado
não comparece.

Atenção: de acordo com o STF, o sujeito não poderá


ser conduzido coercitivamente para ser indiciado.

 Fundamentação: O indiciamento do indivíduo se dá quando


a autoridade deixa de ter um juízo de valor de
possibilidade para probabilidade. Neste caso o delegado
deverá realizar o indiciamento com fundamentação. Na
fundamentação, a autoridade deve apresentar as razões
fáticas e jurídicas antes do indiciamento. O
indiciamento é um ato privativo do delegado de polícia.
A partir do indiciamento o delegado notificará o
sujeito a comparecer à delegacia. A parte investigada
tem direito ao acesso total à investigação.
O ato de indiciamento apresenta alguns efeitos:
o Registro na ficha do sujeito:todo indiciamento
gera um ofício ao órgão de registro geral para que
este proceda anotação na ficha do indivíduo,
constando como pessoa indiciada.
o Medidas cautelares:produz elementos para medidas
cautelares.
o Indiciado:surge a partir deste ato, a
possibilidade para o indivíduo de exercer sua
defesa, já que não é mais um simples investigado.
 Demais atos do Inquérito Policial:

o Diligências:trata-se de um ato de investigação


cuja finalidade (art. 6º, CPP) é a de provar a
existência do crime e procurar indícios de autoria.

o Acareação:De acordo com o art. 229 do CPP, a


acareação consiste em se colocar frente a frente
determinadas pessoas a fim de verificar
divergências no depoimento/declaração. Estas
pessoas podem ser:

- acusado vs acusado;
- acusado vs testemunha;
- testemunha vs testemunha;
- acusado ou testemunha vs ofendido;
- ofendido vs ofendido.
Atenção: uma acareação deverá sempre estar justificada por um
antecedente que é o depoimento anterior. Este depoimento deve
conter necessariamente divergências e os fatos narrados devem
ser relevantes para o inquérito.
Outro ponto importante é que o acusado ou indiciado tem o
direito de não comparecer à acareação, pois se assim o fizesse,
poderia estar juntando provas contra si.

Reprodução simulada dos fatos:De acordo com o art.


7º do CPP, se o delegado achar importante dirimir
dúvidas de como aconteceu o fato criminoso, poderá
reconstituir os fatos através da simulação
simulada. É imperativo dizer que a reconstituição
não poderá acontecer se atingir a moralidade ou
ordem pública. Além disso, o acusado/indiciado não
se obriga a comparecer a esta reconstituição.
o Apensamento do inquérito ao processo: de acordo
com o art. 12 do CPP, o inquérito policial
acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que
servir de base a uma ou outra.
Além disso, o inquérito policial servirá de base
para o promotor provocar a jurisdição. O promotor
verificará no inquérito se há justa causa (prova
da existência do crime e indícios de autoria),
tipicidade aparente, punibilidade concreta e
legitimidade das partes, requisitos estes que
caracterizam as condições iniciais da ação.

o Relatório final: ao final de todas as fases do


inquérito policial, o delegado fará um relatório,
apresentando neste, suas principais considerações,
incluindo aí, se os objetivos propostos foram
alcançados ou as razões para o não atingimento dos
objetivos se assim for.

 Encaminhamento dos Autos à Justiça:


Esta é a fase do Ministério Público. Compete ao
promotor de justiça:
- Oferecer a denúncia;
- Determinar a baixa dos autos à delegacia;
- Arquivamento.

o Oferecimento da denúncia:quando tratar-se de ação


penal pública e a petição preencher as condições
iniciais da ação.
o Determinar a baixa dos autos à delegacia:Caso o
promotor não esteja seguro quanto ao conteúdo do
inquérito policial, este encaminhará o mesmo para
que o delegado do caso realize novas diligências.
Em geral, nestes casos, o promotor dá indicações
do que deseja.

o Arquivamento:quando o promotor entender que o caso


deve ser arquivado por falta de base para a
denúncia ou mesmo pela não necessidade do processo.

Atenção: sempre que existir algum fato novo em um


inquérito inicialmente arquivado por falta de base
para a denúncia, este poderá ser desarquivado.
VII. Termo Circunstanciado
Está previsto Termo Circunstanciado para as infrações de
menor potencial ofensivo, quais sejam, os crimes com pena
máximanão superior a dois anos e todas as contravenções penais
comuns, tratadas pelaLei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados).

de sua autoria. Atenção: trata-se de um procedimento


administrativo. Não confundir com processo judicial que é fase
posterior ao inquérito policial após a denunciação pelo MP.

 Características: para que o procedimento do inquérito


policial preencha as formalidades exigidas pelo Código
de Processo Penal (CPP), ele deve ter as seguintes
características:

Inquisitivo: O inquérito, apesar de sua


importância, não perde a natureza de peça

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