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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

HELAINE CHRISTINA OLIVEIRA DE SOUZA

ANÁLISE EPISTEMOLÓGICA DA TESE “JUVENTUDE TRABALHADORA


BRASILEIRA: PERCURSOS LABORAIS, TRABALHOS PRECÁRIOS E
FUTUROS (IN)CERTOS

Trabalho apresentado como requisito


parcial para obtenção de aprovação na
disciplina de Epistemologia e Método
nas Ciências Sociais, do Programa de
Doutorado em Ciências Sociais
Aplicadas da Universidade Estadual de
Ponta Grossa.

Prof. Dr. Felipe Simão Pontes

Ponta Grossa
2019
ANÁLISE EPISTEMOLÓGICA DA TESE “JUVENTUDE TRABALHADORA
BRASILEIRA: PERCURSOS LABORAIS, TRABALHOS PRECÁRIOS E
FUTUROS (IN)CERTOS

INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata de uma análise epistemológica de uma tese,
apresentado para a Disciplina de Epistemologia e Métodos nas Ciências Sociais.
A tese foi escolhida pelo discente a partir da Biblioteca Digital Brasileira de Teses
e Dissertações (BDTD)1, essa objetiva disponibilizar o acervo de teses e
dissertações para pesquisa e conhecimento das produções acadêmicas no
Brasil. Diante do desafio de escolher uma tese, teve-se como critério a
aproximação do tema da tese com o objeto e problemática de pesquisa que está
sendo desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais
Aplicadas, em nível de Doutorado, na linha de pesquisa “História, Cultura e
Cidadania”, na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná.
Desse modo, utilizou-se palavras-chave que se aproximavam da pesquisa
em desenvolvimento pela discente. O projeto de pesquisa em desenvolvimento
pela discente intitula-se “Trajetórias Juvenis no Mundo do Trabalho: da busca
por emprego à inserção precária”, da qual, pretende analisar e compreender os
sentidos do trabalho para os jovens, as trajetórias de busca de trabalho, além de
depreender as dificuldades enfrentadas por esse grupo etário na inserção laboral
e a exposição desses à atividades precárias. Assim, optou-se em utilizar as
seguintes palavras-chave: precarização, trabalho juvenil e inserção laboral. Além
disso, atentou-se ao critério de ser uma tese e não dissertação, e, publicada a
partir de 2010. Por meio desse trajeto foi escolhida a tese intitulada “Juventude
trabalhadora brasileira: percursos laborais, trabalhos precários e futuros
(in)certos” para análise e que foi defendida em 2012 pelo autor José Humberto
da Silva. Esse trabalho dividiu-se em quatro momentos, o primeiro trata do
Programa, orientador e orientado; o segundo refere-se ao processo de
construção do conhecimento; no terceiro, deteve-se sobre a perspectiva teórica

1
Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/. Acesso em 04 de junho de 2019
e os conceitos mobilizados pelo autor da tese; e por último, como o autor constrói
seus critérios de verdade e objetividade no trabalho acadêmico.

a) O Programa, a linha de pesquisa e o orientador


A tese analisada “Juventude trabalhadora brasileira: percursos laborais,
trabalhos precários e futuros (in)certos” foi resultado da pesquisa iniciada em
2008 e defendida no dia vinte e oito de agosto de 2012, como requisito para
conclusão do curso de Doutorado em Educação, na área de concentração em
Ciências Sociais na Educação, da Universidade Estadual de Campinas. O
trabalho teve orientação da Professora Doutora Liliana Rolfsen Petrilli Segnini e
a banca julgadora da tese foi composta por Gaudêncio Frigotto, Ronaldo Barreto
da Silva, Dirce Djanira Pacheco e Zan e José Dari Krein.
O Programa de Pós-graduação em Educação da Unicamp, foi criado em
1995, possui conceito 5 na Capes e está situado na Faculdade de Educação da
Unicamp. O Programa possui desde 2013, dez linhas de pesquisas2. A linha de
pesquisa da tese analisada, é a Linha 2: Educação e Ciências Sociais, que
segundo o Programa trata-se de abarcar diferentes “perspectivas teóricas e
metodológicas das ciências sociais” e de “diálogos interdisciplinares”, ou seja,
trata-se de uma linha abrangente que relaciona a educação no campo das
ciências sociais tratando-a de modo interdisciplinar.
A orientadora da tese de José Humberto da Silva foi a professora Doutora
Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, que no momento da tese fazia parte da linha de
pesquisa Educação e Ciências Sociais que, no entanto, devido a reestruturação
do programa em 2013 passou a compor a linha 10 “Trabalho e Educação, da
qual está alocada atualmente. Sua formação é em Administração (graduação e
mestrado) e o Doutorado em Ciências Sociais, da qual concentrou-se na área da
sociologia do trabalho, foi orientada por Maurício Tragtenberg, autor de renome
na sociologia brasileira. Os projetos e pesquisas que desenvolveu estiveram
relacionados ao mundo do trabalho, formação e qualificação para o trabalho,

2 Linhas de pesquisa do Programa de Pós-graduação em Educação da Unicamp: Linha 1:


Currículo, Avaliação e Docência; Linha 2: Educação e Ciências Sociais; Linha 3: Educação e
História Cultural; Linha 4: Educação em Ciências, Matemática e Tecnologias; Linha 5: Estado,
Políticas Públicas e Educação; Linha 6: Filosofia e História da Educação; Linha 7: Formação de
Professores e Trabalho Docente; Linha 8: Linguagem e Arte em Educação
Linha 9: Psicologia e Educação; Linha 10: Trabalho e Educação.
educação e, recentemente, gênero e migração. Já, o autor da tese José
Humberto da Silva é professor na Universidade Estadual da Bahia, é
coordenador do grupo FORTIS (Formação, Trabalho e Identidades) registrado
no Diretório de Pesquisa do CNPq e desenvolve pesquisas relacionadas as
trajetórias juvenis na formação e mundo do trabalho.
Tanto a orientadora quanto o orientado, fazem parte do Grupo de
Pesquisa cadastrado no Diretório de Pesquisa da CAPES, denominado de
GEPEDISC - Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Diferenciação Sócio-
Cultural, desenvolvido na Faculdade de Educação da Unicamp, do Programa de
Graduação e Pós-graduação. O objetivo do grupo, como mencionado no registro
do Diretório, é de tratar do desenvolvimento de pesquisas relacionadas a
intersecção entre Ciências Sociais e Educação, contemplando as seguintes
temáticas: “[...] relações de trabalho, fluxos migratórios, cursos da vida e ciclos
educacionais, cultura e educação além do espaço escolar, e história da cultura
(impressos, literatura, leitor/a, artes visuais, público) [...]”3 (grifo nosso). Desse
modo, o tema da tese Trabalho, Juventudes e Educação está relacionada ao
grupo de pesquisa, a linha de pesquisa e a trajetória acadêmica da orientadora
e orientado, temática em destaque no campo da educação atualmente.

b) O processo de construção do conhecimento


O tema da tese escolhida está relacionado ao trabalho juvenil,
especificamente, as formas de inserção laboral e a precariedade do trabalho
para essa categoria social. A problemática que o autor desenvolve na tese
relaciona-se diretamente à sua dissertação de Mestrado, o tema da tese,
portanto, é uma continuação de uma pesquisa iniciada no curso do mestrado.
Desse modo, Silva (2012) relata que durante o curso de mestrado ele buscou
relatar e analisar a formação de jovens participantes de um programa de
qualificação e no doutorado buscou relatar as trajetórias de inserção no mundo
do trabalho desses mesmos jovens. A justificativa para continuar acompanhando
a trajetória desses jovens, é devido as lacunas e impossibilidades de
desenvolvimento maior na pesquisa de mestrado do autor.

3
Disponível em: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/12394. Acesso em 25 de julho de 2019.
O autor descreve que a dissertação contemplou as trajetórias de formação
profissional de 10 jovens que participaram do “Consórcio Social da Juventude”,
programa desenvolvido pelo Governo Federal em parceira com a sociedade civil,
principalmente ONGs, que visava qualificação de jovens para o mundo do
trabalho, de modo a minimizar as dificuldades encontradas quando da busca do
primeiro emprego, visto que, atualmente, a conclusão do Ensino Médio não é
elemento de garantia para a inserção laboral para os jovens. Já, no
desenvolvimento da tese o autor buscou responder às lacunas da pesquisa
anterior, assim como, analisar as trajetórias laborais dos mesmos jovens que
participaram da pesquisa anterior.
Desse modo, a tese buscou analisar a trajetória laboral dos 094 jovens
trabalhadores residentes da cidade de Salvador, na Bahia que participaram do
programa de qualificação “Consórcio Social da Juventude e que após a
conclusão do programa, que teve duração de 400 horas, para compreender o
modo que inseriram-se no mundo do trabalho e analisar os percalços laborais
desses jovens que fazem parte da juventude trabalhadora brasileira. Quer dizer,
o autor busca analisar a trajetória laboral de 09 jovens, para compreender o
contexto mais amplo, em que trajetórias semelhantes podem ser elucidadas,
visto que, partilham com outros jovens aspectos sociais relacionadas ao contexto
histórico, o que Mannheim (1982) denomina de “denominador comum” ou
“princípios unificadores de uma geração”, que seria o contexto histórico, político,
econômico e social de determinado momento.
A construção do problema de pesquisa e do campo analítico é realizado
no desenvolvimento da tese por meio da discussão bibliográfica de pesquisas já
realizadas sobre o tema juventude e trabalho juvenil, dados estatísticos, análise
de políticas públicas, análise histórica, de modo a situar o problema e expor sua
relevância acadêmica e, também social. As questões iniciais que a tese buscou
responder foram:

Como a categoria juventude se reconfigura ao longo da conformação


do mercado trabalho brasileiro e das tensões e contradições
construídas nas relações sociais entre capital-trabalho? Quais são os

4 Ao buscar contato com os jovens participantes da pesquisa anterior, o autor não encontrou um
dos jovens, por isso, na pesquisa de Doutorado foram analisadas as trajetórias laborais de 09
jovens. Desses, 06 são do sexo feminino e 03 do sexo masculino, além disso, 08 deles auto
declaram-se negros e 1 mestiço, residentes de regiões periféricas da cidade de Salvador, na
Bahia.
investimentos pessoais e arranjos familiares construídos, ao longo das
trajetórias de trabalho, no campo da formação, procurando o acesso e
a permanência no emprego? Quais as diferenciações observadas
considerando as relações sociais de classe, de gênero e de raça/etnia?
(SILVA, 2012, p. 23)

Desse modo, o autor vai tecendo o campo analítico da qual insere-se o


problema da pesquisa, e em seguida, nos dois últimos capítulos recorre da
pesquisa de campo, da qual foi utilizada entrevistas exploratórias, entrevistas
biográficas, grupos de discussão, observação etnográfica, analisando-as
associadas ao contexto social mais amplo, principalmente referente aos dados
estatísticos sobre o mundo do trabalho, da qual esses jovens são representados
por meio de suas experiências.
Assim, Silva (2012) dividiu o trabalho em quatro longos capítulos, além da
introdução e das conclusões finais. No primeiro momento, ele justifica a escolha
do tema, ao revelar ser essa tese de relevância, visto que, o mundo do trabalho
para a juventude no Brasil é marcado pela precariedade, desemprego,
flexibilidade de maior intensidade do que para outras faixas-etárias. Assim como,
esclarece sobre a escolha do tema, do objeto, das dificuldades de (re) contactar
os jovens, da abordagem teórica e dos métodos e técnicas empregados na
pesquisa. Ou seja, além da justificativa para a escolha do tema e objeto da
pesquisa, é esclarecido a metodologia utilizada no trabalho.
Os capítulos estão dispostos de acordo com os objetivos do trabalho e a
lógica da pesquisa científica, entende-se que o autor vai tecendo o que Mills
denomina de “artesanato intelectual”, ou seja, opera a transformação de um
problema social em problema científico ou sociológico. Desse modo, os capítulos
vão constituindo o campo científico que o autor vai explanar a pesquisa, ou seja,
vai construindo o conhecimento científico do objeto analisado.
Dito isso, o autor, irá deter-se sobre a constituição da categoria social
juventude a partir da discussão bibliográfica. Ou seja, para construção do campo
analítico “juventude trabalhadora” o autor realiza as discussões e a
fundamentação da pesquisa, utiliza-se de discussões teóricas referentes a
construção social da juventude, além de contemplar a produção acadêmica não
somente no Brasil e discute também a ampliação dessa faixa etária, de modo a
construir a concepção de juventude que trata na tese. Para o autor, a juventude
é heterogênea, portanto, a categoria que irá tratar é a juventude trabalhadora
brasileira, visto que no Brasil grande parcela da juventude estuda e trabalha,
somente trabalha ou busca por emprego. Para elucidar as características dessa
juventude trabalhadora.
Assim, o autor realiza uma discussão teórica sobre a categoria juvenil
como uma construção social e histórica, e especifica teoricamente e
empiricamente as características da juventude trabalhadora brasileira. Desse
modo, o autor constitui o campo analítico da pesquisa tanto teoricamente, por
meio da discussão bibliográfica, quanto empiricamente, por intermédio de dados
estatísticos sobre trabalho, educação e juventude no Brasil. É nesse momento,
que Silva (2012) constrói o problema da pesquisa de modo significativo, ao
levantar questões e inquietações sobre a inserção laboral dos jovens no mundo
do trabalho em um contexto histórico e econômico que tem como tendência a
precarização do trabalho, ou seja, trata-se de um contexto de transformações
significativas no mundo do trabalho, ocasionada por crises econômicas,
reestruturação produtiva e reordenamento do papel do Estado, principalmente a
partir de 1990. Da qual, o autor problematiza as trajetórias de busca dos jovens
por educação e formação para o trabalho nesse contexto, em que as promessas
de trabalho estável e formal não mais se concretizam para todos.
A trajetória laboral dos jovens analisados deve ser contextualizada, por
isso o autor recorre a discussão teórica da formação do mercado de trabalho e
sociedade salarial no Brasil, desde o final do século XIX, e detendo-se mais
profundamente nas décadas de 1970, 1980, e especialmente, a década de 1990,
marcada pela Reestruturação Produtiva, implantação das políticas neoliberais e
reestruturação do “papel” do Estado. Ou seja, buscou, primeiro, construir
teoricamente o contexto histórico social, econômico e político, a partir da
discussão bibliográfica e dos dados estatísticos de institutos de pesquisa para
em seguida, tratar do contexto e trajetórias dos jovens trabalhadores
pesquisados.
Justifica-se, portanto, o problema da pesquisa ao recorrer a análise
contextual das mudanças no mundo do trabalho no Brasil, altas taxas de
desemprego para a categoria juvenil em vários Governos, mesmo em períodos
economicamente favoráveis, precariedade e flexibilidade do trabalho juvenil e
as dificuldades de inserção no mundo do trabalho estável e formal na atualidade,
principalmente, para jovens pobres, negros e mestiços residentes de regiões
periféricas, marcadas pelo estigma e preconceito, que tendem a reproduzir
trajetórias precárias, insalubres, instáveis e de alta rotatividade.

c) Perspectiva teórica e aspectos conceituais


Silva (2012), no início da tese diz que se orientou teoricamente pelo
sociólogo Norbert Elias ao categorizar seu estudo como microssociológico, visto
que parte em sua análise do micro, visto que esse possa refletir uma parcela da
juventude trabalhadora brasileira. Desse modo, o autor parte da análise da
trajetória no mundo do trabalho relatada por nove jovens, de modo que esses
estudos de caso revelam a ocorrência em escala maior e permitem analisar a
teia social que esses jovens estão imersos e como produzem estratégias nesse
contexto. Por isso, utiliza o conceito de figuração ou configuração de Norbert
Elias, para expressar a teia de relações de interdependência que formam a
estrutura social e atravessam a trajetória laboral dos jovens pesquisados
hierarquizando, incluindo, marginalizando a partir de relações de poder que
estão envolvidos. O autor da tese revela que para compreender tais relações de
interdependência que constitui a figuração social, utilizou metodologicamente
documentos e fontes variadas de pesquisa, para captar essas relações que
atravessam os sujeitos pesquisados. Amparou-se também em Norbert Elias
referente ao conceito de estabelecidos para referir-se à população urbana, que
via a população rural como outsiders, no contexto da década de 1940 e 1950,
período de urbanização e industrialização crescente no Brasil, e por isso,
marcada pelo êxodo rural, da qual os primeiros concebiam os moradores do
campo como inferiores.
No entanto, o autor mobiliza conceitos e categorias de outras abordagens
teóricas, de acordo com o alinhamento desses conceitos aos objetivos da
pesquisa, para explicar e/ou responder aos problemas da pesquisa, que se
colocam e analisar os relatos das trajetórias juvenis. Mas é em Norbert Elias que
se compreende o movimento da pesquisa do autor.
Ao fazer a discussão sobre juventude, o autor refere-se a esse grupo
etário como parte de uma categoria social, criada na modernidade e produzida,
portanto, historicamente, de acordo Angelina Peralva. Informa também, que
amparado em Marília Pontes Spósito, utilizou a categoria específica de
juventude trabalhadora brasileira, que mais especifica o grupo de jovens que o
autor trabalha no texto, pois trata das relações entre juventude/capital-trabalho.
Problematiza o categoria conceitual de moratória social, visto que alguns
pesquisadores da área utilizam o termo, para referir a juventude como uma etapa
de preparação e formação para a vida adulta, principalmente relacionada ao
mundo do trabalho, porém, o autor questiona esse conceito para referir-se a
juventude, pois no Brasil os jovens inserem-se no mundo do trabalho
precocemente. Já referente ao desemprego juvenil, o autor mobiliza o conceito
de Claúdia Mazzei Nogueira de feminização do desemprego juvenil, visto que
exemplifica o fenômeno do desemprego ser mais intenso para as mulheres do
que para os homens, além de tratar de outras categorias conceituais, ora para
afirmar o que se quer dizer, ora para questionar tais categorias, citamos as mais
importantes referentes a constituição do conceito de juventude.
O autor utiliza as categorias conceituais de capital cultural e ethos, de
Pierre Bourdieu para tratar das dificuldades dos jovens trabalhadores pobres em
mudar substancialmente sua condição social por meio do acesso ao Ensino
Superior, de modo que se verifica a tendência do sistema educacional em
reproduzir as desigualdades sociais, mas não aprofunda na discussão.
As categorias conceituais de Robert Castel, sociólogo francês também
são referenciadas no texto, como sociedade salarial e o conceito de interino-
permanente, para referir-se as condições precárias, instáveis e incertas dos
jovens trabalhadores. Assim como utiliza categoria de acumulação flexível de
David Harvey e exército de reserva, de Karl Marx. Assim como, os conceitos de
precarização, flexibilização, reestruturação produtiva, e também problematiza
ideologicamente o conceito da teoria do capital humano e sociedade do
conhecimento disseminados para mascarar o desemprego como problema
social. Desse modo, o autor busca constituir com esses conceitos o contexto
social mais amplo em que esses jovens estão imersos para analisar suas
trajetórias de trabalho e as teias de relações que estão emersos que possibilitam
agir com certos limites, como concebido por Norbert Elias.

d) Objetividade e Subjetividade, critérios de verdade, neutralidade


científica e senso-comum.
Na tese analisada verifica-se que o autor busca distanciamento do objeto
da pesquisa, embora seja um posicionamento complexo, diante do tema da
pesquisa que se aproxima do contexto que o autor está inserido, Em alguns
momentos, percebe-se que o autor deveria ter um posicionamento mais crítico
diante das discussões, ao invés de somente descrever políticas econômicas,
momentos históricos, da qual, embasa-se quase que exclusivamente na
bibliografia mobilizada no texto. No entanto, é evidente que a escolha do
referencial teórico direciona também o posicionamento do autor para a análise
da problemática. Além disso, a utilização de dados estatísticos no texto para
elucidar temas relacionados ao desemprego juvenil, escolaridade e
empregabilidade da população em idade ativa (PIA), por exemplo, torna possível
ao autor, certo distanciamento e neutralidade diante dos problemas tratados e
possibilita certa objetividade diante do problema de pesquisa, como se os dados
estatísticos servissem de elemento neutro.
Compreende-se que o autor buscou relacionar as trajetórias de jovens
trabalhadores pobres e em sua maioria negros e mulheres com o contexto mais
amplo, marcado por desigualdades, relações de poder, hierarquias, ancorado
principalmente em Norbert Elias. Nesse aspecto, a relação entre o indivíduo e a
sociedade é processual, ou seja, as estruturas não são determinantes e nem o
indivíduo opera livremente no interior das estruturas. Segundo CORCUFF (2001,
p. 33) para Norbert Elias: “[...] há um tecido de interdependências no interior do
qual o indivíduo encontra margem de escolha individual, mas que, ao mesmo
tempo, impõe limites a sua liberdade de escolha. [...]”.
Assim, a pesquisa contribui pelo modo que tratou da temática envolvendo
as relações entre juventude, formação e trabalho, principalmente ao elucidar
trajetórias laborais ora no telemarketing ou no trabalho cooperativo, ora na
atuação dos jovens aprendizes, clarificando as experiências, angústias,
incertezas, esforços e estratégias diante de um contexto hostil e precário no
mundo do trabalho marcado, cada vez mais, por instabilidade, flexibilização e
precarização. Partir de trajetórias para compreender a teia de relações de
interdependência da qual o indivíduo constrói a sua realidade e suas estratégias
diante dela, mostrou-se interessante para os estudos das relações entre
juventudes e trabalho, temática que hegemonicamente é tomada pelos estudos
marxistas.
Referências

CORCUFF, Philippe. As novas sociologias: construções da realidade social.


Bauru: Edusc, 2001.

ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994

MANNHEIM, Karl. O problema sociológico das gerações. In: FORACCHI,


Marialice M. (Org.). Mannheim: Sociologia. São Paulo: Ática, 1982, p. 67-95

SILVA, José Humberto da. Juventude trabalhadora brasileira: percursos


laborais, trabalhos precários e futuros (in)certos. 2012. 307f. Tese
(Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
SP, 2012.

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