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CURSO DE ESTOMATOLOGIA PARA

CIRURGIÕES-DENTISTAS DA REDE
PÚBLICA DE ATENÇÃO À SAÚDE

Material para
Leitura
Módulo 1

Exame físico
Material para
Leitura exame físico
INTRODUÇÃO
O exame físico é a etapa do exame clínico a partir da qual serão coletados os dados objetivos (sinais)
relacionados à doença, que envolvem desde o aspecto geral de saúde do paciente até o exame específico
de fora e de dentro da boca. O exame físico geral envolve avaliação de todas as partes possíveis do corpo,
exceto a cabeça. Isso muitas vezes se refere a pele, pois uma série de doenças têm manifestação simultânea
em pele e na boca. Como exemplos, podemos citar doenças infecciosas e doenças imunologicamente
mediadas (doenças autoimunes). O exame físico locorregional corresponde a exame extra-bucal, ou seja,
das características de face e cabeça, e também no exame intra-bucal. Nesse momento, nossa atenção deve
estar voltada principalmente para a pele do rosto e os olhos, pois muitas doenças podem se manifestar
na boca e na pele. Explicaremos isso com mais detalhes nos módulos ao longo do curso. Por enquanto,
basta você estar atento para a existência dessas relações.
ETAPAS EXTRABUCAL
O exame físico extrabucal vai começar pela avaliação dos linfonodos. Estes órgãos fazem parte do
sistema imune e estão espalhados por todo corpo.
Três cadeias principais vão ter importância para a odontologia: a cadeia cervical superficial, que
acompanha o músculo esternocleidomastoideo, os da região submandibular, e os submentonianos.
Para avaliar os submandibulares devemos nos posicionar atrás do paciente, inclinar sua cabeça
para o lado e usar a ponta dos dedos para movimentar os tecidos moles em direção a mandíbula, que vai
servir como um anteparo para percebermos esses linfonodos. Para os submentonianos, deve-se inclinar
a cabeça para frente e ir jogando o tecido mole contra a mandíbula, e assim percebendo se há algum
linfonodo palpável na região. Quanto aos cervicais, se apalpa desde o processo mastoide próximo ao
pavilhão auditivo até a região junto à clavícula.
A partir da palpação, será possível a identificação de linfonodos palpáveis, o que pode representar
doenças inflamatórias (ativas ou não) ou neoplásicas. Essa distinção é possível com base na análise das
características dos linfonodos quando esses são percebidos por estas manobras de palpação.
Existem 3 possibilidades de resultado para o procedimento de palpação:
1. Processo Inflamatório Ativo
Como aparecem: linfonodos palpáveis, móveis, superfície lisa, consistência fibroelástica e dolorosos.
Significado: isso não quer dizer que esse processo inflamatório seja necessariamente no dente,
pode estar no ouvido, no trato respiratório e regiões próximas;
2. Processo Inflamatório Anterior
Como aparecem: linfonodos palpáveis, móveis, de consistência lisa e fibroelástica, porém
indolores.
Significado: linfonodos residuais, indicando que em outro momento houve um processo
inflamatório ativo que, após debelado, deixou linfonodos com fibrose sem que haja
inflamação ativa.
3. Linfonodos metastáticos
Como aparecem: linfonodos fixos, rugosos, endurecidos e indolores.
Significado: presença de um tumor maligno na região próxima, seja na boca ou não, que está
se disseminando para os linfonodos que atuam como “sentinelas” da região.

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No que diz respeito ao exame da face, podemos identificar lesões na pele do rosto que podem
ou não estar relacionadas à alterações que estejam ocorrendo dentro da boca, como um dente com
inflamação ou necrose pulpar. Quando for percebida alguma alteração limitada a pele, o paciente poderá
ser alertado para a necessidade de consultar um médico-dermatologista.

EXAME FÍSICO INTRABUCAL


Feito o exame da parte de fora da boca, da pele, linfonodos e dos músculos mastigatórios, vamos
para o exame da mucosa bucal propriamente dita. Importante lembrar que todas as regiões da boca
devem ser incluídas nesse exame. Uma boa dica é ter uma ordem sistemática, que compreenda todas as
regiões, sendo esta repetida em cada atendimento. O diagnóstico em Estomatologia depende, em grande
parte, da repetição disciplinada de uma rotina de passos para otimizar a obtenção de informações que
levarão à elaboração de hipóteses de diagnóstico que vão orientar a conduta. O exame é relativamente
simples, dependendo de uma boa iluminação, espátulas de madeira e uma compressa de gaze. Neste
material, vamos sugerir uma ordem de exame. Além disso, o exame intrabucal será demonstrado na
vídeo-aula disponibilizada neste módulo.
Por fim, destacamos alguns aspectos a serem considerados para a realização adequada do
exame intrabucal.

CUIDADOS NA REALIZAÇÃO DO EXAME FÍSICO


• Transmitir segurança.
• Conhecimento das condições anatômicas e suas variações.
• Boas condições de visualização.
• Iluminação adequada.
• Secar as áreas que serão examinadas.
• Examinar toda a boca sem pressa.
• Afastar estruturas.

EXAME INTRABUCAL – SEQUÊNCIA SUGERIDA


1. Lábio e vestíbulo bucal. 6. Palato mole.
2. Mucosa jugal bilateral. 7. Orofaringe.
3. Fundo de sulco inferior. 8. Assoalho bucal.
4. Fundo de sulco superior. 9. Língua.
5. Palato duro.

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No lábio deve-se observar bem o limite entre a mucosa labial e a pele, assim como a hidratação do
lábio e a ausência de alterações significativas.
Características observadas:
• coloração • textura
• simetria • tamanho

Figura 1. Observa-se coloração normal, limite entre pele Figura 2. Ao distender a mucosa pelo tracionamento do lábio,
e vermelhão do lábio bem definido, lábios simétricos e boa conseguimos visualizar até a região do fundo de sulco. O
hidratação. mesmo procedimento deve ser repetido na porção inferior.

Após a observação dos lábios, os afastamos para observar as mucosas da gengiva e labial. Procuramos
identificar se feridas, alterações de cor estão presentes. Pode-se fazer a palpação buscando alterações não
visíveis usando a compressão do indicador sobre o polegar. Passando para a gengiva, vale ressaltar que a
gengiva inserida é mais esbranquiçada que a mucosa alveolar, isso é um padrão da ceratinização do tecido.

Na mucosa jugal, procura-se algum sinal de ruptura na continuidade da mucosa ou alteração de cor.
Também fazemos a palpação e procuramos alguma anormalidade no tecido, como um nódulo que possa
estar presente em profundidade e não visível na superfície. Nas figuras abaixo, observamos a mucosa jugal
com aspecto normal.

Figura 3. Imagens ilustrativas da mucosa jugal sem alteração.

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Na imagem à direita, demonstramos a avaliação visual da porção lingual e vestibular da gengiva
inferior. Essa região favorece a palpação com o indicador fazendo o exame da digitação apical. Se o
paciente referir dor ao processo de digitação, provavelmente estamos frente a um quadro inflamatório
periapical. Diante dessa situação, será necessária investigação com testes clínicos e radiografias, de
maneira a identificar o dente que está causando esse processo inflamatório.

Figura 4. Gengivas saudáveis ao exame físico.

A avaliação da mucosa do palato duro, do palato mole e da região da orofaringe também devem
ser incluídas no exame. A região do palato duro é de um rosa mais esbranquiçado, pois é uma região de
pouca vascularização e apresenta ceratina na superfície. A mucosa do palato mole não é ceratinizada, é
mais delgada e mais vascularizada, e por isso tem esse aspecto mais avermelhado. Os pilares amigdalianos
também devem ser analisados. Se houver dúvida quando ao estado de saúde da mucosa dessa região, está
indicado o encaminhamento para avaliação com um médico otorrinolaringologista.

Figura 5. Observa-se que mesmo o palato normal apresenta Figura 6. Neste paciente, a amígdala do lado esquerdo (do
cores diferentes, sendo mais claro na região correspondente paciente) está com um discreto aumento de volume. Em casos
aos rebordos alveolares. como este, o paciente deve ser aconselhado a consultar com
um médico-otorrinolaringologista para descartar alguma
alteração mais grave.

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Na avaliação da língua, começando pelo dorso, vemos pontos avermelhados que compreendem as
papilas fungiformes e as papilas filiformes na porção mais aveludada (Figura 7).

Figura 7. Dorso da língua Figura 8. Nesse paciente, o ventre lingual está mais liso, sem as
sem alterações. dobras de mucosa típicas dessa região que dão um aspecto franjado
(pregas fimbriadas). Apesar disso, considera-se que não há alterações
significativas quando o dorso apresenta papilas normais.

A região do ventre lingual (Figura 8) pode apresentar dobras de mucosa chamadas pregas
fimbriadas. Essas estruturas normais são mais presentes em jovens, reduzindo de tamanho a medida em
que o indivíduo envelhece. A anemia também pode provocar essa alteração. Discutiremos essa situação
com mais detalhe quando falarmos de lesões erosivas.
O exame da região do assoalho bucal é feito junto com o do ventre lingual. A língua pode ser
afastada com a espátula de madeira para facilitar a visualização. Além disso, pode-se fazer o exame tátil,
colocando o indicador por dentro da boca e comprimindo os tecidos moles dos dedos da mão oposta que
são posicionados por fora da boca. Com esta abordagem, podemos identificar algum nódulo submucoso
não perceptível pelo exame visual.
Para o exame das bordas da língua, é fundamental que toda sua extensão seja avaliada. Para isso ser
possível, recomenda-se o uso de uma compressa de gaze para puxar delicadamente a língua do paciente
para os dois lados. Esse procedimento é feito dos dois lados e permite a visualização desde a ponta da
língua (ápice) até a base (terço posterior).
Na região posterior da língua, podem ser observadas elevações que representam as papilas
foliáceas, estruturas anatômicas relacionadas à função da gustação.

Figura 9. Demonstração do exame da borda direita da língua Figura 10. Mesmo procedimento sendo realizado do lado
com tracionamento da mesma com compressa de gaze. Só oposto.
assim é possível enxergar toda a sua extensão. Recomenda-
se afastamento da comissura labial direita com espátula de
madeira ou odontoscópio.
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Figura 11. As papilas foliáceas (seta) geralmente são


simétricas, apresentando-se mais ou menos evidentes em cada
paciente. Em outras palavras, se o paciente apresenta papilas
mais evidentes de um lado, aspecto semelhante costuma ser
observado do outro.

Encerrado este estágio inicial, uma primeira rodada de coleta de informação é concluída.
Recomenda-se que etapas não sejam deixadas de lado nesse processo. Existe uma tendência de o clínico
mais inexperiente e imaturo de achar que um profissional é melhor se pular direto para a avaliação visual
da lesão e emitir uma opinião diagnóstica. Devemos estar preparados para não cair nesta armadilha.
Ainda que as etapas iniciais da entrevista dialogada tomem tempo, devemos ter em mente que
não respeitar a ordem dos procedimentos pode favorecer o erro. De posse dessas informações a respeito
dos dados subjetivos (sintomas) e objetivos (relacionados à doença), o profissional responsável pelo caso
deve elaborar hipóteses de diagnóstico.
Em alguns casos, as informações coletadas a partir do exame clínico são suficientes para embasar
um diagnóstico final. Outras vezes, as informações obtidas neste primeiro momento, não levam a uma
hipótese, sendo a decisão final dependente da obtenção de informações adicionais. O processo de
obtenção dessas informações adicionais depende de EXAMES COMPLEMENTARES, assunto que será
tratado no MÓDULO 2.

REFERÊNCIAS
COLEMAN, C. C.; NELSON, J. F. Principios de diagnósticos bucal. Editora Guanabara Koogan, 1993.
EUSTERMAN, V.D. History and physical examination, screening and diagnostic testing. Otolaryngol
Clin North Am.; V. 44, no. 1, p.1-29, 2011.
MARCUCCI, G. Fundamentos de Odontologia – Estomatologia. Editora Guanabara Koogan, 2005.

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Equipe Responsável
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do Núcleo de
Telessaúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS-UFRGS) e do Programa Nacional de
Telessaúde Brasil Redes.

TelessaúdeRS-UFRGS Projeto Gráfico


Luiz Felipe Telles
Coordenação Geral
Marcelo Rodrigues Gonçalves Diagramação
Roberto Nunes Umpierre Angélica Dias Pinheiro
Carolyne Vasques Cabral
Coordenação do curso Luiz Felipe Telles
Vinicius Coelho Carrard
Ilustração
Coordenação da Teleducação Carolyne Vasques Cabral
Ana Paula Borngräber Corrêa Luiz Felipe Telles

Conteudistas Edição/Filmagem/Animação
Manoela Domingues Martins Diego Santos Madia
Marco Antonio Trevizani Martins Rafael Martins Alves
Vinícius Coelho Carrard
Vivian Petersen Wagner Divulgação
Camila Hofstetter Camini
Revisores Guilherme Fonseca Ribeiro
Bianca Dutra Guzenski Vitória de Oliveira Pacheco
Fernanda Friedrich
Otávio Pereira D’Avila Equipe de Teleducação
Michelle Roxo Gonçalves Andreza de Oliveira Vasconcelos
Thiago Tomazetti Casotti Angélica Dias Pinheiro
Cynthia Goulart Molina Bastos
Francine de Souza Borba
Luís Gustavo Ruwer
Rosely de Andrade Vargas
Ylana Elias Rodrigues

Dúvidas e informações sobre o curso


Site: www.telessauders.ufrgs.br
E-mail: ead@telessauders.ufrgs.br
Telefone: 51 33082098

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