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Guilherme Pelisser Cavalcante Souza

Turma 13 / Número USP 10315671

Análise de Fontes – Direito Canônico

A famosa passagem bíblica de MATEUS, XXII, 15-22 exprime a visão doutrinária acerca do
dualismo entre o mundo fático e o mundo celestial, bem como o juízo de valor que se dá entre as
duas esferas. Na frase “Daí, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, César, como
autoridade máxima entre os homens no período do Principado, é uma alegoria que representa os
assuntos mundanos bem como o governo instituído pelos homens. Assim, se estabelece uma
hierarquia entre planos, na qual ainda que prevaleça a necessidade, coação ou imposição entre
homens, tal fato estaria necessariamente localizado em um plano moral e ontológico inferior ao juízo
divino segundo o entendimento cristão.

Tal entendimento é reforçado pelo segundo fragmento correspondente a “SÃO MATEUS, XVIII, 15-
17:”, na qual há um claro apelo a conciliação interna dentro da comunidade cristã. Costume de
conciliação esse que devido a influência mundial da religião, se propagou para outros campos “de
César”. O fragmento expõe um meio de solução gradativo, que passa do bilateral, para o multilateral,
para a autoridade eclesiástica e, só então, caso não haja comum acordo, se configura a
realizabilidade da pretensão dentro do juízo pagão. Na aula ministrada no dia de hoje pela Profa.
Carmignani foi dado o exemplo das comunidades cristãs, então consideradas hereges, que se
reuniam em catacumbas para resolver seus conflitos internos de maneira sigilosa frente aos seus
irmãos e líderes espirituais. Essa concepção de hierarquia entre juízos pagãos e cristãos também se
manifesta do terceiro fragmento bíblico, na qual há outro apelo para a mesma metodologia de
solução de conflitos.

A influência da religião cristã, ao longo da história ocidental, tomou uma proporção tamanha que
antes do início da idade média, a mesma já havia sido descriminalizada pelo Édito de Nantes do
imperador Constantino e tornada oficial a partir de 380 A.C. Essa expansão tomou possível que as
suas normas doutrinas pudessem ser amplamente interpretadas, formuladas e compiladas pelos
sábios eclesiásticos, criando assim as normas de direito canônico ao longo da Idade Média, cujas
tradições se mantém até os dias atuais (vide bulas papais). Vale ressaltar que, dada a sua influência e
prestígio em todos os níveis da atividade humana, a Igreja Católica e o cristianismo como um todo se
tornou uma instituição com autoridade intercontinental, minando a soberania do poder político “de
Cesar”, e, portanto, suas ingerências ocasionaram diversos conflitos com autoridades locais.

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