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Campus Salvador

Departamento de Ciências Humanas


Disciplina: ÉTICA E VALORES HUMANOS (HUM 152) 2021.2
Orientadora: Gracione Barbosa
Aluno: Cleidson Santos Souza – Matricula: 2014208005

PRODUÇÃO TEXTUAL II: REDISTRIBUIÇÃO E RECONHECIMENTO

Nancy Fraser é uma filosofa norte americana ligada a escola de pensamento


denominada como Teoria Critica. Em seu estudo “Da redistribuição ao
reconhecimento? Dilemas da justiça numa era “pós-socialista””, publicado
originalmente em 1997, a autora busca revelar as duas principais causas para
injustiças: a primeira seria a falta de distribuição, enquanto a segunda seria a
falta de reconhecimento.

Quando se chama atenção para a falta de distribuição, pretende-se enfatizar em


distribuição de algo, principalmente algo material, como exemplo, a distribuição
de alimentos. Enquanto há milhares de pessoas que são desprovidas de
alimentos ou tem uma dieta subnutrida, por outro lado há quem conviva com o
desperdício diário e desenfreado desses alimentos. O mesmo acontece em
termos de moradia, muito vivem em situação de rua ou em moradias
inadequadas para o convívio enquanto um número reduzido de pessoas detém
de grandes propriedades e diversos imóveis.

Dessa forma, Fraser deixa claro que a falta de distribuição se relaciona com a
falta de garantia de direitos ligados às condições dignas de vida, como
alimentação, moradia, saúde, educação, tantos outros mais direitos relacionados
de uma forma ou de outra a “coisas” que podem ser obtidas atualmente com a
posse de dinheiro.

No entanto, mesmo quando o recurso financeiro se faz presente e o indivíduo


tem acesso aos direitos de distribuição, há outro ponto de injustiça que pode
transparecer. Por exemplo, pessoas homossexuais que, por ventura, nasçam em
famílias ricas, que garantirá acesso a educação de qualidade, moradia digna,
sistema de saúde organizado e etc, são passiveis de sofrer preconceitos e
descriminação devido a sua orientação sexual. Da mesma forma, em algumas
empresas uma mulher mais capacitada e, portanto, com mais estudo, pode não
ser promovida. Por sua vez, um homem menos capacitado e com menos
experiencia recebe a promoção, destacando a questão do gênero. Assim, Fraser
destaca que algumas injustiças não ocorrem somente em função do acesso a
bens materiais, mas em função do que a autora chama de reconhecimento.

Esse processo de reconhecimento está relacionado a valoração de identidades


normalmente subalternadas, vitimas de estigmas. Aqui pode-se citar casos
ligados a sexualidade, cor da pele, etnia, presença de alguma deficiência.

Claro que muitas vezes as duas formas de injustiças supracitadas se somam.


Numa sequência, o fato de haver ausência de reconhecimento em relação a
determinada minoria, colabora para que tenham menos oportunidades,
resultando em uma menor renda média para esses sujeitos.

Para se combater a falta de distribuição há um grande esforço para que haja


mais oportunidade e que os direitos de todos sejam respeitados. No texto da
Nancy Fraser isso vai aparecer com a denominação de ‘redistribuição’. A ideia
de cotas em universidade busca exatamente isso, melhorar a distribuição do
acesso as universidades públicas a pessoas negras, indígenas, de renda menor
e que estudaram em escolas públicas. Objetivos parecidos vão ser encontrados
em politicas publicas como o ‘bolsa família’, programas habitacionais como o
‘minha casa, minha vida’.

Já no caso do combate à falta de reconhecimento normalmente são feitos


movimentos que buscam dar visibilidade de forma não negativa, obviamente, a
grupos tradicionalmente subalternizados, marcados com inferiores. Há vários
movimentos nesse sentido, como por exemplo, o cabelo black power que
costuma ser destaque de representatividade, ressignificação e símbolo de
reconhecimento de resistência do povo negro, quebrando paradigmas negativos
quanto um cabelo sujo, feio e fora do padrão de beleza eurocêntrico estabelecido
pela sociedade. Um outro exemplo, é a parada anual LGBTQIa+ que busca
promover a diversidade e liberdade de orientação sexual. Ou até mesmo o
movimento feminista com fortes expressões como “lute como uma garota”
promovendo a igualdade de gênero. Essas ações buscam promover, de forma
geral, o reconhecimento e a valoração de determinados grupos.

É importante enfatizar que há diferenças entre as pessoas, que é a diversidade,


mas sem desvalorizar as diferenças. Diante de todo esse contexto, cabe ao
cidadão que tem por garantia constitucional o direito a igualdade, buscar um
sistema mais justo utilizando a promoção de movimentos sociais que se
relacionem com a referida causa e ter como arma fundamental a possibilidade
de comunicação rápida e global proveniente da modernidade, buscando o seu
lugar de fala. Isso é, uma publicação em mídias sociais, um vídeo
conscientizador em sites, blogs e grupos de mensagens instantâneas e o
combate do desconhecimento e ignorância da sociedade se traduz na luta pelo
direito de uma sociedade mais justa.

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