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Direito Constitucional - Resumo

Direito Constitucional (Universidade Catolica Portuguesa)

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

SEMESTRE DE INVERNO

2018 - 2019

CONTEXTUALIZAÇÃO

O direito é um conjunto de normas que limitam a nossa liberdade, são limitações à nossa liberdade que
constituem o preço para a nossa vida em sociedade.

• Objeto imediato de várias ciências: ciências constitucionais;


• Um dos objetos de outras ciências: ciências afins do Direito Constitucional.

Ciências Constitucionais: têm por objeto a Constituição, mas analisam-na através de métodos diferentes.

Por exemplo: Doutrina Constitucional, Teoria da Constituição, Direito Constitucional Comparado,


Política Constitucional, História Constitucional.

Ciências afins do Direito Constitucional: tratam também da Constituição, mas esta não é o seu objeto
imediato e único.

Por exemplo: Direito do Estado, Teoria Geral do Estado, Ciência Política.

DE JURE -- DE DIREITO, de acordo com a constituição só pode existir um único partido.

DE FACTO -- A REALIDADE DAS COISAS, na realidade, na prática, só existe um único partido.

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CONSTITUIÇÃO COMO UMA NORMA

Artigo 3.º — CRP/76


(Soberania e legalidade)

3. A validade das leis e dos demais actos do Estado, das regiões autónomas, do poder local e de quaisquer outras
entidades públicas depende da sua conformidade com a Constituição.

Este é o princípio da constitucionalidade. Através desta norma entende-se que todas as normas pertencentes
ao Direito Português tem que respeitar o próprio texto constitucional, ou seja, este torna-se então na norma
das normas (geralmente) devido à superioridade normativa que lhe é considerado no ordenamento
jurídico, é a lex superior.

Assim se diz que desta definição surge a ideia de auto-primazia normativa, com a conceção de um norma
auto-referencial, que procura nela própria referência, por ser a mais alta no plano nacional.

Entende-se então que o Direito Constitucional e o Direito Ordinário se distinguem uma vez que o segundo
deve respeitar, invariavelmente, o que é ditado pelo primeiro.

Porém, deve ser feita uma ressalva: fruto da complexidade do ordenamento jurídico em que Portugal se
insere, é legitimo considerar que, por vezes, a lei da Constituição Portuguesa pode ser suplantada pelas
leis internacionais que regem os acordos firmados, sejam as da UE ou outras.

Os atos jurídico-públicos são organizados em forma de pirâmide e existem diferentes valor no âmbito
desta hierarquia, tal como será explorado mais adiante.

“Teoria da Constituição” de Manuel Afonso Vaz

A força normativa dos textos constitucionais, se foi desvalorizada em alguns períodos históricos, vem no
pós II Guerra Mundial impôr-se definitivamente. As Constituições, além de adquirirem uma efetividade
normativa assumem-se como o eixo, não só orgânico, mas também valorativa de ordenamento jurídico.

Consagram-se nomeadamente mecanismos e instâncias especializadas e que se focam no controlo da


constitucionalidade.

O nº 3 do artigo 3º da Constituição ao vincular os atos do poder público à Constituição, faz sobressair


claramente a superioridade normativa do texto constitucional face a qualquer outra norma.

Ocupa uma posição hierárquico-normativa superior em relação às outras normas.

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“Teoria da Constituição” de Manuel Afonso Vaz

Perante a Constituição, norma cuja validade decorre de uma decisão do poder constituinte (autoprimazia
normativa), normas integrantes do ordenamento jurídico são normas secundárias (ordinárias), pois a sua
validade depende da própria Constituição.

Caráter primário da Constituição, na sua posição superior hierárquica, como norma das normas (norma
normarum).

A abertura do ordenamento jurídico vigente ao direito supranacional e ao Direito Internacional acrescenta


necessariamente complexidade e heterogeneidade ao sistema jurídico.

SISTEMATIZAÇÃO DO TEXTO DA CRP:

Artigo 1º a 11º — Princípios Fundamentais

Artigo 12º a 79º — Parte I: Direitos e Deveres Fundamentais

Artigo 80º a 107º — Parte II: Organização Económica

Artigo 108º a 276º — Parte III: Organização do Poder Político

Artigo 277º a 289º — Parte IV: Garantia e Revisão da Constituição

Artigo 290º a 296º — Disposições Finais e Transitórias

Influências nacionais para a elaboração da Constituição de 1976:

• Constituição de 1911: responsabilidade do Governo perante o Parlamento;

• Constituição de 1933: a eleição direta do PR.

Influências estrangeiras para a elaboração da Constituição de 1976:

• Constituição francesa de 1958: o semipresidencialismo;

• Constituição alemã de 1919: o parlamentarismo racionalizada.

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TEORIA DO ESTADO

DEFINIÇÃO DE ESTADO:
Estado é uma forma de organização política das sociedades e historicamente localizada.

ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ESTADO:


O surgimento estado começa (na nossa cronologia de estudo) com o aparecimento da comunidade política
medieval que é a antítese do Estado que concebemos. Neste período histórico destacava-se:

• A fragmentação do poder
- Diversidade de organizações políticas
- Estatutos e prerrogativas próprias
- Aparelhos próprios de poder
- Sujeição ao Papa e/ou ao Imperador

• A personalização do poder
- Pactos de fidelidade
- Principio da personalidade na aplicação do Direito
- Privilégios do foro
- Território como propriedade do príncipe

• A individualização do poder
- Poder carismático
- Insegurança e instabilidade da liderança
- Rupturas no plano da regulação

Consequentemente, as políticas modernas empreendidas eram também uma forma de oposição ao conceito
de Estado medieval:

• Centralização e concentração do poder (vs. fragmentação)


- Aparelhos de poder únicos (exército, funcionários) na titularidade do príncipe
- Uma ordem jurídica

• Territorialização do poder (vs. personalização)


- Principio da territorialidade na aplicação do Direito
- Território como património colectivo

• Institucionalização do poder (vs. individualização)


- O poder passa das pessoas concretas para as instituições
- Pessoas são meros titulares de órgãos
- Estabilidade da liderança
- Continuidade das regras vigentes
- Autonomização do património pessoal do príncipe face ao património do Estado

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ELEMENTOS DOS ESTADOS:


Seguem alguns exemplos onde a Constituição Portuguesa apresenta normas relacionadas com esta temática:

Artigo 3.º — CRP/76


(Soberania e legalidade)

1. A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituição.

Artigo 10.º — CRP/76


(Sufrágio universal e partidos políticos)

1. O povo exerce o poder político através do sufrágio universal, igual, directo, secreto e periódico, do
referendo e das demais formas previstas na Constituição.

Artigo 108.º — CRP/76


(Titularidade e exercício do poder)

O poder político pertence ao povo e é exercido nos termos da Constituição.

POVO -- conjunto dos CIDADÃOS


O povo consiste no conjunto de cidadãos, independentemente do local de residência à data, apenas baseado
na nacionalidade do indivíduo. Ou seja, o povo português engloba todos os portugueses independentemente
de onde ele estiver.
 
Conceito Jurídico
• Vinculo
• Conjunto de direitos e deveres
 
Conceito Político
• Sentido ativo (sujeito de poder), quando o nosso voto determina quem vai exercer o poder
político, através de eleições.
• Sentido passivo (objeto do poder), ao sermos alvo das decisões tomadas pelo mesmo poder
que legitimamos, seja disso exemplo o poder legislativo.

POPULAÇÃO -- conjunto dos RESIDENTES


Conjunto de pessoas que estão num dado território, independentemente da existência ou não de elementos
comuns entre eles. É um mero valor estatístico e de contagem.
Incluí a população flutuante, estrangeiros e até os apátridas .

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NAÇÃO -- conjunto de pessoas que partilham um sentimento de pertença comum em virtude do conjunto de
elementos que partilham entre si. Aspiram, eventualmente, a tornarem-se num estado independente. Princípio
das Nacionalidades aplica-se aqui.

O Princípio das Nacionalidades indica-nos que a cada Estado deve corresponder uma e uma só nação, por
forma a garantir a estabilidade interna e as boas relações no seio da sociedade. Contudo, por vezes, este
conceito é pervertido.

Princípio da Autodeterminação dos Povos procura vir defender o ponto anterior, sendo da
responsabilidade de cada povo a escolha do modelo político que procura ver em função no seu país.

Neste âmbito, surgem muitas vezes problemas quanto às minorias nacionais, que são resolvidas através da
concessão da autonomia pessoal, cultural e territorial.

PÁTRIA — relaciona-se mais com domínio da afetividade e com o sentimento de pertença que contagia os
patriotas.

Em suma:

Conceito Definição Perspetiva

Conjunto de residentes ou
Mera soma de indivíduos,
Demográfico e visitantes de um determinado
População sem atender a eventuais de
Económica território, independentemente da
conexões com eles.
sua nacionalidade.
Conjunto dos cidadãos
Unidade de poder (soberania
Povo Jurídico-Político independentemente do local de
popular).
residência.
Conjunto de pessoas que partilham Comunidade cultural dotada
o sentimento de pertença a uma de vocação política
Nação Cultural
comunidade, que aspira a (consciência da sua
constituir-se em Estado. nacionalidade).
Forte conotação biológica e
Pátria Afetivo Terra natal
territorial.

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PODER SOBERANO:
De cada vez que falamos de Estado e do poder soberano que dele imana temos que considerar esta ideia em
duas vertentes:

• Internamente: o Estado é o elemento superior no contexto interno de um país, sendo a ele que lhe
cabem as decisões que, em última análise terão sempre força para serem aplicadas.

• Externamente: garante-se a soberania do Estado no plano externo e internacional de cada vez que a
este se permite equiparar-se a qualquer outro Estado, ficando assim em pé de igualdade.

Outro dos elementos que caracteriza a soberania do Estado é a capacidade que este tem de, pela força, impôr
aos membros de uma sociedade, um dado comportamento.
A utilização da força deve ser considerada, contudo, ultima ratio (última hipótese) e pelo caminho podem ser
oferecidas sanções, elementos de persuasão e outros como forma de fazer levar a cabo as decisões tomadas
pelo Estado.

Conceito de Estado foi estimulado e desenvolvido primeiramente por Jean Bodin, todavia já sofreu várias
alterações e atualizações que tiveram em vista considerar as realidades mais atuais.

SOBERANIA, PODER E DIREITO:


No âmbito da ação do Estado surge-nos o seu poder jurídico-político para a construção de um ordenamento
jurídico que lhe dê força e ao Direito, construindo uma sociedade organizada e onde a resolução de conflitos
é possível à luz de um conceito de justiça igualitário para todos e onde as liberdades de cada um são
respeitadas sem que isso ponha em causa as liberdades dos outros.

O poder jurídico-político consiste na capacidade de condicionar o comportamento dos elementos de um


grupo social através da manipulação da respetiva esfera jurídica, bem como da execução pela força das
obrigações assim impostas, ou seja, através do poder de construção legislativa o Estado consegue construir
barreiras às ações de diversos grupos sociais, garantindo o cumprimento dessas mesmas delimitações por via
da força que lhe está outorgada pelo ordenamento jurídico, nomeadamente, pela Constituição e pelo povo
português que elege os seus representantes nos aparelhos do Estado, pelo menos a grande maioria deles.

O Direito é o intermediário entre os cidadãos e o poder político.

Contudo, o poder do Estado vêm acarretado de diversas competências que lhe assistem.

Este poder não é um mero facto, ele exprime-se num conjunto de competências atribuídas juridicamente aos
seus orgãos.

Estas competências são de diversos ramos, sendo exemplo: legislativo, administrativo, judicial, governativo,
etc. Qualquer um destes ramos têm o poder de adotar atos jurídicos de autoridade como as leis, sentenças,
atos administrativos, etc., e que vão permitir a agilização da sua tarefa de prossecução do poder. O poder
constituinte é o mais importante de todos os poderes do Estado.

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A capacidade que o Estado têm para definir as suas próprias competências chama-se: omnipotência jurídica
e para exercer convenientemente estas funções e competências o Estado possui os chamados instrumentos
fácticos do poder e dos quais são exemplo: tribunais, polícia, cunhagem de moeda, impostos, etc.

LIMITES À SOBERANIA DOS ESTADOS:


O processo de identificação dos limites que circundam a soberania dos estados foi sofrendo várias alterações
de acordo com o avançar dos tempos e à luz das conceções vigentes à data.

• Jean Bodin, que primeiro elabora uma teoria completa sobre a existência do Estado e do Poder
Soberano, considera que na base do Estado estão as leis fundamentais do Reino que são o direito divino
e natural, além de determinados princípios jurídicos fundamentais. São estas a limitações que encontra.

• Durante o período das Monarquias Absolutistas, a concentração dos poderes numa só figura - o rei - e a
eliminação de quais elementos de apoio à decisão vem, por outro lado, contrariar a ideia de que o poder
soberano deve estar, de alguma forma limitado. Assim sendo, nesta fase, o poder soberano vai tão longe
quanto a vontade do príncipe.

• Novamente, regressam as teorias limitadoras do poder soberano, e que se baseiam nos ideias liberais, na
proteção da propriedade, e no princípio da separação de poderes que se consagra em grande parte dos
textos de John Locke.

Durante o período das Revoluções Liberais, impõe-se a força das primeiras Constituições e do Direito. Aqui
são defendidos: um catálogo de direitos fundamentais do Homem e o princípio da separação dos poderes.

O Direito torna-se então no intermediário entre os cidadãos e o poder político.

Conforme se fala nas Constituições, refira-se que o poder mais importante de um estado é o poder
constituinte que lhe dá a capacidade de criar uma Constituição.
Acaba-se, entretanto, com a teoria “Princeps a legibus soluto” e passa a vigorar o princípio da legalidade,
que determina que todos os cidadãos são iguais perante a lei e tem que responder perante os tribunais.

Vivem-se períodos, que Thomas Jefferson caracterizaria como, The Rule of Law.

“In questions of power, then, let no more be said, of confidence in man, but bind him down from mischief by
the chains of the Constitution.”

Em última análise, o verdadeiro limitador da ação soberana são as Constituições que determinam os poderes
atribuídos a cada orgão institucional.

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LIMITES DE FACTO E LIMITES JURÍDICOS:

LIMITES DE FACTO Plano Interno


Têm impacto/origem em
Associam-se à cultura; por território nacional.
exemplo, em Portugal
consagra-se a família mas
não a poligamia, porque
culturalmente não é um Plano Externo
modelo que nos represente.
Têm impacto/origem
internacionalmente.

Supra-Positivos
LIMITES JURÍDICOS
São inderrogáveis e estão para
lá daquilo que está escrito.
Estão associados a limites escritos e
que se impõe por força da lei.

Internacionais
Supra-Estatais
Estatais
Derrogáveis, podem ir

LIMITES SUPRAPOSITIVOS E INTERNACIONAIS:

• Direito Natural: surge junto dos gregos, pensadores cristãos, pensadores jusracionalistas e outros.
Desenvolve-se a ideia de que o simples facto de alguém ser Homem já tem outorgados um dado
conjunto de direitos básicos.

• Positivismo jurídico: assente na procura por respostas apenas naquilo que está escrito e que foi
ganhando força com um Direito progressivamente mais completo.

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• Os acontecimentos da II.ª Guerra Mundial parecem ter marcado radicalmente a nossa cultura
contemporânea e incentivando a limitação nacional e internacional de vários elementos do poder.

• Valores ético-jurídicos fundamentais (ideia de dignidade da pessoa humana) que fundamentam os


direitos humanos

A isto designa-se de consciência jurídica geral.

• Reconhecimento internacional dos direitos do homem, o jus cogens internacional e a aplicação do


Direito Internacional.

SEPARAÇÃO DE PODERES:
A separação dos poderes do Estado pode ser feita de forma horizontal:

• Função legislativa, função administrativa e função jurisdicional

De forma vertical:

• Estados federais.
• Descentralização política ou administrativa.

Principio da Subsidiariedade: os poderes públicos devem ser exercidos pelas entidades mais próximas dos
problemas a resolver ou das populações interessadas, salvo se o seu exercício por entidades de patamares
superiores for mais eficaz ou mais eficiente.

«sistema de ação comum orientado juridicamente» — afirma a existência de um sistema de


hierarquias e de ação voltada para um fim só; hierarquia de atos normativos.
A titulo subsidiário, se não funcionar a solução mais próxima vai-se estalando na escala da
hierarquia.

A título de exemplo:

Artigo 6.º — CRP/76


(Estado unitário)

1. O Estado é unitário e respeita na sua organização e funcionamento o regime autonómico insular e os


princípios da subsidiariedade, da autonomia das autarquias locais e da descentralização democrática da
administração pública.

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Manual de Introdução ao Direito Público - Almedina

O Estado moderno é uma realidade social identificável pela conjunção de três elementos: um povo, um
território e um poder soberano.

O poder soberano é, desde logo, poder politico, exercido pelo povo de forma indireta, nomeadamente,
através das eleições a partir das quais elegem os seus representantes para os orgãos convenientemente
definidos na Constituição e outras leis orgânicas.

A soberania de um estado adquire-se pela posse e concentração dos meios adequados à imposição da força
através dos instrumentos fácticos do poder: forças militares e polícias, tribunais, serviços de cobrança de
impostos e criação de moeda.

A soberania vai eventualmente concretizar-se através da expressão jurídica: a possibilidade de adotar atos
jurídicos de autoridade. Estas declarações produzem uma transformação na esfera jurídica dos destinatários
sem que estes com isso tenham que consentir.

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O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

TEORIAS SOBRE A CONSTITUIÇÃO:


O conceito de Constituição esta conotado com dois sentidos, um de caráter universal e outro de caráter ideal,
que vem eventualmente ser completado e adaptado no âmbito do conceito contemporâneo.

Conceito Universal:
Todas as sociedades politicamente organizadas têm/tiveram uma Constituição (Roma, Grécia, Idade Média,
Estado Moderno).

O conceito universal de Constituição tem uma postura um tanto quanto vaga e é mais generalista
quanto ao estabelecimento daquilo que é uma constituição.

Conceito Ideal:
Movimento constitucional associado às revoluções liberais (ex: Rev. Francesa de 1789).
A este conceito associam-se elementos fundamentais ao estabelecimento da definição de Constituição, tais
como:
• Documentos escritos;
• Princípio da separação de poderes;
• Garantia dos direitos e garantias dos cidadãos.

Constituição como catalogo escrito que consagra a separação de poderes e alguns direitos
fundamentais

Conceito Contemporâneo:
O conceito contemporânea vêm adicionar ao conceito ideal alguns pontos específicos que o modernizam e
atualizam:

• Exigências de atuação estadual;


Força o estado a intervir na sociedade, impondo um catálogo de direitos sociais e humanos que se
vieram a convencionar.

• Abertura constitucional;
As constituições não devem algemar as nações presentes ou futuras, podendo a sociedade vir a
alterar as normas que sentem que merecem mudanças e modernizações por já não se adequarem
com os paradigmas de então.

• Tem que incluir princípios retores da vida em sociedade.


Solidariedade, por exemplo.

Sistema de valores jurídico-públicos aceites na comunidade.

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TAREFAS ATUAIS DA CONSTITUIÇÃO:

1. Integradora (unidade política):


Consagra os valores fundamentais da sociedade e os procedimentos políticos de composição de interesses.

Artigo 110º — CRP/76


(Órgãos de soberania)

1. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.

2. Conformadora (unidade jurídica):


Condensa os valores jurídico-políticos fundamentais que vão servir de critério de validade das  restantes
normas de Direito (princípio da constitucionalidade).

Sendo a constituição a norma das normas é óbvio que todas as normas vão obedecer aos princípios
da constituição e assim sendo tudo o que o Estado faz e produz respeita a constituição, conforma-se
todo o ordenamento jurídico debaixo do mesmo chapéu.

Além destas duas funções há ainda uma questão que claramente define a Constituição que nos rege
atualmente, a sua essencialidade como principio de construção.

«O estatuto jurídico fundamental da comunidade política.»


- definição possível para Constituição

Fundamental  - não pretende regular todos os aspetos da vida em sociedade ou, sequer, da atividade do
Estado – princípio da essencialidade.

O principio da essencialidade mostra como na Constituição não se pretende compilar todas as


normas jurídicas em vigor mas antes valorizar-se os princípios e utilidades que apoiarão a
construção do Direito.
A singularidade daquilo que está na constituição revela a sua fundamentalidade.

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FORMAS CONSTITUCIONAIS:

I. CARÁTER ESCRITO OU NÃO ESCRITO

CONSTITUIÇÃO
CONSTITUIÇÃO BRITÂNICA CONSTITUIÇÃO FRANCESA
AMERICANA

• Magna Charta Libertatum


(1215)
• Declaração dos Direitos do
• Petition of Right (1628) • Fundamental Orders of
Homem e do Cidadão (1789)
• Agreement of the People (1647) Connecticut (1639)
• Constituição Francesa de 1791
• Instrument of Government • Constituição do Estado da
(1653) Virgínia (1776)
Serviu de modelo à Constituição
• Habeas Corpus (1679) • Constituição da União
Portuguesa de 1822
• Bill of Rights (1689) (1787)
• Act of Settlement (1701)
• Human Rights Act (1998)

II. CONSTITUIÇÃO RIGÍDA E FLEXÍVEL

Rígida: distingue-se formalmente do direito ordinário. A revisão da Constituição é mais difícil do que a
alteração das regras ordinárias.
A medida da rigidez é dada pelo grau de agravamento (limites formais ao poder de revisão constitucional).
Associa-se, por exemplo, às eternity clauses, clausulas que nunca podem ser reavaliadas, isso associa-se à
rigidez das constituições.

Flexível: não se distingue formalmente do direito ordinário. A alteração da constituição não é mais difícil do
que a alteração das regras ordinárias.

Sendo escrita, uma constituição torna-se mais rígida, sendo mais difícil rever a mesma. Por outro
lado a não-escrita, torna-se mais flexível e mais facilmente revisitável, sendo quase comparada ao
direito ordinário.

Em nota, a Constituição portuguesa é mais rígida do que as outras, nomeadamente, em virtude do número de
eternity clauses que possui.

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III. CONSTITUIÇÃO FORMAL E MATERIAL

Material/substancial: conjunto de regras fundamentais da comunidade política, estejam ou não consagradas


numa constituição formal.

Formal: conjunto de normas às quais se reconhece serem formalmente superiores às regras ordinárias –
identifica-se com a Constituição escrita/rígida.

O conceito material e o conceito formal podem complementar-se.


 
Relativamente ao conceito material fala-se do sumo da própria ideia, podendo este ter ou não uma
repercussão escrita. Fala-se de dignidade, conteúdo, valor.
 
A constituição formal possui um caráter mais positivista, ou seja, atende única e exclusivamente
àquilo que efetivamente foi escrito.

Por vezes a Constituição:

• Peca por excesso — normas só formalmente constitucionais (gozam de superioridade formal  mas podem
ferir o princípio da essencialidade; por ex. o art. 39.º/2)

• Peca por defeito — normas só materialmente constitucionais (ex: os direitos que constam hoje do art. 26.º
da CRP)

A normas apenas formalmente constitucionais são aquelas cujo valor material escusa a sua
presença na constituição, contudo tem um valor formal a nível constitucional.
 
Pode o contrário acontecer, ou seja, valoriza-se materialmente uma ideia/norma mas esta não está
formalmente incluída na constituição.
 
Inconstitucional e não-constitucional são ideias diferentes. Ir contra a constituição ou não
pertencer à constituição. Pode uma norma ser materialmente não-constitucional, ou seja, a nível de
matéria não merece pertencer à constituição (uma regra do código de estrada inserido na
constituição) como pode também ser materialmente-constitucional ainda que formalmente não o
fosse, como foi o caso das normas que eventualmente são associadas ao artigo 26º da CRP.

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Artigo 39.º — CRP/76


(Regulamentação da Comunicação Social)

2. A lei define a composição, as competências, a organização e o funcionamento da entidade referida no número


anterior, bem como o estatuto dos respectivos membros, designados pela Assembleia da República e por
cooptação destes.

- exemplo do ponto “peca por excesso”, materialmente não-constitucional mas formalmente constitucional

Artigo 26º — CRP/76


(Outros direitos pessoais)

1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade


civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e
familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.

2. A lei estabelecerá garantias efectivas contra a obtenção e utilização abusivas, ou contrárias à dignidade humana,
de informações relativas às pessoas e famílias.

3. A lei garantirá a dignidade pessoal e a identidade genética do ser humano, nomeadamente na criação,
desenvolvimento e utilização das tecnologias e na experimentação científica.

4. A privação da cidadania e as restrições à capacidade civil só podem efectuar-se nos casos e termos previstos na
lei, não podendo ter como fundamento motivos políticos.

- exemplo do ponto “peca por defeito” (antes da revisão), materialmente constitucional mas formalmente não-
constitucional

IV. CONSTITUIÇÃO ESTATUTÁRIA E PROGRAMÁTICA

Estatutárias (orgânicas/precetivas): limita-se a definir o estatuto do poder, os direitos e liberdades, não


contendo nenhum programa de ação (ex: Consts. Oitocentistas, Cons. EUA).

Programáticas (diretivas/doutrinais): programas, diretrizes, metas da atividade do Estado no domínio


económico, social e cultural. Aderem a valores (ex: CRP/76, arts. 65.º/2; 74.º/2; ou 78.º/2).

Estado Social de Direito – equilíbrio entre ambas as vertentes.

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V. CONSTITUIÇÃO SIMPLES E COMPLEXA

Simples: unidade valorativa, ou sejam, os princípios fundamentais da Constituição são perfeitamente


compatíveis (ex: Const. Liberais).

Complexa ou compromissória: espelha um compromisso entre princípios fundamentais potencialmente


contraditórios (ex: CRP/76).

VI. CONSTITUIÇÃO NORMATIVAS, NOMINAIS E SEMÂNTICAS

Normativa: está em vigor, é operante. Comunidade política revê-se no texto constitucional, reconhece-lhe
força vinculativa e sujeita-se aos seus comandos.

Semântica: retrato do momento histórico e político em que são elaboradas. Forças no poder tentar perpetuar
o texto (ex: versão original da CRP/76, antes das revisões de 1982 e 1989).

Nominal: não tem força, o poder político não a respeita. Desfasamento entre texto e realidade constitucional
(ex: Const. 1933).

“Teoria da Constituição” de Manuel Afonso Vaz

Entende-se por flexível a Constituição que não se distingue formalmente do Direito ordinário. Não existem
também processos autónomos de criação ou de alteração das normas constitucionais e das normas
ordinárias.

A Constituição rígida será aquela que se distingue formalmente de Direito Ordinário.

Se se verificar uma diferença formal entre as leis constitucionais e as leis ordinárias, consequentemente,
existirão processos autónomos de criação ou alteração das normas constitucionais e das normas ordinárias.

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ATOS JURÍDICO PÚBLICOS

ATOS JURÍDICO-PÚBLICOS:
Os atos jurídico-públicos podem ser caracterizados de duas formas diferentes: atos jurídico-públicos de
caráter normativo ou atos jurídico-públicos não-normativos.

A principal distinção entre estes passa pelo facto de os atos normativos serem de caráter geral e abstrato,
aplicando-se a toda a gente, enquanto que os atos não-normativos são percebidos como concretos e
individuais.

Atos Normativos:

1. Constituição; 4. Convenções Internacionais;
2. Atos Legislativos Nacionais (art. 112º/1); 5. Regulamentos Administrativos.

3. Atos Legislativos Comunitários;

Artigo 112º — CRP/76


(Actos normativos)

1. São actos legislativos as leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais.

Atos Não-Normativos:

1. Atos políticos; 3. Atos administrativos;
2. Atos jurisdicionais; 4. Contratos administrativos.


Atos jurídicos - declarações que produzem ou visam produzir um efeito jurídico.

Atos públicos - emitidos por entes públicos, que manifestam a sua autoridade e têm em vista a realização
dos interesses da comunidade.

Atos Normativos são atos unilaterais, uma declaração de originária poder público, por exemplo, a
Constituição, os atos legislativos, os regulamentos, etc. Porém, podem contar-se também os atos
plurilaterais, uma conjunção de declarações de vários poderes políticos, como no caso das convenções
internacionais.

Nos atos unilaterais existe um foco de decisão que leva a que da outra parte surja uma sujeição.
Nos atos plurilaterais está clara a existência de um contrato, ou seja, um acordo entre duas ou mais
partes.

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CONSTITUIÇÃO:
A Constituição é um ato jurídico-público de caráter normativo, geral e abstrato, aplicável a toda a gente,
redigidos por uma Assembleia Constituinte.

• Declaração de regras e princípios;

• Estatuto fundamental de uma comunidade politicamente organizada:


- organização política (e económica);
- princípios;
- direitos fundamentais.

• Constituição da República Portuguesa:


- Elaborada pela Assembleia Constituinte;
- Revisão pela Assembleia da República (161.º/a, CRP).

ATOS LEGISLATIVOS NACIONAIS:


Antes de mais concluir que atos legislativos são declarações de normas jurídicas que manifestam opções
políticas primárias, ou seja, que procedem ao desenvolvimento primeiro de uma dada ação através dos atos
legislativos.

Os atos legislativos nacionais tem uma designação especifica em função do seu produtor.
• Lei → Assembleia da República;
• Decreto-Lei → Governo;
• Decreto Legislativo Regional → Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas.

ÁREAS DE RESERVA LEGISLATIVA:


As áreas de reserva legislativa nacionais referem-se às competências que cabem a cada uma das entidades,
em concordância com as funções estipuladas pelas Constituição.

Competência legislativa reservada da A.R.:


• Artigo 161.º e 164.º: redime de reserva absoluta - ou seja, não pode haver uma partilha destas
competências com outros orgãos do Estado.
• Artigo 165.º: reserva relativa, mediante uma autorização própria, limitada no tempo e ação, concedida
ao Governo ou A.L.R.A pela Leis de Autorização Legislativa.

Competência legislativa reservada do Governo:


• Artigo 198.º, n.º 2: competência exclusiva — ou seja, não pode haver uma partilha destas competências
com outros orgãos do Estado.

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Competência legislativa reservada das Assembleia Legislativa das Regiões Autónomas. (dispostas no
artigo 165º)

Restantes matérias: competência concorrente entre A. R. e Governo

- As competências concorrentes significam que são uma função partilhado.

ATOS LEGISLATIVOS DA UE:

Regulamentos da EU:
• vigoram diretamente na ordem jurídica nacional, são verdadeiros atos legislativos.

Diretivas da UE:
• têm de ser transpostas por Lei, Dec.-Lei ou D.L.R.  -- fixam um objetivo geral que todos os países da UE
devem alcançar, todavia, cabe a cada país decidir os meios para atingir esse objetivo

Decisões da EU, as decisões só são vinculativas para os seus destinatários específicos.

Atos legislativos adotados pelo Conselho da União Europeia ou por este e pelo Parlamento Europeu.

1. Competências exclusivas da União Europeia


Matérias que só podem ser trabalhadas pela União Europeia e pelas entidades supra-nacionais.

2. Competências partilhadas entre a União e os Estados-membros

3. Matérias restantes: competências dos Estados-membros

CONVENÇÕES INTERNACIONAIS:
• Acordos entre sujeitos de Direito Internacional
• Destinados a produzir efeitos jurídicos de acordo com o Direito Internacional
• Convenções de que Portugal seja parte:
- vigoram na ordem nacional se regularmente ratificadas (ou aprovadas) e publicadas – 8.º/2
- vigoram automaticamente na ordem nacional, se fizerem parte do Direito Internacional Geral – 8.º/1
- vigoram na ordem nacional se forem ratificadas por todos os Estados-membros (tratados que regem
a União Europeia) – 8.º/4

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REGULAMENTOS ADMINISTRATIVOS:
• Declarações de normas jurídicas;
• Emitidas pela Administração Pública, no exercício da função administrativa;
• Referem-se a uma lei anterior, cujo conteúdo vêm especificar, para garantir a sua aplicabilidade prática
aos casos concretos;
• Instância normativa intermédia entre os atos legislativos e as decisões concretas da Administração
Pública.

Regulamento administrativo (consagra opções políticas secundárias - desenvolvem as opções


políticas primárias em termos mais práticos) estipula a forma como se aplica um dado ato
legislativo nacional.

ORGÃOS ADMINISTRATIVAS COM COMPETÊNCIA REGULAMENTAR:

Estado:
• Governo, Ministros e outros órgãos da hierarquia estadual
• Forma: decreto regulamentar, resolução do Conselho de Ministros, portaria, despacho genérico

Regiões Autónomas:
• Assembleia Legislativa Regional e Governo Regional
• Forma: decreto regulamentar regional, etc.

Autarquias Locais:
• Assembleia Municipal e Assembleia de Freguesia
• Forma: postura, etc.

Outras entidades públicas administrativas (regulamentos internos e outros)

HIERARQUIA DOS ATOS NORMATIVOS:


No âmbito dos atos normativos podemos entender a existência de hierarquias que determinam a
subordinação de certos atos normativos a outros.

Os de categoria inferior têm de respeitar os de categoria superior, naturalmente. Este respeito concerne,
essencialmente, o conteúdo dos atos normativos.

Em caso de contradição, os de categoria superior prevalecem sobre os de categoria inferior sendo os últimos
obrigados a acarretar com as seguintes consequências:

• Invalidade: não possui qualquer valor o ato normativo porque é o equivalente a nunca ter existido, este
não têm valor legal.
Acontece, por exemplo, quando um dado ato normativo não respeita a Constituição.

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• Ineficácia;

• Mera desaplicação.

Existe uma hierarquia tradicional para a disposição dos atos normativos:

1. Princípios jurídicos fundamentais


Associados, nomeadamente, ao conceito de justiça que estudamos na cadeira de Introdução ao Estudo do
Direito.

2. Constituição
Norma das normas, que contém todos os princípios bases fundamentais para a definição do funcionamento
das instituições, além do delinear geral das medidas a tomar para o desenvolvimento da sociedade,
nomeadamente no foro dos direitos e liberdades dos indivíduos.

3. Atos legislativos nacionais


Atos jurídico-públicos de caráter normativo, geral e abstrato, que sendo opções políticas primárias podem ser
desenvolvidos por diversas instituições do aparelho do Estado, nomeadamente, a Assembleia da República, o
Governo, etc.

4. Regulamentos Administrativos
Estes regulamentos consistem numa especificação detalhada, relativamente à aplicação de um ato legislativo
nacional, em luz de dado tema. São opções políticas secundárias.
Em suma, a partir daqueles que são os princípios fundamentais de justiça elabora-se um Constituição que
determina as linhas gerais a aplicar me todo o ordenamento jurídico. Este ordenamento jurídico concretiza-
se, em grande medida, através dos atos legislativos nacionais que se especificam e detalham no seio dos
regulamentos jurídicos.
É desta feita que se constrói o modelo hierárquico com o qual se monta o sistema jurídico, tradicionalmente.

Porém, fruto da integração de Portugal na União Europeia e com a participação do nosso país na
comunidade internacional é de notar que estes valores podem ser atualizados uma vez que há um dado
conjunto de normas e exigências que passam a ter que ser respeitadas como exigência para a pertença nestas
organizações.

Pertencente ao plano global, Portugal está subordinado ao Direito Internacional Geral, ainda para lá
das organizações supra-nacionais a que possamos, eventualmente, aderir.

No Art. 8.º/1, 2 da CRP já concretizam a existência de normas internacionais que aplicam na ordem interna
portuguesa.

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Na possibilidade de existirem conflito de normas deve saber-se o seguinte:

As convenções internacionais: 
• estão subordinadas à Constituição;
• mas prevalecem sobre atos legislativos e regulamentos nacionais.

Já o jus cogens internacional:


• prevalece sobre a própria Constituição.

JUS COGENS são normas imperativas de Direito Internacional Geral, associadas os direitos naturais do
Homem, aqueles que lhe são inerentes pelo simples facto de ser Ser Humano.

Dadas estas indicações surge uma nova hierarquia jurídica que dispõe todos estes elementos:

1. Princípios jurídicos fundamentais;


Soberania popular, independência dos tribunais, separação dos poderes, pluralismo, organização política
democrática, tutela dos direitos fundamentais, etc.

2. Jus cogens internacional; 5. Convenções internacionais (de que Portugal é


parte);
3. Direito da União Europeia;
6. Atos legislativos nacionais;
4. Constituição Portuguesa;
7. Regulamentos administrativos.


Deve neste processo fazer-se algumas ressalvas, à dita hierarquia:

• Dentro de cada fonte de direito há outras relações hierárquicas.


Ex.: regulamentos da UE e diretivas da UE subordinam-se aos Tratados da EU

• O princípio da competência prevalece sobre o princípio da hierarquia


Ex.: nas matérias da competência dos Estados, os atos da UE não prevalecem

• Existem outros princípios de resolução de conflitos normativos (lex posterior derogat legi priori, lex
specialis derogat legi generali)

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PRINCIPAIS ATOS NÃO NORMATIVOS:

• Atos políticos (em sentido estrito);

• Atos jurisdicionais;

• Atos jurídicos concretos da Administração Pública:


- Atos administrativos;
- Contratos administrativos.

ATOS POLÍTICOS:
Os atos políticos representam as decisões concretas que manifestam o exercício da função governativa, seja
pelas entidades legitimadas ou no âmbito da própria legitimação.

Por exemplo:

• Atos do «povo ativo»: eleições, referendos;

• Atos do Presidente da República: nomeação do Primeiro-Ministro e dos ministros; declaração do


estado de sítio ou do estado de emergência; declaração de guerra e de paz;

• Atos do Governo: aprovação do programa de Governo, das opções de plano...

ATOS JURISDICIONAIS:
Aplicação do Direito no caso concreto:
• definindo a solução que resulta do Direito;
• com força vinculativa para os interessados.

Pode envolver a apreciação da legalidade ou constitucionalidade de normas jurídicas (papel do Tribunal


Constitucional).

Principais formas de decisões jurisdicionais:


• Sentença (juiz singular);
• Acórdão (coletivo de juízes).

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ATOS ADMINISTRATIVOS:
Decisões administrativas unilaterais dirigidas à produção de efeitos jurídicos numa situação individual e
concreta onde não há hipótese de negociação, sendo claro o seu caráter imperativo.

Carácter imperativo: efeitos inscrevem-se na esfera jurídica do indivíduo particular independentemente da


sua vontade.

Ex.: licença de construção, ordem de demolição.

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS:
Acordos de vontade entre entidades públicas ou entre estas e particulares e que não traduzem exercício de poder de
autoridade, mas são forma jurídica de realização de interesses públicos, através de negociações e contratação de
serviços.

Ex.: contrato de empreitada de obras públicas.

ATOS JURÍDICO-PRIVADOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:


Esta tem vindo a ser uma tendência recente onde os elementos da Administração Pública seguem a via dos
contratos de direito privado para estarem menos manietados e facilitarem dados processos pela liberdade a
que passam de usufruir.

• Forma intermédia de alcançar os seus objetivos (satisfação dos interesses públicos).


Ex.: contrato de mútuo; c. de arrendamento.
Estes exemplos não são considerados atos jurídico-públicos porque estão sob o alvo do Direito Privado e não
o Direito Público.

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DINÂMICA CONSTITUCIONAL

PODER CONSTITUINTE:
O poder constituinte estabelece a capacidade de elaboração de uma Constituição. O povo, enquanto titular
deste poder, geralmente, através de sufrágio determina a composição de uma Assembleia Constituinte que
procederá a este trabalho.

John Locke, por exemplo, invoca uma distinção entre o poder constituinte, que cabe ao povo, e que se rege
em situações extraordinárias, e o poder legislativo ordinário, constituído pela Constituição, e que cabe ao
Governo e orgãos legislativos, por força do contrato social mediante o qual se consente num poder limitado e
específico.

Este poder constituinte pode ter origem em jeito desconstituinte, anulando totalmente o sistema politico em
vigor à data, criando um novo ordenamento. Ou então, terá um caráter reconstituinte que passa pela
alteração e modernização de uma Constituição em vigor.

O poder constituinte caracteriza-se por ser:

• Originário porque se institui a ele próprio determinando a missão de elaborar uma Constituição;

• Autónomo em concordância com o seu caráter livre e alienado de qualquer outro poder;

• Omnipotente uma vez que à Assembleia Constituinte cabe o direito de tomar todas as decisões que
encontrar/considerar pertinentes para assim moldar a Constituição;

• Inesgotável tendo em conta que está operante a todo o tempo, no ordenamento jurídico, pelo menos até
que uma nova Constituição venha substitui-la.

O poder constituinte vai dar origem aos poderes constituídos, ou seja, vai determinar e conceber aqueles que
são os poderes vigentes no ordenamento jurídico de um dado Estado, estabelecendo-lhe dados limites e
funções.

Assim:

Poder constituinte: poder constituinte originário (poder de se dotar de uma Constituição).

Poderes constituídos: são regulados e criados pelo poder constituinte (ex: poder de revisão constitucional; os
órgãos de soberania, etc.) e exercidos nos termos da Constituição.

Atualmente o poder constituinte designa-se da seguinte forma:

Lato sensu: poder de uma comunidade se afirmar como Estado independente (efeitos internacionais).

Stricto sensu: poder de dotar o Estado de uma Constituição escrita.

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LIMITES MATERIAIS DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO:

“Absoluto é o Direito e não o poder, ainda que seja o poder constituinte.”


- Castanheira Neves

Entre os limites que se podem enumerar ao poder constituinte encontram-se os:

Limites horizontais (de facto/ políticos): operam ao nível da realidade constitucional através das
disposições (Constituição elaborada num determinado tempo e lugar)

• Imanentes: têm a ver com a situação existencial da própria comunidade política (ex: independência
nacional; unidade do Estado).

• Heterónomos: decorrentes da comunidade internacional (adesão de Portugal à UE).

Limites verticais (jurídicos):

• Superiores (transcendentes)
- os princípios jurídicos fundamentais (ex: dignidade da pessoa humana)
- o conceito de norma constitucional  inconstitucional
Constitucional por estar formalmente escrita na constituição mas inconstitucional porque o conteúdo
da norma não respeita os princípios jurídicos fundamentais (direito natural), por exemplo, a
escravatura.

• Inferiores
- o princípio da essencialidade (postulado democrático);
- o conceito de norma só formalmente constitucional (e materialmente não constitucional; ≠
inconstitucional).

PODER DA REVISÃO CONSTITUCIONAL:


Poder constituinte originário – poder de fazer de forma originária a Constituição (criar a constituição a
partir do zero no seguimento de uma revolução que rompe com o ordenamento jurídico vigente ou durante
uma mera atualização, aos tempos decorrentes, da Constituição).

Poder constituinte derivado – poder de rever a Constituição (poder de revisão constitucional), referido na
própria Constituição e que é exercido, tal como previsto, pela Assembleia da República quando reunidas
determinadas condições.

O poder de revisão constitucional é por si só um poder limitado pela Constituição que vai rever em função
das chamadas “constitutional handcuffs”, artigos da Constituição que não podem ser alterados sob qualquer
pretexto.

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No âmbito de uma Constituição rígida (medida de rigidez = grau de agravamento das exigências para
revisão constitucional) é mais difícil providenciar-se a revisão desse mesmo texto constitucional.

O poder de revisão é simultaneamente um poder constituinte (poder de criar e alterar normas


constitucionais) e constituído (só pode agir dentro dos limites fixados pelo poder constituinte originário –
em caso de violação: revisão inconstitucional).

LIMITES FORMAIS ÀS REVISÕES CONSTITUCIONAIS:

• Limites temporais associado a determinadas balizas cronológicas para que se procedam às revisões
ordinárias ou extraordinárias.

- Revisões ordinárias – só passados 5 anos da publicação da Lei de revisão ordinária anterior (284.º/
1) – permite renovação do órgão de revisão.
- Revisões extraordinárias – em qualquer momento (284.º/2).

• Limites Procedimentais, de acordo com os procedimentos a tomar para completar as revisões


constitucionais.

- Limites quanto ao titular do poder de revisão:


- apenas a Assembleia da República (órgão legislativo ordinário) – 284.º e 161.º/a).
- Iniciativa dos deputados (285.º/1).
- O PR não pode vetar politicamente (286.º/3).
- Limites relativos às maiorias deliberativas – maiorias qualificadas:
- Aprovação da revisão (ordinária ou extraordinária):  2/3 dos deputados (286.º/1) tem que
requisitar esta revisão, o mesmo número dos deputados que tem que a aprovar.
- Assunção de poderes de revisão extraordinária: 4/5 dos deputados (284.º/2) tem que
requisitar esta revisão constitucional mas para que seja aprovada apenas 2/3 devem votar
favoravelmente.

• Limites circunstanciais que restringem a realização de revisões constitucionais estando o Estado a


enfrentar determinados contextos de turbulência.

- Não pode haver revisão na vigência do estado de sítio ou do estado de emergência (arts. 289.º e 19.º).

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LIMITES MATERIAIS ÀS REVISÕES CONSTITUCIONAIS:


Dizem respeito ao conteúdo da própria Constituição, impedindo a abolição dos seus pilares/ princípios
identificadores da mesma.

Existem por isso limites:

• Expressos (estão formalizados no próprio texto constitucional: art. 288.º);

• Implícitos (retiram-se da importância que as matérias possuem no texto constitucional; ex: proibição de
cargos vitalícios).

Os limites materiais expressos subdividem-se em (art. 288.º):

• Limites ao poder constituinte originário (als. a), d), h), 1.ª parte, i), n))

• Limites ao poder de revisão expressos próprios ou de 1.º grau – fazem parte da essência da nossa
Constituição (als. b), c), d), e), f), h), 2.ª parte, j),l), 1.ª parte, m), o) …)

• Limites ao poder de revisão expressos impróprios ou de 2.º grau – não se referem a princípios
essenciais, apenas valem por estar no art. 288.º (al. l), 2.ª parte…)

Posto isto torna-se relevante fazer a seguinte pergunta: qual o sentido a conferir limites materiais ao poder
de revisão constitucional?

Existem 3 teses diferentes para dar resposta a esta pergunta.

1. Imprescindíveis e insuperáveis: limites têm valor absoluto;

2. Postulado democrático: esses limites não têm vinculação jurídica, pelo que se deve aplicar a regra geral
lei posterior derroga lei anterior;

3. Tese intermédia: esses limites têm valor declarativo; só são verdadeiros limites se se afirmarem como
identificadores da Constituição.

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TIPOS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL:

• Expressa: as alterações têm de ser incorporadas no texto da Constituição (art. 287.º);

• Tácita: revisão tácita da CRP pelo Direito da UE;


- ex: constituição económica da CRP vs. constituição económica do TFUE;

• Parcial (por definição, é sempre parcial, devido ao artigo 288.º);

• Total (substituição completa da constituição vigente: apenas pode ser efetuada pelo poder constituinte).

ANO TIPO ALTERAÇÃO

Fim das narrativas socialistas e da legitimidade revolucionária


1982 Ordinária (Conselho da Revolução)
Criação do Tribunal Constitucional

1989 Ordinária Fim da constituição económica socializante

Motivada pela assinatura do Tratado de Maastricht


1992 Extraordinária
Surgimento de uma constituição de tipo regional

1997 Ordinária ———————

Motivada pela ratificação do Estatuto do Tribunal Penal


2001 Extraordinária
Internacional

2004 Ordinária ———————

2005 Extraordinária Possibilita referendo à integração europeia (295.º)

EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL:
Se a Constituição, de acordo com as linhas clássicas, representa o topo da pirâmide jurídica que rege toda a
sociedade então é importante que esta efetivamente espelhe a realidade vigente, que naturalmente vai
sofrendo alterações face à realidade vigente a quando a atuação primeira da Assembleia Constituinte.

Assim sendo é necessário um processo de adaptação que pode ter várias formas.

• Transições ou mutações constitucionais: atualização da interpretação de uma norma constitucional,


sem que seja necessário proceder a revisões formais do texto.

- Estas modificações no entendimento das normas constitucionais decorrem de mutações na


realidade (ou cultura) constitucional.

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- Contudo, não podem ocorrer arbitrariamente, estas mutações devem sempre respeitar os
princípios jurídicos identificadores da Constituição nem o elencado normativo sequencial da
Constituição e que estabelece um conjunto de limites, mesmo nas normas de grande abertura.

Por exemplo:

Artigo 36º — CRP/76


(Família, Casamento e Filiação)

1. Todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade.

De acordo como Artigo 36º da CRP podemos interpretar que o direito ao casamento assiste tanto a casais
heterossexuais como a casais homossexuais. Contudo, até que o Tribunal Constitucional deliberou o contrário, fruto do
envolvimento social de então, não se considerava que este artigo estivesse a dar liberdade ao casamento entre pessoas
do mesmo sexo. Através de uma mutação constitucional, alterou-se a forma de interpretação deste artigo e tomou-se
novo rumo.

• Alterações ou revisões constitucionais: representam a alteração formal do texto constitucional e


exigem um conjunto de requisitos base explicitados na própria Constituição, seja para uma revisão
ordinária, seja para uma revisão extraordinária.

Todavia, podemos ainda falar de mais um caso de alteração à Constituição por força do envolvente social:

• Rutura Constitucional: nestes casos de drástico afastamento entre a Constituição e a realidade social,
por força de um conjunto de ações, torna-se necessária a elaboração de uma Constituição nova, de raiz.
Por exemplo, a Constituição da República Portuguesa de 1976, aquando o fim do Estado Novo, por
força de uma revolta militar.

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FORÇA JURÍDICA DA CONSTITUIÇÃO:


A Constituição, em parte pelo seu caráter normativo jurídico, mas também apoiada na tridimensionalidade
que a caracteriza é vista como uma forma de unidade, que integra no seu foro material, ao mesmo tempo, o
texto, os valores e a realidade que unem a sociedade que rege.

Tridimensionalidade Constitucional

• Texto Constitucional: sistema normativo aberto de preceitos e princípios constitucionais que


vão permitir ser a base da construção de todo o ordenamento jurídico vigente.

• Realidade Constitucional: dados de facto, sociológicos, etc., mas que se revelam e


influenciam o texto constitucional, ao nível da própria interpretação. As mutações
constitucionais estão assentes nesta realidade constitucional, o envolvimento social onde é
aplicada a Constituição.

• Cultura Constitucional: os valores que servem de base de sustentação a todo o conteúdo da


Constituição (dados valorativos e espirituais).

“Teoria da Constituição” de Manuel Afonso Vaz

O texto constitucional deve ser aberto, sendo o estatuto jurídico fundamental de uma comunidade política
dinâmica e em constante evolução e transformação, não pode correr o risco de ser ultrapassado pelas factos
e pelos valores constitucionais.

As normas jurídico-materiais não devem ser predominantemente estatutárias (fechadas), mas diretivas
(abertas).

O texto constitucional deve pois ter abertura suficiente porquanto só assim encontrará forma de refletir a
realidade constitucional e influenciá-la ao mesmo tempo que acompanha a evolução da própria sociedade.

O problema centra-se no peso especifico reconhecido a cada um dos diversos elementos constitucionais,
relevo jurídico dos valores, dos factos e do texto na composição das normas constitucionais.

Diz principalmente respeito às normas constitucionais jurídico-materiais relacionadas com o processo de


intervenção dos poderes públicos na vida económica e social à determinação dos “fins coletivos” e à
definição dos modelos jurídico-políticos-valorativos.

Foi a carência, nos textos constitucionais, de limites refletidos e reflexivos ao poder agora intervertido do
Estado que tornou os textos constitucionais inúteis perante o exercício totalitário ou autoritário do poder.

A concessão de tridimensionalidade constitucional engloba os valores e a realidade que caracterizam o


ambiente em que o texto vai ser interpretado e aplicado.

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TEXTO CONSTITUCIONAL:
É a partir do texto constitucional que se marca o ponto de partida para todo o ordenamento jurídico, e o
ponto de partida para a construção da constituição. Os limites das soluções constitucionais são encontrados
também no texto constitucional porque estes não podem ir além do próprio texto.

As normas da Constituição, contudo, têm um caráter muito especial, não são meras proclamações, e exigem
ser respeitadas com base no princípio da constitucionalidade.

Assim, estamos a falar de um sistema normativo aberto de preceitos e princípios.

Sistema normativo — sistema dinâmico de normas.

Aberto — capta a mudança da realidade.

Preceitos e princípios — normas-regra e normas-princípios.

Critérios de distinção entre preceitos e princípios:

Os princípios tratam-se de valores discutíveis, por outro lado, os preceitos representam uma regra clara.

• Grau de abstração: princípios > preceitos 

• Grau de determinabilidade na aplicação ao caso concreto: preceitos > princípios

• Grau de fundamentalidade no sistema das fontes de direito: princípios > preceitos 

• Grau de "proximidade" à ideia de direito: princípios > preceitos 

• Natureza normogenética (estão na génese, na base de formação, das normas) dos princípios: os
princípios são a ratio dos preceitos.

• Otimização ou ponderação versus exclusão ou imposição: os princípios coexistem, os preceitos


excluem-se mutuamente.

Uma Constituição baseada única e exclusivamente no âmbito dos princípios faltar-lhe-ia um certo sentido de
certeza e segurança. Por outro lado, se fosse composta apenas por preceitos e regras então esta não teria
qualquer abertura constitucional para se adaptar à realidade social.

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TIPOLOGIA DOS PRINCÍPIOS:

1. Princípios jurídicos fundamentais: tratam-se de limites jurídicos superiores do poder constituinte e que
asseguram a resistência do Direito.

Ex.: Estado de Direito, princípio democrático, dignidade da pessoa humana, etc.

2. Princípios estruturantes: são a estrutura base do sistema constitucional porque servem de identificação
a uma dada Constituição, tornam-na mais própria, e constituem, por isso, limites ao poder de esta ser
revista.

Ex.: Princípio republicano, separação dos poderes, forma unitária do Estado, etc.

3. Princípios-incumbências do Estado: princípios-fins da atuação do Estado, normalmente versados em


normas programáticas e que de dizem às missões a desempenhar pelo Estado.

Ex.: Artigos 9º, 81º, etc.

TIPOLOGIA DAS REGRAS:

• Regras jurídico-organizatórias:

- Orgânicas (de criação de orgãos);


- Competências (dos orgãos constitucionalmente criados);

- Procedimento (eleitoral, legislativo, de revisão…).

• Regras jurídico-materiais:

- Direitos Fundamentais (status dos cidadãos);


- Garantias Institucionais (proteção de instituições: família, ensino, autonomia local, … );
- Determinadoras de fins e tarefas do Estado (conforme os artigos 9º e 81º);
- Impositivas de legislação
- Imposições legiferantes (permanentes e concretas: artigos 63º, 64º, 74º);
- Ordens de legislar (únicas: 224º).

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TIPOLOGIA DE PERCEITOS:

Critério — determinabilidade de conteúdo (direitos, poderes, obrigações, orgãos).

Normas:

• Precetivas

Aproximam-se do “preceito” que as fundou, o ideal axiológico de base.


O conteúdo está determinado ou é determinável a partir da norma; são normas completas (claras,
precisas e incondicionadas).
São diretamente aplicáveis (Artigo 18º da CRP76).

Dois subtipos de normas precetivas:

- Exequíveis por si mesmas: por si mesmas possibilitam o exercício do direito que conferem
(ex: arts. 24.º, 25.º, etc);
- Não exequíveis por si mesmas: carecem do preenchimento de pressupostos externos de
exequibilidade, jurídicos ou materiais (ex: art. 49.º).

• Programáticas (não incluem a determinabilidade do conteúdo)

Aproxima-se do “princípio”, valorização axiológica e orientadora.


Necessitam de uma concretização legislativa do seu conteúdo (ex: arts. 64.º/2; 65.º/2, etc.), algo que
materializa o princípio. São normas legiferantes ou impositivas de legislação.
A sua aplicação é diferida, ou seja, não é feita de forma direta.
Apesar de serem vinculativas (por serem normas), não possuem justicibilidade plena, são sempre não
exequíveis por si mesmas.

Normas Precetivas Normas Programáticas

Regras/Preceitos Valores /Princípios

Conteúdo determinado Conceitos indeterminados

Destinatários: cidadãos, orgãos e titulares públicos Destinatário: legislador

Dever/poder vinculado de entidades públicas Dependentes de um juízo discricionário de possibilidade

Podem ser invocadas pelos cidadãos nos tribunais Não podem ser invocadas pelos cidadãos nos tribunais

Regras determinadoras de fins e tarefas do Estado,


Regras jurídico-organizatórias e DLG (Estado liberal)
imposições legiferantes DESC (Estado Social)

Ex: artigos 36º, 43º Ex: artigos 67º, 74º e 75º

Nuno Brochado Página 35 de 84

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PREÂMBULO CONSTITUCIONAL:

PREÂMBULO

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e
interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.
Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de
uma viragem histórica da sociedade portuguesa.
A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades,
os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país.
A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os
direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do
Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo
português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.
A Assembleia Constituinte, reunida na sessão plenária de 2 de Abril de 1976, aprova e decreta a seguinte Constituição
da República Portuguesa.

AUTORIA: Manuel Alegre

Texto não articulado, inalterado desde 1976, e que serve de base de justificação do poder constituinte que aí
se exerceu (comum nas Constituições de rutura, como foi a de 1976).

Além disso, a referência a “caminho para uma sociedade socialista” é também muito criticado porque se
acredito que já não representa verdadeiramente a realidade social atual.

Será que o Preâmbulo tem um valor jurídico ou terá apenas um valor de ordem histórica, política,
literária?

• Identidade (em termos jurídicos) entre o Preâmbulo e o texto, ou seja, eficácia idêntica à das regras
constitucionais (ex: Const. Francesa de 1958);

• Irrelevância jurídica (Manuel Afonso Vaz, Carlos Blanco de Morais, Catarina Santos Botelho): valor
histórico, literário;

• Posição intermédia (Jorge Miranda): preâmbulo tem valor de princípio.

O texto constitucional como ponto de partida das soluções constitucionais mas não chega: é preciso ter em
conta os factos e os valores constitucionais. Mais ainda serve como limite dessas soluções, salvo violação de
princípios jurídicos fundamentais ou obsolescência total.

Nuno Brochado Página 36 de 84

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NORMAS CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS:


Numa definição básica, normas constitucionais inconstitucionais representam a contradição entre normas
da Constituição e os princípios jurídicos fundamentais (limites superiores).

Normas constitucionais inconstitucionais

• Formalmente constitucionais;

• Materialmente inconstitucionais (violam princípios jurídico fundamentais)

- Consequência: invalidade jurídica.

Normas só formalmente constitucionais

• Formalmente constitucionais;

• Materialmente não constitucionais (violam apenas o princípio da essencialidade, que pugna pela
consagração constitucional somente daquilo que verdadeiramente identifica uma Constituição).

Opiniões da Doutrina:

• Afonso Queiró, Castanheira Neves, Manuel Afonso Vaz: concordam com existência de normas
constitucionais inconstitucionais; na versão atual da CRP, um possível exemplo: art. 292.º (viola os
princípios jurídicos nullum crimen sine lege e nulla poena sine lege);

• J. J. Gomes Canotilho: não aceita, pois implica o reconhecimento de um direito supra-positivo


vinculativo do próprio poder constituinte; problema de saber quem controla a conformidade da
Constituição com o direito supra-constitucional (violação do princípio da separação de poderes);

• Jorge Miranda: recusa a sua existência.

Nuno Brochado Página 37 de 84

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FUNÇÕES DO ESTADO

REPARTIÇÃO DAS FUNÇÕES DO ESTADO:

• POLÍTICA —  função primária, que toma precedência sobre as restantes; é da competência da função
política criar e desenvolver o ordenamento jurídico, à luz da Constituição, estabelecendo assim os limites
de ação do poder secundário (jurisdicional e administrativa).

- Legislativa   (161.º, 198.º, 228.º,CRP)


- Governativa   (133.º, 134.º, 135.º, 167.º, 162.º,   163.º, 197.º, 227.º/1, r) a x), CRP)

• JURISDICIONAL   (202.º/2, CRP)

• ADMINISTRATIVA (199.º, 266.º/1, CRP)

As funções jurisdicional e administrativa são funções secundárias, não em função da sua importância mas
porque estão subordinadas ao disposto pelo poder político no exercício deu poder legislativo.

FUNÇÃO POLÍTICA:
Trata-se da função primária de entre as funções do Estado e estabelece a definição inicial e global dos
interesses públicos, através da capacidade legislativa e governativa. Cabe à função política escolher os meios
a partir dos quais se tenciona atingir esses mesmos propósitos, através de decisões executivas e legislativas, a
par da Direção do Estado no seu sentido global.

Função Legislativa: atos normativos (atos legislativos nacionais)


- Comandos gerais e abstratos
- Destinatários: por regra, os cidadãos

Função Governativa: atos não normativos (nomeação do primeiro ministro ou a dissolução da AR)
- Não se dirigem, por regra, aos cidadãos

No âmbito da função política falamos de uma liberdade ou descricionariedade máxima, possuem liberdade
na determinação do conteúdo das suas decisões, momento e circunstâncias da prática dos atos. Contudo,
estão subordinados à Constituição, Direito Internacional e Direito da UE.

A função política é, essencialmente, da responsabilidade do Presidente da República, Assembleia da


República e Governo. Neste âmbito não se pode falar de uma hierarquia entre os orgãos do sistema de
governo porque, na realidade, apenas existem diferentes responsabilidades políticas.

Nuno Brochado Página 38 de 84

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FUNÇÃO ADMINISTRATIVA:
Satisfação quotidiana das necessidades coletivas definidas por lei – educação, saúde, defesa nacional, etc. As
Entidades da Administração Pública visam: criar os serviços públicos necessários e dotam-nos de meios
humanos e materiais para que forneçam os bens e prestem os serviços à população.

Nestes casos, fala-se do papel do Governo; autarquias locais, etc.

Adoção de atos por órgãos administrativos, normalmente inseridos num sistema hierárquico e que estão
vinculados à Constituição, nomeadamente nos Artigos 3º/3 e 266º/2, da CRP.

FUNÇÃO JURISDICIONAL:
Em análise ao conceito, a função jurisdicional assenta na capacidade de resolução de litígios entre pessoas
(privadas, públicas ou privadas e públicas), através da aplicação do Direito, e de modo a pacificar as relações
jurídicas.

Esta função é exercida pelos tribunais, orgãos independentes, conforme o Artigo 202º, sempre vinculados à
Constituição e, sobretudo, à lei (artigos 3º/3 e 203º da CRP). Eventualmente, estas decisões podem ser alvos
de recursos por parte dos tribunais.

DIFERENÇAS ENTRE A FUNÇÃO ADMINISTRATIVA E A FUNÇÃO JURISDICIONAL:

• Iniciativa (função administrativa toma ações na busca da resolução de problemas à luz da lei) /
Passividade (principio do pedido, os juízos decidem em função do que lhe é apresentado, não podem
tomar a iniciativa - jurisdicional)

• Imparcialidade (função jurisdicional) / Parcialidade (função administrativa que visa a prossecução dos
interesses público)

• Postura volitiva (administrativa, ação dinâmica) / Intelectiva (função jurisdicional)

• Postura retrospetiva (função jurisdicional que visa analisar as ações já consumadas) / Prospetiva
(função administrativa responsável pela defesa dos interesses públicos com vista ao futuro)

• Uso instrumental do Direito (função administrativa respeita o direito mas este não é o seu ponto
base) /  Garantia do Direito (garantem o direito através da sua efetiva vigência)

• Cumprimento de normas jurídicas (função jurisdicional) / Prossecução do interesse público (função


administrativa)

• Hierarquia ascendente e descendente (função administrativa) / Hierarquia ascendente (artigo 203º


garante a independência dos magistrados no cumprimento das suas funções, função jurisdicional)

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PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES:

Artigo 16º
Declaração dos Direitos do Homem, 1789

A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem
Constituição.

Princípio da separação dos poderes — dimensão negativa:


Objetivo: evitar a concentração de poderes numa só pessoa e o seu abuso.

• Proibição da ocupação de vários orgãos de poder pela mesma pessoa;


• Divisão clássica dos poderes — tríade (política, administrativa e jurídica);
• “Checks and balances” — freios e contrapesos;

Princípio da separação dos poderes — dimensão positiva:


Vantagem: distribuição de funções organicamente adequada.

• A estrutura e o procedimento dos orgãos estatais são conformados às tarefas a desempenhar.


• Ex: Parlamento/Tribunal (funções legislativas/judiciais)

A separação e interdependência dos poderes está prevista no artigo 111º, da CRP:

Artigo 111º
(Separação e interdependência)

Os órgãos de soberania devem observar a separação e a interdependência estabelecidas na Constituição.

Nenhum órgão de soberania, de região autónoma ou de poder local pode delegar os seus poderes noutros órgãos, a não
ser nos casos e nos termos expressamente previstos na Constituição e na lei.

Nuno Brochado Página 40 de 84

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DISTRIBUIÇÃO DE FUNÇÕES:
No sistema constitucional português, as funções não estão separadas por órgãos diferentes:

• Função Legislativa — Assembleia da República, Governo e Assembleias Legislativas Regionais;

• Função Governativa — Presidente da República, Assembleia da República e Governo;

• Função Administrativa — Governo, governos regionais e outras entidades administrativas;

• Função Jurisdicional — tribunais.

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ESTRUTURAS ORGANIZATÓRIAS DO ESTADO

TRAÇOS DO REGIME PARLAMENTAR:

Autonomia do Governo
Uma das características que permite a descrição entre o regime presidencial e o regime misto, como é o caso
do português, é a capacidade autónoma de que está dotado o Governo em relação ao exercício das suas
funções. Em muitos exemplos podemos constatar as capacidades que possui o Governo para exercer
autonomamente a função de administração geral e num nível hierárquico superior.

Este trata-se de um orgão político de soberania com poder de autonomia: artigos 110º/1 e 182º.

Artigo 110º
(Órgãos de soberania)

4. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.

Artigo 182.º
(Definição)

O Governo é o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da administração pública.

Responsabilidade Ministerial
O Governo, contudo, não está livre de dar respostas políticas aos restantes membros do poder político,
nomeadamente aos restantes deputados através da Assembleia da República. Isso faz-se através do poder da
Assembleia da República: artigos 190º e 191º.

• Apreciação do Programa de Governo — artigo 192º;


Sem que seja consumada a apreciação do Governo, este não pode entrar em funções, mantendo-se
apenas em gestão. Igualmente acontece no caso da sua não aprovação.

• Moção de Confiança — artigo 193º;


No caso de o Governo se se sentir fragilizado ou, mediante casos peculiares, achar que deve
requerer uma nova confirmação para legitimar as suas ações então pode requer uma moção de
confiança que, em caso de não aprovação, consiste em motivo para demissão do Governo.

• Moção de Censura — artigo 194º.


A moção de censura, apresentada pelos deputados, visa provocar exatamente os efeitos contrários
ao explicado no ponto anterior e, caso seja aprovada, também dá origem à demissão do Governo.

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Artigo 190º
(Responsabilidade do Governo)

O Governo é responsável perante o Presidente da República e a Assembleia da República.

Artigo 191º
(Responsabilidade dos membros do governo)

1. O Primeiro-Ministro é responsável perante o Presidente da República e, no âmbito da responsabilidade política do


Governo, perante a Assembleia da República.

2. Os Vice-Primeiros-Ministros e os Ministros são responsáveis perante o Primeiro-Ministro e, no âmbito da


responsabilidade política do Governo, perante a Assembleia da República.

3. Os Secretários e Subsecretários de Estado são responsáveis perante o Primeiro-Ministro e o respectivo Ministro.

Artigo 192.º
(Apreciação do programa do Governo)

1. O programa do Governo é submetido à apreciação da Assembleia da República, através de uma declaração do


Primeiro-Ministro, no prazo máximo de dez dias após a sua nomeação.

2. Se a Assembleia da República não se encontrar em funcionamento efectivo, será obrigatoriamente convocada para
o efeito pelo seu Presidente.

3. O debate não pode exceder três dias e até ao seu encerramento pode qualquer grupo parlamentar propor a rejeição
do programa ou o Governo solicitar a aprovação de um voto de confiança.

4. A rejeição do programa do Governo exige maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.

Artigo 193º
(Solicitação de voto de confiança)

O Governo pode solicitar à Assembleia da República a aprovação de um voto de confiança sobre uma declaração de
política geral ou sobre qualquer assunto relevante de interesse nacional.

Artigo 194º
(Moção de censura)

1. A Assembleia da República pode votar moções de censura ao Governo sobre a execução do seu programa ou
assunto relevante de interesse nacional, por iniciativa de um quarto dos Deputados em efectividade de funções ou
de qualquer grupo parlamentar.

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2. As moções de censura só podem ser apreciadas quarenta e oito horas após a sua apresentação, em debate de
duração não superior a três dias.

3. Se a moção de censura não for aprovada, os seus signatários não podem apresentar outra durante a mesma sessão
legislativa.

Referenda Ministerial
“Na actual Constituição - escreve Gomes Canotilho -, a avaliar pelos actos carecedores de referenda (nomeação e
exoneração dos membros do Governo, dissolução e suspensão dos órgãos das Regiões Autónomas, nomeação e
exoneração do Presidente do Tribunal de Contas, Procurador da República (...) e representantes do Estado nas Regiões
Autónomas, actos de promulgação e assinatura de leis, decretos regulamentares ou decretos, declaração de guerra, e
efectivação da paz), a referenda é uma expressão formal da corresponsabilidade do Governo em relação a actos
presidenciais que, directa ou indirectamente, implicam colaboração política do Governo.”

Artigo 140.º
(Referenda ministerial)

1. Carecem de referenda do Governo os actos do Presidente da República praticados ao abrigo das alíneas h), j), l),
m) e p) do artigo 133.º, das alíneas b), d) e f) do artigo 134.º e das alíneas a), b) e c) do artigo 135.º.

2. A falta de referenda determina a inexistência jurídica do acto.

TRAÇOS DO REGIME PRESIDENCIAL:

Eleição direta do Presidente da República

Artigo 121.º
(Eleição)

1. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal, directo e secreto dos cidadãos portugueses eleitores
recenseados no território nacional, bem como dos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro nos termos do
número seguinte.

2. A lei regula o exercício do direito de voto dos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro, devendo ter em conta
a existência de laços de efectiva ligação à comunidade nacional.

3. O direito de voto no território nacional é exercido presencialmente.

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Veto Político
Direito do veto político dos atos legislativos por parte do PR, ou seja, a não promulgação do diploma
apresentado pelo Governo ou Assembleia da República.

O veto politico exercido sobre decretos-lei do Governo não pode ser revertido, contudo, o Governo, quando
apoiado por uma maioria parlamentar, pode proceder à concretização de uma proposta de lei - com
exactamente o mesmo conteúdo - à AR que, sendo aprovada, receberá todos os estatutos que a uma lei
cabem, não só no âmbito da promulgação como para enfrentar um veto politico.

Artigo 136.º
(Promulgação e veto)

1. No prazo de vinte dias contados da recepção de qualquer decreto da Assembleia da República para ser promulgado
como lei, ou da publicação da decisão do Tribunal Constitucional que não se pronuncie pela inconstitucionalidade
de norma dele constante, deve o Presidente da República promulgá-lo ou exercer o direito de veto, solicitando nova
apreciação do diploma em mensagem fundamentada.

2. Se a Assembleia da República confirmar o voto por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, o
Presidente da República deverá promulgar o diploma no prazo de oito dias a contar da sua recepção.

3. Será, porém, exigida a maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos
Deputados em efectividade de funções, para a confirmação dos decretos que revistam a forma de lei orgânica, bem
como dos que respeitem às seguintes matérias:

a) Relações externas;

b) Limites entre o sector público, o sector privado e o sector cooperativo e social de propriedade dos meios de
produção;

c) Regulamentação dos actos eleitorais previstos na Constituição, que não revista a forma de lei orgânica.

4. No prazo de quarenta dias contados da recepção de qualquer decreto do Governo para ser promulgado, ou da
publicação da decisão do Tribunal Constitucional que não se pronuncie pela inconstitucionalidade de norma dele
constante, deve o Presidente da República promulgá-lo ou exercer o direito de veto, comunicando por escrito ao
Governo o sentido do veto.

5. O Presidente da República exerce ainda o direito de veto nos termos dos artigos 278.º e 279.º.

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Poderes de Direção Política


Existência de poderes de direção política do Presidente da República (indirizzo política): artigo 133º, al. d).

Artigo 133.º
(Competência quanto a outros órgãos)

Compete ao Presidente da República, relativamente a outros órgãos:

d) Dirigir mensagens à Assembleia da República e às Assembleias Legislativas das regiões autónomas;

TRAÇOS DO PARLAMENTO RACIONALIDADO:

Dupla responsabilidade do Governo (artigos 190º e 191º)

Artigo 190º
(Responsabilidade do Governo)

O Governo é responsável perante o Presidente da República e a Assembleia da República.

Artigo 191º
(Responsabilidade dos membros do governo)

1. O Primeiro-Ministro é responsável perante o Presidente da República e, no âmbito da responsabilidade


política do Governo, perante a Assembleia da República.

2. Os Vice-Primeiros-Ministros e os Ministros são responsáveis perante o Primeiro-Ministro e, no âmbito da


responsabilidade política do Governo, perante a Assembleia da República.

3. Os Secretários e Subsecretários de Estado são responsáveis perante o Primeiro-Ministro e o respectivo Ministro.

Dissolução da Assembleia da República pelo Presidente da República (artigos 133º e 172º)

A dissolução da Assembleia da República está associada a um conjunto de exigências estabelecidas mediante


o exercício de funções do PR, bem como da AR. Além disso o primeiro é sempre obrigado a consultar o
Conselho de Estado para tomar tal decisão.

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Artigo 133.º
(Competência quanto a outros órgãos)

Compete ao Presidente da República, relativamente a outros órgãos:

a) Presidir ao Conselho de Estado;

b) Marcar, de harmonia com a lei eleitoral, o dia das eleições do Presidente da República, dos Deputados
à Assembleia da República, dos Deputados ao Parlamento Europeu e dos deputados às Assembleias
Legislativas das regiões autónomas;

c) Convocar extraordinariamente a Assembleia da República;

d) Dirigir mensagens à Assembleia da República e às Assembleias Legislativas das regiões autónomas;

e) Dissolver a Assembleia da República, observado o disposto no artigo 172.º, ouvidos os partidos nela
representados e o Conselho de Estado;

f) Nomear o Primeiro-Ministro, nos termos do n.º 1 do artigo 187.º;

g) Demitir o Governo, nos termos do n.º 2 do artigo 195.º, e exonerar o Primeiro- Ministro, nos
termos do n.º 4 do artigo 186.º;

h) Nomear e exonerar os membros do Governo, sob proposta do Primeiro-Ministro;

i) Presidir ao Conselho de Ministros, quando o Primeiro-Ministro lho solicitar;

j) Dissolver as Assembleias Legislativas das regiões autónomas, ouvidos o Conselho de Estado e os


partidos nelas representados, observado o disposto no artigo 172.º, com as necessárias adaptações;

l) Nomear e exonerar, ouvido o Governo, os Representantes da República para as regiões autónomas;

m) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o presidente do Tribunal de Contas e o Procurador-


Geral da República;

n) Nomear cinco membros do Conselho de Estado e dois vogais do Conselho Superior da Magistratura;

o) Presidir ao Conselho Superior de Defesa Nacional;

p) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças


Armadas, o Vice-Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, quando exista, e os Chefes de
Estado-Maior dos três ramos das Forças Armadas, ouvido, nestes dois últimos casos, o Chefe do
Estado-Maior-General das Forças Armadas.

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Artigo 172.º
(Dissolução)

1. A Assembleia da República não pode ser dissolvida nos seis meses posteriores à sua eleição, no último semestre
do mandato do Presidente da República ou durante a vigência do estado de sítio ou do estado de emergência.

2. A inobservância do disposto no número anterior determina a inexistência jurídica do decreto de dissolução.

3. A dissolução da Assembleia não prejudica a subsistência do mandato dos Deputados, nem da competência da
Comissão Permanente, até à primeira reunião da Assembleia após as subsequentes eleições.

SEPARAÇÃO FUNCIONAL E INTERDEPÊNCIA INSTITUCIONAL:


A ideia fundamental da CRP é assegurar uma separação funcional (princípio da separação de poderes;
repartição horizontal):

Governo: governa o país;


Assembleia da República: orgão legislativo por excelência;
Presidente da República: representa o Estado.

São funções autónomas, que convivem com a interdependência institucional.


(ex: o Governo nasce da iniciativa do PR e da confiança da AR; a AR pode ser dissolvida pelo PR).

RELAÇÃO ENTRE O PRIMEIRO-MINISTRO E O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:


Nestes casos falamos de uma interdependência institucional onde podemos encontrar autonomia
governamental. O Presidente da República tem funções concretas em relação ao Primeiro_ministro e ao seu
Governo, tendo o poder:

Inicial de nomeação do Governo (artigos 133º e 187º).


Final através da sua faculdade de demissão do Governo e de exoneração do Primeiro Ministro
(artigos 133º, 186º e 195º).

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Possíveis causas de demissão do Governo pelo Presidente da República:

• Não apresentação do programa de Governo à AR, no prazo de 10 dias após a sua nomeação (art. 192.º/
1);

• Recusa de referenda de atos do PR, quando devida (art. 140.º);

• Recusa reiterada de respostas às perguntas e pedidos de informação dos deputados (art. 156, al. d) e e));

• A não prestação reiterada de informação ao PR sobre assuntos respeitantes à condução da política geral
do país (art. 201,º/1, al. c));

• Efetivação de responsabilidade criminal do PR ou de um número significativo de Ministros (art. 196.º).

RELAÇÃO ENTRE A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA E O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:


O Presidente não é inteiramente livre ao nomear o Governo, pois tem de:
- Atender aos resultados eleitorais saídos das eleições legislativas
- Ouvir os partidos representados na AR, conforme o artigo 187º, alínea 1.

Tem, por outro lado, um arma poderosa em relação à Assembleia da República, o poder de veto em relação
aos atos legislativos que esta emana, conforme o previsto no artigo 136º, alínea 1.

Para dissolver a AR, conforme o previsto nos artigos 133º e 172º, tem de se verificar, pelo menos, uma das
seguintes situações:

1. Necessidade de resolução de uma crise política no interior da AR, por desagregação da maioria ou
incapacidade de gerar maioria estável;

2. Efetivação de responsabilidade política (apesar de haver maioria, o PR não lhe reconhece


sustentabilidade.

Garantias contra o abuso do poder

• Com o decreto de dissolução da AR, têm de ser marcar novas eleições, nos 60 dias seguintes (art. 113.º/
6);

• PR não pode dissolver AR nos 6 meses posteriores à sua eleição (art. 172.º/1, 1.ª parte);

• PR não pode dissolver AR nos últimos 6 meses do seu mandato (art. 172.º/1, 1.ª parte);

• Proibição de dissolução na vigência do estado de sítio ou de emergência (arts. 19.º e 172.º/1, 1.ª parte).

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Qualquer forma de violação de um destes preceitos dá lugar a uma inexistência jurídica do decreto emitido
(artigos 113º/6 e 172º/3).

RELAÇÃO ENTRE A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA E O GOVERNO:


Entre os orgãos que constituem o poder politico existe uma relação de confiança, fiducia, ainda que esta não
seja tão forte como nos casos do regime parlamentar puro.

Há três grandes formas de destacar esta relação:

Apreciação do programa do Governo (artigo 192º): basta que não seja rejeitado. Na hipótese de
moção de rejeição do programa, exige-se maioria absoluta (art. 192.º/4).

Moção de confiança, de iniciativa governamental (art. 193.º): basta-se com uma maioria relativa
(arts. 116.º/3 e 195.º/1, al. e)).

Moção de censura (art. 194.º): instrumento mais forte que a oposição pode utilizar para derrubar o
Governo, contudo, exige que se reuna uma maioria absoluta (art. 195º).
O sistema de relações, conforme podemos constatar, está construído com o propósito de salvaguardar a
estabilidade política, garantindo que não é fácil concluir o processo de destituição do governo.

NOTA:
A demissão do Governo não leva - automaticamente - à demissão da Assembleia da República:

Desde que, obviamente, continue intacta a maioria parlamentar, a AR tem condições para continuar a
funcionar.

Por outro lado, a dissolução da AR implica sempre a demissão do Governo, porque haverá uma nova
legislatura: art. 195.º/1, al. a).

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FORMAS DE GOVERNO:
Estruturas organizatórias, forma como os poderes disciplinados na Constituição se exercem e se interligam
ao nível do poder político.

Consagra-se assim o princípio da separação e interdependência dos poderes, de acordo com o Artigo 111º.

O sistema misto parlamentar - presidencial e consagram-se formas de controlo:

• Primário ou subjetivo — sobre os órgãos do Estado;


O Presidente dissolve a Assembleia da República.

• Secundário ou objetivo — sobre atos desses órgãos.


O Presidente veta uma lei da Assembleia da República.

ESTRUTURA E FUNÇÕES DOS ORGÃOS DE SOBERANIA:


Orgãos de soberania são orgãos criados pela Constituição, que exercem o poder soberano em nome do titular
da soberania (artigo 108º) e cujo estatuto está contido na CRP (artigo 110º).

São orgãos de soberania: o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
(Artigos 120º a 140º)

O Presidente da República assume o lugar de Chefe de Estado, e a sua função é legitimada por um sufrágio
direto, universal e secreto, de cariz unipessoal (artigo 113º e 121º).

Para apresentar uma candidatura a este orgão, o cidadão português deve ter mais de 35 anos e reunir uma
maioria absoluta dos votos, podendo por isso chegar a 2 voltas.

Este mandato é de apenas 5 anos, limitado a dois mandatos consecutivos.

O Presidente da República está dotado de certos poderes próprios:

• Dissolução da Assembleia da República (artigo 133º e 172º);

• Nomeação do Primeiro Ministro (artigo 133º e 187º);

• Demissão do Governo (artigo 133º e 195º).

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E poderes partilhados:

• Revelados pela referenda ministerial (artigo 140º e 197º).

Poderes de exteriorização política — mensagens ao país.

Poderes de Direção Política

• Poderes Próprios — já referidos e artigo 134º;

• Dissolução dos orgãos das regiões — artigo 133º;

• Declaração do Estado de sítio ou emergência — artigos 134º e 138º;

• Promulgação ou assinatura — artigo 134º;

• Falta de promulgação ou assinatura do PR ou de referenda ministerial: inexistência jurídica


(artigo 137º e 140º).

Poderes de Controlo: VETO

Artigos 136º/1 - Leis da Assembleia da República

PR pode fazer uma de 3 coisas:

1. Promulgar (20 dias);

2. Vetar politicamente (20 dias): discordância política → o veto é suspensivo (art. 136.º/2), pois a AR
pode superar o veto e, neste caso, o PR é obrigado a promulgar a lei;

3. Dúvidas quanto à constitucionalidade da lei (8 dias) para a enviar para o TC (arts. 136.º/5, 278.º e
279.º).

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A. Duas hipóteses:

→ Se o TC não se pronuncia pela inconstitucionalidade: o PR tem 20 dias para promulgar ou


vetar politicamente;

→ Se o TC se pronuncia pela inconstitucionalidade: PR obrigado a vetar por


inconstitucionalidade (art. 279.º/1) … art. 279.º/2.

Artigo 136º/4 - Decretos-leis do Governo

Prazo para ação é mais alargado devido à complexidade dos diplomas

PR pode fazer uma de 3 coisas:

1. Promulgar (40 dias);

2. Vetar politicamente (40 dias): o veto é absoluto/definitivo. Como poderá então o Governo contornar o
veto? Pode apresentar uma proposta legislativa de idêntico conteúdo, que passará, se tiver maioria no
Parlamento: art. 197.º/1, al. d) + arts. 136.º/1 e 2.

3. Dúvidas quanto à constitucionalidade da lei (8 dias) para a enviar para o TC (arts. 136.º/5, 278.º e
279.º).

A. Duas hipóteses:

→ Se o TC não se pronuncia pela inconstitucionalidade: o PR tem 20 dias para promulgar ou


vetar politicamente;

→ Se o TC se pronuncia pela inconstitucionalidade: PR obrigado a vetar por


inconstitucionalidade (art. 279.º/1) … art. 279.º/2.

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ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA:
(Artigos 147º a 181º)

Escolhida através de eleições legislativas, na forma de sufrágio direto, universal e secreto (art. 113.º/1),
relativamente a listas partidárias (arts. 114.º/1 e 151.º/1).

Maioria relativa ou simples quando um partido em causa obteve a maioria dos deputados por comparação
com cada um dos outros partidos considerados individualmente.

Maioria absoluta quando um partido atingiu metade mais um da totalidade dos deputados.

Possuí entre 180 a 230 deputados e apenas podem ser considerados eleitores os cidadãos portugueses.

Cada deputado é responsável por representar todo o país e não a região a partir da qual foi eleita (artigo
152º).

Este é um orgão:

• Autónomo (art. 175.º);

• Permanente:

- Mas: legislaturas separadas material e pessoalmente – 171.º/1: 4 sessões legislativas;


- Sessões legislativas: 1 ano, mas 15/9 a 15/6 (art. 174.º);
- Dissolução pelo PR – arts. 133.º/e) e 172.º

• Colegial;

• Unicameral;

• Plenário, Presidente da AR, Mesa da AR, Comissões parlamentares.

• Função legislativa

- Órgão legislativo primário – pode aprovar leis em todas as matérias - 161.º/c)


- Reservas legislativas – arts. 164.º e 165.º

• Função de controlo (do Governo)

- Perguntas, interpelações,   inquéritos (comissões de inquérito), exame de petições, moções de


censura

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• Outras funções:

- Função de fiscalização (outros órgãos)


- Função autorizante (empréstimos, guerra…)
- Função de representação
- Função europeia
- Função eletiva e de criação de órgãos

GOVERNO:
(Artigos 182º a 201º)

• Órgão de condução da política geral do país e órgão superior da Administração Pública;

• Constituído pelo Primeiro-ministro, Vice PM, Ministros, Secretários de Estado e Subsecretários de


Estado (art. 183.º);

• Três órgãos essenciais:


- PM
- Conselho de Ministros
- Ministros

• Poder de auto-organização (art. 198.º/2).

• Primeiro-ministro
- Primus inter (ou super) pares
- Responsável perante o PR e perante a AR (art. 191.º/1)
- Competências – art. 201.º/1

• Conselho de Ministros
- PM + Vice PM+ Ministros (não inclui Secretários de Estado) – art. 184.º
- Competências (art. 200.º): aprova os decretos-leis

• Ministros
- Nomeados pelo PR sob proposta do PM (arts. 133.º, h) e 187.º/2 )
- Responsáveis perante o PM (191.º/2)
- Respondem perante a AR
- Competências (art. 201.º/2)

• Governo é duplamente responsável – art. 190.º

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Início de funções:

Nomeação:
• PM é nomeado pelo PR ouvidos os partidos e tendo em conta os resultados eleitorais (art. 187.º/
1)
• Ministros: pelo PR por proposta do PM (art. 187.º/2)
• Governo de gestão (art. 186.º/5) ≠ Governo em plenitude de funções (só acontece com a
apresentação do programa de Governo)

Investidura parlamentar (tácita):


• Apresentação do programa de Governo (art. 188.º) perante a AR (art. 192.º/1)
• Art. 192.º/3: qualquer grupo parlamentar pode propor a rejeição do programa – maioria absoluta
(arts. 192.º/4) + 195.º/d)

Demissão (artigo 195º):

Moção de censura (art. 194.º)


• Apresentada por um grupo parlamentar (art. 180.º/2, i)) ou ¼ dos deputados (art. 194.º/1)
• Votada em plenário da AR e aprovada por maioria absoluta (arts. 163.º/e) e 195.º/1, f))

Moção de confiança (art. 193.º)


• Solicitada pelo Governo
• Não aprovação – basta maioria simples contra (art. 116.º/3)

Demissão pelo PR (art. 195.º/2) apenas quando


• “necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas”

Funções:

Políticas: art. 197.º


• Referenda ministerial
• Negociação de convenções internacionais
• Aprovação de alguns acordos internacionais, etc.

Legislativas: art. 198.º (remissão)

Administrativas: art. 199.º


• Execução do Orçamento de Estado
• Regulamentos
• Direção da Administração Direta do Estado
• Superintendência e tutela da Administração Indireta
• Tutela da Administração Autónoma, etc.

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TRIBUNAL CONSTITUCIONAL:
(Artigos 221º a 224º)

• Função jurisdicional ou política

• Competências (art. 223.º)

• Guardião da Constituição

• Composição:
- 10 juízes eleitos pela AR, por 2/3 dos deputados (legitimidade democrática)
- 3 juízes cooptados

• Mandato: 9 anos não renováveis

OUTROS ORGÃOS DO ESTADO:

Ministério Público — artigos 219º a 220º

• Autonomia e independência;
• Colabora no exercício da função jurisdicional através do exercício da ação penal e da defesa da
legalidade.

Conselho de Estado — artigo 141º e 145º

• Órgão de consulta do PR – art. 141.º;


• Emana pareceres que, nalgumas matérias, são obrigatórios (mas não vinculativos) – art. 145.º.

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ESTRUTURAS NORMATIVAS

CONSTITUIÇÃO COMO NORMA NORMARUM:

A Constituição:

1. Identifica as fontes de Direito positivo;

2. Estabelece os critérios de validade e eficácia das fontes;

3. Determina a competência dos orgãos criadores do direito positivo.

1. Identifica as fontes de Direito Positivo

• Art. 8.º - Direito Internacional e Direito da UE

• Art. 56.º/4 - Convenções coletivas de trabalho

• Art. 112.º - Atos normativos

• Art. 115.º - Referendo

• Arts. 161.º, 164.º e 165.º - Leis da Assembleia da República

• Art. 198.º - Decretos-leis do Governo

• Art. 199º/c) -  Regulamentos do Governo

• Art. 227.º - Atos normativos das Regiões Autónomas

• Art. 241.º - Regulamentos das autarquias locais

2. Estabelece os critérios de validade e eficácia das fontes

Art. 3.º/3: princípio da constitucionalidade (a validade dos atos jurídico-públicos depende da sua
conformidade com a CRP).

Art. 112.º: Artigo central da CRP, que disciplina a relação entre os atos normativos; contém um elenco não
exaustivo de atos normativos.

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3. Determina a competência dos orgãos criadores do direito positivo

• AR (competência legislativa): 161.º, 164.º e 165.º

• Governo (competência legislativa): 198.º

• Governo (competência regulamentar): 199º, al. c)

• Regiões Autónomas (competência legislativa e regulamentar): 227.º

• Autarquias locais (competência regulamentar): 241.º

PLURALISMO E PLURIMODALISMO LEGISLATIVO:

Pluralismo legislativo: normas de igual escalão normativo (atos com valor de lei), mas que a CRP
diferencia a partir do órgão de onde provêm → ex: AR emana leis, Governo decretos-leis (art. 112.º/1).

Plurimodalismo legislativo: normas de igual escalão normativo (atos com valor de lei), mas que a CRP
diferencia a partir da matéria que tratam → a AR emana tanto leis constitucionais como leis orgânicas, leis
com valor reforçado, leis de bases, etc…

PRINCÍPIOS ORDENADORES DAS RELAÇÕES ENTRE AS FONTES DO DIREITO:

1. Princípio da hierarquia: arts. 3.º/3; 112.º/ 6 e 7 → daqui decorrer o princípio básico sobre a produção
jurídica (art. 112.º/6 da CRP) – nenhuma fonte pode criar outras fontes com eficácia superior ou igual à
sua; só fontes de valor inferior.

2. Princípio da competência legislativa horizontal: paridade entre lei = Decreto Lei = Decreto
Legislativo Regional (art. 112.º/ 1 e 2).

3. Princípio da competência normativa vertical: Estado-central, Regiões Autónomas, autarquias locais,


EU, comunidade internacional.

4. Princípio da reserva de lei e o princípio da primazia ou primado da lei (Estado de Direito; Estado da
legalidade).

Conceito de lei é polissémico:


• Qualquer norma do ordenamento jurídico (sentido lato)
• Ato legislativo (lei, DL, DLR)
• Lei ou DL
• Ato legislativo da AR (sentido estritamente formal de lei)

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Significado expressões “força de lei”/ “valor de lei”:


• Lei é o ato normativo mais forte, logo a seguir à CRP
• Força ativa (inovadora)
• Força passiva (resistência à revogação por outras normas que não sejam atos legislativos)

DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA NA CRP:

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA AR:

Leis constitucionais (arts. 161.º/a); 166.º/1; 284.º a 289.º): leis de revisão constitucional.

Leis orgânicas (arts. 166.º/2): matérias de elevado grau de sensibilidade política, por isso:

• Aprovadas por maioria absoluta (art. 168.º/5);

• Veto do PR só é superado por 2/3 Deputados (art. 136.º/3);

• Além do PR, também o PM ou 1/5 Deputados podem solicitar a sua fiscalização preventiva (art. 278.º/
4).

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Leis estatutárias (arts. 161.º/b) e 226.º): Estado Unitário, mas com Regiões com autonomia política.

Leis com valor reforçado: têm valor superior ao das outras leis; se forem violadas → fiscalização judicial
da legalidade (arts. 280.º/2, al. a) e 281.º/1, al. b).

Quais as leis com valor reforçado? (art. 112.º/3)


- Leis orgânicas;
- Leis que carecem de aprovação por maioria 2/3 (art. 168.º/6);
- Leis que são o pressuposto normativo necessário de outras leis (leis de bases, LAL, leis-
quadro);
- Leis que devam ser respeitadas por outras leis (leis estatutárias, leis de enquadramento: arts.
106.º/1 e 229.º/3).

Leis quadro e leis de enquadramento: dirigem-se a uma matéria concreta, já em parte regulada pela
Constituição.
- Lei de enquadramento = lei do orçamento (art. 106.º/1)
- Lei-quadro = reprivatização das empresas nacionalizadas (art. 293.º/1)

Leis de autorização (LAL) e leis de bases (LB): dois tipos de leis através das quais a AR transfere a sua
competência legislativa para o Governo.

LEIS DE AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA:


“O instituto da autorização legislativa veio atender a uma necessidade (…) de o órgão legislativo poder
aliviar o encargo da exclusividade legislativa sem colocar em causa o monopólio legislativo que lhe
assistia” (p. 64)

Leis da AR que autorizam o Governo (165.º e 198.º) ou uma ALRA (227.º/1, b), e 2-4, e 165.º) a legislar
em matérias de reserva relativa da AR.

Diferente do art. 111.º/2 – proíbe delegação de competências dos órgãos de soberania.

O Governo (ou a ALRA) é que tem de pedir à AR uma Lei de Autorização Legislativa (197.º/1, d) e 227.º/1,
f) e 2):

• 227.º/2: anteprojecto do decreto legislativo regional autorizado

As LAL não são “cheques em branco”, limitam a actuação legislativa dos órgãos autorizados, estipulando os
termos da inovação legislativa a ser introduzida.

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LIMITES DE AUTORIZAÇÕES:

Limites materiais: a LAL fixa o objeto, o sentido e a extensão da autorização (165.º/2 e 227.º/2).

• Objeto: a matéria sobre que vai incidir a autorização (alínea ou parte da al. do art. 165.º)

• Sentido: qual a orientação que a legislação deve seguir (ex: aumentar ou diminuir os impostos)´

• Extensão: limite ao sentido da legislação (ex: aumento de impostos só até 3%)

Limite temporal: a autorização terá de ser executada num determinado prazo; a duração da autorização é
fixada na LAL.

• Mas a que momento se refere o prazo? Por exemplo, 3 anos até à aprovação? Ao envio para
promulgação? À promulgação? À referenda? À publicação?

• Momento relevante (TC): aprovação do decreto-lei (pelo Conselho de Ministros) ou do decreto


legislativo regional autorizado (pela ALR)

CESSAÇÃO DE AUTORIZAÇÕES:

1. Esgotamento do prazo (165º/2 e 227º/2)

• Mas: autorizações contidas na lei o orçamento só caducam no termo do ano económico (artigo
165º/5).

2. Utilização pelo orgão autorizado: princípio da irrepetibilidade (artigo 165º/3 e 227º/2)

• Mas: possibilidade da utilização parcelar.

3. Revogação da LAL pela AR

• Expressa — por emissão de uma revogação explicita da LAL;


• Tácita — quando a Assembleia da República legisla sobre o tema em questão.

4. Caducidade (165º/4 e 227º/3)

• Demissão do Governo (ou dissolução da ALR);


• Termo da Legislatura;
• Dissolução da AR.

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VÍCIOS DOS ATOS LEGISLATIVIOS AUTORIZADOS:

Excesso de autorização — violação de limites materiais (sentido e extensão) da LAL: ilegalidade (arts.
112.º/2; 280.º/2 e 281.º/1, al. b)).

Defeito de autorização (inconstitucionalidade):

• Violação dos limites temporais

• Violação do objecto da autorização

• Falta de menção expressa da LAL (198.º/3 e 227.º/4)

Inconstitucionalidade consequencial (ou sucessiva):

• Se a LAL não fixa os limites previstos no art. 165.º/2, é inconstitucional (ex: LAL que tenha por objeto
a matéria de reserva absoluta da AR);

• Consequentemente, também o são o DLA ou DLR autorizado.

Se LAL inconst. → DLA inconstit. consequente

Se LAL não inconstitucional → mas o DLA não observa:

• Objeto/duração: inconstitucionalidade direta/orgânica/por incompetência (é como se não houvesse


autorização);

• Sentido/extensão: grande parte doutrina entende que há aqui uma ilegalidade (violação da LAL)

LEIS DE BASES:
Consagram as bases gerais de um regime jurídico, deixando o seu desenvolvimento
ao Governo ou às ALRA.

      Matérias reservadas à AR (164.º e 165.º):


A: regulamentação legislativa total
B: regimes gerais (164.º/r) e 165.º/1, d), e) e h)) ≠ regimes especiais
C: bases de um regime jurídico (164.º/d) e i) e 165.º/1, f), g), n), t), u)
D: sentido e extensão da LAL (165.º/2)

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Quando a Constituição limita a reserva da AR às bases de um regime jurídico, pretende permitir ao Governo
(ou às ALRA) desenvolver essas bases, depois de as mesmas terem sido fixadas pela AR, mas não limita a
AR, que também pode desenvolver as bases.

Art. 112.º/2: LB > DLD

2 hipóteses:

• Apenas matérias reservadas à AR (164º a 165º).


• Também em matérias de competência concorrente:
- Sempre;
- Apenas desde que o Governo não revogue a lei de bases através de um decreto-lei de bases.

SEMELHANÇAS ENTRE AS LEIS DE BASES E AS LEIS DE AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA:

• Não esgotam a regulamentação da matérias em causa, deixando o restante para o Governo;

• Limitam essa atuação do Governo;

• Ambas são  leis com valor reforçado (art. 112.º/3);

• Ambas têm valor paramétrico (quando a lei é um pressuposto normativo necessário de outra lei): LB
→ DLD; LAL → DLA;

• Quer o DLD quer o DLA devem invocar expressamente as respetivas leis (art. 198.º/3).

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DIFERENÇAS ENTRE AS LEIS DE BASES E AS LEIS DE AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA:

VANTAGENS DESVANTAGENS

- Altera a ordem jurídica


- Não caduca nem se esgota pelo uso (não está
sujeita a prazos)

- Gov. pode alterar o desenvolvimento efetuado,


desde que respeite as bases

- Pode surgir em qualquer domínio - Só pode surgir na área de reserva relativa da AR

- Intervém atenuadamente na ordem jurídica


(autoriza essa alteração)

- Caduca no fim do prazo e esgota-se pelo uso


- Gov. não pode alterar o DLA

PROCEDIMENTO LEGISLATIVO PARLAMENTAR:

Artigo 167º
(Iniciativa da lei e do referendo)

1. A iniciativa da lei e do referendo compete aos Deputados, aos grupos parlamentares e ao Governo, e ainda, nos
termos e condições estabelecidos na lei, a grupos de cidadãos eleitores, competindo a iniciativa da lei, no
respeitante às regiões autónomas, às respectivas Assembleias Legislativas.

2. Os Deputados, os grupos parlamentares, as Assembleias Legislativas das regiões autónomas e os grupos de


cidadãos eleitores não podem apresentar projectos de lei, propostas de lei ou propostas de alteração que envolvam,
no ano económico em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas do Estado previstas no Orçamento.

3. Os Deputados, os grupos parlamentares e os grupos de cidadãos eleitores não podem apresentar projectos de
referendo que envolvam, no ano económico em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas do
Estado previstas no Orçamento.

4. Os projectos e as propostas de lei e de referendo definitivamente rejeitados não podem ser renovados na mesma
sessão legislativa, salvo nova eleição da Assembleia da República.

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5. Os projectos de lei, as propostas de lei do Governo e os projectos e propostas de referendo não votados na sessão
legislativa em que tiverem sido apresentados não carecem de ser renovados na sessão legislativa seguinte, salvo
termo da legislatura.

6. As propostas de lei e de referendo caducam com a demissão do Governo.

7. As propostas de lei da iniciativa das Assembleias Legislativas das regiões autónomas caducam com o termo da
respectiva legislatura, caducando apenas com o termo da legislatura da Assembleia da República as que já tenham
sido objecto de aprovação na generalidade.

8. As comissões parlamentares podem apresentar textos de substituição, sem prejuízo dos projectos e das
propostas de lei e de referendo a que se referem, quando não retirados.

Artigo 168.º
(Discussão e votação)

1. A discussão dos projectos e propostas de lei compreende um debate na generalidade e outro na


especialidade.

2. A votação compreende uma votação na generalidade, uma votação na especialidade e uma votação final global.

3. Se a Assembleia assim o deliberar, os textos aprovados na generalidade serão votados na especialidade pelas
comissões, sem prejuízo do poder de avocação pela Assembleia e do voto final desta para aprovação global.

4. São obrigatoriamente votadas na especialidade pelo Plenário as leis sobre as matérias previstas nas alíneas
a) a f), h), n) e o) do artigo 164.º, bem como na alínea q) do n.º 1 do artigo 165.º.

5. As leis orgânicas carecem de aprovação, na votação final global, por maioria absoluta dos Deputados em
efectividade de funções, devendo as disposições relativas à delimitação territorial das regiões, previstas no artigo
255.º, ser aprovadas, na especialidade, em Plenário, por idêntica maioria.

6. Carecem de aprovação por maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos Deputados em efectividade de funções:

a) A lei respeitante à entidade de regulação da comunicação social;

b) As normas que disciplinam o disposto no n.º 2 do artigo 118.º;

c) A lei que regula o exercício do direito previsto no n.º 2 do artigo 121.º;

d) As disposições das leis que regulam as matérias referidas nos artigos 148.º e 149.º, e as relativas ao sistema e
método de eleição dos órgãos previstos no n.º 3 do artigo 239.º;

e) As disposições que regulam a matéria da alínea o) do artigo 164.º;

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f) As disposições dos estatutos político-administrativos das regiões autónomas que enunciem as matérias que
integram o respectivo poder legislativo.

Artigo 170º
(Processo de urgência)

1. A Assembleia da República pode, por iniciativa de qualquer Deputado ou grupo parlamentar, ou do Governo,
declarar a urgência do processamento de qualquer projecto ou proposta de lei ou de resolução.

2. A Assembleia pode ainda, por iniciativa das Assembleias Legislativas das regiões autónomas, declarar a
urgência do processamento de qualquer proposta de lei por estas apresentada.

FASES DE CRIAÇÃO DE UMA LEI:

A. Fase de iniciativa; B. Fase instrutória;


C. Fase constitutiva/deliberativa; D. Fase de Controlo;


E. Fase de integração de eficácia.

A. FASE DE INICIATIVA
Iniciativa legislativa secundária, derivada ou superveniente: apresentação de propostas de alteração (art.
167º/2) ou textos de substituição, pelas comissões (art. 167º/8).

Nesta fase podem tomar parte qualquer um dos seguintes grupos:

• Deputados — projetos de lei;

• Grupos Parlamentares — projetos de lei;

• Governo — propostas de lei;

• Grupo de cidadãos eleitores — propostas de lei;

• A.L. Regionais — propostas de lei, estando contudo limitada às matérias respeitantes às Regiões
Autónomas, de acordo com o artigo 227º, alínea f).

Há situações de iniciativa reservada: as leis de revisão constitucional, as leis estatutárias, as leis das grandes
opções do plano e do orçamento e as leis de autorização legislativa e de autorização de empréstimos.

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Iniciativa legislativa: só por si não altera a ordem jurídica (ex. Governo pode propor propostas de lei à AR
em matérias de reserva absoluta).

Competência legislativa: decretar a lei (em sentido amplo).

Entre a fase de iniciativa (A) e a fase instrutória (B), o projeto de lei é sujeito a:

• Apresentação perante os deputados;

• Inscrição de proposta ou prometi na ordem do dia.

Aqui os deputados podem apresentar propostas de alteração (emenda, substituição, aditamento,


eliminação).

B. FASE INTRODUTÓRIA
Tem por objectivo recolher e elaborar os dados e elementos que permitam analisar a oportunidade do
procedimento legislativo, bem como o respectivo conteúdo.

• É executada por comissões permanentes especializadas que recebem os projectos ou propostas de lei
admitidas.

• A comissão pode sugerir ao Plenário um texto de substituição (art. 167.º/8).

Na prática, o debate na generalidade do Plenário incidirá sobre o texto de substituição apresentado e não
sobre o texto originário.

A emissão de parecer deve ser devidamente fundamentada.

C. FASE CONSTITUTIVA (deliberativa):

• Discussão, votação e redação.

Discussão e votação no plenário: na generalidade e na especialidade (artigo a artigo, nº a nº, alínea a


alínea).

Votação final global — Sempre em Plenário, no âmbito da existência de quórum, conforme


descrito no artigo 116º/2.
Documentada com a publicação no Diário da AR.

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Maioria regra — relativa ou simples (artigo 116º/3)


Leis de Revisão — cada alteração tem de ser aprovada por maioria de 2/3 e não existe a votação
final global.
Artigo 168º/6 — Leis cuja aprovação carece em qualquer das votações de maioria qualificada.

Artigo 116.º
(Órgãos colegiais)

1. As reuniões das assembleias que funcionem como órgãos de soberania, das regiões autónomas ou do
poder local são públicas, excepto nos casos previstos na lei.

2. As deliberações dos órgãos colegiais são tomadas com a presença da maioria do número legal dos seus
membros.

3. Salvo nos casos previstos na Constituição, na lei e nos respectivos regimentos, as deliberações dos órgãos
colegiais são tomadas à pluralidade de votos, não contando as abstenções para o apuramento da maioria.

Retificação — ato jurídico — publicação materialmente administrativa destinada a corrigir erros de


execução material (escrita ou pontuação), ocorridos no procedimento de publicação, de norma jurídica
sujeita a publicação na 1ª sério do Diário da República.

Quanto a retificações que extravasem os mesmos erros materiais, elas só podem ser sanadas por atos
de idêntica dignidade.

A declaração de retificação pertence ao ato originário e deve ser publicada no prazo de 60 dias após a
publicação do texto retificado.

D. FASE DE CONTROLO

Presidente da República (artigo 136º):

• Promulgação/assinatura;

• Enviar para o Tribunal Constitucional e daí, segundo o pronuncio do mesmo, pode surgir um veto por
inconstitucionalidade;

• Veto politico, emanado da visão policia e pessoal que o Presidente tem em relação à matéria.

Governo: Referenda Ministerial (artigo 140º).

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E. FASE DE INTEGRAÇÃO DE EFICÁCIA: publicação

Artigo 119º/1, alinea c), sob pena de ineficácia jurídica: artigo 119º/2.

Artigo 119.º
(Publicidade dos actos)

1. São publicados no jornal oficial, Diário da República:

a) As leis constitucionais;

b) As convenções internacionais e os respectivos avisos de ratificação, bem como os restantes avisos a


elas respeitantes;

c) As leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais;

d) Os decretos do Presidente da República;

e) As resoluções da Assembleia da República e das Assembleias Legislativas das regiões autónomas;

f) Os regimentos da Assembleia da República, do Conselho de Estado e das Assembleias


Legislativas das regiões autónomas;

g) As decisões do Tribunal Constitucional, bem como as dos outros tribunais a que a lei confira força
obrigatória geral;

h) Os decretos regulamentares e os demais decretos e regulamentos do Governo, bem como os decretos dos
Representantes da República para as regiões autónomas e os decretos regulamentares regionais;

i) Os resultados de eleições para os órgãos de soberania, das regiões autónomas e do poder local, bem como
para o Parlamento Europeu e ainda os resultados de referendos de âmbito nacional e regional.

2. A falta de publicidade dos actos previstos nas alíneas a) a h) do número anterior e de qualquer acto de
conteúdo genérico dos órgãos de soberania, das regiões autónomas e do poder local, implica a sua ineficácia
jurídica.

3. A lei determina as formas de publicidade dos demais actos e as consequências da sua falta.

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COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DO GOVERNO:


A Constituição de 1976 reconhece competência legislativa normal do Governo, ou seja, encara como
corrente a prática legislativa do mesmo. Este é, inclusivamente, o orgão que, em termos de quantidade, mais
legisla em Portugal.

Áreas de competência do Governo:


• Comp. legislativa concorrente/paralela (competência originária/primária: arts. 198.º/1, al. a) e 161.º,
al. c)) → art. 112.º/2: Lei = DL; lei e DL podem revogar-se mutuamente: lex posterior derrogat lex
anterior;

• Comp. legislativa dependente/ derivada (de LAL ou de LB) – área de reserva de competência da AR:
arts. 198.º/1, b), c) e n.º 3;

• Comp. legislativa exclusiva (reserva de decreto-lei) – área de reserva de competência do Governo (art.
198.º/2).

APRECIAÇÃO PARLAMENTAR DOS DECRETOS LEI:

Génese

• bill de indemnidade (séc. XIX) e ratificação na Constituição de 1933;

• CRP/76: ratificação tácita;

• Rev. 1989: acabou a ideia de ratificação tácita → possibilidade de não ratificação ou de alteração;

• Rev. 1997: consagrou a apreciação parlamentar (art. 169.º).

Fundamento: fiscalização do mérito político do decreto-lei pela AR; em termos qualitativos (≠


quantitativos) ainda faz sentido dizer que a AR possui o primado  legislativo.

Pode abranger todos os decreto-leis

• Exceto os aprovados no uso de competência exclusiva do Governo;


• Abrange ainda os decretos legislativos regionais autorizados (artigo 227º/4).

Visa: a cessação de vigência ou a alteração do decreto-lei.

Iniciativa: 10 deputados, no prazo de 30 dias a seguir à publicação do decreto-lei.

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Efeitos da aprovação da resolução de cessação de vigência (artigo 169º/4).

• DL deixa de produzir efeitos a partir do dia da publicação da resolução no D.R. – efeitos prospetivos.

• Diploma não poderá voltar a ser publicado no decurso da mesma sessão legislativa.

DIREITO INTERNACIONAL:
Art. 8.º/1, 2: normas internacionais são aplicáveis na ordem interna portuguesa:

• Dto. Internacional geral: receção automática;

• Convenções internacionais que vinculem o Estado português: receção automática condicionada à


publicação no D.R.

Convenções internacionais: subordinadas à Constituição, prevalecem sobre actos legislativos e


regulamentos nacionais.

Ius cogens internacional: prevalece sobre a própria Constituição.

DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA:


Art. 8.º/4: as suas normas são aplicáveis na ordem interna “nos termos definidos pelo Direito da União”

O que nos diz o Direito da União?


Aplicabilidade direta/efeito direto: a maior parte das normas da União aplicam-se diretamente nas
ordens internas.
Princípio do primado: as normas da União prevalecem sobre todas as normas nacionais.

Limites: competência da UE e “princípios fundamentais do Estado de Direito democrático” (art. 8.º/4, in


fine): por tais razões, não se deve absolutizar o princípio do primado europeu (Catarina Santos Botelho).

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FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE:

MEIOS DE GARANTIA DA CONSTITUIÇÃO:

1. Vinculação de todos os poderes à Constituição (princípio da constitucionalidade: art. 3.º/3): todos os


atos jurídico-públicos têm de respeitar a CRP.

Princípio da Constitucionalidade > Princípio da Legalidade

Alguma doutrina (Catarina Santos Botelho, J. J. Gomes Canotilho, Vital Moreira), porém, alerta para uma certa
incongruência entre a proclamação do princípio da constitucionalidade (todos os atos jurídico-públicos) e o
modelo de fiscalização da constitucionalidade adotado (só os atos normativos).

2. Limites ao processo de revisão constitucional: limites materiais (art. 288.º) e limites formais
(processuais, temporais e circunstanciais (arts. 284-289.º).

3. Princípio da separação e interdependência de poderes (art. 111.º): modelo de “checks and


balances” (freios e contrapesos).

• A ideia fundamental da CRP é assegurar uma separação funcional (repartição horizontal);

• São funções autónomas, que convivem com a interdependência institucional  → controlo:

- Primário ou subjetivo – sobre órgãos


- Secundário ou objetivo – sobre atos desses órgãos

4. A constitucionalização dos estados de exceção constitucional (arts. 19.º e 138.º): situações de


anormalidade constitucional, que estão repletas de garantias, para se evitar o “vazio jurídico” (nicht-
Recht) que caraterizou o nacional-socialismo na Alemanha do séc. XX.

5. Fiscalização jurisdicional da constitucionalidade das normas (arts. 277.º-283.º): mecanismo


privilegiado para garantir o cumprimento da Constituição.

• Inconstitucionalidade = violação da Constituição (ex: uma lei da AR sobre a liberdade religiosa viola
o art. 41.º CRP).

• Ilegalidade = violação de um ato normativo infraconstitucional (ex: DLA viola sentido da LAL).

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NOÇÕES E TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE:

Norma inconstitucional = norma desconforme com a Constituição (parâmetro constitucional).

Por ação (art. 277.º): ato que viola a Constituição ≠ por omissão (situações de inércia, de non facere: art.
283.º).

Originária (no momento da nascença da norma) ≠ superveniente (deriva de norma constitucional


posterior).

Presente (norma em vigor) ≠ pretérita (não vigora).

Consequente/consequencial (funda-se em norma antecedente).

Total ≠ parcial.

Material (conteúdo da norma fere a Constituição) ≠ orgânica (incumprimento regras de competência) ≠


formal (preterição formalidades constitucionais).
 
Direta (no confronto direto da norma com a Constituição) ≠ indireta (na relação com outra norma
ordinária).

OS MODELOS FUNDAMENTAIS DE “JUSTIÇA CONSTITUCIONAL”:

Modelo unitário (sistema difuso ou americano):


• Judicial review of legislation
• Sentença do juiz Marshall no caso Marbury  v. Madison (1803)
• Constituição portuguesa de 1911 (por influência da Constituição brasileira de 1891)

VANTAGENS DESVANTAGENS
- Divergência de julgados e falta de uniformidade
- Reforço da vinculação jurídica.
na tutela da Constituição.

Modelo da separação (sistema concentrado/ austríaco; Verfassungsgerichtsbarkeit):


• ex. Áustria (Hans Kelsen: 1920);
• é um modelo concentrado, ou seja, existe uma justiça constitucional que acresce à justiça ordinária.

VANTAGENS DESVANTAGENS
- Uniformidade na tutela da Constituição - Politização do controlo constitucional;
(harmonia de julgados). - Lentidão processual.

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CRITÉRIO DOS TITULARES DO CONTROLO:

Controlo político:

• Sistema francês (sécs. XVIII e XIX: omnipotência da lei);


• Controlo a cargo de órgãos de cunho político (ex: Parlamento ou Monarca);
• Ideia do “criador controla a criatura”;
• Em Portugal, vigorou no constitucionalismo monárquico.

Controlo jurisdicional:

• a fiscalização da constitucionalidade é um ato jurisdicional;


• Subdivide-se em: Controlo concentrado/austríaco ou Controlo difuso/americano.

CRITERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE:

Critério do modo de controlo

Controlo por via incidental/ de exceção: a questão da inconstitucionalidade, sendo secundária ao caso, é
discutida na medida em que for relevante para a solução do caso concreto.

• Controlo difuso/concreto;
• Em Portugal, surge “nos feitos submetidos a julgamento” (art. 204.º), na fiscalização concreta.

Controlo por via principal: a questão da constitucionalidade é a causa de pedir.

• Controlo concentrado/abstrato;
• Processo objetivo de defesa da Constituição.

Controlo preventivo: a priori, ou seja, antes da entrada em vigor da norma → normas imperfeitas.

Controlo sucessivo: após a publicação da norma.

Critério da legitimidade processual ativa

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Restrita ≠ alargada (quisque de populo).

Ex officio (recursos obrigatórios a cargo do MP) ≠  de parte ≠ de órgãos ou entidades públicas (art. 281.º/
2).

Nota: o TC, como os demais tribunais, é um órgão passivo (apenas atua por iniciativa de outras entidades),
exceto no processo de fiscalização mista (art. 281.º/3).

Critérios dos efeitos do controlo

Gerais (erga omnes) ≠ particulares (inter partes).

Retroativos (ex tunc) ≠ prospetivos (ex nunc, a partir do momento da publicação da declaração de
inconstitucionalidade).

Declarativos (inconstitucionalidade preexiste à declaração) ≠ constitutivos (declaração do TC é que efetiva


a invalidade).

PROCESSOS DE FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE NA CRP/76:

I. Inconstitucionalidade por ação (artigos 277º a 282º)

A. Fiscalização preventiva (artigos 278º e 279º)

B. Fiscalização sucessiva

1. Fiscalização concreta (artigos 204º e 280º)

2. Fiscalização abstrata (artigos 281º e 282º)

3. Fiscalização mista (abstrata com base na fiscalização concreta: art. 281º/3).

II. Inconstitucionalidade por omissão (artigo 283º)

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TERMINOLOGIA:

• Fiscalização preventiva: TC pronuncia-se

• Fiscalização sucessiva concreta: TC julga/decide

• Fiscalização sucessiva abstrata: TC declara

• Fiscalização mista: TC declara

• Fiscalização da inconstitucionalidade por omissão: TC verifica

Uma norma ou é: inconstitucional ou não inconstitucional.

Por isso, o TC não julga/declara/verifica a constitucionalidade de uma norma (não existe em Portugal,
como, por exemplo no Brasil, a “ação declaratória de constitucionalidade”, nos termos do art. 103.º da CFB)

FISCALIZAÇÃO PREVENTIVA DA CONSTITUCIONALIDADE:


(artigos 278º e 279º)

É uma fiscalização abstrata.

Competência: Tribunal Constitucional.

Incide sobre:
• Normas;
• de alguns diplomas enviados ao PR para promulgação, ratificação ou assinatura (ou aos RR’s para
assinatura);
• e que, portanto, ainda não estão em vigor.

Legitimidade ativa:
• Presidente da República (art. 278.º/1) – “pode”;
• Representantes da República (art. 278.º/2) – “podem”;
• Primeiro-ministro e 1/5 dos deputados – apenas quanto às leis orgânicas (art. 278.º/4) – “podem”.

Legitimidade passiva:
• Órgão autor da norma impugnada (art. 54.º LTC).

Prazo para solicitar fiscalização – 8 dias:


• a contar da receção do diploma (art. 278.º/3)
• leis orgânicas: a contar da data do envio ao PR (art. 278.º/6)

Prazo de pronúncia do TC – 25 dias (art. 278.º/8)

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Objeto – normas de:


• decreto enviado ao PR para promulgação como lei ou decreto-lei;
• tratado internacional submetido ao PR para ratificação;
• acordo internacional remetido ao PR para assinatura;
• decreto legislativo regional enviado a RR para assinatura;

Para: avaliar inconstitucionalidade (e não ilegalidade).

Efeitos:
Não pronúncia pela inconstitucionalidade: 
• PR (e RR) podem promulgar (ou assinar);
• ou vetar politicamente (arts. 136.º e 233.º/2).

Pronúncia de inconstitucionalidade (art. 279.º/1):


• Obrigação de veto do diploma pelo PR ou RR;
• Seguida de devolução ao órgão que o aprovou.

Perante uma pronúncia de inconstitucionalidade:

3 hipóteses de atuação do legislador (arts. 279.º/2, 3 e 4):


• Expurgar norma inconstitucional
- PR pode voltar a requerer a fiscalização preventiva.

• Confirmar diploma por maioria de 2/3 dos deputados


- PR não fica obrigado a promulgar (art. 279.º fala em “poder” e não “dever” de promulgação,
assinatura ou ratificação).

• Reformular diploma – implica novo processo legislativo: novo diploma pode ser sujeito a fiscalização
preventiva.

Lei: expurgação, confirmação ou reformulação

Decreto-lei: expurgação ou reformulação


- Mas: Governo pode apresentar proposta de lei igual à AR (arts 197.º/1, al. d) e 200.º/1, al. c))

Tratado internacional: confirmação ou reformulação

Acordo internacional: expurgação ou reformulação

Decreto leg. regional: expurgação ou reformulação

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Se o diploma acabar por entrar em vigor:


• Presunção de inconstitucionalidade das normas em causa;
• MP fica obrigado a recorrer de decisões de tribunais que apliquem as normas em causa (art. 280.º/5);
• TC pode vir a declarar a inconstitucionalidade com força obrigatória geral (fiscalização sucessiva
abstrata – arts. 281.º e 282.º).

FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA ABSTRATA:


(artigos 281º e 282º)

Objeto:
“Quaisquer normas” (art. 281.º/1, a)
• Disposição de qualquer ato legislativo (Lei, DL ou DLR)
• Disposições gerais e abstratas contidas noutros tipos de atos (ex: regulamentos administrativos)

Competência: Tribunal Constitucional.

Prazo: não há prazo para requerer a fiscalização sucessiva abstrata de uma norma.

Legitimidade ativa (art. 281.º/2):


• PR;
• Presidente da AR;
• Primeiro-Ministro;
• Provedor de Justiça;
• PGR;
• 1/10 dos deputados da AR;
• Diversas entidades regionais, quando esteja em causa a violação de direitos das regiões ou dos seus
Estatutos.

Legitimidade passiva: órgão autor da norma impugnada (art. 54.º LTC).

Efeitos da declaração de inconstitucionalidade (art. 282.º):


Força de caso julgado – decisão definitiva, sem hipótese de recurso

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Força obrigatória geral (erga omnes) – vincula todos os órgãos constitucionais e todas as pessoas,
singulares ou coletivas.

• Tribunais – ficam obrigados a desaplicar (a não aplicar) a norma declarada inconstitucional nos casos
que devam julgar; o próprio TC fica vinculado.

• Legislador – não pode voltar a emanar norma com o mesmo conteúdo da norma declarada
inconstitucional (salvo inconstitucionalidade orgânica ou formal)

Efeitos temporais da declaração:

Retroatividade (efeitos ex tunc):

• A norma deixa de produzir efeitos desde o momento da sua entrada em vigor


• A norma é inaplicável a situações ou relações passadas e futuras

Exceções à retroatividade:

• Inconstitucionalidade superveniente (art. 282.º/2)

• Casos julgados (art. 282.º/3)


- Mas… contra-exceção (= regra): matéria penal, disciplinar ou de ilícito de mera ordenação social
+ norma de conteúdo menos favorável ao arguido

• Restrição de efeitos por decisão do TC: por razões de segurança jurídica, equidade ou interesse
público de excecional relevo (art. 282.º/4)

Outros efeitos da declaração:

Repristinação das normas revogadas pela norma declarada inconstitucional …


… salvo se tal não for razoável:
• Está em causa uma inconstitucionalidade superveniente, ou
• A norma repristinada também é inconstitucional, ou
• Por razões de segurança jurídica, equidade ou interesse público de excecional relevo

Efeitos da não declaração de inconstitucionalidade:


• Não produz caso julgado: pode pedir-se novamente a fiscalização
• Noutro caso, o TC pode declarar a inconstitucionalidade

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FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA CONCRETA:

Art. 204.º: qualquer tribunal deve, nos casos submetidos a julgamento, desaplicar as normas que considerar
inconstitucionais.

Art. 280.º: dessa decisão de desaplicação do tribunal da causa (tribunal a quo) pode haver recurso para o
Tribunal Constitucional (tribunal ad quem), que pode revogar a decisão do tribunal a quo.

Competência: qualquer tribunal


• Tribunais: órgãos de natureza judicial
• Quando esteja a julgar um caso
(civil, penal, administrativo, fiscal, de trabalho, etc.)

Legitimidade ativa:
• Partes (incluindo o MP, quando for parte);
• Juiz (ex officio), pois está submetido ao princípio da constitucionalidade (art. 3.º/3).

Requisitos processuais objetivos:


Objeto: qualquer norma que deva ser aplicada (normas jurídicas públicas; “conceito funcional de norma”)

• questão da constitucionalidade deverá ser suscitada durante o processo (ou seja, não ser a questão
principal, mas incidental);

• questão da constitucionalidade terá de ser relevante para a decisão do caso concreto.

Decisão do Tribunal a quo:


Decisão negativa/ rejeição de inconstitucionalidade: o juiz aplica a norma no caso principal.

Decisão positiva/de acolhimento de/da inconstitucionalidade: o juiz desaplica a norma, julgando a causa
principal sem a ter em conta:

• Pode ter de repristinar a norma revogada pela norma julgada inconstitucional (salvo em matéria penal,
se tal implicar a violação do princípio da aplicação da lei penal mais favorável).

Recurso para o Tribunal Constitucional:


Pode acontecer, quer o tribunal a quo conclua que a norma é inconstitucional, quer decida que não é – 280.º/
1.
O TC também recebe recursos de decisões judiciais de desaplicação de normas com fundamento na sua
ilegalidade (art. 280.º/2).
O recurso diz respeito apenas à questão da inconstitucionalidade (ou ilegalidade) da norma, e não à
questão principal (que é resolvida pelo juiz a quo): art. 280.º/6.

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Recorrentes:
• Partes no processo principal
• O Ministério Público, seja ou não parte no processo

Recursos de decisão de desaplicação da norma:


• Podem ser interpostos por qualquer das partes (art. 280.º/4, a contrario)
• Sem necessidade de exaustão dos recursos ordinários (art. 70.º/2, a contrario, da LTC)
- A decisão do TC vincula as instâncias superiores que venham a pronunciar-se sobre a questão
principal

Este recurso é obrigatório para o MP se:


• a norma desaplicada pelo tribunal a quo constar de convenção internacional, ato legislativo ou decreto
regulamentar (art. 280.º/3)
- Porquê estes atos jurídico-públicos?
- Sobre eles recai uma presunção da constitucionalidade

Recursos de decisão de aplicação da norma:


Apenas se a questão de inconstitucionalidade foi suscitada no processo (art. 280.º/1, b).
Só pode recorrer (recurso facultativo) a parte que suscitou a questão de inconstitucionalidade (art. 280.º/4).
Esgotamento das vias de recurso (arts. 70.º/2 e 4 e 72.º/2 da LTC).

Este recurso é obrigatório para o MP se:


A norma já tiver sido julgada inconstitucional (ou ilegal) pelo TC (art. 280.º/5)
- noutro caso de fiscalização concreta
- num caso de fiscalização preventiva
- num caso de fiscalização sucessiva abstrata
Não tem de haver exaustão dos recursos ordinários (art. 70.º/2, a contrario, LTC).

Efeitos do julgamento TC: (arts. 280.º/6 CRP e 80.º, LTC)


• Inter partes
• Caso julgado quanto à questão da constitucionalidade/ilegalidade
• O tribunal a quo fica obrigado a reformar a sentença, se o julgamento do TC tiver sido contrário ao seu.

Decisão interpretativa do TC:


• Julga a norma conforme à Constituição, se interpretada de determinada maneira
• O tribunal a quo tem de aplicar a norma com aquela interpretação (art. 80.º/3, LTC)
• Rui Medeiros entende que o art. 80.º/3 da LTC é inconstitucional

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Recurso para o plenário do TC:


Havendo decisões contraditórias entre secções do TC (art. 224.º/3 CRP, e 79.º-D, da LTC).
Este recurso é obrigatório para o MP, se intervir no processo como recorrente ou recorrido (art. 79.º-D/1).

Atenção: o TC nunca julga/decide pela constitucionalidade! A decisão de não inconstitucionalidade não


impede uma eventual e posterior averiguação sucessiva abstrata ou concreta da inconstitucionalidade.

FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA MISTA (artigos 281º/3 CRP e 82º LTC):


Processo de fiscalização abstrata com base na fiscalização concreta.

Processo misto:
• Pressupostos da fiscalização concreta
• Processo + efeitos da fiscalização abstrata

Se uma norma tiver sido julgada inconstitucional pelo TC em três (ou mais!) casos concretos:
• Qualquer juiz do TC e o MP podem iniciar o processo de fiscalização sucessiva abstrata.

Exceção ao princípio do pedido: é o próprio TC que tem iniciativa (e também o MP).

O TC pode declarar, ou não, a inconstitucionalidade da norma, com todos os efeitos previstos no art. 282.º.

Atenção: o TC não é obrigado a declarar a inconstitucionalidade.

Ele vai é apreciar e pode até concluir que a norma que foi julgada inconstitucional em vários casos
concretos não deve ser declarada inconstitucional com força obrigatória geral.

FISCALIZAÇÃO DA INCONSTUCIONALIDADE POR OMISSÃO (artigo 283º):


Verificação da “omissão das medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis as normas
constitucionais” (art. 283.º/1) → é sancionado o silêncio, o non facere.

Competência: TC

Legitimidade ativa:
• Presidente da República
• Provedor de Justiça
• Presidentes das ALRA (em caso de violação de direitos das regiões)

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Legitimidade passiva: o legislador


• AR, Governo e, eventualmente, ALRA

Que normas constitucionais necessitam de medidas legislativas para se tornar exequíveis?

Regras impositivas de legislação

• Imposições legiferantes (permanentes e concretas: arts. 59.º/2, a), 63.º/2, 64.º/2, a), 66.º/2, c), 74.º/2,
a);
• Ordens de legislar (únicas: art. 224.º).

Regras precetivas não exequíveis por si mesmas (ex: arts. 117.º/2 e 3, 267.º/5) – Manuel Afonso Vaz.

Para parte da doutrina, as normas programáticas – Catarina Santos Botelho; Jorge Miranda; Jorge
Pereira da Silva; Carlos Blanco de Morais

Efeitos da verificação da inconstitucionalidade por omissão:


O TC dá conhecimento dessa verificação ao órgão legislativo competente (art. 283.º/2)

Paulo Otero: instituto encontra-se em “coma jurídico”


Jorge Bacelar Gouveia: “museu constitucional”
Jorge Miranda: “efeitos políticos” da verificação

Nuno Brochado Página 84 de 84

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