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Autos: XXXXXXX-XX.XXXX.X.XX.

XXXX
Assunto: Inconstitucionalidade de tributo
Autor: Ametistas do Rio Grande
Réu: Receita Estadual

SENTENÇA

RELATÓRIO

Trata-se de ação de inconstitucionalidade de tributo ajuizada pela empresa Ametistas


do Rio Grande contra Receita Estadual, todos devidamente qualificados nos autos em
epígrafe.
O autor argumenta que a Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização das
Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários,
estabelecida pela Lei Estadual nº 1318/2019, e a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental
(TCFA), instituída pela Lei Federal nº 6.938/81 são inconstitucionais. A última, pelo fato de
que, supostamente, não seria legítima a sua imposição apenas sobre empresas que
desenvolvem atividades potencialmente poluidoras ou que utilizam de recursos ambientais. A
empresa questiona ainda seu valor, visto variar dependendo do tipo de atividade, alegando ser
mais alta em caso de mineração.

É o relatório. Passo a decidir,

COMPETÊNCIA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA E TRIBUTÁRIA DAS TAXAS

Os artigos 24, incisos VI e 23, incisos III, VI, VII e XI da Constituição Federal
estabelecem competência concorrente à União, aos Estados, aos Municípios e ao Distrito
Federal para legislar, registrar, acompanhar e fiscalizar sobre recursos hídricos e minerais de
seus respectivos territórios.
No mesmo sentido, o artigo 77 do Código Tributário Nacional, que também prevê
competência concorrente aos entes federativos, dispõe que para a sua criação, as taxas devem
ter como fato gerador o exercício de polícia ou a prestação de serviço público ao contribuinte.
Ainda, o artigo 78 do mesmo Código dispõe:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública
que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a
prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes
de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada
pelo Ato Complementar nº 31, de 1966)
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia
quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável,
com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei
tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.

O poder de polícia seria então aplicado nos casos em que um particular necessita de
fiscalização, pois sua atividade pode trazer prejuízos ao coletivo (NOVAIS, 2018, p. 73).
Tendo em vista que o art. 146 da Constituição Federal estabelece que “cabe à lei
complementar (...) I- dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios", deve-se citar que o art. 8º, XII da Lei
Complementar 140/2011 prevê que cabe aos Estados “controlar a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, na forma da lei”.
Desta forma, não há o que se falar em inconstitucionalidade da Taxa de Controle,
Monitoramento e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e
Aproveitamento de Recursos Minerários, estabelecida pela Lei Estadual nº 1318/2019,
considerando que os Estados possuem competência para legislar sobre taxas que versem
sobre meio ambiente da mesma forma que a União, os Municípios e o Distrito Federal. Veja-
se entendimento do Supremo Tribunal Federal que tem reconhecido a constitucionalidade de
taxas similares, por serem cobradas em razão do exercício regular do poder de polícia, a
exemplo do que se observa do julgamento do RE 416.601/DF, Rel. Min. Carlos Velloso, cuja
ementa segue transcrita:

“CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IBAMA: TAXA


DE FISCALIZAÇÃO. Lei 6.938/81, com a redação da Lei
10.165/2000, artigos 17-B, 17-C, 17-D, 17-G. C.F., art. 145, II.
I. - Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA - do
IBAMA: Lei 6.938, com a redação da Lei 10.165/2000:
constitucionalidade.
II. - R.E. conhecido, em parte, e não provido.”
No mesmo sentido, menciono as seguintes decisões, entre outras: RE 682.168-
AgR/MG e RE 408.582-AgR/RS, Rel. Min. Marco Aurélio; RE 603.513-AgR/MG, Rel. Min.
Dias Toffoli; RE 452.408-AgR/MG, Rel. Min. Eros Grau; RE 397.342/SC, Rel. Min. Cezar
Peluso; RE 401.071-AgR/SC, Rel. Min. Carlos Britto; RE 453.649-AgR/PR, Rel. Min. Ellen
Gracie; RE 460.066-AgR/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence. Menciono também o
entendimento do AI nº 638.133/SPAgR, transcrito da seguinte forma:

“Agravo regimental em agravo de instrumento.


2.Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental. Lei no 10.165/2000.
Constitucionalidade. Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega
provimento’ (AI nº 638.133/SPAgR, Segunda Turma, Relator o Ministro
Gilmar Mendes, DJ de 28/3/08).”

Constituídas as premissas, não há o que se falar em inconstitucionalidade da taxa em


pauta.

DA IMPOSIÇÃO DA TAXA ÀS EMPRESAS QUE DESENVOLVEM ATIVIDADES


POLUIDORAS OU UTILIZADORAS DE RECURSOS AMBIENTAIS

A hipótese de incidência da taxa é a fiscalização de atividades poluidoras e utilizadoras de


recursos ambientais, exercida pelo IBAMA conforme se observa na Lei 6.938/81, art. 17-B,
com a redação da Lei 10.165/2000, e tem, como sujeito passivo, as pessoas jurídicas que
exercem atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, situação
que se encontra a empresa Ametistas do Rio Grande.

Tem-se, pois, taxa que remunera o exercício do poder de polícia do Estado, regulador visando
à proteção do meio ambiente.

Ora, meus senhores, quem polui, paga.

Cumpre transcrever a decisão que legitima a cobrança da taxa:

CONSTITUCIONAL - TRIBUTÁRIO - TAXA DE CONTROLE E


FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL - TCFA -LEI Nº 10.165/2000 -
CONSTITUCIONALIDADE.
1- Não remanesce dúvidas quanto à atividade fiscalizatória do IBAMA, não
existindo ilegalidade na cobrança da Taxa de Controle e Fiscalização
Ambiental.
2. A Taxa de Fiscalização e Controle Ambiental - TFCA foi fixada de
acordo com o potencial poluidor e grau de utilização dos recursos naturais
para cada atividade descrita, bem assim o porte da empresa.” (TRF3 -
APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA - 272855: AMS 31760
SP 2003.61.00.031760-5 Resumo: Constitucional - Tributário - Taxa de
Controle e Fiscalização Ambiental - Tcfa -lei nº null10.165/2000 -
Constitucionalidade. Relator(a): JUIZ MAIRAN MAIA Julgamento:
19/04/2006 Publicação: DJU DATA:08/05/2006 PÁGINA: 1174)

Assim, para identificar o potencial poluidor (PP) de cada empresa deve-se consultar o
Anexo VIII da Lei n° 10.165, que o define de acordo com a atividade exercida, podendo ser
pequeno, médio e alto.
Dessa forma, não há que se falar em incidência da taxa a outras instituições que não
estejam poluindo e/ou utilizando os recursos ambientais, pois a atividade exercida (tida como
efetiva ou potencialmente poluidoras) exige diretamente a atuação estatal, de exercício do
poder de polícia, o que a torna sujeito passivo da taxa em comento.

QUANTO À ALEGADA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE


NA COBRANÇA DA TAXA

A TCFA é cobrada trimestralmente e o seu valor é calculado de acordo com o


“potencial de poluição (PP)” e o “grau de utilização (GU)” dos recursos naturais de cada uma
das atividades sujeitas à fiscalização do IBAMA, conforme Lei 13.196, de 01/12/2015.

Registra Sacha Calmon – parecer, fl. 377 – que ficou assentado no julgamento da
Recurso Extraordinário nº 416.601/DF:

[...]

Se “o valor da taxa varia segundo o tamanho do estabelecimento a


fiscalizar”, o que implica maior ou menos trabalho por parte do poder
público, maior ou menor exercício do poder de polícia, “é mais do que
razoável afirmar que acompanha de perto o custo da fiscalização que
constitui sua hipótese de incidência”, com atendimento, em conseqüência,
“na medida do humanamente possível”, dos “princípios da
proporcionalidade e da retributividade”.

[...]

Além disso, a Corte no ARE 738944 AGR / MG já se manifestou pela legitimidade


da utilização do porte da empresa, obtido a partir do somatório das receitas bruta de seus
estabelecimentos, para mensurar a atividade despendida na fiscalização que dá ensejo a
cobrança da taxa em questão.

Nesse sentido, destaco o julgamento do AI 746.875- AgR/MG, Rel. Min. Cármen


Lúcia, cuja ementa transcrevo a seguir:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


TRIBUTÁRIO. TAXA DE FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL. LEI
ESTADUAL N. 14.940/2003. 1. POTENCIAL DE POLUIÇÃO.
POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA RECEITA DA EMPRESA
COMO UM DOS

CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DO VALOR DA TAXA. 2.


CONTROVÉRSIA SOBRE O EFETIVO EXERCÍCIO DO PODER DE
POLÍCIA: INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 279 DO SUPREMO
TRIBUNAL. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO.

DISPOSITIVO
Por todo o exposto, julgo totalmente improcedente os pedidos acerca da alegação de
inconstitucionalidade, ao cabimento da incidência da taxa e a proporcionalidade de valor à
atividade exercida, não havendo esses pedidos embasamento da lei, eis que cada um foi
negado com base na lei e jurisprudência pátria.

PUBLIQUE-SE. REGISTRE-SE. INTIMEM-SE.

São Paulo/SP, 10 de Novembro de 2021.

Juiz XXXX

Titular da Vara de XXXX

BIBLIOGRAFIA
COMO FUNCIONA a cobrança da Taxa (TCFA) do IBAMA?. [S. l.], 7 jun. 2021. Disponível em:
https://coutoambiental.com.br/blog/como-funciona-a-cobranca-da-taxa-tcfa-do-ibama/#:~:text=Toda
%20pessoa%20que%20exerce%20atividade,20)%20deve%20pagar%20a%20TCFA. Acesso em: 4
nov. 2021.
REAJUSTE DOS VALORES RELATIVOS À TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO
AMBIENTAL (TCFA). [S. l.],
26 set. 2016. Disponível em: https://www.angareeangher.com.br/reajuste-dos-valores-relativos-a-
taxa-de-controle-e-fiscalizacao-ambiental-tcfa/. Acesso em: 4 nov. 2021.
TAXA de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA). [S. l.], 8 nov. 2016. Disponível em:
http://ibama.gov.br/tcfa. Acesso em: 4 nov. 2021.
AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 603.513 MINAS GERAIS, acesso em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=2729729
Constituição Federal
Código Tributário Nacional
NOVAIS, Jorge Reis. Contributo para uma teoria do estado de direito. Coimbra: 1987. p. 24.

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