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RESUMO

Este estudo aborda a influencia da musculatura oro - facial na estabilidade,


retenção e sustentação de próteses totais, bem como os diversos tipos de forças
musculares que incidem sobre as próteses. É de grande importância ter o
conhecimento das estruturas anatômicas para que no ato da confecção dessas
próteses possa respeitar os limites anatômicos e fisiológicos da atuação da musculatura
envolvidas.
ABSTRACT

This study addresses the influence of muscle oro - facial stability, support and
retention of complete dentures, as well as the various types of muscle forces that focus
on the prostheses. It is very important to have knowledge of the anatomical structures to
which the act of making these prostheses to respect the limits of anatomical and
physiological action of the muscles involved.
INTRODUÇÃO

Nos pacientes totalmente edêntulos, as vastas reabsorções ósseas e a


diminuição da crista alveolar, frente à periodontoses severas, determinam uma
dimensão curta na altura da crista e na espessura dos rebordos alveolares. Isto
acarreta como conseqüência direta a diminuição da área de sustentação das próteses
totais muco-suportadas, tanto na maxila, quanto, na mandíbula. Nestas situações
clínicas, ficam mais evidentes as relações que os músculos oro-faciais determinam
sobre a região basal óssea, sobressaindo-se os efeitos que a ação contrátil de suas
fibras produz sobre as diversas zonas de contorno. Em casos como esses, o
conhecimento dos componentes musculares e tendíneas, e a identificação das regiões
de inserção e origem dos ventres musculares, dá ao profissional elementos
importantes, para que, de forma racional, se consiga obter nas sobre extensões das
bordas das próteses uma retenção adicional compensatória.

Desde que tais manobras não interfiram nos mecanismos fisiológicos e


funcionais musculares, respeitando os limites anatômicos das estruturas a mais e não
prejudiquem as funções glandulares, os resultados obtidos são invariavelmente
eficazes; e, se não de todo modo resolutivos, ao menos proporcionam um recurso
incremental nas propriedades biomecânicas e no rendimento funcional das próteses
totais clinicamente instáveis.
REVISÃO DA LITERATURA

O sistema estomatognático é constituído por ossos, componentes


neuromusculares, destes, periodonto, tecidos moles e articulações
temporomandibulares. Múltiplas funções são atribuídas a esse sistema, uma das quais
se refere à digestão, que se inicia na boca, envolvendo a mastigação, deglutição e
atividades enzimáticas sobre o bolo alimentar.

Para que as próteses totais tenham boa retenção, faz-se necessário que suas
bases estejam bem adaptadas e corretamente estendidas, proporcionando eficiente
selamento periférico.

Segundo CSOGOR e MICHAM (1970) existem dois tipos de retenção e


estabilidade: A estática e a dinâmica. Consideraram estática a que mantém a prótese
em posição quando os músculos da bochecha, lábios e língua estão em repouso a
dinâmica a que asseguram a fixação da prótese quando em atividade fisiológica, como
na mastigação.

Os músculos com sua ação integrada pelo sistema nervoso desempenham


importante papel na retenção e estabilidade dessas próteses, influindo não somente na
superfície polida como também na área basal das próteses totais.

Estabelecendo uma classificação didática para a musculatura paraprotética e


relacionando a ação muscular com o tipo de efeito produzido pela dinâmica contrátil, é
possível dividir essa ação em duas formas: direta e indireta. A forma direta se dá pela
atuação de suas próprias fibras e seus movimentos particulares. Por exemplo, o
músculo bucinador que atua pela contração de suas fibras durante o movimento de
abertura da boca, projetando-se em direção à linha média, o que poderia determinar o
deslocamento mecânico de uma prótese. A forma indireta ocorre quando são
mobilizados por alguma outra massa muscular, por exemplo, o músculo milo-hióideo,
elevando o assoalho da boca quando é conduzido para cima e para frente pela ação
dos músculos da língua durante a projeção lingual para fora da boca ou para a região
palatal (CAPUSSELLI e SCHVERTZ, 1973).

A musculatura paraprotética é o conjunto de músculos que, quando em ação


contrátil, podem determinar interferências na estabilidade de aparelhos protéticos
muco-suportados, sendo que, durante a aplicação funcional das próteses, são dentre os
componentes musculares, aqueles que se relacionam mais diretamente com a retenção
e sustentação destas peças (NOCCHI e LUCHTEMBERG, 2001). Os quatros pares de
músculos mais fortes unidos à base do crânio e à mandíbula são: Masseter, Temporal,
Pterigóideo Medial e Pterigóideo Lateral. Esses chamados músculos da mastigação
atuam em grupo muito mais do que individualmente, e movimentam a mandíbula em
todos os planos e direções, tendo como fulcro a articulação temporomandibular
(TURANO e TURANO, 2002).

O músculo Masseter é um músculo retangular, espesso, forte, totalmente


recoberto pela fáscia massetérica, que o contem e o protege. O músculo masseter, por
se estender do arco zigomático ao ramo da mandíbula, cobre quase todo o ramo, com
exceção do seu processo condilar (MADEIRA, 2001). Pode ser dividido em duas partes:
superficial e profunda. A porção profunda, menor, origina-se da margem inferior e face
medial do arco zigomático, prolonga-se atrás até o limite da eminência articular. A
porção superficial, maior, tem origem mais anterior na superfície lateral do ramo da
mandíbula. As fibras superficiais têm um componente oblíquo. A contração do músculo
masseter pode afetar o ângulo disto-bucal da borda da prótese total mandibular
(TURANO e TURANO, 2002).

A ação do músculo masseter é a de um potente elevador da mandíbula,


aproximando os maxilares e exercendo pressão sobre os dentes, especialmente na
região dos molares. O feixe superficial exerce pressão, em ângulo reto, no plano oclusal
ascendente posterior dos molares (curva de compensação – curva de Spee). As fibras
do feixe profundo estarão dirigidas para baixo e para diante se a mandíbula estiver em
posição de protrusão. A porção profunda tem, entretanto, um componente de retração
que é importante durante o movimento de fechamento, isto é, uma combinação de
elevação e retrocesso (SICHER, 1977).
O músculo Temporal em forma de leque origina-se de uma ampla área na
superfície lateral cercada pela linha temporal inferior. Nesta área a fossa temporal
compreende uma estreita faixa do osso parietal, grande parte da escama temporal, a
superfície temporal do osso frontal e a superfície temporal da asa maior do osso
esfenóide. Algumas fibras podem partir da parte mais posterior da superfície temporal
ao processo frontal do osso zigomático. No osso esfenóide a área de origem estende-
se para baixo e inclui a crista infratemporal. Além do mais, muitas fibras originam-se da
aponeurose fundida à superfície interna da fáscia temporal, especialmente na sua parte
superior (DUBRUL, 1991).

A prótese total mandibular deve terminar exatamente no limite posterior da papila


retromolar ou ligeiramente aquém desse limite. Quando o músculo temporal se contrai,
a distenção das fibras que constituem o feixe profundo e que terminam na altura do
trígono retromolar desloca a prótese total que se estende demasiadamente nessa área
(TURANO e TURANO, 2002).

O músculo pterigóideo medial, apesar de menor que o masseter, apresenta as


mesmas características, todavia, sendo sinergista do masseter. Tem sua origem na
fossa pterigóidea, relacionando-se lateralmente com o pterigóideo lateral e medialmente
com o músculo tensor do véu do palato. Concomitantemente com sua ação de elevar a
mandíbula, ele a desloca ligeiramente para frente, tal como o faz parte superficial do
masseter (MADEIRA, 2001). A inserção do pterigóideo medial pode afetar a extensão
posterior da borda da prótese total mandibular.

O músculo pterigóideo lateral é o mais curto dos músculos da mastigação, o


único que se dispõe horizontalmente e também é o único que se relaciona com a
articulação temporomandibular. Origina-se de dois feixes inferior e superior. O feixe
inferior é largo, desponta da superfície externa da placa pterigóidea lateral.O feixe
super é menor e tem origem na superfície infratemporal. A inervação do músculo
pterfigóideo lateral é dada por um ramo do nervo massetérico ou bucal. O suprimento
sanguíneo é dado por um ramo da artéria maxilar. O músculo puxa a cabeça da
mandíbula e o disco articular para frente, para baixo e para dentro ao longo do declive
posterior da eminência articular (DUBRUL, 1991).
Outros músculos tão importantes quanto os músculos da mastigação, são os
músculos da área chapeável ou paraprotéticos. Eles podem atuar segundo (FIGUN,
2003) de forma direta ou indireta. Na forma direta é quando a ação das próprias fibras e
dos movimentos específicos atuarem sozinhos como o bucinador. Na forma indireta é
quando são movimentados por algum outro ventre muscular como milo-hióideo,
elevando o sulco lingual, quando é conduzido para cima pela ação dos músculos da
língua, que protegem este órgão para cima ou em sentido lateral.

O músculo bucinador está situado no plano profundo da região bucal. É o


principal músculo da bochecha, formando a parede lateral da cavidade da boca. Antero-
medialmente, as fibras do bucinador convergem para o ângulo da boca, onde se
dividem, tornando-se contínuas com as fibras do articular da boca. Lateralmente o
bucinador se insere sobre tudo na rafe pterigomandibular, uma inserção tendínea que
também encarou o músculo constritor superior da faringe póstero-lateralmente, algumas
fibras inserem-se nas faces externas dos processos alveolares do maxilar, acima, e da
mandíbula, abaixo o músculo é perfurado pelo ducto parotídeo. (SIMONS, 2005).

O músculo tensor do véu palatino tem forma de L, cujo ramo vertical se estende
da base do crânio ao hámulo da lâmina medial do processo pterigóide e cujo ramo
horizontal vai desde ponto até a linha mediana.

Nasce na fossa escafóide e na parte contígua do processo pterigóide,


observando-se que algumas fibras saem da parte lateral membranosa da tuba auditiva
(músculo tensor do véu palatino). Uma vez formado, o corpo muscular vai até o hâmulo
pterigóideo e nele se fixa parcialmente, refletindo em um tendão horizontal que se
expande na linha mediana e confunde suas digitações com as do outro lado.

A parte vertical ou extrafaríngea situa-se medialmente ao músculo pterigóideo


medial e passa acima da margem superior do músculo constritor superior da faringe;
sua parte horizontal confunde-se parcialmente com a fáscia do véu palatino e do
músculo palatoglosso.

É principalmente tensor do véu palatino, utilizando como ponto de apoio o


hámulo pterigóideo, onde uma pequena bolsa serosa funciona com polia de reflexão.
Durante a deglutição e quando atua sinergicamente com outros grupos musculares, é
dilatador da tuba auditiva (FIGÚN, 2003).

Outro músculo que entra na lista dos paraprotéticos é o musculo milo-hioídeo.


Ele estende-se a partir de toda a linha milo-hioídea (onde se dá a sua inserção na
mandíbula) até o osso hióide e a rafe mediana.

Neste ponto ele cobre parte do hioglosso e delimita com este um interstício, por
onde passam elementos anatômicos que vão da região submandibular para a cavidade
da boca.

Os dois milo-hióideos formam o soalho muscular da boca. Ele é mais baixo


anteriormente, na região incisiva, é mais alto na região molar, porque a linha milo-
hióidea é inclinada para baixo, da área do terceiro molar à espinha mentoniana.

Nos indivíduos desdentados o milo-hióideo se aproxima do rebordo residual. Em


casos de reabsorção óssea acentuada, a parte do músculo próxima ao último molar é a
que mais precoce e intimamente entra em relação com a zona de suporte de uma
prótese. A complicação aumenta quando a língua é projetada e conseqüentemente o
hióide e soalho da boca são elevados.

O soalho muscular da boca é interrompido abruptamente na sua borda posterior.


O espaço que se segue continua com o pescoço numa área preenchida por um tecido
conjuntivo muito frouxo entra a faringe e músculos cervicais (espaço parafaríngeo).

A principal função do milo-hióideo é elevar o soalho da boca e com ele a língua e


o hióide. Também adianta o hióide ou, se este estiver fixado, auxilia o digástrico na
retrusão e abaixamento da mandíbula (MADEIRA, 1995).

Músculo gênio-hióideo: é um corpo alongado ântero-posterior, disposto quase


horizontalmente sobre o milo-hióideo. Sua superfície medial fica em contanto com a
mesma do lado oposto. Acima dele, e em contato, está o músculo genioglosso.Sua
origem é na espinha mentoniana (tubérculo geniano inferior) e a inserção no corpo do
hióide.Leva o hióide para diante e para cima, provocando assim uma redução e uma
elevação do soalho da boca. Tal como o milo-hióideo, auxilia o digástrico na retrusão e
abaixamento da mandíbula (MADEIRA, 1995).

Faz parte também dos músculos da área chapeável o tendão do temporal que é
uma lamina bastante espessa, resistente, branca, brilhante, que recobre o músculo
temporal em sua parte superior. Adere à margem póstero-superior do osso zigomático,
ao processo zigomático do osso frontal, à linha temporal superior e ao espaço
compreendido entre as duas linhas temporais. Mais abaixo, divide-se em duas lâminas
que se fixam nos lábios laterarais da margem superior do arco zigomático, delimitando
assim um espaço triangular ocupado por um tecido adiposo onde se encontra a artéria
temporal profunda posterior.

Em sua face medial, têm origem alguns fascículos do músculo temporal, que, ao
se afastarem do arco zigomático, permitem a formação de um espaço ocupado por
gordura fluida, continuação do corpo adiposo da boca. A face superficial da fáscia
temporal entra em contato com a gálea aponeurótica e com os músculos da orelha; por
entre ambas as lâminas passam os vasos temporais superficiais e o nervo
auriculotemporal.

Os conceitos expostos acima explicam a formação de uma célula osteofibrosa ou


compartimento da fossa temporal, fechada em cima e aberta embaixo, com ampla
comunicação com a fossa infratemporal, com a região do terceiro molar inferior e com
base do crânio, no nível do forame oval (FIGÚN, 2003).

O masseter superficial pode ter a ação para protética através do músculo


bucinador, cuja margem anterior o deformaria. A contração intensa do músculo
masseter pode ocorrer uma ação de compressão em direção ao plano sagital na parte
látero-distal do processo alveolar residual. Na existência de prótese, essa compressão
poderia deslocá-la, mas para que isso acontecesse, a contração do músculo deveria
ser muito intensa, e isso só ocorre quando os arcos dentais estão em oclusão, o que
reduz ou anula a possibilidade de perda da estabilidade pela prótese (FIGÚN, 2003).

Os músculos mastigadores dos desdentados alteram-se, quer na estrutura, quer


na ação. A perda de 40 mm na altura da face condiciona a diminuição do tono
muscular. Ficara muito grande para o espaço que devem preencher. Por isso, a força
da contração muscular se reduz. Esta redução permite que os músculos executem
somente a quinta ou sexta parte da pressão de que são capazes. Como conseqüência
da diminuição desse tono, há alterações ósseas nos pontos onde são exercidas as
forças de tração e de pressão. Posteriormente, surgem as alterações ósseas que
transformam a morfologia normal dos maxilares e da mandíbula.

Os músculos que se inserem na mandíbula, principalmente os cutâneos, tornam-


se mais superficiais e funcionam como elementos capazes de removerem as próteses
totais. É o caso dos músculos bucinador, mentoniano (borla do mento), orbicular da
boca (por seu feixe incisivo), milo-hióideo e o ligamento pterigomandibular.

O autor (FIGÚN, 2003) divide as modificações musculares em dois aspectos


diferentes:

1. No caso dos músculos da mastigação do grupo superior levantador, isso ocorre


porque, com a ausência de dentes produz-se uma diminuição da dimensão vertical
e, portanto, o ponto móvel de inserção (na mandíbula) se aproxima do fixo, na base
do crânio.
2. Nos músculos cutâneos, isso ocorre porque, com a redução do volume dos tecidos
moles das paredes da boca, em que estão contidos, produz-se o encurtamento
muscular.

No indivíduo parcialmente dentado e, mais ainda, no desdentado total, surgem


deformidades no mecanismo da mastigação; assim como as bochechas caem e os
lábios afundam, a língua se dilata porque os elementos de contenção (os dentes) já não
existem. Por isso, nos primeiros dias de uso da prótese poderá acontecer que os
pacientes se queixem da freqüência com que se “mordem” os lábios, a bochecha e a
língua, incômodo que desaparece quando esses elementos se habituam novamente à
presença dos dentes, mesmo que artificiais.

Também ocorrem transformações na fonação, como conseqüência da ausência


dos dentes – que se comportam como elementos passivos na produção dos pontos de
articulação do som – e das modificações sofridas pela boca, que se comporta como
caixa de ressonância.

Observa-se também uma modificação na separação das partes alveolares em


sentido vertical (espaço entre maxila e mandíbula). Em muitos casos é possível notar
que as diferenças no grau de atrofia sofrida pelos processos alveolares superiores e
inferiores produzem uma relação anormal entre ambos os arcos dentais residuais, que
deixam de ser paralelos.

Essas condições provocam diversos tipos de apresentação das partes alveolares


desdentadas, que costumam diferir das descrições clássicas ou em outras palavras, da
apresentação que gostaríamos de encontrar em nosso paciente quando temos de fazer
uma prótese.

A perda total dos dentes produz a diminuição da dimensão vertical e determina


um movimento da sínfese mentoniana para frente e para cima, o que caracteriza a
típica “cara de velho”.

Essa posição da mandíbula, em que o mento se aproxima da ponta do nariz, é


decorrente da coincidência de três fatores: ação muscular, relaxamento, dos tendões e
nivelamento dos processos condilares.

A ação muscular traduz-se no predomínio do grupo propulsor sobre o retropulsor,


fato normal no dentado, mas que se torna mais notável no desdentado.

O indivíduo sem dentes que utiliza as partes alveolares para mastigar acaba
produzindo uma aproximação exagerada entre a mandíbula e a maxila; as articulações
são levadas a posições não habituais, provocando a distensão extensiva de todos os
elementos ligamentares, que ocupam principalmente as posições posteriores do
processo condilar da mandíbula. Por já estarem relaxados, não opõem resistência
alguma ao deslocamento anterior da mandíbula.

O choque representado pelo movimento anterior da cabeça da mandíbula


determina o nivelamento progressivo do tubérculo articular do osso temporal,
desaparecendo o obstáculo físico que ele opunha à propulsão da mandíbula. Como,
paralelamente, vão ocorrendo modificações nas cabeças da mandíbula, vai ficando
cada vez mais fácil o deslocamento anterior que, às vezes, deixa de ser uma posição
anômala ocasional, assumida durante a mastigação, para se transformar em atitude
permanente.

Essa nova posição da mandíbula em relação à maxila desencadeia uma série de


fenômenos. Modificam-se os tecidos moles da face, há perda de tônus muscular, os
sulcos faciais se aprofundam e surgem outros. Essas alterações são maiores nos
desdentados totais, embora também se manifestem nos parciais.

A repercussão mais notável da mudança fisionômica sem duvida é estética.


Rompe-se o equilíbrio entre os segmentos craniofaciais, já que a face perde dimensão
vertical.

A alteração que ocorre nos lábios é não só estética como também funcional. A
falta de suporte dental faz que a parte anterior da boca procure um novo estado de
equilíbrio, o que é conseguido por meio da contração dos músculos dos lábios,
sobretudo o orbicular da boca e o bucinador.

Se a prótese não passar a ser usada imediatamente, os lábios iniciam um


processo de atrofia. Em sentido transversal, essa atrofia é decorrente da contração do
músculo orbicular da boca, que também cria sulcos verticais; em sentido vertical, é
devida à subida da mandíbula. Ambas as ações fazem às vezes que os lábios pareçam
estar entrando na boca, pois suas margens livres ficam entre os processos alveolares.
Outras vezes é possível observar que o lábio superior se situa atrás do inferior ou que
os lábios superiores, quando extremamente curtos, permitem enxergar a parte alveolar
residual.

Para um bom desempenho na confecção e posteriormente na instalação de


próteses totais é preciso condicionamento muscular oro – facial do paciente
desdentado, já que ela teve tanta influencia na estabilidade das mesmas para esse
recondicionamento será instalado aparelhos oclusais no paciente que irá desprogramar
e condicionar a musculatura em uma dimensão vertical adequada para sua reabilitação
com as próteses totais.
Alguns autores (Kopp, 1982; Dawson, 1993; Okeson, 2000 apud Yassuda,
Moroshima, 2000) descreveram como indicações dos aparelhos oclusais as seguintes:

a) promover maior estabilidade dos componentes articulares;

b) estabelecimento de uma posição condilar ótima em relação central previamente a


uma terapia oclusal definitiva;

c) estabelecer uma condição mais fovorável, reorganizando a atividade neuromuscular


reflexa, reduzindo assim a hiperatividade muscular, e devolvendo a função muscular
equilibrada;

d) proteção dos dentes e das estruturas de suporte contra forças anormais produzidas
por hábitos parafuncionais, que podem levar a perdas ósseas e desgastes dos dentes;

e) neutralização temporária e reversível das desarmonias oclusais, que causam


interferências ou desvios na posição ou nos movimentos mandibulares;

f) estabilização dos contatos dentais em cêntrica, conseqüentemente da mandíbula em


relação à maxila;

g) proporcionar uma posição articular mais estável, funcional e fisiológica;

h) neutralizar o reflexo neuromuscular condicionado;

i) redução ou eliminação da sintomatologia decorrente da hiperatividade muscular;

j) estabilização ou recuperação da dimensão vertical tolerável pelo paciente durante o


tratamento;

l) auxiliar no diagnóstico diferencial das DTMs; eventualmente funciona como placebo.

Os aparelhos oclusais permitem a desprogramação neuromuscular através da


reorganização das fibras musculares e reposicionamento da mandíbula nas dimensões
posturais fisiológicas, recuperando por tanto a dimensão vertical de oclusão, pois
facilitam a interação antagonismo e sinergismo necessários à ótima relação central
maxilomandibular (Nóbilo et al., 2004).
Pinheiro & Turano (2000) que nomearam os aparelhos oclusais como pistas
deslizantes, afirmaram que estas atuam como reprogramadores que levam a mandíbula
mesmo resultado foi obtido por Lisboa em 2003.

Segundo Cordoni (2002), quando a placa é instalada, acontecem movimentos de


descompressão na ATM, devido à presença de um artefato de acetato colocado entre
as arcadas que faz com que a dimensão vertical de oclusão fique aumentada. Esta
descompressão promove uma sensação de conforto na região da ATM se prolongando
para região do ouvido, pescoço, cabeça e nuca.

Landulpho et al. (2004) relataram que ação fisiológica da placa permite que ela
interrompa a informação propioceptiva dos mecanoceptores localizados no ligamento
periodontal,fazendo com que a musculatura da mastigação exerça uma atividade
balanceada e, consequentemente, mantenha uma posição mandibular ideal. Causando
também um efeito imediato na redução da atividade elétrica dos músculos
mastigatórios.

O aparelho oclusal, interposto entre as faces oclusais dos arcos superios e


inferior, causa uma interrupção da informação propioceptiva dos mecanorreceptores
localizados no ligamento periodontal, que faz com que os músculos retornem a uma
atividade equilibrada, e conseqüentemente uma posição mandibular otimizada
(Landulpho et al., 2004).

Os aparelhos agem favoravelmente rompendo parcial ou totalmente o


macanismo de contração e estiramento prolongado dos músculos associados ao
Sistema Mastigatório. Com o uso dos aparelhos e ausência dos contatos dentários,
elimina-se temporariamente o deslize em cêntrica (RC a MIH), as interferências no
movimento protrusivo da mandíbula assim como as interferências nos movimentos de
lateralidade causando assim o relaxamento da musculatura mastigatória (Bataglion,
2005).

Fish (1993 apud Breda et aL., 2006) foi o primeiro pesquisador a citar a técnica
de zona neutra. Em seu artigo, relatou que os dentes naturais ocupam uma zona de
equilíbrio, em que cada dente assume uma posição que é resultante de todas as forças
musculares. Assim, o posicionamento dos dentes artificiais dentro dessa zona de
equilíbrio favoreceria o prognóstico das próteses totais, trazendo maior satisfação ao
paciente com relação às questões funcionais, dada pela obtenção de maior
estabilidade, e as questões psicológicas, devido à maior facilidade de adaptação
verificada nos pacientes reabilitados com próteses confeccionadas por esse método.
Afirma ainda que a prótese total deve adaptar-se à língua, bochechas e lábios, tanto no
estado de repouso como também durante a mastigação para que os músculos possam
se adaptar firmemente a ela, mantendo-a em posição. Segundo o autor, as próteses
deveram apresentar planos inclinados sobre os quais os músculos atuarão mantendo-a
em posição durante os atos funcionais e quando em repouso. Salienta que a região da
comissura labial representa uma área de cruzamento entre diversos músculos que pode
causar a desestabilização da prótese inferior. Assim sendo, recomenda bases largas na
região de molares e estreitas na região de pré-molares.

Para um bom desempenho na confecção e posteriormente na instalação de


próteses totais é preciso condicionarmos a musculatura oro – facial do paciente
desdentado, já que ela teve tanta influencia na estabilidade das mesmas para esse
recondicionamento será instalado aparelhos oclusais no paciente que irá desprogramar
e condicionar a musculatura em uma dimensão vertical adequada para sua reabilitação
com as próteses totais.

Fish(1947)enfatizou novamente a necessidade de se relacionar corretamente a


língua, lábios e bochecha com a superfície polida das próteses totais. O autor
demonstrou a importância da previsão de um adequado espaço para a língua. Para
isso, confeccionou dois pares de próteses totais para cada paciente, sendo que, um
deles apresentava um espaço menor para a língua que o outro. Com o primeiro tipo de
prótese os pacientes queixavam-se de dificuldade na deglutição; sensação dolorosa ao
pressionar a região anterior do palato; relatavam que a prótese total inferior estava
folgada, e que realmente não se sentiam bem com suas próteses. Além disso, com
freqüência relatavam que se sentiam nervosos quando da utilização das mesmas.

Segundo Weinberg (1958), a estabilidade da prótese total depende tanto de uma


correta moldagem quanto de um correto posicionamento dos dentes artificiais em
relação à base da prótese. O autor cita os erros mais comuns durante a montagem dos
dentes e suas conseqüências. Cita ainda que todo o processo de reabsorção alveolar
aumenta a tendência a um relacionamento de mordida cruzada e que a não observação
desse detalhe leva ao desenvolvimento de forças de deslocamento da prótese e
reabsorções do rebordo alveolar.

Barone (1963) apresentou uma técnica de moldagem em prótese total, que utiliza
o conceito neuromuscular onde o paciente usa a função de sucção e deglutição para
moldar as bordas da prótese. O autor ressaltou a importância em orientar o paciente
para quanto a sua dieta, uma vez que alimentos duros e pegajosos podem
desestabilizar a prótese. Da mesma forma salientou a importância de se obter, durante
as varias fases da confecção da prótese total, o tônus muscular e tecidual do paciente,
assim como , uma posição adequada da língua que contribua para a retenção,
estabilidade e conforto do paciente.

Para o autor, usando-se a técnica de moldagem, conseguem-se três fatores:

a) Desenvolver um contato completamente passivo de toda a margem do molde aos


tecidos de suporte basais;
b) Preencher passivamente todo espaço marginal;
c) Desenvolver uma cobertura de área de suporte basal que é compatível com a
função.

Tem sido uma constante preocupação durante a reabilitação de pacientes


desdentados com próteses totais, a determinação da altura do plano oclusal, de uma
correta dimensão vertical de oclusão e do espaço funcional para a língua e bochechas.
Neste sentido, Martone & Black (1962), chamam a atenção para que se deva dar
importância para a adaptabilidade da língua em relação à prótese, embora segundo
eles, seja uma aproximação empírica. Goyal & Greenstein (1982), também estudaram a
qualidade da fala, quando se usa dentadura superior com o contorno palatino moldado
funcionalmente, em comparação com as dentaduras confeccionadas
convencionalmente, tendo chegado á conclusão que as primeiras, proporcionam maior
conforto na silabação das palavras (Pomilio,2002).
A correta posição do plano oclusal irá favorecer a função normal dos músculos
da língua e bochecha, possibilitando a estabilidade das próteses, conforme relatam
Landa (1957) E Karkazes, (1987 apud Breda et al., 2006). O plano oclusal, comumente,
é utilizado como orientação para a montagem dos dentes que devem localizar-se em
uma zona de equilíbrio muscular, restituindo também a dimensão vertical de oclusão.
Portanto uma orientação incorreta do plano oclusal colocará em risco a interação entre
os músculos envolvidos e a prótese total inferior, podendo resultar durante a
mastigação, em uma coleção de alimentos no sulco, mordedura constante da língua,
bochecha e desestabilização da prótese (Pomilio et al.,2002).

Brill et al. (1967 apoud Breda et al., 2002), disse que a prótese total inferior
possui desvantagens em relação a prótese total superior. Ela possui uma área
chapeável menor, está sujeita à maior interferência muscular e o osso alveolar
mandibular sofre uma reabsorção mais drástica em altura que o osso maxilar.
Salientaram também que a maneira com a qual as forças maxilares são direcionadas
contra as próteses totais auxiliará a sua estabilidade ou tenderá a deslocá-las, uma vez
que, durante a função, forças são geradas devido à contração muscular. Ressalta
também que, quando um indivíduo perde os dentes, varias estruturas da cavidade oral
sofrem alterações consideráveis. Os lábios e bochechas perdem suporte. A língua sofre
uma expansão e passa a ocupar os espaços anteriormente ocupados pelos dentes.
Desta forma, desenvolve-se um espaço característico na cavidade oral dos pacientes
edêntulos chamado de espaço protético. Este espaço protético também é conhecido
como espaço morto, zona estável, zona neutra ou zona de mínimo conflito. É o espaço
compreendido entre a língua e o músculo bucinador no momento da deglutição. Para o
autor a dinâmica dos tecidos ao redor deste espaço é que vai determinar a técnica a ser
utilizada na montagem dos dentes artificiais, assim como a forma que deverá ter a
futura prótese. A localização da prótese nesta zona neutra neutralizaria a instabilidade a
que ela estaria sujeita tanto no sentido lingual como vestibular. O autor afirma que a
montagem dos dentes não pode se basear exclusivamente em princípios estáticos, ao
contrário, deve-se levar em conta os princípios dinâmicos que ocorrem sobre o espaço
protético.
DISCUSSÃO

Existe uma tendência entre os profissionais em responsabilizar a retenção


somente na área basal das próteses totais. Porém, como já encareceu CSÖGOR E
MICHAM, existem dois tipos de retenção e estabilidade: a estática que mantém a
prótese em posição quando os músculos estão em repouso e a dinâmica que assegura
a fixação da prótese quando em atividade fisiológica. Desse modo, a importância dos
músculos pode aumentar e, em certas circunstâncias. Segundo MCMILLAN, pode-se
até dizer que o funcionamento da prótese dependerá da musculatura e não dos ossos
visto que, quanto mais próximo e intensa for a ação muscular, menor será a superfície
de sustentação óssea da prótese.

Os elementos musculares e tendíneos são os que determinam a linha de


demarcação entre os tecidos moveis e fixos. Segundo POCOSSE, a influência de tais
estruturas sobre as dentaduras varia de acordo com o grau de reabsorção dos rebordos
residuais. Quanto maior a reabsorção, tanto maior é a sua influência no funcionamento
da prótese total.

Quando um individuo perde os dentes, há uma diminuição de aproximadamente


40mm na altura da face. Isso acarreta uma serie de fatores como diminuição do tônus
muscular, relaxamento dos ligamentos, nivelamento dos processos condilares. A
diminuição da força de contração dos músculos, faz com que eles executem somente a
quinta ou sexta parte da pressão que são capazes. Como conseqüência dessa
diminuição de tono, há alteração óssea nos pontos onde são exercidas as forças de
tração e pressão. PICOSSE, afirma que os músculos que se inserem na mandíbula, se
tornam superficiais e funcionam como elementos capazes de removerem as próteses
totais.

O individuo sem dente que usa as partes alveolares para mastigar, segundo
FIGÚN, acaba produzindo uma exagerada aproximação da mandíbula e maxilar a parte
posterior, ocasionando um deslocamento anterior da mandíbula. Isso provoca uma
posição anômala da mandíbula em relação à maxila, dificultando assim a reabilitação
do mesmo.

Para conseguir um recondicionamento das estruturas musculares é importante


que seja instalado aparelhos odusais nos pacientes antes da confecção das próteses
totais, pois eles permitem a desprogramação neuromuscular através da reorganização
das fibras musculares e reposicionamento da mandíbula nas dimensões posturais
fisiológicas, recuperando, portanto, a dimensão vertical de oclusão.

Landulpho et AL (2004) afirma que a aparelho oclusal faz com que a musculatura
da mastigação acerca uma atividade balançada e mantenha a mandíbula em posição
ideal. Isso causa imediatamente a redução da atividade elétrica dos músculos
mastigatórios.

É de grande importância saber a interferência da musculatura da mastigação em


condição ótima de funcionamento na confecção de uma prótese total, pois esta oxlerá
ser deslocado por uma ingligência ou imperícia do profissional caso não seja dado a
importância a área de atuação de cada músculo.

O masseter por exemplo segundo TURANO E TURANO (2002) é um músculo de


contração e possui fibras superficiais obliquas que com a sua contração podem afetar o
ângulo disto-bucal da borda da prótese total, através do bucinador. Entretanto, como a
contração é realizada com as arcadas em contato, o deslocamento da prótese é
evitado.

DUBRUL (1991), fala do temporal que é um músculo em que a prótese teve que
terminar exatamente no limite posterior da papila retromolar ou ligeiramente aquém
desse limite, pois com a sua contração a prótese poderá ser deslocada.

O músculo que deve ter atuação segundo MADEIRA (2001) é o pterigóide


medial, pois a sua inserção pode afetar a extensão posterior da borda da prótese total
mandibular.

O pterigóideo lateral é o único horizontal e que se relaciona com a articulação


temporomandibular.

Outros músculos de grande importância são os paraprotéticos como a tendão


inferior do músculo temporal, que ao abrir a boca amplamente, esse tendão pode
deslocar o extremo posterior da dentadura, caso esta seja longa demais.

O milo hióideo descreve PICOSSE (2002) que as fibras posteriores na altura dos
molares podem deslocar a dentadura quando a reabsorção óssea for grande no até de
abertura da boa, deglutição fala e mastigação.

Na parte posterior da prótese total superior precisa ser respeitado no limite do


palato mole. Caso a prótese fique mais longa e se apoiar no mesmo, a estabilidade dela
fica muito comprometida (FIGÚN, 2003).

Quando o paciente tem grande reabsorção óssea mandibular, uma


prótese total pela técnica convencional não é muito favorável, pois o milo hióideo junto
com gueio hióideo nessas condições anatômicas deslocam a prótese com muita
facilidade. Então, foi observado um espaço existente dentre a língua e músculo
bucivador no momento da deglutição. Este espaço é chamado de zona neutra. A
prótese que e confeccionada para aproveitar este espaço e a dinâmica muscular tende
a ficar mais estável na boca deste paciente.
SEGUNDO FISH (1933 apoud breda et al., 2006) existe uma zona de equilíbrio
na posição dos dentes naturais, e é procurando esta zona de equilíbrio que será
confeccionado os dentes artificiais, favorecendo assim, o prognostico das prótese
totais, gerando satisfação ao paciente com relação a estabilidade e funcionabilidade.

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