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Assistência Pré-hospitalarnas Emergências Químicas

1. Introdução

A forma mais eficiente que se conhece para o atendimento inicial a uma vítima em situação de
emergência e portanto com risco de vida ou sofrimento, é o Atendimento Pré-Hospitalar
(APH).

Prestado ainda no local da ocorrência, é realizado por equipes treinadas e equipadas que buscam
interromper o agravo a saúde, estabilizar as condições do paciente, no que for possível e
transportá-lo de forma segura para um hospital adequadamente preparado.

Conhecido mundialmente por diversas denominações, como Sistema (ou Serviço) de Emergência
Médica, Serviço de Atendimento Médico às Urgências, Sistema de Atendimento Pré-Hospitalar,
este procedimento revolucionou, nas últimas três décadas, todo o processo inicial de socorro.
Criou-se um contingente com milhares de novos profissionais em uma atividade até então
inexistente e uma indústria competente que a cada dia oferece novos produtos e equipamentos,
aumentando progressivamente o número de vidas salvas.

Com esta evolução os países foram, um a um, criando leis para regulamentar tal atividade,
conferindo responsabilidade e definindo com precisão o que se esperava de cada sistema e de
seus profissionais. O que era antes realizado apenas pelo espírito de solidariedade e altruísmo,
passou a ser mais uma atividade com profissionais diplomados e preparados para tal.

No Brasil, apenas em agosto de 1998, o Conselho Federal de Medicina regulamenta tal área,
considerando-a uma atividade médica, cabendo a este profissional a responsabilidade de
coordenar tal sistema. Reconhece também que o médico não sai dos bancos escolares preparado
para tal e determina que, para esta atividade, devem realizar uma qualificação adicional.
Reconhece igualmente que muitos outros profissionais podem atuar no socorro direto às vítimas,
devendo serem treinados e atuarem sempre sobre supervisão médica, mesmo que a distância. Em
Junho de 1999, o Ministério da Saúde edita, nos mesmos termos, as normas a serem seguidas
pelos serviços de saúde do Brasil.

2. Das emergências clínicas e traumas às emergências com produtos perigosos

No seu início, os serviços de APH foram preparados para emergências como acidentes de trânsito,
emergências clínicas e partos. Mas, a medida que o sistema evoluiu, outras situações existentes
em menor frequência, passaram a necessitar um atendimento pré-hospitalar mais adequado.
Dentre estas certamente estavam as emergências com produtos perigosos.

Emergências com produtos perigosos, sempre foram atendidas por órgãos específicos, preparados
para tal, ou pelas próprias empresas que manuseiam os produtos. No entanto, o dia a dia de um
serviço de emergência, coloca a equipe de socorro frente a situações com estes produtos,
demonstrando a necessidade de maior preparo tanto nos processos de treinamento, como nos
equipamentos para sua atuação.

3. A Cena em primeiro lugar

Muitos serviços, de fato a maioria, determinam à seus profissionais, que não tentem atuar em um
acidente envolvendo produtos perigosos, a menos que estejam qualificados para fazê-lo, que
estejam portando equipamentos adequados e que tenham pessoal suficiente para garantir a
segurança da cena.

Um profissional altamente especializado no socorro a uma parada cardíaca, pode não saber avaliar
o risco de explosão de um caminhão-tanque tombado.

Profissionais qualificados, antes de entrarem no local onde ocorreu o acidente, saberão avaliar os
perigos e tomar as providências para eliminá-lo.

De uma forma sistemática, as equipes de socorro geral, antes de atenderem a vítima, devem
avaliar a situação segundo três etapas distintas e bem definidas:
3.1 Qual é a situação – onde se busca identificar com precisão o que está ocorrendo e quais os
detalhes que a cena oferece. Um socorrista com pouca experiência poderá centrar sua ação nas
vítimas, não avaliando adequadamente o ambiente como um todo.

3.2 Para onde a situação pode evoluir – onde se busca prever as possibilidades de evolução da
situação. Uma análise inadequada no item anterior, fatalmente induzirá a um erro neste momento

3.3 Que recursos deve-se acionar ou solicitar – com esta análise, completa-se uma primeira
etapa, fundamental, antes que se inicie o manuseio das vítimas.

Naturalmente a rapidez e precisão com que alguns profissionais realizam estes três passos, são
frutos de treinamento, experiência e constante avaliação dos resultados obtidos nas ocorrências
passadas.

Para tanto, os serviços de APH devem desenvolver programas para a capacitação dos profissionais
em geral e que podem ser os primeiros a chegar em uma área de emergência, reservando-se
programas mais aprofundados e equipamentos específicos, para equipes selecionadas que atuarão
como grupo especializado.

4. Múltiplas vítimas em emergência clínica - um sinal de alerta

Um alerta constante às equipes de APH geral, é a ocorrência de mais de uma vítima em


emergência não traumática, em um mesmo ambiente. Antes mesmo de iniciar o socorro destas
vítimas, dentro de um processo de socorro sistematizado, o ambiente deve ser analisado na busca
de fatores externos como gases, que possam estar causando o problema e que vão requerer
proteção da equipe de socorro.

A temida "visão em túnel" do socorrista, situação onde ele só vê a vítima a ser socorrida e não se
preocupa com o ambiente, demonstra baixo treinamento e pouco profissionalismo. Os
profissionais devem estar amadurecidos suficientemente para suportarem emocionalmente a
existência de uma ou mais vítimas em um ambiente onde não podem entrar sem estarem
preparados.

5. Identificação do produto e estabelecimento de uma zona segura

Base para um socorro eficiente, a identificação do produto permite atuação mais precisa na busca
das melhores medidas médicas para socorro às vítimas. Igualmente, permite o estabelecimento de
áreas seguras para atuação, bem como as áreas consideradas de risco, onde só se pode atuar
devidamente protegido.

6. O socorro às vítimas

Inicialmente as vítimas devem ser removidas para um lugar seguro. Os socorristas devem estar
preparados contra contaminações. A segurança deverá ser sempre a primeira regra a ser seguida.
Podem ser necessárias técnicas de descontaminação das vítimas e dos socorristas, bem como
manutenção das vias aéreas, antídotos específicos, além dos cuidados de lesões gerais.

Um grave problema ainda vivido no Brasil, é a definição do hospital para onde as vítimas serão
levadas. A pouca participação dos hospitais aos sistemas de APH, tem causado enormes
dificuldades que retardam o atendimento hospitalar definitivo, com graves prejuízos para os
pacientes.

Algumas cidades possuem hospitais com áreas especializadas em intoxicações, porém o são em
número pequeno.

Em outros pontos do país, a simples ausência de serviços pré-hospitalares, tem colocado as


vítimas a mercê da própria sorte. Felizmente, a cada dia, estes serviços vão crescendo e
ampliando sua cobertura.

7. Conclusão
A capacitação das equipes de APH geral, sempre constitui-se no ponto fundamental. Cada vez
mais deve-se qualificar os profissionais para atuarem em situações que, se para eles não
constituem-se na rotina, certamente de tempos em tempos poderão estar diante do desconhecido
ou do inusitado. Mais ainda, poderão estar diante do "perigo".

A qualificação na identificação dos produtos perigosos, nos seus efeitos, nos cuidados e técnicas
de socorro, devem nortear os programas de APH geral.

Apesar de existirem serviços de APH especializados em Produtos Perigosos, todos que atuam
nesta área devem receber informações e treinamento. Assim, as vítimas serão atendidas
corretamente e as equipes de socorro poderão atuar de forma segura.

Como último elo da cadeia, os hospitais devem participar do sistema geral de APH e daí em
programas específicos.

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