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MARIA CAROLINA MIRANDA MORAIS

3º B DIURNO Nº 37

TRABALHO DE DIREITO PENAL II

Trabalho apresentado à Faculdade de Direito de


Franca para a Disciplina de Direito Penal II do
Curso de Direito

Prof. Dr. Carlos Constantino

FRANCA
2021
EVOLUÇÃO DAS TEORIAS DA CAUSALIDADE E DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA, NO
ÂMBITO DO DIREITO PENAL - RESUMO

A teoria da imputação objetiva, com suas proporções e critérios atuais, conduz o aplicador do
Direito em seu trabalho de averiguar se um determinado resultado (de dano ou perigo) deve ou
não ser imputado ao autor da conduta. Sendo que, somente se aplica em função dos delitos de
resultado, portanto aos crimes mateiras (ou de dano) e aos crimes de perigo concreto.

A imputação objetiva está ligada à causalidade. Entretanto, a imputação objetiva surgiu com
Hegel na primeira metade do século XIX - não como nos moldes atuais -, primeiro do que a
causalidade a qual surgiu posteriormente na segunda metade do século XIX.

A teoria de Hegel forneceu o primeiro conceito de conduta e os primeiros critérios para a


imputação de um resultado produzido pela conduta de um ser humano, a ele, autor da conduta.

Na segunda metade do século XIX, houve a ascensão do positivismo de Augusto Comte, o qual
utiliza os métodos das ciências naturais para explicar o mundo social, colocando um fim à
teologia e a metafísica de Hegel. E assim, o conceito de imputação foi substituído pelo conceito
extraído da física, o de Causalidade.

Somente no século XX reiniciaram os estudos da imputação, mas não excluindo o conceito de


causalidade, e sim, adequando-o e limitando-o ao Direito Penal.

Para entender a teoria da imputação objetiva é necessário um retrospecto histórico da


causalidade e suas teorias.

A primeira teoria é a Teoria da Condição ou da Equivalência, a qual surgiu por inspiração as


ciências naturais, considerando causa tudo o que tenha contribuído, em maior ou menor escala,
para a produção de um resultado. Portanto, há apenas uma relação de causa e efeito entre a
conduta do agente e o resultado naturalístico.

Também denominada de teoria da “conditio sine qua non” (condição sem a qual, não), pois,
causa é toda a condição sem a qual o evento não teria ocorrido, do modo como ocorreu. Para a
constatação do nexo causal, é utilizado uma procedimento de eliminação hipotética, através do
qual se analisa mentalmente se suposta causa elimina a cadeia causal, para assim saber se tal
fator é causa ou não.

Essa teoria não estabelece diferença entre causa e condição, portanto, todos os antecedentes
que contribuíram são considerados causa do resultado, seja um fator humano ou não humano,
tudo o que houver contribuído para o surgimento de um determinado resultado, é dele causa.

Com o passar do tempo foram feitas críticas a Teoria da equivalência dos antecedentes causais
por causa da causalidade hipotética e a causalidade cumulativa, ademais, a crítica que ganhou
maior destaque foi a que diz respeito ao “regressus ad infinitum”, pois ela levaria a uma
infinidade de antecedentes, pois tudo que contribuiu para um evento é causa dele.
Assim, estudiosos do Direito Penal passaram a buscar um modo de se imputar o resultado ao
autor da conduta, a partir de um conceito jurídico, e não meramente físico como é o conceito
de causalidade. Essa busca foi essencial para o surgimento das novas teorias da causalidade, e
também para o retorno da teoria da imputação objetiva de Hegel.

Apesar da críticas, a teoria da condição ou da equivalência continua sendo a mais aceita como
teoria da causalidade, para efeito de constatação do nexo causal, no Brasil, pois foi adotada pelo
nosso Código Penal (artigo 13). A teoria da “conditio sine qua non” é a mais aceita para a simples
constatação se uma determinada conduta está ligada fisicamente a um resultado.

A segunda teoria é a Teoria da Adequação, a qual considera que causa – no sentido jurídico –
não é tudo, mas tão-somente a condição adequada ao tipo e ao resultado concreto. Essa teoria
baseia-se no princípio do “id quod plerumque accidit”, fazendo uma análise objetiva posterior
do fato com base na experiência comum.

Se um acontecimento normalmente desencadeia certo resultado, dentro de uma estatística,


então deve ser considerado como causa. Sendo assim, causa é somente aquilo que
normalmente do cotidiano e a experiência média indiquem como causa adequada de um
resultado, com base nas estatísticas.

Portanto essa teoria traz uma causa provável, baseando em raciocínios abstratos,
diferentemente da teoria da equivalência a qual, apesar das críticas, comprova de maneira
inequívoca.

A terceira teoria é a Teoria da Relevância Jurídica, para esta corrente, a determinação do nexo
de causalidade deve ser feita através da teoria da “conditio sine qua non”, mas a imputação do
resultado deve-se efetivar com base na relevância jurídica da respectiva cadeia causal,
observando-se a finalidade da norma e os caracteres de cada tipo penal.

O nexo causal advém entre a conduta do agente e o resultado, entretanto não pode ser
juridicamente imputado ao autor se não reveste de relevância, frente as finalidades da norma
ou as elementares do tipo penal.

O grande problema desta teoria é tentar amenizar os efeitos da causalidade, dentro do próprio
campo da causalidade, o que não é possível, pois a causalidade é medida pelas leis da Física, não
tendo, como ser barrada, interrompida ou atenuada.

Após as teorias da causalidade, houve o ressurgimento da teoria da imputação objetiva,


preconizando que o juízo feito com base na teoria da causalidade há que ser mantido, para a
atribuição ou não de um resultado ao autor de uma dada conduta. Todavia, é imprescindível
que se faça um juízo de imputação, por meio de critérios jurídicos (normativos). Portanto a
causalidade medida pelas leis da física é necessária, mas sem os critérios da imputação objetiva
é insuficiente para que se atribua um determinado resultado no mundo externo ao autor da
respectiva conduta.

Desta maneira, tal doutrina traz que para imputar o resultado ao agente é necessário que esse,
com sua conduta, crie um risco acima do tolerável. O fato de se dizer “risco permitido ou acima
do tolerado” e não “risco não tolerado ou não permitido”, se dá pelo fato de que atualmente,
vivemos em uma sociedade de risco, sendo assim, o Estado não pode imputar aos cidadãos os
resultados vindos de condutas praticadas dentro desse risco permitido.

A imputação não é contrária ou pretende acabar com a teoria da “conditio sine qua non”, mas
sim, pretende criar ao lado do nexo causal, um critério normativo de imputação (o nexo de
imputação).

Outrossim, há cinco critérios afastam esse nexo de imputação, são eles: a) o risco, no caso, era
tolerável ou permitido; b) o agente diminuiu o risco para o bem jurídico; c) o agente não
aumentou o risco para o bem jurídico; d) o risco não se materializou no resultado típico; e) o
fato, como ocorreu, está fora do alcance do tipo penal.

Ou seja, em um determinado caso concreto poderá haver nexo causal, mas não o nexo de
imputação.

Na Sistemática Finalista, não se adota o nexo de imputação, sendo assim, o tipo objetivo
apresenta: a conduta, nexo causal e resultado, e o tipo subjetivo apresentava o dolo e a culpa.
Já na Sistemática Funcionalista, o tipo objetivo passou a ter a imputação objetiva, logo, o tipo
objetivo apresenta: a conduta, o nexo causal, o nexo de imputação e o resultado e o dolo e a
culpa continuaram no tipo subjetivo. O nexo de imputação, configurar-se-á, se o agente criar,
com sua conduta, um risco acima do permitido ou do tolerável para a sociedade e para o bem
jurídico

O tipo objetivo recebe uma nova dimensão completamente nova através da teoria da imputação
objetiva, pois até então havia apenas o tipo objetivo criado pela Sistemática Clássica, o qual o
essencial é o subjetivo.

Com isso, a teoria da imputação objetiva restabeleceu o tipo objetivo como o foco principal.
Sendo assim, na moderna teoria do delito só se chegará à análise do tipo subjetivo, após
preenchidos todos os requisitos do tipo objetivo, caso não preenchidos os requisitos, o fato será
atípico, sem precisar indagar acerca do dolo ou da imprudência com que o agente teria atuado.

Contudo, a teoria da imputação objetiva não é desprovida de subjetividade no âmbito do tipo


objetivo. Segundo CLAUS ROXIN: “A imputação objetiva – e isto é mais um capítulo na ‘confusão
entre o objetivo e o subjetivo’ – depende não só de fatores objetivos, como também de
subjetivos. No exame da pergunta quanto a se existe uma criação não permitida de um risco, é
decisivo o ponto de vista que teria tomado um observador prudente (einsichtig 19) antes da
prática do ato; mas a este observador devem-se acrescentar os conhecimentos especiais do
autor concreto”

O fato de se considerarem elementos subjetivos no plano da imputação objetiva, não modifica


a predominância do objetivo sobre o subjetivo. Primeiro vê se algo ocorreu no mundo exterior,
para depois se interessar pelo foro interno do autor.

Em relação à teoria da imputação objetiva e o Código Penal Brasileiro, o legislador deixou uma
margem para a elaboração e a aplicação de uma teoria da imputação, que viesse solucionar os
problemas da teoria da causalidade. Posto que, em seu artigo 13 e §1º traz: “Art. 13: O resultado,
de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa; considera-
se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido” e “§ 1º: A superveniência
de causa relativamente independente exclui a imputação, quando, por si só, produziu o
resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”, sendo assim, ainda
que de forma subconsciente, ele admite um processo jurídico de imputação, que se inicia com
base na lei física da causalidade, mas não precisa terminar nela.

O funcionalismo Racional-teleológico, trouxe que, “a política criminal deve operar como uma
verdadeira alma dentro da dogmática do direito penal”, desse modo, o intérprete do direito
penal deve ter em vista não o subjetivo, ou seja, os fins que o indivíduo infrator da lei penal, mas
sim, deve se analisar os fins do direito penal em seu todo. Tal visão criou a teoria da imputação
objetiva e a conclusão de que a culpabilidade deve ser vista como responsabilidade político-
criminal.

Por trás de cada tipo penal há a proteção de um bem jurídico relevante para a sociedade, e esse
bem jurídico serve como um limitador ao Poder Legislativo, na confecção de tipos penais, em
um Estado Democrático de Direito. O Funcionalismo Racional-Teleológico só é apto de ser
aplicado em uma social-democracia.

Por conseguinte, o Funcionalismo Racional-Teleológico e a teoria da imputação objetiva cresce


cada vez mais no meio Brasil entre os estudiosos e operadores do Direito Penal.

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